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SUJEITOS SIMULADOS
A questão transcende este romance publicado pela Planeta, que vendeu mais de
100.000 cópias. Juan José Millas pergunta: «Por que um uma apresentadora famosa não
pode alugar seu nome para vender um romance? Além disso, o rei e o primeiro-ministro
assinam discursos que outros escrevem sem escandalizar ninguém. Por que pedir um
pré-assistente de TV em vez de Chefe de Estado? » (Miles, 2000). Além do jogo
humorístico, a comparação entre uma jogada editorial, uma tática de publicidade e um
modo de produção delegado de discursos políticos levantam a necessidade de considerar
os problemas de correlação entre construções verbais e referentes empíricos, a
adequação entre conceitos e coisas, não apenas como uma questão semântica. O sentido
pragmático que o projeto adquire está na questão do problema de representação em
diferentes interações. É sobre os esquemas de avaliação compartilhados e pactos de
confiabilidade que dão consistência às duas formas de interação. Qualquer referência,
afirma Paul Ricoeur, «é co referência», ou seja, se constrói com outras.
Em certo sentido, é útil detectar que as identidades são produtos das narrações e
performances. Porém, o entusiasmo pós-moderno, ficcionalização dos sujeitos, devido
ao caráter construído pelas identidades, não se justifica da mesma forma em contextos
lúdicos ou arriscados. O Travestismo, interessante como um jogo ocasional de carnaval
ou a experiência pessoal, não é um modelo para todos. Pode haver assim sociedade, isto
é, pacto social, se nunca soubermos quem está falando conosco, nem escrevendo, nem
apresentando artigos? Viver juntos em sociedade é possível, desde que existam sujeitos
que assumam a responsabilidade. Não se trata sobre voltar às certezas fáceis do
idealismo ou empirismo, nem negar o quanto imaginamos do real, dos outros e de nós
mesmos quando representarmos pela linguagem. É uma questão de descobrir se é em
algum grau viável pode-se encontrar formas empiricamente identificáveis, não apenas
discursivamente imaginadas, da subjetividade e da alteridade.
DESCONTRUÇÃO MODERNA
SUJEITOS INTERCULTURAIS
SUJEITOS PERIFÉRICOS
Para localizar quem está falando e de onde está, é novamente necessário divulgar
o lugar geopolítico e geocultural de emancipação. Eles são significativos, nesse sentido,
as convergências e divergências na concepção do multiculturalismo em diferentes
regiões. Na teoria literária os estudiosos da cultura americana estão constantemente
questionando às teorias universalistas que eles contrabandearam, sob o pretexto de
objetividade, perspectivas coloniais, ocidentais, masculinas, brancas e de outros
setores. Algumas dessas críticas desconstrucionistas foram elaboradas também nas
ciências sociais e nas humanidades latinas. Mulheres americanas: pensadoras
esquerdistas e nacionalistas levantaram objeções semelhantes às teorias sociais e
culturais metropolitanas.
Uma questão debatida nos últimos anos em conexão com as reivindicações de
indicações de atores periféricos ou excluídos é a relação entre criatividade gnoseológica
e poderes sociais ou geopolíticos. Depois de ter sido atribuído às capacidades dos anos
1960 e 1970 para gerar conhecimento 'mais verdadeiro' para certas posições oprimidas
como fonte de conhecimento, temos visto a exaltação dos riscos fundamentalistas
subalternos.
O que o especialista em cultura ganha ao adotar o ponto de vista dos oprimidos
ou excluídos? Pode servir na fase de descoberta, para gerar hipóteses (p. 165) ou contra-
hipóteses que desafiem os saberes substituídos, para tornar visíveis os campos do real
negligenciado pelo conhecimento hegemônico. Mas no momento
da justificativa epistemológica é aconselhável deslocar-se entre os cruzamentos, nas
zonas onde as narrativas se opõem e se cruzam. Apenas naqueles cenários de tensão,
encontro e conflito, é possível passar de formal (ou francamente sectário) à elaboração
do conhecimento capaz de demonstrar e controlar o condicionamento de cada
enunciação.
Na medida em que o especialista em estudos culturais, literários ou artísticos
desejam fazer um trabalho cientificamente consistente, seu objetivo final não é
representar a voz dos silenciados, mas compreender e nomear os lugares onde as suas
demandas ou o seu dia a dia entram em conflito com os outros. As categorias de
contradição e o conflito está, portanto, no cerne desta forma de conceber a
investigação. Não ver o mundo de um único lugar de contradição, mas para
compreender sua estrutura atual e sua dinâmica possível. As utopias de mudança e
justiça, nesse sentido, podem ser articuladas com o projeto de estudos culturais, não
como uma prescrição do como os dados devem ser selecionados e organizados, mas
como incentivo para indagar sob quais condições (reais) o real pode ser a repetição da
desigualdade e discriminação, para converter assumir a cena do reconhecimento dos
outros.
Para voltar à questão que deu origem a este texto, a absolutização dos sujeitos
privilegiados como fontes de conhecimento tem algo de simulação. Nem os
subordinados nem as nações periféricas podem sozinho entregar a chave para o
social. Não é uma questão de recaída as interpretações tendenciosas das elites ou dos
países de primeiro mundo invertendo a autoafirmação exclusiva de um sujeito. Mas é
uma questão de se posicionar em cruzamentos, em lugares onde os sujeitos podem falar
e agir, transformar e ser transformados. Converter condicionamento em oportunidades
de exercitar a cidadania.