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Resumo
Introdução
Na mesma sonda de ideia, o presente ensaio académico pretende abordar sobre a descentralização
em Moçambique observando o grau de implementação do processo, fazendo uma análise do
manifesto eleitoral do Partido Frelimo, se as suas prioridades de governação para o Quinquénio
2015-2019 estão sendo executadas ou não, no que concerne a descentralização da administração
pública o nosso foco de discussão. Identificar tipos de reformas a serem levados acabo pelo
partido FRELIMO com vista a consolidar o processo descentralização. Descrever as actuações
políticas em curso que visam operacionalizar o actual figurino de descentralização.
Desta feita urge a nossa questão de partida, As prioridades de governação do Partido Frelimo para
o Quinquénio 2015-2019 estão sendo executadas ou não, no que concerne a descentralização da
administração pública?
Neste mesmo movimento, ocorreu uma significativa convergência de opiniões, na qual correntes
à direita e à esquerda do espectro político impuseram a este tipo de reformas um lugar de destaque
nos processos de reforma do Estado, dadas suas esperadas potencialidades no campo da
democratização das relações políticas e no campo da eficiência e eficácia da gestão pública.
Portanto, reformas do Estado nesta direção seriam desejáveis, dado que viabilizariam a
concretização de ideais progressistas, tais como equidade, justiça social, redução do clientelismo
e aumento do controle social sobre o Estado.
Os autores do presente ensaio defendem que a descentralização da administração pública poderá
de certa forma contribuir para a redução das elevadas e pesadas estruturas burocráticas
identificados no fornecimento de bens e serviços públicos pelo Estado em Moçambique.
De acordo com Newitt, (2017, citado por Carrilho, 2017), Moçambique saiu da guerra civil com
uma constituição segundo a qual quem ganha, ganha tudo, que deixa partes significativas dos
países permanentemente fora do poder, e as províncias onde o partido no poder não tem maioria
sem controlo significativo sobre o seu destino.
Para o respectivo autor, a situação é agravada pelo facto de a Renamo não ter renunciado a força
como alavanca politica e pelo facto de as promessas de descentralização feitas na altura do Acordo
de Paz não terem sido concretizadas.
Como evidenciamos acima, nesta parte do trabalho não vai-se fazer uma análise exaustiva do
manifesto eleitoral da Frelimo, mas sim singelamente no que concerne a sua visão sobre a
descentralização da administração pública.
O que na prática mostra uma contradição no que diz respeito a implementação do processo de
descentralização em algumas zonas em que o mesmo partido não tem a gestão municipal em suas
mãos, o termo gradualismo está servindo como uma cartada para a própria Frelimo justificar o
atraso na transferência de alguns serviços pertinentes para a subsistência não só dos munícipes
mas também do próprio município.
Como afirma Buur, (2009, citado por Weimer e Carrilho, 2017), “ no debate moçambicano, o
gradualismo, consagrado na legislação de descentralização, foi utilizado como abordagem aberta,
flexível e descomprometida do governo para a descentralização, que serviu o propósito da retórica
e oportunidades políticas. Isso serviu para justificar o adiamento ou a aceleração, do processo,
sempre que se encaixava nas Regras do Jogo informais estabelecidas pela Fre-namo”.
Segundo Pio (2013, citando Chiziane, 2007), a descentralização política no país é um processo
que não se tem assumido como irreversível, existem algumas tendências de re-concentração e re-
centralização, ao afirmar que “ Começamos a falar das tendências de “re-concentração” e
particularmente da “re-centralização” administrativa em Moçambique, volvidos dez anos da
Descentralização em Moçambique.
Desta feita, para Monteiro uma gestão participativa e descentralizada só poderá ocorrer se for
acompanhada de uma descentralização política que gere maior autonomia para os municípios,
que estão em contacto mais directo com as necessidades do cidadão, a prática sob gestão da
Frelimo demonstra contrariedades, ainda nota-se dificuldades no transpasse dos serviços públicos
ou na descentralização de quase toda máquina administrativa.
De maneira que Ulaia (2017, citando o Vereador para a Área de Desenvolvimento Institucional e
Cooperação do Município da Beira), Um dos primeiros e grandes constrangimentos para o
município da Beira, é ter acesso total da gestão de serviços públicos básicos, como água, saúde,
transporte, entre outros, para assegurar a sustentabilidade dos habitantes do posto administrativo
de Nhangau e em toda urbe no geral que é da inteira competência dos Municípios.
De acordo com a Lei base das autarquias locais artigo 6º da Lei nº 2/97 (Lei no19, /2007, de 28 de
Maio), “as atribuições das autarquias locais respeitam os interesses próprios, comuns e específicos
das populações respectivas e, designadamente: desenvolvimento económico e social local, meio
ambiente, saneamento básico e qualidade de vida, abastecimento de água pública, saúde, educação,
cultura, tempos livres e desporto, polícia da autarquia, urbanização, construção e habitação”.
Para perceber-se como a administração pública pode acontecer num contexto de descentralização,
Di Pietro (2009), pontua que a Administração Pública pode ocorrer diretamente por meio de seus
próprios órgãos (Administração Direta ou centralização administrativa), ou de forma indireta,
transferindo suas atribuições a outras instituições (Administração Indireta ou descentralização
administrativa). Este último caso é caracterizado pela transferência de uma actividade que é
própria do Estado, um serviço público, a outras entidades, públicas ou privadas (Monteiro, 2011).
Como conclui Jamal (2014), a descentralização em Moçambique levada a cabo sob a égide do
gradualismo assente na lógica de desconcentração e devolução de poderes para o nível local, para
o envolvimento e participação das comunidades locais nos processos de gestão local, apesar da
aparente transparência e justiça económica nela incorporados, a descentralização constitui uma
ferramenta política e em certa medida manipulada a favor dos interesses do Estado central e
afigura-se igualmente como um mecanismo de legitimação e consolidação do partido Frelimo
pelas comunidades locais.
Este princípio do gradualismo na descentralização pode trazer desgastes por parte da população,
não obstante, pela existência de excesso de burocracia no acesso aos bens serviços públicos,
marginalizando e escamoteando estes na participação e gestão da coisa pública, ferindo assim o
seu direito e dever de cidadania.
Pois, é a mesma Frelimo que defende a consolidação de uma administração pública que promova
a satisfação dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e que actue com respeito aos
princípios de igualdade, imparcialidade, ética e justiça social, por esta razão acha-se pertinente a
urgência de descentralização da administração pública, podendo assim desanuviar a tamanha
bagagem suportada pelo estado.
Contudo, cabe agora a Frelimo fazer com que estas defesas pautadas nos seus manifestos sejam
realizadas na íntegra
Contudo, nos dias de hoje, o Estado Democrático tem sido instado, de forma cada vez mais
veemente, pelos diversos segmentos da sociedade, a cumprir sua função precípua de desenvolver
políticas públicas direcionadas para a garantia da igualdade de oportunidades, dos direitos básicos
de cidadania e do desenvolvimento sustentável. Para atender a essa nova realidade social e para
modernizar e tornar mais efetiva a atuação institucional, com resultados mais eficazes e duradouros
em favor da sociedade, necessário repensar e inovar a forma de organização, gestão e atuação do
Ministério Público (Araújo, S.D).
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