Você está na página 1de 10

OBJETOS DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS: UM PATRIMÔNIO A SER

PRESERVADO1

Reginaldo Alberto MELONI2


Marcus GRANATO3

RESUMO

O processo de aquisição de objetos de educação em ciências pelas escolas brasileiras iniciou-


se no século XIX e se desenvolveu até a década de 1960. Após esse período houve uma
desvalorização das metodologias que promoviam o ensino prático das ciências e muitos
desses materiais desapareceram ou ficaram esquecidos nos porões das escolas. A maioria dos
objetos que se conservaram foi mantida, em geral, em péssimas condições de armazenamento.
Nesse artigo será feita uma avaliação da situação dos objetos de ensino de Química
encontrados na Escola Estadual Culto à Ciência, situada em Campinas-SP. Essa instituição foi
fundada em 1873, se transformou no segundo ginásio do estado de São Paulo em 1896 e se
equiparou ao Ginásio Nacional em 1901. O trabalho de identificação e catalogação dos
objetos de ensino de Química feito nessa instituição fez parte de um estudo sobre como se
desenvolveu a educação secundária em Química entre os anos quarenta e setenta do século
XX no Brasil. Além de descritas as iniciativas realizadas para a preservação desse conjunto de
peças, são feitas sugestões de ações para a conservação dessa tipologia de patrimônio cultural
com os objetivos de contribuir para a preservação da memória das instituições escolares e
possibilitar que esses materiais sejam usados para a educação em ciências.

Palavras-chave: Patrimônio de ensino. Objetos de educação em ciências. Preservação de


patrimônio.

1 INTRODUÇÃO

O patrimônio cultural de uma nação inclui todos os bens tangíveis e intangíveis que
possuem valores culturais (estético, artístico, científico, arquitetônico, histórico, etc.) para a
sua sociedade. Eles são assim separados para serem protegidos, de forma que as gerações
futuras deles possam desfrutar. A Declaração de Caracas define de forma ampla esse
conceito4, que inclui o patrimônio de ensino constituído por artefatos utilizados para a

1
Este trabalho está no âmbito das ações que estão sendo desenvolvidas pelo Grupo de estudos e pesquisas em
História da Educação, Cultura Escolar e Cidadania da Faculdade de Educação da Unicamp – CIVILIS (trata-se
de um projeto desenvolvido nas escolas públicas mais antigas de Campinas-SP). Os procedimentos específicos
de conservação dos objetos de educação em ciências foram desenvolvidos em um projeto realizado no Museu de
Astronomia e Ciências Afins – MAST (trata-se do projeto intitulado “A cultura material do ensino de Química
da escola secundária paulista - 1900\1971”) e contou com o apoio financeiro da Fapesp (trata-se do projeto “O
ensino de Química no Brasil – 1945/1971”).
2
Doutor em Educação. Professor Adjunto do Departamento de Ciências Exatas e da Terra/Setor de Educação em
Ciências, Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema. meloni@unifesp.br
3
Doutor em Engenharia Metalúrgica e de Materiais. Coordenador de Museologia, pesquisador e professor do
Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio - PPG-PMUS (UNIRIO/MAST), Museu de
Astronomia e Ciências Afins. marcus@mast.br
4
"O Patrimônio Cultural de uma nação, de uma região ou de uma comunidade é composto de todas as
expressões materiais e espirituais que lhe constituem, incluindo o meio ambiente natural" (Declaração de

Revista Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v.9, n.2, jul./dez. 2014


educação nos vários níveis e disciplinas, entre os quais aqueles relacionados ao ensino das
ciências na educação básica.
Nesse artigo será feita uma avaliação da situação desse material e sugestões de ações
para a conservação dessa tipologia de patrimônio cultural com os objetivos de contribuir para
a preservação da memória das instituições escolares e para a educação em ciências.
O processo de aquisição de objetos de educação em ciências pelas escolas brasileiras
iniciou-se no século XIX e se desenvolveu até a década de 1960. Nesse período são
identificados três grandes movimentos nos quais a educação prática das ciências foi
valorizada: o método intuitivo na segunda metade do século XIX; a Escola Nova nos anos
trinta e as propostas de renovação da educação em ciências no pós-guerra. Em cada um desses
períodos se discutiu tanto os conteúdos conceituais como a metodologia do ensino, visando
oferecer uma educação em ciências mais prática e menos livresca.
Acompanhando esses movimentos, as legislações educacionais estabeleceram regras
para o desenvolvimento do currículo. No início do século XX, foi estabelecido que os
ginásios que quisessem habilitar seus egressos para as escolas de nível superior deveriam se
orientar pelo que definia a Congregação do Ginásio Nacional (Código dos Institutos Officiaes
do Ensino Superior e Secundário), o que resultou para os ginásios na necessidade de aquisição
de materiais pedagógicos, inclusive para a educação nas ciências.
O movimento promovido pelos escolanovistas desde os anos vinte, a Reforma
Francisco Campos nos anos trinta e a Reforma Capanema nos anos quarenta também
incentivaram a educação pelas chamadas metodologias ativas. Na exposição de motivos que
apresentou a Lei da reforma Capanema o então ministro argumentou que

No ensino científico, mais do que qualquer outra, falhará sempre irremediavelmente


o processo do erudito monologar docente, a atitude do professor que realiza uma
experiência diante dos alunos inexpertos como se estivesse fazendo uma
representação, o método de inscrever na memória a ciência dos livros. Nas aulas das
disciplinas científicas, os alunos terão que discutir e verificar, terão que ver e fazer.
(CAPANEMA, 1943, p. 16).

No período que sucedeu a segunda grande guerra as disputas entre as duas maiores
potências mundiais promoveram iniciativas para atualizar os conteúdos e modificar as
metodologias do ensino das ciências. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Educação Ciência e
Cultura (Ibecc) foi criado especificamente com esse fim, mais tarde, a Fundação Brasileira

Caracas - 1992). Disponível em: <http://www.revistamuseu.com.br/legislacao/museologia/decl_caracas.asp>.


Acesso: 26 jun. 2014.

Revista Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v.9, n.2, jul./dez. 2014


para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (Funbec) também iria contribuir com a
elaboração de materiais para a realização de atividades experimentais (KRASILCHIC, 1995).
No entanto, as mudanças ocorridas na educação nos anos sessenta e setenta, como a
ampliação das redes escolares sem o correspondente investimento e, após a elaboração da Lei
5692/71, a promoção de uma concepção tecnicista e acrítica do ensino, fez com que a
educação em ciências deixasse de estimular a observação e o contato direto com os
fenômenos da natureza, afastando o ensino das ciências dos laboratórios escolares.
Após esse período muitos objetos desapareceram, seja pelo descarte provocado pela
necessidade de espaço nas instituições, seja pelo uso em outros ambientes em função de
razões estéticas. A maioria dos objetos que se conservaram foi mantida em péssimas
condições de armazenamento, geralmente em ambientes úmidos e empoeirados. Apesar disso,
ainda há muitos objetos nas instituições escolares que podem ser salvos e conservados para a
preservação da memória das instituições e para o ensino prático das ciências.
Há poucos estudos sobre o patrimônio constituído por objetos de ensino,
especialmente sobre os existentes nas escolas secundárias. Em geral os estudos concentram-se
no patrimônio de Ciência e Tecnologia (C&T) das instituições de pesquisa e das
universidades e, embora esses estudos possam contribuir para a compreensão das
características do patrimônio de ensino das ciências, também se deve considerar que esses
materiais e as instituições de educação básica possuem realidades próprias que precisam ser
compreendidas, se o objetivo é a realização de ações para a conservação desse patrimônio.
Em geral, considera-se como patrimônio de C&T o conhecimento científico e
tecnológico, os objetos, os documentos com suporte em papel, as coleções arqueológicas e
etnográficas, os espécimes biológicos e as construções arquitetônicas (GRANATO, 2009).
Internacionalmente, o patrimônio de C&T, nomeado normalmente como patrimônio
científico, inclui uma grande diversidade de conjuntos de artefatos, inclusive os de ensino.
Constitui-se, assim, num aglomerado de materialidades com valores variados atribuídos, que
muitas vezes são excludentes, criando espaços individualizados de objetos que se diferenciam
e muitas vezes não, caracterizando subconjuntos que incluem artefatos pertencentes a tipos
diferentes de patrimônio cultural. Sendo assim, o trabalho de preservação também pressupõe a
identificação do que há de característico em cada tipo de material.
No caso dos objetos de ensino, constata-se que eles não têm como finalidade a
produção de conhecimento científico e tecnológico e, por isso, dificilmente se enquadrariam
nas características que definem o patrimônio de C&T. Sendo assim, é preferível tratá-los
como “objetos de educação em ciências” e nessa categoria englobar todos os objetos que de

Revista Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v.9, n.2, jul./dez. 2014


alguma forma fizeram parte do processo de ensino e de aprendizagem que se desenvolveu na
instituição escolar.

Estudos têm demonstrado que em se tratando de patrimônio de C&T, “a vida típica


dos objetos envolve três estágios: o uso regular, o limbo e a eliminação” (LOURENÇO;
GUESSNER, 2012, p. 6). Fazendo um paralelo com a situação do patrimônio de ensino, se
pode afirmar que grande parte dos acervos escolares encontra-se entre o limbo e a eliminação
já que no Brasil há poucas ações de preservação de objetos de educação em ciências e,
consequentemente, muitos conjuntos de objetos se encontram em situação de risco.

Nos últimos quarenta anos, o material adquirido ao longo de século XX foi sendo
gradativamente esquecido e exposto a um processo contínuo de deterioração. Objetos com
partes de metal foram se oxidando, os que contêm componentes em madeira sofreram ataques
de pragas como, por exemplo, cupins, o que era feito de couro ou pano se ressecou e muitos
dos objetos de vidro se quebraram.

O primeiro e talvez mais importante problema a ser enfrentado para a preservação dos
objetos de educação em ciências, é que, apesar de a Constituição Federal definir “as criações
científicas, artísticas e tecnológicas” como patrimônio cultural (Artigo 216), ainda não há, de
fato, o reconhecimento do valor cultural do material pedagógico existente nas escolas.

O segundo desafio para a conservação dos objetos é a ausência de conhecimento


técnico sobre os conceitos ou categorias que devem ser usados no registro desses objetos e
sobre as ações que podem ser realizadas para a conservação dos materiais constituintes.

São raras as ações de conservação que são realizadas nesses objetos e, quando são
feitas, acontecem sem o devido rigor técnico e por iniciativas individuais e momentâneas de
um gestor ou de um professor interessado nas peças e não pelo desenvolvimento de um
projeto de longo prazo consistente e com bases teóricas e metodológicas sólidas. No entanto,
mesmo em condições não ideais, há ações que podem ser feitas no âmbito das instituições no
sentido de preservar o patrimônio escolar5.

A seguir, será apresentada uma experiência de organização de um acervo de objetos de


ensino de Química pertencentes a uma escola da rede pública do Estado de São Paulo e serão
propostos alguns conceitos e ações para a conservação dos objetos escolares.

5
O MAST produziu uma cartilha de orientações gerais para a preservação do patrimônio cultural de C&T que
podem auxiliar na preservação do patrimônio de ensino. Disponível em:
<http://www.mast.br/pdf/cartilha_de_orientacoes_gerais_para_preservacao_do_patrimonio_cultural_de_ciencia_
e_tecnologia_v2.pdf>. Acesso em: 04 de set. 2014.

Revista Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v.9, n.2, jul./dez. 2014


2 CONTEÚDO

O acervo que foi organizado pertence à Escola Estadual Culto à Ciência situada em
Campinas-SP. Trata-se de uma instituição fundada em 1873, que se transformou no segundo
ginásio do estado de São Paulo em 1895 e se equiparou ao Ginásio Nacional em 1901
(PAULA, 1946). O trabalho de identificação e catalogação dos objetos de ensino de Química
fez parte de um estudo sobre como se desenvolveu a educação secundária em Química entre
os anos quarenta e setenta do século XX no Brasil6.
Para a delimitação dos objetos de interesse foram identificados, no conjunto de objetos
existentes na escola, todos os “objetos de educação em ciências”, ou seja, todos os objetos que
foram usados para o ensino das ciências da natureza. Após essa identificação, foi feita a
seleção dos objetos específicos para o ensino de Química.
Para realizar essa seleção, foram usadas três fontes: os manuais de ensino, os
inventários da escola e os catálogos de fabricantes de materiais. Os manuais de ensino
ajudaram a identificar os objetos e as formas de uso e possibilitaram uma maior compreensão
da relação entre a cultura material específica da escola e as orientações gerais da disciplina de
Química; os inventários indicaram os acervos da escola em cada período e permitiram que
fossem verificados os objetos que permaneceram e os que desapareceram ao longo do tempo;
os catálogos ofereceram elementos para a identificação dos objetos e sua provável origem.
O trabalho de seleção dos objetos, embora tenha se concentrado em um período de
tempo, aconteceu de forma permanente devido a dois fatores: durante a pesquisa foram
encontrados outros objetos de educação em Química que não estavam juntos com os
primeiros objetos identificados; a investigação das finalidades dos objetos revelou outros
objetos que foram produzidos para as atividades experimentais de Química.
Após essa fase, o material foi submetido a outras etapas do processo de preservação7.
Os procedimentos técnicos para a preservação são a pesquisa, a documentação e a
conservação, sendo que esta pode incluir basicamente dois tipos de ações diretas sobre os
objetos: a conservação preventiva ou curativa e a restauração, que na verdade trata-se de uma
ação limite da conservação curativa. Enquanto a conservação é feita por “ações para retardar

6
Trata-se do projeto “O ensino de Química no Brasil – 1945/1971” apoiado pela Fapesp.
7
“A preservação [...] consiste em qualquer ação que se relacione à manutenção física desse bem cultural, mas
também a qualquer iniciativa que esteja relacionada ao maior conhecimento sobre o mesmo e sobre as melhores
condições de como resguardá-lo para as futuras gerações. Inclui, portanto, a documentação, a pesquisa em todas
as dimensões, a conservação e a própria restauração, aqui entendida como uma das possíveis ações para a
conservação de um bem.” (PINHEIRO; GRANATO, 2012, p. 31).

Revista Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v.9, n.2, jul./dez. 2014


ou prevenir o processo de deterioração” (GRANATO; MAIA, 2010, p. 1), a restauração é “a
ação para tornar o objeto compreensível”.
Os processos de conservação envolvem discussões sobre as concepções teóricas e
sobre os procedimentos adequados a essas concepções. Em brevíssimas palavras pode-se
dizer que os procedimentos de conservação preventiva são advogados pelos que defendem
que o homem não tem o direito de alterar o que o tempo produziu, ou seja, que não se devem
apagar as marcas provocadas pelo tempo, enquanto aqueles que defendem a restauração
propõem que o mais importante é o projeto e função originais e não a história das peças,
permitindo assim que se intervenha profundamente nos objetos (GRANATO; CAMPOS,
2013).
Em geral, na escola as ações viáveis para a preservação dos objetos são as da
conservação curativa ou preventiva. No primeiro caso, as intervenções são realizadas
diretamente nos objetos e no segundo caso as ações são executadas no ambiente no qual o
acervo está inserido. Com apoio técnico especializado é possível realizar ações diretas para a
conservação como a limpeza, a higienização e a estabilização; e a ação preventiva de
acondicionamento em local adequado (GRANATO; MAIA, 2010, p. 9).
No conjunto de objetos de Química, foi realizada a ação direta de limpeza. Esse
procedimento consistiu em retirar do objeto a poeira em um procedimento simples e sutil e, de
acordo com as recomendações técnicas, não se usou produtos de limpeza ou removedores e
não se retirou as marcas produzidas nos objetos como etiquetas, numerações escritas à tinta
ou qualquer outro tipo de marca produzida pelo uso. Os objetos de vidro foram lavados com
muito cuidado e apenas com água, sem o uso de qualquer outra substância.
Os outros procedimentos de ação direta recomendáveis, mas ainda não realizados
nesse acervo, são o combate às pragas que infestam as partes em madeira, couro, tecido etc.
que também deve ser feito, sempre que possível, sem o uso de produtos químicos e a
estabilização que consiste em interromper os processos de deterioração dos objetos e inclui o
isolamento do objeto dos agentes que o degradam. No caso dos metais, por exemplo, diminui-
se o processo de oxidação do metal pelo isolamento do objeto em relação à umidade do ar,
aplicando sobre a superfície metálica uma camada de cera microcristalina. O mesmo
procedimento também pode ser realizado em objetos de madeira.
Em relação às ações preventivas para a preservação do acervo de objetos de ensino de
Química foram realizados o registro e o acondicionamento em local adequado. Sobre o
registro, existem algumas propostas de registros de acervos como a apresentada para o caso
dos institutos e das universidades na França (CHAMOUX, 2002); para o trabalho de

Revista Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v.9, n.2, jul./dez. 2014


preservação de objetos de C&T desenvolvido no Memorial Carlos Chagas Filho
(GRANATO; MAIA, 2010) e para a apresentação do sistema documental do MAST
(SANTOS, 2008).
O que determina o modelo de ficha para o registro dos objetos são as finalidades do
trabalho de preservação e os recursos humanos e materiais para a sua realização. No caso dos
acervos escolares, pode-se pensar em uma ficha simples tal como a que foi elaborada para a
documentação dos objetos da EE Culto à Ciência, exemplificada abaixo:

Figura 1- Ficha usada para a documentação dos objetos de educação em Química.

Número: Q012
Nome: Forneau à bassine évasé
Categoria: Química
Registro no inventário: Não consta nos inventários de 1899 e 1902
Dimensões:
Fornecedor:
Indicação de uso:

Indícios de uso:
Observações:
Referência: LANGLEBERT, J., Curso de Chimica. Rio de Janeiro: Livraria Garnier,
p. 181.
Fonte: Dos próprios autores.

Revista Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v.9, n.2, jul./dez. 2014


Algumas considerações sobre o preenchimento da ficha: todo objeto deve ser
identificado com um número e, caso se decida incorporar no conjunto objetos iguais, cada um
deles deve ter seu próprio número; há objetos que apresentam nomes diferentes de acordo
com os fornecedores e para identificá-los existem algumas fontes, entre as quais o Thesaurus
recentemente publicado pelo Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST - e pelo Museu
de Ciências da Universidade de Lisboa – MCUL – (Thesaurus de Acervos Científicos em
Língua Portuguesa); a categoria refere-se à disciplina que o objeto foi usado e terá muita
utilidade, por exemplo, como fonte documental para as pesquisas sobre a história das
disciplinas escolares; nem todas as instituições possuem os inventários, mas quando existem é
importante registrar na ficha as formas como o objeto foi inventariado no passado; as
informações sobre as indicações de uso são obtidas geralmente nos compêndios ou nos
programas de ensino; as informações sobre os indícios de uso são obtidas pela análise direta
do objeto.
Após o registro dos objetos, o acervo foi alocado em local adequado à sua
conservação, ou seja, em um local sem umidade e poeira. Para os acervos escolares, sugere-se
que, quando possível, os materiais sejam colocados em armários de vidro fechados para que
sejam expostos para a comunidade escolar de forma segura.
Finalmente, além das ações de conservação, a preservação do patrimônio também
depende de que o patrimônio tenha significado para a comunidade e que esta assuma a sua
proteção. Por isso, no caso dos objetos escolares, é importante que o acervo seja incorporado
ao Projeto Pedagógico da escola, o que pode ser feito de várias maneiras, tais como:
transformando-o em uma coleção visitável (Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, Artigo
6º, § único); usando-o como fonte de informação sobre a vida da instituição para a
preservação da sua memória ou, ainda, incorporando-o aos recursos pedagógicos para a
educação em ciências.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitas instituições de ensino secundário no Brasil possuem conjuntos importantes de


objetos que devem ser preservados no seu local de uso. Os objetos por si só não informam a
sua funcionalidade e nem estimulam uma lembrança individual ou coletiva e “isolar o
instrumento para estudar pode provocar dificuldades para entender o instrumento” (TAUB,
2009, p. 339).

Revista Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v.9, n.2, jul./dez. 2014


Além de materiais que podem contribuir para a construção da identidade de uma
comunidade, os objetos da educação em ciências podem ser fontes para uma aproximação
com as práticas pedagógicas do passado e, consequentemente, contribuir para a compreensão
e aprimoramento da educação no presente.
É urgente que ações de conservação do patrimônio de ensino sejam realizadas pelo
poder público em função da capacitação e da estrutura que esse trabalho exige. No entanto, há
ações simples que podem ser realizadas no âmbito das práticas escolares cotidianas que
levariam, de um lado, à conservação desse importante patrimônio cultural e, de outro lado, a
uma atividade pedagógica interdisciplinar alternativa para as aulas de ciências.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto n. 3.890 de. Código dos Institutos Officiaes do Ensino Superior e
Secundário. DOU de 25 de janeiro de 1901.

______. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso
em: 30 out. 2014.

______. Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009. Institui o Estatuto de Museus e dá outras


providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Lei/L11904.htm>. Acesso em: 11 set. 2013.

CAPANEMA, G. O programa do ensino secundário e sua lei orgânica (Reforma Gustavo


Capanema). Rio de Janeiro, RJ: Zelio Valverde, 1943.

CHAMOUX, H. El inventário descriptivo sistemático de instrumentos científicos em los


institutos y las universidades de Francia. In: Abriendo las cajas negras – colección de
instrumentos científicos de launiversitat de Valência. Instituto de Estudios de la História de la
Ciência y documentación Lópes Piñero, Universitat de Valencia – CSIC, Valência, 2002.

GRANATO, M. Panorama sobre o Patrimônio da Ciência e Tecnologia no Brasil: Objetos de


C&T. In: GRANATO, Marcus; RANGEL, Marcio Ferreira (Orgs.). Cultura Material e
Patrimônio da Ciência e Tecnologia. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências
Afins, 2009, p. 78-103.

GRANATO, M.; MAIA, E. S. A Conservação de Objetos de C&T: Análise e discussão das


práticas utilizadas no Memorial Carlos Chagas Filho, Revista Eletrônica do Programa de
Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS, Unirio/ MAST, v.3, n.2, p.1-
15, Jul/Dez 2010.

GRANATO, M.; CAMPOS, G. N. Teorias da conservação e desafios relacionados aos


acervos científicos, MIDAS [Online], 1, 2013. Disponível em:
<http://midas.revues.org/131>. Acesso em: 25 set. 2013.

Revista Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v.9, n.2, jul./dez. 2014


KRASILCHIC, M. Inovação no Ensino das Ciências IN GARCIA, W. E. Inovação
Educacional no Brasil, Campinas, SP: Autores Associados, 1995;

LOURENÇO, M.; GUESSNER, S. Documenting Collections: Cornerstones for More History


of Science in Museums. Science & Education, v. 23, n. 4, p. 727-745, Abril, 2014.

PAULA, C. F. Culto à Ciência: colégio, ginásio e colégio estadual. Monografia histórica,


Campinas, SP, 1946;

PINHEIRO, L. V. R.; GRANATO, M. Para Pensar a Interdisciplinaridade na Preservação:


algumas questões preliminares. In: SILVA, Rubens Ribeiro Gonçalves da (Org.).
Preservação Documental: uma mensagem para o futuro. Salvador: EDUFBA, 2012, v. 1, p.
23-40.

TAUB, L. On scientific instruments. Studies in History and Philosophy of Science, v.40, p.


337-343, 2009.

MAST. Thesaurus de Acervos Científicos em Língua Portuguesa. Disponível em:


<http://chcul.fc.ul.pt/thesaurus/>.

SANTOS, C. P. dos. A coleção de objetos de ciência e tecnologia do Museu de Astronomia e


Ciências Afins: reflexões sobre a documentação museológica. In: GRANATO, Marcus;
SANTOS, Claudia Penha dos; LOUREIRO, Maria Lucia N. M. Documentação em Museus.
Rio de Janeiro: MAST, 2008.

Revista Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v.9, n.2, jul./dez. 2014

Você também pode gostar