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https://doi.org/10.36592/9786587424064-33
Valentin Wey1
I Contemporaneidade centrífuga
3„Erkennen heißt nun nichts anderes, als einen Gegenstand nach seinem bestimmten Inhalte zu
wissen“, HEGEL, G. W. F., Wissenschaft der Logik, in: Enzyklopädie der philosophischen
Wissenschaften, Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1986, v. 1, § 46, p. 123.
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4 „Als Schranke, Mangel wird etwas nur gewußt, ja empfunden, indem man zugleich darüber hinaus ist.
(…) Es ist daher nur Bewußtlosigkeit, nicht einzusehen, dass eben die Bezeichnung von etwas als einem
Endlichen oder Beschränkten den Beweis von der wirklichen Gegenwart des Unendlichen,
Unbeschränkten, enthält.“ Ibid., § 60, comentário, p. 144.
5 A contradição é „la totalité en marche, la totalité en quelque sorte militante et non encore triomphante“,
GARAUDY, Roger, Contradiction et totalité dans la Logique de Hegel, Revue Philosophique de la France
et de l’Étranger, v. 154, 1964, p. 67–78.
6 „C’est donc, en fait, et à deux titres, pour éviter la contradiction logique que le processus dialectique
tandis que ce dernier ne peut être que dépendant“, MARMASSE, Gilles, En quel sens la philosophie
hégélienne de l’histoire est-elle une théodicée ?, Revue de métaphysique et de morale, v. N° 85, n. 1,
p. 77–95, 2015.
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coisa senão essa tendência de superar a si mesma depois que sua limitação intrínseca
for reconhecida como tal. Sempre escapando de si mesma nessa projeção necessária
rumo ao que não é ela e ao que resta tornar-se, a Gegenwärtigkeit deve ser entendida
como essencialmente centrífuga. De fato, sua anterioridade cronológica, aberta a um
futuro que ainda está por vir, parece originar-se apenas de sua posterioridade lógica e
dependência da totalidade.
II Contemporaneidade centrípeta
8„Quand la philosophie peint son gris sur gris, c’est qu’une figure de la vie est devenue vieille, et on ne
peut la rajeunir avec du gris sur gris, mais on peut seulement la connaître ; la chouette de Minerve ne
prend son vol qu’à la tombée du crépuscule“. HEGEL, G. W. F., Principes de la philosophie du droit,
Tradução Jean-François Kervégan, Paris: Presse Universitaire de France, 2013, prefácio.
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9 „Car le fait de la philosophie est la connaissance déjà élaborée, et en cela l’appréhension serait
seulement une réflexion au sens d’une pensée subséquente; c’est seulement le jugement d’appréciation
qui exigerait une réflexion au sens habituel.“ HEGEL, G. W. F., La science de la logique, in: Encyclopédie
des sciences philosophiques, Tradução Bernard Bourgeois, Paris: Vrin, 2018, p. 124.
10 „Von den über die Philosophie überhaupt vorausgeschickten Begriffen gilt, dass sie aus und nach der
Übersicht des Ganzen geschöpfte Bestimmungen sind.“ HEGEL, G. W. F., Wissenschaft der Logik, in:
Enzyklopädie der philosophischen Wissenschaften, Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1986, v. 1, §
19, p. 67.
11 É por isso que G. Lebrun afirma, contra G. Marmasse, que a progressão do texto não é genética, mas
pedagógica e que a gênese é realizada de maneira não progressiva, mas retrospectiva. LEBRUN, Gérard,
L’envers de la dialectique: Hegel à la lumière de Nietzsche, Paris: Éd. du Seuil, 2004, I.
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III Presentísmo
12 RENAULT, Emmanuel, Connaître ce qui est : enquête sur le présentisme hégélien, Paris: Vrin, 2015.
13 „Embora se possa dizer que as concepções do presente como mero resultado de um processo passado
sejam passadistas, as concepções que explicam o curso da história através da busca por um mundo
melhor podem ser consideradas, por simetria, futuristas. (...) Em contraste com essas duas opções,
deve-se dizer que a posição hegeliana é presentista.“ Ibid., p. 15.
14 Id.
15 Nesse sentido, é igualmente contraditório falar de um "projeto especulativo", sendo o especulativo ou
efetivo ou potencial em uma perspectiva posterior ao seu efetivo devir, mas não o objeto de um projeto
voltado para um futuro indeterminado, cf. RENAULT Emmanuel, Ibid., p. 54.
16 „Wenn dieser Widerspruch dadurch verdeckt zu werden scheint, dass die Realisierung der Idee in die
Zeit, in eine Zukunft, wo die Idee auch sei, verlegt wird, so ist solche sinnliche Bedingung wie die Zeit
das Gegenteil vilement von einer Auflösung des Widerspruchs, und die entsprechende
Verstandesvorstellung, der unendliche Progress, ist unmittelbar nichts als der perennierend gesetzte
Widerspruch selbst.“ HEGEL, G. W. F., Wissenschaft der Logik, in: Enzyklopädie der philosophischen
Wissenschaften, Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1986, v. 1, § 60, p. 143.
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positivo, nessa ilusão de uma dialética que vai do vazio à plenitude, que resulta
imediatamente a temporalização do devir. Esse reflexo do pensamento representativo
resta sobre uma compreensão abstrata ou unilateral da negatividade, considerando
sua superação como uma simple adição positiva e não como uma segunda negação
resultando em uma positividade especulativa17. Desse modo, um pensamento da
contemporaneidade como presente limitado e chamando sua superação no devir
concreto do conceito, permanece de fato dependente da negatividade abstrata própria
à esfera da história18. Ignorando a natureza negativa essencial de toda determinação e,
portanto, de todo saber, o raciocino do entendimento tende a tomar como positivo o
que é apenas determinação negativa, e assim absolutizar as estruturas do espírito
objetivo19.
Como mostra G. Lebrun, a vigorosa crítica de tal pensamento representativo
anda de mãos dadas o projeto hegeliano de construir um „novo presente“20. Nesta
perspectiva, Hegel opõe à projeção e à construção, o aprofundamento, sendo o
movimento do espírito não progresso o regresso, mas penetração de si mesmo21. Se o
gesto do espírito é um gesto de aprofundamento, é porque para ele, trata-se de afundar
no que já é ele em um processo de auto-reconhecimento em tudo. Ao movimento
centrífugo na auto-superação ou centrípeto na auto-absolutização, o movimento lógico
da Aufhebung deve, portanto, ser entendido como a verdadeira contemporaneidade
lógica, na medida em que a Aufhebung mantém em uma unidade conservadora a dupla
negação que opera. O movimento de Aufhebung é de fato um effondrement fondateur,
17 apenas o conceito sendo negatividade absoluta e identidade própria de si mesmo, cf. HEGEL, G. W.
F., Wissenschaft der Logik, in: Enzyklopädie der philosophischen Wissenschaften, Frankfurt am Main:
Suhrkamp Verlag, 1986, v. 1, § 258.
18 Devemos lembrar, com G. Marmasse, a diferença de movimentos que caracterizam as esferas do
Espírito objetivo e do Espírito absoluto: „Des objets différents se succèdent certes, mais la philosophie
ne se divise pas, car c'est en elle-même qu'elle change. En revanche, dans l'histoire, on observe une
pluralité de peuples en conflit réciproque. Bref : l'esprit philosophant travaille subjectivement sur lui-
même, tandis que l'esprit du monde se divise en une multiplicité d'étants distincts.“, MARMASSE,
Gilles, En quel sens la philosophie hégélienne de l’histoire est-elle une théodicée ?, Revue de
métaphysique et de morale, v. N° 85, n. 1, p. 77–95, 2015.
19 „Die Beziehung des Ausgangspunktes auf den Endpunkt, zu welchem fortgegangen wird, wird so als
nur affirmativ vorgestellt als ein Schließen von einem, das sei und bleibe, auf ein anderes, das ebenso
auch sei. Allein es ist der große Irrtum, die Natur des Denkens nur in dieser Verstandesforms erkennen
zu wollen.“ HEGEL, G. W. F, op. cit., § 50, p. 132.
20 LEBRUN, Gérard, La patience du concept : essai sur le Discours hégélien, Paris: Gallimard, 1972, I.
21 Poderíamos nos referir ao § 140 da Ciênca da Lógica, no qual Hegel tematiza o erro comum do
entendimento de tomar a essência por o interior: „Es ist der gewöhnliche Irrtum der Reflexion, das
Wesen als das bloß Innere zu nehmen. Wenn es bloß so genommen wird, so ist aux diese Betrachtung
eine ganz äußerliche und jenes Wesen die leere äußerliche Abstraktion. (…) Es hätte vielmehr heißen
müssen, eben dann, wenn ihm das Wesen der Natur als Inneres bestimmt ist, weiß er nur die äußere
Schale.“, HEGEL, G. W. F, op. cit., § 140, p. 274-275.
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um afundamento fundador das particularidades que ele supera. Esse zu Grunde gehen
não é mera superação em uma projeção, nem mera conservação por justificação. Muito
mais, é uma fundação de si por si mesmo, em um aparecer do Espírito a si mesmo;
implicando o reconhecimento atual de uma totalidade efetiva.
O sentido lógico e, portanto, o primeiro, da Gegenwärtigkeit, parece-nos residir
nesse aprofundamento de si com o qual o conceito procede em seu devir efetivo. Não
é progressivamente que o conceito se faz, nem regressivamente que se entende, e nem
é atualmente que ele se atinge. A entrada em si do conceito não deve ser entendida de
maneira positiva e progressiva, nem retroativa e retrospectiva, mas justamente como
uma construção sistemática da positividade do negativo, ou, em termos hegelianos,
como especulativo.
Finalmente, não é em relação ao vaso que enchem, nem em relação ao
enchimento relativo do vaso que as gotas devem ser entendidas. E sim, é em sua
sucessão que elas fazem o vaso parecer um vaso, fazendo dessa aparência de um
recipiente potencialmente preenchível a condição e o fim da sua própria sucessão. Se
a contemporaneidade não é imediatamente o que é, mas mantém essa distância
mínima a si mesma que o conhecimento da sua própria fronteira implica, é porque,
como o Conceito, deve ser apenas entendida como efetiva na superação conservadora
da suas limitações primeiras, superação que faz da sua realização um proprio devir. Se
a contemporaneidade é precisamente nunca realizada, nunca imóvel e deve ser
entendida como em movimento permanente, é porque o sistema especulativo não pode
ser entendido como imediatamente sucedido. Mais do que um sistema, o movimento
conceitual é sistematização, mais do que bem-sucedido, está sempre tendo sucesso. A
contemporaneidade lógica, como devir sistemático, é assim qualificada como lógica do
desespero e como o que Hegel chama esse „pensamento desesperando por poder
resolver, por si só, também a contradição em que se colocou“22. A contemporaneidade,
nesse sentido, não passa de co-presença implícita do espírito para si mesmo em seu
devir sistemático e efetivo, e entende-se em seu devir como essa permanência do que
desaparece23, como presente eterno que se desespera da sua própria efemeridade.
Conclusão
Referências
RENAULT, Emmanuel. Conna tre ce qui est : enqu te sur le pr sentisme h g lien.
Paris: Vrin, 2015.