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No que diz respeito a relação do sujeito com o objeto da obra de arte, a noção de mais

destaque que se nota na metáfora da Janela é justamente a de oposição entre interior e


exterior, a qual estabelece o lugar do sujeito (do eu) e do mundo externo, respectivamente.
Nessa noção de perspectiva, enquanto o “eu” permanece no interior, seu olhar direcionado
para a cena em destaque no quadro, permite a esse o acesso visual ao mundo exterior, ou
seja, neste caso acesso àquilo que está representado na respectiva obra de arte. A
relação do quadro e seu espectador, portanto se assemelha ao olhar real de um homem
através de uma janela ocidental comum; olhar este que tem como foco o mundo exterior,
assim como ocorre na relação que se dá entre o sujeito e seu olhar que atravessa na
noção de perspectiva. Por isso se nota com frequência aqui a presença da janela
metafórica e a visão como aquela que atravessa a essa.

Situado o sujeito e seu corpo no interior, o olhar ao alcançar o exterior além de se


desvincular dos limites corpóreos, não retém a janela em seu foco visual e, portanto, o
olhar atravessa a janela e assim “apaga” a mesma, isto é, ela não mais faz parte do campo
de visão do sujeito, mas sim o mundo externo.

A obra, portanto, deve atuar como um convite ao espectador convidando o olhar do


mesmo a contemplar a cena representada no quadro, como se aquele pudesse sentir as
emoções que a obra transmite e assim, “rir” ou “chorar” com a cena destacada.

Oposta a essa relação com o sujeito, percebe-se o oriente, no qual é ausente a concepção
de perspectiva tão presente no ocidente. Ao passo que na cultura ocidental se concebe a
oposição entre interior e exterior, do modo já mencionado, relativo ao sujeito e como se dá
o seu olhar através da janela; na cultura árabe o foco é dado à luz, a qual adentra no
interior partindo do exterior, de tal forma que o muxarabi proporciona justamente esta
passagem da luz. Estando ausente a perspectiva no oriente e o foco do muxarabi sendo
na pura luz, já não cabe mais aqui falar sobre uma relação com o sujeito no mínimo como
a era no ocidente, contrariando ao que se concebia neste sobre a metáfora da janela.

Contrário a essa crença no olhar como algo que possa alcançar o mundo exterior,
mostrou-se Descartes em sua filosofia. Para o filósofo os sentidos, por serem diversas
vezes duvidosos, não são confiáveis, mas apenas a razão é que nos pode levar a uma
certeza indubitável, a qual para Descartes é o “eu”, isto é, nota-se a valorização do sujeito
em detrimento do mundo externo sensível.

Em a “Monadologia” de Leibniz, o autor discorre em sua obra, sobre as “mônadas” ou


substâncias simples que constituem todos os compostos. “Simples, quer dizer, sem
partes”. Sendo as Mônadas o elemento mais básico constituinte de todas as coisas, os
“átomos da natureza”, tudo o que existe nada mais é que o interior de cada mônada e eis
aqui mais uma vez a valorização do interior acima do exterior, pois como disse o filósofo:
“As Mônadas não possuem janelas através das quais algo possa entrar ou sair”.

Como foi dito que o olhar apaga a janela, uma vez que o foco está no mundo exterior, ele
apaga também o corpo de quem olha. “Se assim não fosse, o espectador deveria poder
ver-se e representar a si mesmo de costas”. Assim, posteriormente surge na perspectiva
uma obra na qual pode-se ver o sujeito de costas olhando através de uma janela. Deste
modo, nota-se agora na perspectiva a valorização do interior e do sujeito, isto é, aquilo que
era valorizado por Descartes e Leibniz em suas filosofias sobre o “eu” e sobre a “mônada”,
respectivamente.

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