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CRISTIANISMO, RELIGIÃO DE ESCÂNDALO E INJUSTIÇA

Jossy Soares
Um grande jornalista americano me surpreendeu outro dia ao afirmar: “A graça de
Deus é injusta e escandalosa.” Num primeiro momento fiquei chocado, por ser nascido e
criado num país nominalmente cristão. Após uma análise das alegações do jornalista, pude
entender que realmente a Graça de Deus é injusta quanto a justiça humana, ela não se
adequa a justiça deste mundo de desgraça.

Pense bem, uma graça que num momento premia, bonifica, perdoa e transforma um
mau e miserável marginal num cidadão do céu é por demais injusta.

Lembro-me da Cruz de Cristo. Um homem nefasto, bandido, pendurado numa cruz


como conseqüência de seus crimes, está sangrando e morrendo. Ali, exposto a vergonha e
indolente, contempla ao seu lado Ele, o Nazareno Salvador. Num momento, repreende
aquele que está do outro lado por zombar do Filho de Deus e ao contemplar a Jesus Cristo
exclama: Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino!” Um homem que só fez
o mal agora pede perdão. As atenções se prendem à resposta do Nazareno. Alguns podem
até pensar: só fez o mal a vida inteira e agora quer ser bonzinho? Jesus, contrariando todas
as expectativas exclama: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso!”

A resposta de Jesus ao ladrão contraria o senso de justiça usual. Do ponto de vista


das instituições governamentais jamais um bandido deveria ser cortejado e convidado a ser
cidadão de qualquer país, muito menos do céu, o local da pureza e da justiça plena. Pessoas
com um tipo de comportamento maligno como aquele ladrão devem é estar separados do
convívio social. Mesmo na atual tendência de penas alternativas, tal delinqüente deve ter
seus direitos e liberdades limitados, sendo circunscrito a determinada área de convívio e em
labor compensativo. A resposta de Jesus ao bandido é por demais não justa no aspecto
humano.

Mesmo no plano religioso Cristo contraria o senso comum. A despeito da alma


delinqüente e perdida daquele ladrão, Jesus entendeu que não era necessário que ele pagasse
pena espiritual alguma. De pronto dispensou a reencarnação como mecanismo de
purificação para elevação da alma através de carmas. Jesus tornou inoperante os doze passos
do Budismo para a purificação, como também as penitências da Igreja Romana.

Confesso que fico admirado diante da determinação de Jesus, Ele nem ao menos
menciona o tão falado desequilíbrio de energia cósmica da nova era. Não manda o ladrão
meditar nem buscar energias em cristais. Se pelo menos Jesus, como judeu que era
mandasse a família daquele ladrão oferecer um sacrifício de animais por ele para cobrir seus
pecados. Não. Nada disso o Mestre fez.

Com uma simples declaração, através de um olhar de compaixão, Jesus exclama:


“Hoje mesmo estarás comigo no paraíso!” Agora me digam se isto não injusto?

Procurando saber o por que da atitude de Jesus, examinei sua doutrina e pude
entender tal mistério. São Paulo falou que “todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus, e são justificados gratuitamente pela sua Graça, pela redenção que há em Cristo
Jesus.” (Romanos 3.23,24) Assim, a fiança, caríssima por sinal, foi o próprio Cristo quem
pagou. Não havia ninguém, por mais rico que fosse que pudesse comprar a sua justificação
espiritual. São Pedro chega a desprezar prata e ouro quando diz que fomos resgatados com o
sangue de Cristo e não com coisas corruptíveis (1.º Pedro 3.18,19). Mesmo os sacrifícios
que envolvam até a morte física são ineficazes, pois Paulo diz que ainda que desse o corpo
para ser queimado e não tivesse o Amor, nada valeria. Esse amor é aquele que Jesus se
referiu: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna!” (João 3.16). Esse amor
aponta para uma graça estranha, injusta e escandalosa.

Descobri assim que Deus presenteou o homem com seu grande amor enviando seu
Filho para oferecer a salvação de graça. Paulo informou-me disso: “Pois é pela graça que
somos salvo, mediante a fé; isto não vem de vós é presente de Deus. Não vem das obras,
para que ninguém se glorie.” (Efésios 2.8,9) Esta declaração deixou nosso sistema de
justiça escandalizado. Um Deus justo e santo declara um pecador bandido salvo e justo. E
ainda diz que as obras não tem valor como mecanismo de elevação espiritual, mas que as
obras de caridade devem ser conseqüências da salvação. (Gálatas 5.22)

Nossa natureza humana decaída é incapaz de compreender a bondade de Deus,


isto leva o homem a dificultar o caminho para Deus, inventando a auto salvação
penitencial, como se fosse possível o homem rastejar por eras a procura de evolução
espiritual.
Jesus escandalizou o sistema religioso de sua época ao almoçar com funcionários
públicos corruptos, inclusive fiscais de renda. Jesus seria capaz de ser amigos de todos
envolvidos no escândalo da Operação Lavajato e oferecer a cada um deles o perdão, de
graça, apenas recomendaria que eles não defraudassem mais. Quando um religioso censurou
o Mestre pelo seu convívio como os delinqüentes, Ele falou: “Não são os sãos que precisam
de médico, mas sim os doentes, (...) o Filho de Deus veio buscar e salvar os que se haviam
perdido.” (Lucas 10.19)

De um forma dinâmica, Jesus me convenceu que ele veio realmente para ser uma
Rocha de Escândalos, uma Pedra de Tropeço. Prostitutas, ladrões, cegos, mendigos,
vagabundos, e outros excluídos desfrutaram da companhia e doce paz de Jesus. A todos
esses Jesus perdoou e mandou seguir em paz seu caminho recomendando que não pecassem
mais. Jesus jamais exigiu sacrifícios, carmas, purgações, e outros instrumentos cansativos
das religiões.

A Graça de Cristo me surpreendeu. Paulo explicou que “somos justificados pela fé


em Jesus, e assim temos paz com Deus, por meio de Jesus Cristo” (Romanos 5.1). Entendi
que não precisa mais ninguém pagar penitências ou carmas, Cristo pagou com seu próprio
sangue toda a culpa (Hebreus 10.12 a 14) daquele que o aceitou e o aperfeiçou para sempre.

Compreendi porque aquele jornalista chamou a Graça de Deus de injusta e


escandalosa. É injusta porque nosso sistema de justiça é o da não-graça, e é escandalosa
porque tira nossas máscaras e nos diz que nosso pecado é semelhante ao pecado dos
malfeitores. Para Deus não há acepção de pessoas, todos pecaram, todos são carentes da
graça, e não podemos fazer por nós mesmo nada para merecê-la ou para não merecê-la, ela é
dada a todos indistintamente.
JOSSY SOARES é ministro do Evangelho na AD em Cuiabá. Advogado. Este Artigo – artigo Publicado em
7/25/2002, Jossy Soares (membro da AD em Cuiabá, MT) Revista Pentecostes, novembro de 2000, págs. 12
e 13. www.evangelismouniversitario.com.br

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