AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo. In: _____.
O que é o contemporâneo e outros ensaios. Trad. Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2013. p. 55-73
De acordo com as considerações de Giorgio Agaben (2013), em seu ensaio, ‘O
que é o contemporâneo’, a questão chave presente no título é complexa e controversa, no sentido de sua resolução estar pautada em uma desconexão e dissociação ao tempo presente. Segundo o filósofo, para “ser contemporâneo” é necessário certo nível de inadequação ao tempo a que pertence, ou seja, é preciso ser, em certo ponto, inatual. Assim sendo, segundo Agaben, o estado de contemporaneidade depende desse anacronismo para que se possa perceber e apreender o próprio tempo. Além desse certo distanciamento, possível pelo anacronismo, Agaben ainda propõe outra peculiaridade necessária para que se alcance o estado de contemporaneidade, a percepção da obscuridade do tempo em que se vive. De acordo com o filósofo, contemporâneo é aquele que “percebe não as luzes, mas o escuro” de seu tempo. No entanto, essa capacidade não é algo que derive de um estado de passividade, ou ocorra naturalmente, segundo Agaben, enxergar as trevas do próprio século requer uma habilidade singular, que consiste em anular as luzes para se se descobrir a escuridão, mesmo que ambas sejam indivisíveis. Em seguida, comprovando o teor paradoxal da busca por ser contemporâneo, Agaben afirma que, muito além de conseguir enxergar as trevas de seu tempo, o contemporâneo é aquele que percebe no obscuro, a luz que busca nos alcançar, mas que não pode. Mais que isso, ser contemporâneo, nesse caso, significa estar disposto, ser urgente, intempestivo e anacrônico, para assim enxergar trevas em meio a luz, e a luz em meio a escuridão completa. Usando de metáfora a moda, o filósofo estabelece semelhanças entre a descontinuidade da moda e o estado de contemporaneidade. Essa descontinuidade, em ambas, é causada pela alternância constante entre o atual e o inatual, o que faz com que o conceito do “agora” se perca entre o âmbito do ‘ainda não’ e do ‘não mais’. Assim sendo, é justamente por conta dessa descontinuidade, que moda e contemporaneidade se aproximam por instituírem relações com outros tempos, em específico o passado. Assim sendo, ser contemporâneo, exige ainda reconhecer no presente, as marcas do passado, mais que isso, perceber que o passado não deixa de influenciar o presente, visto que um é parte do outro.