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XVI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (XVI ENANCIB)

ISSN 2177-3688

GT 9 – Museu, Patrimônio e Informação


Comunicação Oral

SOBREVIVEU, QUEM DIRIA: O PROCESSO DE MUSEALIZAÇÃO DO


GABINETE DE HISTÓRIA NATURAL DO GINÁSIO
PERNAMBUCANO NO SÉCULO XX1

IT SURVIVED, WHO WOULD SAY SO: THE MUSEALIZATION


PROCESS OF GINASIO PERNAMBUCANO’S NATURAL HISTORY
CABINET IN TWENTIETH CENTURY
Emanuela Sousa Ribeiro, UFPE
emanuelasousaribeiro@yahoo.com.br

Resumo: Este trabalho apresenta resultados parciais do projeto “Patrimônio Cultural de Ciência e
Tecnologia em instituições de ensino e pesquisa de Pernambuco: musealização, preservação e descarte
no século XX”. Neste recorte apresentamos um estudo de caso sobre o processo de musealização da
coleção do Gabinete de História Natural do Ginásio Pernambucano, atual Museu de História Natural
Louis Jacques Brunet, localizado no Ginásio Pernambucano, colégio público de ensino médio fundado
em 1825 e ainda em funcionamento na cidade do Recife- PE. Em um primeiro momento analisamos o
conceito de coleção de história natural, buscando compreender a situação epistemológica desta
disciplina no Brasil ao longo do século passado, relacionando as mudanças nas disciplinas que fazem
parte das ciências naturais com os diferentes tipos de coleções e museus de ciências naturais e história
natural que existem atualmente no Estado, de acordo com o Cadastro Nacional de Museus. A seguir
localizamos as coleções de história natural no contexto do patrimônio cultural de ciência e tecnologia e
do patrimônio escolar. Finalmente, apresentamos o caso da coleção de história natural do Museu Louis
Jacques Brunet – única coleção a sobreviver, do século XIX a hoje, em Pernambuco – e analisamos os
diferentes sentidos atribuídos aos processos de musealização da coleção ao longo da sua trajetória
institucional, privilegiando o século XX, período em que a disciplina história natural passou por
grande crise de legitimidade. Acreditamos que este estudo de caso pode contribuir para a compreensão
da trajetória dos museus e coleções de história natural em todo o país, oferecendo elementos analíticos
para a compreensão dos variados sentidos que podem ser atribuídos a este tipo de coleção.
Palavras-chave: Processo de musealização. História natural. Museu escolar. Patrimônio Cultural de
Ciência e Tecnologia.

1
O conteúdo textual deste artigo, os nomes e e-mails foram extraídos dos metadados informados e são de total
responsabilidade dos autores do trabalho.
Abstract: This paper presents partial results of the project "Cultural Heritage of Science and
Technology in educational and research institutions at Pernambuco: musealization, preservation and
disposal in the twentieth century." In this survey we present a case study on the musealization process
of the collection of the Ginásio Pernambucano's Natural History Cabinet, current called Louis Jacques
Brunet Natural History Museum, located in Ginásio Pernambucano, a public high school founded in
1825 and still in operation in city of Recife-PE. At first we analyze the concept of natural history
collection, seeking to understand the epistemological status of this discipline in Brazil over the past
century, relating the changes in the subjects that are part of the natural sciences with the different types
of collections and museums of natural sciences and natural history that currently exist in the state,
according to the National Museums Register. Then we locate the natural history collections in the
context of the science and technology cultural heritage and scholastic heritage. Finally, we present the
case of the Louis Jacques Brunet Museum's natural history collection - the only nineteenth century
collection to survive until nowadays - and analyze the different meanings attributed to musealization
processes of throughout its institutional trajectory, emphasizing the twentieth century, during which
the natural history discipline has gone through great crisis of legitimacy. We believe this case study
may contribute to understanding the history of museums and collections of natural history throughout
the country, providing analytical elements for understanding the different meanings that can be
attributed to this type of collection...

Keywords: Musealization process. Natural history. Scholastic museum. Science and Technology
Heritage.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta resultados parciais do projeto intitulado “Patrimônio Cultural de


Ciência e Tecnologia em instituições de ensino e pesquisa de Pernambuco: musealização,
preservação e descarte no século XX”, apoiado pelo CNPq e FACEPE, que visa realizar
pesquisas sobre a trajetória do patrimônio cultural de ciência e tecnologia no Estado de
Pernambuco, no século XX, a fim de analisar as iniciativas de musealização deste patrimônio,
bem como as situações em que os objetos de C&T foram descartados e não musealizados.
Através destas análises buscamos identificar modificações no próprio conceito de patrimônio e
de museu que foram relacionados aos objetos que constituem, ou potencialmente constituiriam,
o patrimônio cultural de ciência e tecnologia.
Neste recorte analisamos a trajetória das coleções de história natural identificadas na
cidade do Recife, capital de Pernambuco, durante o século XX, em especial, a coleção do
Gabinete de História Natural do Ginásio Pernambucano, escola pública estadual criada em 1825
e ainda em funcionamento até os dias atuais. É nosso objetivo analisar os sentidos atribuídos a
esta coleção durante os três diferentes processos de musealização sofridos ao longo de sua
trajetória institucional no século XX.
Partimos do conceito de musealização proposto por Lima (2013, p.52), que admite que a
musealização consigna ao mesmo tempo “juízos/atitudes” e “práticas”, promovendo
um processo institucionalizado de apropriação cultural. [A musealização]
Imprime caráter específico de valorização a elementos de origem natural e
cultural. Estabelece sua caracterização identificando formas interpretativas
materiais e imateriais da humanidade às quais imprime a interpretação de
testemunhos que referenciam as existências e identidades (LIMA, 2013, p.51).

Do exposto podemos afirmar que musealização não é, nem pode ser, um processo com
características unívocas no tempo e no espaço, posto que, ao lidar com diferentes formas
interpretativas, é continuamente influenciado pelo contexto social dos testemunhos com os
quais está lidando.
Assim, compreender os processos de musealização implica compreender, além dos
sentidos atribuídos, aqueles que foram desprezados, descartados como indesejáveis, pois todos
são parte dos procedimentos de apropriação cultural. Conforme nos lembra Meneses (2007, p.
24) “se deveria reconhecer que o museu, muitas vezes chamado de casa da memória, poderia
igualmente ser chamado de casa do esquecimento, pois o que está fora dele é muito mais
numeroso que o que está dentro e não goza do mesmo privilégio de conservação”.
Consideramos, por isso, que um aspecto importante na compreensão dos processos de
musealização do Gabinete de História Natural do Ginásio Pernambucano é a análise das
mudanças epistemológicas no âmbito da disciplina que informou a sua constituição, a História
Natural, bem como, as mudanças que foram impostas pelas suas condições de uso no ambiente
escolar.
Para identificar estas alterações realizamos pesquisa de fontes primárias e secundárias
sobre a epistemologia da história natural, em especial em livros didáticos relativos à história
natural e à biologia publicados em meados do século XX. Também realizamos visitas ao Museu
de História Natural Louis Jacques Brunet, e fizemos pesquisa de fontes secundárias sobre a
trajetória institucional do referido Museu, relacionando-o com a trajetória do colégio que lhe
deu origem.
Por fim, destacamos o caráter exploratório deste trabalho, pois a história dos museus e
dos processos de musealização em Pernambuco ainda está por ser feita, de maneira que a
continuidade das pesquisas, especialmente a busca por fontes primárias relativas ao século XX,
também precisa ser realizada em pesquisas futuras.

2 MUSEUS E COLEÇÕES DE HISTÓRIA NATURAL NO BRASIL E EM


PERNAMBUCO: CONCEITOS E CATEGORIAS DE ANÁLISE
Atualmente, no Brasil, a História Natural, enquanto área do conhecimento acadêmico,
não consta no documento que lista as áreas reconhecidas pelo sistema de pós-graduação para a
produção de conhecimento científico nacional em instituições de ensino superior e institutos de
pesquisa, a “Tabela de Áreas do Conhecimento/Avaliação publicada pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior” (CAPES, 2012). As áreas do conhecimento que
historicamente estão associadas à História Natural atualmente constituem disciplinas específicas
que abrangem as áreas das Ciências Biológicas I, II e III, Biodiversidade e Geociências
(CAPES, 2012, p. 4-8).
Em princípio, tal ausência implica dizer que não se produz conhecimento acadêmico
auto identificado como de História Natural no âmbito da academia brasileira; o que se produz é
conhecimento especializado nas diversas disciplinas das grandes áreas das Ciências Exatas e da
Terra e das Ciências Biológicas. Deste modo, neste artigo, ao falarmos de História Natural
estamos nos referindo a uma disciplina que não mais existe formalmente, embora, obviamente,
os seus objetos de estudo continuem a ser objeto da pesquisa científica, nas diversas disciplinas
especializadas.
Assim, para este trabalho, adotamos o conceito de História Natural tal qual a disciplina
era conceituada nos livros didáticos até por volta de 1970: “A História Natural abrange o
conjunto de conhecimentos relativos ao estudo da forma, da natureza e das propriedades dos
seres orgânicos ou dos corpos inorgânicos da natureza” (IRMÃOS MARISTAS, [1965], p. 17).
A título de exemplo da aplicação deste conceito, citamos um livro de orientação
vocacional publicado no Brasil em 1966, o qual informava que a profissão de naturalista é
aquela em que o profissional:
se dedica aos estudos das Ciências que se apoiam na História Natural.
Geralmente escolhe uma especialização, tornando-se Mineralogista, Petrólogo,
Geólogo, Paleontólogo, Biólogo, Botânico, Zoológo, etc, conforme os ramos e
subramos da História Natural a que se dedica (BRAGA, 1966, p.161, grifo
nosso).
Informava ainda a autora, na seção “Onde Trabalha”, que:
Os Naturalistas possuem, como campo de expansão das atividades, Centros de
Pesquisa de Ciências Naturais, Físicas, Químicas, Biológicas, Tecnológicas
industriais e sociais (vide a Relação dessas Instituições oferecidas pela
CAPES) e outros organismos oficiais, como o Instituto Osvaldo Cruz, do
Ministério da Saúde e o Museu Nacional da Universidade do Brasil, ambos no
Rio de Janeiro, GB. Neste último existe o cargo de Naturalista, para o qual se
ingressa mediante concurso e com obrigações e regalias de funcionário
público: horário, férias, remuneração, hierarquia, etc. (BRAGA, 1966, p. 162).
Esta já não é a realidade dos dias atuais, quando a profissão de naturalista não é listada
entre as profissões científicas, contudo, estes profissionais, formados em cursos de nível
superior até a década de 70 do século XX (PEDROSO, SELLES, 2015, p. 4), constituíram
grande quantidade de coleções museológicas, tanto em instituições de ensino e pesquisa, e
pequenos museus, quanto nos grandes museus nacionais, orientando-se pela concepção de
ciência da História Natural2.
Atualmente, ao buscar a definição do termo História Natural em livros didáticos, este já
não mais é referenciado, e ao buscar a definição em dicionários comuns temos uma acepção que
sugere trata-se de algo superado, por ser “meramente descritivo”: “Designação tradicional das
ciências naturais, que hoje se aplica ao estudo meramente descritivo dos seres vegetais, animais
ou minerais” (FERREIRA, 1999, p. 1055, grifo nosso).
O mesmo dicionário, por outro lado, ao conceituar Ciências Naturais, indica tratar-se de
uma disciplina científica em pleno funcionamento: “As ciências que têm como objetivo de
estudo a natureza em torno do homem, sendo este incluído apenas na condição de animal
natural: a física, a química, a astronomia, a geologia, a biologia” (FERREIRA, 1999, p. 469-
470).
Distinguem-se, portanto, ambos termos, tratando-se de olhares disciplinares diferentes
sobre o mesmo objeto, a natureza. Tal distinção se faz necessária por apontar para uma
diferenciação no próprio conceito de museu de que se está tratando, pois, não é possível falar de
um museu de ciência sem identificar de qual ciência se está tratando.
Assim, ao tratarmos de museus e coleções de história natural é importante ter em mente
que estamos analisando coleções que foram criadas a partir de um conceito de ciência que não é
o da ciência natural, mas sim o da história natural, a qual pretendia uma visão de conjunto dos
espécimes analisados, tal como conceituado, em 1916, por David Starr Jordan, naturalista
especializado em ictiologia e um dos fundadores da Universidade de Stanford:
I mean the recognition or study of animals and plants as completed organisms,
each greater than the sum of all the parts. It involves knowledge of names and
of some degree of classification. It leads up the problem of the origins of
species, the affinities of forms, of the complex relations we call habits, the
problems of geological and geographical distribution, the details of evolution
and a balanced of things as they are, as actual through temporary stages in a
university of change. It is at once the beginning and the end of biological study
(JORDAN, 1916 apud SCHMIDLY, 2005, p. 450).
Ou seja, é importante esclarecer qual o conceito de História Natural foi utilizado quando
da constituição dos museus e se esse é o mesmo conceito utilizado nos dias atuais quando

2
É importante mencionar que este trabalho aponta resultados de pesquisa relativos aos Brasil. Na Europa
ocidental e Estados Unidos encontramos indícios que a História Natural está em declínio (GROPP, 2003),
porém, também identificamos movimentos de retomada dos estudos nesta área do conhecimento (SNOW, 2005,
SCHMIDLY, 2005), assim como do reconhecimento da importância das pequenas coleções de história natural
(CASAS-MARCE et al, 2012). Mesmo no Brasil, é importante lembrar que há grande quantidade de
profissionais em plena atuação que tiveram formação, em nível de graduação, em História Natural (Licenciatura
e/ou Bacharelado). Assim, quando nos referimos à inexistência da disciplina, estamos nos referindo às mudanças
que aconteceram no âmbito do ensino superior e, consequentemente, na constituição de novas coleções
científicas e dos sentidos atribuídos às coleções criadas no contexto anterior.
interpretamos, com interesse histórico, as coleções de história natural.
Se, no âmbito científico brasileiro, a História Natural é uma disciplina difícil de ser
identificada nos dias atuais, no âmbito dos museus, os dados do Cadastro Nacional de Museus
(IBRAM, 2015), indicam que em todo o país existem 413 (quatrocentos e treze) museus cuja
tipologia do acervo se enquadra em “Ciências Naturais e História Natural”3.
Aparentemente são dados contraditórios, pois, se a disciplina não mais produz no âmbito
da pesquisa em instituições de ensino superior e institutos de pesquisa, como pode se manter
viva em museus? Para tentar compreender este suposto paradoxo acreditamos que é necessário
analisar com mais vagar os dados apresentados pelo Cadastro Nacional de Museus, visando
identificar que tipo de museu se apresenta como museu com coleções de história natural.
Nos dedicamos, portanto, a visualizar todos os registros individualmente 4 , buscando
reconhecer quais são esses museus, e acreditamos poder diferenciar estes museus em três
categorias diferentes, as quais, na realidade, apontam para: 1) a existência de uma pequena
quantidade de museus de história natural no Brasil, 2) um número considerável de museus
especializados em disciplinas das ciências naturais, e 3) uma grande quantidade de pequenas
coleções dispersas em museus de outras tipologias.
Tabela 1: Classificação dos museus que contém coleções de história natural no Brasil.

Tipo de instituição Quant. Quant. PE Quant.


Brasil Recife

Museus com temáticas diversas não especializados 285 08 01


em história natural (história local e outros temas)

Museus especializados em alguma disciplina das 97 06 03


ciências naturais (zoologia, mineralogia,
paleontologia etc.)

Museus especializados em história natural 31 01 01

Total 413 13 05

Fonte: Produzido pela autora a partir dos dados do Cadastro Nacional de Museus (IBRAM, 2015)

3
É importante lembrar que o Cadastro Nacional de Museus é um instrumento de gestão administrado pelo
Instituto Brasileiro de Museus, porém, os dados apresentados pelo instrumento são fornecidos pelos responsáveis
por cada museu, sem controle e/ou validação pelo IBRAM. Sem desconhecer a importância do instrumento, é
relevante apontar para o fato de que estes dados não apresentam controle terminológico, de maneira que pode
haver distorções entre os dados apresentados. Por outro lado, a tipologia de acervo “Ciências Naturais e História
Natural” foi, sim proposta pela Instituição.
4
Foram abertos todos os registros, individualmente, e quando houve indicação de sites ou documentos que
pudessem ser consultados on-line, estes foram visitados.
A primeira categoria que identificamos é composta por museus que se dedicam a temas
diversos, muitas vezes relativos à história local, regional ou municipal, e que possuem também
pequenas coleções de ciências naturais, geralmente de paleontologia ou zoologia. Nesta
categoria a história natural não é a principal tipologia de acervo do museu, e tanto podemos
incluir nesta categoria os grandes centros de ciências, como os pequenos museus municipais –
em nenhum deles a história natural ou mesmo as disciplinas das ciências naturais são o foco do
museu.
Utilizando como exemplo aqueles museus localizados no Estado de Pernambuco que
afirmam possuir coleções de história natural e ciências naturais, e que podemos enquadrar nesta
categoria, temos 08 (oito) museus: Espaço Ciência (Olinda-PE), Museu do Homem do Nordeste
(Recife-PE), Centro de Pesquisas Históricas e Cultura Popular – Museu Carlos Cleber (São
Caetano-PE), Museu Histórico de Igarassu (Igarassu-PE), Museu do Una (São José da Coroa
Grande-PE), Museu Histórico de São Caetano (São Caetano-PE), Museu do Engenho Jundiá
(Vicência-PE), Museu de Ciência (São José do Egito-PE).
Dentre estes museus temos centros de ciência, que não trabalham com a preservação de
acervos de nenhuma tipologia, museus históricos, museus municipais, museus locais, e até
mesmo um dos maiores museus do Estado de Pernambuco, o Museu do Homem do Nordeste,
que se define como um museu histórico-antropológico.
Uma segunda categoria são os museus especializados, destinados ao estudo de uma
disciplina específica das ciências naturais. Estes museus estão ligados, em geral, às
universidades ou centros de pesquisa que se dedicam à apenas uma área do conhecimento e não
às ciências naturais como um todo, e muito menos, à história natural.
Em Pernambuco são exemplos desta categoria, 06 (seis) museus: Museu de Minerais e
Rochas (UFPE, Recife-PE), Museu de Arqueologia (UNICAP, Recife-PE), Fundação CBPP das
Tartarugas Marinhas (Projeto TAMAR, Fernando de Noronha-PE), Museu Oceanográfico da
UFPE (Recife-PE), Museu de Oceanografia (UFRPE, Serra Talhada-PE), Museu de Fauna da
Caatinga (UNIVASF, Petrolina-PE).
Certamente todos atendem à classificação mais genérica, exposta no próprio Código de
Ética do ICOM para museus de ciências naturais, criado pelo Comitê de História Natural do
ICOM: “el término ‘museo de ciencias naturales’ incluye todas las instituciones que
coleccionan, exhiben e investigan materiales recolectados o extraídos del ‘mundo natural’”
(NATHIST, 2013, p. 2), porém, fazem um recorte de uma disciplina específica.
Por fim, a última categoria é composta por museus que de fato são especializados em
história natural, cujo foco de atuação são as ciências naturais compreendidas em seu conjunto,
com a concepção de que o todo é mais do que soma das partes. Estes museus, dependendo do
seu porte, podem ter profissionais especializados em diversas disciplinas específicas e diversas
coleções especializadas, contudo, como marca distintiva têm uma coleção que foi constituída
pensando-se em uma abordagem generalista, que desse conta de apresentar a totalidade dos
bens naturais (devidamente ordenados), uma vez que o museu não é especializado em apenas
uma disciplina.
Em Pernambuco há apenas um museu desta categoria, o Museu de História Natural
Louis Jacques Brunet (Recife-PE), cuja coleção remonta ao século XIX, tendo sido criada pelo
naturalista que dá nome ao Museu, contratado pelo governo da Província entre 1855 e 1863
para criar a coleção de história natural do museu escolar do Ginásio Pernambucano (ARAUJO,
2011, p. 196).
Tendo observado todas as inscrições que o Cadastro Nacional de Museus apresenta, e
classificando-as de acordo com as categorias acima, acreditamos que existem apenas 31 (trinta e
um) museus especializados em história natural em todo o país5.
Dentre estes trinta e um museus há alguns que estão entre os maiores e mais antigos
museus do país: Museu Nacional da Quinta da Boa Vista (Rio de Janeiro-RJ, criado em 1818),
Museu Paraense Emílio Goeldi (Belém-PA, criado em 1866), Museu Paranaense (Curitiba-PR,
criado em 1883), Museu Paulista (São Paulo-SP, criado em 1895, cuja coleção de história
natural deu origem ao Museu de Zoologia da USP, em 1969) (VEITENHEIMER-MENDES,
2009, p. 195). Nestes museus já não se faz pesquisa em História Natural, e sim pesquisas sobre
disciplinas específicas, contudo, suas coleções foram constituídas com a perspectiva da história
natural e este é um aspecto continuamente estudado nestes grandes museus (por exemplo:
VEITENHEIMER-MENDES, 2009; LOPES e MURRIELLO, 2005), em especial para tratar do
século XIX, em que os museus de história natural da Iberoamérica se converteram espaços de
legitimação das nações em formação (LOPES, 2010, p. 42).
Contudo, poucos estudos existem sobre os museus de história natural de pequeno e
médio porte que existem no país, dos quais estão inscritos apenas cerca de três dezenas no
Cadastro Nacional de Museus. Também são escassos os estudos sobre museus de história
natural durante o século XX, pois, considerando que a História Natural enquanto disciplina

5
Certamente, como os 413 (quatrocentos e treze) museus indicados na Tabela 1 acima não foram visitados
presencialmente, este número pode não ser exato, mas certamente há poucos museus de história natural no Brasil, o
que torna ainda mais importante a compreensão dos seus processos de musealização, bem como o estudo do
descarte de coleções que já existiram.
acadêmica formou graduados na área até meados da década de 19706, supõe-se que as coleções
de ensino de História Natural tenham sido utilizadas no mesmo período.
As coleções universitárias até então existentes deram, provavelmente, origem às atuais
coleções científicas especializadas, porém, as coleções de história natural de museus escolares
parecem não ter sobrevivido, em sua grande maioria, pois são poucos os museus escolares
indicados no Cadastro Nacional de Museus, e poucos os que são indicados na bibliografia sobre
o assunto (Cf.: SOUZA, 2013; POSSAMAI, 2010; PETRY, 2012).
Ainda no campo das ausências, não identificamos a existência de estudos que
relacionem as mudanças disciplinares História Natural/Biologia/Ciências Naturais com a pouca
quantidade de coleções de história natural que sobreviveram aos dias atuais 7 , em especial
aquelas coleções localizadas em museus de menor porte que, ou desapareceram, ou foram
absorvidas por museus de outras áreas, conforme podemos suspeitar pelos dados apresentados
no Cadastro Nacional de Museus.
Embora sejam muitos os museus especializados em alguma disciplina das Ciências
Naturais, aqueles cujas coleções foram montadas a partir do olhar científico da História Natural
representam uma forma de fazer ciência, e de fazer museu, bastante distinta dos museus de
ciência contemporâneos. Certamente os mais antigos museus de História Natural ainda em
funcionamento mudaram e adequaram-se aos atuais conceitos científicos, contudo, o estudo de
suas coleções e dos documentos a elas associados, permite a análise de uma outra forma de
compreensão da natureza e do homem, bem como de outras práticas de comunicação
museológica, de ensino de ciência e mesmo de produção de ciência. É imprescindível, portanto,
que se façam pesquisas sobre a trajetória dos museus de Ciência Natural, considerando as
diferentes concepções de ciência em relação ao período em que estes museus tratavam de
História Natural. Conforme explica Valente, tratando da metodologia de sua tese de doutorado,
é necessário “levantar as condições de produção e incorporação de modelos institucionais de

6
Em 1970 o Conselho Federal de Educação exarou um parecer alterando a denominação e o currículo mínimo
dos cursos superiores de História Natural para Ciências Biológicas e as instituições de ensino superior tiveram
até 1972 para se adequar à alteração (PEDROSO e SELLES, 2015, p.4); consequentemente os estudantes que
entraram no curso em 1972, se formaram por volta do final da década de 1970.
7 Sobre esta questão é importante fazer menção ao trabalho de Duarte (2010) que estuda o movimento político da
disciplina Biologia, a qual já na primeira metade do século XX pretendia apontar novos caminhos para o
desenvolvimento socioeconômico do Brasil. Embora não trate diretamente da temática estudada, é uma obra que,
metodologicamente, ilumina a questão dos diversos usos das coleções científicas, e consequentemente nos faz
refletir sobre as mudanças de sentido atribuídas às coleções. Por fim, também é importante sublinhar que a obra que
mais referências nos oferece para tratar da relação entre as mudanças disciplinares da História
Natural/Biologia/Ciências Naturais com a pouca quantidade de coleções de história natural ainda existentes
atualmente é o livro de Marandino, Selles e Ferreira (2009), que traça um denso retrato das práticas educativas em
Biologia ao longo do século XX, fazendo muitas referências sobre os materiais didáticos e os contextos não formais
de ensino.
museu que guardam conceitos a partir de representações e significados forjados nesse processo,
não só pela museologia, como por outras áreas de conhecimento” (VALENTE, 2008, p. 11).
É impossível realizar este tipo de pesquisa tendo como recorte o cenário nacional, dada a
magnitude dos dados, assim, apresentamos uma primeira análise sobre estes temas em
Pernambuco, em especial tomando como foco a coleção de história natural do Ginásio
Pernambucano.
Antes de passarmos diretamente para este ponto, é importante fazemos ainda um último
esclarecimento conceitual: acerca do porquê incluímos os objetos científicos encontrados em
museus de pequeno porte, e em escolas de ensino fundamental e médio, no âmbito do
patrimônio cultural de ciência e tecnologia. Que representatividade podem ainda ter?
O patrimônio cultural de ciência e tecnologia pode ser definido como aquele relativo ao
conhecimento científico e tecnológico produzido pelo homem, além de todos
aqueles objetos (inclusive documentos em suporte papel), coleções
arqueológicas, etnográficas e espécimes das coleções biológicas que são
testemunhos dos processos científicos e do desenvolvimento tecnológico.
Também se incluem nesse grande conjunto as construções arquitetônicas
produzidas com a funcionalidade de atender às necessidades desses processos
e desenvolvimentos (GRANATO, 2009, p. 79, grifo nosso).
Esta definição nos remete à importância dos “testemunhos dos processos científicos”,
que são compostos por ideias e práticas que existem e se produzem além do espaço físico e
institucional onde trabalham os cientistas. É nesta perspectiva que os espaços de ensino, em
seus mais diversos níveis, também atuam na produção de processos científicos, criando, no
mínimo, condições de plausibilidade social para a produção e reprodução de determinadas
concepções de ciência.
Outras definições deste tipo de patrimônio enfatizam a importância da comunidade
científica e do mesmo do público em geral, tal como o fazem Lourenço e Wilson:
the shared collective legacy of the scientific community, in other words what
the scientific community as a whole perceives as representing its identity,
worth being passed on to the next generation of scientists and to the general
public as well. It includes what we know about life, nature, and the universe,
but also how we know it. Its media are both material and immaterial. It
encompasses artefacts and specimens but also laboratories, observatories,
landscapes, gardens, collections, savoir faires, research and teaching practices
and ethics, documents, and books (LOURENÇO ; WILSON, 2013, p. 746).
Em ambas definições se enfatiza a estreita vinculação da ciência com a sociedade como
um todo, bem como o caráter socialmente determinado da produção do conhecimento, e da
preservação – ou destruição – dos seus vetores materiais.
Percebe-se que as práticas científicas, e consequentemente o patrimônio cultural delas
originado, não está circunscrito ao ambiente acadêmico, de universidades e institutos de
pesquisa, pelo contrário, está disseminado na sociedade através de escolas, livros didáticos,
professores, meios de comunicação de massa, museus, enfim, um grande complexo instituições
e práticas que não apenas reproduzem o conhecimento científico, mas também o produzem,
especialmente na sociedade contemporânea, que Knorr Cetina (1999, p. 157) qualifica como
sociedade(s) do conhecimento, na qual diversas culturas epistêmicas convivem e disputam pela
hegemonia.

3 MUSEALIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO GABINETE DE HISTÓRIA NATURAL


DO GINÁSIO PERNAMBUCANO NO SÉCULO XX
Conforme já discutido no item anterior, atualmente o Cadastro Nacional de Museus
apresenta, para o Estado de Pernambuco, um museu de História Natural, o Museu de História
Natural Louis Jacques Brunet. Contudo, a partir das pesquisas realizadas para o “Projeto
Valorização do Patrimônio C&T” em Pernambuco, identificamos que a cidade do Recife foi
palco da existência, e do desaparecimento, de outros museus e coleções de História Natural
durante o século XX8.
Partindo do conceito mais simples de cultura material – segmentos do universo físico
culturalmente apropriado (LUBAR, 1993, p. 197) – optamos por analisar inicialmente o
processo de preservação da coleção do Ginásio Pernambucano, uma vez que se trata da única
coleção da cidade que ainda pode ser analisada a partir dos seus aspectos físicos. Ao mesmo
tempo, consideramos relevante a sua longa trajetória de musealização, realizada já há mais de
um século, e que nos permite confrontar fontes documentais com os próprios objetos, além de
refletir sobre os diferentes valores associados ao museu em diferentes contextos
epistemológicos da disciplina História Natural.
Conforme apontado anteriormente, a coleção de História Natural da escola de ensino
médio Ginásio Pernambucano foi constituída a partir de 1855, data em que o naturalista francês
Louis Jacques Brunet foi contratado pela Presidência da Província como professor de História
Natural do colégio, sendo encarregado de criar a coleção de História Natural, e

8
O levantamento dos dados sobre os museus de história natural em Pernambuco ocorreu no período de 2011 a
2014, como parte das atividades do “Projeto Valorização do Patrimônio C&T”, coordenado pelo Prof. Marcus
Granato, do Museu de Astronomia e Ciências Afins, em âmbito nacional. Os resultados dos levantamentos em
Pernambuco foram incorporados aos dados do Projeto em âmbito nacional. Visando, exatamente, a dar
continuidade às pesquisas foi criado o projeto “Patrimônio Cultural de Ciência e Tecnologia em instituições de
ensino e pesquisa de Pernambuco: musealização, preservação e descarte no século XX”. Foram identificados, na
cidade do Recife-PE: uma coleção ainda existente (Ginásio Pernambucano), duas coleções escolares que já não
existem mais (Colégio Manoel da Nóbrega e Colégio Salesiano), um museu de história natural criado na década
de 1970, que mudou de perfil e preservou pequenas partes de sua coleção de história natural (Museu de História
Natural do Horto Dois Irmãos), e dois cursos de nível superior que não criaram ou não preservaram coleções de
História Natural (UNICAP e UFPE).
consequentemente o museu escolar do Ginásio Pernambucano. Exonerado em 1863, Brunet
passou a trabalhar no Imperial Instituto Baiano de Agronomia, onde foi encarregado de dirigir
os trabalhos de organização acadêmica da instituição (ARAUJO, 2011, p. 196).
Ainda não há estudos sistemáticos sobre a coleção do Ginásio Pernambucano9, contudo,
a simples visualização das peças expostas no Museu permite identificar (através das etiquetas
presentes em alguns exemplares), peças procedentes da Alemanha, Itália e França, estas em sua
maioria modelos de espécies botânicas, ou espécimes de animais taxidermizados que não são
característicos do meio-ambiente brasileiro, como alces e esquilos.
Também há peças taxidermizadas que parecem ter sido recolhidas no Brasil, pois são
espécies endêmicas na região norte do Brasil como, por exemplo, um pirarucu de grandes
dimensões, tartarugas, e um boto, talvez recolhidos pelo próprio naturalista Louis Jacques
Brunet, que também produziu cadernos de pesquisa – até o momento depositados na biblioteca
do Colégio. Estes livros (cerca de duas dúzias) apresentam desenhos, gravuras impressas e
algumas anotações, porém, ainda precisam ser estudados com profundidade, tentando relacionar
as anotações com os espécimes existentes no Museu.
A coleção também se compõe de coleções entomológicas, cuja aparência externa remete
à década de setenta do século XX, coleções de minerais e rochas, e um extenso acervo
arqueológico, procedente em sua maioria de sítios localizados em municípios do interior de
Pernambuco.
Temos notícias documentais de que a coleção possuiu, ainda no século XIX, exemplares
de fósseis recolhidos por Brunet em 1857 (COSTA, 1987, p. 50), contudo, estas peças já não
existem no Museu. Além das peças desaparecidas, percebe-se que apesar de terem sido
preservados, os exemplares orgânicos apresentam marcas de terem sofrido com as intempéries,
apresentando muitos desgastes e algumas perdas, ou seja, nem toda a coleção de história natural
foi preservada e nem todas as peças estão íntegras.
Mesmo com o protagonismo do Ginásio Pernambucano no Estado10, sua trajetória não

9
O atual coordenador do Museu, Prof. Ms. Severino Ribeiro deu início, em maio de 2015, à pesquisa de
documentação sobre a história administrativa do Museu, bem como à uma nova etapa na gestão das coleções. A
discente do curso de Museologia da UFPE, Pollynne Santana, vem desenvolvendo os primeiros estudos
sistemáticos sobre a coleção de exemplares de modelos de botânica, no âmbito do projeto “Patrimônio Cultural
de Ciência e Tecnologia em instituições de ensino e pesquisa de Pernambuco: musealização, preservação e
descarte no século XX” e do seu trabalho de conclusão de curso.
10
O Ginásio Pernambucano foi o colégio de referência do Estado de Pernambuco durante o século XIX, por ser
o primeiro e o principal colégio administrado pela Província, tendo como professores respeitados intelectuais.
Ao longo do século XX continuou a ser o modelo oficioso do padrão de ensino no Estado. Mesmo nos dias
atuais, com a crise do ensino público, o Ginásio Pernambucano foi uma das escolas pioneiras no estabelecimento
do atual modelo das Escolas de Referência em Ensino Médio e costuma ser bem avaliado nos rankings de
qualidade do ensino médio.
deixou de apresentar graves problemas de infraestrutura física, detectados desde a sua criação,
em 1825 (BELLO, 1987, p. 93), até o final da década de 90 do século XX, quando o prédio sede
do Colégio11 foi fechado para obras (JORNAL DO COMÉRCIO, 1999), só sendo reaberto em
2004.
Apesar dos recorrentes problemas de infraestrutura, e mesmo com a crise do ensino
público nacional, a coleção não foi descartada ao longo do século XX, como ocorreu com outras
coleções existentes no Estado. Salvo melhor juízo, creditamos esta preservação ao perfil
profissional dos diretores do museu durante a segunda metade do século XX e a relação que
estes estabeleceram com a produção científica regional.
Embora não tenhamos conhecimento do perfil dos responsáveis pelo Museu durante o
século XIX e primeira metade do XX, sabemos que na segunda metade do século XX – período
em que a História Natural vai progressivamente sendo substituída pela Biologia nos currículos
escolares (Cf. MARANDINO; SELLES; FERREIRA, 2009) – o museu do Ginásio
Pernambucano teve dois diretores sensíveis à perpetuação da cultura material da História
Natural: entre fins da década de 1960 e 1978, o arqueólogo Armand François Gaston Laroche
foi professor do Ginásio Pernambucano e diretor do seu museu (BRUNET, 2013), e por volta de
1979 sabemos que era coordenado pelo taxidermista José Leopoldo de Melo (MUSEU DO
HOMEM DO NORDESTE, 1979).
Também não temos notícias sobre quem foram os diretores do Museu após 1979. A
próxima informação documental que temos já é 1998, dando notícia da transferência do Ginásio
Pernambucano para um outro prédio. Através informações orais, da ex-diretora do Museu, no
período de 2004 até 2012, profª. Ana Catarina Sales, sabemos que enquanto o Colégio esteve
sediado em outros prédios, o museu ficou fechado. Quando o prédio foi restaurado, através de
uma parceria público-privada, a empresa patrocinadora arcou também com os custos de
reorganização do Museu. Na ocasião as coleções foram restauradas e documentadas, contando o
museu com um acervo de 4.108 peças, excluindo-se os livros raros, que continuam na biblioteca
do colégio, em bom estado de conservação.
Acreditamos que a trajetória da coleção de história natural do Ginásio Pernambucano é
exemplar de um processo de adaptação de sentidos, funções e valores dos pequenos museus de
história natural – daqueles que sobreviveram, claro.
Originalmente, a coleção constituiu-se como museu escolar, no sentido que esta

11
O prédio onde funciona o Ginásio Pernambucano foi projeto pelo engenheiro José Mamede Alves Ferreira, em
1855, data em que foi assentada a pedra inaugural da obra. Em 1866 o prédio, ainda inacabado, passou a sediar o
Ginásio Pernambucano (BELLO, 1978, p.94). O prédio foi tombado pelo IPHAN em 1984.
tipologia tinha no século XIX, de “museus ‘originalmente escolares’, presentes no interior de
escolas, funcionando como auxiliares do ensino, e não como locais de preservação da memória”
(PETRY, 2012, p.81). Este tipo de museu esteve associado ao regular funcionamento dos bons
estabelecimentos de ensino desde o final do século XVIII, vinculado aos diversos projetos
pedagógicos que valorizavam os métodos intuitivos de ensino (PETRY, 2012, p. 82).
Não temos fontes documentais, até o momento, para aprofundar a concepção
pedagógica específica que serviu de pano de fundo para a criação da coleção do Ginásio
Pernambucano, em 1855, porém, podemos afirmar que certamente já existia a concepção de que
um bom colégio precisava possuir um museu escolar, pois quando da primeira tentativa de
criação do colégio, em 1816, já se pensou na constituição de um museu, conforme explica Bello
(1978, p. 85):
Para objetivar o seu intento [de criar um colégio baseado na estrutura dos
liceus franceses], chegou o padre João Ribeiro a incumbir Tollenare, o ilustre
viajante francês que esteve no Recife nos anos de 1816 e 1817, de enviar de
Paris material didático para os gabinetes e museus que pretendia instalar na
projetada escola.
Este sentido de museu escolar certamente mudou nas décadas de 60 e 70 do século XX,
durante as administrações do arqueólogo Laroche e do taxidermista Leopoldo de Melo. Neste
período o museu – ainda escolar – parece ter assumido uma relação mais próxima com a
produção do conhecimento científico, passando por um segundo processo de musealização e
tornando-se capaz de sobreviver à própria mudança de status da História Natural frente às
demais ciências, em especial a Biologia, que passou a ser ensinada no ensino médio no lugar da
História Natural.
Sobre a atuação de Laroche, sabemos que em diversas ocasiões o arqueólogo produziu
seu conhecimento científico a partir do próprio museu. Por exemplo, em 1975, quando Laroche
publicou o opúsculo “Contribuições para a pré-história pernambucana”, cuja edição foi
patrocinada pelo “Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Educação e Cultura,
Gabinete de História Natural do Ginásio Pernambucano” (LAROCHE, 1975)12.
Observamos que o Museu ganhou o status de lócus de produção de conhecimento
científico, na área da arqueologia, que naquele momento ainda estava bastante próxima da
História Natural, como uma das suas áreas de especialização. Já não se tratava de um museu
que vivia para o colégio, e sim de um museu de ciência, que apresentava funções de pesquisa,
de ensino, de exposição e que, inclusive, parece ter possuído uma política de aquisição de
coleções, pois é deste período a incorporação das coleções arqueológicas. Este novo processo de
12
Identificamos outras obras publicadas por Laroche a partir do Gabinete de História Natural do Ginásio
Pernambucano: LAROCHE, 1977 e LAROCHE, 1977a.
musealização aglutinou um novo sentido às coleções do museu, que deixaram de ser apenas
coleções de ensino para se tornarem também coleções científicas, valorizadas socialmente como
tais.
Chamamos atenção também para o fato de que o museu manteve, pelo menos até 1979,
o seu nome original: Gabinete de História Natural do Ginásio Pernambucano. Em documento
produzido pelo taxidermista José Leopoldo de Melo em 11 de setembro de 1979 (MUSEU DO
HOMEM DO NORDESTE, 1979), este utiliza a nomenclatura tradicional do Museu,
associando-o diretamente à História Natural, e indica que o museu encontrava-se aberto, com
largos horários de visitação, inclusive durante a noite (2ª e 5ª, de 14h às 17h e das 19h às 21h;
3ª, 4ª e 6ª, de 8h às 12h e 14h às 17h), provavelmente atendendo aos horários de funcionamento
do Colégio – um indício de que o sentido de museu escolar continuava sendo atribuído ao
museu, para além do sentido de museu de ciência.
Embora tenhamos pouca informação documental sobre a gestão de José Leopoldo de
Melo, o perfil profissional de taxidermista nos leva a supor que o mesmo manteve o perfil
científico do museu, para além da manutenção do seu nome. Os taxidermistas mantinham
estreita relação com a história natural, sendo comumente apresentados como auxiliares dos
cientistas, como por exemplo, no já referido livro de orientação vocacional para as ciências
publicado em 1966, que aponta o taxidermista como o “técnico auxiliar que prepara
apropriadamente os corpos dos animais para serem conservados” (BRAGA, 1966, p. 255),
indicando ainda sua relação direta com a História Natural: “Pode a taxidermia ser realizada por
práticos, geralmente serviçais de laboratórios e museus, porém a técnica de valor científico é da
competência de Cientistas Zoólogos e Conservadores de Museus de História Natural”
(BRAGA, 1966, p. 256).
Este perfil de espaço de museu enquanto produção do conhecimento científico não se
manteve até o final do século XX. Após o fechamento do Colégio em 1998 e sua reabertura em
2004, deixa de existir o Gabinete de História Natural do Ginásio Pernambucano, e a instituição
que reabre passa a se chamar Museu de História Natural Louis Jacques Brunet.
A coleção passa a ser valorada como patrimônio museológico, no sentido
contemporâneo do termo:
todos os bens culturais e naturais, que ao serem protegidos por museus, se
transformam em testemunhos materiais e imateriais da trajetória do homem
sobre o seu território, tendo neste novo arranjo adquirido uma realidade
cultural específica; ou seja, bens culturais que passaram pelo processo de
musealização (IBRAM, 2012, p. 1)
Neste novo processo de musealização a coleção é preservada por estar em um museu,
perdendo sua conexão com a produção de conhecimento científico – a história natural nem mais
existe no mundo acadêmico brasileiro – e agregando o sentido de museu escolar tal como o
compreendemos atualmente, como instituição que, ao mesmo tempo que serve à educação,
serve também como registro das práticas de ensino do passado, conforme explica Petry (2012,
p. 80):
Os museus escolares dos séculos XIX e XX ocupavam-se da temática escolar,
da recolha e organização de material para o ensino dos escolares, mas não da
guarda da sua memória, ao menos como primeiro objetivo. Todavia, à medida
que os objetos foram recolhidos acabaram por constituir uma memória das
práticas pedagógicas e das escolas (grifo nosso).
Mesmo a mudança do nome do Museu – que retoma o nome do seu fundador, que
esteve à frente do Museu por apenas oito anos – pode ser percebida como um indício de que
nesta nova musealização a coleção assume um perfil mais histórico e menos científico,
evidenciando a história do Ginásio Pernambucano e de suas práticas de ensino. Conforme
explica Granato (2007, p. 2):
A questão se amplia e apresenta outras fronteiras, no momento em que não se
está analisando simplesmente um grupo de objetos de ciência e tecnologia,
mas sim um grupo especial desses objetos, artefatos que foram incorporados
ao acervo de um museu. Estes objetos passam por um processo de agregação
de novos valores, não sendo apenas instrumentos científicos.
Mais recentemente, vêm sendo atribuído à coleção o valor de patrimônio cultural de
ciência e tecnologia, pois, até o momento esse é o único exemplar conhecido de coleção de
História Natural existente na cidade do Recife e, em relação ao estado de Pernambuco, é a única
coleção, ainda existente, datada do século XIX e que teve protagonismo na coleção científica
durante o século XX. Trata-se, portanto, de um caso único, no estado, de preservação da cultura
material referente ao modo de se fazer ciência natural que vigorou entre meados do século XIX
e meados do século XX.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho realizamos uma primeira tentativa de interpretação dos processos de
musealização da coleção de história natural do Museu de História Natural Louis Jacques
Brunet, concluindo que a coleção passou por, pelo menos, três processos de musealização
diferentes ao longo do século XX: foi museu escolar (auxiliar do ensino), museu de ciência, e
presentemente vem assumindo também o perfil de museu da história escolar.
Estes sentidos atribuídos pela musealização não são excludentes, convivendo, e sendo
postos em evidência de acordo com as atitudes dos seus dirigentes e usuários. Felizmente, isso
quer dizer que a coleção continua viva, sendo culturalmente apropriada de maneira diferente em
cada processo de musealização pela qual vem passando.
Acreditamos que este tipo de trajetória é exemplar no caso de pequenos museus de
história natural que subsistiram à mudança epistemológica pela qual a disciplina passou durante
a segunda metade do século XX. As coleções precisaram ser musealizadas através da
valorização de outros elementos, tanto científicos quanto de outras naturezas, principalmente
históricos.

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