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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Centro de Ciências Humanas e Sociais


Programa de Pós-Graduação em Educação
Mestrado em Educação
Disciplina: Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

RESUMO:
História da Educação
Da antiguidade aos nossos dias.
Autor: Mário Aliguiero Manacorda

Norma Celiane Cosmo

Campo Grande – MS, 15 de Outubro de 2003.


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Centro de Ciências Humanas e Sociais
Programa de Pós-Graduação em Educação
Mestrado em Educação
Disciplina: Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Trabalho apresentado como


avaliação parcial da disciplina:
Fundamentos Históricos e
Filosóficos da Educação.
Professora: Drª: Fabiany de
Cássia Tavares Silva.

Campo Grande, 15 de Outubro de 2003.

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CAPÍTULO I

SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO ANTIGO EGITO

A Fenícia como também a Mesopotâmia parece reconhecer no Egito a origem da


própria cultura, sendo considerados os testemunhos mais antigos sobre os aspectos da
civilização e em particular sobre a Educação.
Pela localização as margens de um grande rio e com uma agricultura avançada, o
povo egípcio acumulou e transmitiu noções de alto nível, não somente sobre a agricultura e a
agrimensura, mas também sobre as ciências que lhe serviam de base como a geometria,
astronomia e especialmente a matemática que é o instrumento básico de uma e de outra .
Dividia o trabalho, se articulando com outros setores produtivos, tendo como
pressuposto uma transmissão organizada das habilidades práticas e das noções científicas
relacionada a cada atividade.
Há provas do processo de inculturação , reservado as classes dominantes. Escola
de formação para a vida política, para o exercício do poder. Documentos revelam da
introdução ao comportamento e a moral do poder.

1 - O ANTIGO IMPÉRIO: A LITERATURA SAPIENCIAL COMO INSTITUTO


ORATÓRIA

Existe toda uma literatura sapiencial, feita de ensinamentos morais e


comportamentais, tal literatura pressupõe uma escola da vida reservada as classes dominantes.
Os mais antigos remontam ao período arcaico 3ª dinastia (século XXVII a. C.
contendo preceitos morais e comportamentais rigorosamente harmonizados com as estruturas
e as conveniências sociais das castas dominantes. Estão sempre presentes em forma de
conselhos dirigidos do pai para o filho, ou para indicar o “discípulo” seja este filho carnal ou
não.
A imutabilidade e a autoridade são as características fundamentais desta educação.

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2 - A IDADE FEUDAL “OS NOVOS CHARLATÕES”

Apresenta quatro dinastia (7ª a 1ª de 2190 a 2040 a.C.). Deixou autobiografias e


ensinamentos que mostravam que os senhores locais aparecem mais independentes do poder
régio e os faraós mais preocupados com a decadência da disciplina social.
O parentesco (os filhos) e a devoção já não são mais suficientes; sendo preciso que
se fundamentasse uma formação mais sistemática do homem político.
A escola neste período aparece visivelmente melhor definida: ela se realizava com
o mestre sentado na esteira e os alunos ao redor dele.

3 – MÉDIO IMPÉRIO: O ESCRIBA E OS OUTROS OFÍCIOS

Início do médio império, período tebano (11ª e 12ª dinastia 2133 – 1786 a.C.)
O texto clássico do ensinamento sapiencial, usado nas escolas é Kemit ou Suma. É
o texto de um escriba que educa um escriba. Há a confirmação que a instrução era um fato
interno à família. Neste período, o acesso à profissão de Escriba, se apresenta perante os
jovens, como uma perspectiva de ascensão social.
O escriba é aquele que lê escrituras antigas, que escreve nos rolos de papiros na
casa do rei, instrui seus colegas e guia seus superiores.
Profissão de evidente prestígio e autoridade.
Se os antigos ensinamentos, pressupõe uma ordem social determinada e imutável,
este, formula implicitamente em juízo sobre essa ordem social. Na realidade ao satirizar o
triste viver dos artesãos, deixando o testemunho escrito sobre a opressão e a exploração do
trabalho.

4 – O SEGUNDO PERÍODO INTERMEDIÁRIO E O TREINAMENTO DO


GUERREIRO.

Época dos hicsos, (13ª a 17ª dinastia) cerca de 1785 a 1580 a.C. Documentos
testemunham a manutenção da tradição educativa e apresenta também novos temas.

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A passagem da sabedoria para a cultura ou instrução torna-se cada vez mais clara:
agora é sábio, quem conheceu a tradição nos livros, adquiriu uma cultura e assimilou a
sabedoria dos antigos livros, bibliotecas ou casa dos escribas ganha importâncias evidentes.
É desta época, outros ensinamentos ricos de novos elementos, como o
ensinamento, através de debates, de um escriba sobre ao princípio educativo, isto é, se a
educação deve ser severa ou permissiva.
É também de grande interesse, neste ensinamento o acesso à educação na 1ª
infância. A criança é separada da mãe para freqüentar a escola, que aparece cada vez mais
claramente como uma instituição pública e distinta da família.
No início do novo império (época de Ramés ou segundo império Tebano, 18ª - 20ª
dinastia, cerca de 1552-1026 a.C.), alguns documentos informam sobre o segundo aspecto da
formação dos dirigentes: a preparação para a guerra.
O novo império, pode ser considerado como época da generalização da escola,
pois fornece uma quantidade considerável das chamadas coletâneas escolares (texto,
cadernos, hinos, orações, sentenças morais, além de exaltações dos antigos escribas. A
tradição literária, aparece como o grande patrimônio.

5 – O PERÍODO DEMÓTICO: TESTEMUNHOS EGÍPCIOS E GREGOS.

Período (1069 – 333 a.C.). Início do ensinamento de vida, das lições de saúde.
Objetivo do ensino não é mais do bem falar, isto é, da oratória praticada ativamente nos
conselhos e assembléias.
Sobre o jogo infantil; o Egito transmitiu, através dos achados arqueológicos, tanto
brinquedos, como representação de jogos, junto com as fontes literárias apresentadas e os
testemunhos iconográficos, uma preciosa fonte de informações, sobre os aspectos concretos
da Educação.

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CAPÍTULO II

A EDUCAÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA

Embora com características diferentes, encontramos aspectos da educação do


Egito, que foram transmitidos e interpretados por autores gregos como: Heródoto, Platão e
Diodoro. Encontraremos a separação dos processos educativos segundo as classes sociais,
porém menos rígidos e com evidente desenvolvimento para formas de democracia educativa.

PARA AS CLASSES GOVERNANTES: Uma escola, um processo educativo separado,


visando o preparo para as tarefas do poder que são o “pensar” ou “falar” isto é a política

PARA AS CLASSES EXCLUÍDAS E OPRIMIDAS: Em modo e graus diferentes, a


mesma aculturação que descende do alto para as classes subalternas dominantes e dominados,
tem sua origem na escola Pitagórica que afirma: “toda sociedade é formada ou dominantes e
dominados: por isto como terceiro elemento intervém a lei”.

1 – AS DUAS EDUCAÇÕES ARCAICAS:

a. A Educação homérica:
Ao se falar da Grécia, só se pode começar com Homero, considerado “O educador
de toda a Grécia”. É ele, quem sugere a distinção entre o dizer e o fazer, proposto quase
como critério interpretativo de toda a história da Educação. Mas, em Homero, os dois termos
não estão em oposição e não indicam as opostas tarefas de quem governa e de quem produz, e
sim, os dois momentos da ação de quem governa.
As pessoas das classes dominantes eram guerreiras na juventude e políticos na
velhice.
Os educadores arcaicos, tem em comum algo de estranho: são pessoas que
mataram ou tentaram matar e por isso tiveram que fugir de suas terras e procurar

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hospitalidade em outro lugar. De modo paradoxal, exatamente estes feitos pouco promissores,
lhes abrem o caminho para a missão de educador.
Os Hebreus que mataram três mil pessoas por terem cultuado o bezerro de ouro,
foram prometidos por José a educador do povo, formando assim a carreira dos levitas.

b – A educação Hesiodeica:
Em Hesíodo tem origem os ensinamentos de Quíron, que constituem em
patrimônio da sabedoria e de moralidade camponesa e que correspondem aos “ensinamentos”
egípcios, mesopotâmicos ou hebraicos.
A tradição grega posterior freqüentemente contrapôs os dois modelos ideais de
educação o chamado “torneio poético” de Homero e de Hesíodo, mostra o povo favorável a
Homero e o rei a Hesíodo, que assim vence.
Assiste-se enfim, a um conflito entre as duas tradições culturais, a dos aristocratas
guerreiros e a do povo de produtores. A esse conflito se entrelaçara em outro que, com base
social semelhante, dará origem à polêmica entre a excelência por natureza e a excelência
adquirida entre virtudes inatas X aprendidos entre a natureza X a Educação. Neste conflito,
aparecerá o desprezo dos conservadores por qualquer ascensão das classes populares através
da aprendizagem.
Na educação grega arcaica, encontramos, mais ou menos integralmente
documentada a aculturação (moral, religiosa, patriótica) e de aquisição das técnicas, sobretudo
as do governar, mas também as do produzir as “palavras” e as “ações”.

2 – A EDUCAÇÃO NO PERÍODO CLÁSSICO

A música e ginástica está baseada também o período clássico. A educação dos


cidadãos em Creta e Esparta, é considerada durante muito tempo modelo de política e de
Educação por todos os conservadores gregos. Nessas cidades a educação era tarefa precípua
do Estado.
Nasce neste período a escola de Pitágoras (século VI a.C.) seu princípio é que a
educação abre caminho para a concepção da educação dos jovens como “fundamento” da
sociedade. A escola de Pitágoras distinguiram-se quatro graus: os acústicos, matemáticos, os
físicos e os sebásticos que eram introduzidos na ciência sagrada e esotérica.

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3 – A ESCOLA DO ALFABETO

Embora permaneçam firmes o conteúdo e os fins da educação (música e ginástica),


um fato novo intervém. Nasce a escola da Escrita. Na Grécia com a escrita alfabética, surge
um meio democrático de comunicação e de educação e a escola de escrita se abre
tendenciosamente a todos os cidadãos. Surge um novo mestre, o das letras do alfabeto, o
grammatistas, que certamente não tem a autoridade do escriba egípcio, mas exerce uma
importante função social .
Pode-se dizer que o início do século V a.C., já existia uma escola de letras
(grammatica) que é progenitora direta de nossa escola.

4 – A CARREIRA EDUCATIVA E A DIDÁTICA

Platão nos informa melhor sobre a metodologia do ensino desta nova e


democrática técnica cultural que era a escrita alfabética da qual nos diz que primeiro se
aprendiam as letras oralmente e depois as letras escritas. No século I a.C. Dioniso de
Holicarnasso, nos informará sobre a persistência desta didática.

5 – O CONTEÚDO E OS FINS DA EDUCAÇÃO

Platão, naturalmente, era o mais laico e preocupava-se com as funções do


governante, que numa época “filosófica” como a sua, tenha a obrigação de compreender
somente os érga e os épea, mas também o eidénai, isto é, o pensar.
Os outros ensinamentos são obviamente a iniciação à literatura, à escrita e as
contas acompanhadas, como instrução intelectual, da leitura de poetas e pensadores e também
de filósofos.
Em Platão será encontrado um projeto político orgânico, baseado em grande parte
nos costumes correntes, mas, modificado em vista de um ideal de renovação.
Em Aristóteles pelo contrário, encontraremos uma descrição e uma interpretação
dos documentos correntes, nos quais a intenção reformadora será mínima, mas a tentativa de
sistematizar será significativa.

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Platão: parte da divisão social do trabalho e de seus resultados históricos na polis,
onde os guerreiros aparecem no fim com um produto e remédio. Ele pensa na educação dos
cidadãos como guerreiros, a partir de uma seleção dos mais aptos.
Platão propõe intervir na tradição de música e ginástica, para adequá-las as suas
exigências ideais a própria constituição da cidade e todos os aspectos da sociedade como um
todo.
Aristóteles, por sua vez, após ter falado longamente das funções do Estado, da
Educação para as artes e do treinamento do escravo, distingue, o que se faz para a utilização e
o que se faz para o conhecimento, distingue razão prática e razão teórica, atividades e ócio.
Nestas bases ele analisa a educação discutindo as quatro disciplinas já consolidadas na escola
– Gramática, Ginástica, Música e Desenho. Para Aristóteles o homem livre deve visar a
própria cultura. “ Não para o ofício mas para a educação”, já dissera Platão concordando com
Aristóteles.
Isócrates, herdeiro dos sofistas, delineia um caminho que consiste na instrução
oratória e na retórica, a arte de falar em público, nos conselhos e nas assembléias.

OS DOCENTES:

O ofício de mestre era o ofício de quem caíra em desgraça. Em geral recebia um


salário de miséria.

A DIVISÁO DA ESCOLA E O GINÁSIO

A escola evoluiu graças às contribuições financeiras de particulares e soberanos. A


partir, portanto, do século V, se discute se o Estado, a polis, deve assumir diretamente a tarefa
da instrução.
Este processo de Estatização da escola é especialmente testemunhado pelas
inscrições, encontradas em grande quantidade em várias cidades. Alguns territórios, havia a
obrigatoriedade de “cuidar da educação das crianças da comunidade.
Estas inscrição em geral, relatam doações celebrando o doador e estabelecendo os
deveres dos mestres e dos pedônomos, o calendário escolar, as provas finais, as cerimônias e

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as férias. Prevêem, às vezes, sanções contra os pedônomos acusados de empiedade e contra os
pais que não cuidam da educação dos filhos. Falam ainda dos salários (“Que os salários sejam
pagos regularmente”). Trata-se de uma verdadeira lei sobre a instrução. A partir daí, porém, a
instrução atingirá não somente as crianças livres, mas também os meninos, os pobres e até os
escravos. Dessa forma as escolas foram se tornando gradativamente públicas. É um processo
que o império romano levara adiante. Este processo significou uma melhoria das condições
econômicas e do prestígio social dos mestres, muitos dos quais são lembrados em inscrições
públicas ou foram honrados com monumentos.

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CAPÍTULO III

1 - A EDUCAÇÃO EM ROMA

Em Roma a educação moral, cívica e religiosa, aquela que chamamos inculturação


às tradições práticas, tem uma história com características próprias, ao passo que a instrução
escolar no sentido técnico, especialmente das letras, é quase totalmente grego.
Cícero diz:
“As virtudes tem sua origem nos romanos, a cultura nos gregos”

A cultura romana foi uma cultura importada. Os historiadores da pedagogia


concordam em afirmar que, na Roma Antiga, o primeiro educador é o pater familias. Na
Roma Antiga não havia educador estrangeiro ou banida de sua pátria, mas veremos emergir
em primeiro plano a função educadora do pai. Desde os primeiros tempos das cidades, a
autonomia da educação paterna era uma lei do Estado. O pai é dono do artífice de seus filhos.
O próprio pater é a Pátria. A antiga lei das doze tábuas, do início da República até
a metade do século V. a.C, permite entre outras coisas, que o pai mate seus filhos anormais,
prende, flagele, condene aos trabalhos agrícolas forçados, venda ou mate os filhos rebeldes,
mesmo quando já adultos. Esta educação no seio da família é freqüentemente escoltada pelos
escritores romanos.
Os testemunhos históricos referem-se sempre as classes dominantes, ignorando
quase totalmente as classes produtoras e subalternas. O papel das mulheres na educação
familiar, não parece secundário, conforme a maior consideração social que as mulheres
romanas parecem ter gosado em confronto com as mulheres gregas.
A mãe é atribuída a tarefa de ensinar aos filhos os primeiros elementos do falar e
do escreve. As crianças cresciam, entre os brinquedos e as primeiras aprendizagens. Já
existiam também jogos de reflexão, como a dama, o xadrez, os astrógolos e os dados.
Após os sete anos, a criança passava mais diretamente sob a tutela do pai, do qual
aprendia os primeiros rudimentos do saber e as tradições familiares e Pátrios, dos quais era
especialmente treinados nas exercitações físicas e militares.

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2 - EDUCAÇÃO POR OBRA DE ESCRAVOS E LIBERTOS

Em Roma os escravos mestres foram gregos que, falassem ou não o latim,


ensinaram a própria língua e transmitiram a própria cultura aos romanos. Com a evolução da
sociedade patriarcal romana, a educação se torna um ofício praticado inicialmente por
escravos no interior da família e, em segundo, por libertos na escola. Os historiadores assim
constataram que, também em Roma são estas as origens gloriosa da profissão de educador.
“Era vergonhoso ensinar o que era honroso aprender”.
Historicamente, pode-se afirmar que em Roma, somente com a vinda da Grécia de
embaixadores, primeiro, e de prisioneiros, depois, se determina de fato o surgimento e a
consolidação de escolas, inicialmente mais de cultura grega que latina.

3 – AS RESISTÊNCIAS À ACULTURAÇÃO GREGA

Entre o fim do século IV e o início do século III a.C. a escola em Roma é uma
instituição normalmente difundida. É uma escola latina dos primeiros rudimentos,
provavelmente já influenciada pelo novo processo de aculturação grega.
Há críticas à escola da retórica latina sob o pretexto de que faltando-lhe o
fundamento da tradição cultural terminava sendo uma escola de subversão política.
A nova forma política dos principados ou império dissolvia o para sempre a
ascensão ao poder dos populares enquanto classes ou analgoma de classes.

4 – LITERATURA, ESCOLA E SOCIEDADE

A vitória da escola do tipo grega em Roma, representa valor incalculável,


mediante o qual a cultura grega tornou-se patrimônio comum dos povos do império Romano e
depois foi transmitida durante milênios à Europa medieval e moderna.
Geralmente, dá-se início à literatura latina pelas obras de alguns poetas
estrangeiros, gregos de língua e cultura, que escrevem em versos latinos poemas épicos,
tragédias e comédias de tipo grego.
Contemporaneamente a estes estrangeiros encontram-se autores latinos que
escrevem em prosa sobre história, direito, agricultura e até, moral e retórica .

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As diferenças entre a literatura e a prosa dos latinos e a literatura em versos dos
gregos, consiste no fato de que a primeira é obra de cidadãos que também escrevem, ao passo
que a segunda é obra de profissionais, que só escrevem a atividade do verso, porque são
excluídos de todo direito de cidadania e portanto, do direito à participação política. A
literatura do cidadão romano deve ser de participação nos atos públicos ou de manifestações
de suas funções privadas, jamais poderá ser uma arte ou uma profissão exercida para viver.
Verifica-se também em Roma o que teorizavam Platão e Aristóteles na Grécia. Um
cidadão livre pode dedicar-se a atividades artísticas e literários não como exercício de um
profissão, mas somente como uma atividade cultural desinteressada e ocasional. Portanto, as
profissões intelectuais mais rendosas são reservadas às pessoas de uma determinada classe,
não aos cidadãos cujo ofício é o de cidadão.

A ESCOLA E SEUS ENSINAMENTOS

Havia em Roma a distinção três níveis de escola.


“O Gramático se ocupa com a perfeição do falar, também a matemática era uma
aprendizagem mnemônica e mecânica dos resultados. O enfado desta didática, o medo das
varas e dos chicotes e os conteúdos muito distantes da vida diária e dos interesses reais dos
jovens e da sociedade certamente não encorajava a freqüência dos estudos.
Nasce enfim, uma consciência crítica sobre a escola e a Educação. As razões dessa
crítica são compreensíveis. Uma sociedade que recebeu a escola de uma tradição alheia,
efetivando uma ruptura com as próprias tradições e em que a finalidade da conquista de
hegemonia política das massas, através da cultura, se revela ilusória. Nessa sociedade,
inevitavelmente a escola e sua cultura acabam por se fechar em si mesmo.

A ESCOLA DE ESTADO.

A escola do tipo grego foi, nos últimos tempos de república e nos primeiros do
principado, uma instituição difundida e consolidada. Sem dúvida, uma pequena parcela da
população é que freqüentava a escola e especialmente se assiste a uma inevitável diminuição
das freqüências desde os primeiros graus até os mais elevados. Isto significa que a escola de
gramática e de retórica era afinal, a escola das classes privilegiadas. A eloquência era algo

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raro entre os enfarrapados. Exatamente por causa desta sua características de ser uma escola
das classes dominantes, ela tornou-se de interesse público e conseguem o apoio do poder
político, que primeiramente faz concessões particulares, em seguida, provê os salários dos
mestres e, enfim, assume definitivamente as escolas.

UM IMPÉRIO CRISTÃO E BÁRBARO

Já estamos no limiar da idade média barbárica. No oriente grego subsistirá ainda


por um milênio o império que nós chamamos de Bizantino, mas que lá continuou a ser
chamado de Romano. Durante o século V o império acaba se desagregando totalmente e no
seu lugar entalam-se os novos reinos romanos-barbáricos. Decorre daí que, do poder, os
bárbaros assumem as tarefas político-militares do fazer e os romanos, numa forma subalterna,
as tarefas administrativas-culturais.
Nesta situação de destruição e de adaptações, que muda de um lugar para outro, a
cultura continua sendo tarefa dos romanos, que procuram conservar a cultura tradicional
romana. É verdade que os primeiros bárbaros chegavam em território imperial já aculturados
à civilização romana e a maioria já convertida aso cristianismo e há, portanto, uma
mentalidade cristã comum aos velhos povos romanizados e aos povos bárbaros.

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CAPÍTULO IV

A EDUCAÇÃO NA ALTA IDADE MÉDIA

Inicio do século VI marcado por significativos fenômenos políticos. De um lado


alguns reinos Romanos-bárbaros, se firmando em território do Império Ocidental, a igreja
representa a única autoridade autenticamente romana, de outro lado o império do oriente
tentando conservar sua unidade visando a conquista do império ocidental. Estes três centros
de poder, tão diferentes entre si, se enfrentarão numa complexa luta ideológica e militar.
Os bárbaros resiste aos atrativos da cultura romana, colocando em foco as virtudes
militares. Entre o público da Igreja é verificado um gradativo empobrecimento cultural.
Neste período, no que concerne particularmente ao campo da instrução, verifica-se
dois processos evidentes, o desaparecimento da escola clássica e a formação da escola cristã
na sua dupla forma de escola episcopal (clero secular e do clero regular).
Este empobrecimento cultural é vivenciado pelos responsáveis pela condução da
igreja. Há registros que havia bispos que não sabiam assinar o próprio nome.
A rejeição à cultura clássica, se apresenta como um fato consumado. As escolas de
Artes Liberais tiveram na Itália, seus últimos momentos no dualismo Estado/Igreja. O poder
imperial e a atenção à escola enfraqueceram, mas os aspectos administrativos culturais do
domínio ficaram em parte nas mãos dos romanos, organizados em sua igreja. Nessa dupla
estrutura eclesial (regular e secular), que se encontra os primeiros movimentos de uma
educação Cristã.
Em 418, o papa Zózimo, instituía as primeiras escolas religiosas para que os
próprios sacerdotes pudessem aprender antes de ensinar.
O método utilizado baseava-se em uma obsessiva memorização e repetição, com
pouca atenção para o ensino da escrita. Considerando as iniciativas educativas do clero
secular e do clero regular, muda-se os conteúdos trabalhados passando dos clássicos da
tradição helenística romana para os clássicos da tradição bíblica evangélica.
Esta nova proposta concreta, não poderá prescindir de uma “preparação formal” no
ler, escrever e contar, embora em um nível muito abaixo do tradicional.

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Quanto a relação pedagógica, vimos uma profunda contradição entre sua evolução
positiva nos princípios e a continuidade do sadismo na prática.
No fim do século, o maior protagonista da vida cultural dessa época, o papa
gregório I, costuma ser considerado o mais duro adversário da cultura clássica, revelado
através de suas cartas.
Neste momento já se consumou uma profunda ruptura histórica: o mundo
helênico-romano quase desapareceu no ocidente e os contatos com o resto do império
romano–bizantino são mínimos e abre-se um abismo mais profundo ainda entre as dos povos
que convivem na mesma terra; finalmente, o avanço árabe no mediterrâneo assinala um ponto
irreversível e um deslocamento totalmente diferente de povos e culturas.
A Itália, cuja população terrivelmente reduzida se empobreceu e barbarizou, não
será mais, por quase dois séculos, nem mesmo para a sua parte romano-bizantino, em centro
sobrevivente da cultura antiga e nova: estes centros estarão situados às margens ou fora dos
confins do império, especialmente na Britânia e na Irlanda, de onde a cultura voltará a
erradicar-se entre nós.

AS ESCOLAS CANÔNICAS URBANAS

É efetivado uma outra revolução através da abertura desta nova cultura à crianças
de classes sociais subalternas, anteriormente segregados. É a nova atitude cristã de abertura da
Educação para todos (mais aculturação que instrução). Está configurada uma verdadeira
escola paroquial, seus alunos são recrutados dentro da própria organização eclesiástica, a
quem devem obediência, a fim de serem instruídos.
Devido, portanto, à ignorância e, talvez, à escassez dos sacerdotes, procurava-se
instruí-los criando nas paróquias verdadeiras escolas e recrutando libertos, para que fossem,
ao mesmo tempo clérigos e servos.

A ÉPOCA CAROLÍNGEA: A ESCOLA ENTRE O PAPADO E O IMPÉRIO

No final do século VII assistimos a uma consolidação das sociedades que surgiram
do encontro de romanos e bárbaros germânicos e também a um grande despertar no campo da
cultura e da escola.

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Após o papa Gregório, há uma revalorização da cultura clássica. A instrução, em
geral, e a formação do clero, em particular, embora confiada exclusivamente ao clero, é
assumida como própria pelo poder estatal.
Na Itália, alguns anos mais tarde, em 825, a Igreja é liberada completamente da
função de instruir os leigos. O exemplo da Itália é logo seguido na frança, onde no concílio de
Paris, em 829, são os próprios bispos que solicitam que o clero não seja obrigado a
providenciar a instrução dos leigos.
Logo, porém, a Igreja modificará radicalmente essa política, evocando para si
qualquer iniciativa em matéria de educação.
Exatamente são o papado de Eugênio II (824-827), inaugura-se a legislação
Pontifícia sobre as escolas episcopais.

A PREPARAÇÃO PARA OS OFÍCIOS ARTESANAIS

A decadência das capacidades produtiva na sociedade romana é incontestável. Mas


é também evidente que não desapareceram totalmente as habilidades próprias dos vários
ofícios, pelo menos dos principais: cultivar a terra, construir casas, trabalhar o ferro, a
madeira; não faltam tradições particulares do artesanato bárbaro, especialmente no que se
ourivesaria.
Por outro, provavelmente sobrevivem também as relações produtivas nos campos,
mas talvez num modo profundamente transformado pelo surgimento de uma nova divisão do
trabalho feudal, na qual aparecem, de um lado, os lavradores e pastores e do outro, os servi
ministeriales, que trabalha diretamente na corte e depois irão desaparecendo.

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CAPÍTULO V

A EDUCAÇÃO NA BAIXA IDADE MÉDIA

A renascença caolíngea foi breve, seguida por uma estagnação de


aproximadamente dois séculos. Não existe mais um poder central e verifica-se uma nova
desagregação dos domínios territoriais. Também a Igreja de Roma custa a exercer sua
autoridade, mas permanece contudo, a principal fonte de instrução.

A IGREJA

Nesta situação, as escolas régias, instituídas por Lotário na Itália e exigidas pelo
bispos na França, desaparecem totalmente, enquanto as escolas paroquiais, episcopais e
cenobiaiss sobrevivem liturgicamente.
Após o ano 1000, com a interrupção das últimas incursões dos povos bárbaros,
com a progressiva reabertura do tráfego no mediterrâneo, com a reconciliação do poder papal
e imperial, transferindo o império aos germanos, com o surgimento de novos centros urbanos
que, especialmente na Itália, se subtraem ao poder feudal e se organizam em forma de
comuna, verifica-se também um grande despertar de toda a atividade cultural e educativa.
Já em 1079, Gregório VII reafirmava aos bispos a obrigação de fazer ensinar em
suas igrejas as artes liberais. Mas nessa evolução, que envolve também os mosteiros, cuidava-
se para não confundir os ensinamentos religiosos com os das ciências naturais e mundanas,
que vinham se afirmando cada vez mais.
Em 1215, o novo Concílio Lateronense, convocado pelo papa Inocêncio III
confirma a obrigação de ensinar gratuitamente nas igrejas catedrais e nas demais igrejas e
devem estar abertas não somente para os “cléorigos da mesma igreja”, mas também “aos
alunos pobres”.

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MESTRES LIVRES E UNIVERSIDADES

Paralelamente ao surgimento da economia mercantil das cidades e à sua


organização em comunas, um novo processo se introduz na instrução, com o aparecimento
dos mestres livres.
É provável que justamente destes mestres livres, que atuavam junto às escolas
episcopais e sempre sob a tutela jurídica da Igreja (e também do império), tenham nascido em
seguida as universidades. Em Bolonha , na Segunda metade do século XI, teve início o ensino
do direito romano, pelo qual se costuma começar a história das universidades medievais.
Exatamente no início do século XIII, as universidades se consolidam e se
difundem, surgem as novas ordens religiosas: os dominicanos e os franciscanos. Ambos
renovam escolas e estudos e realizam ação missionária externa.
Variada e complexa é a história das origens de cada universidade (no fim da idade
média atingiram, na Europa ocidental, o número aproximado de oitenta).

A APRENDIZAGEM NAS CORPORAÇÕES

Os séculos depois do ano 1000 são aqueles que, estudados do ponto de vista
educacional, viram surgir os mestres livres e as universidades e do ponto de vista mais geral
da história econômica e social, são os séculos do nascimento das comunas e das corporações
de artes e ofícios: os séculos, em suma, do primeiro desenvolvimento de uma burguesia
humana.
Surgem novos modos de produção, em que a relação entre a ciência e a operação
manual é mais desenvolvida e a especialização é mais avançada.
Os campo perdem os ofícios remanescentes que antes eram exercidos pelos servi
ministeriales das cortes senhoriais. Os próprios feudatários transferem para a cidade. Nas
cidades, os grupos daqueles que exercem um mesmo ofício se consolidam, se expande e
começam a se organizar juridicamente.

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CAPÍTULO VI

A EDUCAÇÃO NO TREZENTOS E NO QUATROCENTOS

Temos aqui, em síntese; o quadro das carreiras sociais e educativas (excluídas,


naturalmente, a aprendizagem para o trabalho), o clérigo deve amar as sagradas escrituras; o
leigo deve amar os livros e prepara-se para liberais (as faculdades universitárias). No
Quatrocentos encontramos aquilo que hoje chamaríamos de “cooperativas escolares de
ensino”, em que é o cliente ou usuário da escola, quem financia um mestre para os filhos de
seus sócios.
Mestres autônomos, mestres associados em “cooperativas” mestre capitalista que
assalariam outro mestre, mestres pagos por corporação, mestres pagos pelas comunas: nesta
variedade de relações jurídicas, estamos perante a escola de uma sociedade mercantil que,
quase totalmente livre da ingerência da igreja e do império, vende sua ciência, renova-a e
revoluciona os métodos de ensino.

O HUMANISMO: SENHORIAS, PRECEPTORES, ACADEMIAS

Nasce um movimento inovador, mas de cunho aristocrático caracterizado pela


redescoberta do valor autônomo, portanto, pela volta à leitura dos clássicos latinos e gregos,
considerados durante a idade média.
Embora nenhum outro movimento cultural tenha dedicado maior atenção ao
problemas do homem e da sua educação, todavia o renovado contato com os clássicos gera
nos novos intelectuais uma aversão não somente pela cultura medieval, mas também pela sua
forma tradicional de transmissão, a escola. Será própria do humanismo e do renascimento a
procura de uma nova forma, mais humana e mais culta, de educar a instruir a criança. O
humanismo surge como polêmica contra a cultura dos cenóbios e das universidades. Contra as
metodologias obsessivamente repetitivas e a disciplina sadicamente severa.

20
CAPÍTULO VII

A EDUCAÇÃO NO QUINHENTOS E NO SEISCENTOS

O Quinhentos e o seiscentos, nos sugere, além do renascimento, vários outros


temas que não se esgotam improvisadamente: a Reforma, a Contra-Reforma, a Utopia, a
Revolução. Chama a atenção, neste período, para a evolução quantitativa da instrução,
fortemente exigida nestes séculos pela invenção da arte da impressa e pelo desenvolvimento
econômico e social.
De fato, é agora que começa a se propor novamente o problema do como e quanto
instruira, quem é destinado não tanto ao domínio, mas à produção.
Apesar de suas contradições, uma característica comum aos povos que se
revelaram contra a igreja de Roma e o fortalecimento e conseqüente surgimento, e não dos
países católicos, de novas ordens religiosas, a iniciativa mais avançada de novos modelos de
instrução popular e moderna. A reforma exprime sobretudo exigências populares, não faltam
porém, heranças cultas atitudes aristocráticas.
Também neste período o auspício e o projeto de uma escola nova, que em três
anos realize um programa educativo equivalente àquele que normalmente exigia uma vida
inteira, baseava-se numa crítica cruel à escola tradicional, fabricadora de gente cretina, e a
atitude hemanística transparece na evocação da escola antiga.
Talvez esteja o espírito genuíno da Reforma, a sua capacidade de relacionar escola
e cidade, instrução e governo, no sentido de auto governo. Testemunho da força também
educativa da Reforma no plano político é o fato de que a própria autoridade imperial teve que
assumir esta nova concepção de uma escola pública para a formação dos cidadãos ou, pelo
menos, dos governantes. De grande importância histórica é a tomada de consciência do valor
laico, estatal da instrução, concebida não mais como algo reservado aos clérigos, mas como
fundamento do próprio Estado.

21
A CONTRA-REFORMA E A ESCOLA

Caracterizado por uma defesa intransigente da prerrogativa da igreja católica sobre


a educação, que acaba envolvendo na condenação tanto as iniciativas alheias à extensão da
instrução às classes populares como toda inovação cultural.
A orientação educativa da Igreja católica, como resposta ao protestantismo, foi
fixada no concílio de Trento (1545-1564). O concílio condenou, com dez “regras”, várias
espécies de livros. Estabeleceu que fossem totalmente proibidos os livros heréticos ( Lutero,
Zwínglio, Calvino, Balthazar H. Pacimontorno, e Similares)
Quanto às escolas, após ter condenado em outros documentos as iniciativas dos
reformados, o concílio de Trento providenciou explicitamente as antigas tradições, instituiu os
seminários destinados a educar religiosamente e a instruir, nas disciplinas eclesiásticas, as
novas levas de sacerdotes.
À parte os seminários para a formação do clero, o exemplo mais bem-sucedido de
novas escolas para leigos, recomendado pelo concílio de Trento, foi o das escolas dos jesuítas,
campeõs máximos na luta da igreja católica contra o protestantismo.

A SÁTIRA

Muitas sátiras e comedias do Quinhentos nos apresentam uma imagem viva do


mestre e do seu bedel à caça de discípulos e, mais do que qualquer tratado pedagógico ou do
que todos os livros programaticamente destinados a informar sobre a escola, permitem elas
entender as relações entre mestres e discípulos e a didática real.
O elogio da loucura de Erasmo já era uma sátira; encontramos sátira nas comédias
de Ariosto ou de Aretino , Bibbiena ou de Dolce, nos textos da literatura Pedantesca e
Macarrônica, os quais, retratavam uma forma exasperada, a linguagem real das escolas e
davam voz ao enfado generalizado por todo o ensino tradicional.

A UTOPIA

As utopias tiveram grande desenvolvimento e acentuaram o seu caráter de utópico.


No início do seiscentos encontramos outros exemplos insignes dessas novas utopias, onde a

22
educação ocupa grande espaço, especialmente a Cidade do Sol; de Tomás Camponella, e a
Nova Atlântida, de Francis Bacon.
Cidade do Sol: de Camponella, criticam fortemente o ensino “servil” da gramática e da lógica
Aristotélica, no lugar desses casos mortos, ensinavam as ciências, a geografia, os costumes e
as histórias pintadas nas paredes da cidade de modo que as crianças aprendam “sem enfado ”,
brincando”.
Outro grande protagonista, bem mais moderno, é Bacon cuja crítica sobre os
erros tradicionais, a insistência sobre a experiência concreta e a pesquisa sobre uma nova
classificação das ciências são ainda válidas.
Canpanella e Bacon serão o quadro de referência constante para os pedagogos
inovadores do Seiscentos, o século das Utopias especificamente pedagógicas.
No atormentado período da guerra dos Trinta Anos (1618-1658), que dilacera
política e religiosamente o império, marca definitivamente a passagem do domínio de classe
no âmbito de uma grande nação, as minorias perseguidas do Império encontram compreensão,
acolhida e proteção especialmente nos Países Baixos, na Inglaterra e na Suécia. Entre estes
exilados perseguidos estava Jan Amos Comenius, em cuja obra se sintetiza o velho e o novo
da pedagogia. Nesta obra Comenius, alerta para não separar o problema da cultura e da
educação do problema da política e da religião.

23
CAPÍTULO VIII

A EDUCAÇÃO NO SETECENTOS

O fim do Seiscentos e o início do Setecentos conheceram outras temas de reflexão


e outras tentativas de ação além daquelas que vimos no esforço de comenius para uma
sistematização definitiva do saber a ser transmitido com oportunos métodos didáticos.

“ESCOLAS CRISTÃS”, CATÓLICAS E REFORMADAS

parece importante salientar duas situações. Primeiramente, a separação didática,


organizacional e cultural entre o ler e escrever. O ler concerne essencialmente ao ensino
religioso, à doutrina, às sagradas escrituras; o escrever, que tem seus mestres e lugares
próprios, concerne a uma técnica especificamente maternal, que exige cuidados particulares e
é voltado a preparar para o ofício. Esta é a grande novidade das “escolas cristãs”.

AS LUZES E A ENCICLOPÉDIA

Estava começando a era das grandes enciclopédias. A redação da grande


Enciclopédia das ciências, das artes e dos ofícios (1751-65), precedia, como sabemos, por
inúmeras iniciativas análogas, nasce na onda daquela grande preocupação de classificar e
atualizar o saber que ocupara todo o Seiscentos e a primeira metade do Setecentos, desde
Bacon a Comenius e até Leibnitz: ela marca uma virada na história da cultura.
Rousseau, trabalha, por um curto tempo em discordante concórdia com os
enciclopedistas sem dúvida, Rousseau revolucionou totalmente a abordagem da pedagogia,
privilegiando a abordagem chamada “antropológica”, isto é, focalizando o sujeito, a criança
ou o homem, e dando um golpe feroz na abordagem “epistomológica”.

24
PROPOSTA DE ATUAÇÃO DE UMA ESCOLA ESTATAL

Enquanto Diderot lutava contra os ataques da igreja e as proibições do Estado para


levar a termo a sua enciclopédia, Rousseau voltava as costas à sociedade, outras vozes se
levantavam solicitando uma intervenção inovadora do Estado no campo da Instrução,
tradicionalmente entregue à igreja.
Em 1763 apareceu o Essai d’éducation national de Louis René de La Cholotais
(1701-85). Um dos protagonistas da expulsão dos jesuítas da França, apreciado por Voltaire:
ele apresenta um plano de instituições de escolas, com os relativos programas nos quais
predominava o ensino da história e das ciências naturais, visando essencialmente a formação
da inteligência.
Em 1760, o conflito medieval, que foi tomando forma entre as incertezas de
conduta do império e do papado na época carolíngia, chegava ao fim. Em 1773, foi suprimida
a ordem dos jesuítas (A companhia de Jesus). A igreja católica tentará reagir contra essa
reviravolta.

AS REVOLUÇÕES DA AMÉRICA E DA FRANÇA

Vimos palavras dos filósofos, sátiras, romancistas e políticos; não podemos


esquecer um fato essencial: a Revolução Industrial. Esta evolui a passos gigantescos
especialmente na Inglaterra, mudando não somente os modos de produção, mas também os
modos de vida dos homens, deslocando-os dos antigos para os novos assentamentos e
transformando junto com o processo de trabalho, também suas idéias e sua moral e, com elas,
as formas de instrução.
Este duplo processo, de morte da antiga produção artesanal e de renascimento da
nova produção da fábrica, gera o espaço para o surgimento da moderna-instituição escolar
pública. Fábrica e escola nascem juntos.
O processo de politização, democratização e laicização da instrução tem origens na
consciência dos indivíduos e na prática dos Estados.
Na América, com a fundação da nova confederação dos Estados Independentes
entre 1765-1783, os chefes ideais e práticos dessa luta assumem publicamente as exigências
reformadoras do iluminismo e da enciclopédia. Exige um povo com um certo grau de
instrução, solicitam uma “cruzada contra a ignorância”. Franklin, em particular, propunha

25
uma instrução cujos objetivos fossem as boas maneiras, a moralidade, as línguas vivas e
mortas.
Mas o prolongamento mais significativo desta nova fase na França e Condorcet,
cientista famoso e secretário da Assembléia Legislativa. Condorcet, sustentava as
necessidades de uma instrução para todo o povo, aos cuidados do Estado e inspirado num
laicismo absoluto. Uma instrução, enfim, “única, gratuita e neutra”.

A IGREJA E A REVOLUÇÃO NA ITÁLIA

A Igreja Católica foi feroz contra a difusão das novas filosofias e contra as
intervenções jurídicas do Estado. Na Itália, o domínio napoleônico modificou o sistema de
instrução, notamos um certo progresso em relação as escolas cristãs, mas também uma feroz
conservação dos velhos motivos.

O ENSINO MÚTUO

Nos anos da Revolução Francesa vinha-se afirmando na Inglaterra uma nova


iniciativa educacional, promovida por particulares: o chamado “ensino mútuo” ou monitorial,
no qual alguns adolescentes instruídos diretamente pelo mestre, atuando com variedade de
tarefas como auxiliares ou monitores, ensinam por sua vez outros adolescentes. Apesar das
rivalidades e dos contrastes, a iniciativa do ensino mútuo espalha-se rapidamente,
especialmente por obra de Lancaster, tanto na Inglaterra como em todo o mundo de língua
inglesa: em 1806 já existiam centros e ensino mútuo, em Nova Iorque, na Filadélfia e Boston
e, em seguida em Serra Leoa, na África do Sul, e em outros países.

J. H. PESTALOZZI

J. H Pestalozzi atuava na Suíça declaradamente seguindo a


Trilha aberta por Rousseau, mas bem diferente deste, especialmente pelo seu
poderoso filantropismo. Pestalozzi extrai uma pedagogia fundada no “espírito da
benevolência e da firmeza”. Para ele, mediante a educação, o homem dever tornar-se útil à
sociedade.

26
CAPÍTULO IX

A EDUCAÇÃO NO OITOCENTOS
A PRIMEIRA METADE DO SÉCULO

O Oitocentos enfrentará a difícil tarefa da sistematização teórica e em parte, da


transferência para a prática destas instâncias ideais. Se no Setecentos a pedagogia se tornara
política, deve-se dizer que o Oitocentos a pedagogia se torna social.
Na idade moderna, o modo de produzir os bens naturais para a vida em sociedade
transforma-se profundamente. O momento passa a chamada cooperação simples, onde, sob
novas relações de propriedades e concentrando numa só oficina os artesãos antes dispersos, o
modo de trabalhar permanece essencialmente o mesmo. Em um momento posterior, cada
trabalhador realiza agora somente uma parte do processo produtivo completo de sua “arte”.
Por último, devido a completa intervenção da ciência como força produtiva, passa-se ao
sistema de fábrica e da indústria baseada nas máquinas em que a força produtiva não é mais
dada pelo homem, mas pela água dos rios, pelo carvão mineral e em seguida a um simples
acessório da máquina.
A Revolução Industrial muda também as condições e as exigências da formação
humana. Ao entrar na fábrica, o homem não possui mais nada nem o lugar do trabalho, nem a
matéria-prima nem os instrumentos de produção, nem a capacidade de desenvolver sozinho o
processo produtivo, nem o produto de seu trabalho, nem a possibilidade de vendê-lo ao
mercado. Ele foi expropriado também de sua pequena ciência, inerente ao seu trabalho.
Inicialmente os trabalhadores perdem sua antiga instrução e na fábrica só
adquirem ignorância. Em seguida, a evolução da “moderníssima ciência da tecnologia” leva a
uma substituição cada vez mais rápida dos instrumentos e dos processos produtivos.

A UTOPIA SOCIALISTA

Como nos séculos precedentes, também nos oitocentos assistimos a uma nova
onde de utopias estreitamente relacionadas com as revoluções industriais e políticas. Todas,

27
de fato, partem da divisão do trabalho na fábrica, da condição dos operários, da posição entre
trabalho intelectual e trabalho manual, orientando-se para um bom desenvolvimento das
individualidades.
Podemos distinguir nelas um filão estranho ao moderno proletariado de fábrica que
por caminhos implícitos vai de Rousseau a Conte e a Durkheim e um outro filão que pode ser
aproximado de Marx.
Fourier, orienta-se pela tradição individualista de Rousseau rejeitando toda
sistematização imposta e propõe uma “Educação Harmônica” que exalta a espontaneidade.
Quem é a mais iluminada das utopias socialistas, da primeira metade do oitocentos
embora destinada a falência, não passou sem deixar traços nas experiências sociais sucessivas,
especialmente, como veremos, no que se refere aos jardins da infância.
A Prussia foi a vanguarda na organização da escola Pública na Europa: em 1861
um sexto da população completava a obrigatoriedade escolar. Resultado considerado
avançado, considerando os outros países da Europa.
Nesse período, começam a difundir-se às escolas elementares, para as quais se
discute o novo método do ensino mútuo. As escolas secundárias, já vem se articulando em
humanísticas e científico-técnicos à universidades, com suas novas faculdades
correspondentes as transformação das forças produtivas.
A sucessiva legislação sobre a fábrica incluirá freqüentes disposições em torno da
necessidade de instrução das crianças antes de sua entrada na fábrica.
Engels e Marx muitas vezes abordarão este problema. A instituição escola vai
atingindo todas as classes produtoras, recebendo novos conteúdos científicos e técnicos. Com
base nesses conteúdos renova-se também a universidade, na qual as ciências matemáticas e
naturais acabam separando definitivamente da velha matriz das Artes Liberais. Ao lado da
universidades surgem as escolas superiores de engenharia e posteriormente todo um conjunto
diferenciado de especialização.

II A SEGUNDA METADE DO SÉCULO

A segunda metade do Oitocentos, todo o sistema de instrução, da elementar à


superior, já é estatal em quase toda a Europa. A igreja católica, progressivamente excluída de
seus tradicionais domínios geográficos e ideais, isto é, do estado pontifício e da função da
instrução, ficam freqüentemente conduzindo uma batalha de defesa.

28
Ela não abandona a antiga polêmica, já travada contra os luteranos, os iluministas
e a revolução francesa, sobre os dois temas: o da escola e o da imprensa.
Estado moderno e Igreja católica aparecem ainda em duas frentes totalmente
opostas, especialmente no que se refere ao delicado tema da educação, que a Igreja continua
considerando sua função exclusiva. Desse período, é notável lembrar a obra educativa de
Dom Bosco que, iniciada modestamente, impôs, através da congregação salisiana , a presença
católica no panorama educativo do mundo moderno. Sua obra destaca-se tanto pela reflexão
pedagógica, como pela iniciativa da educação popular profissional.

O MARXISMO E OS PROBLEMAS EDUCATIVOS

No socialismo marxista encontramos uma avaliação crítica e consciente da


“função civilizadora do capital”. O maxismo novo rejeita, mas assume todas as conquistas
ideais e práticas da burguesia no campo da instrução, já mencionadas: universalidade,
laicidade, estabilidade, gratuidade, renovação cultural, temática do trabalho, como também a
compreensão dos aspectos literários, intelectual, moral, físico, industrial e cívico.
Todo este conteúdo, está explícito no manifesto comunista, escrito às vésperas
daquele 1848 que, em junho, viu em Paris a primeira revolução proletária.
Entre as medidas que o proletariado terá que tomar ao assumir o poder, Marx
coloca no décimo e último item:
“Educação pública e gratuita de todas as crianças. Abolição do trabalho das
crianças nas fábricas na forma atual. Unificação da instrução com a produção material. Sua
concepção da instrução é delineada numa forma explícita e detalhada nas instruções aos
delegados do I Congresso Internacional dos Trabalhadores, que se realizou em Genebra em
setembro de 1866.

O NASCIMENTO DA ESCOLA NOVA

A relação educação-sociedade contém dois aspectos fundamentais na prática e na


reflexão pedagógica moderna. O primeiro é a presença do trabalho no processo da instrução
técnica-profissional, que agora tende para todos a realizar-se no lugar separado “escola” em
vez do aprendizado no trabalho, realizado junto aos adultos. O segundo é a descoberta da
psicologia infantil com suas exigências ativas. Estes dois aspectos despertam o grande e

29
variado movimento de renovação pedagógica que se desenvolve entre o fim do oitocentos e o
início do Novecentos, na Europa e na América. O conhecimento da psicologia infantil e da
psicologia da idade evolutiva, são temas essenciais da pedagogia das escolas novas. O próprio
trabalho, nessas escolas, não se relaciona tanto ao desenvolvimento industrial, mas ao
desenvolvimento da criança.
Psicologia e trabalho: são este binômio podem ser organizadas as iniciativas de
escolas novas que se multiplicam, em toda parte e dos quais estão repletos todos os manuais e
enciclopédias pedagógicas.

30
CAPÍTULO X

O NOSSO SECULO EM DIREÇÃO AO ANO DOIS MIL

1 – A PRIMEIRA METADE DO SÉCULO

Junto ao desenvolvimento da instrução técnico científica que é paralelo ao


progresso da revolução industrial, nos primeiros decênios do século, teve lugar a grande
estação da educação nova ou da “escola ativa”.
No nosso século é impossível prescindir de um fato novo, o socialismo, que não é
somente mais uma ideologia emergente de novas classes sociais suscitadas pelo
desenvolvimento moderno industrialismo, mas a ideologia oficial dominante de Estados
baseados na força destas classes novas.
Quanto à teoria pedagógica, o socialismo assumiu uma concepção nova de relação
instrução-trabalho, que vai além do somatório de uma instrução tradicional mais uma
capacidade profissional e tende a propor a formação de um homem onilateral.
Nosso século, durante todos os seus decênios assistiu e ainda assiste a um fecundo
diálogo ideal, entre pensadores e pedagogos liberal-democrático ou burgueses e pensadores e
pedagogos socialistas. Diálogo em que há momentos de encontro e momentos de choque. Para
entender este diálogo, é preciso começar pela revolução que em outubro de 1917 levam pela
primeira vez ao poder, num vasto império, a classe opeária e seu partido político, rompendo a
unidade burguesa do mundo moderno.
Marx, como principal representante do socialismo de fato, fala de “instrução
tecnológica teórica e prática, em todos os ramos de produção, gratuita, obrigatória para todas
as crianças e adolescentes dos dois sexos, até os 17 anos.
A concretização de uma “escola única do trabalho” estava destinado a orientar
apesar das dificuldades todo o desenvolvimento do sistema de instrução.

31
O CONFRONTO NA PESQUISA PSICOLÓGICA

Seria difícil esgotar os intermináveis “ismos” que definem as várias correntes e


escolas (associacionismo, funcionalismo, estruturalismo, comportamentalismo etc.), e os
adjetivos, prefixos ou sufixos que indicam os diferentes campos da pesquisa (Psicologia
Geral, individual, psicanálise, psicodinâmica etc...). dizemos o mínimo necessário para
introduzir uma comparação entre Vygotsky e Piaget, e para entender a importância da
psicologia na pedagogia moderna.
O nascimento da moderna psicologia como ciência se faz coincidir com a
publicação da Psicologia fisiológica de Wundt(1875) ou com a abertura do seu primeiro
laboratório em Leipzig (1879). Wundt tentava indagar, através da introspecção, os elementos
últimos da consciência, associando assim uma concepção idealista e um método experimental.
Em seguida, contribuições externas à Psicologia vieram da biologia evolucionista
de Darwin, da psicologia experimental dos animais de Thorndike (1898), da Refloxologia de
Pavilov, que, além dos reflexos incondicionados, estudou os reflexos condicionados
localizados no Córtex Cerebral.
Na América, o pragmatismo e o funcionalismo, com James, Dewey e Angell,
afirmando que a validade do pensamento se verifica na ação considerando a mente em função
das necessidades dos organismo para a sobrevivência e baseando-se, portanto, na interação
homem-meio, voltara a atenção da introspecção Wundtiano para o comportamento humano.
Depois deles, J. B. Watson, considerando sempre a psicologia como parte das
ciências naturais, rejeitou que a conciência pudesse ser seu objeto, afirmando que somente é
possível conhecer o comportamento (behavior).
Na verdade, porém, com relação a consciência, alguém já começara a penetrar:
Freud com sua psicanálise destinada a influenciar profundamente toda a cultura de um século.
Contudo, o estudo objetivo das relações entre o estímulo (ambiente) e respostas
(comportamento), reproposto por Watson comportava no plano pedagógico uma concepção
antiinatista e fortemente otimista sobre as possibilidades da experiência e do ambiente. Trata-
se, sem dúvida, de um otimismo que é acompanhado do risco de uma acentuado determinismo
ambiental.
A tendência naturalista é representada por um nova corrente da psicologia que,
apondo-se frontalmente ao behaviorismo de Watsom, divide com ele o campo destes estudos

32
nas décadas de 20 e 30: a teoria da forma ou estrutura (gestal + Psy-chologia). Estes
contrapõem ao mecanicismo associacionista.
Podemos destacar quanto ao extraordinário desenvolvimento da psicologia e seu
envolvimento na pesquisa e prática pedagógica especialmente nas escolas novas.
O tema de piaget e Vygotsky é o eterno tema que vimos aflorar já no Antigo Egito:
a Relação entre a natureza e o ambiente ou Educação no desenvolvimento do indivíduo, que
quer dizer a relação entre personalidade e sociedade, entre liberdade e autoridade.
Para Vygotsky, o desenvolvimento psicológico de cada indivíduo é parte e
resultado da evolução geral da humanidade: esse desenvolvimento não é concebível
isoladamente, mas pressupõe diacronicamente todo o caminho precedente da história humana
e a participação do indivíduo na vida da sociedade e seus contemporâneos. A atividade
humana, de fato, se caracteriza para ele como atividade mediada por instrumentos que são o
resultado da história da humanidade e do desenvolvimento do indivíduo.
Isso significa que o “o único ensino eficaz é aquele que precede o
desenvolvimento”.
Piaget coloca conscientemente seu pensamento na encruzilhada das correntes
contemporâneas da pesquisa psicológica e epistemológica, declarando não ser nem empirista
nem comportamentalista, por sustentar que a inteligência nasce da ação do sujeito, nem
inatista ou naturacionista, por sustentar que a ação do sujeito é sobre os objetos.
Declara-se construtivista, porque sustentou que a inteligência é construída pelo
sujeito na interação com a realidade; a interação não copia, mas assimila e integra o objeto nas
estruturas mentais do sujeito.
Concordâncias e divergências unem e separam estes dois grandes pesquisadores,
nos quais as duas grandes correntes de pensamento em que aparece dividida o nosso mundo
contemporâneo se expressam melhor também no plano técnico, especializado, da pesquisa
psicológica e pedagógica.

A ITÁLIA SOB O FACISMO DE GENTILE A GRAMSCI

Na Itália, durante vinte anos o facismo (1922-43), aplicou uma reforma, cujos
inspiradores e promotores eram liberais, como Giovanni Gentile. Ele se baseava numa
rigorosa distinção entre escolas para as classes privilegiadas com os tradicionais estudos

33
humanísticos e escolas para as classes subalternas, limitadas a aprendizados profissionais
especializados.

A REFLEXÃO DE ANTÔNIO GRAMSCI

Antônio Gramsci, opositor do facismo escrevia, seus cadernos, onde a reflexão


pedagógica política, que é predominante, recolhe os vários motivos da tradição liberal-
democrática e da tradição socialista numa síntese crítica originalíssima.
Sua análise da crise da organização escolar e a sua pesquisa de um novo princípio
educativo, tendo como base Marx, partem da relação entre desenvolvimento científico-técnico
e a escola e se concluem com uma volta ao desenvolvimento social. A previsão racional de
organização escolar de Gramsci, foi realizado. Quanto ao princípio educativo e aos conteúdos,
ele procurou definir qual poderia ser o novo humanista ou o humanismo socialista.
Gramsci relacionava sempre o fato educativo não somente ao fato político, mas
também e especialmente ao fato da produção e do trabalho. No diálogo entre a democracia
burguesa e o socialismo, que caracteriza o nosso século, Gramsci, embora declaradamente
posicionado do lado socialista, soube interpretar e mediar exemplarmente as exigências
comuns e divergentes.

II A SEGUNDA METADE DO SÉCULO

Dois fenômenos decisivos para a educação na segunda metade do século, após o


trágico conflito mundial, são o progresso tecnológico e a maturação das consciências
“subalternos”. Esses fenômenos se evidenciam quando do lançamento do Sputnik soviético,
que pareceu demonstrar a superioridade de um sistema de organização científica e educativa.
Após estes eventos, ficam entregues à história os conflitos entre inatismo e ambientalismo,
entre sistematicidade e espontaneidade, entre conteúdos e métodos.
Outro momento é de caráter diferente e, em parte, conseqüência da própria
expansão da instrução. Trata-se de tomada de consciência por parte dos jovens (especialmente
estudantes) da desigualdade educativa. Associam-se a este movimento a retomada cansativa
das lutas operárias e o surgimento caótico de um novo e radical feminismo.
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo a divide em dois blocos contrapostos e
perante os quais se vem determinando a identidade de um “terceiro mundo”.

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Nos Estados “ocidentais”, de democracia burguesa, a pedagogia continua a
inspirar-se nos movimentos inovadores, dos quais Dewey é o maior representante. Nos
Estados socialistas, crescidos ao redor da União Soviética, a inspiração é sempre nas teses de
Marx sobre a união entre instrução e trabalho. Em alguns países, especialmente naqueles já
dominados pelos regimes facistas, assiste-se ao reflorescimento de uma nova pedagogia
católica e ao primeiro surgimento de uma pedagogia marxista.

INSTRUÇÃO E TRABALHO NA LEGISLAÇÃO ITALIANA

A reforma da escola média (onze a quatorze anos) de 1963, sancionava um


mudança profunda do princípio educativo e da organização escolástica, criando uma escola
única e deslocando sensivelmente o eixo cultural dos ensinamentos literários, humanistas,
para os científicos-técnicos e expressivos.
Na itália a Lei nº 348 de 16 de Julho de 1977, modifica a inspiração desta escola,
diminuindo o peso dos tradicionais conteúdos científicos, técnicos, artísticos-musicais e de
trabalho. No seu conjunto, a reforma da escola italiana, representa em progresso significativo,
pelo menos no papel.

TENDÊNCIAS E DIFICULDADES NOS VÁRIOS PAÍSES

Ainda na Itália a reforma da escola secundária, tem encontrado dificuldades e


resistências até agora insuperáveis sobre as questões da relação entre cultura geral e
preparação profissional e da presença do trabalho no currículo educativo.
A França, com a reforma, visava combinar a instrução geral e profissional,
inserindo atividades técnicas e manuais na escola média entre os doze e os dezesseis anos e
criando livros polivalentes de instrução geral e tecnológica.
A Inglaterra encontra dificuldades práticas no trabalho das escolas.
A Espanha elaborou uma reforma que visava articular a estrutura educativa com as
estruturas de trabalho.
Por vias diferentes em todos os países europeus visava-se a mesma meta, sempre
distante, da integração entre cultura e profissionalismo, humanismo e técnica, encontrando
todos os mesmos obstáculos, difíceis de serem superados.

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Nos Estados unidos, embora seja difícil traçar um panorama e um módulo único,
devido à autonomia de cada Estado e à grande liberdade dos particulares, o caráter
predominante permanece o Learnig by doing.
Todo o conjunto de problemas anteriomente discorrido, reaparece dramaticamente
quando se passa aos países do chamado terceiro mundo ou nas formas arcaicas de escola da
palavra (do livro-texto, das aulas, dos julgamentos expressos em notas e conceitos, da
disciplina imposta, da administração burocrática e mal temperada por formas duvidosas).
A história porém, nos ensina que esta transferência de modelos (da Grécia para
Roma, de Roma para a Europa Barbara), embora tenha permitido o florescer da escola e da
cultura, provocou ao mesmo tempo a sua esclerose, a morte de velhas tradições e a perda da
identidade deste ou daquele povo, estimulando dessa forma a divisão cultural e de classes
dentro do mesmo povo, como entre cleros privilegiados e laicos profanos.

No último quarto do século, esta inevitável progressiva e arriscada cooperação


internacional, tem-se concretizado através de numerosas organizações e associações privadas
e estatais.
Entre as organizações sindicais mencionamos a Confederação Mundial das
Organizações da Profissão dos Professores (CMOPE em Francês, W COTP em inglês) e a
Federação internacional Sindical do Ensino (FISE) a primeira inspirada na ideologia do
mundo ocidental e a Segunda na ideologia socialista.
Quanto à organizações oficiais, citamos, especialmente na Europa, o CERI (Centro
de Pesquisa para a Inovação Educativa) que é o organismo especializado da OECD
(Organização Europeia para a Cooperação e o Desenvolvimento.
Merece ser especialmente assinalada como típica da nossa época, na qual o planeta
terra tornou-se, bem ou mal, a sede comum de toda a humanidade, a UNESCO (Unided
Nations Educational, Scientific and Cultural Organization), Agência educativa das Nações
unidas com sede em Paris.
A UNESCO se propõe a ajudar as associações “não governamentais” na realização
de programas educativos e a coligar-se com as “comissões nacionais” que cada Estado-
Membro da ONU se empenha a constituir o correio da UNESCO, destinada especialmente a
estimular o conhecimento mútuo entre os povos e suas culturas, é um anuário que fornece os
dados oficiais relativos à situação estatística e organizacional da instrução em todos os países
do mundo.

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Inúmeros documentos foram produzidos pela UNESCO, mas não podemos deixar
de citar o seu documento básico, a solene Carta Magna da ONU, a Declaração Universal dos
Direitos do Homem, aprovada pela Assembléia Geral no dia 10 de dezembro de 1948.
Perante a existência de um congresso universal de doutos nos vários campos da
ciência, da cultura e da Educação, como é a UNESCO, juntamente a outros congressos
consagrados a outros setores da vida social, configurado em uma assembléia política de todas
as nações da terra, talvez o autor vislumbra a perspectiva de ver realizada a proposta do
grande visionário comênius, que apelava para a consulta universal a fim de reformar a
condição humana, recomendando abordar juntas a cultura, a política e a moral.

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