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P. 128/129
- pretende apenas combater “os alegados excessos e violações impostos a um sistema que
pode ser fundamentalmente reformado, mas que é indispensável”;
- na realidade, “o sistema foi desenhado para as pessoas nunca terem privacidade na rede,
mas ainda assim pedem-nos que acreditemos que se há de aprovar legislação que garanta a
privacidade, que se podem moderar os abusos presentes e que podemos recuperar essa
reconfortante ficção da “nossa” internet, que na verdade nunca existiu”.
- objetivo é “determinar o estado emocional de alguém sob observação, muitas vezes segundo
categorias de felicidade, tristeza, surpresa, raiva, medo, repulsa e desprezo”
p. 130/131
- estão a criar formas de “inteligência artificial da emoção” para analisar expressões faciais em
tempo real;
- dizem que têm “boa maneira de compreender as reações espontâneas dos consumidores:
Pp. 132/133:
Século XVII: rosto “exigia autodisciplina e controlo”, porque “nos revela e expõe”.
- “ubiquidade das imagens fotográficas [...] tornaram menos relevante o que advinha dos
encontros diretos”.
Com “ascensão das neurociências, das redes sociais e do engenho da inteligência artificial”,
tem-se “sequestrado a atenção individual” na “personalidade complexa” (Avery Gordon).
Sigrid Weigel:
- “como os fundos sulcos de perda, dor, amor, perseverança ou resignação num rosto humano
são supérfluos e, por isso, ilegíveis, à análise emocional das máquinas”.
- “impressões de uma vida [...] são [...] cada vez mais imperceptíveis para quem se habituou às
trocas online amnésicas e quase automatizadas”.
Século XX:
- “rosto pedia uma nova valorização e até santificação”
Pp. 134-135
-“gastamos a maior parte da vida no «mundo do Isso» das instituições e dos mercados,
onde o desejo de ganhos e a vontade de poder são forças naturais e inevitáveis”;
- o «mundo do Isso» despersonalizado foi sendo mitigado por formas comunais de vida
em que se valorizam e apoiam o afecto, a ajuda mútua e as festividades;
Pp. 136-137
- Agamben afirma que o rosto é objeto de «uma guerra civil global que tem como campo de
batalha toda a vida social [...] e como vítimas todos os povos da Terra».
- ideia de que “as máquinas se tornam mais humanas” é uma “afirmação disparatada e frívola
por pressupor uma ideia neoliberal/corporativa do que constitui o «humano».”
- “deixámos de ter a sensibilidade para discernir sons simulados e sem vida das vocalizações
com corpo de um ser humano”.
Pp. 138-139
- prevalência destas trocas inertes e repetitivas incapacita ainda mais a nossa aptidão ou
paciência para a frustração e incompletude (normais em situações de encontro).
- o mundo “acostumou-se a formas monetizadas de comunicar que isolam o falante ou
emissor em circuitos unilaterais controláveis”;
- “é fácil pesquisar e encontrar tudo o que achamos dever saber sobre alguém”, logo, “o que
se possa aprender do outro com o tempo, mutualidade conquistada e transparência não tem
relevância, nem valor monetário”;
- estamos “menos capazes de [...] aceitarmos que o diálogo se pode abrir [...] na
incognoscibilidade dos outros.”
- redes sociais “eliminaram a possibilidade de relação ética com a alteridade ou com a dor”;
- tal como Kafka: “convencemo-nos de que havemos de cumprir as nossas metas e aspirações
numa zelosa e quieta conformidade com os preceitos e as normas de um sistema que sabemos
ser maligno”.
- pode parecer pouco importante destacar “as consequências éticas das técnicas de decifrar o
olhar, o rosto e a voz”, contudo, “se não atentarmos ao modo como os imperativos neoliberais
ferem o tecido íntimo”, “somos cada vez menos capazes de aguentar ou de iniciar sequer os
grandes combates contra as guerras imperiais, o terror económico, o racismo, a violência
sexual e a catástrofe ambiental.”
- “Com menor capacidade de reagir aos outros, não há nenhum sentido palpável de
responsabilização mútua, nem motivação para abandonar as parcas compensações da
insularidade digital.”
Pp. 140/141
- “multidão atomizada de pessoas, todas aparentemente absorvidas pelo conteúdo dos ecrãs”:
- mesmo na era da «multidão solitária» do século XX, mundo continuava pleno de coisas
inesperadas e imprevistas, enquanto que agora isso é tudo cada vez mais vedado.
- Eugène Minkowski descreveu “as formas disseminadas de doença mental como «perda de
contacto vital com a realidade»;
- Paolo Virno: “[O] animal humano é capaz de não reconhecer outro animal
humano como parte da sua espécie. Os casos extremos – do canibalismo aos
genocídios coloniais e europeus – são forte demonstração desta possibilidade
permanente.”
Ernst Lohoff:
- “violentos parâmetros da vida numa realidade movida pelo mercado, que dispensa a
sociedade e se constitui apenas por indivíduos em competição para triunfarem e sobreviverem
sozinhos, a qualquer custo”.
- Citação completa: «A loucura a que nenhum de nós é poupado – a de ter de existir como
sujeito autónomo – traduz-se no impulso demente de defender este modo invisível de
existência por qualquer meio, mesmo de arma em punho.»
- ilusões de autonomia;
Num momento de “perigo inédito quanto ao futuro do planeta”, é espantoso que “tanta gente
voluntariamente se isole nos áridos armários concebidos por um punhado de corporações
sociocidas”.
- resposta a esta violência pode ser uma «ação comum» (de grupos e comunidades);
- “As pessoas isoladas podem descobrir «que a ação comum é único meio de conseguir
alcançar o objetivo comum».
- “Contudo, a não ser que haja uma prefiguração activa de novas comunidades e formações
capazes de se governarem em igualdade,”
- “insurgências emergentes” são capazes de inverter o estado das coisas, de criar novas formas
de solidariedade;
- “resta-nos pouco tempo para irmos ao encontro de um futuro com novas maneiras de viver
na Terra e de viver uns com os outros”.