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A leitora submissa de René Magritte espanta-se com o que

lê - uma leitura erótica, ensaiaram críticos da tela. Mas não há


correspondência entre a imagem e o título, pois texto e imagem
são representações. Vemos uma mulher espantada, mas lemos
uma mulher submissa. Entre o espanto e a submissão a um texto
é onde nós, leitores, nos localizamos. As leituras nos movem por
diferentes descobertas e emoções. Mas alguns livros nos obrigam
a repousar antes de retomá-los.

O espanto da leitora submissa se mantém - seus olhos não se


afastam das palavras. Suas mãos permanecem firmes no livro,
mas seu rosto não é capaz de conter a inquietação. Não serão as
mesmas obras que nos provocarão paixão e irrespeito. Este livro
é sobre uma forma particular de irrespeito, aquele provocado pela
mentira textual quando o leitor descobre que não há correspondência
entre assinatura e texto: o plágio.

palavras escondidas
EDITORA

Debora Diniz
FIOCRUZ
Ana Terra
Plágio
palavras escondidas
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M l l ~ e ude Arqueologia e Etnologia
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Tiragem: 13 edição - 2014 - 2000 exeniplares


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Inipresso no Brasil.
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Esta publica~áopossui versáo digira1 (ISBN 978-85-98070-37-7). 4 a '-A

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Capa, Editorapio Eletrônica e Layour
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A leitora submissa
René Magritte, 1928
O Photothèque R. Magritre, Magritte, RenélLiceiiciado por AUTVIS. Brasil, 2013.
O uso de imagens ao longo desta obra olirdccemcrtal~lecidona Lei de Direitos Autorais (Lei no 9.61011998). Algumas estáo em doniínio
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Diniz, Debora
Plágio : palavras escondidas 1 Dehora Diniz, Aiia Terra. - Brasilia : LetrasLivres ; Rio de Janeiro : Editora Fiocruz, 2014.
196 p.
ISBN 978-85-98070-36-0
1. Plágio. 2. Propriedade intelectual. 3. Traballio acadêmico. I. Terra, Ana. 11. Titulo

CDD 342.28
C D U 347.78

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Arroclaçáo Brasileira
das Edltoras Universltárlas
GÊNERO
Eles, plagiadores.

PRÓLOGO
A leitora submissa de Magritte; a leitora enganada do plágio.
Irrespeito e palavras escondidas. 13

PLAGIO
. . . papéis . . . arqueologias .. . diciondrios . .. verbete
Texto e atores - o teatro da comunicaçáo acadêmica. Por trás das
cortinas, uma perturbaçáo de leitura e autoria: plágio, apropriaçáo
indevida da criaçáo literária e violaçáo de uma expectativa
de sinceridade. Pernas curtas do pseudoautor: se lido, será
desmascarado. 17

. . . caça-palavras . .. moldes . . . pasticbes . . . literaturas


O plágio de duas teclas: alvo fácil dos softwares. Cópia e pastiche,
duas modalidades de plágio. O ramo de alecrim e o plágio do inglês
científico: receitas idênticas, temperos distintos. Pastiche textual:
entre a citaçáo literal e a paráfrase, adulteraçóes de um molde.
Intertextualidade e imitaçáo criativa. 31
1
L/
.. . assinaturas . . . prescriçóes . . . escribds . . . repetiçóes
Plágio, um desvio de autoria: cicatriz entre criador e criatura.
.. . traços.. . lições.. . correções . . . etiquetas
O Big Brotber da escrita acadêmica: máquinas para detecçáo e
O descontentamento da apropriaçáo de palavras, dores e argumentos. comprovaçáo do plágio. O protagonista importa - dois pesos e duas
Autoria acadêmica - mais que a redaçáo e a assinatura de um texto. medidas no tratamento do plágio entre estudantes e professores.
Nos créditos: presenças imerecidas, ausências injustas - jogos de Entre a pedagogia, a puniçáo e a burocracia, os códigos de honra
coerçáo, fantasmas, presentes e convites. O exercício da autorrepetiçáo acadêmica. Rasuras, retrataçáo e estigma: o carimbo vermelho,
e o oximoro do autoplágio. 49 o manto da vergonha. Editores e revisores, guarda-costas da
109
publicaçáo. Revisores plagiadores: um tiro no pé.
ESCRITURA

4 1
. . . pretextos . . . transmigragóes ... parayrases . .. apud
Memória fotográfica, desordem nas notas de leitura, desconhecimento
das regras acadêmicas - o divá do plágio inocente. Linhagem do 7
SOMBRA
Etnografia do plágio: as sombras do teatro japonês e as palavras
escondidas. A leitora nada submissa.
129

plágio: a inrerpreraçáo descuidada. Aspas, as trombetas do texto:


anúncio da citação literal. Para além das aspas, a paráfrase, um ato INQUIETAÇÁO
autoral, honesto e responsável de leitura e síntese. O exercício e a
Fim do livro, um posfácio duvidoso - as demandas e os sofrimentos
hostilidade da crítica. D o túnel do tempo, um obsoleto e preguiçoso
de autores, leitores e pseudoautores. Como entender e enfrentar o
personagem: apud. plágio. Leitores-auditores, novas comissóes, pausas na rota critica da
67
puniçáo ao plágio. O mundo real do plágio nas universidades. 137

7
L/
. . . ideias ... titulos . . . borrões . . . fábricas
Mágio de ideias: o temor e a liberdade. Oralidade e textos em
processo. Mágio de títulos: rótulos da mercadoria textual, letreiros
para o conteúdo e a identificaçáo da obra. Disputas judiciais sobre
títulos idênticos. Infraçóes em pesquisa: falsificaç50 e faliricaçáo de
dados. Nas universidades, as fábricas de texto: tral>alhos prontos,
escrita fantasma e desonestidade acadêmica, mas não pldgio. 89
Escrevemos no masculino por resignaçáo ao léxico da
língua portuguesa e à ordem acadêmica mundial. Resistir pelo
feminino universal seria um caminho injusto: falaríamos de
autoras como plagiadoras. Náo sabemos como nossas posiçóes nos
gêneros nos conduzem pelos descaminhos do plágio. A injustiça
seria ainda demográfica: as mulheres sáo minoria na enciclopédia
acadêmica. Por isso, falamos de homens autores e plagiadores -
o "eles" genérico do texto universitário. Mas este é um livro para
todas nós: mulheres e homens que se preocupam com a ética na
comunicaçáo acadêmica.
"Numa palavra, nunca lhe aconteceu ler levantando a
cabeça?" - uma suspeita de Roland Barthes sobre as leituras
apaixonadas (2004, p. 26, grifo no original).
A leitora submissa de René Magritte espanta-se
com o que lê - uma leitura erótica, arriscaram
A leitora
críticos da tela. Mas náo há correspondência
rbmissa
entre a imagem e o título. Desafiando a ,lené Magritte,
imagem da tela pelas palavras, suspende-se 1928
também a ansiedade de quem busca o real na
imagem. Texto e imagem sáo representaçóes.
Vemos uma mulher espantada, mas lemos
uma mulher submissa. Entre o espanto e a submissáo a um texto
é onde nós, leitores, nos localizamos. As leituras nos movem por
diferentes descobertas e emoçóes.

Ler e levantar a cabeça - é como ler e acalmar a leitura.


Alguns livros nos obrigam a repousar antes de retomá-los.
Como descreveu Barthes (2004), sáo as leituras irrespeitosas
e apaixonadas que inspiram essas rupturas. A leitora submissa
mantém seu espanto com o texto - seus olhos náo se afastam das
palavras. Suas máos permanecem firmes no livro, mas seu rosto
não é capaz de conter a inquietaçáo. Náo sabemos o que lê, e isso
tem pouca importância para a experiência da leitura. Náo seráo
as mesmas obras que nos provocaráo paixáo e irrespeito. E sobre Este livro é sobre o plágio, uma forma de enganaçáo textual
esse último afeto que falaremos neste livro - mas uma forma em que um pseudoautor assume como suas as palavras de um
particular de irrespeito, aquele provocado pela mentira quando autor, Intencional ou descuidado, o pseudoautor mente para o
o leitor descobre que náo há correspondência entre assinatura e leitor: substitui assinaturas em um texto e náo informa sobre a
texto. anterioridade da criaçáo. O plagiador pode ser um ladráo para
alguns; para nós, é um sujeito tolo, um sebastiáo das letras e
Alguns textos nos afastam da leitura. Eles nos causam jamais um criador de textos. Poderia ser só um potoqueiro da
um espanto diferente do apaixonado e irrespeitoso descrito praça, se náo falasse em nome da ciência e do conhecimento -
por Barthes (2004). Há textos que nos angustiam pelo que a importância dos atos do plagiador depende do que ele copia ou
escondem. Se a leitora submissa de Magritte representa um adultera. O plágio nos faz ler e levantar a cabeça, mas por razóes
real que desconhecemos, para nós, simboliza quem se perturba bem menos nobres que a paixáo provocada pela descoberta dos
ao encontrar um plágio. É assim que imaginamos uma autores fortes.
leitora ao descobrir que a assinatura da obra náo é verdadeira: seus
dedos se mantêm firmes nas páginas, como se náo permitissem a
fuga; seus olhos resistem a crer no que leem; seu rosto é puro
descontentamento. A mulher de Magritte poderia ter outro título:
A kitora enganada. Talvez Magritte não estivesse de acordo com
nossa apropriaçáo tardia da tela, mas sua intençáo como artista
náo é mais capaz de controlar os usos de sua obra.

O plágio é um engano para quem o lê e uma mentira para


quem o assina como autor. Ao mudar o título da tela de Magritte,
o que fazemos é uma espécie de paráfrase - interpretamos sua
obra segundo um novo contexto argumentativo e pictórico. Náo
assumimos a tela de Magritte como nossa criaçáo. Poderíamos
ter acrescentado um bigode à mulher submissa e tê-la nominado
A leitora enganada, tal qual o retoque genial de Marcel Duchamp
à Mona Lisa de Leonardo da Vinci. O u ainda poderíamos ter
representado sua rejeiçáo A descoberta do plágio por meio do
afastamento do livro - um pastiche artístico, fosse pelo bigode
ou pelo gesto. Optamos por uma citaçáo literal, com o uso
licenciado pela Associaçáo Brasileira dos Direitos de Autores
Visuais (Autvis). Mas fizemos da obra uma peça de argumentação
para nosso texto. É uma cita~áoartística.
PLÁGIO
... papéis ... arqueologias . . . dicionários . .. verbete

...papéis
O plágio é uma preocupaçáo de estudantes, professores,
pesquisadores, autores, revisores e editores. Há uma sobreposiçáo
entre essas figuras na divisáo do trabalho acadêmico: é como se
um mesmo ator assumisse diferentes papéis em uma única peça -
professor, pesquisador, autor, revisor e editor compóem o teatro da
comunicaçáo acadêmica. O papel de estudante é o único vivido
por todos nós em algum momento da carreira acadêmica, por isso
uma reflexáo sobre o plágio deve ser condiçáo para a iniciaçáo
ao posto de neófito pesquisador. H á uma falsa crença de que os
interditos sobre o plágio sáo devidamente conhecidos por todos
aqueles que ingressam no ambiente acadêmico. Esse nos parece
um triste equívoco - é preciso que o plágio saia do esconderijo da
vergonha e assuma a cena. Talvez só assim possamos conhecer as
desmotivaçóes dos plagiadores para a criaçáo acadêmica.

A ambiçáo de um professor é que os jovens pesquisadores


naturalizem a ética acadêmica. Os estudantes devem aprender
como ser íntegros no teatro acadêmico e, por isso, conhecer
precocemente as sançóes para o plágio: atividades pedagógicas
ingênuas, se plagiadas, seráo reprimidas. Como pesquisador,
o compromisso é pessoal - um pesquisador deseja ser confiável Este livro se dedica a pensar o plágio textual e suas
em sua comunidade. Do desenho do projeto h escrita dos implicações éticas para dois personagens da vida acadêmica:
resuicados, as práticas de pesquisa devem obedecer a prindpios o autor e o leitor. Editores, revisores e professores sáo bem-
éticos compartilhados e a normas de integridade academia. vindos nesta jornada, mas somente como aqueles que cruzam
Como editor, o olhar se volta para a comunidade de pesquisa: o caminho de nossos leitores e autores. O universo acadêmico
os autores precisam estar cientes de seus deveres, e o editor atua é vasto e suas formas de expressáo são criativas e diversas. Há
como um maestro que mantém as regras em circulaçáo. Nada patentes de medicamentos, fórmulas matemáticas com novas
mais triste para um editor que retratar uma peça publicada soluçóes, roteiros de filmes ou registros de espécies de plantas
sob sua supervisáo. Mas a atividade do editor depende de um recém-descobertas - cada área do conhecimento comunica a
personagem central na divisáo do trabalho acadêmico - o criaçáo intelectual à sua maneira e, consequentemente, lança
parecerista ou revisor de originais. Esse é um lugar ainda questóes particulares sobre a integridade acadêmica. Nossa ênfase
pouco explorado quanto aos aspectos &os, porém essencial na será as humanidades, que privilegiam o texto escrito como forma
dinâmica da integridade acadbica. Os editores niio sáo capazes de comunicaçáo.
de identificar rodos os sinais de fumaça sobre o plágio ou outras
infrações éticas; eles dependem da sabedoria e do oihar arento
dos revisores.
... arqueologias
Além desses lugares situados e reconhecidos pela
engrenagem acadêmica, há outro, silencioso e permanente, que Há uma dificuldade em descrever o plágio, suas açóes e
todos habitamos - o de leitores das peças acadêmicas. Para ser seus personagens. Uma extensa literatura o define em termos
um leitor, náo é preciso ocupar o posto iurídico-penais: "crime", "estupro", "roubo", "sequestro",
de estudante, professor, autor ou editor. "pilhagem", "furto", "falsifi~a~áo","pirataria", "fraude" e
E é para o leitor, iniciado ou náo no "empréstimo clandestino" sáo algumas das expressóes mais
A leitora (jovem ofício da pesquisa acadêmica, que o usadas (Green, 2002; Howard, 2000; Marsh, 2007b; Posner,
sentada) plágio é uma prática desconcertante. 2007). O conto de origem do plágio como roubo de ideias
Pierre-Auguste O plágio confunde o leitor, pois perturba remonta ao século I com o poeta latino Marco Valério Marcial:
Renoir, plagiario seria seu desafeto literário Fidentino, que lhe roubava os
a confiança na ciência. Náo se esperam
1887
dos acadêmicos peças literárias, mas epigramas (McCormick, 1989).' Uma traduçáo contemporânea
textos ordinários que comuniquem teses ' O termo "plagiário" preserva essa forma etimológica. Ao longo deste livro, optamos por
ou resultados de pesquisa com clareza "plagiador", palavra de uso mais corrente no léxico ativo da língua portuguesa. Em latim,
. . plagiarius designava aquele que roubava escravos, ou que vendia pessoas livres como escravas.
e honestidade. Porém, se podemos nos
Esse sentido foi estendido ao longo do tempo até chegar ao de plágio como apropriação
perdoar pela simplicidade estética, náo podemos faltar com a literária. Embora menos comum, a acepção original persiste - equivale ao crime de redução
lealdade aos leitores, que buscam nos textos acadêmicos respostas a condiçáo análoga à de escravo, previsto no artigo 149 do Código Penal brasileiro.
É provável que a revisáo em curso do Código Penal adote o termo "plágio intelectual" para
para suas inquietaçóes existenciais ou cotidianas.
o plágio literário.
descreveria o personagem do plagiador como alguém que comete É muito comum a confusão entre plágio e violaçáo da
um crime, sendo o mais comum o de violaçáo da propriedade propriedade intelectual. Porém, assim como nem toda violaçáo
intelectual. Outro caminho seria descrevê-lo de direitos autorais envolve plágio, nem todo plágio infringe
EL I N C E N I O S O
XOTB
O DON
D B Li. MANCHA,
,. em termos morais ou psíquicos: o plagiador direitos autorais. É possível uma obra estar em domínio público,
DIRI~IDO
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VUDRRIIAI.
seria um sujeito fraco e inautêntico, porém como é o caso dos livros de Machado de Assis, e mesmo assim
P,,eim edicno , I,,,*, mid.i E ambicioso; alguém em busca do sucesso se reclamar o plágio em caso de cópia indevida. Uma obra passa
de Dom Quixote literário sem esforço (Marsh, 2007b). a ser considerada de domínio público setenta anos após a morte
de Ia M a n c h a C . Há, por fim, um pseudodiagnóstico em de seu autor (Brasil, 1998).' O sentido de cópia para uma obra
Juan de Ia e
,

Cuesta, 1605
uma abordagem medicalizante do plágio: em domínio público é um pouco diferente: o livro pode ser
criptomaníaco de textos, um servo da própria
A L
impresso e distribuído por diferentes vias sem necessidade de
OOYPntvILmeIo,
pulsáo pelas palavras alheias. Alguém como autorizaçáo ou remuneraçáo, pois o prazo de proteçáo aos direitos
#W AiJDiI0 hiun&ban,
Pierre Menard, personagem borgiano que se patrimoniais já expirou. A autoria da obra, no entanto, jamais se
propôs escrever Dom Quixote, desejoso de altera: Machado de Assis será sempre o autor de O alienista, náo
.
"[. .] produzir páginas que coincidissem - palavra por palavra importa por qual meio a obra for divulgada. O direito moral de
e linha por linha - com as de Miguel de Cervantes" (Borges, ser reconhecido como autor náo muda com o domínio público
197% p. 51-52). de uma obra. Assim, uma cópia de O alienista por um escritor
I contemporâneo poderá ser avaliada como plágio, mesmo a obra
'I' Esses sáo caminhos interpretativos concorrentes e estando em domínio público. A obra em domínio público tem
alternativos à rota que seguiremos neste livro. Nossa escolha livre circulaçáo, mas náo há um direito de desapropriaçáo de
é circunscrever o rema do seus persoiiagrns e siias práticas sua autoria.
no caiiipo da :rica e da integridade acadêmicas. Há sobreposicóes
pcrrrianeiites aos sabcres jurídicas e sociopsíquicos, inas essas Entender o plágio como violaçáo da propriedade privada
interfaces srráo apenas brevcniciirc exploradas. O caiiipo jriridico parece ter sido a escolha da Coordenaçáo de Aperfeiçoamento
está eiii çoiistaiiie mutaçiio e abre iiin ariiplo Icque de acordos c de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgáo para a promoçáo,
dissensris sobre o pligio: o entcndjinetito comum o circuiiscievc à consolidaçáo e avaliaçáo dos programas de pós-gaduaçáo no
ordein cnpitalisra da propriedade privada e resolve as çoiitrovCrsias Brasil, ao fazer mençáo à propriedade intelectual no primeiro
pela razão ccoii6mica do capital gerado pela produ@o iiialecrual documento público sobre o tema. As orientaçóes divulgadas
(Posner, 2007). Ourras inccrpretaçcícs susceiitam a inexistêiicia pela Capes (Brasil, 2011) endossam as recomendaçóes de
de propriedade privada violada pelo pldgio, pois náo Iiavrria uma proposiçáo anterior do Conselho Federal da Ordem
inveiqiio geiiiiilin iio campo das ideias. iil;~ssempre recriaqáo a dos Advogados do Brasil (2010), que visava estimular a
parrir de aproprhçSes (Howard, 1995): a inspiraqáo nasceria "dos conscientizaçáo sobre a propriedade intelectual e coibir o
ombros dos gigantes", uma metifora para a cri;q~oincelecrual
cterilizada por Isaac Ncwtot~. ' O prazo de proteçáo patrirnonial varia internacionalmente. A Convençáo de Berna, da
qual o Brasil é signatário, estabeleceu um período mínimo de cinquenta anos após a morte
do autor (Brasil, 1975).
plágio entre estudantes e pesquisadores, além de problematizar a integridade acadêmica sejam pouco comuns. A maioria dos
o comércio de trabalhos prontos. Como forma de controle das pesquisadores acredita nos princípios éticos de uma boa prática
infraçóes digitais de estudantes, tanto a Capes quanto a OAB acadêmica e, voluntariamente, submete-se a eles. Entre os que
sugerem a adoçáo de softwdres caça-plágios em instituiçóes de cometem desacertos, há muitos que o fazem por desconhecer as
ensino e comissóes para examinar os resulrados mostrados pelas regras. Ingenuamente se supóe que as normas de funcionamento
máquinas. Nas instituições públicas de pesquisa no Brasil, órgãos e os princípios éticos da atividade acadêmica sejam autoevidentes.
já instituídos por decretos e leis sáo responsiveis pelo julgamento O resultado sáo rumores que animam seu principal interdito,
das denúncias de plágio ou outras infraçóes éticas - comissóes o plágio - em termos profanos, uma prática também descrita
disciplinares permanentes e comissóes de ética (Brasil, 1990, como "pecado náo originaln (Clark, 1983, s.p.).
1994, 1998, 1999,2007, 2008).

Algumas universidades brasileiras já adotaram políticas


internas de informaçáo e enfrentamento do plágio, mas a
..
, dicionários
frequência e a soluçáo dos casos sáo desconhecidas (PUC-SP, 201 1;
Plágio: [Do gr. plágios, 'trapaceiro'; 'oblíquo', pelo lar.
PUC-RS, 2007; UFF, 2012; Unesc, 2011). Falsamente se poderia tard. plagiu.] S.m. Ato ou efeito de plagiar; ~lagiato.
imaginar que as principais universidades do país sejam centros [Cf.plagio, do v. plagiar.] (Ferreira, 2010, p. 1650).
de plagiadores, uma vez que as notícias na imprensa nacional
ou as controvérsias em editoriais sáo relacionadas a estudantes,
pesquisadores, professares e reitores dessas instituiçóes.
Pelo menos duas razões explicam esse viés de concentraçáo.
Plágio: s.m. (1789) 1 ato ou efeito de plagiar. 2 JUR
A primeira é que importa saber o que é feito nos principais centros apresentação feita por alguém, como de sua própria
públicos de pesquisa do país: boa ou má propaganda converte-se autoria, de trabalho, obra intelectual etc. produzido
rapidamenre em notícia. Uma nova descoberta ou um escândalo por outrem. ETIM gr. plágios, a, on 'oblíquo, que náo
siio igualmente interessantes para a imprensa. A segunda está em linha reta, que está de lado'. SIN/VARplagiato.
razáo é que há uma concentraçáo da publicação de circulaçáo PAR plagio (fl. plagiar) (Houaiss; Villar, 2009b,

internacional nesses e em outros poucos centros de referência para p. 1505).


a pesquisa no país. Os periódicos acadêmicos internacionais sáo
os que reagem mais duramente ao plágio, declarando a retrataçáo
do artigo, isto é, sua retirada de circulaçáo. ...verbete
Náo se sabe o quão frequente é o plágio ou outras expressões Plágio: apropriação indevida e não autorizada de
de má-conduta acadêmica no Brasil, como a falsificação ou criação literária, que viola o direito de atribuição
a adulteraqáo de dados de pesquisa. Talvez esta seja uma de crédito do autor e a expectativa de sinceridade
liipótese otimista, mas acreditamos que atos desleais e danosos no leitor.
O plágio é uma apropriaçúo indevida e núo autorizada de permanece na estante do autor com sua assinatura na capa.
criaçáo literária.' Isso significa que um pseudoautor se apossa
O plágio é uma duplicaçáo dessa geografia do livro, com
de um texto, ou de partes dele, e o apresenta como seu. Náo há dois
a diferença de que outra assinatura acompanhará o texto.
autores genuínos, mas um autor e um pseudoautor. O embaraço
Por isso, náo seria correto descrevê-lo como roubo - náo há
é que o plágio engana o leitor, que desconhece o encobrimento
efetivamente uma perda de propriedade, e sim uma espécie de
textual feito pelo plagiador: lê como se a assinatura do texto
compartilhamento de bens; porém, essa é uma comunalidade náo
falseado fosse do autor origiiial. Há estilos literários em que a
consentida e, algumas vezes, desconhecida pelo autor. O tipo de
sombra do texto origina! é o jogo estilistico a ser provocado -
desapropriaçáo mais comum é o de partes de um texto original:
como a paródia, uma forma de ironia textual. Umberto Eco,
um fatiamento do tecido textual que o mutila em sua harmonia
ao desvendar alguns de seus segredos de escrita, descreve as
original, por isso o plágio pode ser percebido por um bom leitor.
alusóes irônicas como "piscadelas adicionais" (2013, p. 31).
No passado, houve casos de plágio de obras inteiras, uma prática
O leitor que náo as perceber fará outro percurso na leitura,
cada vez mais difícil de ser encoberta com os meios eletrônicos de
mas náo reclamará de ter sido enganado pelo parodiador. Se
divulgaçáo da informaçáo.
no universo ficcional a paródia é uma forma de duplicaçáo de
obras originais ou de flutuaçáo de personagens entre partituras Em finais dos anos 1990, dois químicos brasileiros
textuais, mas com criaçáo autoral pelo parodiador (Eco, 2013), publicaram um estudo sobre o controle de qualidade da cachaça
na escrita acadêmica, os estilos argumentativos sáo mais pobres. (Kuchler; Silva, 1999). Quase uma década depois, outros dois
Para o exercício da repetiçáo, o autor acadêmico tem basicamente pesquisadores, com um método bem
dois recursos textuais: a citaçáo literal e a paráfrase. Se escrever menos aceitável na ciência - o copia- Pequena rnoenda
sem recorrer a um deles para referenciar suas fontes, correrá o cola -, apropriaram-se integralmente portútil
risco de ser acusado de plágio. do artigo e o publicaram em outro Jean-Baptis te
periódico (Moura; Pinto, 2007). Debret,
O plágio é um ato de apropriaçáo paradoxal, pois o texto Para náo ser táo rapidamente 1835
original continua sendo propriedade do autor que o criou.
descoberta pelos leitores, a dupla do
Em uma descriçáo geográfica das evidências, o livro original
copia-cola alterou o título e a seçáo
de agradecimentos, trocou uma das palavras-chave e adulterou
Eni "C:iipia c pasticlic: plágio ri;^ coriiriiii~n~úri cieritific~",dcfitiiiiios l,llgici ciiiiio "I...]
iiriia :il>ropria<;ioiridevida dc cri:içáo lirctiria, quc viol;~(i tlircito tir rccorilicciniciitii o período da coleta de dados. Texto e imagens ficaram idênticos.
autor c a cxpcctarivn de inediris~riodo I~iroi"(I'linia; Tcri*:i,201 1 , p. 14). Acreditamos O caso teve repercussáo nacional e foi anunciado pela Sociedade
sei prcciso ttilcreiiciar os tipos dr aprnpriaçio da criiçío lircrdria ,>ar;ihatrr plipia. ptrr
isso acr~sc~nta~iios :I tio B I I ~ O I ' ~ U I ~ I ~d;i
O C C S S ~ O .1)nrcce-rias.airitla, ninis atiçiltifidi>rcflerir
Brasileira de Química como uma questão jurídica. Para apimentar
sohrr o direito de ~ i w i [ l t i i ~ t de
i o C Y ~ I ~ ~<In
I U cliie sobrc o dirciro dc rccr>iiliccinicnrr~ do aliror. a controvérsia, um dos autores do estudo original responsabilizou
O j)l;igici náo altera o rccoiilicciniciito ( 1 1 1 ~~ ~siitor n i j$ tciilia cotiqiiisrado critrc lcitorcs, também o editor da revista que aceitou a versáo adulterada do
iiias 1)crt~trbao direitci de arribuiçio dc çrr'tliiopor sua cri:ii;;ío. I'or tini, o iiicdiiismu í. iini:)
crpcciariva cxagratlíi dos leitores cni iclac;.íoaos rcstcis acn<ii.inicoç. kior isso oprimos Iior artigo, pois "acho que houve negligência dos editores. Se você
i o uiiin rrrlirurn do viiiç~iluriiornl do Iciror coni a tibr;i - Lima fnllin
dcscrcvcr o ~ I i ~ corno pega as palavras-chave do meu artigo - cachaça, determinaçáo de
tlc ai/rcridc/fcn~ltord.
cobre, etc. - encontra na internet facilmente" (Garcia, 2009, s.~.).
PALAVRAS ESCONDIDAS

A Sociedade Brasileira de Química defendeu o periódico, partes dela, rompe um longo circuito de criaçáo autoral. Uma
informando que a varredura do artigo contra plágio ainda publicaçáo acadêmica é resultado de uma trajetória que tem
náo era uma prática de r ~ t i n a .Hoje,
~ o softwdre caça-plágio início na escritura de um projeto de pesquisa e náo se encerra
é como um clínico generalista para um artigo: seu papel é em um único texto. O crédito de uma obra acadêmica náo
oferecer um diagnóstico de sobrevivência do texto aos eventuais expressa apenas o reconhecimento da criaçáo, mas a delegaçáo
alertas de duplicaçáo. de responsabilidade pelo que é apresentado sob a rubrica de
pesquisa científica. Essa responsabilidade se estende no tempo:
Em nossa definiçáo de plágio, mencionamos a apropriaçáo
passado e futuro do autor estáo envolvidos em cada texto.
da criaçáo literária. Mas como definir uma criaçáo literária
Diferentemente dos escritores de ficçáo, os acadêmicos não sáo
se nos inspiramos em leituras comuns, em vozes e estilos de
livres para inventar fatos, dados ou resultados em seus textos - a
outros autores? "Criativo", "inédito", "original" ou "novo" sáo
história de um personagem náo é fruto da criatividade do escritor,
adjetivos que qualificam as fronteiras tênues da expressáo literária
mas de documentos e acontecimentos que fundamentam a tese
acadêmica. Poucos de nós seremos "fundadores da discursividade",
sustentada pelo historiador. Isso náo quer dizer que a narrativa
como Michel Foucault descreveu figuras como Sigmund Freud
acadêmica seja única ou definitiva: ela é sempre transitória,
e Karl Marx (2006, p. 280). Se náo somos "fundadoras da
passível de contestaçáo e revisáo - por isso, autoral.
discursividade", o que permite nos apresentarmos como autoras
deste livro sobre plágio, um tema sobre o qual já se publicou Todo autor acadêmico sustenta teses em seus textos.
vastamente? A verdade é que náo sáo os autores que respondem a Assim, quando falamos em direito de atribuiçáo de crédito,
essa pergunta, mas os leitores. Seremos descobertas como autoras náo se trata apenas das honrarias conquistadas pela autoria de
verdadeiras por aqueles que nos lerem. Dependemos de nossos uma peça acadêmica, mas também das responsabilidades pelo
leitores para ascender ao rebanho dos autores acadêmicos: sáo eles que é dito em nome da ciência. O estudo sobre o controle de
que diráo se nossa obra tem algo de criativo, inédito, original ou qualidade da cachaça tem repercussóes para a comercializaçáo e o
novo. Ou, simplesmente, se vale a pena lê-la. consumo da bebida. Os autores propuseram um novo método e
o chancelaram em nome da ciência com a publicaçáo acadêmica,
O plágio viola o direito de atribuiçáo de crédito quando
por isso podem ser responsabilizados caso o método se mostre
um texto é indevidamente duplicado por um pseudoautor.
ineficaz. Publicar é arriscar-se, expor-se publicamente à crítica e à
Apresentar-se falsamente como autor de uma obra, ou de
contestaçáo. As comunidades acadêmicas têm suas próprias regras
Foi plagiado também um segundo artigo, pelos mesmos pseudoautores e no mesmo sobre o que consideram boa prática argumentativa, exigindo dos
periódico. Na época, a Sociedade Brasileira de Química divulgou boletim em que declarou
autores um árduo percurso de aprendizado e disciplinamento.
que "fatos desta ordem são deploráveis e ferem a credibilidade do sistema de pesquisa e de
seus meios de publicaçáo" (2009, s.p.). Em carta ao periódico, reproduzida no boletim, a O plagiador viola mais do que essas regras de reconhecimento
Sociedade solicitou providências contra os plagiadores e conclamou a conscientizaçáo da do crédito como honraria e responsabilidade; viola modos de
comunidade científica. Além disso, solidarizou-se com a revista: "acreditamos também que
a editoria da Revista Analytica [onde foram publicados os plágios] foi vítima desta fraude,
socializaçáo compartilhados em que o respeito ao crédito
na medida em que desconhecia a originalidade dos artigos que já haviam sido publicados da autoria é aprendido.
em Quimica Nova, caracterizando crime editorial grave" (2009, s.p.).
PALAVFGIS
ESCONDIDAS

No leitor, o plágio provoca uma desilusáo. Ele perturba a era aquela "sem cera". Sincera, portanto, era uma escultura cujas
confiança no texto acadêmico, na legitimidade da ciência como falhas não haviam sido encobertas com cera pelo escultor. Mas
discurso sobre a verdade ou sobre as melhores soluçóes para as esse é um exemplo de pseudoetimologia; outra versáo sobre a
inquietaçóes da vida. Há uma expectativa de sinceridade que diacronia da palavra explica que sua origem remonta ao adjetivo
é rompida quando um leitor se descobre diante de um texto latino sincerus e seu substantivo correspondente, sinceritas: puro,
plagiado. O leitor se inquieta com a descompostura textual - intacto, sem mistura, íntegro (Faria,
texto e pseudoautor passam a sobreviver sob suspeiçáo. Richard 2003). Independente do testemunho
Posner diz que o plágio engana o leitor quanto à "identidade arqueológico, o plágio consiste em
Cerbmica
autoral" (2007, s . ~ . )Posner
.~ está preocupado em pensar o plágio uma prática textual insincera - as siciliand
no universo jiiridico, ein parricular no texto de juizes, e nas falhas de criaçáo do pseudoautor sáo autoria
sobreposiçócs entre o plágio e a propriedade intelectual. Há tanto preenchidas com a cera da criação desconhecida,
uma identidade civil na autoria quanto unia singularidade criativa textual de outro autor. Assim como
no texto, ou seja, uma ideiitidnde de estilo, em particular para os ocorria na escultura romana, é
autores forres. Se, por uin lado, identidade remete à personalidade possível que olhares desavisados Y
jurídica de uin aiitor concreto, por outro, rhiceridadr pressupóe náo percebam o truque, mas
o compromisso ético que todo autor deve assumir para se postular basta um bom admirador da arte para que a cera se revele do
como confiável na comunicaçáo acadsniica. É o pressuposto mármore. Com a cera, irá o encanto pela obra; com o plágio,
da sinceridade que faz com que os leitores se apropriem de irá o respeito pelo pseudoautor acadêmico.
um texto acadêmico como uma verdade, prova, evidência ou,
simplesmente, como um bom argumento para as questóes que os Mesmo instável, o texto plagiado percorre as próprias rotas
inquietam. na comunicaçáo acadêmica. Se for lido, o plágio será descoberto
e a máscara do pseudoautor cairá. O plágio sobrevive à sombra
As palavras ganham sentidos ao serem apropriadas pela do mutismo do plagiador - é importante que ele seja um sujeito
história e pelos contextos, por isso as origens etimológicas insignificante para a troca acadêmica, pois, se suas ideias forem
podem náo explicar seus usos contemporâneos. Além disso, nem consideradas seriamente, a farsa será fatalmente revelada. Isso
sempre a alegada genealogia de um termo reverbera o seu mito torna o plagiador um personagem curioso: é a fragilidade de sua
de origem. No caso de "sinceridade", a ecimologia popular nos capacidade criativa que o faz adulterar a assinatura de um texto,
rende uma lúdica descriçáo da desilusáo que o plágio provoca mas ele náo pode ter a expectativa de ser reconhecido como autor,
nos leitores: conta-se que na escultura romana unia prática de pois um bom leitor descortinará o engano. Os pseudoautores do
encobrimento de imperfeiçóes era utilizar cera - uma obra pura artigo sobre a cachay copiaram um texto de uma década anterior,
mas em poucos meses foram desmascarados publicamente. Por
Em tom dramático, Marcel LaFollette também relaciona o crédito por um trabalho isso, o plágio é sempre um jogo arriscado de sobrevivência para
à identidade do pesquisador e escritor: "roube minhas palavras e assim roubará minha
autoria. Roube minha ideia e assim roubará minha identidade como cientista' (2000, o plagiador - a cada leitura, aumentam as chances de a duplicaçáo
p. 212, traduçáo nossa). ser descoberta.
INTERTEXTO
... caça-palavras ... moldes ... pastiches ... literaturas

... caça-palavras
O número sete inspirou religióes. Para alguns, é um
número cabalístico; para outros, um número mágico. O sete
percorre terras e crenças. Chegou também aos softwdres caçadores
de plágio: sete palavras em sequência e idênticas a um original
acendem a luz amarela da cópia indevida. E preciso lembrar
que as máquinas náo analisam, apenas vasculham semelhanças.
Certamente a regra do sete pode sofrer variaçóes senáo religiosas,
ao menos linguísticas - o português pode exigir uma métrica
distinta da que vale para o inglês, idioma que inspirou o sete
como rota do perigo. Quem sabe entre nós a regra fosse do
nove? O grupo de Daria Sorokina (2006) levantou 677 pares
de estudos em ciências exatas com, pelo menos, quatro frases
com sete palavras idênticas em sequência. A ideia do algoritmo
proposto pela equipe de Sorokina é a de que um texto suspeito
de plágio teria frases com um número determinado de palavras
coincidentes, excluídos os lugares-comuns da redaçáo acadêmica,
como "este artigo está organizado da seguinte maneira", e cópias
consentidas, como a citaçáo literal. O uso do sete teria razóes
empíricas, além do apelo místico: evitaria uma explosáo de falsos
positivos, sem descartar os verdadeiros.
A muemiirica dor sete un>s dá uma dica ao plagiador: Já no fim da Idade Média, no século XIV, Sebastian Brant
copie ad seis pdavras na língua inglesa ou até oito na língua publicou um conjunto de versos em alemáo intitulado A nau
portuguesa. Se p d s a r de mais do que isso, será sábio trocar um dos insensatos. Em tom satírico, criticava os comportamentos de
OU outro item por slnbnimbs, dificultando o trabalho de detecçáo
sua época, denunciando os vícios e pecados do mundo comum:
da máquina caça-plágio. Quanto mais extenso o léxico ativo de
adultério, ganância, cobiça, blasfêmia e inveja eram alguns dos
um idioma, mais chances de o caça-plágio ser enganado. Náo temas que, com a loucura, animavam a nau. Para os números
há nada intrínseco ao número sete que impeça que a cópia de
seis palavras, por exemplo, seja considerada plágio; três palavras
! da época, a obra foi um sucesso - três
reimpressóes no mesmo ano. Mas, como

L
bastam para atribuir uma marca discursiva a um autor ou nos textos reproduzidos pelos escribas,
constituir a essência de um argumento - a máxima "penso, logo a popularidade e a difusáo geraram
existo" compóe-se de três vocábulos, mas ninguém posterior a também efeitos de alteraçáo dos versos:
René Descartes ousaria reclamar sua autoria. a pedido de um editor em Estrasburgo,
O teste do sete ou do nove pode parecer bem-humorado,
um segundo poeta escreveu quatrocentas I I dos loucos
novas linhas para o livro; pouco tempo Hieronymus
mas é uma tentativa de estabelecer critérios objetivos para
depois, quando a obra foi traduzida para BOSC~,
qualificar excertos textuais como duplicaçóes indevidas. C. 1490-1500
o latim, o tradutor fez ediçóes no texto
O plagiador-copista, aquele que se
original, trocando os capítulos de lugar
resume a dois dedos e dois diques
(Manguel, 1997). Brant protestou contra
na tela do computador - o sujeito de
I o acréscimo de linhas, mas o fato é que
I
Jorge Hamartolos i C "dedos leves", segundo Anne Fadiman nem os versos a mais nem a mudança
trabalhando (2002, p. 109) -, é o mais fácil de de ordem afastaram os leitores da obra.
autor anônimo, ser conhecido e enfrentado. E um
séc. XIV
Náo se sabe qual das versóes do texto de
miserável mais emudecido que os escribas
Brant foi a que inspirou Hieronymus Bosch a pintar a metáfora
medievais, a quem ao menos era facultado
da nau em O navio dos loucos (c. 1490-1500), que posteriormente
, o direito de melhorar os textos à medida
provocaria Foucault na releitura da loucura.
que copiavam: n o início da Idade Média,
partia-se do princípio de que os escribas Desconhecemos a frequência dos tipos e estilos de plágio.
'corrigiam' os erros que percebiam no texto que estavam copiando, Alguns tentaram descrevê-los pelo esforço depositado pelo
produzindo assim um texto 'melhor"' (Manguel, 1997, p. 29). pseudoautor no novo texto: se a cópia náo é literal, isto é, se
Os escribas tecnológicos do plágio sequer têm a arte da caligrafia moveu mais do que dois dedos e duas teclas, pode ser um plágio
como inspiraçáo ou o espírito da perfeiçáo como motivaçáo; sáo inteligente (Alzahrani; Salim; Abraham, 2012). Outros, quem
sujeitos desprovidos de criaçáo ou, simplesmente, preguiçosos para sabe inspirados em classificaçóes psiquiátricas para a depressáo,
o exercício autoral. preferiram plágio maior e plágio menor (Bouville, 2008). A regra
do sete ou de qualquer um de seus múltiplos pode identificar
coincidências ou plágios. Por isso, toda análise de uma suspeita
de plágio necessita de bons leitores. Certamente, sete é uma
coincidência possível nas combinatórias das línguas, mas seu
múltiplo quarenta e nove já náo seria táo aceitável como uma Mona Lisa (La
expressáo da repetiçáo ~>laiisivel.O faro do déjà-vu seria aceso de Gioconda)
Leonardo da
tal modo que somente um boin leitor poderia apagá-lo.
Vinci,
1503
Mas se o plágio-cópia traz consigo a materialidade do feito
- seja coiii sete, nove ou qiiarenta e nove palavras -, o plágio-
pastiche é mais desafiante. O pastiche é uma técnica da arte e
da literatura que movinlerita partituras entre criadores: a Mona
Lisa (LR Gjuconda) de Leonardo da Vinci (1503) dialoga com a
Mona Lisa de Marcel Duchamp (1919) ou com a de Fernando
Botero (1978) e, mais recentemente, com a migraçáo chinesa Mona Lisa
da tela, a Mona Lisa de Yin Xin (2003). Há um molde que Mona Lisa após Fernando Boteto,
Da Vinci
inaugura a criação original - a idealizada por Leonardo da Vinci, Yin Xin,
1978
hoje protegida iio Museu do Louvre. As outras sáo intertextos, 2003
com novas assinaturas. Botero náo só arredondou a Mona Lisa,
tampouco Duchamp apenas a travestiu com um bigode, ou
Xin com olhos de epicanto. O bigode foi um ato satírico para
Duchamp apresentar-se como um autor que parte do já-feito.
E mais: o artista aponta para o espírito dadaísta em açáo no título O bigode ou o volume do corpo náo sáo como o alecrim
da tela, L.H.O.O.Q., cuja leitura em língua francesa apimenta nas receitas de cozinha. Fadiman ironiza o plágio nos livros
o sarcasmo da imagem. Bigode e título foram suficientes para de receitas - um tempero a mais ou uma pitada a menos sáo
a Mona Lisa de Duchamp ser uma peça valiosa de criaçáo. suficientes para uma nova assinatura de autor, pois, "no mundo
D o mesmo modo, a Mona Lisa arredondada de Botero encanta incestuoso dos livros de culinária, náo parece existir plágio" (2002,
quem a admira, mas engana quem pensa que sua forma p. 108). Mas até mesmo na cozinha polígama o plágio parece ter
rechonchuda resulta apenas de uma dieta hipercalórica: Botero repousado seus fantasmas. Em 2011, a chefportuguesa Mafalda
representa figuras rotundas, mas em um estudo precioso sobre o Leite teve cancelada sua colaboraçáo semanal para uma revista
volume, lançando-se como fundador iconográfico do boterismo após ser acusada de plágio em suas receitas. O alecrim causador da
(Botero, 2010). controvérsia foram denúncias anônimas de leitores pela internet,
mas suficientes para provocar uma reviravolta na carreira da
cozinheira, que se irritou com o imbróglio: "[. . .] pesquiso, crio e métodos e resultado^.^ Teve início a era do "plágio do inglês
adapto. Faz tudo parte de um percurso. Mas isso é como todos os científico", como definiu o editorialista de uma revista acadêmica
chefs e donas de casa fazem. [. ..] Aliás, todos nós aprendemos a
médica (Shafer, 2011, p. 491).
fazer aquela mousse de chocolate com a nossa máe e é essa receita
que usamos sempre" (Bento, 2011, s.p.). A cozinheira náo só Náo se sabe se a prática do "plágio do inglês cientifico" foi
traduziu a acusaçáo de plágio em termos de adaptaçáo e pesquisa mesmo inaugurada na China, mas o fato é que o conto chinês já
como destituiu qualquer outro chef de pretensóes autorais: a foi apropriado por outros povos e idiomas. Um físico turco
mousse de chocolate seria parte de uma sabedoria compartilhada recorreu a ele para se defender de uma acusaçáo de plágio: "para
ancestral das cozinhas. Esse é um caso excepcional no universo aqueles de nós cuja lingua materna náo é o inglês, usar frases
químico da culinária - alecrim ou orégano parecem ainda bem-feitas de outros estudos sobre o mesmo assunto em nossas
constituir o bastante para justificar uma nova assinatura, seja na s artigos] náo é incomum. [. . .I Emprestar frases
i n t r ~ d u ~ ó e[dos
pizza, seja em um lançamento editorial do ramo gastronômico.' na parte de um artigo que simplesmente ajuda a melhor apresentar
o problema náo deve ser visto como plágio. Mesmo que as nossas
Mas o que essas histórias nos mostram? Primeiro, que a introduçóes náo sejam totalmente originais, nossos resultados sáo
controvérsia sobre autoria, assinatura e plágio anima diferentes - e essas sáo a parte mais importante de qualquer artigo cientifico"
universos - da arte à cozinha. Ela náo é exclusiva da vida (Yilmaz, 2007, p. 658, traduçáo nossa). Houve quem defendesse
acadêmica e seu senso de propriedade intelectual regido pelo que a cópia de palavras, especialmente se forem referentes a trechos
mercado editorial ou pela indústria farmacêutica. Segundo, que sem nenhuma ideia original e se o autor náo dominar a lingua em
o sentido ético de plágio, pastiche ou empréstimo criativo náo é que escreve, náo seria uma ofensa grave (Bouville, 2008). Porém,
o mesmo entre os diferentes saberes e artes. Talvez a técnica do na discussáo internacional que se acendeu sobre a legitimidade
bigode, da dieta de engorda ou dos olhos de epicanto que nos fez da reproduçáo do molde com outro conteúdo, algo que parecia
aplaudir Duchamp, Botero ou Xin seja rejeitada como criaçáo no razoável como estratégia de sobrevivência em uma nova ordem
cainpo acadêni ico. Coni a internacionalizaçáo da comunicaçáo colonial linguística, a conclusáo foi de que o uso de um texto
acadêmica e a hegeinonia da lingua inglesa como idioma imperial como modelo caracteriza plágio. Parece que a técnica do bigode
da ciêiicia, dizem que os chineses inauguraram uma forma de náo foi bem recebida nem mesmo em especialidades acadêmicas
expressar-se nas pesquisas biomédicas caracterizadas por métodos em que a repetiçáo é exercício de rotina.
de replicaçáo de um experimento: assumiram os textos de autores
nativos na lingua inglesa como modelo dos seus - modificavam
apenas particularidades do experimento, tais como detalhes de ' Há os que explicam essa criatividade chinesa por uma tradisáo do erisino: lançar-se
como autor é ser capaz de repetir o que sábios já produziram. O u seja, em um ambiente
pedagógico e cultural em que se valoriza a repetição, o uso de um texto como modelo faria
"liilvcz Inra cvii;ir corisrraiigiiriciitos cotiio i> sr,fiido lxl;i rltFlporrugiicsa, siiior;is Iirasileii.;is
ainda mais sentido (Thatcher, 2008). Em uma carta enviada à revista Nature, Yuehong
adicion;~iiiiiiiiiia niii:i li1131 a scii livro c1c culiiiiria vcgc.i.iri;iii;i: "as rccciras LQtiiclichísiCa1
Zhang informou que, em dois anos, foram submetidos 2.233 artigos ao principal periódico
c "Ibrta clc !iut:is l>ásic:i k~r;iiiiIivrcnieiirc ii~spir;~~las
c111cri:i$fics origii~:~is ~i,~:/"riç;i científico chinês, Journal ofZhejiang Uniuersity-Science. D o total, 31% continham plágio.
iM;ig~~~iicsn (1lr;igi; (;nciiilici, 201 1 , 1,. 70.'). Fhsn iiiita cxlii.css;t taiito :i Iioiicsri1l;iJc
Zhang é adepto da explicação culturalista para a epidemia: "na China antiga, os estudantes
iiicor;il çnrilo o ircoiiiicciinciit<i de ~ L I Ii:i C ~)rincípiosde composição qlie regem a criação
eram tipicamente encorajados a copiar a palavra de seus mestres" (2010, p. 153, tradução
ciiliri;íria: nçiii i i i d o pritic scr tiiiin qiiiclic pira um cardápio.
nossa).
PALAVRAS
ESCONDIDAS

... moldes docente, além de professores pouco habilitados para a prática de


avaliaçáo e estudantes desmotivados.
O plágio textual na comunicaçáo acadêmica pode se
expressar de duas maneiras: plágio-cópia e plágio-pastiche. Por sua vez, o pastiche literário é um tormento vizinho à
O plágio-cópia é a expressáo banal da ferramenta 'Copia-cola" confusa sobreposiçáo entre paráfrase e citaçáo literal. Em vez de
dos processadores de texto. Pode ser extenso ou minimalista, fazer uma citaçáo literal, o pseudoautor encobre a rota de sua
isto é, reproduzir um molde textual ou partes dele; porém, náo influência alterando palavras, conectivos ou ordem das oraçóes -
abandona a integralidade do molde repetido com outra assinatura. algo semelhante à troca de figurinos das bonecas de papel. Pode
Se é a técnica mais fácil de plágio, é também a mais arriscada de ser que uma máquina caça-plágio náo detecte a cópia, pois náo há
sobrevivência para o plagiador. O universo virtual facilita tanto duplicaçáo a partir de um molde, mas adulteraçáo do molde com
a enganaçáo quanto a sua descoberta. Há quem sustente que o
plágio-cópia cresceu com a comunicaçáo em formato digital,
cera: o texto é falseado na tentativa de q- •
.- -
f-zn-9rr
enganar a regra do sete e seus múltiplos.
mas náo existem estudos empiricos que demonstrem a expansáo Mas um bom leitor certamente identificará
do plágio pelas facilidades de acesso à informaçáo com as novas o pastiche, uma forma dissimulada de
Bonecas de papel
tecnologias ou, simplesmente, o aumento também das chances de
identificaçáo com os sofhuares de caça ao plágio (Granitz; Loewy,
plágio na comunicaçáo acadêmica. Se na 4 Revista
ficçáo o pastiche literário pode ser um Photoplay,
2007; Hansen, 2003; Marsh, 2007a; Park, 2003; Purdy, 2005). jogo inteligente entre partituras textuais, 1919
talvez a "piscadela adicional" proposta
O plágio-cópia é a expressáo mais ingênua da preguiça Dor Umberto Eco para os leitores-modelo,
L
intelectual ou do mutismo autoral. Há rumores de que seja na comunicaçáo acadêmica pode ser
uma especialidade de estudantes ávidos por se livrar de um cadafalso para os pseudoautores.
tarefas indesejadas. É fácil descrever os estudantes como É possível que o pasticheiro adultere o
preguiçosos e incapazes de exercitar a criaçáo. Se há alguma
molde por desconhecer as regras da comunicaçáo acadêmica.
verdade nesse veredito, há também a pergunta sobre o que
Alguém lhe ensinou que é melhor "escrever com suas palavras"
se passa na universidade para os trabalhos acadêmicos serem do que citar os originais, mas, como ainda é incapaz de pensar, a
táo desestimulantes. Uma hipótese que deve ser seriamente saída parece ser o pastiche.
considcradn por quem pense o plágio discente é que ele pode
i.epreseiitar iimn rcsisrciicin à iiirficiência do processo pedagógico. Houve um caso, de fins dos anos 1990, em que as idas e
Neiti todo cxcrcicio ncademico de avaliaçáo discente está sujeito vindas entre autor, pseudoautor e editores animaram a seçáo
ao plágio. Além disso. sc os estiidantes souberem que teráo nos de abertura do periódico. Tratava-se de uma combinaçáo entre
professores bons leitores, o plágio passará a ser uma atividade plágio-pastiche e plágio-cópia em um artigo sobre as ideias
de maior risco. Há um contexto favorável à prática do plágio de Jacques Lacan. Um dos trechos da disputa era o seguinte:
como sobrevivência no ensino superior brasileiro: precarizaçáo "do seu sentimento de ter sido lesada deriva a sua posiçáo
do ensino, turmas superlotadas e regimes abusivos de trabalho reivindicatória: doravante seu sofrimento, suas queixas, seráo
uma demanda perpétua de reconhecimento simbólico dirigida ainda outra saída para se defender da grave acusaqáo.
ao pai" [original] e "do seu sentimento de ter sido lesada, Sustentou que, se fosse mesmo um plagiador, taia ocultado
surgem as infindáveis reivindicaçóes histéricas. Doravante, seu a obra original das r e f i d a d *n&opor acaso, nas Rekrkias
sofrimento e suas queixas seráo uma demanda perpétua de Bibliográficas desrcs meus apomamentos que dewidadamcnte
reconhecimento simbólico dirigida ao pai" [plágio-pastiche] vkram a se tomar um meu artigo, ele [o autor origind está, para
(Teixeira, 1998, p. 57). As mudanças foram mínimas: pequenas mim com justiça, entre nomes como Roland Barthes, Jacques
substituiçóes vocabulares, acréscimo de conectivo e alteraçóes Lacan e Sigmund Freud. Será preciso dizer mais do meu respeito
na pontuaçáo. Certamente esse deveria ter sido um caso de pelos escritos de [autor original]?!" (Plágio, 1999, p. 90). Porém,
citaçáo literal - três linhas foram desapropriadas do original e náo existem apontamentos descuidados que se transformam
somente na ilusáo do pseudoautor ganharam uma nova autoria. em publicaçáo acadêmica: um texto acadêmico é resultado
Descoberto o plágio, o autor solicitou a retrataçáo do artigo. de um longo processo de pesquisa, leitura e escrita - as notas
Os editores anunciaram o plágio, mas também publicaram a sáo um registro de leitura, uma fase intermediária da escritura.
versão do plagiador para o feito. Além disso, o fato de ter indicado a rota bibliográfica de
inspiraçáo parece ser um indício de desconhecimento das regras
"Quanto ao episódio em si (o aparente plágio por da comunicaçáo acadêmica - as referências bibliográficas devem
mim praticado), devo dizer que se trata de um inadvertido e ser reservadas para fontes parafraseadas ou citadas literalmente.
aprofundado estudo que fiz do [nome do livro], de [autor A obra plagiada náo foi nem parafraseada, nem citada, apenas
original], a tal ponto esmiuçado (e proveitoso para minha listada nas referências como registro de leitura do pseudoautor.
formaçáo!) que prática e imperceptivelmente, acabei por
decorar passagens inteiras do ensaio [. ..]" (Plágio, 1999, p. 90).
O pseudoautor sustentou a tese de um "aparente plágio" mesmo
diante de uma materialidade recuperável por qualquer máquina ... pastiches
caça-plágio programada para a regra do sete. O adjetivo
"aparente" náo é apenas um lance de retórica para atenuar o "Pastiche literário" foi também uma expressáo usada por
escândalo, mas parte de uma estratégia argumentativa para Umberto Eco para descrever alguns dos véus de seus textos - ao
se proteger da fraqueza de ser um sujeito angustiado pela esconder suas "piscadelas adicionais", proporcionaria ao leitor-
influêticia.' Na opiniáo do pseudo;iutor, não hoiive plágio, modelo experiências únicas de intertexto (2013, p. 88).' O frade
nias uma memória traída pela influêiicia da obra - iim caso de franciscano de O nome úa rosa (1980) se chamava Guilherme
cri ptoninésia por ad miraç8o a Lacan e lacanianos dos trópicos.
Em "Cópia e pastiche: plágio na comunicaçáo científica", propusemos o conceito de
Como se náo bastasse o apelo a argumentos pouco pastiche literário para representar uma das formas de plágio na comunicaçáo acadêmica
(Diniz; Terra, 201 1). Nossa rota bibliográfica ainda não havia cruzado com Umberto Eco
convincentes para justificar o plágio, o pseudoautor buscou no livro Conjssões de um jovem romancista, publicado rio Brasil em 2013. O sentido de
pastiche literário proposto por Umberto Eco é diferente do que sugerimos como uma
' Angústia da influência é um conceito de Harold Bloom para caracterizar a "ansiedade expressáo do plágio encoberto. Para ele, é uma forma de ironia intertextual criativa; para
irresistivel" vivida pelos escritores herdeiros de autores fortes que admiram (1997, p. xviii). nós, é uma forma de plágio.
de Baskerville, uma referência silenciosa a Guilherme de
fez um gráfico de contraste entre os dois textos: há momentos
Ockham, filósofo inglês, e a Sherlock Holmes, do romance
em que 33% do texto de Mda seriam uma sobreposiçáo ao de
policial de Conan Doyle O cúo dos Baskervilh (1901). O jogo
Peires. Pode parecer curioso o uso de estatísticas para medir a
entre ficçáo e historiografia nas obras criativas é uma fronteira
reproduçáo de um molde em um plágio-cópia e um plágio-
tênue: pode resultar em peças originais, mas também em intensas
pastiche, mas Offenburger aplicou o mesmo método das
controvérsias sobre plágio. Náo foi o caso de Umberto Eco, mas
máquinas caça-plágios, embora se comportando como um leitor
há quem diga que foi o de Zakes Mda, romancista sul-africano,
persecutório - contou palavras idênticas e contrastou versóes. Sua
autor de 7he heart of redness [O coraçáo de conclusáo é que o plágio se processou em dois níveis: primeiro,
escarlate], uma narrativa sobre a África do Sul pela adoçáo da mesma estratégia analítica para pensar a África do
pós-apartheid (2000). Andrew Offenburger Sul pós-apartheid - o binarismo conceitual, a cronologia factual
Capa da obra
(2008) fez uma dedicada análise comparativa
Thc heart of I do romance de Mda à luz da obra %e dead will
e a terminologia nativa; segundo, pela cópia literal de trechos da
redness obra de Peires.
Sarah Delson, arise [Os mortos se levantaráo], do historiador
2000 Jeff Peires (1989). A conclusáo estremeceu os Mda náo se convenceu da acusaçáo de plágio e publicou uma
riicios 1icesirios sul-afsica~ios- "[. .,j 7bc h~%11.l. resposta a Offenburger, cuja primeira linha demarcouseu território:
of'red?zes.sdçvc ser erircn<li<locoitio diiplice ein "%e heart of redness é uma obra de ficçáo e náo um manual de
dois seliridos: como itln rornaiice que explora história'' (2008, p. 200, traduçáo nossa). Ele náo se considera
temas binários, inas tambéni coi~ioiiin r rabnl ho derivado qiie plagiador e suas razóes rebatem o simplismo da regra dos números:
mascara plágio çoii~o intri.tcxtiialidadç" (Offenl~itr~çr, 2008, náo houve apropriaçáo indevida do trabalho do historiador,
p. 164, traduçáo tiossa). mas um legítimo percurso de romancista que usa técnicas
intertextuais para a construçáo da narrativa. A obra de Peires
A obra de Peires é mencionada no romance: em nota oferecia uma perfeita contextualizaçáo para o mundo ficcional,
dedicatória, Mda reconhece ter se inspirado no historiador para
pois garantia acuidade histórica ao romance, o que, para o autor,
a construçáo da narrativa. A dedicatória é um esclarecimento,
seria diferente de plágio. Mda foi além: explicou por que motivo
semelhante às epígrafes que oferecem boas-vindas aos leitores ou,
fez cópias ou pastiches da obra de Peires - os próprios originais
nas palavras de Jorge Luis Borges, "uma entrega de símbolos"
eram reproduçóes de fraseologias nativas. Por fim, justificou que
(1985, p. 3, traduçáo nossa). Offenburger, no entanto, sustenta
as piscadelas excessivas eram explícitas para que os leitores as
que houve apropriaçáo indevida da criaçáo literária de Peires, e
percebessem; náo houve ocultamento da intertextualidade nem
náo uma "imitaçáo criativa'' - conceito de Posner (2007) para
como estilo tampouco como inspiraçáo histórica.
indicar a apropriaçáo que acresce valor à obra original, por
reinterpretá-Ia, aperfeiçoá-la ou produzir algo diferente a partir Além de discussões pós-modernas sobre quem seria o
dela. A intertextualidade excessiva de Mda teria se expressado de autor de uma obra e como definir a criaçáo textual, no cerne da
duas maneiras: pela cópia quase-literal e pelo pastiche literário. controvérsia entre Mda e Peires está o conceito de Posner (2007)
A tal ponto Offenburger se dedicou a comparar as versóes que de imitaçáo criativa. Seguindo o raciocínio de Posner, se o uso
feito por Mda da obra de Peires tiver superado o original em estilo
um cavalheiro em uma varanda, olhando
ou construçáo narrativa, náo terá havido plágio, mas apropriaçáo
em direçóes diferentes. Os três ignoram-se
criativa. E Mda está consciente disso, náo apenas sobre a própria
mutuamente. Ao fundo, a sombra de um
obra, mas sobre as luzes que foram lançadas ao trabalho original
empregado com uma bandeja espia a cena.
de Peires após sua dedicatória no romance: "Peires expressou o
Manet inspirou-se na obra de Francisco José
quanto se sente honrado por eu ter me baseado em seu trabalho
de Goya Mujas em um bulcáo (c. 1810), em
dessa maneira. Na verdade, Ihe heurt of redness deu um novo
que também duas mulheres e dois homens
sopro de vida a Ihe deud willurise, expondo-o a novos leitores que
aparecem em um balcáo. Quase um século
náo leriam um livro de história" (2008, p. 202, traduçáo nossa).
depois, em 1950, René Magritte transformou
Para sustentar a tese da imitaçáo criativa como uma estratégia as obras de Goya e Manet em uma paródia
possível no mundo das letras, Posner (2007) lança o tropo surrealista: quatro caixóes sáo retratados em
William Shakespeare. As peças shakespearianas foram imitaçóes um balcáo.
criativas da literatura de seu tempo, mas quem O balcão
Entre Goya, Manet e Magritte há
ousaria qualificá-las como plágio? Posner náo Édouard Manet,
diálogos para a criaçáo, mas náo plágio. 1868- 1869
O retrato de é ingênuo no jogo relativista histórico e de
Existe paródia na imagem, uma forma
Chandos direitos do autor. Ao pensar a apropriasão
criativa de parapintar outras obras como
autoria criativa de textos entre acadêmicos, refere-se
desconhecida, sussurros de um texto em outro. Mas náo
a direitos autorais e propriedade intelectual.
c. 1610 há intençáo de ludibriar quem admira as

I
A verdade é que f i e little book of plugiurism
obras - basta ler o título da tela de Magritte,
[O pequeno livro sobre plágio], de Posner, é
-- Perspectiva II: o bulcdo de M ~ n e t .Até
~ um
um texto de um juiz, autor de obras jurídicas
sujeito incapaz de identificar a piscadela
dedicadas ao tema da propriedade intelectual nos Estados Unidos.
estaria alerta para o intertexto dos artistas.
É como se a arte - universo nebuloso onde o autor localiza a
ficçáo, a música e a pintura - necessitasse da liberdade da imitaçáo
criativa para se reproduzir.
... literaturas
Na arte ou na literatura criativa, o pastiche, a paródia, a
alusáo e a ironia são sutilezas narrativas que provocam prazer ao Slavoj Ziiek é um filósofo provocativo e diversificado.
ser identificadas. Mas esse é um jogo náo só autorizado, como Escreve de cinema a psicanálise, de crise do capital global a
também feito para ser descoberto pelos leitores ou admiradores Justin Bieber. Um de seus conceitos mais interessantes é uma
fortes. Em algum momento entre 1868 e 1869, Édouard paródia a um gigante da filosofia, Immanuel Kant. "Antinomias
Manet criou O bulcdo, obra que ficou guardada em seu ateliê da razáo tolerante" provoca o humanitarismo liberal que se vê
e só foi descoberta após sua morte. A tela exibe duas damas e
As três obras foram analisadas por Caroline Larroche (2012)
em armadilhas pela premissa tolerante à diversidade cultural. autorizaçáo de uso dos fotógrafos
Não menos importante que o conteúdo critico do conceito de Colagem rem
e das revistas que publicaram as titulo
i i i e k é reconhecer o jogo de palavras - um intertexto com as imagens; outras reinam no silêncio Linder Sterling,
"antinomias da razáo pura" de Kant. Para facilitar a descoberta do sobre as origens. Náo são colagens 1976
percurso autoral, i i i e k iniciou o capítulo que dá nome à paródia ingênuas. Sterling subverte o
chamando o passado ilustre: "Immanuel Kant elaborou a noção universo das performances de gênero
das 'antinomias da razão pura'" (2009, p. 97). Assim como os a partir da iconografia sobre homens e mulheres. O resultado
criadores da sequência de Mujas em um balcúo, i i i e k poupou seus é uma paródia que embaraça a audiência, mas distorce as
leitores da "piscadela adicional" ao explicitar no título o diálogo fotografias originais.
com o passado. Nenhum deles, no entanto, poderia ser acusado
de plágio de conceitos ou imagens: há uma intertextualidade rica Tanto Katchadjian quanto Sterling desejam provocar a
e provocativa entre as obras, seja com ou sem piscadela. ideia de que há uma propriedade intocável na criação de outro
artista. A arte de ter engordado O Aleph ou de ter pornografado
Mas nem mesmo na ficção a intertextualidade é livre de fotografias domésticas de mulheres é o que define o espírito
controvérsias. Uma das mais recentes a aquecer as letras argentinas criativo desses autores. Acusá-los de plagiadores ou mesmo
é o caso de El Aleph engordado [O Aleph engordado], um livro de violadores da propriedade intelectual é também impor
de Pablo Katchadjian publicado em 2009. O Aleph foi o tema de reacriçóes à liberdade criativa - Iiá formas de arte que se
um conto de Jorge Luis Borges - "[. ..] um Aleph é um dos pontos expressam pela aproprinçáo criativa do já-feito. O tribiinal que
do espaço que contém todos os outros pontos", explicou ele julgou o piacesso de Kodniiia contra Katchadjiaii considerou
(2008, p. 145). Katchadjian partiu do molde de Borges sobre que náu houve violaqiio da propriedade intelectiial da obra de
O Aleph e o fez crescer, dobrando-o de tamanho. Nos seus Rorges pelo cxperimento literário, mas o caso aitida tramita nas
termos, foi um experimento literário. Maria Kodama, viúva cortes argentinas. Há países que já regiilamentaram a arte da
de Borges e detentora dos direitos sobre a obra do falecido, fotocolagein definindo o quanto de oiitras iinageiis pode ser
contestou a liberdade criativa de Katchadjian nas cortes. Para urilimado por um artista sein violaçáo de direitos autorais. Até
ela, "[. ..] El Aleph Engordado é tristíssimo [. ..I. Eu não posso mesmo a liberdade artística de experimentaçáo esbarra cm limites
pegar a obra de um autor, colocar uns parágrafos a mais e assinar sobre propriedade ou reconhecimento nas disputas autorais.
meu nome" (Chacoff, 2013, p. 45). Assim como Katchadjian,
outros artistas já Szeram peripécias semelhantes - alguns foram Se na arte essa é uma fronteira nebulosa, mas continuamente
considerados inovadores, outros enfrentaram dores de cabeça violada para a felicidade da criaqáo, a liberdade de uso e usufruto
judiciais por violação de propriedade intelectual ou mesmo por dos textos alheios na comunicaçáo acadêmica é mais restrita.
plágio. Linder Sterling é um exemplo nas artes plásticas: suas Com a autoridade de um decifrador de sonhos - e, quem sabe,
colagens partem de fotografias publicadas em revistas comerciais, do inconsciente criativo do humano -, Carl Jung apontou o dedo
em particular especializadas em cozinha ou estética feminina. para um vestígio no texto de um dos fundadores da discursividade,
Algumas obras têm a clara indicação de que contam com a Friedrich Nietzsche. A cena do voo de Zaratustra em direção a
um vulcáo em uma ilha deserta teria sido um eco de uma história
de fantasmas lida por Nietzsche em sua pré-adolescência, disse
Jung. Apesar das semelhanças entre os trechos de Justinus Kerner
e Nietzsche, Jung concluiu que náo houve plágio, mas uma
recordaçáo subliminar: "isto é o que chamamos criptomnésia;
secretamente a memória veio à tona e se reproduziu. Isso mostra
como as camadas do inconsciente da mente trabalham" (1988, AUTORIA
p. 1218, traduçáo nossa). A leitura generosa de Jung sobre o ruído ... assinaturas ... prescriçóes ... escribas . . . repetições
juvenil de Kerner sustenta-se no estatuto fundador de Nietzsche:
é um criador, e as palavras alheias sáo subsumidas a sua voz.
Zaratustra foi um orador, por isso os fantasmas da juventude sáo
agora textos de Nietzsche.
...assinaturas
A mesma generosidade náo é concedida aos autores
ordinários, isto é, ao "nós" da comunidade acadêmica, para quem O que é um autor? Parece simples responder: é quem
a questáo do plágio será sempre um tormento. Como exemplares assina um texto. Mas nem todos os textos têm uma assinatura
do rebanho, nem somos criadores em experimentaçáo literária ou de autor, tampouco todas as assinaturas que acompanham um
fotomontagem, nem tampouco somos personagens inaugurais, texto sáo de autores. A assinatura de um tabelião é um atestado
como Nietzsche. Há pactos de discursividade instituídos quando de fé, mas não de autoria. Por isso, pensar a funçáo autor
nos apresentamos como pesquisadores e autores acadêmicos. Um importa para entender o plágio. Na comunicaçáo acadêmica,
deles é que a assinatura no texto é um atestado de verdade autoral a assinatura é um atestado de verdade, mas também um registro
e argumentativa. Talvez náo saibamos definir a verdade de um da sinceridade da criaçáo. O plágio desconcerta ambas as
texto após o terremoto pós-moderno sobre o estatuto da autoria dimensóes - verdade e criaçáo sáo perturbadas pela falsidade
OU o caráter pmmnentesnwia aberto da obra à interpretaçáo, do plagiador. A pergunta sobre quem é um autor foi também
mas sabe ma^ idatificar a fraude de um texto. No universo feita por Foucault (2006) em uma conferência, um meio
acadtiriico, b i c a s de agordamento, montagem ou eco náo sarcástico para provocar quem sustenta a posse das ideias mesmo
sáo h - v i s a s peia audiência e podem ser facilmente descritas na oralidade.
como plágio, falsificaçáo de dados ou violaçáo da propriedade
intelectual. A tese de Foucault é que o conceito de autor seria um
acontecimento recente na história das ideias, um momento em que
se singularizou a criatura que transformava narrativas em textos.
Náo é à toa que Shakespeare é o tropo dos que pensam sobre o
plágio em uma perspectiva historiográfica relativista - o que seria
dele se suas obras fossem julgadas à luz da ideia de originalidade
- -

como ineditismo? Algumas das peças de Shakespeare foram autoria e os publicou TENTH-YJ3R ELEGY
apropriaçóes criativas de narrativas orais. Julgá-lo retroativamente em dezenove revistas
seria introduzir um conceito inexistente no passado; a ideia de era um sujeito doente. Primeira estrofe
autor como indivíduo singular e inaugural náo era de seu tempo. Um de seus poemas &ap leavlag me at de poema
Por outro lado, Shakespeare é o autor das obras que assinou. m$Be shopa some widu spt h the d plagiado de
mais íntimos expressava Bowers
~comeout,rubbingiii.ybdsonraypnts
a saudade do falecido ot1Qvr~~k4ugaofco&i#i 1990
Há uma funçáo classificatória no nome de um autor, diz pai. Ao lê-lo sob outro rildUs1tisdka)nIia,
Foucault (2006). Por classificaçáo se entende um amplo grupo
título e assinado pelo
de registros que permitem aos leitores identificar um discurso
~la~iador, o
I V
poeta
em relaçáo a outros e seguir as rotas de seus autores fortes -
sentiu-se violado em um texto de luto que somente poderia ser seu.
olhar, estilo ou argumento sáo algumas pistas. O plagiador
A assinatura náo representa o "estado civil" do sujeito que escreve,
perturba a funçáo classificatória deixada por um autor. Alguns
dizia Foucault, mas um "modo singular de ser" (2006, p. 274).
pseudoautores sáo plagiadores ocasionais, descuidistas até.
Outros, porém, sáo profissionais na tarefa de copiar, adulterar e A doença do silêncio, segundo Bowers, é a que impera
estampar uma nova assinatura no original - como o plagiador nas comunidades de escritores, por ser o plágio um interdito.
do poeta Neal Bowers. A história de ter sido "vítima de plágio", Quando externo à condiçáo de vítima, o plágio resumia-se
categoria pela qual Bowers optou por se descrever, foi narrada a um estigma para o pseudoautor; náo um crime, na opiniáo
em um relato autobiográfico de dor intitulado "A loss for words: de Bowers. Sua posição foi sendo perturbada pelo silêncio
plagiarism and silence" [Sem palavras: plágio e silêncio], de da comunidade de poetas diante de seu sofrimento: poucos o
1994, e posteriormente no livro W o r d r f o r the taking: the hunt escutavam, outros consideravam até mesmo um elogio à obra ser
for aplagiarirt [Palavras à disposiçáo: a busca por um plagiador], plagiado. Seus colegas poetas e editores pensavam que o plágio
de 1997. era algo a ser esquecido. O que desconcertava Bowers, além da
adulteraçáo, era que o plagiador publicava os poemas sob um
Bowers contou sua história a colegas poetas e editores
pseudônimo, ou seja, nem mesmo reclamava para si a autoria da
de revistas literárias durante dois anos na expectativa de que
fraude. Por que plagiá-lo se náo haveria crédito pela publicação?
a comunidade fosse capaz de resolver a controvérsia com o
plagiador. Chegou a contratar um advogado para cessar a A credibilidade do texto está na assinatura de Bowers
adulteraçáo de sua obra. Os termos que elegeu para descrever como autor e vítima do plágio. Caso contrário, seria um roteiro
o sofrimento de ter sido plagiado se inspiraram no vocabulário de ficçáo: um plagiador que copia, altera títulos, assume como
das vítimas de crimes sexuais - "violaçáo", "invasáo", "vergonha", suas as dores alheias, assina com pseudônimos e se justifica pela
"perda", "lesáo", "dano". Ao final, decidiu que, "se o plágio é uma memória fotográfica. Mas que propriedade Bowers reclama ter
doença do silêncio, o tratamento deve ser certamente a linguagem" sido violada? Seus poemas continuam na mesma estante de sua
(Bowers, 1994, p. 545, traduçáo nossa). Bowers (2007) estava casa, na obra que os compilou originalmente. O sentimento de
convencido de que o plagiador que copiou dois poemas de sua usurpaçáo é o que alimenta sua queixa - a saudade expressa no
poema pelo luto de seu pai jamais poderia ter sido assinada por acadêmica náo se resume à escritura - há uma silenciosa e extensa
outro homem. E o plagiador se apropriou a50 s6 de suas palavras, divisáo do trabalho acadêmico que antecede e acompanha a
mas, falsamente, de sua dor, transformando-se em uma "agonia elaboraçáo de um texto. Se podemos dizer que é preciso escrever
na minha vida", disse o poeta (Bowus, 1994, p. 554, rraduçiio para ser autor, é também correto reconhecer que, na pesquisa
nossa). O caso de Bowers e de seu plagiador anuncia o que há acadêmica, não apenas quem escreve é autor.
I
de mais profundo na perspectiva do autor desrespeitado em sua
criação: há uma relação íntima entre criador e criatura, ou entre
r
autor e texto, violada pelo plágio. .,,prescriçóes
O plagiador sem corpo de Bowers, cuja assinatura é também
uma farsa, lança luzes sobre uma característica importante O Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos
da prática do plágio: o plagiador busca publicar, mas náo (International Committee of Medical Journal Editors - ICMJE)
se comporta como um escritor. Ele é um sujeito sem voz; um propôs três condiçóes a serem cumpridas na definiçáo de quem
personagem que admira a propriedade do texto com sua seria autor de uma peça acadêmica: a) contribuição substancial à
assinatura, mesmo que seja uma assinatura falsa. A funçáo autor concepçáo e ao desenho de um projeto de pesquisa e participaçáo
para um plagiador é uma farsa que garante a propriedade de um no levantamento ou na análise e interpretação de dados;
bem que não lhe pertence, mas não porque tenha havido roubo: b) participaçáo no rascunho do artigo ou na revisáo crítica do
simplesmente porque as palavras não foram criaçóes suas. Por isso, conteúdo; c) aprovaçáo final da versão para publicação (ICMJE,
há um silêncio que acompanha o plagiador - se ele for reconhecido 2010). A delicadeza das três condiçóes exige a compreensáo de
como um autor, seu plágio será descoberto. Caso contrário, sua que todas devem ser cumpridas, náo sendo excludentes entre si.
assinatura será apenas a expressão de seu silêncio: uma mentira Houve tentativas de entendê-las como "ou": bastaria o sujeito
que encobre sua incapacidade de escrever criativamente. satisfazer um único critério para se lançar como autor. Porém,
na soluçá0 de casos concretos de controvérsia, o "e" mostrou-se
A literatura acadêmica sobre plágio não escapa de uma como a interpretaçáo oficial para definir as condiçóes de autoria
discussáo sobre autoria e, talvez, náo seja táo condescendente segundo o ICMJE.
quanto foi a comunidade de poetas no caso de Bowers. Há várias
razóes para essa sobreposiçáo entre os temas da autoria e do plágio. Pelas condiçóes do ICMJE, é preciso que um pesquisador
Uma delas é que a disputa sobre autoria - ou seja, a pergunta de participe da etapa metodológica da pesquisa, discuta os
Foucault transposta para o universo acadêmico: o que é o autor dados levantados e, por fim, seja ativo na escritura do artigo.
de um texto acadêmico? - não é simples. Uma resposta ingênua Um estudante que atuar em uma pesquisa como entrevistador ou
à pergunta diria que autor é aquele que escreveu um texto. Mas, aplicador de questionários, por exemplo, não será autor do texto
ao contrário do univcrao da ficeo, em que geralmente os autores que vier a ser produzido. Ele constará na seção de agradecimentos
são figuras soiítárips e singulares corporificadas a& mesmo pelo como alguém que colaborou em uma das etapas da pesquisa. Um
estilo textual, como d a m a Bowcn sobre suas poesias, a autoria colega acadêmico que ler os originais do texto náo se qualificará
como autor - seu papel terá sido o de um leitor avaliativo, com os autores deram pistas do que estava acontecendo.
semelhante ao dos revisores de periódico. A conclusáo é que, para Os editores foram informados de que os estudantes eram os
ser autor, é preciso uma participaçáo permanente em um texto: da autores do estudo, mas haviam sido coagidos a assinar um termo
conccpç50 do projeto de pesquisa à escritura, revisáo e aprovaçáo. de participaçáo no artigo e de ausência de conflito quanto 21
Mesmo assim, há casos de artigos publicados em periódicos com ordem de autoria. A submissáo do manuscrito acabou cancelada
560 autores, uin desafio para quem tenta entender como as três pelo próprio orientador, mas as recomendaçóes do COPE
condigóes de autoria Foram cuiiipridas por todos que assinaram o foram claras para evitar a reprise do caso: mudar a política do
texto (Abazov et al., 2007). periódico, condicionando a submissáo de artigos à especificaçáo
das contribuiçóes de cada autor; consultar a universidade de
É inquietante imaginar que seja preciso definir autoria, origem dos autores para avaliar sua política de autoria; e informá-
uma assinatura final de algo que representa a própria prática
la sobre a suspeita de má-conduta do orientador, além de contatar
acadêmica desde o processo de socializaçáo de um estudante à
autoridades superiores. Por fim, as normas do ICMJE deveriam
iniciaçáo científica. Talvez mais desolador do que circunscrevê-la
ser publicadas em um editorial.
a três critérios normativos seja saber que esse é um dos temas de
maior disputa no universo da integridade acadêmica. O Comitê É pela assinatura de textos que os
sobre Ética na Publicaçáo (Committee on Publication Ethics - pesquisadores se transformam em autores,
COPE), entidade internacional que desde 1997 aconselha e boa parte do reconhecimento acadêmico
editores e discute casos de periódicos de diversas nacionalidades, A escritora
se dá por esse registro final. Apesar surpresa
já foi acionado para intermediar uma variedade de controvérsias de ser um tema constante na agenda de Gabriel Metsu,
sobre autoria e outras questóes éticas.' preocupaçóes dos principais comitês c. 1662
de ética na publicaçáo, náo é sempre
Um dos casos levados ao Coiiiicê eiivolveu iima siispeita que a disputa sobre autoria se cruza com
de usurpaçáo do crédito do rnballio de treze estudantes pelo
a questáo do plágio. O mais comum é
orientador (COPE, 2012). I'nra os editores, a desconfiança foi
que as controvérsias envolvam ausências
instantânea: o maiiuscrirn carregava as marcas de ter sido feito
ou presenças de assinaturas de autores esquecidos ou lembrados
por estudantes, mas registrava o orientador como primeiro autor.
indevidamente. Em um estilo bem-humorado, as ausências foram
Por um lado, náo haveria razáo para a autoria compartilhada com
descritas como "autores fantasmas" (ghost autbors); os penetras,
tantos alunos se a pesquisa tivesse sido conduzida pelo orientador;
como "autores presenteados" (gzji aathorr); e as celebridades, como
por outro lado, náo haveria motivo para o orientador constar
"autores convidados" (guest d~thors).~
como primeiro autor, em vez de ser apenas mencionado na seçáo
de agradecimentos, se o estudo tivesse sido conduzido pelos
alunos. O andamento do caso e a dificuldade de comunicaçáo ' A presenqa imerecida recebe ainda mais nomes a depender da razáo da inclusão indevida
da assinatura. Honorary (honorária), coercive (coerciva), prorniscuous (promíscua) e grafter
(intrometida) sáo alguns dos qualitificativos encontrados na literatura em língua inglesa
I Os casos discutidos estáo disponíveis tio sítio do Comitê (COPE, 2013).
(Claxton, 2005; Rennie; Flanagin, 1994; Rennie; Yank; Emanuel, 1997; Strange, 2008).
... escribas comum acordo, pode permitir que os estudantes os utilizem
para seus textos de dissertaçáo ou tese acadêmicas.
Os autores fantasmas sáo aqueles personagens que
participaram ativamente de uma pesquisa ou mesmo da Ser detentor dos dados, no entanto, náo é o mesmo que
elaboraçáo de um texto, mas foram esquecidos na assinatura se apropriar das palavras dos estudantes. E ser um supervisor
final. Pode haver casos raros de esquecimento acidental, de pesquisa náo é o mesmo que ser coautor, ou, nas palavras de
um triste descuido. Infelizmente, porém, grande parte dos Rebecca Howard, "nossas responsabilidades perante nossos
esquecimentos náo sáo acidentes, e sim atos conscientes estudantes de pós-graduaçáo incluem não explorá-los como
provocados por disputas internas aos grupos. Há casos trabalhadores náo reconhecidos, isto é, como escritores fantasmas
abundantes com esse roteiro sendo investigados pelo COPE. de nossas pesquisas" (2008, p. 93, traduçáo nossa). Uma
Em um deles, um autor fantasma informou ter sido esquecido regra razoável é que o nome do orientador seja destacado nos
em uma publicaçáo. Os coautores reconheceram o descuido agradecimentos - um reconhecimento honesto a alguém que
e atribuíram ao autor fantasma parte importante do trabalho guiou o ne6fito pelas etapas da pesquisa, mas náo necessariamente
de pesquisa. Para desgraça dos coautores e dor de cabeça dos pôs a máo na massa para a feitura do trabalho. Se listado como
editores, o autor fantasma insistiu que uma errata no número autor, o orientador terá assumido um papel na divisáo das tarefas
seguinte do periódico náo seria suficiente. A publicaçáo de elaboraçáo e submissáo do manuscrito. E o mais importante:
teria de ser corrigida, isto é, o editor deveria divulgar uma será também alguém responsável pelo dito e feito.
nova lista de autores do artigo, algo embaraçoso para a
indexaçáo do trabalho em bases bibliográficas (COPE, 2011). Um reverso desse jogo hierárquico é o do orientador que
deseja proteger sua cria, incluindo-a indevidamente como autora
Náo sabemos a hierarquia que organizou as em textos em que ela teve pouca participaçáo. Esses dois lados da
relaçóes entre o autor fantasma e seus coautores hierarquia - o que oprime e o que protege - foram previstos na
nesse caso analisado pelo COPE. A verdade é diretriz 18 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
que a principal razáo para a existência de autores e Tecnológico (CNPq), uma das mais importantes agências
No arquivo fantasmas sáo as relaçóes de poder que organizam
:or anônimo,
brasileiras de fomento à pesquisa, vinculada ao Ministério da
1717
o trabalho acadêmico: jovens pesquisadores Ciência, Tecnologia e Inovaçáo: "os supervisores devem cuidar
sáo ignorados pela hierarquia acadêmica, e para que náo se incluam na autoria estudantes com pequena ou
seus superiores, indiferentes à originalidade nenhuma contribuiçáo nem excluir aqueles que efetivamente
de seus trabalhos, apropriam-se da criaçáo. participaram do trabalho. Autoria fantasma em Ciência é
É razoável que estudantes trabalhem em projetos eticamente inaceitável" (2011, p. 6).3 Para um pesquisador em
1
de seus orientadores, sejam eles executados em início de carreira, um currículo com publicaçóes pode significar
laboratórios ou em arquivos históricos. Os dados coletados um salto à frente de seus pares na contagem de títulos. Mas o
fazem parte de um banco de dados do orientador, que, em
A Comissão de Integridade do CNPq enumerou 21 diretrizes éticas, sob ampla inspiraçáo
em Roig (2006).
mecenato do orientador, em vez de um ato de generosidade, foi
intelectual. E náo há engano para quem lê a decisáo de um juiz
listado pelo CNPq como uma prática indevida.
ou a biografia de uma figura pública - um juiz náo seria capaz de
emitir milhares de sentenças por ano se trabalhasse em todas as
O autor fantasma náo se confunde com o escritor fantasma
(ghostwriter). O escritor fantasma é como o escriba do passado, etapas do julgamento de um caso solitariamente. O bibliotecário,
mas seu ofício agora é transformar a oralidade em texto. Assim o secretário ou o escriba sáo alguns dos membros de sua equipe
foram editados os livros de Helen Keller e Thomaz Magalháes: as de trabalho. As assinaturas do juiz em uma sentenga ou da
memórias sáo de quem as viveu e narrou; o escritor fantasma as celebridade em uma biografia trazem consigo essa especificidade
transformou em texto.4 Por isso, a autora do livro %e story of my da escritura: é um trabalho em equipe para a redaçáo, mas a
-fe [Ahistória da minha vida] foi Helen Keller e náo a escriba, responsabilidade pelo texto é daquele que o assina. E a assinatura
sua professora Anne Sulivan; e o autor de Quebra de script: uma final não é do escritor fantasma. Divisáo semelhante ocorre na
incrível história de reinvençáopessoal foi Thomaz Magalháes e náo escultura - o artista conta com um ajudante, chamado executor,
Débora Chaves (Pereira, 2012). E tentador também descrever os mas a peça final tem seu valor atribuído àquele que a assina.
assistentes que redigem as decisóes de um juiz como escritores Os autores ~resenteados corporificam-se pelas relaçóes
fantasmas (Posner, 2007). Uma divisáo similar do trabalho
de poder e compadrio acadêmicos, pois sáo o oposto do jogo
pode ser feita pelos autores de livros-texto, manuais escolares
hierárquico que anima os autores fantasmas. Um caso de autoria
ou enciclopédias: há um ou vários autores que assinam a obra,
presenteada ao orientador de tese ocorreu em
iiins o trabalho é cxteiiso e fragmentado entre vários escribas.
uma universidade pública estadual em Sáo
Nern escritores faiitasmas, nem juizes, nem enciclopedistas, nem Paulo. A história foi amplamente noticiada: Primeira
contadores de ineiiiiirias são plagiadores pelo simples fato de se
o orientando teria adulterado imagens de corpo humano
valerel~idc cscrihas para a execuçáo de seu trabalho. ressonância magnética em artigos publicados Wilhelm
em periódicos internacionais. O caso foi Conrad
O escritor fantasma é contratado para ser um escriba. I Rontgen,
Certamente, há casos de escribas pensantes, criadores de descoberto e o orientador assim se defendeu:
1896
"esses artigos eu nem li. [Meu orientando] fez
argumentos e teses, como ocorre com os bons assistentes
de juízes. Seu lugar na divisáo do trabalho é o de um escriba e mandou, e quando vi já estavam publicados" J
(Esteves, 2011, s.p.). Onze artigos dos autores
' Ainda na pré-adolescêiicia, Keller foi acusada de plágio. Como criança tardiamente foram retratados pelas revistas. E mais drainbrico do que a
introduzida à linguagem - era surda e cega r al)rciiilcit :i sc çoiiiiinicar cnin o tato aos 6
anos -, Keller escreveu a e f r o s t king [O rei da gc:id:d. qiic ~>~>srrrir,rincritc exclusáo da p~iblicação:estampa-sc um carimbo verinellio a cada
Ioi l>iiblicndocm ,, * *-
iirii;i revista. I.cir<ii-cs.iliriii:ir.ilii (ILIC ;i Iiis~ririacrn parccidn corii f i r j+~~.rrJ;lilirs
[As Rdas página do rexto - "retratado . I ao triste qiinnto a vcrgoiilia de ser
dii a a t h i . cic Mirglrci ( : i i ~ i l > ~A jn\rciii l d < i se recordava de ter lido a hist6.a de Canbv
investigado é apreseiitar-se como autor de uin rcxtu retratado. Sc
c .ic:ihciii :ilisolvitln dn arusnç-âo dc pl;ígio, iiias ganhou a simpatia da autora e de outros
cscritorcs (Sncks. 201 3). iM:~isJr tlcz Iiiiris ajltis a acusação, Mark Twain enviou uma carta fosse um julgameiito sobre adulteraq~odos dados iio texto da tese,
a Kcllcr: "ri ccriic, :i aliii:i - dciuc-lios ir iiinis Ioiige e dizer a substância, a massa, o material o orieiitador seria inoceiitado coiiio uni Icitor eiiganado. Mas, lia
real e valioso de todos os enunciados humarios - é plágio. Pois substancialmente todas as
ideias sáo de segunda ináo, consciente e inconscieiitemente extraídas de um milhão de
condiçáo de coautor, náo há como eximi-lo da responsabilidade
fontes externas [. . .I" (Popova, 2012, s.p.). assumida na assinatura de um texto.
PALAVRAS ESCONDIDAS

Existe uma diferença importante entre os autores como seguro para o consumo, é preciso que os resultados dos
presenteados e os autores convidados, que poderiam também ser exoerimentos sejam submetidos à comunidade acadêmica. ,
L .
chamados de "autores autoridades". Os autores autoridades sáo as
Os grandes laboratórios têm a própria equipe de investigadores
celebridades de um campo: há sempre espaço disponível para o
- que escrevem na condiçáo de fantasmas -, mas optam por
que desejarem publicar. Os editores buscam as autoridades, pois
submeter os artigos com os resultados sobre a eficácia de um
suas produçóes sáo referência. Por serem lidos, há maiores chances
novo
- --~ medicamento com a assinatura de um autor reconhecido
de serem citados, o que é perseguido pelas métricas da publicaçáo
pelo campo. Essa foi uma das controvérsias recentes sobre o
acadêmica, tais como fator de impacto ou índice de c i t a ~ á o . ~
Um autor iniciante pode sofrer barreiras ao tentar ultrapassar
medicamento para artrite rofecoxib, produzido pela Merck. .
as taxas de rejeiçáo das revistas de seu campo. Ihe Lancet, um
-
Uma investigaçáo - revelou que a companhia lançou .. máo de
escritores fantasmas para redigir artigos sobre o medicamento e,
periódico de referência na saúde, aceita apenas 5% dos artigos
em seguida, pagou para que pesquisadores ligados a instituiçóes
que recebe (The Lancet, 2013). Uma maneira sagaz de superar acadêmicas os assinassem como autores. Esses autores, em geral,
- - ..-.
-

a rejeiçáo pode ser apresentar o artigo tendo como coautor uma


não declaram o recebimento de honorários pela assinatura, o que
celebridade do campo. No entanto, os autores de referência sáo
constitui um escorregá0 para o tema do conflito de interesses
cautelosos e resistem a se portar como pseudoautores. Em geral,
(Ross et al., 2008).
os autores convidados honram suas assinaturas. Há muito o que
ser posto em risco por uma assinatura ofertada sem a devida
avaliaçáo da qualidade e confiabilidade do texto.

Um tipo de autoria convidada que ignora o princípio da


precauçáo com as regras do jogo acadêmico é aquela patrocinada Umberto Eco é um autor diverso. Escreveu
. - livros
. que se
,n

para o teste de novos medicamentos. Os estudos são conduzidos tornaram referência no campo da metodologia cientíhca, a
e financiados pela indústria que, futuramente, irá comercializar exemplo de Como se faz uma tese (1977), e que foram roteiros
a descoberta. No entanto, antes de lançar o medicamento de filme, como O nome da rosa (1980). Apesar de resistir à
' O indicc dc ciciçb informa quanm v w uma publiagio loi citada c por quair o u w classificação hermética sobre os tipos de
publicafies. O htor de impacto (FI)C &iada com base no númm de citaçócs dos artigos escritura, ele se define como autor acadêmico
de um peri6dico em um detaminado período. dividido p l o n h e r o de artigos publicados. e criativo: acadêmico, quando escreveu seus Castigo de CSCYdUO
Quanto miior O FI do pui6dic0, maior scd sua imyordncia. uma compeiirividrde quc Jacques Etienne
i4 Icvou a práticas quivo~das,como a rnanipula@o dc citafla (Noordcn, 2013; Sipka,
tratados de semiótica; criativo, quando se
Arago,
2012). A p r i d p l cririca ao FI dirige-se 1i sua inçspacidnde de rcflctir a qudidadc dor aventurou pela imaginaçáo ficcional. Como
peri6dicos - h6 m p o s mais m voga quc ourmr amas mais iwvcmis que outros,
leitoras de Umberto Eco, cruzamos com
assim como estudos de intcressc mais l o d ou global, o que fwia a qiunridade de citaws
oscilar por umasfrie dc raz6cs abm da qudidadc dos artigos (Golombek. 20 12). Em 20 12, argumentos e exemplos repetidos entre suas
a Sociedade Amwicnnr de Biologia Cduiar (Amrricm Soricg@ O U B i o k - ASCB), obras. O conto do escravo e da cesta de figos,
em pararia com vários edizorcs dc pni4dic0, lançou a D c c i ~ de o Sáo Francisao sobre
A&@o dc Pesquisas (h Fmncbco Dr&nttion on Rac~rchh e s s ~ n c ~ tDOM),
t- cm quc originalmente narrado por John Wilkins, está em vários textos
sugere n eliminação do FI como forma de adiar a prodiiç~oacadCmica (ASCB,2012). para ilustrar o encantamento da escrita. A história é a de um
escravo que carregava figos e um bilhete que anunciava o passagens possa descrevê-las como duplicaÇóes de si mesmo.
número de figos na cesta. O escravo comia alguns dos figos e náo Certamente, gande parte dos autores acadêmicos náo sáo.
entendia como o destinatário da cesta sabia que havia frutos a criativos ou inovadores como Umberto Eco, portanto, não haveria
menos. O bilhete o denunciava, mas ele náo imaginava que seria razóes tão nobres para a repetição. Mas pensar que pode haver
pelo texto, e sim por poderes encantatórios do papel. Por que sentidos argumentativos para a repetiçáo sem que se anunciem
Umberto Eco se repete sobre esse conto? Seria correto classificar infraçóes éticas é um bom ponto de partida para a reflexáo sobre
essas repetiçóes como equívocos éticos? A nossa resposta é náo. a duplicaçáo na literatura acadêmica.

O conto do escravo e da cesta de figos funciona como A publicaçáo repetida é também descrita como "autoplágio"
abertura de Os lirnitcs du iizterpwtaçáo (1990).É depois recontado (Roig, 2006; Scanlon, 2007). Embora a ideia de autoplágio seja
em Inrrtprrtagdn r superi~ter/)retaçáo(1992) e, recentemente, corrente na literatura acadêmica, o conceito parece, antes, um
k uni jovem mmancista (2011). H á variaçóes
eiii Curifl>~~óes caso de oximoro, isto é, uma contradiçáo: se o plágio é uma
dc coiirexto, sutilezas de argumento ou, como o autor prefere apropriaçáo indevida e náo autorizada do
descrever, diferentes partitiiras textuais em que o conto texto de outro autor, como caracterizá-lo
anunciaria novas notas sobre o sentido da leitura e do texto quando o próprio autor decide se copiar?
escrito. As partituras textuais foram diferentes - Interpretaçáo Nua no espelho
O autoplágio é uma repetiçáo de si mesmo autor anônimo,
e superinterpretaqáo foi uma obra compilada a partir de uma e parece-nos impreciso qualificar o ato 1850-1852
série de conferências na Inglaterra, em que personagens ilustres de autorrepetiçáo como plágio (Diniz;
comentaram as ideias de Umberto Eco. Conjssóes de um jovem Terra, 2011). Há questóes éticas na repetiçáo
romancista é uma obra tardia - entre a biografia e os ensaios. Já textual de si mesmo, mas elas envolvem
Os limites da interpretaçáo é onde originalmente parecem ter sido nuances distintas daquelas provocadas
explorados os sentidos do conto para o argumento de que haveria pelo plágio. O CNPq definiu o autoplágio como uma infraçáo
limites para a interpretaçáo de um texto. ...I
ética: "[ apresentaçáo total ou parcial de textos já publicados
pelo mesmo autor, sem as devidas referências aos trabalhos
Umberto Eco se repete em suas obras. Mas precisamos ler
suas repetiçóes para segui-lo no aprimoramento do argumento
sobre os limites da interpretaçáo. Trata-se de uma tese sensível,
~
I
anteriores" (2011, p. 4). Além disso, o documento do CNPq
aproximou o autoplágio da concorrência desleal e especificou que
o reaproveitamento de textos anteriores deve ser sinalizado pelo
pois sustenta que nem todas as interpretaçóes de um texto sáo
igualmente legítimas. Há interpretaçóes que falseiam a partitura
1 autor. Por fim, sugeriu a soluçáo para o que entende como um
I grave erro - os sofhyares caça-plágios.
original - que o autor descreve como a intenção da obra (intentio
operis). Algumas repetiçóes feitas por Umberto Eco sáo literais, O autoplágio é um conceito comum no léxico das empresas
outras agregam detalhes textuais - uma nova palavra, um de caça-plágio: a ideia de que os autores possam repetir-se
adjetivo deslocado, ou um novo véu a ser descoberto pelo bom legitimamente traz u m desafio adicional para as máquinas, que
leitor. É desolador imaginar que uma leitura apressada das náo identificam contextos de comunicaçáo acadêmica, apenas
Nas humanidades, uma prática corrente é a republicaçáo de
artigos divulgados em periódicos no formato de um livro editado
pelo próprio autor ou por seus colegas de pesquisa, ou mesmo a
publicaçáo de uma tese de doutorado em formato de livro. Nesses
casos, o autor deve explicitar em uma nota de rodapé a cada
capítulo ou no início da obra que os textos já foram publicados
em outro veículo, ou que se trata de uma tese de doutoramento ESCRITURA
revisada, e que houve cessáo dos direitos autorais pelas editoras . . pretextos ... transmigraçóes . .. paráfrases . .. apud
dos periódicos. Náo há tentativa de encobrimento do passado da
publicagáo; ao contrário, deixa-se explícito para o leitor que se
trata de um novo meio para a divulgaçáo dos textos. Podem ser
feitas pequenas alteraçóes nos originais para sua adequaçáo ao
contexto do livro editado, mas a referência A publicaçáo original ...pretextos
garante ao leitor a transparência da duplicaçáo editorial.
A primeira resposta de um autor i acusaçáo de plágio
é defender-se como um genuíno criador. Mas há um rastro de
materialidade no plágio, por isso náo é difícil averiguar a tese
da inocência. Em casos óbvios, até mesmo uma máquina
vasculha a sobreposiçáo de textos - os caça-plágios têm como
alvo os plagiadores em início de carreira, em geral, aqueles que
ainda acreditam que a ferramenta "copia-cola" os poupará do
dever da escritura. Para muitos casos, no entanto, sáo necessários
especialistas que comparem as versóes em disputa ou mesmo
um único leitor persecutório, como o que causou dor de cabeça
ao escritor sul-africano Mda. Comprovada a cópia, raros sáo os
plagiadores que assumem a intençáo do ato. É comum saírem
em busca de motivaçóes ocultas para justificá-lo como náo
intencional: memória fotográfica, descuido no registro das
notas de leitura e desconhecimento das regras da comunicaçáo
acadêmica sáo as alegaçóes mais comuns. O u os plagiadores se
repetem até mesmo quando descobertos, ou há alguma verdade
em suas razóes ocultas. Na mais triste das hipóteses, talvez
saibam que assumir a intencionalidade do plágio os caracterizaria
como fraudadores, o que poderia abrir um árduo caminho penal.
'URA

Funes foi o personagem memorioso de Borges. Sua


memória prodigiosa o fazia lembrar-se de cada folha de árvore !I possível que haja pessoas w m a habiidade a d m ' d d de
vista, e ainda de todas as vezes que as tivesse recordado. Tentou lembrar pahes. 0 s riiwí, ncitadoiu de poemas ttadicioMa
reduzir sua infinidade de memórias a setenta mil lembranças a PiPbes,siio m&ecidos pela m b r í a . Ngum se tornam criadores
serem definidas por cifras. Funes desejava náo apenas recordar, dos pr6prioa poanas, mns muitas $Po somam repetidom
mas também catalogar suas lembranças fotográficas. Como um de poemas antipoa. A iniciaçso ríwi se dil p& neprodu@~dos
narrador melancólico, Borges descreve a cena derradeira de seu poanudosmcams-demnrCuaspra.Náo~cspa&um
encontro com Funes antes de ele morrer - sentia compaixáo pelo 6 w i P aia*, mas o crpednilo da repeti*, oral. Um acadhico
homem memorioso, pois achava-o sem capacidade de pensar: com boa memória náo se confunde com um rãwi: antes que um
"pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair" (1972a, repnidor, de 6 um criador de anose, para isso, piccisainterp~a
p. 124-125). Talvez seja este o infeliz destino do plagiador o que i&.A memórln prodigiosa de um a c a d b h dnn ser mia
memorioso: ser como Funes, alguém a repetir o que leu, incapaz habilidade qul o a d i e no oficio da pesquisa e úa cluia,jamais
de pensar. um fim em si mama % preciso apmder aler e p w a r o Ildo; a
repetiçáo é uma das etapas para o pensamento criativo.
Fora da ficçáo, as histórias de memória fotográfica são raras.
Solomon Shereshevsky, um russo com a memória de Funes, foi Em rumos meom pokticos, o pkgudor que dLsdpa
longamente acompanhado pela neuropsicologia (Vitelli, 2008). AJ, pela mem6ria fstogdfia se diz vitima de suis leinbnogps
leu pahras n1hd.a e acreditou que f~ssemsuas. I? dind crer

5
mulher cuja vida se ocupava continuamente
de memórias autobiográficas, foi o primeiro que a anghtia da influkh seja ã o intensa que imp- um
caso relatado da síndrome de hipertimesia - autor de diferenciar-se & su?s fontes - em vez de angustiado,
Samuel Coleridge seu lamento era o de náo conseguir "deixar o e d m t se v& contanoinado p& in£luW dos ~utmrrsh?
autor
as coisas para trás por causa da minha A mèmbria btbgr6fka p a r e ser das razbes maros coavimxites
desconhecido, memória" (Parker; Cahill; McGaugh, apreseandas pelo plagiador quando descobacoi as lembranp
séc. XVIII
2006, p. 35, traduçáo nossa). No mundo náo levariam a &pias literais, mu a rotas de influencia aquelas -
literário, Samuel Coleridge foi motivo de Indicadas nas referências bibli@ais de um texto. A manória
discussóes intermináveis entre críticos em fom@ca a o se confunde com a maravilha da enciclop&%a
dúvida sobre as fronteiras entre memória que nos acompanha e onteade, p ~ i mdos
s somos mutuainmte
prodigiosa, paráfrases, empréstimos e plágios (Sacks, 2013). p r o i v h pdPs leituras que nos f'ormam. Um boa mem6ria
A singularidade de histórias como as de Shereshevsky, AJ e das fiorita que percorremo5 6 um p&requisito para a escrNIP
Coleridge é um sinal de que personagens como Funes devem ser acadhica, mas &o deve ser desnutorizada de sais criadora
raros também na vida acadêmica. Se existirem, seráo conhecidos
por sua destreza de memória antes mesmo que como plagiadores IEm uma colagem literária, Jonathan Lethem (2012) provoca as ideias de plágio e criaçáo
no
.-- texto "O êxtase da influência: um .
plágio". Lechem desafia a expectativa de criaçáo
descuidistas de suas lembranças. -- -

assinando um texto composto de recortes e colagens de outras obras. Ao final, indica


suas fontes de empréstimo. Uma das seçóes do experimento intitula-se "A angústia da
contaminaçãon, mas não sabemos se também ela é uma apropriação de Lethem.
Assim, somente em hipótese de exceçáo a traição pela memória um texto em uma conferência que ministrou para professores
fotográfica salvaria um pseudoautor das consequências do plágio, de uma escola pública. A cópia foi descoberta enquanto Tong
muito embora náo o livrasse da acusação de plagiador. pronunciava seu discurso: a audiência, composta de docentes
ávidos por aprender, dedicara semanas a estudar o tema da
Em sequência à memória fotográfica, mas sem o apelo à palestra. O ruído do déjh-vu perturbou os ouvidos atentos dos
singularidade de Funes, está uma alegaçáo mais banal e razoável professores - os parágrafos haviam sido extraídos de uma resenha
para o cotidiano acadêmico de que o plágio teria sido náo sobre a obra de referência para a
intencional: as notas de leitura teriam traído o pseudoautor.' palestra. Na pilha de papéis sobre
Ao invés de uma memória prodigiosa, o que faltou ao plagiador sua mesa de trabalho, suas notas Na escrivaninha
descuidado foi uma boa memória - sem as notas, náo se deu confundiram-se com os originais que autor
conta de que sua voz expressava a angústia da contaminaçáo de desconhecido,
estudara para redigir a conferência. c. 1790
autores fortes que conheceu. As notas de leitura sáo um material O pedido de desculpas de Tong
de pesquisa permanente para os acadêmicos. Das fichas pautadas combinou vergonha e sofrimento:
do passado para os sofwares de bibliografia contemporâneos, "tudo que posso oferecer a vocês
mudaram-se os meios e formatos, mas a prática do registro da sáo minhas mais sinceras desculpas por ter sido menos do
leitura se mantém como ferramenta básica para a pe~quisa.~ que tudo que eu deveria ter sido e minha promessa de jamais
As notas representam a primeira contraçáo de leitura, um fazer menos do que o meu melhor no futuro" (Williams
movimento importante para a repetiçáo do lido e a posterior professor plagiarized, 1987, s.p., traduçáo nossa). Além do
criaçáo autoral do leitor. É possível que fichas mal redigidas, constrangimento, Tong devolveu os honorários que recebeu
notas pobremente elaboradas ou mesmo o esquecimento do da escola pela palestra. Em uma sociedade mercantil, o gesto da
registro de uma leitura levem o pseudoautor a assumir textos recusa financeira teve um significado claro: Tong náo era a autora
alheios indevidamente. Mas, mesmo nesses casos, dificilmente do texto que apresentou como sua criaçáo.
a reproduçáo seria idêntica ao original - assim como a memória
reproduz um molde, ela o altera a partir da singularidade de cada A terceira justificativa mais comum para o plágio não
leitor e suas lembranças. intencional é o desconhecimento das regras da comunicaçáo
acadêmica, em particular a diferença entre paráfrase e citaçáo
Rosemarie Tong é uma das filósofas estadunidenses mais literal. Falsamente se poderia imaginar que um pesquisador
conhecidas no campo da ética feminista. Em fins dos anos 1980, maduro, já autor de uma tese de doutorado, domine as
ainda como jovem escritora, foi acusada de plagiar trechos de convenções sobre como se comunicar em um texto acadêmico:
Marilyn Randall chama esse tipo de equívoco de "síndrome do bloco de notas" (2001,
se o texto é uma reproduçáo, cabe citaçáo literal; se é uma
p. 132). mençáo à leitura, cabe paráfrase. Acreditar na proficiência dos
' 0 s S O ~ I U I I T C Scdc bibliogrllia, conio 6ticlNorc. Mcndeley e Zotero, permitem gerenciar, pesquisadores é um dos principais equívocos da vida acadêmica -
çirnr e conip:irtilti;ir fontes da litcrnttira. I'or riieio desses programas, é possível importar
icfcri.nci;ts dc. base\ de dados iiii iiitcrticr, aririazcnar arquivos - inclusive com o registro de há, sim, plágio por desconhecimento das regras da comunicaçáo.
notas dç 1cirur;r - c partilli:ir I~ibliograli;~. alitii dc gerar a lista de referências de um texto. Entretanto, é certo também que todo pesquisador, mesmo o mais
inexperiente deles, deveria dominar as prescriçóes da escritura inocência do pseudoautor - como um sujeito que desconhece as
acadêmica, por isso a tese do desconhecimento das normas náo regras da comunicaçáo acadêmica, por exemplo - pode facilitar
basta para afastar do pseudoautor as consequências nefastas sua redençáo, na ética ou nas cortes.
do plágio.
Houve casos de pesquisadores que se adiantaram aos
Engana-se quem imagina que se desculpar pela ignorância julgamentos e se desculparam perante os colegas. Em 2010,
das regras seja uma saída sem traumas para o pseudoautor. um pedido de retrataçáo enviado ao editor de Anesthesia &
"Eu utilizei parágrafos copiados na íntegra de alguns artigos Analgesia, periódico da Sociedade Internacional de Pesquisa
de revisáo bibliográfica, mas com a devida citaçáo dos seus em Anestesia (International Anesthesia Research Society -
respectivos autores sem as devidas aspas referentes a eles. Porém, IARS), antecipou-se ao flagrante dos autores: "em nome de
náo imaginava que estava plagiando, nunca foi de má fé e sempre meus coautores, peço desculpas aos [autores plagiados] e aos
requisitei a retirada do artigo quando soube do erro" - esse foi leitores, revisores e editores de Anesthesia & Analgeria por nosso
o pedido de desculpas de um pesquisador brasileiro acusado plágio náo intencional e solicito que o nosso relato de caso seja
de plágio (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, retratado" (Bhatnagar; Shafer, 2010, p. 1560, traduçáo nossa).
2011, s.p.). O pseudoautor expôs-se publicamente, retratando- A carta assumiu o plágio náo intencional de dois 'parágrafos e
se náo só com os autores originais, mas principalmente em meio e ganhou a simpatia do editor, que, em nota, agradeceu a
sua comunidade de pesquisa. Em carta aberta publicada comunicaçáo do envergonhado remetente e declarou a retrataçáo
em diferentes veículos de informaçáo, listou as repercussóes do artigo. Embora náo impeça a retrataçáo nem atenue açóes
do caso: perda de bolsa de pesquisa e rompimento de contrato judiciais de reparaçáo em casos que envolvam propriedade
com uma editora acadêmica para publicar um livro, além de intelectual, adiantar-se em assumir o erro pode evitar a acusaçáo
constrangimentos pessoais. de má-fé ou diminuir a mácula de desonestidade do plagiador.

Mas há uma razáo para os plagiadores se justificarem: o Esses e outros casos de plágio atormentaram o editor
plágio náo intencional os afastaria de uma acusaçáo ainda mais de Anesthesia & Analgeria. Em um editorial desesperado,
grave, a de fraude. Náo basta o plagiador alegar suas razóes para o Steven Shafer resolveu abrir o dicionário e definir os principais
descuido textual - somente uma vexatória investigaçáo concluirá conceitos de plágio aos futuros autores, talvez como uma forma
se houve a intençáo de ludibriar o leitor quanto à autoria. de anestesiar os ímpetos de pseudoautoria. Antes, porém, fez
Certamente essa é uma fronteira tênue e há quem sustente que um alerta - "você será pego" foi o título de seu editorial. Sua
a intencionalidade náo deveria ser considerada importante, pois experiência como editor mostrou que pelo menos um em cada dez
toda forma de plágio, seja por má-fé ou por negligência, tem uma artigos submetidos à revista continha plágio. Sua recomendaçáo,
materialidade que engana o leitor (Bast; Samuels, 2007; Corbin; a meio caminho entre a medicina e a ética, foi implorar "[. ..] a
Carter, 2007). Essa pode ser uma justificativa no campo da ética todos os autores, independente de país, língua nativa, instituiçáo,
acadêmica; no entanto, para a qualificaçáo penal de fraude, categoria acadêmica, ou de sua posiçáo na lista de autorer, a fazer
é preciso determinar a intencionalidade. Por isso, acreditar na sua parte e vistoriar cada submissáo em busca de plágio" (Shafer,
p A ~ E *S C~ O N
~ D ~~ ~ ~ ~ ESCRITU-

2011' p. 492, nossa, grifo no original). O conselho de ,,da da interpretaçáo girou PPTPO ldrr. To& obra deve ficar
Shafer é curioso Para
quem imagina que autor é quem escreve aberta a permanentes ressigdcaç0e~: p o d a ser descobertos
um texto: antes de enviar um artigo para revisão, certificar-se de do texto e uma nova rota imerpret'ativa ser inaugurada
outros
que a peça que assina é original e não
termos médicos, (EW, 2013). Por iam, nem Eco nem Rorty se preocupam com a
fazer um cbeck-up textual antes de considerá-lo pronto
'Om0
para a revisão pelos pares.
intm$- do m w uma - produzido, o texto se move sozinho e
a parbfraae 6 pxoP~edade do autor original, mas uma criação
do ldmr que m i g r do~texto
~ lido para o escrito.'
...transmigraçóes A metáfora da obra aberta fomenta o espírito criativo
dos leitores que se experimentam como autores acadêmicos.
Em alguns casos, a disputa ética pode decorrer do feito os "fundadores da discursividade", grupo de seletos em que
na etapa da transmigraçáo da leitura para a paráfrase. O texto ~ & Z ~ ~ O sáo~ personagens que provocam
pode ter sido mal interpretado pelo leitor e a paráfrase indicar imerp-&a C ~ u p ~ ~ e r p r e t a ç óLouis
e s . Althusser (1992),
algo que o autor original não assinaria como seu - como fez uma por mmPIO, htitou 0s mpnisos ortodoxos ao revisar a obra de
paroquiana espanhola que, em Mpn h luz do asriunuPlismo francês.' Para muitos'marxistas,
2012, desfigurou o rosto de Jesus Althusser é um exemplo de superinterpretaçáo, autor de uma
Cristo pintado por Elías García exegese pouco consistente com o Marx original - algo como se a
Martínez no século XIX ao tentar roda da hermenêutica tivesse girado ao acaso e retornado ao barro
XIX), restaurado
restaurar a imagem (Espanha, bruto, porém sem arte. Ao propor os limites à s ~ p e r i n t e r p r e t a ~ ã ~ ,
2012). A discussão sobre os Umberto ~ c não o ignorava o sublime que há na liberdade de
limites da interpretaçáo de um ser um operador de rodas da hermenêutica: é exatamente essa
rexto aquece o debate literário, criatividade sem limites o que nos diferencia das sociedades
desafiando quem acredita haver um manual de boas maneiras dogmáticas e fechadas, em particular das olarias religiosas, em
para a interpretaçáo. Se, por um lado, figuras como Umberto Eco que a interpretação oficial é heterônoma e autoritária. Mas uma
(2012) sustentam haver uma intençáo da obra (intentio operir), obra ser aberta 21s releituras não significa reconhecer o estatuto
que não se confunde com a intençáo do autor (intentio auctoris) anárquico do "tudo vale" para as interpretaçóes OU as "tenta~óes
ou a intençáo do leitor (intentio lectoris), por outro lado, Richard hermenêuticasX de buscar sentidos ocultos OU mensagens
Rorty anuncia que "[. . .] um texto tem apenas a coerência que por escondidas nos fatos e textos, como diz i i i e k -(2009).
acaso adquiriu durante a última volta da roda da hermenêutica,
-
-

assim como um monte de barro tem apenas a coerência que por


acaso obteve durante a última volta do torno do oleiro" (2005, Mesmo reconhecendo que a intençáo do autor é apenas uma posiçáo no universo da
p. 115). Para Rorty, náo haveria como qualificar uma paráfrase leitura e da intcipretayáo, Umberto Eco (2013) respondeu a algumas das interpretaçóes e
como verdadeira ou falsa; o julgamento dependeria de como a ilaçóes feitas às suas obras criativas.
Além da irritaçáo causada pela interpretaçáo singular Althusser (1992) ironizou os
marxistas ao dizer que sequer leu os três volumes da obra central de Marx. O capiili
Náo basta ser honesto e responsável com os textos para que
surjam novas interpretaçóes. É preciso convencer a comunidade ciência. Na impossibilidade de conter a mística religiosa em
de leitores de que o dito sobre o ausente é razoável. Nelson seu texto, a saída de Jacobson foi solicitar a retrataçáo do artigo
Rodrigues foi um conhecido oposicionista das teses marxistas no extemporaneamente. Cinquenta anos depois da publicaçáo
Brasil. Como um satírico contista é que lemos seu relato sobre e vinte anos depois de sua apcisentadoria como professor da
"O 'velho"', em que aspeia trechos racistas de Marx: "'a Alemanha Universidade da Cidade de Nova York, ele identificou dois erros
no texto original. Os erros justificaram seu pedido à revista.
é um povo superior e os latinos e os eslavos, mera gentalha'"
(Rodrigues, 1969, p. 129). A pergunta quanto à razoabilidade
Na carta que enviou aos editores da American Scientist,
da citaçáo literal ou da paráfrase é sobre a coerência do trecho
Jacobson foi transparente em suas motivaçóes Os erros náo eram
selecionado no contexto da obra: Marx náo se dedicou a sustentar
apenas uma leitura, no tempo presente, do que teria sido uma boa
teses discriminatórias contra povos ou etnias. Nos termos de
ciência no passado. Eram equívo(:os argumentativos em
Umberto Eco, é preciso identificar a intençáo da obra de Marx
tempo - o artigo continha uma conjectun setil embasameiito e
para avaliar a fronteira entre a interpretaçáo e a superinterpretaçáo
uma probabilidade irrelevante, disse elc. Os erros f~indamrntavain
indevida. O difícil, já disseram os críticos de Umberto Eco. é
, seu pedido de retrataçáo, o que foi dcscrito pela editora coiiio
saber o que seria a intençáo de uma obra independente de quem
~

"a tradiÇáo mais nobre da ciência" (Dean, 2007, s.p.). Mas


a lê (Rorty, 2005).
Jacobson foi especialmente honesto em sua exposiçáo pública: "a
retrataçáo extemporânea náo é um feito normal, mas neste caso
Se a controvérsia de Rodrigues com Marx pode ser descrita
minha solicitaçáo se justifica pelo continuo uso contemporâneo
como um exercício ficcional, as superinterpretaçóes náo sáo
irresponsável de criacionistas que citarairi miiilias afirinaçóes,
táo pacificamente solucionadas quando alcançam a gênese
que estavam náo apenas fora de contexto, nias incorretas, para
do mundo. Homer Jacobson é um químico aposentado nos
Estados Unidos. Em 1955, publicou o artigo "Information, fundamentar pontos de vista duvidosos" (2007, y. 468, traduçic~
reproduction and the origin of Iife" [Informaçáo, reproduçáo e nossa). Jacobson náo podia coiitcr as siiperiliterpreraçócs dos
leitores, por isso optou por carimbar a controvertida peça
a origem da vida] na revista American Scientist. Mas o aue seria
como "retratada".
um artigo técnico e esquecido
A criuçdo dos I pelas revoluçóes científicas se Se náo sabemos de antemáo como definir a intençáo de uma
animais transformou em carro-chefe obra ou os limites da interpretaçáo, a comunidade de leitores se
Tintoretto, para teses criacionistas sobre encarregará de anunciar uma interpretaçáo falsa ou mesmo
1551-1552 a origem da vida. Jacobson se desvirtuada. O apelo à coletividade é uma tropa de choque
sentiu duplamente embaraçado: contra a superinterpretaçáo - a depender de como a comunidade
por um lado, como cientista de leitores aceitar a nova proposta de paráfrase, teremos ou náo
secular, jamais pensou que seu artigo pudesse ser utilizado
um autor reconhecido. Do contrário, o giro rápido da roda da
para fins religiosos: por outro, ficou perplexo ao constatar a
hermenêutica poderá trazer dissabores ao parafraseador. Por isso,
superinterpretaçáo religiosa do que ele supunha ser apenas
as controvérsias sobre a qualidade de paráfrases estáo entre as
mais movimentadas nos editoriais acadêmicos: nem caça-plágios, bem-humorado sobre a pontuaçáo, Noah Lukeman diz que as
nem métricas, tampouco comissóes de notáveis bons leitores sáo aspas sáo as trombetas do texto, anunciando com estrondo a
capazes de silenciá-las. É preciso convivência e disputa entre as alternância de autoria: "elas se elevam acima do texto, em posiçáo
interpretaçóes na comunidade de leitores e autores para ajustá-las de destaque; vêm em pares,
como válidas ou náo. Algumas faráo barulho ao serem propostas, causando impacto duas vezes"
mas rapidamente seráo esquecidas; outras inaugurará0 uma nova (2011, p. 119). É assim que o h sete trombetas
rota de intertextualidade. esquecimento da sirene das aspas de Jericó
Jaines Tissot,
náo se resume a um descuido C. 1896-1902
tipográfico de pontuaçáo na
...paráfrases comunicaçáo acadêmica. As
aspas sáo a materializaçáo textual
A paráfrase informa que o autor parafraseado disse algo: da autoridade da palavra. Sem elas, o leitor espera que o texto
alude-se a uma materialidade de origem; se perseguir a rota, seja sempre uma criaçáo de quem o assina, quer na forma de
o leitor encontrará as letras que originaram o texto secundário. paráfrase, quer na de escritura original.
Por isso, há uma expectativa de similitude entre parafraseador e
autor original. O parafraseador deve ser transparente em relaçáo Se a citaçáo literal exige as aspas para indicar a alternância
ao texto original, mesmo quando se lança como um opositor às da voz autoral, a paráfrase é o recurso para anunciar um novo
ideias que reproduz. Em uma matriz de virtudes, a transparência autor em cena, mesmo que inspirado em outro. Há uma
pode ser entendida como um gesto honesto e uma postura transmigraçáo do texto da leitura para o texto da paráfrase - e
responsável: o parafraseador deve ser movido pela honestidade no é nessa passagem criativa que nasce um autor. A paráfrase é
que seleciona reproduzir, mas também assumir a responsabilidade um ato autoral de leitura, contraçáo e escrita de quem analisa
pelo que diz ser o texto ausente. É no par honestidade e outra fonte. Ao contrário da escritura original, ela indica a rota
responsabilidade que a exegese solitária do superinterpretador de inspiraçáo; por isso, apesar de as aspas náo comporem o
deve se situar - os limites à interpretaçáo náo sáo ditados nem ritual, o encerramento do texto é semelhante ao exigido para a
pelo autor original, nem tampouco pela obra, mas pela assunçáo citaçáo literal: nome do autor e data de publicaçáo da fonte.
dessas duas virtudes como razoáveis para a reproduçáo das A citaçáo literal pede ainda a página de onde o texto foi extraído;
ideias de outros autores na comunicaçáo acadêmica. a paráfrase náo tem a mesma prescriçáo de localizaçáo geográfica,
pois é um exercício criativo do leitor que se lança como autor.
O desconhecimento das regras de comunicaçáo acadêmica já Se na formalidade das regras de comunicaçáo acadêmica a
atormentou muitos pesquisadores. Houve casos de pesquisadores paráfrase náo se confunde com a citaçáo literal, é na sobreposiçáo
que se descobriram plagiadores por ignorar normas de pontuaçáo entre as duas que reside o principal risco do plágio náo intencional.
para o uso do texto de outros autores. A cópia literal sempre
pede licença para fazer parte de outro texto. Em um tom A diferença entre paráfrase e citaçáo literal é uma das
regras mais básicas da comunicaçáo acadêmica, mas também
uma das mais d.ificeis L incorporar h escritura. Algumas pistas, citado" (CNPq, 2011, p. 4). Essa é, talvez, a diretriz mais delicada
mesmo que simplckias, podem ajudar a entendê-las. A primeira do CNPq - exige a paráfrase e especifica as regras do jogo
6 a* dnfneqd~& a padfi-ase C muito mais comum que a textual: significado exato e referência ao autor original.
dtaçáo litwd. O principal recurso estilistico dos acadêmicos é a
criaçáo textual, seja na forma de paráfrase ou de escritura original. A crítica consiste em um exercício intelectual diferente da
A citaçáo literal é um pedido de socorro ou de alerta - o autor paráfrase, muito embora uma regra vulgar seja comprceiidcr
náo se expressa por si mesmo, seja porque deseja reproduzir o a paráfrase como um "resumo crítico" de u m texto. Lemos
original de forma autihti~a~ seja pmque busca demarcar fronteiras comentários críticos de cinema, resenhas críticas de romances,
discursivas com quem leu. A segunda 6apUa do respeito: a citaçáo ou mesmo recebemos pareceres críticos dos originais que
literal é um ato & pmfaaaF$o do mipomnto, somente deve enviamos para publicaçáo - uma peça secreta da comunicaçáo
ser feita quando o texto original for respeitável para compor a acadêmica que todos os autores já tiveram a tristeza ou a
narrativa proposta pelo autor ou contrapor-se a ela. A sacralidade felicidade de ler, mas sobre a qual pouco se fala. O adjetivo
náo se dá pela autoridade da obra original ou pela incapacidade "critica" acompanha cada um desses textos, como se resumisse o
narrativa de quem escreve, mas por um caráter insubstituível do espírito acadêmico. Na divertida obra Pushcart's complete rotten
texto a ser recortado. A citaçáo é uma mutilaçáo do texto; uma reviews and rejections [Um guia completo de criticas e rejeiçóes
desapropriaçáo de autoria, legitimada pelas aspas. hostis], Bill Henderson e André Bernard (1998) compilaram
uma variedade de criticas duras e pareceres de recusa que
Respeitadas as pistas da raridade e da sacralidade, resta a animaram séculos de literatura. A leitura é um alento para quem
pista da economia. A paráfrase reclama uma contraçáo do texto
sofre por náo se imaginar como autor e náo suporta que o texto
origírd um livro h dumtibs páginas pode ser parafraseado em recém-nascido possa ser mal recebido. H á um movimentado
duas. H4 sempre arnoria na paráfrase, pois foi um autor quem circuito de hostilidades: ora é o leitor-critico que abusa do tom,
m&ou uma obn an d~ p$gia?s, mas uma autoria econômica ora é o escritor que lê o que náo gostaria.
em &#o ao original6 E E h á p r e sinonímia entre o original
e a paráfrase, mas uma semelhança que náo confunde a autoria Vireinia Woolf esteve dos dois lados da
U

de cada texto. A diretriz 3 do CNPq é ainda mais exigente crítica, segundo os segredos desvendados por Ye midnight
quanto à regra da fidelidade às ideias do autor parafraseado. Náo Henderson e Bernard. Em 1927, publicou starr; Serendde
reclama semelhança, mas exatidáo: "quando se resume um texto Geo. Cooper
To the lighthouse [Rumo ao farol], uma novela
e John Rogers
alheio, o autor deve procurar reproduzir o significado exato das sobre a vida de uma família em sua casa Thomas,
ideias ou fatos apresentados pelo autor original, que deve ser de veraneio no arquipélago das Hébridas, 1868

-
na Escócia. A obra é considerada uma das
Nossa ênfase é a paráfrase que resume o texto, a qual consideramos a mais comum na peças mais importantes da carreira literária
comunicaçáo acadêmica. Há ainda a paráfrase equivalente e a explicativa. A paráfrase
de Woolf. Um crítico da revista New York
equivalente pode ter a mesma extensão do trecho original e, em geral, ocorre em casos
de contaste de argumentos. A paráfrase explicativa pode a r mais longa que o original. Evening Post assim a descreveu ao ser publicada: "seu trabalho é
E comum em obras de cunho teórico e exegético de autores. poesia; ele deve ser julgado como poesia", duas oraçóes de alento
como um autor se localiza no universo acadêmico ou fora dele. secundário desse trabalho, o que pode levar a uma descriçáo falha
A materialidade da obra é a fonte para apaziguar as controvérsias, do trabalho citado. Sempre que possível consultar a literatura
mas o mal-entendido sobre interpretaçóes e paráfrases pode original" (2011, p. 5). Entre a obra original e o comentarista é
desorientar o debate acadêmico. que o novo autor deve se situar: manuais sobre autores fortes
sáo peças de auxílio à iniciaçáo acadêmica, mas seu estatuto é
diferente daquele das obras originais.
...apud Para os autores fortes, náo se admite o apud; em particular,
para aqueles que inauguraram discursividades. Expressóes de
Exatamente porque a paráfrase importa para a integridade
renúncia ao percurso de obras acessíveis, como "Freud apud"
acadêmica é que o uso do apud deveria ser abandonado. O apud
ou "Marx apud", sáo sinais de alerta, pois ou regras básicas de
é um recurso de intertextualidade fossilizado de um tempo
comunicaçáo acadêmica foram ignoradas por quem se postula
em que o acesso à informaçáo era escasso. Um leitor tomava
escritor, ou a preguiça da leitura se anuncia. Por isso, um acrônimo
conhecimento de uma obra por meio de uma citaçáo literal ou
fni iDroDosto para o apud em tempos
A--

paráfrase feita por outro autor. Sem acesso ao original, optava por 1

posteriores aos fósseis - "a preguiça,


citar a paráfrase do autor intermediário. No passado, o a p d era
uma desgraça" (Diniz, 2012, Recanto da
um ato de honestidade - o autor intermediário era a única fonte
p. 68). Apesar de bem-humorado, preguiça
acessível. Mas a tal ponto esse tipo de leitura era insuficiente para
o acrônimo é um sinal de . CarI Larsson,
os autores que os sistemas de busca bibliográfica desenvolveram 1897
ambipidade para quem acredita
métodos de recuperaçáo das fontes originais consideradas de
haver atalhos para- a leitura: a vida
- a

I
difícil acesso: o Comut (Programa de Comutaçáo Bibliográfica)
acadêmica depende da leitura como
foi um deles. Com o avanço da circulaçáo da informaçáo, o apud
prazer e descoberta; náo é possível vivenciá-Ia sem essa conexão
caiu em desuso. Passou a ser um fóssil incompreendido pela
afetiva entre o leitor e o texto. Há quem prefira dizer que o apud
comunicaçáo acadêmica.
está morto, mas por alguma razáo esqueceram-se de desaparecer
O parafraseador, seja ele o de primeira ou o de segunda com o cadáver.
máo, é quem responderá pelos jogos de interpretaçáo de um
A preguiça parece mover uma prática curiosa, senáo
texto. Um autor que repete uma paráfrase náo pode se justificar
arriscada entre estudantes. Seja pela arrogância de estampar
como um migrante entre leituras intermediárias: toda paráfrase
autores nas referências bibliográficas como se exibem
exige o original como espelho da interpretaçáo. O status autoral
medalhas em uma competiçáo esportiva, seja pela mesquinhez
do parafraseador, apesar de original, é o de comentador de
intelectual, há quem não leia efetivamente as fontes que lista
uma obra. Assim o CNPq, na diretriz 9, reserva o uso do apud
em seus textos. O atalho mais comum é um desvirtuamento
aos casos de exceçáo inevitável: "quando estiver descrevendo
da referência cruzada. A referência cruzada é uma técnica
o trabalho de outros, o autor náo deve confiar em resumo
para a montagem de mapas de autores para uma pesquisa -
PALAVRAS
ESCONDIDAS

após ler um texto, perseguem-se as fontes citadas na seçáo de I pode nos libertar das polícias de fronteiras entre os saberes.
referências bibliográficas. O cruzamento de autores e textos abre I Parte da socializaçáo de jovens estudantes a uma comunidade de
exponencialmente o universo da enciclopédia a ser explorado I
pesquisa se dá pela repetiçáo dos deveres de leitura: a iniciaçáo
em uma pesquisa. No entanto, para os preguiçosos ávidos por se completa quanto mais fiel às origens discursivas for o neófito.
medalhas, a referência cruzada náo é exercitada para conhecer E nesse exercício iniciático que a leitura e a paráfrase assumem
o que se desconhece, e sim apenas para demonstrar a posse do papéis centrais à formaçáo.
que os autores fortes disseram ter percorrido: listam-se as fontes,
independente da efetiva leitura.

Há um risco na prática exibicionista das referências cruzadas


como medalhas: um autor deve responder por cada fonte que
listou em seu texto. As referências bibliográficas somente devem
ser daquelas efetivamente lidas e parafraseadas ou citadas pelo
enunciador. Mas por que isso importa para o plágio? Porque
podem ser feitas afirmaçóes que náo condizem com os autores
originais listados, mas com os autores intermediários consultados,
cujas paráfrases foram ocultadas. Esse é um dos vestígios mais
comuns deixados pelo plagiador. Importa náo apenas citar ou
o que se leu, mas também registrar corretamente a
originalidade das fontes que indicaram uma nova descoberta.
Ziiek foi cauteloso ao citar um provérbio sem rota de autoria, mas
utilizado por uma colega de sua comunidade de autores. Após a
transcriçáo literal no texto - "um inimigo é alguém cuja história
náo se ouviu" -, um rodapé indicou que a descoberta tinha se
dado em uma epígrafe citada por Wendy Brown na abertura de
uma de suas obras (Ziiek, 2009, p. 48).

A citaçáo literal e a paráfrase devem ser registros do prazer


da leitura e da descoberta da escritura, jamais um recalque sobre
a biblioteca que nos acompanha. Há deveres de leitura, mas,
quanto mais criativo for o sujeito enunciador, mais desobrigado
dos deveres de leitura e escritura se encontrará. Isso náo
significa romper com o pacto de discursividade que demarca a
comunicaçáo acadêmica; significa, apenas, que a criatividade
COGNATO
ideias ... títulos ... borróes ... fábricas

...ideias
O plágio de ideias é uma hipótese que merece atençáo: há
quem sustente a existência de plágio na repetiçáo sem autorizaçáo
das ideias de outros enunciadores (Alzahrani; Salim; Abraham,
2012; Bouville, 2008; Weyland, 2007). Ideia é um conceito
amplo que abraça de descobertas a itiveiiçóes, de iiitençóes
a representaçóes. Há, pelo menos, duas formas de eiifreritar a
quest'5o do plrígio de ideias. A primeira, fora de iiosso alcaiice,
exigiria um tratado sobre o coiiceiro de ideia pura, ern seguida,
respoiider à pergunta sobre a possibilidade dc irnpiitar a algiiém
a acusação de yligio de ideias. A seguiida, mais ordinária, é
propor riiarcadores textuais para o reclame do plágio de ideias;
ou seja, não enfielitariamos a polissemia da palavra "ideia",
rnas ofereceríanios uina so1uc;áo para aqueles que desejam
proteger textos em processo no campo da criaçáo intelectual.
Sim, traduziremos o conceito de ideia dos documentos oficiais
de normatizaçáo do plágio como textos em processo, mesmo que
alguns deles se refiram a um amplo espectro de atos de fala
acadêmicos, tais como ideias orais e escritas.
Plágio de vozes e plágio de textos náo é o mesmo, pois a professor aprende enquanto ensina, ativa suas inquietaçóes de
forma de expressáo importa - há ideias em sons e escrituras, pesquisa em sala de aula, escuta de seus estudantes o que ainda náo
mas a rota de criaçáo das palavras nos parece fundamental para foi capaz de pensar. Um orientador
enfrentar a questão de quais atos de fala podem ter a autoria de tese tem por dever oferecer
reivindicada.' Existe um enquadramento acadêmico anterior Uma duIa
ideias originais aos seus aprendizes, cllnicd na
a uma ideia com autoria, e o texto é sua materialidade. Ideias, guiando-os por caminhos que, Sa&êtrière
portanto, náo se resumem a opinióes emitidas oralmente, seja em sozinhos, ainda náo conseguiriam André Brouillet,
sala de aula, seja em seminários informais. Para haver o plágio de descobrir. Uma comunidade de 1887
ideias orais, é preciso que elas tenham sido registradas em uma pesquisadores deve genuinamente
escritura anterior: o dito náo seria apenas uma opiniáo imaterial, trocar argumentos e refutá-los em
mas a reproduçáo de uma criaçáo textual prévia. Por isso, deve seus encontros acadêmicos. A hipótese de que haveria plágio
existir uma materialidade a ser reclamada no plágio de textos, um das ideias apresentadas nesses encontros provocaria uma triste
contraste inquietante à fugacidade da oralidade, aqui entendida ruptura no que deve ser esse universo de trocas. Os professores
no sentido corriqueiro de "oral" dos dicionários: "que náo é ou e pesquisadores passariam a temer expor suas ideias ainda em
náo está escrito" (Houaiss; Villar, 2009a, p. 1.393). processo de construçáo.

Por textos, deve-se entender toda forma escrita de Aulas públicas e de pesquisa, como foram os seminários de
comunicaçáo acadêmica, seja ainda em formatos preliminares Foucault na École de France, seriam talvez silenciadas pela fantasia
- como é o caso de um projeto de pesquisa submetido a uma de que as ideias pudessem ser plagiadas. Na verdade, para sermos
agência de fomento ou de um manuscrito sob avaliaçáo em justas com Foucault, essa jamais foi sua preocupaçáo: ele usava a
um periódico -, seja em formatos reconhecidos como confiáveis, audiência dos cursos como um teste de viabilidade de suas novas
como os de artigos ou livros. Um projeto de pesquisa consiste teses. O risco de que elas fossem copiadas era parte do processo
em um texto com assinatura de autor, por isso, em caso de de construçáo do pensamento: "[. ..] considero-os igualmente
apropriaçáo indevida e desautorizada, pode-se imputar o plágio. livres para fazer, com o que eu digo, o que quiserem. Sáo pistas
A hipótese do plágio de ideias expostas oralmente como resultado de pesquisa, idéias, esquemas, pontilhados, instrumentos; façam
de uma troca vívida de opinióes é mais do que um conceito com isso o que quiserem" (Foucault, 2002, p. 4). As ideias se
vazio: é temerário para a vida acadêmica. Em resumo, nem todos recriariam nesse movimento de escuta e apropriaçáo.
OS atos de fala de um acadêmico são autorais e, portanto, náo é
sempre que se pode alegar o plágio na repetiçáo. O triste é que a hipótese do plágio de ideias se materializa
em documentos institucionais. A definição de plágio do Código
A livre circulaçáo de ideias é o que anima o espírito de boas práticas cientz5cas da Fundaçáo de Amparo à Pesquisa
pedagógico e generoso do conhecimento acadêmico. Um bom do Estado de Sáo Paulo (Fapesp), um documento abrangente
' Cabe salientar que o próprio direito autoral náo protege as ideias, mas sua expressáo
a respeito da ética nas atividades de pesquisadores e assessores
concreta, seja em textos escritos ou em outras formas. da agência de fomento, é explícita quanto à cópia de ideias:
"[. ..] utilizaçáo de ideias ou formulaçóes verbais, orais ou escritas a segunda, em que "[.. .] se ensina o que náo se sabe: isso se
de outrem sem dar-lhe por elas, expressa e claramente, o devido chamapesquisur"; e a terceira, em que se desaprende (2007, p. 45,
crédito, de modo a gerar razoavelmente a percepçáo de que sejam g i f o no original). Nem a beleza de Barthes salvaria Tong: seu
ideias ou formulaqóes de autoria própria" (2012, p. 25). Esse palanque era de oradora, não de professora na primeira idade.
parece um exercício normativo arriscado, pois tende a policiar Náo há como repetir o já-escrito e apresentar-se como autora.
o universo acadêmico em uma de suas razóes de existência - a Tong náo foi acusada de plágio por haver repetido ideias em
ampla troca de ideias, hipóteses e saberes. seu exercício docente, mas por ter se postulado como autora de
argumentos e textos que náo eram seus.
O plágio de ideias é um argumento que, certamente, tem
diferentes sentidos entre as áreas de pesquisa e conhecimento. Em ... títulos
uma pesquisa clínica, por exemplo, a ideia de um novo experimento
ou a combinaçáo de um novo medicamento a uma antiga terapia A comunicaçáo acadêmica se encanta com números e cifras:
podem ser atos inaugurais de uma prática científica e, inclusive, regra do sete para os caça-plágios, 10% de citaçáo literal, 30%
descritos como processos criativos com a expectativa de autoria. de duplicaçáo de outros textos do mesmo autor em uma nova
Nas humanidades, no entanto, é muito mais difícil caracterizar publicaçáo ou o limite de doze palavras em um título (Creswell,
ideias como atos de autoria sem que haja a escritura como registro 2011; Giles, 2005; Sorokina et ul., 2006).2 Náo há consenso sobre
da assinatura de um autor. Em campos em que os "fundadores da esses números, por isso eles devem ser assumidos com cautela
discursividade" inauguram uma agenda argumentativa, as ideias como regras de julgamento para o plágio. Mas essa restrição à
circulam como parte da exaltaçáo provocada pelos fundadores liberdade criativa revoltaria Denis Diderot, que escreveu um
(Foucault, 2006). Náo seria justo imputar um plágio de ideias a memorial cujo título continha quarenta e três palavras: "Carta
quem se mantém fiel ao vocabulário de Marx de "mais-valia" ou histórica e política endereçada a um magistrado sobre o comércio
de "fetiche da mercadoria". Na verdade, sequer há a expectativa de do livro, sua condiçáo antiga e presente, seus regimentos, seus
referência a Marx pelo uso corrente dessas categorias - é um sinal privilégios, as permissóes tácitas, os censores, os vendedores
de pertencimento à comunidade de pensadores marxistas. ambulantes, a travessia das pontes do Sena e outros temas relativos
à política literária" (2002, p. 5).3 Com a ousadia de provocar um
Mas qual foi o tormento de Tong, a filósofa feminista gigante da literatura, uma sugestáo econômica de título para
acusada de plágio em finais dos anos 1980 após uma palestra o circuito atual dos computadores e buscadores de bibliografia
para professores de ensino médio? Tong fora convidada como seria "Sobre a liberdade de imprensa". No entanto, a verdade é
autora, náo como professora. Sua palestra náo era uma aula, mas
um fórum público de escuta original. Ao ser revelada como uma Doze palavras é a recomendação para os títulos de artigos acadêmicos em língua inglesa
(Creswell, 201 1). Em língua portuguesa, quem sabe quinze palavras seriam um alento
repetidora de textos de outros autores, Tong se viu com uma saia (Diniz, 20 12).
mais justa do que seu manequim suportava. Na aula inaugural N o original em francês, eram quarenta e duas palavras: "Lettre historique et politique
adressée à un magistrat sur le commerce de Ia librairie, son état ancien et actuel, ses
que proferiu ao assumir a cátedra da École de Fmnce, Barthes deu règlements, ses privilèges, les permissions tacites, les censeurs, les colporteurs, le passage des
três idades a um professor: a primeira, em que ele repete o já-lido; ponts et autres objets relatifs à Ia police littéraire".
que até sobre tftulos o universo textual disputa anterioridades
de criaçáo e autoria. O difícil é combinar a regra da frugalidade
(doze ou quinze palavras) com a eficiência dos tesauros para que
as máquinas localizem os textos e, ainda assim, garantir que náo
há plágio de outros títulos publicados.'

A originalidade dos títulos


náo parece uma preocupaçáo no
universo da arte. Ao contrário, a
I a baixa qualidade de algumas delas, exibia-se o bom senso
dos jurados. O Saláo dos Recusados foi uma sensação cômica,
e "[. . .] Le a2jeuner sur I'herbe [..I de Édouard Manet foi
a vedete", diz Larroche (2012, p. 191, traduçáo nossa).
A tela ironizava a moral burguesa: dois cavalheiros conversavam
sentados na grama e uma mulher nua encarava quem olhasse a
tela. A descomposiçáo do grupo, entre o estilo bem-comportado
dos homens e a nudez sem erotismo da mulher, provocou risos na
audiência. Um século depois, Picasso deu um tom surrealista à
repetiçáo literal de um título alerta
provocaçáo original da tela, e Jacquet, tons de arte pop.
o admirador desavisado de que a
obra se comunica com outras do Mesmo na literatura ficcional, os títulos parecem atormentar
passado. Assim foi com as telas Le a liberdade criativa. José Eduardo Agualusa escreveu Teoria geral
déjeuner sur I'berbe [Almoço na do esquecimento, obra cuja personagem central, Ludo, é uma
relva] de Édouard Manet (1863), mulher solitária, vítima de um estupro e emudecida pela tragédia
de Pablo Picasso (1960) e de Alain da guerra em Angola. Ludo vive como agregada à família da
Almoço
Jacquet (1964). Os cem anos de irmá e, na fuga da revoluçáo, é esquecida no apartamento em
Pablo
reverberaçáo da obra original têm que viviam. Para sobreviver, constrói para si um esconderijo,
uma origem divertida. Caroline emparedando o apartamento e lá vivendo trinta anos, boa parte
Larroche conta que, em 1863, cerca deles na companhia de um cáo albino, Fantasma. O mundo de
de três mil das cinco mil peças Ludo se amplia pela leitura da biblioteca do cunhado - descobre
submetidas à avaliaçáo do júri do Jorge Amado e o memoriza em rabiscos nas paredes. A história
Saláo parisiense foram recusadas. de Ludo já seria surpreendente pela solidáo, pelos fatos da guerra,

I
Napoleáo I11 encontrou uma saída pelo silêncio do cáo albino. Mas é no titulo de um dos capítulos
Almoço na relva
populista para acomodar os ânimos: que Agualusa nos devolve ao tema dos letreiros com autoria:
Alain Jacquet,
1964 criou o Saláo dos Recusados. "Onde se esclarece um desaparecimento (quase dois), ou de
Ao amontoar os milhares de como, citando Marx: tudo o que é sólido se desmancha no ar"
obras que haviam sido recusadas (2012, p. 111).
pelo júri e tornar autoevidente
O título é longo e náo respeita as regras da frugalidade,
Tesauros sáo listas vocabulares referentes a um determinado campo do saber. Eles o que faria com que Agualusa sofresse com as prescriçóes
relaciona~nos conceitos fundamentais no campo e exercem papel importante na indexaçáo,
acadêmicas. Mas é inquietante entender por que o autor se viu
na classificaçáo e no gerenciamento de informaçóes. A Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais e a Universidade Federal de Minas Gerais (2013), por exemplo, têm um impelido a citar as rotas de uma criaçáo que já percorreu o mundo
tesauro em ciência da informaçáo. das letras sem lembrança a Marx. Arriscamos duas tentativas de
compreensáo dessa transparência do título. A primeira seria como O conflito pelo plágio de títulos parece um acontecimento
um jogo de estilo e construçáo: a declaraçáo "tudo o que é sólido incomum no universo acadêmico. As regras de economia e
se desmancha no ar" será repetida pelo personagem marxista, clareza na enunciaçáo sáo mais importantes que o caráter
Monte. A citaçáo seria, entáo, um marcador de pertencimento do inaugural da criatividade. É nos litígios judiciais entre editoras
personagem. Com a ousadia de quem se delicia com Agualusa, que a coincidência de poucas palavras pode ganhar fôlego:
parece haver aqui um excesso de transparência para quem lê. Algo o título permite a localizaçáo dl: uma obra pelo leitor, também
poderia ter ficado no ar sem ter se desmanchado pela obviedade. entendido como consumidor pelo mercado literário. Segundo a
A segunda possibilidade - um pouco mais surpreendente para a Lei de Direitos Autorais (LDA), no artigo 10, o título deve ser
literatura ficcional - é a exigência de reconhecimento autoral para "[. . .] original e inconfundível com o de obra do mesmo gênero,
as rotas de inspiraçáo e citaçáo. Agualusa teria sido compelido a divulgada anteriormente por outro autor" (Brasil, 1998, s.p.).
informar que citava Marx. O caso de Gasparetto e Lucado disputou a identidade
inconfundível para os consumidores.
Repetir os títulos nos casos da pintura e da literatura
significa explicitar a rota de inspiraçáo, de crítica ou de paródia às Desfecho distinto teve outro caso, em que foi declarado
obras poste ri ore^.^ Mas nem sempre a controvérsia sobre títulos improcedente o pedido judicial de retirada de circulaçáo do
foi táo generosamente solucionada pelo mercado editorial, pois livro Campo de estrelas, da Editora Globo, por ter o mesmo
o título náo só resume o conteúdo de um texto como também título de obra registrada com ISBN
identifica uma mercadoria. Assim foi interpretado em um caso (International Standard Book Number
judicializado em que dois livros com títulos idênticos disputavam - Número Internacional Normalizado
o mesmo rebanho de leitores: Zíbia Gasparetto, autora de livros para Livros) pela Capital das Letras.
espiritualistas, e Max Lucado, pastor cristáo, intitularam suas Na decisáo, a juíza afirmou que o
obras Sem medo de viver. O caso foi parar nas cortes e Gasparetto título náo era original, mas genérico,
saiu na frente - seu livro estava no mercado brasileiro desde 1996, pois outras três editoras já haviam
treze anos antes do lançamento da obra de Lucado, que consistia publicado obras sob o mesmo trajeto linguístico de inspiraçáo.
em uma traduçáo do original, publicado em língua inglesa O título fazia referência à expressáo latina campw stellae, de
(Sentença determina retirada de livro homônimo. . ., 2012). onde se formou compostela, ligada ao assunto das duas obras em
A particularidade desse caso parece estar na sobreposiçáo entre litígio: o Caminho de Santiago de Compostela. E mais: a juíza
criatividade e mercado, uma fronteira tênue para o enfrentamento considerou que as obras náo poderiam confundir os potenciais
do plágio. leitores, pois pertenciam a gêneros distintos (Juizo de Direito da
26a Vara Cível, 2012).
Em 1877, Victor Hugo publicou o conjunto de poemas A arte de ser avô. Quase um
século depois, em 1964, Rache1 de Queiroz publicou a crônica A arte de ser avó. O autor Se o artigo 10 da LDA fosse absoluto, os manuais
francês náo foi meiicionado por R&& & Qu-na d ~ c aCoincidência
. ou inspiraçáo,
tal semelhança é um belo e legírim jogo U~C&O: dois autores de tempos e territórios introdutórios com títulos idênticos sumiriam das estantes
distintos, intitulando seus textos sob O mcsmo.rntimuiw, acadêmicas - felizmente, nenhum juiz entenderia que Introdu@o
2 /ingztística pode reclamar para si originalidade. Se náo há uma fronteiras entre diferentes infraçóes textuais6
expectativa de que manuais detenham o direito de posse de O tema do capítulo plagiado era raro -
títulos genéricos, as coleçóes que agrupam obras introdutórias Aqueduto do
passarinheiros que treinavam seus curiós Morro Velho,
podem cogitá-lo. Um exemplo é a Coleçáo Primeiros Passos,
Dara competiçóes de canto. Um antropólogo
L
da editora Brasiliense, cujo título O que é já produziu centenas de autor de uma tese de doutorado havia feito Marianne
livretos desde a década de 1980. Da mesma forma, a coleçáo Que North,
uma etnografia densa sobre os passarinheiros
saisje? [O que sei?], da Presses Universitaires de France (PUF), 1873
e as competiçóes em uma ilha quase fora do
inspirou uma geraçáo de estudantes a enfrentar temas complexos.
mapa. Cinco anos depois, surpreendeu-se
com uma dissertaçáo de mestrado sobre o
mesmo tema, embora a etnografia se anunciasse como coletada
...borróes em outro pedaço de terra e com outros passarinheiros. O autor
sentiu um faro de déjd-uu, mas náo tinha ideia do quanto o
Há particularidades entre os campos náo apenas na forma cheiro o sufocaria.
como exercitam a pesquisa, mas também como se espantam com
as irregularidades éticas. Nas áreas biomédicas, a falsificaçáo Como é de esperar, se o plagiador for lido, inevitavelmente
de dados produz consequências nefastas à saúde ou à vida de o será por alguém de sua comunidade e, talvez, táo especializado
quem fará uso dos resultados. O exemplo mais simples é o da quanto ele. Para azar do pseudopesquisador, sua dissertaçáo
pesquisa clínica, em que resultados adulterados podem levar à foi náo só lida, mas persecutoriamente analisada, como fez
comercializaçáo de um medicamento cujos riscos náo foram Offenburger com o livro de Mda. O resultado foram 37 páginas
devidamente medidos. O impacto da falsificaçáo de dados é de colunas comparativas entre o original, o plágio e a adulteraçáo
diferente nas humanidades. Talvez essa seja uma das razóes pelas dos dados - um documento que o autor original divulgou com
quais o espanto ético das humanidades seja mais intensamente insistência entre a comunidade de antropólogos até o caso
sobre o plágio do que sobre outras irregularidades, tais como a atingir o limite de um escândalo. O desfecho do caso, após um
falsificaçáo e a fabricaçáo de dados ou o desvio de autoria. longo processo administrativo que envolveu idas e vindas entre
as universidades de origem do autor e do pseudoautor, foi a
Mas há casos de plágio com fabricaçáo de dados mesmo cassaçáo do título de mestre do plagiador (Universidade Federal
nas humanidades. Em um deles, o pseudoautor, também de Pernambuco, 2013). Na dissertaçáo, entrevistas foram
pseudopesquisador, plagiou não só o texto, mas a etnografia, adulteradas, nomes de participantes, substituídos, e paráfrases,
adulterando trechos de entrevistas (Motta, 2002; Silva, 2007).
Plágio por cópia e pastiche percorreram o texto e os dados de
%s escritas acadêmicas divulgadas em formatos pouco reconhecidos pela circulação oficial
campo de uma dissertaçáo de mestrado em antropologia n o cI;i iiiliiriii:~c;,ío - coiiio nici~io~rafias, disscrr;isócs. tçscs, relatórios ou textos para discussão
Brasil, em que a barbaridade do plagiador tornou nebulosas as - s i o i) iiiiivrrso I,rrfcrc~içialdo plagiador. li;ir;i-sc tlç textos originais, mas ainda não
s çoriiiiiiic;~çio:rç;idCriiica corifiivcl. No ciitanto, a anterioridade da escrita,
t l i v i ~ l ~ x i opcln
~ c i i i i ~ ~ r o vpclo
: ~ l a dclih"iir>ciii uiiia 1~ililiorcc.aiiiiivcrsit:íria, protege o direito d o autor
original.
r
.AVRAS ESCONDIDAS

minimamente modificadas. Vale ler um trecho do original e da desvio ético sem que tenha publicado os resultados da pesquisa.
versáo defraudada: A verdade é que dependemos da comunicaçáo acadêmica
Um informante (Sr. Carlos) que tive oportunidade de entrevistar em sentido amplo para conhecer as falhas de conduta dos
mais tranqiiilamente, isto é, fora do ambiente tumultuado e às vezes pesquisadores e autores. Mas nem todos os desvios éticos sáo
anso dao tameias explicou-mc que quem participa dos rorncios sb circunscritos à publicaçáo acadêmica.
"NormaLnente os associados da socicdadc e rodos os associados das
demaig assoáaç6es que existem no escada do R d ,no Rio Grande E nas áreas biomédicas que o tema da fabricaçáo e
.
do Sul e Santa Cararina, e que brmam a Fedemçáo Sul Brasileira. . .
adulteraçáo de dados provoca mais rebuliço. Há casos notórios,
E de vez em quando aparecem uns colegas nossos de São Paulo, de
Bmíiin, do Rio ... que cambh vem puricipar do torneio:' (Cnrlos) como o do sul-coreano Hwang Woo Suk, prestigiado pela
A sododadc que comqou c o m 60 criadores contava, em 2001, com comunidade científica mundial em 2004 ao anunciar a
600S&OS (m&Boorigirial). clonagem de embrióes humanos e a extraçáo de células-tronco.
Um dos meus interlocutores (Cadú) que tive oportunidade de
Os resultados soavam promissores, com o potencial de abrir
entrevistar mais tranquilamente, nas vezes em que fui em sua horizontes de cura de doenças graves - um admirável mundo
residência e fora do ambiente tumultuado e às vezes tenso dos novo da genética e da pesquisa celular. A glória do pesquisador foi
torneios, expii~oi1-meque q u a participa desses torneios são curta: seus competidores cientistas rapidamente mostraram que
nomahente os associados h sociedade (ou Associação). "De vez em
quando aparecem uns colegas nossos de outros estados que também os dados haviam sido fabricados. Havia um patamar do possível
vem participar do torneion. Atualmente, a sociedade - como eles para a ciência genômica dificilmente superável pela equipe
também a chamam - que começou com cerca 20 criadores de papa sul-coreana. O destino de Hwang foi dramático: de orgulho
capim, conta com mais de 100 sócios (versão com plágio). nacional, viu-se reduzido a um salafrário. Como um criminoso
em fuga, respondeu a processos judiciais, abandonou o trabalho
Alguns aumres entendem a fabrica* e a filsifica+o
como pesquisador na Universidade de Seul e teve direitos
de dados de pesquisa como Equlvows drims de pubiicyío
restringidos por dois anos (Sang-Hun, 2009). Para a ciência,
acaáêmica, exaramuue o caso dos passminhums donados
os danos representaram "[. ..] um agudo revés para a clonagem
(Wagcr et aí., 2009b). Mas h4 uma c o d h á o interpraativa ao
terapêutica [. . .I. A técnica de clonagem de células humanas, que
subo&ar desvios éticos de mhodo de pesquisa ou de anllise
parecia ter sido desenvolvida em março de 2004, agora se revela
de dados P escrituro aca&micx.I? p s i v e l existir f&ificaçh ou
inexistente, trazendo a pesquisa sobre clonagem de volta à estaca
fabricaçáo de da& swn que haja pitblicafáo dos resultados &
zero" (Wade; Sang-Hun, 2010, s.p., traduçáo nossa).
pesquisa. Um contra-argumemo a essa aftica seria que, sem a
publicagio, o dsvio ético de uma etapa metodológica náo seria Por que Hwang teria provocado um "agudo revés" no
conhecido. Por um Indo,6 nzoPvei considerar que o tato esub campo da pesquisa sobre clonagem? Esse náo é um exagero de
materiaíiza a pesquisa, mas,por outro lado, mpr fronteias entre retórica de alguém entristecido pelo engodo. H á um impacto
as expressóes de má-conduta acadêmica ajuda a limpar o terreno coletivo no vacilo de cientistas que nos prometem soluçóes para o
conceitual. Um pesquisador que falsificar dados e os apresentar sofrimento humano. Por um lado, atividades científicas em curso
em uma comunicaçáo oral informal poderá ser acusado de um sáo suspensas - outros grupos reduzem a corrida pela clonagem
para estudar e tentar replicar os passos daquele que anunciou a
comissáo foi montada para avaliar uma suspeita de plágio em
soluçáo do problema. Mas, por outro lado, o mercado que financia
uma monogafia de curso de especializaçáo. Longos trechos de
as pesquisas se retrai: não só Hwaiig se toriia suspcito, iiias a
plágio-cópia foram identificados pelo caça-plágio, e o sujeito
comunidade científica é obrigada a jiistificar-se diante da opiiiiáo
de dedos leves foi convidado a apresentar oralmente sua defesa.
pública. Os meses seguintes ao desmascalnmeiito de Hwaiig
A figura do pseudoautor ganhou contornos que impressionaram a
foram de questionamentos éticos sobre n inoralidade da cluiiagem
comissão pelo atrevimento: de posse de um folheto de propaganda
de embrióes humanos e sobre a razoabilidade do fiiiancianienro
de trabalhos prontos, o estudante náo
para pesquisas com baixo potencial de uso imediato, temas que
contestou as evidências do plágio, mas
provocaram um desvio de rota no que deveria ser um exercício de Ofantusmu de
martirizou-se por ter sido enganado Kohada Koheiji
ciência normal, nos termos de n o m a s Kuhn (2010).
por quem contratou para realizar seu Katsushika
trabalho final. Sim, ele mesmo náo Hokusai,
O fabricador de dados é um sujeito preguiçoso, mas 1831
também ansioso pelo palanque do sucesso. Como Hwang, seria um plagiador, justificou-se, mas
pode ser alguém em busca do reconhecimento global - de um apenas um sujeito desesperado, sem voz
pesquisador sério, porém conhecido em poucas paróquias, passou nem texto, que havia contratado um
a celebridade com holofotes internacionais. Por isso, o desterro escriba para se fazer passar por si mesmo. O que náo imaginava era
de Hwang foi avassalador; em menores proporçóes, também foi que o fabricante de trabalhos era, além de um escriba fantasma,
o destino do plagiador no episódio dos passarinheiros. Se para
ele foram precisos anos de inv~stigaçáo,para Hwang poucas
O interessante é acompanhar a fronteira entre os desvarios
semanas foram suficientes para a gaiola vazia do curió ter um
éticos da história - plágio é uma coisa, trabalhos a lu curte é
novo hóspede. A rapidez da descoberta depende da importância
outra, entendeu o estudante. Já que a acusaçáo era de plágio, ele
do feito para a ciência: pesquisa com células-tronco é feito
se entendia inocente. A classificaçáo não estava errada, só náo
para Prêmio Nobel de Medicina. Não há saída para o burlador
foi suficiente para livrá-lo do rótulo de plagiador e usurpador
acadêmico, seja ele iniciante ou globalizado - direitos cassados,
de autoria. O estudante que náo escreveu o seu trabalho e o
reprovaçáo em disciplinas ou perda de títulos sáo variaçóes da
encomendou a uma "fábrica de textos" cometeu, pelo menos, dois
intensidade da repulsa aos que não respeitam as regras de boas
equívocos: o da indolência e o da adulteragáo de autoria. Não
práticas acadêmicas.
importa que tenha contratado o serviço de pesquisa e escritura
do texto - o universo acadêmico exige sempre a autoria como
uma expressáo da verdade sináptica e motora do sujeito. É preciso
...fábricas que quem assina um texto tenha um corpo que sobreponha a
identidade civil A capacidade criativa. Se a lógica do mercado
A história nos foi contada como verdadeira. É a única
garante ao estudante a posse legítima do trabalho, a ética
peça etnográfica que usamos sem registro documental, mas, por
acadêmica lhe reserva outro carimbo: o de fraudados de autoria.
ser táo singular, vale a reproduçáo como fato ou paródia. Uma
Propaganda
volante defabrica
de textos
Pablito Bilbao,
2013
- Um passeio sem rumo no universo virtual localiza dezenas
de sítios que oferecem "trabalhos prontos", expressáo sem rodeios
para aqueles que acreditam que o texto da fraude deva ser sempre
oracular para evitar os olhos da polícia. Náo há dúvidas - basta
pagar que terá o seu trabalho pronto é a mensagem clara dos
mercadores da clandestinidade
i
universitária. Alguns
talvez mais sutis na enganaçáo,
I

optam por eufemismos: "melhoro


sítios,

trabalhos" ou "reviso monografias"


sáo as expressóes mais comuns.
A popularizaçáo da prática e o
ritos avaliativos, é um dos mais sérios desvarios da integridade
acadêmica. Porém, nem todo trabalho produzido por uma fábrica
de textos acadêmicos é descoberto pelos leitores. O mais importante
sinal de fumaça é o rastro de plágio deixado pelos escribas.

Passeamos pelos sítios das fábricas de textos: analisamos os


cardápios, buscamos informaçóes, estudamos as condiçóes para
a contrataçáo. A etnografia das empresas que comercializam
trabalhos reflete a sofisticaçáo de um universo clandestino,
porém em intensa circulaçáo. H á basicamente dois tipos de
acordo: ou sáo comprados trabalhos já disponíveis em um
catálogo, ou, por um preço mais caro, eles sáo enc~mendados.~
. . . -
excesso da demanda facilitam aue a Na linguagem da moda, roupas de brechó ou de alta costura.
I
propaganda seja até mesmo volante, como a imagem que cruzava Para a primeira alternativa, há empresas que p a r d a m um
o trânsito em um automóvel colorido. Só náo conseguimos registro da instituiçáo de origem do cliente para evitar que o
entender se o tamanho do carro era para o transporte de produtos mesmo professor receba trabalhos iguais - o constrangimento de
ou, simplesmente, uma escolha estética do proprietário. vestidos idênticos na mesma festa seria protegido pela geografia
dos usuários. Para a segunda opçáo, os serviços incluem o pacote
Náo é preciso dizer o quanto a comunidade acadêmica completo da fantasia: negociaçáo sobre a bibliografia a ser citada,
teme e repudia a lógica fabril na pesquisa e na escritura: se entre entrega de versóes prévias dos capítulos para apresentaçáo ao
pesquisadores o fantasma é a fabricaçáo de dados, em sala de orientador e dicas para náo subestimar o professor ou a banca
aula, é a fábrica clandestina de trabalhos acadêmicos.' Mas náo examinadora nem ser flagrado; sáo também providenciados slides
se deve confundir a divisáo legítima do trabalho acadêmico com para a defesa do trabalho, preparaçáo para possíveis perguntas
a alienaçáo do dever discente, seja pela preguiça, seja pelo medo da banca, impressáo e encadernaçáo em capa dura na versáo
da avaliaçáo. A delegaçáo do dever da pesquisa e da escritura para depósito na biblioteca. E, para as garantias de ineditismo
a um escriba remunerado e anônimo, um sujeito à margem da e originalidade, as fábricas de texto oferecem a varredura em
ordem acadêmica que garante um diploma aos que fogem dos um software caça-plágio, um sinal de por onde caminham os
interesses do mercado do medo e da preguiça.
7 0 m u i e P d o d e m t ~ a c a d 6 n i ~ rpequbdot~lr c ~ ~ c ~ &torra Uma
hvcstigqb condwida rac,tntcmente d a Mista &ime identificw um vcadadeiiar A indústria de trabalhos a la carte se aproveita da
macado chinh em amo: artigos a c a d ê m i ~etn ~ ~moqw 4 q e m de dicnm, ddm &
corndiw$io do &ao dc autoria cni iauuxritoi jd a d a . pia pubiicaçáo por desonestidade acadêmica, mas também das novas tecnologias. H á
rcvistaf kmrtrzcionais. O aludo mtrou-se na ChEna, mas n b h6 por que acdw
que aite ~ j aamas um conw chinb sem muas vetsõcs locaii. O ririste t que a pmquh Maria Christina Grieger (2007) averiguou que uma monografia pode custar entre R$200
m m u apuhrocasdo Indo dos arimrcs, nws t a m k dás dibh&w ~ i s a eque r ateiam e R$ 1.200, sendo R$600 a média cobrada. A jornalista Marina Marquez (2010) encontrou
" u h n p s de autoria a@ a ipnrvaçlo dos textos CWvmdabI, 2013). orçamentos mais altos, entre R$ 650 e R$ 3 mil.
quem acredite que as fábricas de texto seriam uma novidade da era
trabalho; existirá um contrato afianqado pela troca mercantil.
tecnobgica, mas n b 4 verdade? A pMka de comprar trabalhos O trabalho-mercadoria, portanto, mais se aproxima da escrita
s c c a d ~ 6 0jP~ existia cai ounpas anteriores h comunicaqb fantasma que do plágio.
virtual (Marsh?2007n;Renard, 1999). Nos Esdos LJsiidos, por
mat~pla,as &briw de teao neadêmico p m l b mi fins da O pseudoautor do texto-mercadoria poderá receber
década de 1960 e migraram as rotas clandestinas nos anos 1980 créditos, notas e títulos imerecidos. Seu capital acadêmico,
(Dickerson, 2007). A internet pode ter facilitado o acesso dos porém, permanecerá inerte. Náo há plágio, mas talvez algo mais
consumidores às empresas que atingiram o mercado global - em grave para a ética acadêmica - o desdém à arte de pensar.'' Se
um tempo de mundializaçáo do inglês científico, como dizem existem divergências sobre como enfrentar o plágio, em relaçáo
os chineses, vendem-se trabalhos para diversas partes do planeta. aos trabalhos-mercadoria, há quase um consenso: puniçáo
Mas há inclusive serviços que oferecem textos em outros idiomas ao estudante preguiçoso, desonesto e explorador de escribas
(Renard, 1999). anônimos. Mas, assim como no plágio, a simples existência
das fábricas de texto e de seu vasto mercado é sinal de que algo
É comum que se associe a compra de trabalhos acadêmicos equivocado resiste às tentativas de provocar nos estudantes o
com o plágio. Há uma crença de que as empresas de trabalhos
espírito da dúvida e a alegria da criaçáo intelectual. As fábricas de
prontos "[. ..] encorajam e facilitam o plágio e a cola. Elas
texto sobrevivem da desonestidade dos estudantes, náo importa
seduzem os estudantes ao pensamento de que é perfeitamente
se a origem está no desespero ou na indolência.
aceitável representar o trabalho de outros como seu" (Dickerson,
2007, p 23, tmdqPo no&. No entanto, plágio e apresentaçáo No cenário internacional, há relatos de que esse universo
de textos como m d i a &I práticas distintas. Se o que os segue crescendo a despeito de sofwares, códigos de honra
une é uma desonestidade quato r\ auroria, o que os diferencia acadêmica, leis proibitivas, medidas universitárias disciplinares
é justamente a natureza desse desvio. O funcionamento de e processos judiciais (Dickerson, 2007). A consolidaçáo da
uma fábrica de textos baseia-se no recrutamento de escritores língua inglesa como idioma franco da ciência vem sendo
temporários, por vezes anunciados com o pedigree de mestres e apontada como um dos fatores para essa mundializaçáo, mas
doutores (Dickerson, 2007). Os novos escribas sáo contratados existem ainda poucos estudos sobre esse tema. Alguns tentam
para a elaboraçáo do texto para alguém que o assinará. Se o justificar que as fábricas de texto sáo avatares da incompetência
texto for inédito e original, náo haverá apropriaçáo indevida dos docentes e orientadores, oferecendo apenas serviqos
das palavras do escritor contratado nem dois textos idênticos complementares à universidade. Um sítio em língua portuguesa
em circulaçáo. Náo haverá cópia nem usurpaçáo de crédito do informa: "os materiais adquiridos deste site devem ser utilizados
Q downrirco da OAB (2Q1Q),dosado. ptb Capça ( B d .2[tll), &dona as exclusivamente como fonte de estudo elou pesquisa, para o
Widadts t~cwihpjwt a tacoma a m q m dc tmb&s hbti& t ao pl9gia Podm. desenvolvimento de seus próprios trabalhos. Os materiais náo
sr5 há vmladc na a&ma@o de que a inremt estimula rm Inbç&s ~adands,*qsp Mo podem ser utilizados como se fossem de sua autoria" (Mundo
L toda 8 hiur6riit; cdm-semulto mm do qmp v i d A pmcntiao do pia&
d o *dew esw ao awiao de habilid9dcsAcomo as de i n t c c.sintmv
~ ~ sm v*t do
'O Há quem aponte p a n o caráter criminoso da compra e utilização de trabalhos fabricados.
banhento das m8qulnae Wawn,,2003 H d : Dw&, 2009J. A infraCáo estaria entre o estelionato, a falsidade ideológica e o uso de documento falso.
Acadêmico, 2012, s.p.). Outros sítios citam legislaqóes para
atestar a legalidade de suas práticas, e vários deles publicam
alertas e orientaçóes quanto ao plágio.

O escriba de fábrica de textos R.M. aponta o dedo para


as universidades: "é o que eu chamo de erudiçáo balofa: muitas
citaçóes, costuradas com os parágrafos chavóes da academia, RASURA
naquele indefectível estilo impessoal da terceira pessoa"
(Garschagen, 2005, s.p.). Para R.M., o texto-mercadoria é
... traços . .. lições ... correçóes . . . etiquetas
uma consequência da ineficiência do sistema avaliativo das
universidades e do estilo de escritura
dominante. Se há alguma verdade
A cozinha gorda nesse veredito, ela não justifica a ... traços
Pieter Bruegel, existência de um mercado imoral
o Velho,
para a ética acadêmica. A pergunta náo doping textual,
Prevenir e remediar o plágio, testar contra o
1563
deve ser o que motiva um estudante fazer um cbck-up do artigo OU combater a epidania da dpia:
a buscar um avatar, e sim o que assim a propaganda dos sojbrtres cafa-pllgios a apropria de um
pode ser feito para romper esse ciclo, discurso módico para garantir a aumiticidade dos documaitos,
que alimenta um mercado perverso, mas também intimida os
estudantes a descobrir o sentido da universidade.
-
imunizar a literatura e acalmar o paciente no caso, professorar
e editores de periódicos acadêmicos. O policiamento tecnológico
do plágio cresce em popularidade, e há motivos razoáveis para
Nem tudo sáo glórias para quem opta por um texto-
o recurso a ele: a máquina náo tem a limitaçáo de memória dos
mercadoria e o apresenta como de sua autoria. Se o flagrante da
leitores de carne e osso; a verificaçáo automática é econômica e
compra é um acontecimento raro, a clandestinidade é repleta
impessoal; e, por fim, os trechos suspeitos transformam-se em
de riscos. O consumidor náo será um detetive do escriba em
matéria-prima para os comitês de especialistas (Alzahrani; Salim;
busca das fontes citadas ou parafraseadas, nem poderá conhecer
Abraham, 2012; Gerdy, 2004).
a veracidade dos dados relatados. Comprar um trabalho pode,
ao revés do alívio de cumprir com uma exigência acadêmica, As universidades se irritam com a epidemia do plágio entre
revelar-se um pesadelo se o trabalho contiver plágio, fabricação estudantes, que copiam náo apenas textos de sítios na internet e
de dados ou outros desvios pelos quais o estudante terá de de fontes literárias, mas também dos próprios colegas. Jogar um
responder. Se passar despercebido pela banca examinadora e trecho em sítios de busca para tentar capturar a fonte original é
alcançar outros públicos, um texto-mercadoria será sempre uma uma estratégia simples e relativamente comum entre professores
sombra ameaçadora para o comprador. que desconfiam da autoria de um trabalho - seja porque uma
repentina maturidade ou evoluçáo na escrita do estudante os
surpreende, seja porque o texto inesperadamente muda de estilo
artigos, que costumam ser conteúdo privado; e, de outro, pela
ou lhes desperta um senso de familiaridade (Gerdy, 2004). No
melancolia de que a varredura se fazia necessária, dada a difusáo
entanto, diante da infinidade de fontes online e do acúmulo de
do plágio.
tarefas do professor, esse esforço para perseguir o faro do déjà-vu
talvez represente um grande dispêndio de tempo e de trabalho A caça ao piágio acompanha o apnsrndo ritmo do
intelectual. Por isso, os rofmarer caça-plágios revelam-se uma mercado, por isso quem pretende se valer desse tipo de $0-
opçáo tentadora no contexto pedagógico. tem muitas op* h dispasi+.. Como apreciaáow de vinhos,
S h A l z h m i , Naomie Salim e Ajith Abraham (2012) f i
m
O recurso a caça-plágios é uma realidade em universidades uma abrangente revisáo do estado da arte
internacionais. No Brasil, a OAB (2010) e a Capes (Brasil, 2011) da tecnologia antiplágio e descreveram dois
recomendaram a prática do cbeck-up tecnológico, o que parece tipos de anamnese de um texto: extrínseca,
indicar uma globalizaçáo de mercado da suspeita. Um dos Wulher bebendo
que compara um documento com outros,

L
~inho
rofiwarer caça-plágios mais populares, Turnitin, foi adotado em e intrínseca, que analisa um documento Serard ter
201 1 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), que pretende internamentc2A detecçáo intrínseca consiste Borch,
alimentá-lo com materiais em língua portuguesa (Kugler, 2012; i. 1657
na versáo automatizada do faro do professor
Mandelli, 2011).' Se as universidades recorrem aos roftwam quando percebe uma mudança repentina no
farejadores do plágio como aliados pedagógicos para combater texto: ao sondar e quantificar a variaçáo de I
a cópia no âmbito restrito da redaçáo de alunos, no mercado estilos, relaciona trechos de autoria suspeita,
editorial sua adoçáo visa evitar um vexame de maior proporçáo: acendendo a luz de alerta para o plágio. Esse tipo de apreciaçáo é
o transtorno de ter de retratar publicamente um artigo e feito quando náo há documentos de outros autores com os quais
desculpar-se perante a comunidade acadêmica. comparar o texto - por exemplo, se a fonte do possível plágio for
uma obra ou mídia impressa. Uma análise intrínseca envolve o
Foi em um misto de entusiasmo e lamento que a revista
exame do estilo literário para detectar impurezas textuais (Stein;
Nature descreveu a adesáo de editoras acadêmicas ao CrossCheck,
Lipka; Prettenhofer, 201 1).
versáo do Turnitin usada no domínio das publicaçóes: e, tanto
encorajador como desolador ouvir que as maiores editoras A detecçáo extrínseca parte dos rastros deixados pelo texto.
acadêmicas pretendem implantar o serviço de triagem de plágio Os rastros seriam investigados em duas etapas matemáticas
CrossCheck em seus periódicos" (Plagiarism pinioned, 2010, - textos análogos formam um subconjunto com chances de
p. 159, traduçáo nossa). O sentimento ambíguo se justificava, de
um lado, pela concordância das editoras em compartilhar seus Essa classificação refere-se a softwares que analisam documentos em uma única língua.
Há, ainda, programas que contrastam documentos de diferentes línguas, a fim de captar o
nlágio aue se vale da traduçáo (Alzahrani; Salim; Abraham, 2012). Kristin Gerdy (2004)
' Outras instituiçóes de ensino superior brasileiras vêm seguindo essa tendência de caqa r 0 I

classifica os softwaves em três tipos: os que comparam documentos entre si - detectando


virtiial ao plágio, em uma aposta de que, além de práticas pedagógicas preventivas e
trabalhos copiados entre alunos -, como o WordCheck, o CopyFind e o CopyCatchGold;
punitivas, é preciso vigilância constante para coibir a cópia (Ribeiro, 201 1; Universidades
os que comparam um documento com textos da internet, como o Eve2 (Essay Verification
adotam ro$wares.. ., 2012).
Engine); e os que checam a originalidade testando a autoria, como o Glatt.
semelhança e, em seguida, pares de textos do subconjunto sáo
termos; semânticas - sinônimos, antônimos, hiperônimos e
investigados (Alzahrani; Salim; Abraham, 2012). Em síntese,
hipônimos; ou macroestruturais, voltadas para a organizaçáo do
uma lógica simples da teoria dos conjuntos - um texto, ou partes
texto - seçóes, subseçóes ou mesmo parágrafos (Alzahrani; Salim;
dele, que está contido em outro texto. O resultado da avaliaçáo
Abraham, 2012). Para aumentar a perspicácia da análise, algumas
por um caça-plágio costuma ser um relatório de originalidade
máquinas incorporam tesauros e dicionários especializados,
que combina materialidade e estética: comparaçáo dos textos em
especialmente quando lidam com traços semânticos, mas
colunas, trechos idênticos sublinhados ou destacados em outra
também milhares de bases de dados e milhões de fontes na web.
cor, gráficos que descortinam o que foi escondido.
Ler os manuais dos softwares caça-plágios é como fazer um curso
intensivo de gramática, tendo um dicionário por travesseiro.
Em geral, as máquinas têm refinamentos para evitar que
se caracterizem como plágio coincidências textuais autorizadas. O uso das propriedades lexicais, semânticas, sintáticas
excluindo assim citaçóes literais e e macroestruturais caracteriza a complexidade dos métodos
listas de referências bibliográficas. aplicados na caça ao plágio, mas náo é suficiente para
correndo
m
Algumas oferecem mecanismos detectar com acuidade a apropriaçáo indevida de argumentos
~ o ntant
s para poupar o tempo de busca.
Troyon,
(Alzahrani; Salim; Abraham, 2012). Os softwares sáo desenhados
1853
No Eve2, pode-se abreviar a para transformar matéria bruta em mercadoria: o texto se
perseguiçáo com base em uma metamorfoseia em evidências do plágio e acalma o espírito do
regra de proporçáo: "detenha os investigador. O plágio-pastiche é o que ainda parece escapar à
- caes de caça quando xx% tiverem
+ .

- A
- --- varredura da máquina linguistica. O resultado é uma corrida
sido determinados como plagiados" é o sinal dado pelo usuário
de gato e rato - quanto mais desenvolvidos os softwaw, mais
quanto ao índice de cópia que considera suficiente para o seu
disfarçada terá de ser a cópia, e quanto mais sofisticado o plágio,
convencimento do plágio (Eve2, 2013, s.p.). Professores exigentes
mais complexos teráo de ser os softwares. Se, por um lado, esse
podem estabelecer o limite de 20% de palavras escondidas; já
jogo anima o mercado de compra e venda, por outro, é desolador,
os mais tolerantes podem aceitar tetos mais altos. A máquina se
pois o sebastiáo das letras vai deixando o palco e seu espectro
alinha à subjetividade do professor como leitor no que considera
dissimulador, o pasticheiro, assume a cena.
criaçáo ou cópia autorizada para um trabalho acadêmico.
Nem tudo sáo alegrias com as máquinas caça-plágios.
A unidade de comparaçáo dos documentos é o que varia entre A mercadoria encanta os investigadores, mas também pode
os softwares. O teste das sete palavras, por exemplo, opera em um
atormentar-lhes o juizo. O dedo já foi apontado para os softwares
nível lexical: emprega como algoritmo sequências de sete termos.
como estímulos ao plágio inteligente - ao mesmo tempo em
Esse algoritmo atribui uma impressáo digital ao documento, de
que o deixam escapar, as máquinas incentivam sua proliferaçáo.
forma a permitir sua comparaçáo (Sorokina et aL, 2006). Outros
A métrica do tempo de Bouville (2008) ironiza essa perseguiçáo:
tipos de software lançam máo de propriedades sintáticas -
os cinco segundos do copia-cola foram substituídos pelas cinco
categorias gramaticais das palavras, orações, frases e ordem dos
horas do pastiche, um engordamento ainda tímido diante dos
cinco meses exigidos para a escrita de um artigo publicável. pós-+ando de um pmtissor univdtário (Howlrd, 200%).
Outra fragilidade dos softuiares sáo os falsos positivos e a O impacto do plágio difue quando sni autor C um pesquisador
incapacidade de vasculhar letras que náo se encontram onLine
em um PltipD de peribdica ou um estudante wn um exercício
(Gerdy, 2004; Jaschik, 2009). E, por fim, a figura do Tio Sam
acad&mico. Um artigo fhkado pelo plágio pode ameaçPr o
ronda os que rejeitam a perseguiçáo no campo pedagógico:
mnhccimento compartilhado peh mmwiidade datifica e
a maioria dos softwares sáo privados e se lançam em uma
rqmainrr bm&uoa injustos a um pseudoautor produtiw, um
grande rede de insegurança nas relaçóes sociais - assim como
pldgio b t e frustra a p d d r , mas n50 1esiona o escodo da
utc - quem se prejudica t o pr6prio estudante, que n8o arencu
as empresas de segurança privada, os caça-plágios protegeriam a
propriedade intelectual. e se uriscn hfpuni@esacadhicas.
as simpsts da
As preocupaçóes éticas sáo as que mais geram disputas, As consequências de um plágio descoberto envolvem dois
especialmente quando se fala em caça-plágios no ambiente Desos e duas medidas: se o plágio de um pesquisador experiente
educacional. Alguns professores acreditam que o simples macula sua reputaçáo e abala sua
anúncioda adoçáo de softwares seria capaz de fazer os estudantes confiabilidade na comunidade acadêmica,
recuarem do plágio-cópia por medo de serem flagrados e o plágio de um estudante de graduaÇáo
apresentados às evidências da trapaça. De saída, porém, o uso

I
ocorre em uma relaçáo restrita, em que
dos softwares revelaria uma falta de confiança nos alunos e as ideias ainda náo sáo públicas. Em uma
uma presunçáo de culpa, prejudicando as relaçóes em sala de rota punitiva, leva-o a adwtbcias, a
aula e alienando os estudantes (Gerdy, 2004; Hansen, 2003; reprovaçóes e, em casos caranos, à a p i h á o
Townley; Parsell, 2004). Uma postura policialesca, centrada na da universidade (Sclineidêrj S c h ' i k ,
cena do flagrante e na puniçáo, desvirtuaria a funçáo educadora 2008). Já o plágio estudantil em contextos
do professor, tornando-o um caçador de irregularidades públicos, como teses ou dissertaçóes,
nos trabalhos discentes e negligenciando a necessidade de mobiliza a banca examinadora, mas também comissóes e processos
sensibilizar para as regras da comunicaçáo acadêmica (Gerdy, administrativos, e as sançóes podem alcançar a proporçáo da
2004; Purdy, 2005). reprovaçáo do candidato ou cassaçáo de seu titu10.~

Após um moram processp de cinco anos de inwstigqóes,


...liçóes a sentença para um e8mdant-eplagiador que se tornou mestre em
uma univerddade piiblica bwsileir~foi o cancdamenm de seu
"Plágio" ecoa como uma obscenidade aos ouvidos dos título. O tom do denunciante do aso ar dcpap1lexidade:"dos 101
professores e das instituiçóes de ensino (Robillard, 2008). páginas (Introduçáo, 3 capítulos e conclusáo) da dissertaçáo, [. ..I
Praticado por estudantes de graduaçáo, gera indignaçáo pela
ousadia da transgressáo; praticado por estudantes de pós- 'Umproja~& Iai tm trPtnifaFfao *do Federal (2012) o M p r 6 d a publicaçáo
de m o 4 de U)II&&O de nim, tal como já ~ a n c com dk- e teses.
graduaçáo, causa medo: é curto o espaço temporal que separa um O ptbjct~-ta um rdpo Ild de Diretrizes e B a s a da E d M o N r i o d a fim de
coibit práticas corno a plági~c a c o m p de trabalhos a&-.
o autor da fraude escreveu 46 páginas. As demais 55 são de autoria Erros na paráfrase, na atribuição e na normalizaçáo de
de terceiros, que ele ou citou (20 páginas) ou plagiou (35 páginas). fontes são comuns no processo de apropriação da escrita e exigem
Foram 15 obras plagiadas, de 10 autores [...I. De cada 20 linhas mais que punição ou máquinas verificadoras de originalidade:
por página que constam da dissertação, apenas 7 foram escritas é preciso ensinar os valores éticos da comunicaçáo acadêmica,
por [nome do estudante]!" (Milman, 2004, s.p.). De Leandro oferecer orientação para a pesquisa bibliográfica, animar o
Konder a Hannah Arendt, a bricolagem textual do pseudoautor desenvolvimento da habilidade de resumir o texto de um autor
lhe custou o título, conquistado com louvor em 2000, e levantou (Howard; Davies, 2009). Trabalhos burocráticos, repetitivos ou
dúvidas quanto à responsabilidade do orientador (Avelar, 2006; óbvios demandam respostas pré-fabricadas, por isso convidam à
Trasel, 2006). Em um enredo semelhante de cassaçáo de título preguiça ou à cópia. A chance de plágio discente será diminuída
por plágio, o pseudoautor no caso dos passarinheiros pode sofrer se a natureza do texto solicitado ao estudante for genuína,
os efeitos em cadeia de sua prática - na condiçáo de ex-mestre, suscitar o pensamento autônomo e tiver, no professor ou em
o concurso público que o converteu em professor universitário outra audiência, um leitor autêntico. Mas esse esforço pedagógico
pode ser anulado, revogando-lhe o emprego e a carreira. não deve vir desacompanhado do apoio ao professor - suas
condiçóes de trabalho nas instituiçóes devem permitir o exercício
O plágio discente na graduação, entretanto, requer um da criatividade nas tarefas acadêmicas e a atençáo ao estudante
olhar antes educativo que punitivo - é preciso examinar em (Howard, 2001).
que condiçóes ocorreu a cópia ou o pastiche, e ainda se houve
intençáo ou apenas insipiência quanto às normas bibliográficas. Uma medida pedagógica comum em universidades
Kevin Worthen (2004) propóe critérios para avaliar a estrangeiras é a adoçáo de códigos de honra, que são
intencionalidade do plágio discente: a natureza do plágio - assinados pelos estudantes em sinal de assentimento com as
quando a fonte é citada no trabalho, mas sem aspas indicativas normas éticas da instituição. Os itens de um código de honra
da transcriçáo, há grande chance de plágio por desconhecimento universitário listam uma série de faltas acadêmicas - como
- -

das normas; a quantidade - copiar poucas colar ou permitir que se cole em provas e trabalhos, entregar
linhas em um trabalho de várias páginas atividades compradas de fábricas de texto e plagiar -, bem como
geraria pouco benefício ao plagiador, as possíveis sançóes por violação das regras. Nas instituiçóes
Boletim com
nota vermelhas por isso a cópia pode ter sido acidental; de ensino brasileiras, os códigos de honra são raros. Uma
Abinair a materialidade - a cópia feita na seção exceçáo é a Coordenaçáo dos Programas de Pós-Graduaçáo
Medeiros,
de análise do texto é considerada mais de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de
1962 Janeiro, que editou em 2007 uma resolução segundo a qual
grave que a cópia em seçóes factuais; e a
OS alunos de mestrado e doutorado deveriam assinar uma
crença na explicação dada pelo plagiador.
Um plágio estudantil pode ser remediado Declaraçáo de Náo Violaçáo de Direitos Autorais de Terceiros
com a revisão ou refeitura do trabalho, com a determinaçáo de (UFRJ, 2007a, 2007b). A declaraçáo enfatiza o respeito
frequentar aulas sobre normalização bibliográfica ou ainda com aos direitos autorais e requer a certificaçáo de que a tese ou
o que, no passado, foi descrito como "notas vermelhas". dissertaçáo náo contém plágio. Solicita, ainda, a manifestaçáo
de conhecimento dos artigos 297 e 298 do Código Penal, O caso tornou-se um escândalo nacional náo apenas pela
referentes ifalsificaçáo de documentos públicos e particulares. fama do best-seller como também pela autoridade com que
Goodwin se apresentava. A obra destinava-se ao leitor comum,
Códigos ou textos de honra parecem surtir pouco efeito
mas a autora afirmava seu vínculo acadêmico e queria ser
entre os estudantes. É como assinalar "li e concordo com os
respeitada como uma historiadora confiável: "[. . .] o padrão [da
termos de uso" para a instalação de softwares: poucos são
comunicaçáo acadêmica] violado por Goodwin em The Fitzgeralds
os que de fato leem o que atestam, ou ainda que estão cientes
and the Kennedys é muito rígido, mas é um padrão que ela escolheu
das motivaçóes para fazê-lo. O presidente da Comissáo de
impor a si mesma tanto ao afiliar-se a [Universidade de] Harvard
Pós-Graduação e Pesquisa da Coppe, Edson Watanabe, assim
como ao se apresentar como uma historiadora séria'' (Kennedy,
descreveu as respostas dos alunos, dois anos depois de ter sido
2002, s.p., traduçáo nossa). Manter essa reputação talvez tenha
instituída a obrigatoriedade de assinar a declaração: "o pessoal
sido uma das motivaçóes da autora para fazer correçóes em uma
assinava porque tinha que assinar, senáo ele não ganha o
nova ediçáo da obra. Na ediçáo corrigida, Lynne McTaggart,
diploma. Mas não tinha consciência do que ele estava assinando"
a autora com quem Goodwin compartilhava mais similaridades
(2012, s.p.). No fim, a medida pode ser tão burocrática como
textuais, foi citada em quarenta notas bibliográficas. O prefácio
a exigência dos periódicos de que os autores declarem sua
também foi engordado para expressar gatidáo a McTaggart, cuja
participaçáo na pesquisa e na escrita do artigo - há sempre o risco
biografia de Kathleen Kennedy havia sido usada "na pesquisa e
de o espírito cartorial não provocar a consciência ética.
na reda$áo" como fonte primária por Goodwin (Crader, 2002,
s.p., traduçáo nossa). A atribuiçáo tardia de crédito representou
... correçóes uma espécie de rasura na obra - as fontes foram reconhecidas,
mas o prefácio permaneceu com a data indicada na primeira
ediçáo, novembro de 1986 (Crader, 2002).
Doris Goodwin uma historiadora cuja acusaçáo de plágio
gerou grande repercus&o nos Estados Unidos. Sua transgressáo Não há rasuras em um texto publicado
textual foi o uso inapmpriado de três autores para compor a - esse é um postulado para os acadêmicos. No
biografia 7he Elarga&hnnd thp Kennedys [Os Fitzgeralds e os Lunático atrás
entanto, nem todas as rasuras têm o mesmo das pude5
Kennedys], publicada em 1987. A autora defendeu-se alegando o estatuto do plágio corrigido de Goodwin. Francisco José
uso equivocado de notas de leitura: "escrevi tudo a mão naqueles A querela entre Foucault e Jacques Derrida de Goya,
dias, inclusive as notas que tomei de fontes secundárias. Quando nos anos 1960 e 1970 é um bom exemplo 1824- 1828
escrevi os trechos em questáo, não tinha o livro de McTaggart das ambipidades desse postulado.
comigo. Ao me basear em minhas notas, não me dei conta de
A ~ ó sa publicaçáo da monumental obra
que em alguns casos elas constituíam uma paráfrase próxima
História da loucura (1961), Derrida
do trabalho original" (Crader, 2002, s.p., tradução nossa). Na fez uma crítica feroz a Foucault - as 650 páginas do livro
verdade, aquilo de que Goodwin se deu conta foi de que não foram comprimidas às três em que Foucault menciona
eram bem paráfrases próximas ao original, mas cópias. Descartes sobre a relaçáo entre pensamento (cogito) e
loucura. A margem das (des)razóes dos gigantes, o curioso
é o lamento de Foucault em uma resposta pública a Derrida e, na
~rnpurador,arcpivós d,iftmnce~ aam e r a criados pur
verdade, a última letra que dirigiu ao pai da desconstruçáo até o
notas de hlmm e niws pr$tiav tinham rido Atadas pon o .
rrgiPao &a £í3~14es.Sai logo nc6rÍCo p m w qu% ao fim e
fim de sua vida: "era, sem dúvida, a parte mais acessória de meu
ao cabo$%..I p i a d o s o u a m ~ a p & w a m j . ~
BlbaP
a queai
livro, e reconheço de bom grado que deveria ter renunciado a
isso [. . .]. Mas, finalmente, essa passagem existe: ela é como é.. ."
eza qmdo fie a d ç 3 b puri o computador, (eo pmmso de
(2011, p. 271). A resposta de Foucault, inicialmente publicada em
comruir um loq* ttabdha de h i d h p- uma tPl$hl
c p m p w p o h b m s n " (GoakPin, 2002, ~ g ,
uma revista japonesa, foi depois acrescentada como posfácio
ir&. .Em um *ido eaq- d W w , Q-bu ppolPdoecr de
em História da loucura na ediçáo de 1972. Nas ediçóes
posteriores, o posfácio foi retirado.
peso qug c o r d o m publie~~nwte a tese& p- irmhdd~
(IQdkPacrI'i 2002; Rmm, 2007'$ Hojs, ornomada hismtkbm
"Ela é como é..." denota um misto de resignaçáo e pode carregar a marca de autora controversa ou ressoar o
ironia. Pode indicar tanto o desejo de Foucault de que as três burburinho de um escândalo pretérito, mas sua obra 7eam of
páginas náo estivessem no texto como também um desdém rlovrb: &r paB&td -'ur of Abrubam Lincoln [Time de rivais: o
ao excesso de barulho causado por Derrida em relaçáo à @niopatitfeedeAbI.Jiam Lincoln], de 2005, alcançou a posiçáo
impertinência de Foucault em mencionar Descartes em uma dr b& e i n s p h u um premiado filme de Steven Spielberg
obra histórica. Há, no entanto, uma diferença fundamental em 2012.
entre Foucault e Goodwin - se Descartes desaparecesse das
Entretanto, o perdáo nem sempre é o '
ediçóes posteriores, náo seria uma rasura por razóes éticas, mas
destino mais óbvio de um autor ordinário que
uma reelaboraçáo do pensamento, uma prática permanente
se descobre plagiador. Sua reputaçáo náo se Por ter nascido
e bem-vinda entre os acadêmicos. Náo seria uma rasura em outro lugar
sustenta no apelo midiático nem em colegas
por plágio, mas por refinamento do argumento. A opçáo de Francisco José
dispostos a afirmar sua boa-fé, mas na solidez
Foucault por manter a mençáo a Descartes foi para afirmá-la de Goya,
e confiabilidade de suas pesquisas. E mais: C. 1810-1811
publicamente como acessória à obra e, consequentemente, para
diferentemente da redaçáo de um plagiador
ignorar a crítica de Derrida. Mas Foucault poderia ter feito
estudante, seus escritos sáo peças públicas
diferente caso náo tivesse considerado a crítica "inexata" -
que, se flagradas com palavras escondidas,
quem sabe, retirado o trecho e colocado uma nota de rodapé
impóem rapidamente o chapéu da vergonha,
agradecendo o comentário do colega. A rasura seria um sinal do
antes até que o pesquisador consiga murmurar sua defesa.
pensamento em movimento.
O estigma de plagiador é temido pelo autor acadêmico como
Goodwin recuperou-se do escândalo de plágio. Em uma ameaça de perda de confiança e ostracismo.
explicaçáo pública, relatou o processo artesanal de agregaçáo de
O coraçáo pulsante da comunicaçáo acadêmica sáo os
fontes e escritura da obra e redescreveu-se como uma historiadora
periódicos, que náo podem corrigir erros com emendas numa
incluída na revoluçáo digital - o papel fora substituído pelo
reediçáo, a proeza de Goodwin no livro. Uma vez publicado, um
artigo de periódico lança-se à leitura, à crítica e à citaçáo. Tanto
Por isso, somente é feita após uma ponderada análise do caso, e sua
é importante a circulaçáo acadêmica dos dados de pesquisas que
divulgaçáo náo prescinde de uma nota ou um editorial que relata
existem sistemas de monitoramento de citaçóes capazes de registrar
o ocorrido e reitera normas éticas na pesquisa e na publicaçáo.6
quantas vezes um artigo foi citado e por quais outros artigos. Por
isso, até que um artigo contendo plágio, falsificaçáo de dados ou, Alguns periódicos váo além da retrataçáo e impóem outras
simplesmente, descuidos tipográficos seja identificado, é provável penalidades ao autor flagrado em desvario. Um editorial do
que já tenha sido disseminado como informaçáo confiável em uma Journal of the Society for Gynecologic Investigation, por exemplo,
trama de citaçóes. Assim, os erros náo podem ser simplesmente estabeleceu uma pena de dois anos sem poder submeter trabalhos
emendados, ou os artigos, retirados de circulaçáo como se nunca ao periódico a autores em cujo artigo se descobriu a existência
tivessem existido. Os editores preocupam-se com a integridade da de plágio, mesmo a cópia tendo sido inadvertida (Lobo, 2003).
informaçáo acadêmica divulgada e devem orientar-se pela regra da Também o Escritório para a Integridade em Pesquisa (O$ce of
absoluta transparência com os leitores. Um artigo, se descoberto Research Integrity - ORI, nos Estados Unidos) determina sançóes
plagiado, será retratado.* a pesquisadores flagrados em má-conduta. Em 2011, quatro casos
de plágio abordados pelo ORI envolveram uma variedade de
A retrataçáo é um carimbo vermelho de alerta, mas também sançóes aplicáveis por um período de dois a quatro anos - desde
de correçáo da literatura (Wager et a l , 2009a), ou ainda uma
a sujeiçáo dos autores a uma supervisáo minuciosa de futuras
sentença de vergonha para o autor que assinou o texto. Embora
pesquisas até a abstençáo de exercer funçóes no sistema de saúde
?& - o artigo retratado continue disponível nas pública do país (ORI, 2011).
-. .
-+a -
*'k"l"-d.-
.-...,- - bases de dados bibliográficas, a marca d'água
=,'&;

.,.,- ..-,-
...... ..~
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..-..
impressa em fontes garrafais sobre cada página Nada mais constrangedor para o currículo de um
M~~~~d'água - ==.=.C-. E.z--
A é um lembrete permanente ao leitor, semelhante pesquisador que ter uma coleçáo de artigos retratados. A lógica
sobre .-= -.. .. . fz
- .-. - - -.. - .
.---::::.r--2
. <:
;;:::.:
+

:'::::-LT-Aaos alertas dos maços de cigarro - "este texto faz


*

. .A da pontuaçáo do currículo por méritos na quantidade de


:yT..d ..- -..-.-..-., mal à saúde a~adêmica".~
wmtiído ..,..-.-r- Uma retrataçáo pode publicaçóes converteu-se em vergonha pública para o japonês
g :!- =
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~-+:izg;:e
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...... .C7-z.'.'C*.--
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. declarar um descuido náo intencional ou um Yoshitaka Fujii, que, em quase vinte anos de carreira, fabricou
_
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---.- --.-
--.. grave caso de má-conduta em pesquisa, mas é dados em pelo menos 172 de 212 artigos que publicou (Marcus,
..,.-
..~.. .-.---.-.-b.
,
-.--_.--..__,,..
.-......-
. .-
sempre um incômodo para o editor e o autor. 2012). Em 2012, o pesquisador, que investigava medicamentos
para náusea e vômito pós-operatórios, foi demitido de sua
As diretrizes do COPE sobre retrataçáo distinguem os artigos inteiramente copiados universidade, e sua carreira ficou maculada como a de um
daqueles com apenas trechos plagiados - estes podem receber uma nota de correção dos anestesiologista recordista em retrataçóes. Além de prejudicar
editores quanto i impropriedade na atribuição da fonte, sendo poupados da retratação para
que seus dados originais permaneçam em circulação (Wager et al., 2009a). a carreira do pesquisador e a reputaçáo do periódico, uma
'E uma recomendaçáo do COPE que as notas de retratação sejam de livre acesso - sem
%s responsabilidades alcançam também o autor ao escolher as fontes que citará em seus
exigir, portanto, que o leitor seja assinante do periódico para consultá-las (Wager et a i ,
textos. Caso precise citar um artigo que foi corrigido ou retratado, ele deve deixar isso
2009a). A simples busca em uma base de dados revela a invalidade do artigo, prevenindo
transparente ao leitor. O sistema de normalização bibliográfica de Vancouver, adotado
seu acesso e sua leitura dispensáveis, pois as notas de retratação registram o título e os
pelo ICMJE, inclui prescriçóes para referenciar tanto o artigo original quanto sua versão
nomes dos autores.
corrigida ou retratada.
retrataçáo pode nausear a própria ciência. Uma pesquisa na base deve obedecer a uma etiqueta própria - requer desde a escrita
de dados biomédica PubMed revelou que os efeitos colaterais objetiva, honesta, colaborativa e impessoal do parecer até a
sáo capazes de atingir outros estudos do mesmo campo do garantia da confidencialidade e a declaraçáo de conflitos de
artigo retratado. Os pesquisadores temeriam a "contaminaçáo" interesses que possam afetar seu julgamento.
de sua reputaçáo pelos artigos retratados e, por isso, evitariam
compartilhar a mesma área de estudo: o resultado seria menos Em 1996, o físico Alan Sokal, da Universidade de Nova
citaçóes e menos financiamentos para estudos relacionados ao York, pregou uma peça na Social Teir, revista de estudos culturais
tema do artigo retratado, especialmente se o motivo da anulaçáo que náo tinha revisáo por pares. Submeteu um manuscrito
tiver sido a má-conduta em pesquisa (Azoulay et al., 2012). Há propositalmente absurdo a fim de testar se o periódico aceitaria um
quem chame essa autocensura de exagero, mas é só um sinal artigo como aquele: frágil na argumentaçáo, mas aparentemente
do quanto os desvios éticos extrapolam o sujeito equivocado e bem-composto e alinhado i s concepçóes ideológicas dos editores
atingem um senso comunitário de pertencimento. (Sokal, 1996). O artigo foi publicado a despeito de ser uma
-
cole@o de impropriedades segundo o próprio aumr, uma tese
impdvel, que m l s m gravhq-50 quântica, epistemologh
... etiquetas pós-moderna e implicaçdes polkicas, costurada ~Aorkamentte
com ciraçóes de autoridade e analogias hqadas. Logo cm
A retrataçáo é o capítulo final de um triste enredo na seguida, Solcal publicou, na mista Lingara Fraw, um segundo
publicaçáo de um artigo, mas é também um evento incomum.' .
texto maando a traquinada: *[. .] escrevi o artigo de modo que
Nos bastidores da publicaçáo, náo se sabe quantos manuscritos qualquer fiico OU mat&co com-te (ou graduado em
com erros ou más-condutas
-- deixam Bdca, ou formado em rnaremácica) perceberia que 6 um embuste.

1
--------A

de ser publicados por não resistirem Evidentemente, os editores da Social Text sentiram-se confortáveis
2uatro amadore; ao olhar
ao olhar atento
atento dos
dos revisores
revisores ee em publicar um artigo sobre física quântica sem se preocupar em
de impressóe:
editores. Há uma extensa e silenciosa consultar alguém com conhecimento no assunto" (1996, s.p.,
Honorí
Daumier, engenharia para a publicaçáo de traduçáo nossa).
C. 1860-1863 artigos em um periódico. O editor
recebe os manuscritos e decide quais A resposta a Sokal veio ai uma ediw seguinte da Lingua
artigos publicar, mas náo antes de Franca, quando se publicou um debate entre os editores da Social
eles terem sido avaliados por leitores de confiança, também Text e o autor. No r-, os editores narraram e justificaram
chamados de "revisores de originais". O revisor, geralmente um o processo que levou à publicaçáo do artigo. Em defesa da
sujeito anônimo e voluntário, atua em nome da qualidade e da decisáo de aceitar o manuscrito, listaram critérios editoriais
integridade da comunicaçáo acadêmica, por isso sua conduta diferenciados da Social Text: "[. ..] este é um meio editorial com
critérios e objetivos bastante distantes daqueles de uma revista
' O editor assistente de notícias da Nature Richard Van Noorden (201 1) estima que 200
artigos sejam corrigidos e apenas 5 ou 6 sejam retratados em um universo de cerca de 27 científica profissional. Se o artigo de Sokal teria sido declarado
mil publicados por semana e compilados na base We6 of Science. inferior por um físico revisor é discutível (náo é, afinal, uma
contribuiçáo acadêmica para a disciplina de física), mas náo A rota de deduçáo do plágio foi imediata: além de alguns colegas
finalmente relevante para nós - pelo menos náo de acordo com os e dos editores do New Englund Journul of Medicine, só quem .
critérios que empregamos" (Robbins; Ross, 1996, s.p., traduçáo havia lido seu texto eram os três revisores anônimos. Náo foi
nossa). Independente das hostilidades, a ousadia de Sokal só difícil resolver o quebra-cabeça e concluir que o único parecerista
foi possível por uma brecha editorial da Social Text à época. que havia recomendado a rejeiqáo de seu artigo era, também, um
Em tempos atuais, náo se fala em periódicos sérios que dos autores do manuscrito que ela agora analisava como revisora.
prescindam de um sistema de revisáo por pares.
A infeliz coincidência flagrou Philip Felig, respeitado
O ingrato reverso da função de confiança e proteçáo pesquisador da Universidade de Yale, e seu coautor, Vijay
da integridade acadêmica é quando um revisor comete uma Soman, pesquisador e professor associado em Yale. A narrativa
irregi1laridade ética, como o plágio. A hipótese Fere u m do plágio é curta, mas toca em um equívoco de partida: antes de
fundamento da ética na publicação, e talvez por isso esteja elaborar seu parecer, Felig solicitou que Soman analisasse o artigo
explicitan-~ente interditada na definiç" de plágio do CNPq: sob sua avalia~áo.~Soman foi além da revisáo: manteve uma cópia
"comete igualnieiice plágio quem se utiliza de ideias ou dados do manuscrito, plagiou trechos dele - sob a desculpa do domínio
obtidos em análises de projetos ou manuscritos náo publicados insuficiente do inglês científico - e apropriou-se de dma equaçáo
aos quais teve acesso como consultor, revisor, editor, ou da pesquisa de Wachslicht-Rodbard. A autora náo teve dúvida de
assemelhado" (2011, p. 4). Essa é uma modalidade ainda pouco seu faro. Imediatamente anunciou o plágio e questionou se Felig
discutida de plágio, mas náo menos preocupante - já alcançou e Soman tinham, de fato, conduzido a pesquisa que relatavam
o COPE, que desenvolveu um fluxograma de medidas a serem - além de muito semelhante ao seu, o estudo de Felig e Soman
tomadas quando um autor suspeita ter sido plagiado pelo apresentava dados inacreditavelmente precisos (Hunt, 1981).
parecerista de seu artigo. Se comprovada a má-conduta, o editor O desenvolvimento da história moveu auditorias, retrataçáo
pode comunicar a instituiçáo de origem do revisor, retirá-lo do e perdas de cargos para Felig e Soman, mas sobretudo pôs em
quadro de colaboradores do periódico e, ainda, publicar um questáo um item fundamental em que se baseia o processo de
relato do caso (COPE, 2008). revisáo de manuscritos: a confiança.

Em 1978, Helena Wachsliclit-Rodbard, 11mapesqiiisadora O revisor é um leitor privilegiado: tem acesso a dados e
brasileira nos Institutos Nacionais de Saúde (Natiur~fiIhzstilutes o/ resultados de pesquisa ainda desconhecidos da comunidade
HeaIth - NIH), dos Estados Unidos, submeteu u m artigo sobre acadêmica. Mas ele náo é autorizado a divulgar as informaçóes
o metabolismo da insulina ao New EngIand journal ofMcdicine nem tomá-las para si; a revisáo é confidencial. Apropriar-se de um
(Hunr, 178 1). Menos de três nicses depois, enquanto trabal haví~
na revisáo do artigo, Wachslicht-Rodbard foi designada revisora * Uma ironia da história de Wachslicht-Rodbard é que a forma como ela teve contato com
o ~ & ~ e S o m ~ h ~ i , a m b ç m . ~ d o r t a r r eICdnUdP.
f a d e ~q u ~ h
de um manuscrito submetido ao Americun Jonrnal of Mpdinze. p u o artigo & Jw i
h&, c@ do &pofnmaiio onde dn mbalhawc &aiitor- dyai
Qual náo foi seu espanto ao perceber que o artigo era niais do -
hanodrio da amigoplagiado. O s@igo de Mig e Soman hnvia sido d
J d d OfMsdi~ine a Ros,que delqpu a tWã dc &t a %&i&-Rodbard.
o pdo Amriw
Esso ripo
que semelhante ao seu - continha cópias de palavras e de teses.
db prida, p o h , t maluiIsta p& edbrs, A S*VW 6aigih c d o p k ssc dcIt&.
PALAVRASESCONDIDAS

estudo transgride não apenas a etiqueta do revisor como também


os limites do moralmente aceitável: "o revisor náo pode plagiar.
É obviamente uma transgressáo muito séria pegar dados ou
novos coiiccitos de um artigo para avangar no próprio trabnllio
aiitcs de o niariuscrico ser piiblicado" (Benos; Kii-k; Hall, 2003,
p. 49. rradiigáo nossa). A rota <Ir uin revisor plagiador. poréin,
terd scmprc fácil rastrcainento pelo editor. Plagiar iiin artigo qiie
se está rcvisando será ~naisqiie iiina gafe oii niá-conduta; seii i1111
tiro no pé.

A leitora enganada de Magritte abandonará o livro. Seu


espanto com o plágio a fará sair em busca das sombras deixadas
no texto. Assim como no teatro bunraku japonês, os bonecos e a
música do shamisen encantam, mas náo sáo capazes de esconder
o manipulador principal, omozukai, um vulto que acompanha
o boneco controlando seus I
movimentos. O manipulador Manipuladores
principal é o único sem de boneco
capuz; é visto, porém r Toyohara
Kunichika,
esquecido pela audiência, pois I 1878
o que importa é o espetáculo i
de movimentos e sons dos
bonecos. O manipulador aparece para ser esquecido, assim como
disse Umberto Eco sobre a intençáo do autor - a beleza da peça o
deixará pequeno no palco. Mas quem assiste a Os amantes suicidar
de Sonezaki sabe que os bonecos sáo uma extensáo corporal do
manipulador principal. O plagiador é como o boneco que se crê
maestro, e náo suporta sequer o lugar de manipulador auxiliar
sem capuz e travestido de sombra. Por fantasia, preguiça ou
descuido, o plagiador voa mais rápido do que seus movimentos
no palco do teatro acadêmico e ambiciona retirar o capuz de
manipulador auxiliar antes do tempo. O resultado é um fantoche
desajeitado, náo acompanhado pelo ritmo das cordas do shamisen.
Este livro passeou por algumas sombras da escritura mutismo para o grito de quem precisa se proteger de um escândalo.
acadêmica. Ao contrário do teatro bunraku, a sombra náo faz Assim, náo há harmonia de vozes entre autor e pseudoautor,
mover a criaçáo, mas a paralisa. O plágio é um esconderijo tampouco igual legitimidade entre os textos que se apresentam na
de palavras e textos, um desconcerto indevido para autores e controvérsia do plágio: é um jogo entre denúncia e defesa o que se
leitores. Para lançar luzes às sombras, fizemos uma etnografia do trama nos discursos de autores e plagiadores descobertos.
plágio: buscamos casos, lemos relatos, conhecemos personagens
ávidos por contar suas histórias. O -plagiador busca se redimir; Como qualquer exercício etnográfico, nossa inquietaçáo foi
-
o plagiado quer ser ouvido - há texto em abundância desses reduzir o perímetro do plágio. Falsificaçáo de dados náo é plágio;
dois personagens. Quando descoberto, o plágio sai das sombras autoria presenteada náo é plágio; compra de trabalhos prontos
-
e ganha protagonismo: ocupa os editoriais dos periódicos, é
manchete de jornal ou, tristemente, objeto de contestaçáo em
comitês e cortes. Ouvimos as vozes dos personagens, fosse ele
náo é plágio. Mas como é na autoria
indevida ou na mercantilizaçáo de
trabalhos acadêmicos q--- -A-'-
-- E 14,
"*;
~ u u mulheres
s
brincando
com fdntoches
um poeta aflito pelo luto, um passarinheiro prestes a conhecer a origem do plágio, as rronteiras aas de Noroma e
uma nova gaiola ou um pesquisador maduro atormentado histórias se ampliaram. Entender o 9 r_ Soroma
pelas aspas esquecidas. O plágio é mais do que uma sombra plágio exigiu nomear outros desvarios : 8 Katsushika
Hokusai,
emudecida e temida no teatro acadêmico; da prática acadêmica, como os -de P ,- Rnn
, :
. .
é um tabu. Sobre ele, todos fuxicam, mas autoria ou de ética em pesquisa. Foi
poucos arriscam a oratória pública. Nós náo nas relaçóes vividas pelos personagens
0 segredo imaginávamos tanto texto sobre u,m tema do teatro acadêmico quc definimos as bordas de nossa etnografia
Vladimir sobre o plágio. Agora é o momento de assumir: há inuito mais a
Makovsky, cujo verbete de dicionário náo ocupa mais
do que umas poucas linhas. A descoberta da ser dito. Esre livro é apenas uma lanterna nas sombras que movem
1884
enciclopédia sobre o plágio se mostrou muito os bonecos do bunraku.
mais vasta do que planejávamos quando nos
Por que o silêncio sobre o plágio? Uma resposta Ç
aproximamos das vozes sobre o silêncio.
a arrogância academica. Falsamelite se supõe que joveiis
Há diferenças nas vozes em circulaçáo. A voz do autor pesquisadores conheçam as regras e os inrerditos da escritura.
ofendido é ativa e acusatória; a do plagiador, tímida e defensiva. A hipútese do ethos compartilhado e aritoevidente náo é ingênria,
O agendamento da controvérsia é lançado pelos autores, editores pois reproduz hierarquias e domiiiios nas relações acadêmicas.
ou leitores - só com raras exceçóes pelo plagiador. Essa diferença Náo ingressamos na carreira acadêmica sabendo a Fronteira
entre quem define o debate e como cada personagem se posiciona eiitre unia citação liter~le uma paráfrase, o principal risco
tem consequências importantes para as histórias apresentadas para o plágio inadvertido. Erra quem imagina que os jovens
e as versóes que percorrem as comunidades acadêmicas. Náo é pesquisadores aprendem lendo - outra mentira, pois leern-se
simples a sobrevivência de um personagem acusado de plágio: se obras conremporâncas com ~ p u dou paráfrases malfeitas. Outra
comprovado o ocultamento indevido de palavras, sua voz sairá do resposta para o silêncio é que o plbgio eilvergogonha. A nioral da
vergonha caminha lado a lado com o dever do silêncio. Porém, o
médicos ou juristas; a escritura acadêmica reclama honestidade
silêncio é uma força amblgup para a wgrenagem dos tabus - por
textual, mas também aprendizado sobre como exercê-la.
um lado, impede o franco rnf~ntammo;por outro, evita que os
acusados sejam julgados irrespmsayelmente. Imaginar o silêncio O plágio náo é um tema binário: exceto pelo plágio-cópia
como um ato de cautela é favorável à moral do plágio acadêmico, do sujeito de dedos leves, uma acusaçáo de plágio exige leitores
mas nos parece pouco razoável diante da força da agenda política mais do que máquinas caça-plágios. Náo é um tema de sim ou
para o enquadramento penal do plágio. náo, ao contrário do que se imagina. Os softwares crescem em um
mercado sensível às tecnologias de segurança: temos medos - o
Quando descoberto, o plágio migra do silêncio para o
de ser enganados como professores é um deles -, e a máquina
escândalo. O dever de sigilo das comissóes de ética é atravessado
nos oferece tranquilidade. No entanto, ela náo é capaz de alterar
pelo litígio judicial, quando náo por cartas públicas de acusaçáo.
esse regime de adulteraçáo que move os estudantes, tampouco de
Por isso, grande parte da literatura náo hesita em descrever o
provocar os professores quanto à mediocridade de trabalhos que
plágio como roubo. Essa apropriaçáo criminalizante do plágio
podem ser facilmente copiados. A máquina caçadora de plágios
deve ser avaliada com cautela. Nem todos os casos devem
é o fim de uma linha que alimenta o mercado, mas também que
ser enfrentados da mesma maneira; importa saber quem é o
aumenta a escuridáo sobre o tabu. É simplório imaginar que os
plagiador, se um estudante ou um pesquisador maduro. Importa
sojiwares sejam necessários à ordem: como qualquer tecnologia
ouvir as desrazóes do plagiador - escutá-lo é um ato de respeito à
punitiva, eles apenas silenciam o sujeito e as práticas; em termos
vergonha que o atravessa. A vergonha de um estudante deve ser
pedagógicos, sáo um contrassenso.
cuidada para que ele aprenda a ser um escritor integro. A vergonha
de um pesquisador maduro deve ser encarada de forma que Há quem acredite que o plágio traz honrarias para o
permita o seu retorno à atividade acadêmica. O plágio náo pode autor plagiado, o que nos parece uma tolice. Queremos ser
ser uma sentença de ostracismo pedagógico ou acadêmico. Ele é lidos, admirados, contestados, refutados, mas jamais usurpados
um grave equívoco ético, mas náo uma infra~áopenal capital. na criaçáo. Ser plagiado é antes uma dor de cabeça que uma
homenagem. Original e plágio podem se entrecruzar no universo
Ser escritor é um dever acadêmico. Por isso, todos precisamos
acadêmico, o que força o silenciamento do pseudoautor, seja
estar alertas ao risco do plágio inadvertido. E necessário conhecer
pelas métricas de citaçáo ou pela perseguiçáo à figura do legítimo
as regras da escritura, as normas de registro de fontes - e, como em
criador. Como os textos seguem os próprios percursos, o autor
qualquer outra prática, treiná-las antes de se converter em autor.
pode se ver compelido a retirar a peça plagiadora de circulaçáo.
Só o acanhado pesquisador ou professor, aquele que náo se
Ora, há formas mais inteligentes e produtivas de usar o tempo
aventura peh cwinira, n h p&~a se expor a esse longo percurso.
para o sucesso acadêmico. O ideal seria ignorar o plagiador, mas
Escreva é arriscar-se, t! laçar-se ao debate público sobre nossas
nem sempre isso é razoável para a integridade da comunicaçáo
idaas e mnvlybes. A integridade acadêmica, vasto campo da acadêmica ou para a carreira do autor plagiado. Há situaçóes
&ca que tem o pldgio como um dos interditos, move nosso etbos
em que tirar o texto plagiador de campo é o que garante a livre
comunitário. Náo importa se somos cientistas sociais ou físicos,
circulaçáo da obra original.
Mas a retrataçáo de um texto náo é um exercício fácil para
Náo sabemos por que sujeitos inteligentes e competentes
um pesquisador. Em grande parte dos casos que analisamos, O,
$agiam. Náo sabemos se é por seduçáo, deslize ou preguiça.
pseudoautores sáo forçados por sua comunidade a se desculparem
publicamente e a retrataçáo é uma determinaçáo de periódicos OU Ouvi-los seria um ato humanitário e pedagógico, pois suas vozes
encontram-se filtradas pelo enquadramento da vergonha e do
editoras. O carimbo vermelho é o ponto final de uma sentença.
escândalo. Nosso percurso etnográfico náo ouviu os plagiadores
Publicada a obra ou defendida a tese ou dissertaçáo, náo há
em viva-voz, apenas leu suas respostas de defesa apbs acusaçóes
como retornar ao passado e eliminar as palavras escondidas do
públicas. Se niio sabemos por que plagiaram, podemos indicar
plágio, seja ele intencional ou resultado de um descuido com as
algiins dos ecluívocos da vida acadêmica que facilitam i prática
aspas. Náo há espaço para a rasura textual após a sua divulgaçáo
da cópia. Um deles é n ineficiêiiçia dos sistemas aviliativos - os
oficial. As desculpas ocorrerá0 sempre após a enunciaçáo do
estudantes sáo cada vez menos estimulados a criar. O plágio-
fato do plágio, e a soluçáo exige o silenciamento do que antes
cópia pode ser uma estratégia de sobrevivência à ineficiência
estava escondido. O texto original pede exclusividade para o seu
do sistema educacional. Para os professores, uma inquietaçáo
destino: autores e pseudoautores disputam o mesmo espaço.
é o crescente sistema de avaliaçáo por métricas, impactos e
Isso náo significa que um autor marcado pelo carimbo números. Se publicar consiste em um dever para um professor
vermelho deva emudecer ou refugiar-se da escritura acadêmica. de universidade pública, é preciso também questionar como e
Há um início e um fim na perturbaçáo causada pelo plágio. quanto nossos textos devem ser avaliados.
A comunidade acadêmica deve reconhecer O plágio é uma sombra, mas náo deve ser um tabu. Nesta
um espaço permanente para a reconstrução obra, náo exploramos técnicas sobre como evitar a cópia; ao
Ainda aprendo da voz de um autor retratado, em particular contrário, duvidamos do poder das máquinas para alterar a
Francisco José se essa voz for a de um estudante aprendiz de
de Goya, ordem de perturbaçáo do plágio. Tampouco sabemos como
autor. Por isso, a oscilaçáo perversa entre o
c. 1824 normatizar adequadamente o plágio - essa é uma tarefa inglória
silêncio do tabu e o grito do escândalo deve
para as agências de fomento ou para as comissóes de ética. Nosso
ser mediada por uma constante sensibilizaçáo
objetivo foi passar do silêncio à fala, o movimento trágico de
para as práticas de integridade acadêmica,
assunçáo do real. A leitora assustada de Magritte se acalmará após
entre elas a de como evitar o plágio.
o espanto do encontro com as palavras escondidas. Ela deixará o
- É preciso que o plágio seja um tema frequente livro. Mas a nossa leitora náo desacreditará no texto como uma
na socializaçáo de jovens pesquisadores. E, principalmente, que
fonte permanente de alegria para a vida. Ela saberá distinguir as
ímpetos de criminalizaçáo do plágio, expulsáo de estudantes e
sombras que movem das que escondem o pensamento. O texto
demissáo de professores, ou outras práticas punitivas extremas,
acadêmico é inspirador, e seus autores buscam seduzir leitoras
sejam contidos no universo acadêmico: o plágio é, essencialmente,
nada submissas.
uma questáo da ética da escritura e seu lugar deve ser nas
fronteiras da integridade acadêmica.
A etnografia do plágio lança luzes às sombras do segredo.
Mas pensar o plágio exige mais de nós - perguntas, respostas,
prescriçóes, novas ideias e cenários para o seu enfrentamento e
desconstruçáo. As inquietaçóes aqui apresentadas náo devem ser
lidas como ditames, mas como um texto arriscado sobre como
pode ser uma nova ordem de enquadramento do plágio nas
universidades. Náo há respostas definitivas e, libertas da certeza,
aprenderemos com nossos leitores, com novos casos e com o
tempo. Este livro tem uma versáo digital, que acompanhará
o ritmo do diálogo. Quem nos pergunta é a leitora inquieta
de Magritte.

P ara vocês, o plúgio ndo é zlm crime.Entdo, o que é o plágio?

O plágio é uma infraçáo ética na escrita acadêmica, portanto, uma


prática inapropriada. Mas nem todo erro deve ser criminalizado
ou judicializado, até mesmo porque náo é todo plágio que viola
direitos autorais. Em nosso entendimento, o plágio deve ser
enfrentado como uma questáo pedagógica antes de se avançar para
sua criminalizaçáo. Há diversas formas de plágio - da música à
literatura -, mas este livro discute o plágio na literatura acadêmica.
ocês falam em plúgio-cópia e plúgio-pastiche. Nunca havia cópia dissimulada, isto é, do pastiche. O principal equívoco de
V i i d o aia. semelhante. O pistiche náo i uma firma de jovens autores é recorrer a estratégias de falsificaçáo do original -
intertextualidade? trocam-se ordem das orações, vocábulos ou verbos e se crê ser u m
parafraseador. É nesse equívoco que está o pastiche, uma forma
Criamos os conceitos de plágio-cópia e plágio-pastiche para de plágio pela adulteração do original. Diferentemente do plágio-
diferenciar as apropriaçóes indevidas da construção literária de cópia, o reconhecimento do pastiche náo é feito por máquinas, mas
outros autores. Sim, é possível classificar o plágio-pastiche como por u m leitor.
uma forma de intertextualidade. mas esse é um diálogo entre
textos que merece os rótulos de "indevido" e "não autorizado". Isso
indica que nem toda forma de intertextualidade é aceitável na
comunicação acadêmica. Como mostramos neste livro, há fronteiras
S ete ou nove palavras é um critério bem-humouado, porém
superfcial para localizar um pldgio textual. Como atestar que
um texto contém pldgio?
diferentes entre os campos. Na arte, o pastiche é uma criaçáo
bem-vinda: a Mona Lisa de Marcel Duchamp é uma paródia da Só com leitores. E principalmente leitores especialistas no tema
Mona Lisa de Leonardo da Vinci. Na literatura, Amor de Capitu, do texto sob controvérsia. As máquinas podem oferecer uma
de Fernando Sabino, é uma releitura criativa de Dom Casmurro, de materialidade inicial, mas precisamos ainda de leitores de carne e
Machado de Assis. osso. Isso se dá em particular para o caso do pastiche, a principal
forma de plágio na vida acadêmica. As consequências do plágio

H d o plágo-cópia e o plágo-pastiche. O sujeito de dedos leves


náo é o mesmo que desconhece as regras da parnpnse. Os dois
sáo igualmenteplagiadores?
podem ser nefastas para u m autor, por isso palavras em sequência
náo sáo suficientes para o veredito. U m plágio necessita de
materialidade, mas também de u m movimento interpretativo
de leitores que se comportaráo como auditores de texto.
D e fato, os dois personagens não são idênticos, $apesar de seus
atos serem classificados como plágio. U m é preguiçoso ou mal- sjrmas de expressáo acadêmica se repetem. Ejam este exemplo:
intencionado; o outro, desorganizado ou ingênuo. Mas essa A é s t e artigo analisa a questáo da desigualdade de gênero a@
pergunta remete às intençóes ou às causas do plágio. Elas importam
de. . . ". E possíuel, com essa moldura, ter uma sequência de conteúdo
em uma investigação que determinará as consequências do plágio
para a vida do pseudoautor Por isso, os relatórios dos sojiwares original e autoral. Que palauras em sequência confguram um
sáo só uma pequena peça de evidência nas controvérsias sobre o pldgio?
plágio. É preciso ouvir o sujeito que escondeu palavras ou descobriu
palavras escondidas no próprio texto. Esse exemplo é importante. Ele aponta para a delicadeza da
comunicação acadêmica: por u m lado, precisamos ser autorais; por
outro, há uma fôrma em que nossas ideias precisam ser acomodadas.
O ual é a dzjrenqa entre o pastiche e a para~rase?

A paráfrase é uma criaçáo textual de u m autor que lê e analisa


Náo somos livres para escrever um artigo acadêmico nos gêneros
conto ou poesia. Assim, esses ganchos de escritura são comuns a
fontes bibliográficas. Grande parte de nossa literatura acadêmica todos nós e não configuram uma forma de plágio. Por isso, a métrica
é de paráfrases criativas de múltiplas fontes. Há uma relaçáo de das sete, nove ou quarenta e nove palavras exige u m leitor atento
sinonímia entre o original e a paráfrase, algo diferente de uma para o conteúdo e náo apenas para os termos idênticos em sequência.
enho medo de contar meuptqéto de pesquisa e alguém copiá-lo. mas, na mesma medida, ser a forma de identificá-lo. No passado, a
T k c ê s sustentam que hdp&o de ideias. Ri quê? cópia exigia mais do que duas teclas, mas nem por isso deixava de
acontecer; além disso, o acesso à informaçáo era mais restrito, o que
Náo tenha medo. Quanto mais pessoas ouvirem sobre seu projeto poderia favorecer o ocultarnento do plágio.
de pesquisa, mais seguro você ficar4 de suas ideias. A c6pia de ideias
é um conceito ambíguo: quando a definiçáo de plágio do CNPq a do é todo trabalho acadêmico que um estudante consegue
mencionou (2011), talvez se referisse apenas ao papel dos revisores
N p l a- g i a r . O projsiror náo seria também responsável pelo plágio
de projetos de pesquisa, ou seja, ideias registradas no formato de -

perguntas e hipóteses de investigaçáo. Mas o plágio de ideias náo cometido por seus alunos?
pode impedir a livre troca de opinióes na vida acadêmica. É difícil
As responsabilidades de um professor sáo pedagógicas, em
sustentar que haja plágio de ideias apresentadas apenas oralmente,
particular sobre a qualidade de seu sistema de avaliaçáo - trabalhos
como em salas de aula, por exemplo. Se seu projeto estiver escrito
que exigem mais criatividade e menos compilaçáo de informaçóes,
e você tiver como comprovar a anterioridade, alguém que o copiar
por exemplo, têm chances menores de conter plágio. Há pouca
estará cometendo um plágio literário.
discussáo sobre os métodos de avaliaçáo adotados nas universidades.
No entanto, reconhecer fragilidades no sistema de avaliaçáo de um

H á uma corrida pelo sucesso na vida acadêmica. (rro náo sena a


causa de tanto pldgio?
professor náo o torna culpado do plágio de seus estudantes. Pelo
plágio, só há um responsável: quem assina o texto.

Certamente, essa corrida por métricas, números e impactos,


assei meu ensino médio sendo estimu l d u R copiar. Fmei.pesq~irrr
resumida na máxima em língua inglesa pubLish orperish (publicar
ou perecer), facilita o cenário para o plágio. No atual modelo de P e v u copiar e colar da WkIfkiYédNI.Na universidade) tido qrcntli
avaliaçáo docente, a ascensáo acadêmica depende das publicaçóes aue
1
havia outra forma de pesqujsdr. A c a s a do pligio ndu scrin esse
do pesquisador. No entanto, não acreditamos que o plágio seja ciclo equivocado de repetigáo?
um fenbmeno unicausal. HP pesquisadores produtivos que
jamais plagiaram. E C posslvei sobreviver à corrida dos números Náo sabemos se a causa é apenas a omissão das instituiçóes de
em pbr em risco a integridade individual como acadêmico. ensino quanto à cópia como pesquisa. Mas há algo de longa
A questão das mCnicas de avaliaçáo e seu efeito pernicioso para a duraçáo na prática do plágio: suas origens sáo dispersas e
boa vida acadêmica merece uma urgente discussáo sobre políticas silenciosas. Essa trama mostra que é preciso falar sobre o plágio -
educacionais. do ensino médio às universidades. Mas náo depositaríamos toda
a responsabilidade no professor de ensino médio. Ele um dia foi
om o acesso à informaçáo digital) opldgio náo teria virado uma estudante universitário e não foi sensibilizado para o plágio. Há um
ciclo que se retroalimenta, mas que também impede os estudantes
cpTugu?
de exercer a criatividade.
Náo há estudos sistemáticos que mostrem a frequência do plágio
na história. Assim como a comunicaçáo digital facilitou o acesso à T)or que autoria importa para uma discussáo sobre plágio?
informaçáo, foi esse mesmo espaço que permitiu a emergência dos A
caça-plágios e a rápida identifi~a~áo
da cópia. O u seja, o ambiente Pelo menos por duas razóes. A primeira é que muitos casos
virtual e seu amplo acesso à informaçáo podem estimular o plágio, concretos de plágio resultam da má organizaçáo do trabalho de
escrita entre equipes: o plágio foi cometido por um dos coautores e
construídas nos encontros do grupo, e grande parte delas provém de
todos sáo responsabilizados por ele. A segunda razáo é pela tentativa
dos periódicos de manter o espírito colaborativo da pesquisa pela
meu orientador Como usá-las, se elas ainda núo foram pu blicadas?
coautoria, mas também com o intuito de distinguir plagiadores
Náo há plágio na apropriaçáo de ideias que sáo constriiídas em
de autores íntegros. A saída editorial foi solicitar que cada coautor
diálogo. Por isso é táo importante assistir a seminários e participar
indicasse sua participaçáo na elaboraçáo do artigo.
de grupos de pesquisa ou a t i v i d a d ~inlo~makp a uocx de
experiências de pesquisa. Use ~ S W idcias P vontade. WCC, no

D epois de ler o livro, jiquei com receio de ter coautores. Como


manter o espírito colaborativo da escrita e me proteger do
plágio cometidopelo coautor?
entanto, para sua ingenuidade: pode a
ter sido criado no grupo já seja um &O
seu orientador, isto é, já tenha a s h a t ~ N .NLD S ~ oie
acredita
de mtu de wtoria de
O O FSSO,
aproveite a ocasiáo para o processo de criaçáo: náo há autoria na
Náo tenha receios - esse é o nosso principal conselho. A vida fugacidade da oralidade sem texto escrito.
acadêmica é muito mais rica na coletividade. Mas tome cuidado com
quem elegerá como coautor. Essa é uma relaçáo íntima que precisa
ser protegida pela confiança. Uma boa saída é falar sobre o plágio,
especificar a participaçáo de cada coautor e, o mais importante,
O diretor de meu laboratório diz que somos parte de uma longa
história de sua pesquisa, que teve início há doze anos. Por isso,
ele diz ter o direito de ser listado como o último autor de todas as
assumir que um dos autores será o escritor-chefe do artigo. Assim,
garante-se um texto harmônico e um alerta permanente quanto ao pu blicagóes. E certo?
plágio. Se náo conhece profundamente seu coautor, nosso conselho:
Novamente, essa é uma pergunta que provoca ruídos entre os
não assine em parceria com ele.
campos. Em uma perspectiva das humanidades, a resposta seria
"náo": ser o chefe do laboratório não é ser coautor. Mas importa ter
á muito wmor na vida acadêmica. Tenho colegas cujo
cautela neste debate, por isso os campos precisam conversar entre si.
orientador exige coauto~ade tudo o que escreverem durante a As áreas biomédicas devem pensar suas práticas e aprender com as
pós-graduaçúo. Isso é correto? humanidades. Talvez a corrida das métricas seja reduzida com essa
reflexáo interdisciplinar - o tempo para a ~ r o d u ~ áintelectual
o nas
Náo nos parece correto, mas é preciso ser relativista neste tema. Há humanidades é outro, pois exige u m ritmo distinto.
uma diversidade de práticas e procedimentos na vida acadêmica:
as áreas sáo muito diversas. Por isso, centramos os argumentos
orno definir a ordem de autoria?
deste livro nas ciências humanas - passeamos pela cachaça e pelo
criacionismo, mas nossos argumentos prescritivos se aplicam às
u Por meio de uma discussáo ampla e OS proYavoiS
humanidades. Entre nós, a coautoria como u m dever é uma prática coautores. Antes de iniciar a pesquha, a grupo de rahlbo d m
malvista: o compadrio ou a autoridade do orientador náo justificam discutir participaçóes e contribul@&. O p&&o numr aqude
a coautoria nos trabalhos de estudantes. diretamente responsável pela e r r l n u s e parúúpa & € 6 s
fases da pesquisa. A ordem de autoria importa para honras e

P articipo de um grupo de pesquisa com meu odentador e outros


estudantes. Todos coletamos dados em um mesmo arquivo
histórico e fazemos leituras em comum. Algumas ideias súo
responsabilidades, em particular nas áreès b í ~ d d i a MS
. não
há regra que determine que o orientador ou O diretor di f i d &
devam ser os últimos autores de uma publb@~ de estudantes
de pós-graduação ou que o responsável pelo projeto enviado às
agências de fomento deva ser o primeiro autor.
gênero" ou "Estado de bem-estar social? ou ainda p- wm
um pouco mais complexos* como "a invisibilidadc da violtlncla
doméstica no Brasil". Na verdad~rdhndar autores para jarg6s.
o a@kp&g0como um c ~ n & t O ~ ~ r & dhiks . o conceitos comuns ou teses aceitas U i T i Campo pode S K UiU SW

uma infiaçdo ética. Como e q k a r essa d z f i a ? de ingenuidade. Esses argumentos já pactuados em u m campo são
o ponto de partida compartilhado para todos os autores, iniciantes
Repetimos: o autoplágio é um oximoro, isto é, uma contradiçáo. ou consolidados no tema.
Se plagiar é copiar outro autor, o conceito náo se aplica ao próprio
criador do texto. Se há algo dc equivocedo an repetirs~nío !a pslo cabo de ler uma obra teórica densa. Para entendê-la, recorri a
plágio, mas, talvez, pelas á r v a n duùuldas para produzir o papd,
mn>#ris~.Quais obras devo citar em meu texto?
pelo tempo dos leitores que acreditam ler algo novo ou p d y corridbi
de competiçáo acadêmica por métricas. N o entanto, acreditamos
MmWm, sempre se deve ler a peça original. E 4 ela que deve ser
que o autoplágio foi uma criaçáo bem-sucedida do mercado de caça-
citada. Nao cite autores tscundlrios sobre conceitos autorais.
plágios para garantir seus produtos. Há um mercado do medo em
Segundo, os comuitarlr~a têm &atamexile ara fungo em
curso - muito mais amplo que o de ser enganado por estudantes -,
nosso processo de aprendizado e escritura: e s d m pontos a j a
e os softwarer são uma peça de falsa proteçáo.
descobetca iniciamos peia IUcura de autofies hrtes. Qs commtarisc~
aretccm um papel fundamenta no pmceso &6gi[;0 e na
eu orientador sugeriu o título de meu trabalho rir concluJdu& circula@o de ideias, mas &o autores sem expectativa de ser citados.
M c u m Se eu náo mencionar que a ideia/ , i & , bk p l y o ? O que não pode ser &to, no mamo, lu apwiis o comenpdsw
e ignorar o aumr original, citando este Último como r tivesse sido
Náo. Esse é o papel de seu orientador e de todos os leitores lido. Esse t i um paruno perigoso e uma armadilha M41 para o
intermediários de seu texto ainda na fase de elaboraçáo. Eles pl4gio - os comentaristm agregam intapretaçóes h ideiu dos
dialogam com o texto, fazem sugestóes, agregam possibilidades de autores originais.
leituras e conceitos. Na verdade, essa é uma das experiências mais
fascinantes da vida acadêmica - trocar ideias ainda em construção. squeci as aspas, mas indiquei os autores lidos e citados nas
Particularmente sobre o orientador, sugerir títulos, indicar leituras
ou aprimorar conceitos é parte de sua responsabilidade acadêmica.
Erejrências bibli~~rájcas. Hápldgio em meu texto?
Sendo assim, náo se espera qualquer mençáo à origem da ideia do
As lapas 550 um sinal 6 t h e d t i c o da voz de outros autora
título no texto.
wn ani texto. No rsiuao i &@o literal. das jamais podws ser
esquecidas. O d&ko tipográfico pode ser a rota de um p l w o
pumdo uma ideia é um consenso em uma determinada área de inadvertido ou uma desculpa para as palavras escondidas quando
? Repeti-la sem rejèrências bibliográjcas pode resultar deswbett~.Não basta indicar a t&Cocia ao final do texto - o
mp&gio? leitor precisa ter a rota precisa da &@o, por isro as aspas*o aumr,
o ano da publica@io c a p&ha de onde o t a 0 foi retlnda
É preciso diferenciar o jargáo de um campo das ideias autorais. Náo
há como reclamar autoria para expressóes como "desigualdade de
ao ensino da integridade. Sim, aprendemos a ser éticos escrevendo
rofiuor deve lidar com uma situaçúo de plágio de maneira
os textos acadêmicos. Um software pode fornecer evidências da
cópia para eventuais processos disciplinares, mas náo é capaz di$rente com estudantes de graduaçúo e de pós-graduaçúo?
de orientar o estudante sobre como interpretar ou parafrasear uma
E preciso explicar o adjetivo "diferente" antes de respondermos qiie
fonte, algo fundamental no desenvolvimento de suas habilidades
sim. Há um processo contínuo e cumulativo de aprendizado que se
de escrita. Além disso, é preciso atentar para o mercado que nos
inicia na e jamais se encerra para um acadêmico. Por
impulsiona aos caça-plágios.
isso, um estudante de graduação deve ter sanções diferentes das
aplicadas a um estudante de ~ ó s - g a d u a ~ ápois
o , eles experimentam
ma forma de estudantes núo plagiarem nem entregarem
etapas distintas do aprendizado e da prática de escritura. Mas a
U t r a b a l h o s comprados i o professor adotar o sistema áe provas. nenhum dos dois deve ser aplicada a regra extrema da expulsáo;
O que vocês acham? ambos sáo ainda aprendizes do ofício da escrita acadêmica.

Novamente, esta é uma questáo que náo permite uma resposta banca dc t~valiaçdode uma dissertaçúo de mestrado ou tese de
dogmática diante da diversidade de cursos e abordagens que anima
out o r d o idmt$cau um plágio no texto. O que deve ser &o?
nossas universidades. A prova é um dos sistemas de avaliação, mas
náo é o único; além disso, há críticas importantes a esse método.
Essa é uma das situações mais tristes que uma banca pode
Mas essa pergunta aponta para algo essencial: há formatos de
enfrentar. A dissertaçáo ou a tese são documentos públicos. Elas
avaliaçáo discente em que o plágio náo é possível. A meta de um
sáo a peça final para a conquista de um titulo importante da
professor deve ser elaborar formas de avaliaçáo que exijam dos
carreira acadêmica. Muitas universidades consideram que, uma
estudantes a criação.
vez entregues para a avaliaçáo antes da cena da defesa, não há mais

u m professor identzjcou plágio no trabalho de um de seus


estudantes. O que ele devefdzer?

Primeiro, conversar sobre o fato com o estudante - privadamente,


como a tese ou a dissertaçáo serem alteradas. Nós acreditamos
que um plágio identificado na versáo para a defesa deve levar à
reprovação do candidato. Mas, novamente, é preciso pensar com
cautela essa sentença: uma coisa é o esquecimento de aspas em uma
citaçáo literal; outra coisa são plágios-cópia extensos.
se possível. Segundo, abrir uma discussão com a turma, sem expor o
aluno. Terceiro, o professor pode decidir a sançáo que será aplicada: m plágio foi descoberto em uma dissertaçúo de mestrado ou
o estudante pode refazer o trabalho ou receber nota zero na
avaliaçáo. E importante, no entanto, qiie essas regras sobre o plágio
U t e s e de doutoramento já dqhdida e aprovada. O que deve
discente estejam no programa do curso entregue pelo professor no ser feito?
primeiro dia de aula. O estudante precisa estar informado sobre a
Essa é uma hipótese ainda mais dramática que a anterior. Aqui
gravidade do plágio e como o professor o entende. E antes de iniciar
haverá um processo disciplinar e, se comprovado o plágio, a
as avaliaçóes é fundamental uma aula sobre o tema do plágio.
cassaçáo do título será inevitável. A experiência é triste, longa
e vexatória para todos os personagens envolvidos. Se o autor da
tese ou dissertaçáo reconhecer que plagiou - não importa se
intencionalmente ou náo -, nosso conselho é que se desculpe e peça a
cassaçáo do título, evitando assim submeter-se ao longo processo de
investigaçáo. Náo há como consertar o trabalho posteriormente ao
pós-graduaçáo que aceitam a reuniáo de três artigos acadêmicos -
seu depósito na biblioteca ou, para algumas universidades, sequer
após a defesa.
solitários ou escritos em muroria - para o ritual da defesa. No caso
de programas de p6r-graduafio que exigem tese, o texto deve ter
um autor único. Ainda que haja referbcia bibliográfica à publicaçáo

Q ual é a reponsabilidade do orientador se um plúgio for


descoberto em uma dissertaçáo de mestrado ou tese de doutorado
jú defendidu?
anterior, o capítulo da tese reproduz um texto escrito por dois
autores. Sendo assim, ele pode ser trabalhado na tese como uma
referência bibliográfica, mas náo como u m capítulo inédito para
avaliaçáo pela banca. O u seja, mesmo mencionando a referência
O orientador se sentirá triste, e talvez experimente certo fracasso bibliográfica, nesse caso o autor enfrentaria o problema de que o
por náo ter identificado as palavras escondidas ou por náo ter texto não é uma criaçáo única sua e, talvez, fosse qualificado como
alertado o estudante mais claramente sobre como evitá-lo. Há ainda plágio.
orientadores que se sentem traídos pelos estudantes, pois percebem
uma falha de confiança na relaçáo com eles. Mas o orientador não
é corresponsável pelo plágio. Existe uma autoria na dissertaçáo ou
tese, e é o autor quem responde pelo plágio. Se a cópia tivesse sido
Oque posso publicar sobre minha tese de doutorado durante o
curso? Dados e textos devem ser inéditos para a d+sa?
identificada ainda durante o processo de orientaçáo, caberia ao Nosso primeiro conselho: essas sáo regras de regimento interno de seu
orientador a correçáo do equivoco e o esclarecimento das regras de
programa de pós-gaduaçáo; consulte-as. Se náo houver nenhuma
integridade acadêmica na escrita.
espedficaç50, peça insrrufies ao coordenador do programa. Em

u m estudante teve seti titulo ~(tssddoC I razáo


~ de um processo de
plágio. EEkpode novamenu se submeter a um exame de seleçúo
e ingressar na pós-graduuçáo?
termos p a i s , consideramos que é importante e esperado que se
publique sobre sua pesquk duninte o curso do doutoramento -
C uma forma de se lançar na comunidade acadêmica, conhecer
outros autores e se qualificar para um concurso de professor, por
exemplo. N o entanto, fique atento às regras de autoria exigidas para
Sim. Todos devemos ter o direito de reiniciar nossas histórias e a apresentaçáo de uma tese: se escrever algo em coautoria, deve ser
corrigir nossos erros. Um estudante que experimentou o sofrimento um texto que não será replicado integralmente em sua tese.
de um plágio deve ter a possibilidade de reingressar no universo
acadêmico. Ter vivido uma experiência de plágio náo o transforma
em um ser abjeto à vida acadêmica - na verdade, é exatamente esse
o tabu que precisa ser superado em uma agenda educacional franca
sobre o plágio.
u m leitor identijcou plágio em um artigo jd publicado. Como
ele deve proceder?

Imediatamente comunicar ao editor do periódico. Se possível,


O leitor deve oferecer evidbuas para a hipótese do plágio. O editor
i uma tese em que o autor copiou um dos próprios artigos em receberá a deniincia e procederá à investigaçáo. A análise será
feita por pareceristas independentes que atuará0 como auditores
bibliogrújca à publicagáo anterior. Hú algo de errado neste caso? textuais. Comprovado o plágio, o autor será comunicado e terá a
oportunidade de apresentar suas (des)razóes. O editor publicará
Esta pergunta fala em tese e náo em outros formatos de apresentaçáo uma nota em editorial informaiido os leitores sobre o fato e o
de textos para obtençáo do título de doutor. Há programas de artigo receberá um carimbo vermelho de "retratado". A partir deste
momento, o artigo náo será mais lido ou citado pela comunidade
acadêmica. O caso pode ainda ser enfrentado por comissóes de
industrial compóem a propriedade intelectual, que protege as
ética ou comissóes disciplinares, caso o autor seja também servidor
criaçóes das sinapses humanas. Um caso de plágio textual somente
público no Brasil.
será tratado judicialmente se infringir direito autoral.

u m plágio@i identifcado por um revisor deperiódico acadêmico.


Qual deve ser o papel dos editores?

Rejeitar o artigo. Um artigo submetido a publicaçáo com plágio -


S e o pldgio náo deve ser tratado como u m crime, como evitar que
aspessuas se apropriem de palavras e textos de outros autores?

A ~ensibiliza~áopara o plágio é u m caminho ainda pouco


seja na forma de cópia ou de pastiche - é sumariamente rejeitado. explorado pelas universidades e pelos autores acadêmicos. Falamos
Há discussóes internacionais que sugerem que, além da rejeiçáo, pouco do plágio e menos ainda sobre mecanismos pedagógicos
é dever dos editores tomar outras medidas de cautela, como para que os jovens escritores o evitem. Há u m silêncio sobre o
informar os editores de outros periódicos do campo e o chefe do
plágio que favorece sua prática. A melhor maneira de evitá-lo é
departamento de origem do professor. Nós temos restriçóes a essas orientar os jovens autores sobre seu significado e suas implicaçóes
medidas de publicidade extrema, mas seus defensores argumentam
éticas, bem como sobre como citar e parafrasear corretamente. N o
que o plágio pode indicar outras práticas de má-conduta acadêmica. campo das publicaçóes acadêmicas, os periódicos devem incluir
Um autor que tenha vivido essa experiência terá dificuldades ao orientaçóes sobre plágio em sua política editorial e nas diretrizes
tentar publicar uni artigo no mesmo periódico que identificou para os autores.
o plágio.
mporta conhecer N (der)rnotiva~óesdas pessoal para o pldgu.
infnrmam a chefa doprofPsor nas universidades
IAlguém que tenha esquecido ar nrpa náo pode rer igunlrido rro
e que houve plÚ@o. h o núo é excesso de puniçúo?
c
plagiador no coro dor pmnririhei~us. posrível serinus r~nríveisàs
Sim, a publicidade em excesso antecipa a puniçáo e a amplifica. Mas razóes individuais?
há quem justifique essas rotas de circulaçáo da informaçáo como
uma forma de resistir à criminalizaçáo do plágio ou h expulsáo O caso do passarinheiro é dramático pela extensáo do plágio e pela
do plagiador. Há poucos relatos de experiências ou pesquisas que trama de equívocos cometidos pelo pseudoautor. Mas veja que ele
analisem as consequências ou a eficiência dessas práticas. O COPE, é importante para traçarmos essa diferença entre os tipos de plágio:
por exemplo, recomenda em alguns casos que a instituiçáo a que o um esquecimento de aspas - sim, ela pode ocorrer em uma revisáo
pesquisador está vinculado seja informada, pois o plágio pode ser corrida da tese para a entrega à banca - náo é o mesmo que uma
um sinal de fumaça para outros equívocos de pesquisa. adulteraçáo deliberada de texto, dados e resultados. O desafio, no
entanto, é que todo plagiador, quando descoberto, alega a inocência.
É preciso acreditar que seremos capazes de desenvolver mecanismos
O
ual é a d$rença entre direito autoral epropriedade intelectual?
L
O direito autoral é um dos direitos de propriedade. Trata-se de
pedagógicos eficazes de sensibilizaçáo para o plágio e, mais ainda,
alternarivas à rota punitiva de expulsáo para todos os plagiadores.
um ramo da propriedade intelectual, regido no Brasil pela Lei
de Direitos Autorais (Lei no 9.61011998). O outro ramo é a
propriedade industrial, voltada para marcas e patentes, regida no
Brasil pela Lei no 9.27911996. Juntos, direito autoral e propriedade
cbo p e op&@a mmetiidopa innprofior C muito mairgrave

&a uniu&?
aquele dr wn r d n t e . Opro~ssoorm& &v& ser apuho
Q ual é a recomendaç20 de vocês para o enfrentamento de casos
concretos de plágio nas universidades?

Imaginamos um fluxo ideal. É preciso uma porta de entrada


H1 duas lârmagbcr nessa pergunta. A primeira C que o p&gio centralizada e amplamente difundida para os casos de plágio na
de um profearor 6 mais grave que o de um estudante. Se por universidade - uma comissáo de reflexáo, educação e orientação
grave enfendermos que C urn &to inesperado e com maiores para a comunidade acadêmica: Comissáo de Ética na Escrita.
conwqu#ncias, pois os pmfeaores são autores confidveis a primUn Ela náo deve se confundir com instâncias já constituídas, como
afirrnqáo está anea. No enraaro, discordamos que o plágio ouvidoria, comissáo de ética, comissáo disciplinar ou comitê
dew sempre multar ai crpulsPo das univddadea. O carimbo de ética em pesquisa. As universidades devem criar sua porta de
wmclho da rearaçb C uma expui4ncia dilaceram para aiguns entrada, vinculada à administração superior. Somente após uma
autores. A longa invcsrigaçáo f vacat6rie A expulsço pode ser um avaliaçáo inicial e tentativas prévias de mediação é que os casos
excesso de fórp conm alguCm que se equivocou. devem ser encaminhados à comissáo disciplinar. Na comissáo
disciplinar, o destino de um caso de plágio é o náo acolhimento

C omo um profèsor sobrevive a uma acusa~áode plágio?

Todos devem ter uma vida após o plágio. E esse deve ser um dos
ou o acolhimento da denúncia. Se acolhida, o resultado será a
advertência, a suspensão ou a expulsáo do plagiador. Por isso, sáo
necessárias pausas antes da chegada do caso à comissáo disciplinar.
compromissos das universidades como espaços pedagógicos de
reinvençáo de práticas, inclusive daquelas equivocadas. O plágio é
um erro, um equívoco na trajetória de um pesquisador. Pode ter
consequências danosas à comunidade, como é o caso de pesquisas
em áreas biomédicas com medicamentos. Há ramificaçóes
Q uem deve solucionar as controvér~iassobre pldgio?

A legislaçáo em vigor diz que é a comissáo disciplinar. Nossa


posiçáo é que é necessária uma porta de entrada com espírito mais
múltiplas do plágio a depender das áreas, mas em termos estritos da educativo que punitivo. H á casos que podem ser mediados, em
comunidade acadêmica é preciso acreditar que há vida intelectual que os professores podem ser orientados sobre como lidar com o
após o plágio. plágio de seus estudantes sem imediatamente encaminhá-los para

u m profèsor que tenha plagiado pode ser orientador de


graduaçúo epós-graduapío?

Certamente. E possível aprender com os próprios erros, e mudar


medidas punitivas. Para isso, é preciso que as universidades sejam
criativas e estabeleçam instâncias de reflexáo e monitoramento do
plágio. Uma Comissáo de Ética na Escrita como porta de entrada
para os casos é uma boa tentativa. Mas seu principal papel deve ser
educativo. Pode parecer estranho nominá-la "Comissáo de Ética na
condutas e práticas. Devemos resistir à tese de que os indivíduos Escrita", mas nossa aposta é que a publicidade desafia o tabu.
sáo seus erros; os erros sáo desvios de rota. Um professor que tenha
plagiado é capaz de se reerguer e iniciar uma nova etapa de reflexáo p o m o se investiga uma suspeita de plágio em universidades?
sobre a integridade acadêmica. Lembramos que cabe à universidade
b
essa aposta na transmutaçáo dos erros em boas práticas. E mais: A materialidade do plágio é fundamental. Ela pode ser alcançada
um professor com essa experiência pode ser alguém sensível ao que por máquinas caça-plágios, mas requer também bons leitores que
precisa ser dito e ensinado para evitar o plágio. atuam como auditores das evidências. É preciso ouvir as partes -
pseudoautor e autor ofendido, caso este tenha sido o responsável pela
PALAVRAS ESCONDIDAS

denúncia. A aposta na mediaçáo é a melhor saída, em particular


para a promoçáo do espírito pedagógico da universidade. Náo sendo
nual áeve ser o papel das universidades?

possível a mediaçáo, a comissáo disciplinar é a rota crítica para a


Ktl;i pelo menos três papéis: produzir conhecimento sobre o plágio,
absolviçáo ou a puniçso. E111 c;isos dc siispciia cIc plágio em artigo sensibilizar jovens escritores para a integridade acadêmica e criar
submetido por um pescliiiudor da iii>iversidrdca iim periódico ou já alternativas ao movimento de criminali~a~áo do plágio. Órgáos de
publicado, o editor do pcriciciico tlevc ser iiirormado do fato. fomento à pesquisa têm seu papel na criaçáo de diretrizes, mas é nas
universidades que a mudança de práticas e mentalidades ocorrerá.

O carimbo vermelho do plúgio é um sinal de vergonha. Mas a


vergonha nem sempre é capaz de mudar comportamentos. Por
que náo castigar O plagiador?
É preciso romper o silêncio sobre o plágio.

A vergoii ha 6 uni seiirimciico opressor e iiititiiidativn. Unia pessoa


eiivcrgonhada jiode sentir n-ictio. N l o acredit:triios qlic a vergonlia
seja pedagtjgica, iiias ela ii ~ i i i irecurso iniposto pela cotiiuiiiclacir
aca<lêiiiica. Os que dcfciidciii n criiiiiiializaçãci do pligin pcde~n
que, aléni da vergoiilia c do ostrscismo acndêinico. o plagiador seja
punido coni a força do castigo penal. I'ara iids, porém, o cai-irnbo
vcrnielho C- também unia fi,riii;i rle piiiiição c iiáo sO dc iiiiposiçáo
tla vergorilia ~iíihlica.

ual é a importância de documentos e diretrizes como os da


e do CNPq?

Eles sáo orientaçóes normativas. Precisamos de guias para o


pensamento e para a soluçáo de casos concretos. No entanto, tais
orientações nio sáo capazes de alterar ii rcalirlaclc - ri aposta devc
ser de riiais lorigo prazo e ainda mais Icnra clo qiic a siinples
declar;i<;áodo que F cerro oii criarlu iio cariipo d~ pesqiiisa e da
escrita. Aléiii clisso, esscs tlvciiinentos devciri ser perin;incntciiietitc
revistos e adcq~i~idos?I diversidade das práticas acadCinicas.
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PALAVI~AS
ESCONDIDAS

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tikk. Slavoj. I'rcsro: ~ ~ ~ i t i n o mda


i arazáo
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. MO/knCid:
seis notas h 1n;Irgciii. 'liaduçáo: Miguel Serras Pereira. Lisboa: Relógio
d'Agii;i, 2009. 1). 97- 124. Publicado originaimente em 2008.

agradecimento 53, 54, 57


angústia
da contaminaçáo 69,70
da influência 40,69
apropriação
criativa 26, 44, 47, 50
indevida 23,24,42,43,63,90, 106, 113, 138
apud 84, 85, 131, 146
artigo de revisão 64, 72
aspas 72, 79, 80, 82, 116, 130, 134, 145, 149, 153
assinatura 14, 24, 25, 29, 35, 36, 38, 48, 49, 50, 51, 52, 54, 55, 56, 59, 60,
61, 83, 90,92
autoplágio 63,64,65, 144
autor
autoridade 60
condições de autoria - ver regras de autoria
convidado 55,60
fantasma 55, 56, 57, 58, 59
presenteado 55, 59,60, 131

Biblioteca Virtual SciELO 65, 146

caça-plágio - ver software caça-plágio


Capes (Coordenaçáo de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) 21,
Fapesp (Fundaçáo de Amparo h Pesquisa do Estado de Sáo ~ a u l o )91
22, 106, 110, 156 fator de impacto 60
carimbo vermelho - ver retrataçáo
fraude 19,26,48, 51,67,72, 103, 104, 116
citaçáo
fundadores da discursividade 26, 47, 75, 85, 92
direta - ver citação literal
índice de 60
indireta - ver paráfrase
ghost author - ver autor fantasma
literal 14, 24, 31, 39, 40, 71, 76, 79, 80, 84, 86, 93, 112, 131, 145, 149
gift author - ver autor presenteado
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
guest author - ver autor convidado
57, 58, 63, 80, 81, 84, 126, 140, 144, 156
código de honra 107, 117, 118
comércio de trabalhos prontos -ver fábrica de texto
comissão ICMJE (International Committee ofMedical Journal Editors) 53, 55, 123
de ética 22, 132, 135, 152, 155 imitaçáo criativa 42, 43, 44
de Ética na Escrita 155 índice de citaçáo - ver citaçáo
disciplinar 22, 152, 155, 156 ineditismo 24, 26, 50, 105, 106, 151
compra de trabalhos prontos -ver fábrica de texto infraçáo
conflito de interesses 61, 125 digital 22
COPE (Committee on Publication Ethics) 54, 55, 56, 122, 126, 152 estudantil 106, 107
crédito 23, 24,26, 27, 28, 51, 54, 92, 106, 119 ética 18, 22, 63, 137, 144
criptomnésia 40, 48 penal capital 132
textual 99
inglês científico 37, 106, 127
dados
adulteraçáo de 22, 59, 99, 101, 153
fabricaçáo de 98, 100, 101, 102, 104, 108, 123
154, 157
da comunicação acadêmica 122, 124, 133
falsificaçáo de 22,48, 98, 100, 122, 131
intertextualidade 34,41, 42, 43,45,46, 78, 84, 138
direito autoral 21, 44, 47, 66, 90, 97, 99, 117, 137, 152
Lei de Direitos Autorais (LDA) 97, 152
domínio público 21
literatura cinzenta 64

ética
acadêmica 17,20,72, 103, 107, 108 máquina caça-plágio - ver software caça-plágio
em pesquisa 131 memória fotográfica 51, 67,68, 69, 70
na escrita acadêmica 134, 146, '147

normalização 116, 117, 123, 146, 147


fabricaçáo de dados - ver dados notas de leitura 41, 67, 70, 71, 118, 121, 146
fábrica de texto 22, 103, 105, 106, 107, 108, 115, 117, 131, 148
falsificaçáo de dados - ver dados
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) 22, 106, 110
originalidade 23, 26, 37,49, 56, 74, 86, 94, 97, 98, 105, 106, 111, 117, 139
relatório de 112, 138
ORI (Ofice of Reseurch Integrity) 123

parecer - ver revisão


paródia 24,44,45,46,47, 96, 102, 138
pastiche 14, 34, 36, 39, 41, 42, 43, 44, 98, 113, 116, 138, 139, 147, 152
propriedade intelectual 20, 21, 28, 36, 44,46,47, 48, 73, 152
publicaçáo fatiada 65
publish orperish 140

referência 41, 63, 66, 69, 70, 81, 82, 83, 86, 92, 112, 144, 145, 146, 150 Agualusa, José Eduardo 95,96, 171
cruzada 85, 86 AJ 68
regras Althusser, Louis 75, 171
da escrita acadêmica 27, 79, 114, 132, 138, 147, 150 Amado, Jorge 95
de autoria 53, 143, 151 Arendt, Hannah 116
relatório de originalidade - ver originalidade Assis, Machado de 21, 138
retrataçáo 18, 22,40, 59, 72, 73, 77, 110, 122, 123, 124, 127, 134, 151, 154
revisáo 17, 18, 19, 54, 73, 74, 81, 124, 125, 126, 127, 128, 140, 152
Barthes, Roland 13, 14,41,92, 93, 159
Baudelaire, Charles 82
software Borges, Jorge Luis 20, 42, 46, 47,68, 172
bibliográfico 70, 146 Bosch, Hieronymus 33
caça-plágio 22,26,31,38,63,64, 105, 107, 109, 110, 111, 112, 113, 114, Botero, Fernando 34, 35,36, 172
133, 138, 144, 148 Bowers, Neal 50, 51, 52, 172
Brant, Sebastian 33
Brown, Wendy 86
tesauro 94, 113
trabalhos prontos - ver fábrica de texto
Coleridge, Samuel 68

da Vinci, Leonardo 14, 34, 35, 138


Derrida, Jacques 119, 120, 173
Descartes, René 32, 119, 120
Diderot, Denis 93, 173
Duchamp, Marcel 14,34, 35,36, 138
Eco, Umberto 24, 39, 41,42, 48, 61, 62, 63, 74, 75, 76, 129, 162, 167 Nietzsche, Friedrich 47,48, 174
F P
Felig, Philip 127 Picasso, Pablo 94,95
Foucault, Michel 26,33,49, 50, 51, 52,75, 91, 92, 119, 120, 162, 163, 173 Proust, Marcel 82
Freud, Sigmund 26,41, 85
Fujii, Yoshitaka 123, 175 Q
Queiroz, Rache1 de 96

Gasparetto, Zíbia 96, 97 R


Goodwin, Doris 118, 119, 120, 121, 174, 175 Rodrigues, Nelson 76, 177
Goya, Francisco José de 45, 119, 121, 134 Rorty, Richard 74,75,76, 167

Hugo, Victor 96 Sabino, Fernando 138


Shakespeare, William 44, 49, 50
J Shereshevsky, Solomon 68, 179
Jacquet, Alain 94, 95 Sokal, Alan 125, 126, 178
Jung, Carl 47, 48, 174 Soman, Vijay 127
S~ielberg,Steven 121
Sterling, Linder 46, 47
Kant, Immanuel 45,46 Suk, Hwang Woo 101
Katchadjian, Pablo 46, 47
Keller, Helen 58
Kerner, Justinus 48 Tong, Rosemarie 70, 71, 92, 93
Kipling, Rudyard 82 Twain, Mark 58, 177
Kodama, María 46,47
Konder, Leandro 116
Wachslicht-Rodbard, Helena 126, 127
Woolf, Virginia 81, 82
Lacan, Jacques 39,40,41
Leite, Mafalda 35, 171
Lucado, Max 96,97
Xin, Yin 34, 35,36

z
Magalhães, Thomaz 58 iiiek, Slavoj 45,46,75, 86, 180
Magritte, René 13, 14, 45, 129, 135, 137
Manet, Édouard 44, 45, 83, 94, 95
Marx, Karl 26,75,76, 85,92,95,96
Capa e p. 13: Magritte, René. A leitora submissa, 1928, óleo sobre tela,
92 x 73cm. Coleção particular.

p. 18: Renoir, Pierre-Auguste. A leitora (jovem sentada), 1887, óleo sobre


tela, 34 x 27cm. Coleçáo particular.

p. 20: Cuesta, Juan de la. Capa da primeira ediçáo de O engenhosofidalgo


Dom Quixote de La Mancha, 1605. Acervo da Biblioteca Nacional da
Espanha (Madri).

p. 25: Debret, Jean-Baptiste. Pequena moenda portátil, 1835, aquarela


sobre papel, 17,6 x 24,5cm. Publicada originalmente em Debret, Jean-
Baptiste. Kagem pitoresca e histórica ao Brasil.

p. 29: Cerâmica siciliana, c. 330 a.C., 24cm. Museu Arqueológico Regional


Paolo Orsi (Siracusa).

p. 32: Jorge Hamartolus trabalhando, séc. XIV. Iluminura de artista


anônimo. Publicada originalmente em Sarabyanov, V.D.; Smirnova, E.
A história da arte antiga.

p. 33: Bosch, Hieronymus. O navio dos loucos, c. 1490-1500, óleo sobre


madeira, 58 x 33cm. Acervo do Museu do Louvre (Paris).
p. 35: Da Vinci, Leonardo. Mona Lisa (la Gioconda), 1503, óleo sobre
p. 56: No arquivo, 1717, gravura em metal. Autoria desconhecida.
madeira, 77 x 53cm. Acervo do Museu do Louvre (Paris).
p. 59: Rontgen, Wilhelm Conrad. Fotografia de raios X da máo da esposa
Duchamp, Marcel. L. H.O. 0.Q., 1919, ready-made, 19,7x 12,4 cm. de Wilhelm Rontgen, 1896.
Acervo do Centro Georges Pompidou (Paris).
p. 61: Arago, Jacques Etienne. Castigo de escravo, 1837, 19 x 1lcm,
Xin, Yin. Mona Lisa após Da Hnci, 2003, óleo sobre tela, litogafia colorida a mão. Coleçáo do Museu Afro-Brasil.
200 x 160cm. Coieçáo particular.
p. 63: Nua no espelho, 1850-1852, daguerreótipo colorido a máo,
Botero, Fernando. Mona Lisa, 1978, óleo sobre tela, 183 x 166cm. 6,4 x 5,8cm. Autoria desconhecida. Acervo do Museu J. Paul Getty (Los
Acervo do Museu Botero (Bogotá).
Angeles).
p. 39: Movi-dols, 1917, ilustraçáo na revista Photoplay. Autoria
p. 68: Samuel Zylor Coleridge, séc. XVIII. Autoria desconhecida.
desconhecida.
p. 71: Na escrivaninha, c. 1790, meio aquoso sobre tela, 101,5 x 134,5cm.
p. 42: Delson, Sarah. Design de capa de 7he heanof redness. 2003, publicado
Autoria desconhecida. Acervo da Galeria Nacional de Arte (Estados
pelo selo Picador, da editora MacMillan. Unidos).
p. 44: O retrato de Chandos, c. 1610, óleo sobre tela, 55,2 x 43,8cm.
p. 74: Elías García Martínez; Cecilia Giménez. Antesldepois do afiesco,
Autoria desconhecida, atribuída a John Taylor. Acervo da Galeria Nacional
afresco, 50 x 4Ocm. Santuário da Igreja da Misericórdia (Borja, Espanha).
de Imagem (Londres).
p. 76: Tintoretto. A crirzçáo dos animais, 1551-1552, óleo sobre tela,
p. 45: Goya, Francisco José de. Majas em um balcão, C. 1810, óleo sobre
151 x 258cm. Acervo da Web Gallery of Art (Europa).
tela, 193 x 124,5cm. Acervo do Museu Metropolitano de Arte (Nova
York) . p. 79: Tissot, James. As sete trombetas de Jericó, c. 1896-1902, pache sobre
placa, 18,7 x 30,7cm. Acervo do Museu Judeu (Nova York).
Manet, Édouard. O balcão, 1868-1869, óleo sobre tela,
170 x 124,5cm. Acervo do Museu de Orsay (Paris). p. 81: Sinclair, T. Capa do álbum E midnight stars; Serenade, de Geo
Cooper e ].R. Thomas, 1868, litogafia, 34cm.
Magritte, René. Perspectiva II: o balcdo de Manet, 1950, óleo sobre
tela, 80 x 6Ocm. Acervo do Museu de Belas Artes de Gante (Bélgica). p. 83: Ticiano. Wnus de Urbino, 1538, óleo sobre tela, 119 x 165cm.
Acervo da Galeria Uffizi (Florença).
p. 47: Sterling, Linder. Colagem sem título, 1976.
Manet, Édouard. Olympia, 1863, óleo sobre tela, 130,5 x 190cm.
p. 51: Bowers, Neal. Tentb-year elegy. Arte sobre poema publicado na
Acervo do Museu de Orsay (Paris).
revista Poetry em setembro de 1990.
p. 85: Larsson, Carl. Recanto dapreguiçu, 1897, aquarela sobre papel.
p. 55: Metsu, Gabriel. A escritora surpresa, c. 1658-1660, óleo sobre
madeira, 45,2 x 38,6cm. Acervo da Coleção Wallace (Londres).
p. 9 1: Brouillet, André. Uma a u h clinica na Salpêtrière, 1887, óleo sobre p. 116: Medeiros, Abinair Notas v e r m e h , 1962. Arte sobre imagem de
tela, 3 x 4,25m. Quadro exposto na Faculdade de Medicina da Universidade boletim escolar.
de Paris V.
p. 119: Goya, Francisco José de. Lunático atrás das grades, 1824-1828, giz
p. 94: Manet, Édouard. Almoyo na relva, 1863, óleo sobre tela, sobre papel, 19,l x 14,5crn. Acervo da Web Gallery of Art.
208 x 264,5 crn. Acervo do Museu de Orsay (Paris).
p. 121: Goya, Francisco José de. Por ter nascido em outro lugar, c. 1810-
Picasso, Pablo. Almoço na relva, 1960, óleo sobre tela, 130 x 195cm. 1811, guache sobre papel, 20,5 x 14,4cm. Acervo do Museu Nacional do
Acervo do Museu Nacional Picasso (Paris). Prado (Madri).

Jacquet, Alain. Almoço na relva, 1964, pintura acrílica e serigrafia p. 122: Marca d'água sobre artigo retratado. Reproduçáo de base de dados.
sobre tela, 172,5 x 196cm. Acervo do Centro Georges Pompidou (Paris).
p. 124: Daurnier, Honoré. Quatro amadores de impressóes, c. 1860-1863,
p. 97: Daumier, Honoré. O dejnsor, c. 1862-1865, guache e aquarela óleo sobre painel, 31,8 x 40,úcm. Acervo do Instituto de Arte Sterling e
sobre papel, 19 x 29,5cm. Acervo do Museu de Orsay (Paris). Francine Clark (Williarnstown).

p. 99: North, Marianne. Aqueduto do Morro Nho, Brasil, 1873, óleo sobre p. 129: Kiiiiicliika, .li>yolian. N~knrnl<rn Sojuro, Onoe Kikugoro e Ichikawa
placa, 44 x 35cm. Acervo dos Jardins Botânicos Reais, Kew (Londres). i Iin>trr-o»o Meoto Dosbi Kokoro no Ura-mote,
Sadlrnji co»ro ni<~)ri/~rrln~/o,rs
1878. iriptico <)l>an,72 r 35c1ii.Acervo da GaleriaToshidama (Frome).
p. 103: Hokusai, Katsushika. Ofantasma de Kohada Koheiji, 183 1, ukyio-e,
9,3 x 11,2crn. Acervo do Museu Guimet (Paris). p. 130: Makovsky, Vladimir. Osegredo, 1884, óleo sobre tela, 40,6 x 3 1,3cm.

p. 104: Bilbao, Pablito. Propaganda volante defáhrica de textos, 2013, p. 131: Hokusai, Katsushika. Duas mulheres brincando com fantoches de
fotografia digital. Noroma e Somma, c. 1800, surimono ukiyo-e, 13,6 x 15cm. Acervo do
Museu de Arte de Harvard (Carnbridge).
p. 108: Bruegel, Pieter, o Velho. A cozinha gorda, 1563, gravura,
22,2 x 29,5crn. Acervo do Museu Metropolitano de Arte (Nova York). p. 134: Goya, Francisco José de. Ainda aprendo, c. 1824, lápis litográfico
sobre papel, 19,2 x 14,5cm. Acervo do Museu do Prado (Madri).
p. 11 1: ter Borch, Gerard. Mulher bebendo vinho, c. 1657, óleo sobre tela,
28,7 x 37,5cm. Acervo do Museu Stadel.

p. 112: Troyon, Constant. Cáes correndo, 1853, óleo sobre tela, 75 x 11lcm.
Acervo do Museu Pushkin de Belas Artes (Moscou).

p. 115: Verrneer, Johannes. Mulher segurando uma balança, c. 1664,


óleo sobre tela, 39,7 x 35,5crn. Acervo da Galeria Nacional de Arte
(Washington).
Debora Diniz e Ana Terra sáo parceiras de longa data.
Conheceram-se em um curso de gramática da língua inglesa.
Desde entáo, trabalham juntas em livros, traduçóes e filmes.
De vez em quando, visitam-se à beira da praia. Ana é linguista,
tradutora e especialista em gramática. Dança nas horas vagas e
edita livros como profissáo. Seu novo desafio é adestrar o próprio
cáo, cujo nome é um plágio. Debora é antropóloga, descobriu-se
documentarista e vagueia com o marido e os cáes pelo mundo.
Já foi pesquisadora visitante no Canadá, nos Estados Unidos, na
França, na Holanda, na Inglaterra e no Japáo.
E nesse contexto que congratulo Debora
Diniz e Ana Terra pela coragem de abordar
tema tão sensível e pela competência com
que o fazem. Em quase duas centenas de
páginas, as autoras aprofundam a revisão
e discussão crítica sobre o tema e cobrem
desde aspectos da história do plágio na
literatura mundial até as práticas correntes e,
infelizmente, corriqueiras de "cópia e cola",
facilitadas pelas tecnologias modernas e
pelo acesso quase irrestrito ao universo da
internet.

Plág~o;palavras escondidas é escrito em


linguagem fluida, livre de jargões e muito
agradável de ler. Por seu caráter inovador e
qualidade, considero o trabalho de Debora
Diniz e Ana Terra altamente recomendado
como texto fundamental tanto na
graduação como na pós-graduação, e em
qualqiier campo de formação profissional.
Para enfrentarmos de verdade o plágio,
precisamos trazer o assunto para nossas
salas de aula e círculos de pares e colegas
- afinal, como mostram as autoras, o

plágio não está circunscrito ao outro lado do


mundo, mas muito mais perto de nós, quem
sabe na tese que avaliamos, na revista
que editamos ou mesmo na aula a que
assistimos. É um problema de todos nós!

Esta obra foi composta em Adobe Garamond Pro e impressa Carlos E. A. Coimbra Jr.
pela Imos Gráfica e Editora Ltda. em offset 75g para as editoras Escola Nacional de Saúde Pública
LetrasLivres e Fiocruz em agosto de 2014
Fundação Oswaldo Cruz

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