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Externa
Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre
T689p
ISBN 978-85-515-0544-1
ISBN Digital 978-85-515-0541-0
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo aos estudos de Política Externa. Esta é uma
disciplina que faz parte essencial no percurso de aprendizagem de seu curso. Ela é
essencial porque envolve temas de interesse nacional que fazem da gestão de política
externa uma peça-chave no processo de decisões nas relações internacionais de um
país, temas que vão desde questões de geografia econômica, socioeconômicas, de
geopolítica e posições de interesse internacional do Estado Brasileiro. Já pensou como
um país do tamanho continental do Brasil consegue se posicionar de uma maneira clara
e eficiente nas suas atividades de Política Externa?
Neste livro de estudos, vamos analisar sobre isso desde o final do período
colonial, isto é, desde a Era Joanina quando o Brasil passou de ser uma colônia para se
converter parte integral dos reinos da Casa Real Portuguesa. Foi nesse período que o
Brasil começou fazer gestão de suas próprias decisões de Política Externa até os dias
atuais. Uma das questões chaves para ter uma Política Externa eficiente é saber qual
é posição geopolítica de uma nação perante o cenário internacional. Não é o mesmo
desenhar uma política externa de um país desenvolvido que esteja inserido no cenário
Europeu que de um país da América Latina. Inclusive dois países vizinhos com graus
de desenvolvimento relativamente semelhantes vão ter geopolíticas diferentes, por
exemplo, a realidade do Brasil – país vasto com uma diversidade geográfica e cultural
muito grande – terá uma posição geopolítica muito diferente da posição de países de
menor tamanho como o caso do Uruguai ou do Chile.
Para ajudá-lo com seus estudos apresentados ao longo deste livro, vamos
dividir os assuntos em três grandes unidades; cada uma delas contando com tópicos
de estudos e autoatividades de apoio. Assim, fique atento à leitura! Na Unidade 1,
abordaremos questões sobre à formação do território brasileiro no contexto da política
externa e os tratados que definiram as delimitações do Brasil e de seus países vizinhos,
especialmente da Região da Prata, período que abrange desde os começos do Brasil
como parte do reino de Portugal, Brasil, Algarves até o não 1889. Ou seja, desde antes
mesmo da independência de 1822 com a mudança da casa real de Portugal para Rio de
Janeiro no ano de 1807 até quando o Brasil virou uma república no ano de 1889.
Os temas de estudos da Unidade 1 vão se dividir em quatro grandes tópicos. No
Tópico 1, vamos estudar sobre a formação territorial desse vasto território que hoje é o Brasil
e sobre a importância da Era Joanina nos começos da Política Externa do Brasil. No Tópico
2, abordaremos temas sobre a independência do brasil e o processo de reconhecimento
internacional desta, finalizando esse tópico com o processo de consolidação nacional. Já
no último tópico da Unidade 1, Tópico 3, iremos estudar sobre a política externa durante o
Segundo Reinado do Imperador D. Pedro II, período que durou quase 50 anos, nos quais o
Brasil esteve envolvido em duas guerras na região da Prata.
Os assuntos que vamos abordar ao longo deste livro vão ser o principal material
de seus estudos em Política Externa. Contudo, ao longo do livro serão indicados vários
sites e materiais de interesse relacionados ao assunto de Política Externa, os quais
vão enriquecer seu aprendizado. Além disso, as autoatividades garantem a fixação e
discussão dos temas que vamos estudar nos tópicos ao longo das três unidades deste
livro didático. Portanto, é fundamental que você não deixe de fazê-las e tirar as dúvidas
posteriormente. Desejo você bons estudos!
GIO
Olá, eu sou a Gio!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................75
UNIDADE 2 — A POLÍTICA EXTERNA DA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)................. 77
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 151
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................231
UNIDADE 1 -
FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO
BRASILEIRO, CONTEXTO
DIPLOMÁTICO E TRATADOS
DE LIMITES COLONIAIS
(1822-1889)
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender como a era joanina fez que o Brasil se convertesse no centro das
decisões geopolíticas dos reinos de Portugal, Brasil e Algarve;
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO
1 INTRODUÇÃO
NOTA
Ficou curioso sobre o Tratado de Tordesilhas? Acesse ao link da UNESCO para
saber mais um pouco sobre esse tratado histórico: https://bit.ly/37ukUnf
3
No contexto brasileiro, foi a partir do Tratado de Tordesilhas que se foi delimitan-
do o território Nacional Brasileiro. Esse tratado mais outros fatores que vieram acontecer
a partir dessa data começaram estruturar o vasto território brasileiro de hoje, aliás, o
maior país da América Latina, ocupando 42% desse território com uma extensa fronteira
com quase todos os países da América do sul, exceto a fronteira do Chile e do Equador.
No contexto histórico, logo do Tratado de Tordesilhas, as principais épocas que contri-
buíram para a definição do território nacional e seu povoamento foram:
• Século XVI, época na qual a principal atividade era extração e exportação do pau-
Brasil e a produção de cana de açúcar a grande escala, mercadorias destinadas à
exportação para Europa. Plantações e produção extrativista concentradas no que
hoje são os estados da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
• Século XVII e XVIII, época marcada pela entrada ao oeste do país para a lavoura
pastoril, e marcada também pela descoberta de grandes jazidas de metais nobres
(ouro e prata) e diamante nos territórios dos estados Minas Gerais e Mato Grosso.
Nesse momento foi o nascer de diversas cidades ao longo do território. E foi o nascer
do interesse geopolítico na Bacia da Prata, tanto para a colônia portuguesa como
para a espanhola. Interesse nessa vasta bacia que deu origem às guerras ao longo
do século XIX entre as novas nações independentes da Região da Prata, isto é, a
Argentina, o Brasil, o Uruguai e o Paraguai.
• Século XIX, época marcada pelas grandes extensões produtivas de café e processos
de urbanização principalmente da região sudeste do país e pelas guerras da Região da
Prata. Século que foi o nascer da grande cidade de São Paulo, com sua forte influência
inicial na produção de café para a exportação. Logo essa influência se foi estendendo
para outras atividades econômicas e financeiras, iniciando, assim, os fundamentos
para o coração econômico do Brasil que representa hoje a cidade São Paulo.
Então, é partir dessas três épocas é que deu forma à dinâmica socioeconômica
do Brasil moderno. Devermos refletir que cada um dos estados que fazem parte da
federação brasileira é do tamanho de muitos países de tamanho médio inclusive
grandes. Ou seja, o Brasil é um vasto território de dimensões continentais, onde cada
estado possui suas próprias particularidades históricas, econômicas e culturais. Antes
mesmo de começar nosso estudo da Política Externa desde antes da independência do
Brasil, ano de 1822, é relevante que possamos visualizar a posição geopolítica do Brasil
dos dias atuais para logo nos interessarmos no contexto histórico desse Brasil de hoje
e seu posicionamento no mundo.
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considerado um país continental, o quinto maior país do mundo com seus 8 515 767,049
km². Em ordem cronológica, o maior país do mundo é a Rússia, o segundo o Canada, o
terceiro a China, o quarto os Estados Unidos e o quinto o Brasil. Ou seja, o Brasil é uma
nação que com seu vasto território e seus imensos recursos naturais tem uma posição
geopolítica relevante no contexto das relações internacionais.
GRÁFICO 1 – POPULAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS, BRASIL E MÉXICO DESDE O ANO 1960 ATÉ 2020
5
A perspectiva de crescimento populacional negativo já para as próximas
décadas tem uma série de implicações socioeconômicas, entre as mais importantes:
o Brasil passará de ser um país considerado jovem (população maioritariamente jovem)
para virar um país de população relativamente velha. Entre os maiores problemas de
se ter uma população relativamente mais velha é a pressão financeira para sustentar a
aposentadoria dos trabalhadores, nesse sentido, os jovens brasileiros que hoje, ano 2021,
estão entrando no mercado de trabalho possivelmente terão uma aposentadoria difícil
de se financiar. Esse fato de mudança populacional representa novas condições que
vão mudar a geopolítica do país, logo nas próximas décadas haverá novas estratégias
de Política Externa.
GRÁFICO 2 – INB PER CAPITA DO BRASIL, MÉTODO ATLAS EM US$, CONSIDERANDO PREÇOS ATUAIS
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Deste gráfico se consegue tirar algumas observações interessantes. Primeiro o
Brasil passou de ser um país de renda média baixa na década de 1970 para um país de
renda média alta no ano 2020, mas tendo uma queda drástica de sua renda per capita
a partir do ano 2013. Mas será que essa queda forte da renda a partir de 2013 é um
acontecimento isolado do Brasil? Conforme vamos estudar na Unidade 3, essa queda
é um acontecimento maioritário no contexto econômico dos países de América Latina,
países com um peso muito forte nas exportações de commodities (matérias primas).
Agora que já temos uma visão da renda média do Brasil, vamos dar um breve olhar dessa
renda e dos índices de pobreza, mas em cada uma das 5 regiões do território nacional.
FONTE: <https://bit.ly/3Jk0xHs>. Acesso em: 30 jan. 2022. FONTE: <https://bit.ly/3CPKNtf>. Acesso em: 30 jan. 2022.
7
Esse Brasil de mais de 200 milhões de cidadãos de hoje é o resultado de séculos
de história dos povos que habitam no território tropical e subtropical do Brasil, isto é,
os povos antes da chegada dos portugueses, os portugueses da colônia, os imigrantes
africanos, dos povos das ondas imigratórias do século XIX e XX, e a mistura cultural e
racial de todos eles. Nesse contexto histórico e territorial é que vamos estudar como o
território nacional foi se moldando à dinâmica socioeconômica dos dias atuais, e qual a
sua relevância na gestão da política externa do Brasil. Isso vamos fazer a partir do final
do período colonial português, ou seja, desde começos do século XIX. Nesse sentido,
vamos começar nossos estudos desde o período Joanino e a influência Inglesa na
gestão da política externa dessa época.
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Bonaparte desejava transformar e unificar a Europa, daí a rápida expansão da França
Napoleónica para quase toda Europa, mexendo as estruturas monárquicas dos países
europeus, entre esses Portugal.
• O primeiro, que essa mudança da casa Real de Portugal implicava realmente uma
mudança da sede do Governo do reino de Portugal. Demandando de uma tremenda
logística de mais de 62 navios – conforme a revista histórica Multirio (2021) – para
trasladar a mais de 10.000 pessoas, entre elas: a família real, nobres e pessoal
burocrático da gestão governamental.
9
• O segundo, a proteção da frota Inglesa para proteger a logística desse mega
deslocamento da Casa Real Portuguesa implicava um acordo tácito entre o Império
Britânico e o Reino de Portugal. Acordo que ficou marcado historicamente como a
Opção Inglesa.
• A abertura dos portos brasileiros, mas somente para as nações amigas, ou seja, a
abertura dos portos para o comércio com o império Britânico. Pois existia o “Bloqueio
Continental” por meio do qual se proibia a toda nação europeia comercializar com a
Inglaterra e consequentemente com seus aliados, neste caso com o Reino de Portugal.
Contudo, logo que terminou as guerras napoleônicas em 1815 a abertura comercial
dos portos brasileiros às nações amigas implicou uma real abertura comercial para
diversas nações além do Império Britânico:
• Fábricas começaram a ser criadas, pois na época colonial estavam proibidas e perante
a mudança de Casa Real houve a necessidade de oferecer bens de qualidade que
sejam fabricados localmente.
• O início da educação superior no Brasil, com a vinda da família Real de Portugal e toda
sua comitiva de nobres e pessoal burocrático de seu governo houve a necessidade
de desenvolver a educação e cultura, dado que nas terras coloniais não se tinha
uma estrutura educativa e cultural ao nível da Casa Real. Assim, começou um
período de investimentos significativos nesse âmbito, entre os mais importantes as
universidades de Salvador e Rio de Janeiro, a construção de teatros e bibliotecas.
Nesse contexto, no ano 1808 aconteceu a instalação de primeira tipografia do Rio de
Janeiro, permitindo a abertura do primeiro Jornal “A Gazeta do Rio de Janeiro”, cujo
principal objetivo era a divulgação da informação oficial da Casa Real.
Essas foram as medidas mais importantes dessa época que colocaram o Brasil
colonial mais próximo para virar uma nação com infraestrutura mais alinhada para isso.
Enquanto isso acontecia aqui no Brasil, Portugal ficou arrasado, segundo artigo histórico
da UFSC (2016, p. 2): “Enquanto Portugal fora devastado pelas guerras napoleônicas na
Península Ibérica, a infraestrutura da ex-colônia foi modernizada e instituições estatais
foram criadas.”
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Todavia, há um acontecimento mais relevante, tanto no contexto de data
histórica como no posicionamento do Brasil nas relações internacionais, a mudança de
território colonial para virar reino. Isso aconteceu no Congresso das Nações de Viena no
ano 1815. A partir desse momento, o Brasil marcou o seu caminho para se transformar
em uma nação oficialmente independente somente uma década depois do Congresso
de Viena, isto é, 1825. Mas quais foram os motivos para que D. João VI tomasse a decisão
para que o Brasil se convertesse em um reino? A resposta está no Congresso das Nações
de Viena. No fim de 1814 e começo de 1815 ocorreu o Congresso das Nações de Viena,
cujo principal objetivo foi definir a nova ordem geopolítica das nações Europeias após
das guerras napoleônicas. Essa nova ordem geopolítica colaborou, historicamente, para
que as nações europeias pudessem evitar grandes enfrentamentos até o ano de 1914,
quando estourou a Primeira Guerra Mundial.
ATENÇÃO
Vamos ver mais um pouco sobre o Reino Unido de Portugal, Brasil e
Algarve? União de reinos que durou desde 1815 até 1822? Acesse ao seguinte
link: Por que o Brasil foi elevado a reino unido? https://bit.ly/3tZs2zP
Assim, esses dois fatos históricos, o Brasil virar reino e que a capital do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarve estivesse no Rio de Janeiro, fez que terminasse de
fato a época colonial e começasse a época do Brasil já como um reino e seu caminho
para virar oficialmente uma nação independente a partir de 1825. O Rei D. João VI de
Portugal morou no Brasil até 1821, terminando assim a era Joanina e as bases para
a independência do Brasil. Embora a data histórica da independência do Brasil foi no
dia 07 de setembro do ano 1822, o seu reconhecimento internacional já como nação
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independente de Portugal só aconteceu três anos depois no ano 1825, tema de estudo
do seguinte tópico, mas antes disso vamos estudar sobre como era a política externa
do Brasil da era joanina.
Além desse fato, a política externa brasileira da era joanina teve maior peso
dentro contexto do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Isso foi assim pelo simples
fato que a capital da Casa Real Portuguesa estivesse sediada no Rio de Janeiro e
já no mais em Lisboa. Nesse sentido, o Rei D. João VI deveria cuidar ainda mais dos
interesses e do desenvolvimento socioeconômico do Brasil. Ou seja, a partir de que o Rei
D. João VI se mudou para o Brasil, finais do ano 1807, grande parte de seu foco passou
para proteger os interesses de sua nova moradia, o Brasil, com isso novos interesses
geopolíticos estava sobre a mesa de decisões do Rei. E no contexto internacional quais
as implicações disso? Houve algumas implicações, mas antes disso vamos ler um pouco
sobre porque as nações têm “amigos”, e logo colocar esse conceito no contexto do reino
do Brasil da época de D. João VI.
NOTA
Sabe o qual o significado de geopolítica, especialmente no
contexto de política externa? Através da geopolítica as nações buscam
se posicionar perante as necessidades de seus espaços geográficos e
desenvolvimento socioeconômico de sua população, fazendo estratégias
de política tanto interna como externa em procura de posicionar melhor
seus interesses como nação. Para saber mais um pouco sore isso acesse
aqui: https://www.significados.com.br/geopolitica/
[...] a força pura, quer dizer, a força militar; a riqueza relativa. Quer
dizer a possibilidade econômica e financeira de se impor a outrem
seus próprios interesses; a influência ideológica que faz de um estado
modelo para os outros; o peso político que incita os ´pequenos’ a
buscar a proteção de um ‘grande’ para se proteger de outro ‘grande’
(GIRAULT, 1988, p. 95 apud MENEZES, 2007, p.110).
Assim, um aliado natural de Portugal e logo também do reino de Brasil seria uma
nação ainda mais forte que de seus adversários mais próximos, o Império Britânico. Nesse
contexto, o Brasil Joanino poderia se posicionar melhor com uma aliança estratégica
com o Império Britânico e assim apresentar uma imagem de força que seja firme em
função de sua posição geopolítica. Geopolítica que implicava um espaço geográfico
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ideal para o comércio internacional, principalmente de mercadorias vindas de suas
colônias da África e da Ásia, e infelizmente o lucrativo tráfico de escravos africanos; e
exportação de suas commodities, entre os principais: o açúcar, a explotação do pau de
Brasil – embora nos começos do século XIX já explotação dele estava nos tempos finais,
em função do desmatamento agressivo da Manta Atlântica – e começando a produção
a grande escala do café e minerais preciosos.
Esses foram um dos mais importantes interesses que a Casa Real Portuguesa,
e consequentemente o Brasil, desejava proteger e que os britânicos tinham interesses
comerciais em proteger também. Porém, há ainda o fator político que afiançava ainda
mais o interesse de ter ao Império Britânico do lado amistoso, as ameaças do poder
político e bélico de França Napoleônica. Temos que nos lembrar que para começos do
século XIX a França Napoleónica se estava tomando quase toda a Europa Continental.
Esse avanço de suas tropas era de fato uma força que não era só bélica, mas implicava
mudanças geopolíticas e econômicas nas nações invadidas. Isso veio ser de grande
impacto para o Brasil, especialmente quando aconteceu a invasão para o Portugal
e log para Espanha por parte da França Napoleónica. A invasão da Península Ibérica
mudou para sempre a perspectiva histórica das colônias portuguesas e espanholas nas
Américas. No caso do Brasil com a vinda do Rei D. João VI de Portugal, e no caso das
colônias espanholas com o longo processo das guerras de independência.
Assim, a invasão de quase toda Europa Continental pela França implicava novos
posicionamentos geopolíticos e econômicos das nações europeias invadidas pela
França perante o comercio internacional. Implicava um confronto tácito com o maior
adversário da França Napoleónica, isto é, com a maior potência comercial e econômica
da época, o Império Britânico. Esse confronto tácito implicou o “Bloqueio Continental” ao
comércio internacional de todas as nações napoleónicas com o Império Britânico. Assim,
estrategicamente Napoleão poderia iniciar uma batalha econômica para enfraquecer à
Inglaterra, e demais reinos Britânicos, para logo iniciar uma estratégia de invasão às
Ilhas Britânicas. Coisa que nunca chegou a acontecer, pois às guerras napoleónicas
finalizam no ano 1815 com a perda da França Napoleónica de todas as nações invadidas.
ATENÇÃO
Qual o contexto geopolítico da Inglaterra e do Império Britânico?
O Império Britânico foi o maior império do século XVIII e XIX. Ele foi constituído pelos reinos
das Ilhas Britânicas que faziam parte do Reino Unido e de suas diversas e extensas colônias
ao redor do Mundo durante. Esses reinos das Ilhas Britânicas foram: a Inglaterra, o País
de Gales, a Escócia e a Irlanda. Reinos que foram liderados pela evidente força política e
econômica da Inglaterra e sua revolução industrial, daí que às vezes se pode confundir ao
Reino Unido como se fosse a Inglaterra. Hoje o Reino Unido está constituído pela seguinte
federação de países: A Inglaterra, o País de Gales, a Escócia e a Irlanda do Norte. A capital
do Reino Unido é Londres sediada na Inglaterra.
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O Império Britânico depois da Independência de Estados Unidos do Reino Unido em 1776
Fonte: https://bit.ly/3wtkHeP
E o Império Britânico o que tirava em troca pela sua ajuda logística? Ter acesso
mais direto aos imensos recursos naturais do Brasil e comércio português de suas
colônias da África e da Ásia. Infelizmente, no contexto de abuso dos direitos humanos,
ambas as nações tinham interesses comerciais no comércio de escravos. Além dessas
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vantagens comerciais para o Império Britânico, também era conveniente ter um aliado
que tenha seu reino próximo na entrada do Mediterrâneo e proteção ao longo do litoral
africano, assim ficava mais fácil para o Império Britânico navegar pelo Mediterrâneo e
pela África, ambas rotas importantíssimas para o comércio internacional dessa época,
pois eram rotas que forneciam à Europa de diversas mercadorias vindas de Oriente.
Devermos nos lembrar que nessa data, 1814, a França Napoleónica tinha
praticamente a guerra perdida, o que de fato aconteceu um ano mais tarde, em 1815.
Quando a França perdeu a guerra voltou a suas fronteiras tradicionais; perdendo todos
os direitos de fato das nações europeias tomadas. Ou seja, a partir do ano 1814 já no
contexto regional daqui das Américas o Brasil tinha que se posicionar ante os interesses
das colônias espanholas e ante os interesses da França pós Napoleão e seu território
colonial da Guiana Francesa. No que tange a França Napoleónica e suas implicações à
geopolítica brasileira é necessário que podarmos entender quais foram as repercussões
das guerras napoleônicas tanto na Europa como nas Américas.
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FIGURA 1 – NAPOLEÃO LIDERANDO SEU DESEJO DE UNIR A EUROPA SOB UMA SÓ NAÇÃO
DICA
Quer saber ainda mais sobre as Guerras Napoleônicas? Há muitos
livros de contexto histórico e geopolítico sobre isso, nesse link você pode
acessar para livros interessantes sobre essa época transcendental sobre
muitos contextos: https://bit.ly/3JpmDIU.
Assim como há diversos artigos interessantes, tal como: As Guerras
Napoleônicas mudaram as relações geopolíticas da Europa
Fonte: https://glo.bo/3MVOcLV
Para finalizar a era Joanina vamos nos focar sobre a política externa do Brasil
perante os interesses da França no seu território colonial da Guiana Francesa, e dos
interesses geopolíticos e econômicos que tinha a Espanha Colonial na fronteira sul do
17
Brasil, o que hoje faz parte dos territórios de Uruguai. Devermos nos lembrar que os
interesses dessa época aqui na América do Sul era um reflexo do jogo da geopolítica
que vinha acontecendo na Europa, conforme o historiador Menezes (2007, p.124)
18
Enquanto o conflito na Guiana era mais de caráter efêmero, o caso
cisplatino, porém, sugeria uma própria agenda brasileira. Por motivos
geostratégicos e econômicos, a região da atual república do Uruguai
era incorporado ao Império, e o conflito continuou por muito tempo
(UFSC, 2016, p. 9).
No ano 1817, o Brasil acabou tomando grande parte da Banda Oriental e sua
capital, Montevidéu, anexando esse território, oficialmente, como a Provincia Cisplatina
no ano de 1821. Esse terrtório ficou sob dominio de Brasil até a independencia de Urugai
do Brasil no ano 1828, isso aconteceu logo de três anos de guerra intensa entre o Brasil
e a Argentina (seu nome oficial dessa época era as Províncias Unidas do Rio da Prata).
Nesse contexto, ambas as nações estavam interessadas em anexar esse território, mas
ao final da guerra em 1828 nenhuma das duas conseguiram isso. O território da Provincia
Cisplatina ficou como nação independente, o Uruguai de hoje, conforme vamos estudar
isso com mais detalhe no próximo tópico e seu impacto na abdicação de D. Pedro I.
CURIOSIDADE HISTÓRICA
O Uruguai fez parte do Brasil desde finais da década de 1810 até finais da década de
1820, mas acabou declarando a sua independência do Brasil no ano 1828. Esse território
foi a província mais austral do Brasil Imperial. Se quiser se aprofundar sobre a história
da Província Cisplatina acesse ao seguinte artigo: A Província Cisplatina do ponto de
vista brasileiro: <https://bit.ly/3tZA2AR>.
Fonte: https://bit.ly/3CRgS3Z
19
Estamos chegando ao final de nossos estudos deste tópico, revise os temas
mais importantes com a ajuda de Resumo do Tópico 1. Depois disso, não deixe de realizar
as autoatividades!
20
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
21
AUTOATIVIDADE
1 Existem diversos fatos históricos que fazem parte dos fundamentos que ajudaram a
delimitar o vasto território nacional do Brasil de hoje. Entre eles se tem o Tratado de
Tordesilhas, o qual a finais do século XV:
a) ( ) Logo de mais de um século de conflitos foi peça chave para delimitar os territórios
dos territórios coloniais de Portugal e da Espanha.
b) ( ) Deixou claro a negação de direitos sobre os vastos territórios das Américas a
qualquer outra nação, exceto os direitos definidos para a Espanha e o Portugal.
d) ( ) Acabou com o conflito pelos interesses que tinham a Espanha, o Portugal e a
Inglaterra sobre os territórios colônias que essas nações europeias tinham nas
Américas.
e) ( ) A Espanha, o Portugal e a Inglaterra estraram em conflito pelos territórios das
Américas, assim com esse tratado ficou definido quais seriam os diretos dessas
três nações, especialmente acabou o conflito entre a Espanha e o Portugal.
2 Considera-se que o Congresso das Nações de Viena que aconteceu entre finais de
1814 e 1815 foi uma peça-chave para a nova ordem geopolítica das nações após
das devastadoras guerras napoleônicas, as quais transforam para sempre as nações
europeias. Embora a França Napoleónica tivesse perdido a guerra, muitas casas reais
perderam seus direitos e outras tiveram que entregar espaço de poder político aos
representantes do povo. Mas qual a relevância do Congresso das Nações de Viena de
1815 para o Brasil? Com base nessa pergunta, analise as sentenças a seguir:
I- Assim como na Europa onde muitas casas reais perderam parte de seu poder político,
o rei D. João VI teve que renunciar parte de seu poder político aos representantes
da população de seu reino de Brasil. Eis a importância do Congresso das Nações de
Viena.
II- Perante a pressão das outras nações que faziam parte do Congresso das Nações
de Viena, as quais estavam questionando o porquê o Rei D. João VI estava morando
e governando desde os territórios coloniais do Brasil e não desde seu reino de fato
de Portugal, o Rei D. João VI tomou a decisão de converter ao Brasil em reino. Eis a
importância do Congresso das Nações de Viena.
III- O Congresso das Nações de Viena junto a pressão da França e da Espanha fez que
Portugal tivesse de abdicar seus direitos como sede do reino da Casa Real do rei
D. João VI e assim os territórios colônias do Brasil passaram a ser nova moradia da
Casa Real de Portugal. Eis a importância do Congresso das Nações de Viena.
22
Assinale a alternativa correta:
3 A amizade dos reinos de Portugal, Brasil e Algarve com o Império Britânico foi uma
aliança que trouxe uma posição firme para que o novo reino de Brasil pudesse se
posicionar no cenário internacional. Definas quais das seguintes sentenças são
corretas sobre esse contexto de amizade com o Império Britânico.
( ) A amizade mais importante foi com a Inglaterra, país possuidor de todos os territórios
que fazem parte do Império Britânico.
( ) O reino de Brasil precisava se posicionar firme perante aos interesses territoriais e
comerciais das coloniais nas Américas tanto da França como da Espanha, assim
uma aliança com os britânicos ajudou nisso.
( ) Os interesses comuns entre o Império Britânico e os reinos de Portugal, Brasil e
Algarve foram os fundamentos para que essa amizade fosse firme.
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - V - V.
4 A França Napoleónica com sua perspectiva de unificar toda a Europa tinha o desejo de
aderir todas as nações europeias sob a sua liderança, assim, nos primeiros anos do século
XIX quase toda Europa Continental foi tomada sob a sua liderança. Porém, nessa visão
de uma Europa unificada ainda estava ficando de fora o Reino Unido, e ao não ter a força
suficiente para invadir as Ilhas Britânicas, principalmente à Inglaterra, Napoleão teve a
estratégia de fazer um “Bloqueio Continental” à Inglaterra e demais reinos Britânicos.
Nesse contexto, estrategicamente Napoleão poderia iniciar uma batalha econômica para
enfraquecer à Inglaterra para logo assim ter força suficiente e invadir as Ilhas Britânicas.
Sobre esse “Bloqueio Continental” determine a sequência correta:
I- A estratégia de Napoleão quase deu resultado, pois no ano de 1813 a França invadiu
as Ilhas Britânicas, ante uma Inglaterra enfraquecida. Porém, todos os reinos
Britânicos ficaram unidos e finalmente Napoleão perdeu a batalha de invadir as
Ilhas Britânicas, dando início ao final das guerras napoleónicas no ano 1815.
II- O Bloqueio Continental significava que todas as nações europeias invadidas pela
França Napoleónica, ou seja, quase toda a Europa, no pudessem comercializar com
o Império Britânico, logo, com as nações amigas da Inglaterra.
23
III- O Bloqueio Continental significou para o Brasil que com a única nação amiga que
poderia fazer comércio internacional seria com o Império Britânico, porém, a partir
de 1815 seu comércio internacional se abreu para todas as nações europeias pois
tinha acabado o Bloqueio Continental.
6 A era joanina pode ser considerada como os primeiros passos para um Brasil mais
independente de Portugal, pelo simples fato que o Rei D. João VI passou governar
sues reinos desde sua a maior colônia, o Brasil. Assim, desde finais do ano 1807 o
Brasil passou a ser o centro do poder político da Cara Real de Portugal. A seguir
explique quais foram os motivos que levaram a D. João VI para governar seu império
desde a cidade de Rio de Janeiro.
24
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
E RECONHECIMENTO
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste Tópico 2, abordaremos o processo de consolidação do Brasil
como nação independente e as implicações disso na política externa. No Tópico 1 foi
abordado a era joanina, a qual é considerada a primeira etapa para o Brasil começar
seu processo de independência, isto é, quando o Brasil passou de ser colônia para virar
reino. Na era joanina, com a mudança da Casa Real de Portugal para o Rio de Janeiro,
em 1807, o Brasil se converteu no centro do poder de decisão geopolítico de Portugal e
Brasil. Já ao final do Tópico 1 foi mencionado da volta do Rei D. João VI para Lisboa no
ano 1821, e logo depois no dia 07 de setembro de 1822 foi proclamada a independência
do Brasil. Porém, independência que foi reconhecida internacionalmente somente
quase três anos depois disso, no ano de 1825.
Quais foram os motivos que forçaram D. João VI retornar para seu reino de
Portugal e por que o reconhecimento internacional da independência demorou quase
três anos, desde 07 de setembro de 1822 até agosto de 1825? A resposta curta para isso
foi que D João VI estava pressionado pela onda liberal que se havia espalhado por todo
o território de Portugal, logo, ele tinha que voltar para Lisboa e se posicionar como líder
e monarca de Portugal. Antes de partir para Lisboa ele designou a seu filho mais velho,
D. Pedro de Alcântara de Bragança, como príncipe regente do Brasil, o qual logo depois
fez a declaração de independência no dia 07 de setembro de 1822. O príncipe regente D.
Pedro fez isso perante a ameaça iminente de que Portugal tomasse a decisão de que o
Brasil voltasse à condição de colônia.
Diante desses fatos históricos devermos nos perguntar, por que D. João VI
estava pressionado pela onda liberal que se estava espalhando por Portugal? No ano de
1820 aconteceu a Revolução Liberal de Porto que reclamava, entre outras coisas, o fim
do absolutismo, a implementação da primeira Constituição portuguesa e exigir que o
Brasil voltasse de novo para sua antiga condição de colônia. Assim, perante esses fatos
políticos que faziam colocar seu poder monárquico em perigo, D. João VI voltou para
Portugal, logo de ter morado no Brasil entre finais de 1807 até 1821 e ter feito do Brasil o
centro de poder político e econômico de seus reinos de Portugal, Brasil e Algarve.
25
Diante desse contexto político em Portugal, D. João VI pensou estrategicamente
em manter seu reino do Brasil por meio da designação de seu filho mais velho como
príncipe regente do Brasil. Conforme o dito pelo próprio D. VI: “Pedro, se o Brasil tiver de
se separar, antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que para qualquer um desses
aventureiros” (ALVES, 2016). Ou seja, o grande mentor da independência do Brasil de
Portugal foi o próprio D. João VI de Portugal. Com essa estratégia D. João VI estava
pensando acalmar o desejo das Cortes Portuguesas para que o Brasil voltasse a ser uma
colônia, e se a independência tivesse que acontecer, pelo menos ficaria sob o poder
monárquico de seu filho D. Pedro.
Contudo, apesar de que D. João VI tenha voltado para Lisboa e tenha deixado
a seu filho, D. Pedro, como príncipe regente do reino de Brasil, a pressão em Portugal
para que o Brasil voltasse a sua condição de colônia continuava firme, inclusive
as cortes portuguesas da nova ordem política exigiam que seu filho voltasse para
Lisboa. Diante disso D. Pedro, Príncipe Regente do Brasil, começou a liderar as forças
de independência do Brasil, e no dia 07 de setembro de 1822 o Brasil tinha feito a
declaração de independência. Porém, no contexto internacional a independência foi
somente reconhecida quase três anos depois, fato histórico com suas implicações na
política externa do Brasil que vamos estudar nas seguintes páginas.
26
políticos que estava tomando força foi o liberalismo, se espalhando por toda a Europa.
Na Espanha foi um dos fundamentos para as longas guerras de independência que
aconteceram nas suas colônias nas Américas, as quais finalizaram em uma onda de
independências ao longo da América Latina nas décadas de 1810 e 1820, exceto Cuba
que só conseguiu a sua independência da Espanha no ano de 1898. No contexto
histórico de Portugal, o movimento liberal foi liderado pela Revolução do Porto, a qual
repercutiu diretamente na independência do Brasil.
NOTA
O Império Luso foi em termos históricos o que se conhece como o Império Português,
conforme relato histórico da Universidad Nacional de La Plata (2017, n.p.):
27
Mapa da Influência Comercial do Império Luso nos séculos XVII e XVIII
FONTE: https://bit.ly/3wda1Rl
E se somar nisso a onda liberal que estava tomando conta das nações europeias,
era questão de tempo para que a Revolução de Porto acontecesse. Quais foram as
implicações imediatas dessa Revolução para o reino de Brasil? A queda do absolutismo,
ou seja, o Rei D. João VI não tinha mais poderes absolutos; a partir desse momento as
cortes portuguesas se tornaram mais fortes e exigiam mudanças que estejam de acordo
com os princípios liberais da época, conforme o historiador Alves Filho (2008, p. 103):
28
Com essas exigências políticas e comerciais (a abolição do decreto da Abertura
dos Portos) o reino do Brasil ficava em uma posição enfraquecida, tanto assim que
logo foi exigido para que o Brasil voltasse a ser colônia. Esses fatos, entre os mais
importantes, forçaram a volta do Rei D. João VI para Lisboa. Embora dele ter voltado
para Portugal e ter deixado a seu filho D. Pedro como príncipe regente do Brasil, não foi
suficiente para frear a demanda para que o Brasil voltasse a sua condição de colônia.
Sob essa pressão política D. Pedro regente do Brasil liderou a independência do Brasil
no dia 07 de setembro de 1822.
ATENÇÃO
Como foi o retorno de D. João VI para Portugal?
29
Entretanto, as novas nações de América Latina tinham passado por um longo
processo de guerras contra a Espanha para conseguir as suas independências, sendo
que todas as independências desses países tiveram uma visão que estava alinhada ao
movimento liberal e de cunho republicano. Entretanto, no Brasil a independência foi
de cunho imperialista, liderada pelo próprio filho de D. João VI, ou seja, liderada pelo D.
Pedro d’Alcântara de Bragança e Bourbon, emparentado com as casas reais da Espanha,
da Áustria, da monarquia deposta da França e mais outras, ou seja, relacionado com os
interesses monárquicos da Europa.
O Reino Unido além de não fazer parte da “Santa Aliança” tinha interesses
importantes com o Brasil, especialmente os britânicos queriam garantir seus privilégios
comerciais e políticos que, aliás, já vinham aproveitando com o Brasil da era joanina,
conforme relato histórico do Arquivo Nacional (2018, n.p.):
30
Em carta a d. Rodrigo de Souza Coutinho, de 7 de novembro de
1810, o conde de Aguiar, d. Fernando José de Portugal e Castro,
ministro e secretário dos Negócios do Brasil e da Fazenda, instrui o
conde de Linhares a fazer chegar a governadores das capitanias e
desembargadores do Rio de Janeiro a necessidade de se observar o
tratado de comércio feito entre as cortes de Portugal e Grã-Bretanha.
Esclarece ser imprescindível que os negociantes ingleses paguem
o exigido por lei no caso de depósito e baldeação dos produtos e
manufaturas inglesas, assim como os portugueses pagavam os
direitos sobre os gêneros da produção do Brasil quando utilizavam os
depósitos da Grã-Bretanha.
O Tratado de Comércio e Navegação a que se refere o conde de
Aguiar visava retomar as vantagens já consolidadas pelos ingleses
em Portugal no século anterior, enquanto ampliava sua presença na
América portuguesa. À frente da transferência da corte para o Rio de
Janeiro, os ingleses logo se tornaram uma próspera comunidade do
ponto de vista da atividade comercial e da influência política de que
era partidário um dos missivistas, d. Rodrigo de Souza Coutinho, de
notável biografia nos círculos ilustrados e nas pastas ministeriais - da
Marinha e Domínios Ultramarinos e agora da Guerra e Estrangeiros.
Desse relato histórico fica vivo o nível de influência dos britânicos já dentro das
atividades comerciais e políticas da gestão governamental do Brasil Joanino. Assim,
como os britânicos tinham interesses comerciais e políticos aqui no Brasil, também
os tinham com as nações na Europa Continental, porém, interesses de maior peso
geopolítico. Maior peso em função de serem nações vizinhas do centro de poder da
Inglaterra e de serem nações com interesses comerciais e políticos de muito maior peso
dos que tinham os britânicos com o Brasil.
E nas Américas? Conforme temos visto, os demais países da América Latina, que
recentemente tinham feito a suas independências da Espanha, estavam desconfiados
em reconhecer a independência do Brasil Imperial. Foi a partir do reconhecimento dos
31
Estados Unidos que os demais países das Américas tiveram o incentivo de ponderar o
reconhecimento do Brasil como uma nação independente. Aliás, os Estados Unidos foi
o primeiro país em reconhecer a independência do Brasil, no ano de 1824.
Assim quais eram os interesses dos Estados Unidos para reconhecer ao Brasil?
Embora os Estados Unidos tivessem já feito a sua independência no ano de 1776 era
uma nação relativamente jovem que precisava mitigar o grande peso de ter sido colônia
do maior império da história moderna, o Império Britânico. Assim, reconhecendo a
independência do Brasil, os Estados Unidos conseguiam mitigar em parte a grande
influência geopolítica dos britânicos, e em troca do reconhecimento obter vantagens
comerciais e financeiras da maior nação de América do Sul. Para os Estados Unidos os
processos de independência da América Latina tanto da ex-colônias da Espanha como
de Portugal eram o cenário ideal para fundamentar e desenvolver seu peso geopolítico
que estava só começando ter força no cenário internacional.
32
Então, para os britânicos era de extrema importância para seus interesses
comerciais e geopolíticos manter a boa “amizade” tanto com Brasil como com Portugal,
daí o interesse de intermediar e claro tirar benefício dessas negociações diplomáticas.
Quais foram esses benefícios?
Vamos ver o peso desses benefícios aos britânicos para o Brasil? O Estado
Brasileiro oficialmente independente de Portugal nasce com uma dívida de 2 milhões
de libras esterlinas. Talvez em valores atuais possa parecer uma dívida pequena, mas
se visualizar essa dívida ao valor atual da Libra Esterlina seria uma dívida relativamente
33
grande, certo? Partindo do fato de que é um valor relativo ao ano 1825, é impossível de
visualizar isso sob os conceitos financeiros de Valor Presente, pois são quase dois séculos!
Assim, a melhor maneira de visualizar qual seria um valor relativo em valores atuais dessa
dívida seria por meio de uma análise do poder aquisitivo do dinheiro dessa época.
34
DICA
Quer saber como era vida no Império Britânico de começos do século
XIX? Época crítica para toda Europa ante o avanço da França Napoleónica e
do liberalismo. Procure pela obra literária “Orgulho e Preconceito” de Jane
Austen ou pelos diversos seriados e filmes disponíveis baseados nessa obra.
Um seriado legal sobre o tema é: Pride & Prejudice (Orgulho e Preconceito).
35
Ou seja, à medida que essas regiões conseguiam vencer as tropas espanholas
dos vice-reinos, elas começavam a consolidar sua gestão política para defender seus
interesses geopolíticos regionais, logo, desenvolvendo suas próprias necessidades, já
como nações, para sobreviver tanto no cenário nacional como internacional. Daí que uma
consolidação nacional por cada vice-reino que pudesse acolher essas extensas regiões foi
muito difícil de acontecer. Aqui no território do Brasil foi um só processo de independência
que levou a consolidar a gestão política em função dos interesses geopolíticos de toda as
regiões brasileiras sob a liderança política do Imperador D. Pedro I.
Mas será que os primeiros anos do Brasil Imperial, já como nação independente
a partir de 1825 foram tranquilos? Esses primeiros anos foram complicados, se
apresentaram algumas intenções separatistas de cunho republicano, inclusive a
província mais austral do país fez a sua independência do Brasil para se consolidar como
uma nova nação no ano de 1828, o Uruguai de hoje. O Brasil de 1825 era uma nação de
proporções continentais, porém, com pouca população no interior, os habitantes dessa
época se concentravam no litoral, nesse sentido, os desafios de manter a consolidação
nacional eram vários.
36
Nesse contexto econômico, a gestão política para manter a nação unida
demandava de uma forte centralização que nessa época estava sob o governo
monárquico de D. Pedro I. Temos que observar que o Brasil já como nação independente
era uma Monarquia Constitucional, com quatro poderes: o Executivo, o Legislativo, o
Judiciário e o Moderador. Tanto o Poder Executivo como o Moderador estavam sob
o comando do Imperador D. Pedro I, ou seja, na prática todas as decisões do Estado
Brasileiro caiam sobre a responsabilidade dele. Sejam boas ou más decisões quem levava
o mérito ou a culpa era o Imperador, isto quer dizer que na prática não existia balanço
entre os poderes do Estado e todos os problemas complexos eram de responsabilidade
de D. Pedro I, assim, o descontentamento começou surgir em várias regiões do país.
Esse descontentamento levou para várias situações difíceis de serem resolvidas de
maneira pacífica, assim, as tropas imperais tiveram que intervir em vários momentos,
entre as rebeliões mais relevantes temos: a Rebelião da Confederação de Equador na
cidade de Pernambuco e a Rebelião da Província Cisplatina.
37
Esses longos três anos de guerra, desde 1825 até 1828, que finalizaram na
perda da Provincia Cisplatina e a Rebelião da Confederação do Equador, foram de forte
desgaste financeiro e político para o governo monárquico de D. Pedro I, quem cada vez
mais sentia a pressão dos outros poderes do Estado Brasileiro. E se a isso se somar o
descontentamento dos proprietários de escravos e grandes fazendeiros que estavam
apreensivos diante à aproximação da data, ano 1830, da abolição do comercio de
escravos vindos da África - que o Brasil tinha assinado com o Reino Unido – as pressões
terminaram com a abdicação do Imperador D. Pedro I no ano 1831. “
Mas será que a abdicação de D. Pedro I foi suficiente para a acalmar o entorno
político? Devermos observar que o filho de D. Pedro I tinha somente 5 anos no ano
1831, ou seja, incapacitado para governar. Pensando nisso D. Pedro I fez um acordo com
o poder legislativo para que o poder executivo seja exercido por regentes nomeados
pelo Senado até que D. Pedro II esteja capacitado para governar quando tenha maioria
de idade. Assim, começou o período da regência, porém, na prática foi uma catástrofe
no que tange à questão da unidade nacional, aliás, entre 1830 até 1845 houve vários
movimentos separatistas, conforme o historiador Alves Filho (2008, p. 106):
38
Nacional do vasto território brasileiro que junto às Guerras Platinas do ano de 1851
consolidaram ainda mais a Unidade Nacional das diversas regiões e culturas do Brasil,
tema de estudos do seguinte Tópico desta primeira unidade.
39
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O retorno de D. João VI para Portugal, no ano 1821, teve implicações geopolíticas para
o reino de Brasil. As cortes portuguesas estavam exigindo que o Brasil voltasse a sua
condição de colônia, assunto que estava contra os interesses e perspectivas dos
brasileiros. Pensando nisso D. João VI deixou a seu filho mais velho, D. Pedro I, como
príncipe regente do reino do Brasil, quem logo no ano 1822 liderou a independência
do Brasil no ano 1822.
• A Revolução de Porto levou a que o D. João VI tivesse que voltar para Portugal assim
como levou às Cortes Portuguesas pressionassem para que o reino do Brasil voltasse
a sua condição de colônia. Essa pressão para que o Reino de Brasil voltasse a ser
colônia foi um dos principais motivos para a declaração de independência.
40
AUTOATIVIDADE
1 A revolução de Porto teve um peso enorme para que o Brasil tivesse feito a declaração
de independência no dia 07 de setembro de 1822. Mas qual a ligação dessa revolução
com a Independência do Brasil?
a) ( ) A revolução de Porto foi de cunho liberal e levou, e como o Brasil estava sob
um regime imperial sob a regência do filho de D. João VI era inaceitável aceitar
que Brasil tivesse que o Reino de Brasil tivesse que virar liberal, embora sob um
regime de monarquia parlamentarista.
b) ( ) A cidade de Porto era, e é ainda, a segunda maior cidade de Portugal e sua
liderança industrial e comercial para Portugal era estratégica para D. João VI,
assim ele teve que voltar para Portugal, isso deixou ao Brasil sem regente, o que
levou aos Brasileiros Republicanos para a independência de 1822.
c) ( ) A revolução de Porto era de cunho liberal e estava exigindo o fim do absolutismo
e o retorno de Brasil para sua condição de colônia. Diante disso os brasileiros
declaram a independência sob a liderança do príncipe regente, filho mais velho
de D. João VI, que logo tomou posse como D. Pedro I.
d) ( ) A revolução de Porto era de cunho liberal e suas ideais se espalharam por todo
o território português, assim como também estava-se espalhando no Reino
de Brasil com um alto risco de ter também uma revolução de cunho liberal no
Brasil. Diante disso e aproveitando a vontade dos brasileiros para declarar a
independência o próprio filho de D. João liderou a independência, D. Pedro I.
41
Assinale a alternativa correta:
3 Salvo algumas exceções, como Cuba que declarou a sua independência no ano
de 1898, a grande maioria de países de América Latina, incluindo ao Brasil, fizeram
as suas independências entre a década de 1810 e 1820. Sobre as diferenças das
independências dos países Latino-Americanos ex-colônias da Espanha e a do Brasil,
defina quais das seguintes sentenças estão corretas.
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - V - V.
42
4 Embora a independência do Brasil foi no dia 07 de setembro de 1822, demorou quase
três anos para que acontecesse o reconhecimento internacional, especialmente de
Portugal. Explique quais eram os motivos para esse reconhecimento acontecesse
somente três anos depois.
5 Durante a era joanina o Brasil incorporou a seu território as terras do que hoje fazem
parte de Uruguai, a conhecida Província Cisplatina. Porém, a partir de 1825, durante
os primeiros anos do Brasil já independente os uruguaios desejavam declarar a sua
independência do Brasil com a ajuda das Províncias Unidas do Rio da Prata (o que
hoje é a Argentina). Sobre esse assunto, a seguir explique qual era o motivo para
que a Argentina declarasse a guerra ao Brasil para ajudar aos uruguaios, e como
finalmente no ano de 1828 o Uruguai se converteu em uma nação independente.
43
44
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
A POLÍTICA EXTERNA DO
SEGUNDO REINADO
1 INTRODUÇÃO
45
exigências de renda para assumir os postos. A hierarquia ficava
reforçada e se garantia o recrutamento dos oficiais em círculos
mais restritos. A partir daí, em vez de concorrência entre a Guarda
Nacional e o Exército, existiria uma divisão de funções. Caberia à
Guarda Nacional a manutenção da ordem e a defesa dos grupos
dominantes, em nível local, ficando o Exército encarregado de
arbitrar as disputas, garantir as fronteiras e manter a estabilidade
geral do país (BORIS, 2006, p. 176).
46
se fez políticas de migração e uma série de gestões para acabar gradativamente com
a escravidão, se resolveu uma série de problemas fronteiriços com os países vizinhos,
entre outros elementos importantes da política externa, conforme vamos estudar neste
último tópico da Unidade 1; o tópico vai se dividir em dois grandes momentos sob a ótica
militar-territorial importantes dessas quase 5 décadas de governo de D. Pedro II, aliás, o
terceiro e o último imperador que o Brasil teve. Esses dos momentos importantíssimos
foram as Intervenções Brasileiras na Região da Prata e a Guerra do Paraguai.
Com uma área de mais de 3,1 milhões de km² a Bacia tem a população
distribuída da seguinte maneira: 100% do Paraguai; quase 90% do
Uruguai; mais de 80% da Argentina; 55% da Bolívia e 54% do Brasil.
Buenos Aires, Montevidéu, Assunção e Brasília, quatro capitais, têm
seu território na Bacia.
47
QUADRO 1 – ÁREA E PORCENTAGEM DA POPULAÇÃO DE 2015 QUE MORA NA BACIA DA PRATA, POR PAÍS
FONTE: <https://bit.ly/3N9owf0>. Acesso em: 21 nov. 2021. FONTE: <https://bit.ly/3N5Yc58>. Acesso em: 21 nov. 2021.
Logo de ter observado a importância da Bacia da Prata, fica mais fácil entender a
importância geopolítica dela para o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai dessa época,
inclusive para a geopolítica de hoje. Voltando para essa época, para o ano 1850 esses países
recentemente tinham passado por longos processos de independência, ou seja, ainda
seus limites territoriais estavam em processo de consolidação; inclusive o Brasil acabava
de perder sua província mais austral, a província Cisplatina se tornando no Uruguai. Nesse
contexto histórico e geopolítico, todos esses países queriam garantir direitos territoriais e
de navegação ao longo da Bacia da Prata. Direitos de navegação que para o Paraguai eram
de extrema importância, desde que esse país não tinha acesso direto ao Oceano Atlântico.
Assim, esse era o entorno muito sútil e instável na Bacia da Prata.
48
NOTA
Sabe qual o significado da palavra estuário? Conforme a revista virtual
Educação Ambiental em Ação (Revistea, 2021): Um estuário é um corpo d'água
parcialmente encerrado, que se forma quando as águas doces provenientes
de rios e córregos fluem até o oceano e se misturam com a água salgada do
mar. Exemplo disso é o Estuário da Prata, o maior do mundo.
Agora que já temos uma visão mais clara da importância de a Região da Prata,
podemos nos adentrar nos fatos históricos e políticos que iniciaram as intervenções
brasileiras nesta região em meados do século XIX. Nessa época, enquanto o Brasil
desejava manter os direitos de navegação ao longo da Bacia da Prata, algumas lideranças
políticas de Argentina, Uruguai e Paraguai desejavam que os territórios da Região da
Prata deveriam ser demarcados conforme aos limites previamente delineados no Vice-
Reinado da Prata, isto é, quando a região fazia parte das colônias da Espanha. Assim,
com essa demarcação esses países poderiam crescer territorialmente, inclusive aderir
parte do território da Provincia de Rio Grande do Sul, e assim melhorar suas posições
geopolíticas perante a forte influência na região do Brasil Imperial.
49
forças contra esse projeto, especificamente o dominante Governador “Justo José
de Urquiza” da Província Argentina “Entre Ríos”, quem depois da Guerra do Prata se
converteu em presidente da Argentina; e no Uruguai o “Partido Colorado”, contrário
ao projeto da Confederação Argentina, também assumiu o controle do governo logo
da Guerra do Prata. Nessa dinâmica se mantinha uma harmonia muito tênue entre os
interesses desses três países (Argentina, Paraguai e Uruguai) e o Brasil Imperial.
Sob essas condições de alto risco aos interesses geopolíticos do Brasil, D. Pedro
II fez aliança com os “Colorados” de Uruguai e com o Governador Justo José de Urquiza
da Província “Entre Rios” de Argentina. Assim, no ano 1851 começou a Guerra da Prata
e já mesmo no ano seguinte as tropas brasileiras conseguiram a vitória, atingindo a
desejada estabilidade na fronteira sul do Brasil. Entre os principais sucessos da vitória foi
que o Brasil conseguiu neutralizar, por enquanto, o risco da consolidação do projeto de
unificação da Confederação Argentina, a qual inclusive desejava incorporar à província
brasileira de Rio Grande do Sul.
50
2.2 A ESTABILIDADE BRASILEIRA DEPOIS DA GUERRA DA
PRATA
A década de 1850 foi um período que mudou positivamente ao Brasil. Sob uma
ótica militar-territorial e econômica, enquanto a unidade nacional se afirmou ainda
mais logo depois da Guerra da Prata, houve uma série de reformas socioeconômicas
que ajudaram muito para que o país pudesse se desenvolver e se modernizar para se
aproximar aos patamares de uma nação mais de acordo com a dinâmica econômica da
época. Nessa década, de 1850, houve mudanças que permitiram:
O fim do tráfico de escravos era uma das demandas do Reino Unido desde o
reconhecimento internacional de 1825, inclusive foi um dos motivos da abdicação de D.
Pedro I. Embora o Império Britânico (o maior império e potência econômica da época)
demandou o fim do comércio escravos, na prática o Brasil continuava com o tráfico.
51
Isso com o passar do tempo estava trazendo conflitos de interesses com os britânicos
e atrapalhando as fontes de capitais diretos e empréstimos para o Brasil, capitais
que, aliás, vinham da poderosa Inglaterra (a nação mais desenvolvida dos reinos que
formavam parte do Reino Unido).
DICA
Um passo fundamental para terminar com a escravidão foi o fim do
tráfico de escravos. A Lei Eusébio de Queirós foi essencial para que isso
pudesse acontecer no ano de 1850. Sugiro entrar no seguinte artigo
ler sobre essa lei importantíssima no processo do fim da escravidão,
que se deu no ano de 1888.
Lei Eusébio de Queirós: https://bit.ly/36v1oXk
Por outro lado, essa abolição do tráfico trouxe uma série de pressões na oferta
de escravos para as lavouras especialmente de cana, café, algodão, produção agrícola
que estava destinada à exportação. Ou seja, acabou fluxo de escravos vindos da
África, implicando aumento no custo da mão-de obra. No que tange ao café – lavoura
que era altamente dependente da mão-de-obra escrava – nessa época a região com
maior produção desse grão era o Vale de Paraíba, pois contava com a constante oferta
de mão de obra barata vinda do tráfico de escravos, e a segunda maior região de
produção de café era o interior de São Paulo. Ambas as regiões foram impactadas pela
abolição do tráfico, pois a oferta de escravos começou depender 100% da população
afro-americana (ou seja, de escravos nascidos no território nacional) e não mais da
entrada de africanos ao país.
52
Perante essa nova condição na oferta de mão de obra escrava a região do Vale
de Paraíba começou perder competitividade, pois seu processo produtivo dependia
precisamente dessa mão de obra barata. Enquanto, a região de São Paulo começou ter
maior competitividade relativa, em função de seu clima ideal para a lavoura do café e
sua capacidade de capitalizar os meios de produção do café, assim, embora a mão de
obra escrava ficou relativamente escassa a produtividade das plantações de café da
região de São Paulo foi melhorando.
53
Vários fatores, de um lado e de outro do oceano, favoreceram afinal o
afluxo de imigrantes em grande número. A crise na Itália que se abateu
com mais força sobre a população pobre, resultante da unificação do
país e das transformações capitalistas, foi um fator fundamental.
Assim, sob essa conjuntura a partir de 1850 o Brasil começou aplicar políticas
imigratórias e aceitar emigrantes que em sua grande maioria eram italianos e
alemães. Essa política imigratória permitiu orientar as ondas imigratórias conforme às
necessidades produtivas. No interior de São Paulo ante a escassez de mão de obra
escrava nas plantações de café começou receber imigrantes italianos como solução
alternativa. “A solução alternativa consistiu na atração de mão-de-obra europeia para
vir trabalhar nas fazendas de café.” (BORIS, 2006, p. 205). Enquanto a imigração que
aconteceu em partes do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ajudou muito para
produzir alimentos (lacticínios, batata, cebola, leguminosas, maçã, uvas etc.) em função
à crescente demanda interna do país desses produtos. Conforme Boris (2006, p. 241):
Ou seja, por um lado os imigrantes europeus dessa época que começaram vir
para São Paulo era para suprir a falta de mão-de-obra dos grandes produtores de café
cuja produção tinha como destino a exportação. Essa mesma imigração mais outras que
vieram para finais do século XIX, passaram ter diversos empreendimentos produtivos e
comerciais, principalmente na cidade de São Paulo. Cidade que, aliás, não parava de
crescer, comparativamente a cidade de São Paulo tinha uma população de menos de
10.000 habitantes no ano da independência, para 1890 já tinha 65.000 e para 1930 já
era a maior cidade do Brasil com mais de 1 milhão de habitantes, comparativamente a
cidade de Rio de Janeiro tinha 522 mil habitantes no ano de 1890 (MULTIRIO, 2021).
54
Por outro lado, os imigrantes que foram para partes do Paraná, Santa Catarina
e Rio Grande Sul eram colonos que povoaram vastas regiões agrícolas de clima mais
temperado nas quais os brasileiros não estavam interessados, pois nessas regiões
não existiam grandes empreendimentos focados à exportação. Gradativamente, esses
colonos do sul do país começaram suprir a demanda interna de alimentos, e mais outros
produtos, da crescente população brasileira de finais do século XIX e começos do XX.
55
Sob essa ótima imagem internacional de D. Pedro II, e políticas de estado
adequadas à época, o Brasil teve acesso à recursos financeiros e capital direto. Foi uma
época que houve desenvolvimento nos mercados de terras, de recursos produtivos
e no mercado de trabalho. A consolidação do mercado de trabalho incentivou o
crescimento de uma classe média profissional e empreendedora, gerando, assim, polos
de desenvolvimento econômico, um exemplo disso foi a cidade de São Paulo. Além de
melhoras nos mercados do setor produtivo, também houve melhoras importantíssimas
na competitividade do país, especialmente no que tange à logística para o deslocamento
tanto de pessoas como de mercadorias. Nessa época, aconteceu o empreendimento
rodoviário mais importante da época, a “Estrada União e Indústria”:
Esse requisito foi muitas vezes preenchido pelo capital inglês, seja sob
a forma de investimentos diretos, seja sob a forma de empréstimos.
A construção de ferrovias e a navegação a vapor revolucionaram
a economia inglesa entre 1840 e 1880, incrementando a produção
56
da indústria pesada do ferro, do aço e do carvão. A acumulação de
capitais tornou possível a concessão de empréstimos e investimentos
no exterior, sendo as inversões em ferrovias um setor privilegiado.
NOTA
O impacto positivo do capital direto na economia
Para finais do período imperial sob a liderança de D. Pedro II, o Brasil tinha se
modernizado e se posicionado no cenário internacional. Porém, antes de finalizar o período
imperial devermos estudar dois fatos históricos importantíssimos que enfraqueceram
ao governo monárquico e mudaram a dinâmica política do Brasil para sempre, isto é, a
crise militar-territorial da longa Guerra do Paraguai e o final da escravidão de 1888.
57
3 A GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)
Existem vários fatores que se juntaram para dar início a Guerra do Paraguai; um
deles foi o próprio processo de consolidação política das novas nações independentes
da Bacia da Prata, isto é, o Brasil, a Argentina, o Uruguai, e o Paraguai. Nesse sentido,
antes de adentrarmos nos acontecimentos dessa Guerra vamos estudar sobre a
conjuntura política desses países um pouco antes de iniciar a Guerra do Paraguai, ou
seja, no ano 1864, questão indispensável para entender os motivos que deram início à
Guerra do Paraguai.
58
A dinâmica política do Paraguai dependia de sua condição geopolítica de
uma nação sem acesso ao mar, nesse sentido, esse país buscava reforçar sua posição
regional disputando terras fronteiriças tanto do Brasil como da Argentina e assim ter
controle das terras próximas dos rios da Bacia da Prata. E principalmente buscava
uma solução logística para escoamento de suas exportações por meio de um aliado
confiável que tenha acesso direto ao mar, nesse contexto geopolítico, eles procuravam
ser aliados dos “Blancos” do Uruguai. No ano de 1862 tomou posse como Presidente de
Paraguai Francisco Solano López, quem apoiava a causa política tanto dos “Federalistas”
da Argentina como dos “Blancos” na Guerra Civil do Uruguai. Além disso, no contexto
brasileiro, desde 1850 o Paraguai tinha gerado algumas barreiras à livre navegação
de navios brasileiros pelo rio Paraguai, essencial para ter acesso à província de Mato
Grosso, logo, o Brasil de 1864 já estava apreensivo com o Paraguai.
59
Porém, o Presidente Francisco Solano López do Paraguai não pensava que a
invasão conjuntural do Brasil ao Uruguai era só para ajudar aos “Colorados”. Solano López
apoiava de maneira ativa ao projeto de um governo uruguaio liderado pelos “blancos”,
e assim ter um porto adicional – de um potencial país aleado – ao de Buenos Aires,
visando garantir a logística do comércio exterior de seu país. Nessa linha de raciocínio
e pensando nos interesses do Paraguai, ele assumiu que a intervenção militar por parte
das tropas imperais brasileiras tinham intenções de recuperar as terras de Uruguai e
depois disso tanto a Argentina como o Brasil ficariam contra o Paraguai com possíveis
repercussões geopolíticas para seu país. Sob esse cenário o presidente do Paraguai
montou uma estratégia pensando que poderia derrotar às tropas brasileiras e neutralizar
à Argentina sob um governo liberal, conforme ao historiador Doratioto (2014, p. 40):
Ou seja, a estratégia do Presidente Paraguaio, Solano López, era que por meio
dessas intervenções – a de Mato Grosso no Brasil, e a de Corrientes na Argentina – a
Argentina iria-se converter para que seja governada pelos “Federalistas” e o Uruguai
ira-se converter para que seja governado pelos “Blancos”, e dessa maneira formar uma
“tríplice aliança”, isto é, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai contra do Brasil. Dessa
maneira, sob essa linha de raciocínio, o desejo geopolítico do Presidente do Paraguai,
Solano López, era de converter seu país no “Grande Paraguai” se apoderando de Mato
Grosso e invadindo a província de Corrientes na Argentina para com isso conseguir
depois invadir Rio Grande do Sul. Com isso além de expandir consideravelmente o seu
território também poderia ter acesso direto ao mar.
Nesse sentido, para atingir isso além da estratégia de uma possível “tríplice
aliança” contra o Brasil, ele vinha se preparando militarmente, por meio do serviço militar
obrigatório e ter a disposição já para finais do ano de 1864 mais de 80.000 homens nas
suas tropas. Porém, a realidade histórica foi outra, a “tríplice aliança” foi ao contrário,
isto é, o Brasil, a Argentina e o Uruguai contra o Paraguai. Historicamente o Paraguai fez
uma coisa inédita, tornar ao Brasil e a Argentina em aliados em uma guerra.
60
Ocorria a inversão da política para o Prata implementada, há quase
duas décadas, pois o eixo Rio de Janeiro-Assunção, para conter
Buenos Aires, era substituído pela aliança Rio de Janeiro-Buenos
Aires, para conter Assunção; era uma situação inédita e que não se
repetiria após o término da guerra (DORATIOTO 2014, p.44)
• Na prática, o Brasil foi o país que tinha mais tropas, marinha preparada e melhor logística
de guerra dos aliados da Tríplice Aliança, ainda assim juntando os três países faltavam
tropas contra as numerosas tropas e logística do Paraguai. Nos começos, a guerra:
• A geografia era vasta e inóspita de pouco conhecimento por parte das tropas aliadas,
além disso os combates eram muito distantes dos centros logísticos dos aliados.
61
IMPORTANTE
Quer saber mais detalhes sobre o Tratado da Tríplice Aliança e a Guerra
do Paraguai. Acesse ao artigo: Guerra do Paraguai: o maior conflito sul-
americano: https://www.politize.com.br/guerra-do-paraguai
Nos primeiros meses da Guerra parecia que ela ia ser um confronto bélico breve,
inclusive houve sucesso dos aliados nos primeiros meses desta, na Batalha Naval do
Riachuelo no mês de junho de 1865. A partir dessa batalha o percurso da guerra mudou
a favor dos aliados. A batalha aconteceu às margens da ribeira Riachuelo, um afluente do
rio Paraná na província de Corrientes da Argentina. Nessa batalha os navios da marinha
imperial do Brasil saíram vitoriosas pois acabaram de vez com a frota naval do Paraguai.
Esse grande sucesso mudou a condição do Paraguai, pois esse país não tinha mais a
logística de sua frota naval para se deslocar e se abastecer. Assim, a logística de guerra
do Paraguai mudou de uma aposição ofensiva para uma defensiva.
Todavia, apesar da vitória dos aliados e ter colocado ao Paraguai numa posição
defensiva a guerra não foi breve. Tudo o contrário as batalhas continuaram por vários
anos, aos poucos as tropas do Paraguai foram se afastando dos territórios invadidos
até se isolar no interior do Paraguai. Logo de quase de quatro anos de guerra a capital
Assunção tinha sido ocupada pelas tropas brasileiras, bem no começo do ano 1869.
62
ficou nas mãos dos Conservadores, ou seja, o Partido Conservador assumiu a gestão
do Governo Imperial. Isso implicava que o Brasil ficou mais de olho nas intenções da
Argentina na Bacia da Prata. “Os governantes conservadores desejavam o fim da
aliança com a Argentina, mas de forma natural, com o desaparecimento dos motivos
que levaram à sua origem.” (DORATIOTO, 2014, p.46) Ou seja, por meio da iminente
derrota do Paraguai os conservadores brasileiros estavam aguardando o fim da guerra,
logo, também seria o fim da Tríplice Aliança. Dessa maneira, com o fim da Guerra o
Brasil poderia negociar com o novo Governo do Paraguai tratados de paz que possam
neutralizar os interesses da Argentina.
63
ao longo do Paraguai e da Argentina; e do lado da fronteira com o Uruguai e a Argentina
ao longo do rio Uruguai. Nessa época o direito de livre navegação era uma questão de
logística importantíssima para o Brasil, já que era a única maneira de manter contato
– deslocamento de pessoas, correspondência e comércio de mercadorias – com a
província de Mato Grosso (hoje divide-se nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul). Essa logística fluvial era importante em função dos vastos e agrestes territórios
que afastavam essa extensa região com os centros de poder econômico e político da
região sudeste do Brasil.
64
3.2 CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA DO PARAGUAI
Para o Paraguai foi uma experiência traumática, o país perdeu grande parte
de sua população nesses longos anos de conflito, segundo o historiador Boris (2006,
p. 216): “Os cálculos mais confiáveis indicam que metade da população paraguaia
morreu, caindo de aproximadamente 406 mil habitantes, em 1864, para 231 mil
em 1872. A maioria dos sobreviventes era de velhos, mulheres e crianças.” Além de
perder quase a metade de sua população, o país ficou financeiramente quebrado sem
capacidade de retomar suas exportações, e teve perda territorial e destruição de seu
território. Assim como teve que renunciar a litígios territoriais que tinha tanto com a
Argentina como com o Brasil. No que tange ao impacto da redução de seu território,
vejamos o que era o Paraguai antes da guerra, os territórios ocupados ao início do
conflito e os territórios perdidos após da Guerra, se observarmos o mapa o país perdeu
mais de 1/3 de seu território.
65
Para a Argentina, a principal vitória talvez seja a consolidação como nação, pois
após da Guerra esse país conseguiu acabar de vez com os “Federalistas”. No contexto
geopolítico o país ganhou a região do “El Chaco”, o que permitiu à Argentina ter a sua
fronteira literalmente ao lado da Capital Assunção, conforme podermos observar no
mapa de acima. No contexto do fim dos “Federalistas”, como força política, permitiu aos
argentinos se concentrarem no desenvolvimento socioeconômico da nação, com uma
política econômica de cunho mais liberal e globalizada. Isso foi uma das bases para seu
acelerado desenvolvimento econômico das décadas depois de ter terminado a Guerra
do Paraguai, inclusive para começos do século XX a Argentina era considerada como
uma das nações mais ricas do mundo com um PIB per capita acima da Alemanha ou
da França. Eis um dos porquês Buenos Aires de começos de século XX era considerada
uma das capitas mais ricas e importantes do mundo.
Para o Brasil, uma das consequências do conflito foi que o país ficou
ainda mais endividado com a Inglaterra, com a qual tinha restaurado
as relações diplomáticas, no início das hostilidades. Mas a maior
consequência foi a afirmação do Exército como uma instituição com
fisionomia e objetivos próprios (BORIS, 2006, p. 216).
66
Assim como menciona o historiador Boris, outra consequência importante foi
o fortalecimento do Exército Brasileiro em detrimento da imagem do Brasil Imperial.
Nesse sentido, tanto o impacto econômico do orçamento para a Guerra como o
fortalecimento da imagem do Exército Brasileiro alimentaram as críticas que se vinham
produzindo ao sistema de governo monárquico. E se nessas críticas - mais outros
fatores de cunho político e socioeconômico - se acrescentarem o fim da escravidão
no ano de 1888 deram as ferramentas políticas que os republicanos precisavam para
pôr fim à monarquia e dar começos ao Brasil como república. Isso aconteceu de fato
no ano de 1889, assunto de estudos que vamos ver no começo da seguinte Unidade,
no subtópico “A consolidação da República”.
67
LEITURA
COMPLEMENTAR
REINO UNIDO ENCARA SUA HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO
Jo Bryan Harper
DEUTSCHE WELLE BRASIL
Economia britânica lucrou muito com o tráfico de escravos, mas esse capítulo foi
esquecido nos currículos escolares do país, dizem historiadores. Protestos impulsionam
acerto de contas com passado colonial.
68
"A economia escravocrata britânica era imensa e extremamente complexa.
Embora não seja possível fornecer uma cifra exata de quanto dinheiro britânico esteve
vinculado aos lucros da escravidão, é claro que a economia se beneficiou enormemente
da exploração do trabalho escravo africano no Caribe", disse à DW Ryan Hanley,
historiador da Universidade de Exeter.
Edward Colston, cuja estátua foi derrubada em Bristol, deixou uma grande
contribuição para a Sociedade dos Mercadores Empreendedores, uma organização que
foi fundamental para o desenvolvimento da empresa ferroviária Great Western Railway
durante o período vitoriano. "De fato, grande parte do financiamento das ferrovias,
símbolo amado do progresso industrial vitoriano, tem sido associado aos pagamentos
de indenização concedidos a proprietários de escravos", disse Hanley.
69
Abolição e indenização
Opinião semelhante tem o historiador David Olusoga. Segundo ele, por décadas,
o sistema educacional do país, rejeitou "apelos e pedidos" feitos por duas gerações de
negros britânicos para que a história dos negros se tornasse uma parte essencial do
currículo nacional. "Como resultado, isso se tornou um ponto cego nacional, uma lacuna
em nosso conhecimento coletivo que afeta a todos nós ‒ pretos e brancos", escreveu
no jornal The Guardian.
Hanley disse que, atualmente, o Reino Unido está fazendo um acerto de contas
com seu passado colonial e os efeitos desta história no presente. "Para muitas pessoas,
esse processo será doloroso. Contar a verdade histórica geralmente o é", acrescentou.
Fonte: https://bit.ly/3IiYCl7.
70
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O Segundo Reinado de D. Pedro II durou quase 50 anos, época na qual o Brasil conseguiu
resolver problemas fronteiriços com seus países vizinhos da Bacia da Prata.
• A Bacia da Prata e sua vasta região era uma questão geopolítica muito importante
para o Brasil e demais países vizinhos, daí a importância do sucesso das intervenções
brasileiras na Região da Prata.
71
AUTOATIVIDADE
1 Durante grande parte do século XIX os países que conformam a vasta região da
Bacia de Prata passaram por vários conflitos bélicos, entre eles a guerra que deu
a independência à Província Cisplatina do Brasil para se converter na república do
Uruguai, a segunda foi a Guerra da Prata e por último temos a Guerra do Paraguai.
Sobre a importância geopolítica da Bacia da Prata a seguir defina qual das sentenças
é a correta. A vasta região da Bacia da Prata era importante para os interesses dos
países que a conformavam, e conformam hoje, em função:
72
Dessas sentenças a seguir determine a sequência correta:
a) ( )F-V-V
b) ( )V-V-F
c) ( )V-F-F
d) ( )V-F-V
5 A partir da década de 1850 o Brasil começou receber várias ondas migratórias, as quais
só vieram a se intensificaram a finais do século XIX e começos do XX. Mas as imigrações
que aconteceram até finais do Segundo Reinado e começos da República em 1889
tiveram finalidades específicas, especialmente no interior de São Paulo. Sobre essa
finalidade explique qual era demanda principal de imigrantes no interior de São Paulo.
73
74
REFERÊNCIAS
ALVES FILHO, A. Aspectos políticos e administrativos da formação e consolidação do
Estado nacional brasileiro (1808-1889). Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão,
Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, p. 100-110, 2008. Disponível em: https://bit.ly/3KTq9vi. Acesso
em: 16 nov. 2021.
ARQUIVO NACIONAL. A corte no Brasil: Abertura dos Portos. 2018. Disponível em:
https://bit.ly/36cu5bR. Acesso em: 15 nov. 2021.
BANCO MUNDIAL. Datos de libre acceso del Banco Mundial. 2021. Disponível em:
https://datos.bancomundial.org/. Acesso em: 29 nov. 2021.
BBC NEWS. Cuán rico realmente era Mr. Darcy: el galán de "Orgullo y Prejucio", la
novela más popular de Jane Austen. Disponível em: https://bbc.in/3qhJ7ni. Acesso em:
13 nov. 2021.
BORIS, F. História do Brasil. 12. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
BORIS, F. História do Brasil. São Paulo: Editora de Universidade de São Paulo, 2013.
EOCA. Bacia do Prata: Área, População e outros números. 2021. Disponível em:
https://bit.ly/3N5Yc58. Acesso em: 21 nov. 2021.
75
MULTIRIO. A vinda da família real para o Brasil: o embarque e a viagem da corte.
Disponível em: https://bit.ly/3N0ig9c. Acesso em: 5 nov. 2021.
REVISTA JUS. Para lembrar uma grande vitória militar do Brasil. 2019. Disponível
em: https://bit.ly/3N6Hov6. Acesso em: 26 nov. 2021.
76
UNIDADE 2 —
A POLÍTICA EXTERNA DA
PRIMEIRA REPÚBLICA
(1889-1930)
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• discernir a dinâmica das relações do Brasil com os países das Américas, especialmente com
os EUA e América do Sul, desde a década de 1930 até após da Segunda Guerra Mundial.
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
77
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
78
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
A POLÍTICA EXTERNA DO BARÃO
DO RIO BRANCO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, nos Tópicos desta segunda Unidade, abordaremos a Política
Externa do Brasil a partir da Primeira República, o período entre 1889 até 1830. Ou
seja, a partir da queda monarquia até a Revolução de 1930, ano que por questões da
própria dinâmica histórica faz coincidência com o começo da Grande Depressão, que
começou nos Estados Unidos, a raiz da quebra da Bolsa de Valores de Nova York e
logo se espalhou pelo mundo inteiro. O período da Primeira República é relevante para
a consolidação da República Brasileira e para o rumo que iria tomar a Política Externa
do país até os dias atuais. Na foto de abaixo se mostra a Família Real um pouco antes
de eles irem embora para o exilio, imagem representativa do fim do Brasil Imperial e do
começo da República Brasileira.
79
o Ministério de Relações Exteriores (conhecido como Itamaraty) desde 1902 até 1912. A
Política Externa liderada pelo Barão de Rio Branco vem sendo peça-chave para a dinâmica
das relações internacionais do Brasil, conforme vamos ver ao longo da Unidade 2 e 3.
Esse poder econômico dos cafeicultores foi aos poucos se expandido ao entorno
da política brasileira. Desse modo, para finais da década de 1880 a dinâmica política estava
marcada também pelo peso do poder da oligarquia paulistana. Essa consolidação da
oligarquia paulistana foi-se manifestando de maneira mais expressiva a partir de 1870 em
detrimento da queda dos centros de poder político e econômico do Nordeste que, aliás,
eram uma das bases de apoio à gestão do Brasil Imperial, segundo Boris (2006, p. 238):
80
ATENÇÃO
Qual a importância da competitividade relativa para o desenvolvimento socioeconômico de
uma região ou país? O mais claro exemplo disso é o que aconteceu com a região de São
Paulo e sua alta competitividade na produção, comercialização e exportação de café. Hoje, a
cidade de São Paulo é coração econômico do Brasil e uma das metrópoles mais importantes
do Mundo. Mas vejamos umas das definições de competitividade relativa para entender
melhor esse conceito a sua importância para o desenvolvimento de um país, conforme o
Fórum da FGV (2012):
81
Presidente da República no período de transição, começando assim a era Republicana
no Brasil. E no contexto da Política Externa? O período da Primeira República pode ser
agrupado em dois grandes momentos:
ATENÇÃO
A importância do PRP na queda da Monarquia a na política da Primeira República,
conforme expressa o Centro de Pesquisa CPDOC FGV (2021):
2 A CONSOLIDAÇÃO REPUBLICANA
82
Os vários grupos de poder tinham interesses diversos e divergiam em
suas concepções de como organizar a República. Os representantes
políticos da classe dominante das principais províncias – São Paulo,
Minas Gerais e Rio Grande do Sul – defendiam a ideia da República
federativa, que asseguraria um grau considerável de autonomia às
unidades regionais (BORIS, 2006, p. 247).
83
que, aliás, ainda hoje é uma monarquia cujo chefe de Estado é a mesma Monarquia
Britânica. No entanto, é uma nação independente, pois quem governa o Canada é o
primeiro-ministro desse país e não o primeiro-ministro do Reino Unido que seria a nação
principal da Monarquia Britânica. Ou seja, os chefes de Estado tanto do Reino Unido
como do Canadá é a Monarquia Britânica – que hoje está sob a chefia da Rainha Isabel
II –, mas ambas as nações estão sob a gestão governamental de primeiros-ministros
totalmente independentes.
NOTA
Você sabia que hoje 53 países têm suas origens no Império Britânico? Eles fazem parte do
“Commonwealth” e 15 desses países ainda mantem como chefe de Estado à Monarquia
Britânica, entre eles a Austrália, o Canadá e a Nova Zelândia. Um
desses países acabou de declarar a sua independência da Monarquia
Britânica, Barbados. Se desejar saber mais acesse ao artigo “Fim da
monarquia em Barbados: os lugares do mundo que ainda têm
Elizabeth 2ª como chefe de Estado”, da BBC Brasil.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59483451
Outro fato que fez o Brasil se aproximar mais dos Estados Unidos, é própria
condição geográfica de tamanho continental das duas nações. Em termos de política
externa, os Estados Unidos colocaram o olho no Brasil como um potencial país que
poderia liderar a geopolítica da América Latina. Inclusive no contexto da estrutura
federal, o Brasil Republicano dado sua circunstância de ter um vasto território com
diversos interesses regionais se inspirou na estrutura Federativa dos Estados Unidos,
conforme Boris (2006, p. 249):
84
para ser constituída sob uma estrutura territorial federativa, sob o comando dos três
poderes, característicos, de uma nação republicana, isto é, o Poder Executivo, o Poder
Legislativo, e o Poder Judiciário.
Conforme o dito pelos autores esse idealismo americanista fez desse período
da consolidação Republicana (1889 – 1902) como a época da Política Externa do
“Americanismo Ingênuo”, ou seja, uma ilusão “temporária” que a vizinhança e os
Estados Unidos atuariam pelo americanismo sem considerar os interesses próprios de
suas nações. Aliás, esse “Americanismo Ingênuo” por pouco levou ao Brasil perder parte
do território do oeste do Estado de Santa Catarina (até a cidade de Chapecó no oeste
catarinense), parte do sudoeste do Estado do Paraná e parte noroeste do Estado de Rio
Grande do Sul. Conforme aos autores Lessa e Altemani (2014, p. 63):
85
IMAGEM 2 – MAPAS DA PROVÍNCIA DE “MISIONES” DA ARGENTINA
FONTE: <https://bit.ly/3N23FtP>. Acesso em: 9 dez. 2021. FONTE: <https://bit.ly/3u9Y786>. Acesso em: 9 dez. 2021.
86
de pessoas que tiveram vivência com o Regime Imperial. Um desses funcionários foi o
Barão de Rio Branco, quem foi para Washigton, como chefe da delegação, onde montou
toda uma equipe de profissionais conhecedores do tema do litígio e do contexto histórico
que envolvia isso. Logo do processo de analisar e apresentar as argumentações tanto
da Argentina como do Brasil, em fevereiro de 1895 foi definido o laudo a favor do Brasil
por parte do Presidente Cleveland, conforme os autores Lessa e Altemani (2014, p. 63).
ATENÇÃO
Quem era Barão do Rio Branco? Se deseja saber mais sobre um dos
personagens mais importantes da Política Externa e do Brasil, acesse ao
Atlas Histórico da FGV, Barão do Rio Branco.
Fonte: https://atlas.fgv.br/verbetes/barao-do-rio-branco
Mas prévio a nossos estudos sobre a sua gestão, vamos ver três grandes
litígios internacionais onde a gestão do Barão do Rio Branco foi fundamental antes
mesmo de ele comandar o Palácio de Itamaraty (Ministério de Relações Exteriores). O
87
primeiro sucesso do Barão do Rio Branco de grande relevância, conforme estudamos
nas páginas anteriores, foi definir a favor do Brasil o Litígio do território das Palmas
entre a Argentina e o Brasil.
Logo desse Litígio houve dois grandes conflitos, onde a intervenção do Barão
do Rio Branco foi necessária: a ameaça a região do norte da Amazônia por parte da
França por meio de seu território na América do Sul, a Guiana Francesa (1894-1900); e o
conflito entre o Brasil e a Bolívia no estado do Acre, região onde existiam interesses de
empresários Norte-Americanos e Britânicos (1898-1903). Ambos os conflitos estavam
vinculados aos interesses econômicos das grandes potências econômicas da época.
88
3.1.1 O litígio do Acre com a Bolívia
No segundo ano da Guerra do Paraguai, o Brasil já vendo que ela não iria ser “tão
breve assim” entrou em negociações com a Bolívia com objetivos tácticos de guerra,
os quais visavam neutralizar o fornecimento de armas, alimentos e demais recursos
indispensáveis para o Paraguai durante a Guerra. O Governo da Bolívia em troca da
suspensão do fornecimento de insumos ao Paraguai demandou ao Brasil que lhe
entregasse os territórios do Acre, fechando assim o tratado de Limites de 1867 entre
esse país e o Brasil. Assim, na teoria o Acre deveria ter sido da Bolívia.
Porém, conforme Lessa e Altemani (2014, p. 69), o tratado nunca foi efetivado
em função da divergência de onde era a nascente do rio Javari, no que hoje é a divisa
entre o estado do Acre e Amazonas. Assim, em função disso nunca houve presença
boliviana no Acre, nem econômica nem de assentamentos. Porém, por parte do Brasil
houve assentamentos e atividade econômica de milhares de brasileiros que vinham
fazendo dessa região seus lares. A atividade econômica desses brasileiros girava em
torno da exploração e comercialização do látex, que foi o interesse de fundo por parte
da Bolívia para reclamar os territórios do Acre.
89
Nesse sentido, apesar de os brasileiros que moravam no Acre não aceitassem
ser parte da Bolívia, o Brasil estava disposto em ceder esse território para a Bolívia
conforme ao tratado assinado em 1867. Contudo, a Bolívia não tinha os recursos
suficientes para fazer valer sua soberania, ainda assim, o país vizinho queria executar
seu direito de reclamar o Acre em função dos interesses econômicos que giravam em
torno do lucrativo negócio da exportação do látex.
90
NOTA
Sabia que a Bacia do Amazonas é maior do Mundo? Ela nasce nos Andes
cobrindo uma vasta região de mais de 7 milhões de km2, dessa bacia
fazem parte a Colômbia, a Bolívia, o Brasil, o Equador, as Guianas, o Peru
e a Venezuela. Sendo que 70% desta bacia está no território brasileiro.
91
3.2 O BARÃO DO RIO BRANCO AO COMANDO DO PALACIO DE
ITAMARATY
O início de sua gestão foi caraterizado pelo conflito do Acre que ainda estava
por ser solucionado. Conforme foi exposto anteriormente, o conflito tinhas as seguintes
caraterísticas:
Diante dos acontecimentos, o que fez o chanceler Barão do Rio Branco? Ele
queria solucionar a situação dos brasileiros que moravam no Acre, e dar exemplo aos
empresários e especuladores de nações desenvolvidas no sentido que não podem se
envolver em questões de interesse nacional entre países dentro da América do Sul,
principalmente se isso tem impacto nos interesses do Brasil. Uma vez que analisou o
assunto, ele entrou em negociações diplomáticas diretas com o Governo da Bolívia,
procurando uma solução que possa ser vantajosa para as duas nações e assim neutralizar
o envolvimento de empresas e especuladores das grandes potências da época.
92
Brasil. Para impor esse princípio o Governo brasileiro mandou tropas para a região do
Acre com o pretexto de defender aos brasileiros que aí habitavam. Além disso, para
neutralizar as atividades econômicas da Bolivian Syndicate o Brasil proibiu a navegação
dos rios amazónicos para embarcações estrangeiras, assim, essa empresa não poderia
escoar o látex pelos rios que convergem no rio Amazonas para logo exportá-lo pelo
Oceano Atlântico para os mercados de Europa e Norte-América. Ou seja, a Bolivian
Syndicate ficou sem capacidade de continuar operando seu projeto empresarial.
Com o jogo táctico de impor a presença das tropas brasileiras no Acre e proibir
a navegação pelos rios do Amazonas para embarcações estrangerias o Brasil mostrou
sua capacidade de fazer valer seus interesses. Contudo, depois de fazer isso, o Governo
Brasileiro propôs para os empresários da Bolivian Syndicate uma compensação financeira
de 100 mil libras esterlinas, assim eles “[...] aceitaram as 100 mil libras oferecidas pelo
governo brasileiro, como compensação para cancelar suas pretensões, e foi afastado o
risco de intervenção de seus países na questão.” (LESSA; ALTEMANI, 2014, p. 70).
93
ATENÇÃO
O tratado de Petrópolis de 1903 fechou o litígio do Acre, reconhecendo
a soberania brasileira sobre o território do que hoje é o Estado do Acre.
Para se aprofundar sobre os detalhes desse tratado acesse ao artigo: O
Tratado De Petrópolis De 17 De Novembro De 1903.
Fonte: https://bit.ly/3whZV1z
Foi com o sucesso de recuperar o estado do Acre que o Barão do Rio Branco
começou seu longo período ao comando do MRE. Os exemplos dos litígios complexos
que temos visto aqui neste caderno de estudos demonstram a capacidade do Barão do
Rio Branco de fazer valer os interesses do Brasil por meio de ferramentas diplomáticas,
militares, políticas, técnicas e históricas, e que estejam sob os direitos internacionais das
nações. A demonstração de força só foi usada como maneira de mostrar a capacidade
de agir do Estado Brasileiro caso houver a necessidade. Essa maneira de executar
a Política Externa por parte do Barão do Rio Branco como ministro do MRE pode ser
resumida nos seguintes elementos de atuação.
Nos casos que houver uma guerra civil ou conflitos internos, especialmente, em
um país da América Latina, o Brasil sempre deveria apoiar ao governo constitucional do
país em questão.
94
• O BRASIL DEVE SE FOCAR NO USO DA DIPLOMACIA E EVITAR A FORÇA
O Brasil deveria procurar manter alianças com nações que possam contrapor
o forte peso de nações que pudessem ameaçar os interesses e a soberania nacional.
Na época do Barão do Rio Branco esse balanço de poderes geopolíticos pode ser
exemplificado com a aliança tácita que existia com os Estados Unidos desde os começos
da Primeira República no ano de 1889, mas que ele fez dela mais prática e mais orientada
aos interesses do Brasil, e menos “ingênua” como aconteceu nos começos da República
na década de 1890, e que volveria acontecer na década de 1950, conforme veremos no
Tópico 3 desta unidade.
95
conforme estudamos na Unidade 1. Nesse sentido, “à elite cafeeira paulista também
lhe convinha esse movimento, visto que os norte-americanos se tornaram o principal
mercado importador do produto brasileiro.” (UFRGS, 2016, p.11)
Mas será que logo de sua longa passagem pelo Palácio de Itamaraty a
Política Externa da Primeira República continuou igual? Houve algumas mudanças
significativas tanto no contexto nacional como no internacional que alteraram a
conjuntura do momento, no contexto internacional no ano de 1914 começou a
Primeira Guerra Mundial, assim como houve mudanças econômicas internacionais
drásticas que impactaram ao Brasil especialmente desde 1929 com a quebra da Bolsa
de Valores de Nova York que fez colapsar o preço do café nos mercados internacionais
e fechou as fontes de financiamento para a política de preços do café, entre algumas
das consequências disso.
ATENÇÃO
Quer saber mais sobre o Instituto Rio Branco? Além de formar ao corpo
diplomático do Brasil, hoje em dia é um Instituto contribui com estudos
de relações internacionais e é uma referência regional e internacional
em questões de academia diplomática. Acesse ao site do Instituto Rio
Branco: http://www.institutoriobranco.itamaraty.gov.br/.
96
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os países das Américas vieram com bons olhos a formação da República do Brasil,
especialmente os EUA que se tornou o principal aliado do Brasil em detrimento da
Grã-Bretanha.
• A importância da Política Externa aplicada pelo Barão do Rio Branco, usada até hoje: 1)
O Brasil deveria evitar se envolver em assuntos internos dos países da américa latina;
2) O brasil deveria apoiar sempre ao governo constitucional de países que estejam
com conflitos internos; 3) O brasil deve se focar no uso da diplomacia e evitar a força;
4) O brasil deveria manter alianças com nações que consigam contrapor nações que
pudessem ameaçar a soberania e interesses nacionais.
97
AUTOATIVIDADE
1 Com a mudança do Regime Imperial para o Republicano houve uma série de alterações
nas relações internacionais do Brasil. Em relação às relações do Brasil com o resto
das Américas, é correto dizer que:
2 A partir da era do Barão do Rio Branco o Brasil passou adotar uma série de princípios
como parte de sua Política Externa. Dessa maneira houve princípios claros sob os
quais o país poderia manter diretrizes nas suas relações internacionais. Entre esses
princípios tem-se:
I- O brasil deveria evitar se envolver em assuntos fora de seus interesses como nação.
II- O Brasil deveria apoiar sempre ao governo constitucional de países que estejam
com conflitos internos.
III- O Brasil deve se focar no uso da diplomacia e evitar a força
IV- O Brasil não deveria manter alianças específicas com as nações, mas deveria
procurar interesses comuns do momento com países de seu interesse.
98
3 Durante a gestão do Barão do Rio Branco no comando de Itamaraty, o Brasil teve
alianças estratégicas importantes sob as quais se procurava interesses comuns que
possam servir para ambos os lados. Sobre isso é correto dizer que a Política de Rio
Branco foi de:
( ) manter alianças tanto com os EUA como com o Reino Unido. Assim, se procurava
estabelecer uma equidistância favorável para o Brasil.
( ) afiançar uma aliança estratégica com os EUA, mas de maneira mais pragmática,
aproximação natural que já vinha acontecendo desde os inícios da República.
( ) manter a aliança única com a Grã-Bretanha, dado o fato que ainda era a
superpotência do momento e ainda existia interesses comuns, principalmente o
Brasil precisava das fontes de financiamento que Londres poderia fornecer.
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - V - F.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - V - V.
4 No ano de 1902, quando o Barão de Rio Branco tomou posse do MRE o Brasil estava
bem no meio do litígio do Acre, no qual existiam interesses tanto de Estado (do Brasil
e da Bolívia) como de empreendimentos de empresários das grandes potências do
mundo, neste caso dos EUA e do Reino Unido. O Brasil sob a liderança de Rio Branco
no Palácio de Itamaraty conseguiu finalizar esse litígio recuperando os territórios do
Acre para o Brasil. A seguir exponha e explique qual foi a estratégia de negociação do
Barão do Rio Branco.
99
100
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NA
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
(1914-1918) E NA LIGA
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste segundo tópico da Unidade 2, iremos abordar as
repercussões da Primeira Guerra Mundial na Política Externa do Brasil. A Primeira Guerra
Mundial pode ser visualizada com um conflito mundial que estabeleceu uma nova ordem
mundial perante as grandes mudanças geopolíticas, tecnológicas, socioeconômicas e
ideológicas que começaram a se manifestar desde finais do século XIX. Desde a ótica do
Brasil, todas essas grandes mudanças marcaram um novo rumo que o país iria iniciar a
partir daí. O Brasil ao igual que o resto das Américas tinha uma posição de neutralidade
perante o primeiro conflito mundial, mas um anto antes de finalizar a Guerra teve que
entrar na Guerra a favor dos aliados. Esse posicionamento a favor dos aliados deu ao
Brasil um assento privilegiado como membro da Liga das Nações, conforme iremos ver
mais adiante.
Nossos estudos deste tópico começam no ano de 1914, ano que marcou o
começo da Primeira Guerra Mundial. Em termos históricos, essa Guerra com repercussões
mundiais acabou com quase um século de relativa paz no cenário europeu, logo,
101
acabou também com uma relativa calma que existia no cenário mundial. A relativa paz
que existiu ao longo do século XIX, teve seu fundamento no Congresso de Viena em
1815, ano que marcou o fim das devastadoras Guerras Napoleónicas e suas implicações
geopolíticas na Europa e nas Américas. Assim, a Primeira Guerra Mundial marca um
antes e depois dessa relativa paz que durou quase um século.
102
NOTA
Quer saber um pouco sobre esse primeiro voo? Acesse a história do
primeiro voo dos irmãos Wright e as implicações disso para a indústria
da aviação, em: https://bit.ly/3InmK6f.
• Uma ordem e paz entre nações de acordo com a moral e normativa jurídica
internacional.
• Entre nações não deveria existir hegemonia de uma nação em particular sobre as
outras.
103
A segunda nação europeia que teve suas origens nessa época foi a Itália. Embora
o povo italiano, junto com à Grécia, seja o verso da civilização ocidental, na história
moderna estava fragmentado em diversos estados ao longo da península itálica. Porém,
no ano de 1861 esses diversos reinos se unificaram sob uma só nação, a Itália. Desse
modo, para finais do século XIX no continente europeu apareceram duas novas nações
que consolidaram a força de dois povos muito representativos, mudando a harmonia
geopolítica desse continente e do mundo.
Porém, a Itália era uma nação de cultura ancestral com desejos de ser parte
das grandes nações da Europa e desejando se expandir, especialmente para territórios
africanos. Devermos observar que ao adicionar tanto a Alemanha como a Itália no jogo
dos interesses geopolíticos houve também aumento das tensões na Europa, tensões
que foram se acrescentando até eclodir a Primeira Guerra Mundial.
104
Nos Bálcãs, porém, os interesses das grandes potências convergiam
e se entrechocavam fazendo daquela península o “barril de pólvora”
da Europa (MENDONÇA, 2008, p.18).
Assim, conforme dito pela autora Mendonça e pela conjuntura dessa época, o
primeiro grande conflito a nível mundial teve como fundamento as disputas e interesses
geopolíticos entre as principais nações da Europa, conflito que logo se espalhou para
o resto do mundo, iniciando assim a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Mas como foi
que essas tensões geopolíticas que vinham se acumulando explodiram? O fósforo que
deu início ao primeiro grande conflito mundial foi o assassinato do herdeiro do Império
Austro-húngaro em uma das regiões mais conflitivas da Europa, os Balcãs. Embora esse
assassinato fosse uma questão estritamente regional entre os interesses dos povos dos
balcãs e o Império Austro-húngaro, foi o “pretexto” para iniciar um efeito cadeia entre as
tensões que vinham-se acumulando entre as potências europeias.
NOTA
Depois da Segunda Guerra Mundial a Monarquia de Jugoslávia passou
a se converter na República Socialista Federativa da Jugoslávia, 1945-
1992; e após de 1992 essa região se desintegrou em vários países:
Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Sérvia e Macedônia.
105
IMAGEM 5 – MAPA DOS BALCÃS UMA DAS REGIÕES COM MAIOR DIVERSIDADE ÉTNICA DA EUROPA
“Balcãs ou Bálcãs ou ainda península balcânica é o nome dado a uma região peninsular a sudeste da
Europa caracterizada pela enorme diversidade étnica, cultural e religiosa dos povos que a habitam, além
dos drásticos conflitos que há séculos preenchem a história da região, derivados de tal pluralidade.”
106
europeus, reflexo das tensões que se vinham acumulando entre as grandes nações da
Europa. Assim, por meio de interesses comuns, as grandes nações da Europa iniciaram
alianças estratégicas perante o conflito iniciado nos Balcãs.
ATENÇÃO
Sabia que a Áustria ao longo da história moderna conformou vários
impérios, se mantendo firme como uma das monarquias absolutas com
grande poder geopolítico na Europa Continental? Isso foi feito por meio
deu sua Casa Real, os Habsburgo. “Seu domínio se estendeu também,
durante alguns períodos, a muitos outros países da Europa, entre eles
a Boêmia (hoje parte da República Tcheca), a Hungria e a Espanha.”
(BRITÂNICA ESCOLA, 2021, on-line).
Quer saber mais sobre umas casas reais mais poderosas da Europa? Acesse
ao artigo: 1918: Fim do império dos Habsburgos: https://bit.ly/3in87p2
107
Em 11 de abril de 1917, porém, já sob o governo de Venceslau Brás, o
Brasil rompeu relações diplomáticas com o Império germânico em
razão do afundamento, dias antes, do navio mercante brasileiro
Paraná por um submarino alemão. A agitação da opinião pública
promovida por aqueles favoráveis ao envolvimento brasileiro na
guerra levou Müller a demitir-se do Itamaraty, em 26 de outubro de
1917, após o afundamento de vários navios mercantes brasileiros
por submarinos alemães, o Brasil declara guerra à Alemanha
(LESSA; ALTEMANI, 2014, p. 79).
Por outro lado, foi o fim da Casa Real dos Habsburgo na Áustria, a qual foi uma das
mais importantes monarquias que tinha comandado um dos maiores impérios da Europa
durante 4 séculos! Desde 1515 até 1918 (como potência europeia do período moderno),
conhecido como Império dos Habsburgo. Conforme o mapa de abaixo, o Império Austro-
húngaro foi a nação perdedora da Guerra que teve maior perda de território. Aliás, a Áustria
depois de Primeira Guerra Mundial não conseguiu se reestabelecer como grande potência
em termos geopolíticos. Porém, em termos de riqueza per-capita, conhecimento e cultura
a Áustria atualmente é uma das nações mais ricas e desenvolvidas da Europa. E os demais
países da Europa, como eram os mapas políticos deles antes e depois da Guerra?
108
IMAGEM 6 – MAPA POLÍTICO DA EUROPA, ANTES E DEPOIS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
O país que mais se destacou a partir da Primeira Guerra Mundial foi os Estados
Unidos, que ao longo do século XIX já vinha se desenvolvendo para ser uma grande
nação. Porém, foi somente após do conflito que todo esse poderio de um país continental
109
e bem-organizado entraria no cenário internacional como uma grande potência com
capacidade de influenciar a geopolítica mundial. Em termos de política externa, os
Estados Unidos aumentaram sua presencia no comércio internacional, especialmente
fornecendo aos aliados de matéria prima e insumos essenciais para dar conta de
uma longa Guerra. Além disso os Estados Unidos se converteram em prestamistas e
investidores da Europa para sua reconstrução, dando assim uma forte concorrência à
Inglaterra como centro financeiro mundial.
Com a entrada no cenário global dessas três nações, o Império Britânico não
seria mais a única superpotência com capacidade de influenciar todos os continentes
do mundo. Assim, a Primeira Guerra Mundial foi o começo do declive do Império Britânico
como a maior potência mundial. Hoje, o Reino Unido continua sendo uma potência e
mantem sua liderança em várias frentes, mas já não mais como uma superpotência.
Embora o Presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, foi o idealizador que
propôs os pontos essenciais a serem abordados pela Liga de Nações, “[...] a recusa do
Congresso norte-americano em ratificar o Tratado de Versalhes acabou impedindo que os
Estados Unidos se tornassem membro do novo organismo.” (FGV CPDOC, 2021). Devermos
observar que os Estados Unidos como parte integrante dos países aliados estiveram
contra das punições severas à Alemanha estabelecidas do “Tratado de Versalhes”.
110
ATENÇÃO
Sabe qual a diferença entre tratados bilaterais e multilaterais?
Como já foi dito, o objetivo da Liga das nações era de restabelecer a ordem
mundial logo depois de ter finalizado a Primeira Guerra Mundial, porém, na sua estrutura
inicial faltou representatividade das novas potências mundiais.
111
(BBC, 2012). Ou seja, grande parte do século XX foi influenciado pelos interesses e
decisões dos Estados Unidos, a União Soviética (hoje desintegrada em vários países),
e não somente da geopolítica das grandes potências europeias, tais como do Reino
Unido, a França e a Itália, as quais eram a cara da Liga das Nações.
• A Rússia, que no momento da formação da Liga das Nações estava passando pelo
processo de transformação socioeconômico da revolução bolchevique que levou
à formação da União Soviética, daí de sua ausência inicial da Liga das Nações.
Superpotência que oficialmente foi conhecida como a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS) e cuja maior república era a Rússia. A URSS aderiu à
Liga das Nações no ano de 1934, mas foi expulsa no ano de 1939.
• A Alemanha, por ter sido a principal nação derrotada da Primeira Guerra Mundial, ficou
fora da Liga das Nações, pelo menos no início. A Alemanha foi fortemente prejudicada
por parte das decisões do Tratado de Versalhes em relação às indemnizações a serem
pagas da Primeira Guerra Mundial. Logo depois em 1926, ela foi aderida à Liga das
Nações, inclusive como membro permanente.
Conforme dados da ONU Genebra (2021), ao início a Liga das Nações estava
conformada por quatro membros permanentes do conselho – Reino Unido, França, Itália
e Japão – e quatro membros não permanentes - Bélgica, Brasil, Grécia e Espanha. Em
1926 a Alemanha conseguiu entrar na Liga das Nações como membro permanente do
conselho, se convertendo no quinto membro permanente do conselho. Logo em 1934 a
União Soviética seria o sexto membro permanente.
112
O maior falho da Liga das Nações foi não ter conseguido frear as intenções da
Alemanha Nazista, conhecida como também como o Terceiro Reich. Na Alemanha a
convergência de sentimentos e um governo nazista levaram ao Europa para a Grande
Guerra em 1939 que logo se converteu na Segunda Guerra Mundial, conforme vamos
estudar no seguinte tópico. No contexto do Brasil, nosso país participou como membro
ativo – inclusive foi o único país da América Latina que participou como membro, não
permanente, do conselho – até o ano de 1926. Ano no qual deu aviso para se retirar da
Liga das Nações em função da negativa de não ser aceito como “membro permanente
do conselho”, conforme vamos ver a seguir.
O Brasil foi o único país da América Latina que foi membro, não permanente, do
conselho da Liga das Nações, conforme estudamos anteriormente. Um dos principais
motivos para isso é porque o Brasil foi o único país da região que entrou na Primeira
Guerra Mundial, o resto dos países da América Latina se declararam neutros perante o
conflito.
Esse espaço privilegiado dentro da gestão da Liga das Nações deixava ao Brasil
se sentir como parte das grandes nações. Nos primeiros anos da Liga somente 10
países faziam parte do conselho, 5 como membros permanentes (reservado as grandes
potências) e cinco como membros não permanentes (reservado para países com uma
relativa importância no cenário global). O Brasil fazia parte dos membros do conselho
não permanentes, mas desejava ser incluído como permanente.
Assim, ante esse desejo de ser parte do núcleo principal dos membros do
conselho, o Brasil no ano de 1926 solicitou ser parte dele. Mas foi negado, o argumento
foi se ele fosse aceito “outros países também reivindicassem a condição de membro
permanente, se o pleito do Brasil fosse aceito, eles, igualmente, teriam de ser atendidos,
o que era inviável.” Enquanto isso, nesse mesmo ano a Liga de Nações estava analisando
a entrada de Alemanha como país membro, inclusive como membro permanente do
conselho. E como era de esperar o Brasil iria votar a favor, mas como foi negada sua
petição de ser membro permanente do Conselho o país vetou a entrada da Alemanha,
como maneira de protesto.
113
Esse protesto feito pelo Brasil, vetando a entrada da Alemanha, isolou ainda mais
ao país do resto da América Latina, pois os representantes dos países vizinhos estavam
a favor da entrada da Alemanha. Conforme os autores Lessa e Altemani (2014, p.83): “Os
representantes dos países latino-americanos apelaram coletivamente para que o Brasil
suspendesse o veto e informaram ao Conselho que não apoiavam a posição brasileira,
desmentindo o argumento de que nosso país representava o continente americano.”
NOTA
Quer saber mais sobre essa devastadora guerra civil na Espanha? Acesse
ao artigo histórico: Guerra Civil Espanhola: https://bit.ly/3u5vdG8.
114
4 O FIM DA PRIMEIRA REPÚBLICA E A QUEDA DO PREÇO
INTERNACIONAL DO CAFÉ
ATENÇÃO
Sabia que a geração de divisas é fundamental para o comércio
internacional e bom funcionamento da economia de um país?
As divisas de um país são todas as moedas internacionais
fortes (US$, o Euro, a Libra Esterlina, e outas moedas), papeis
financeiros internacionais de fácil liquidação (tais como os
títulos do Tesouro Americano), reservas em ouro, entre outros
valores de liquidação imediata no mercado internacional. Todas
essas denominações de valor fazem parte da cesta de divisas
de um país, ou seja, a Reserva Internacional. Quer saber mais?
Acesse em: https://pt.mimi.hu/economia/divisas.html
115
Essa representação do 72,5% nas exportações fazia ao Brasil depender de
maneira excessiva da entrada de divisas vindas do café para sua economia. Essa
alta concentração das exportações em um só produtivo implicava um alto risco de
dependência, ainda mais se levarmos em consideração que o café é uma commodity.
Ou seja, a exportação do grão de café é uma matéria prima, sem maior geração de valor
agregado no seu processo de produção, o que implica que a formação de seu preço
depende 100% da oferta e demanda internacional.
• Quando o preço do café estava muito baixo, o Brasil poderia diminuir a sua oferta
do grão nos mercados internacionais, consequência? O preço tende a subir até se
estabilizar em um preço de equilíbrio adequado para a “burguesia do café”.
• Quando o preço do café estava muito alto, o Brasil poderia aumentar a sua oferta
relativa do grão nos mercados internacionais, consequência? O preço tende baixar
até se estabilizar em um preço de equilíbrio adequado para evitar a excessiva entrada
de concorrentes internacionais na produção.
116
• Com o objetivo de criar estoques de grão de café o Governo criou um fundo de capital,
financiado, em grande parte, por empréstimos externos, e assim conseguir manter a
política de preços ao longo do tempo. Ou seja, houve um custo financeiro para o
Estado e aumento de sua dívida externa.
• O setor produtor ao ter uma competividade relativa muito boa em relação a outros
países, e ao ter um preço atrativo estável, aumentou drasticamente a produção
ao longo dos anos. “Como os lucros se mantiveram elevados, o negócio do café
continuou atrativo e, consequentemente, os investimentos no setor prosseguiram,
tornando cada vez mais robusta a tendência à superprodução”. (ATLAS FGV, 2016).
NOTA
Quer sabes mais sobre o Convênio de Taubaté? Acesse aos detalhes deste
no Atlas da FGV: https://atlas.fgv.br/verbetes/convenio-de-taubate
117
Ou seja, com uma baixa significativa na demanda e a oferta continuando firme,
o preço internacional teve uma forte queda por um longo período. Essa situação de
mercado para a “burguesia do café” implicou a falência de muitos e descontentamento
geral perante a gestão do Governo. E do lado do Governo a dívida externa contraída, ao
longo dos anos, para sustentar o fundo estabilizador do café ficou insustentável, ainda
mais com o começo da Grande Depressão. Os resultados do excessivo endividamento
por parte do Estado Brasileiro, e da falência de muitos produtores e exportadores do café,
trouxeram desvalorização da moeda, inflação e uma crise econômica sem precedentes
prévios. Esse enorme prejuízo do setor produtor e exportador de café, significou o
começo do fim da forte influência da “burguesia do café” nas questões do Governo, e
que se juntar com a forte crise econômica, ajudou fortemente na queda da Primeira
República logo da Revolução de 1930, comandada por Getúlio Vargas.
Talvez a política de preços do café não tenha uma relação direta com a Política
Externa dessa época. Mas influenciou bastante nas decisões do Palácio de Itamaraty,
pois um dos eixos das relações internacionais de um país é a dinâmica de seu comércio
exterior. Neste caso é um elemento importante para entender que a exportação de café
era a principal fonte de divisas ao longo da Primeira República, fonte de divisas que
acabou abruptamente a partir da quebra da Bolsa de Valores de Nova York de 1929 e
seu tsunami de consequências que levaram ao mundo para a Grande de Depressão da
década de 1930. No seguinte tópico, o último desta unidade, vamos estudar como esses
fatores influenciaram o início da Era Vargas, ou Segunda República, dando começos
para um novo momento da Política Externa.
118
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O Brasil foi o único país da América Latina que entrou na Primeira Guerra Mundial, os
demais países da região mantiveram a neutralidade.
• A Primeira Guerra Mundial trouxe uma série de mudanças geopolíticas que mudaram
ao mundo e ao Brasil. Entre essas mudanças foi o surgimento de novas potenciais
mundiais que tiraram ao Império Britânico de sua hegemonia mundial.
• Que que após a Primeira Guerra Mundial no Tratado de Versalhes, foi feita a normativa
para a criação da “Liga das Nações”, organismo multilateral que procurou evitar
futuros possíveis conflitos.
• O Brasil foi o único país da América Latina que formou parte dos membros, não
permanentes, do conselho da Liga das Nações. Posição que o diferenciou do resto
de sua vizinhança.
• A partir de 1926 o Brasil abdicou a Liga das Nações, como protesto de sua rejeição
de formar parte do exclusivo grupo dos países mais poderosos que eram membros
permanentes.
• Com sua saída da Liga das Nações o Brasil se aderiu ao posicionamento de Isolamento
Continental dos EUA.
• A Política de preços do café e a quebra da Bolsa de Valores de Nova York tiveram uma
forte influência no fim da Primeira República e na Política Externa Brasileira.
119
AUTOATIVIDADE
1 Apesar que a Primeira Guerra Mundial começou em 1914, ela é considera o ponto de
partida do século XX, pois trouxe mudanças geopolíticas e tecnológicas que mudaram
o mundo dessa época. Entre essas mudanças temos:
a) ( ) V - F - F - V
b) ( ) V - V - F - F
c) ( ) F - V - F - V
d) ( ) F - V - V - V
I- O Brasil foi um dos cinco membros não permanentes do conselho da Liga das Nações
em função de sua posição de ser a maior nação da América Latina. Posição que
tinha disputado com a Argentina em função do grande nível de desenvolvimento
que tinha nosso país vizinho.
II- O Brasil foi um dos cinco membros não permanentes do conselho da Liga das
Nações em função de sua participação ativa, embora simbólica, na Primeira Guerra
Mundial. Pois foi o único país da América Latina de ter participado da Guerra.
III- Essa posição privilegiada dentro da Liga das Nações levou ao Brasil a se sentir
parte das grandes nações do mundo, situação que o distanciou do resto da
América Latina.
120
Dessas sentenças determinar a sequência correta:
3 Os países que faziam parte do Conselho da Liga das Nações estavam divididos em
dois grupos, os membros permanentes e os não permanentes. Ao primeiro grupo
pertenciam os países com grande peso na geopolítica mundial, no começo eram
quatro: Reino Unido, França, Itália e Japão. E ao segundo grupo pertenciam países
relativamente importantes no contexto regional e internacional, no começo eram
quatro: Bélgica, Brasil, Grécia e Espanha. Mas o Brasil pensava que deveria estar
entre os países que faziam parte do conselho permanente da Liga das Nações, nesse
sentido, ele fez uma solicitação formal para ser incluído nesse grupo. Diante o exposto
determine a sentença correta:
a) ( )F-V-F
b) ( )F-V-V
c) ( )V-V-F
d) ( )V-F-V
4 Os EUA fizeram parte ativa do Tratado de Versalhes e inclusive foi um dos países que
delinearam a normativa do organismo multilateral da Liga das Nações. Porém, os
Estados Unidos nunca fizeram parte da Liga, e partir daí esse país tomou uma posição
de Isolamento Continental. A seguir disserte quais foram os motivos pelos quais os
EUA nunca fizeram parte da Liga das Nações.
121
122
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
AS RELAÇÕES COM OS EUA E A
AMÉRICA DO SUL
1 INTRODUÇÃO
A partir daí, 1945, os EUA com seu novo papel de superpotência deixaram
para segundo plano os interesses comuns que poderia ter com o Brasil e o resto da
América Latina. Assim, aos poucos a partir da década de 1950, o Brasil começou a se
123
aproximar de sua vizinhança. Inclusive o Presidente Juscelino Kubitschek (JK) liderou a
iniciativa “Operação Pan-americana”, a qual embora não teve o almejo de unir a região
da América Latina em função de um grande plano de desenvolvimento, teve algumas
consequências positivas, conforme veremos neste tópico.
Essa visão pragmática aumentou o comércio exterior com esses dois países, os
Estados Unidos e a Alemanha, exportando maioritariamente café e algodão e importando
bens de capital e tecnológica para desenvolver a indústria nacional. Em termos de
desenvolvimento houve alguns projetos interessantes que tiveram a assistência técnica
dessas duas nações. Porém, conforme o dito pelos autores com o aumento das tensões
na Europa de 1938 e o advento da Guerra esse equilíbrio desapareceu, e o Brasil passou
de maneira natural a intensificar suas relações comerciais e indústrias com os EUA.
124
internos que possam representar uma ameaça socialista. Nesse contexto, no dia 10
de novembro de 1937 aconteceu um Golpe de Estado “articulado pela própria cúpula
governista, que se valeu de um suposto plano comunista de tomada do poder − o
Plano Cohen – para justificar a ruptura institucional.” (LESSA; ALTEMANI, 2014, p. 93).
Ao mesmo que foi articulado o Golpe de Estado foi elaborada uma nova constituição,
aliás, muito semelhante ao modelo semifascista polonês, daí seu apelido como a
“Constituição Polaca”.
O exposto pelos autores quer dizer que o Brasil se alineava com o posicionamento
de neutralidade das Américas, porém, caso houver uma agressão aos países das Américas
o Brasil entraria em defesa contra uma invasão ou agressão do “Eixo” (Alemanha, Itália
e Japão). Isso de fato veio a acontecer quando o Japão atacou Pearl Harbor nas ilhas
havaianas pertencentes aos EUA, no dia 7 de dezembro de 1941. A invasão a Pearl Harbor
fez aos Estados Unidos romper sua neutralidade e entrar na Segunda Guerra Mundial
em 1941. Isso colocou forte pressão ao posicionamento de neutralidade do Brasil, logo
depois disso em junho de 1942 o Brasil rompeu relações diplomáticas com o “Eixo”, e
no contexto de sua Política Externa Desenvolvimentista, finalizou também com sua
“Equidistância Pragmática”, entre EUA e Alemanha, que era uma ideia:
125
[...] de se manter fazendo um movimento pendular constante entre
as principais lideranças do sistema internacional, o que era uma
forma de justificar dois elementos do governo de Vargas: de um
lado, a tendência autoritária e, de outro, o projeto do American Way
of Life. Ele queria extrair dos dois países benefícios para o Brasil
(WORDPRESS, 2020, on-line).
Desde essa época até os dias de hoje a Usina Siderúrgica de Volta Redonda feita
com ajuda financeira e tecnológica dos EUA é a maior do Brasil e da América Latina. Além
da execução do projeto dessa usina com os EUA, a partir de 1942, foram assinados vários
acordos de cooperação no que tange a logística militar e desenvolvimento econômico.
“Tinha início uma nova fase nas relações Brasil-Estados Unidos, impulsionada pelo
fornecimento de armas e munições para o Brasil, pela oferta de investimentos e por
outras formas de cooperação, tendo como contrapartida a venda de material estratégico,
como borracha e minerais (LESSA; ALTEMANI, 2014, p. 98).
126
As consequências da participação bem-sucedida do Brasil fizeram que o país
possa participar na construção da nova ordem mundial da pós-guerra, constituída
pelo novo organismo multilateral a ONU que veio substituir à Liga das Nações, assim
como fez ao país ganhasse prestígio na América Latina. No contexto da atuação
externa, aí termina a Era Vargas, porém, além das implicações geopolíticas e da
aproximação aos EUA, a Era Vargas representa uma convergência econômica
e política entre os grandes setores econômicos do Brasil dessa época e dos dias
atuais, a setor agroexportador e o industrial.
Esse novo fator da economia brasileira, uma sociedade industrial com seu
processo de crescimento populacional urbano, levaram para o estabelecimento de
novas diretrizes no que tange às questões da Política Externa, interpretada como “a
passagem do paradigma primário exportador para o paradigma desenvolvimentista, não
deve, no entanto, ser considerada de maneira rígida. Lessa e Altemani (2014, p. 88).
Nesse sentido, o país começa um longo processo de convergência de seus agentes
econômicos entre o setor exportador de commodities e de produtos com geração valor
(industrializados), que, aliás, convivem até os dias atuais, porém, o que significa isso?
Significa que o Brasil desde essa época vem convivendo com os interesses
desses dois mundos, o setor exportador de commodities e o setor industrial. Esses
dois setores vêm influenciando a política e os interesses da política externa nacional.
Devermos que hoje, século XXI, o boom das commodities tem um peso de mais do
60% das exportações brasileiras, implicando maior dependência do país dos preços
internacionais e sujeito a maiores riscos quando houver uma queda forte no mercado
internacional, como já aconteceu com a queda do preço do café em 1929 e mais outras
de décadas mais recentes, conforme vamos estudar na Unidade 3.
127
3 AS RELAÇÕES COM AMÉRICA DO SUL E A GUERRA FRIA
Nesse contexto de Guerra Fria, por um lado, no ano de 1949 os EUA passaram
a liderar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aliança de cunho militar
que tinha como um de seus objetivos proteger a Europa Ocidental de qualquer possível
ataque dos países comunistas. Por outro lado, a URSS com o grupo de países do leste
europeu que passaram a conformar a “Cortina de Ferro”, cujo objetivo era de proteger
seus países de qualquer ataque dos países ocidentais.
128
IMAGEM 7 – A CORTINA DE FERRO, FRONTEIRA E SÍMBOLO DA GUERRA FRIA
Onde ficou mais evidente isso foi tanto em Chile como em Cuba. No Chile,
alguns anos depois do pós Guerra, houve um golpe de estado que derrubou ao governo
socialista de Allende, passando esse país a ser liderado pela ditadura de direita de
129
“Augusto Pinochet” (1973 – 1990) cujo objetivo principal era de liberar aos chilenos
do comunismo. Por outro lado, em Cuba, país onde os EUA tinham muitos interesses
econômicos e geopolíticos, encarou uma forte revolução de cunho socioeconômico que
levou a seu líder Fidel Castro a comandar o governo cubano sob a proteção da URSS e
sua geopolítica comunista, ou seja, Cuba passou a ser parte dos países da Cortina de
Ferro bem na frente da maior potência econômica do mundo, os EUA. O comando do
governo cubano por parte da revolução começou no ano 1959 sob a liderança de Fidel
Castro (hoje já falecido), mas seu governo continua até os dias de hoje.
Esse foi o cenário geopolítico que o Brasil teve que afrontar logo da Segunda
Guerra Mundial, uma forte polarização entre dois maneiras de enxergar a realidade
socioeconômica. No contexto nacional, depois dos grandes impactos que causou a
Segunda Guerra Mundial, os regimes ditatoriais não tinham mais cabida, assim, aqui no
Brasil houve também a necessidade de mudar para um regime que seja mais democrático.
Em 1946, com a posse do Presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) finalizou a Era
Vargas, tanto pelo fim de sua gestão como pela mudança para uma nova constituição
que transformaria a que foi implementada no ano de 1937, a conhecida “Constituição
Polaca”, pela sua similitude com a constituição semifascista desse país dos anos de 1930.
A constituição de 1946 foi promulgada em setembro desse ano, e é considerada como a
primeira experiência mais democrática no país, segundo a FGV CPDOC (2021, n.p.):
130
[...] semelhante ao de alinhamento incondicional, o alinhamento
sem recompensa tem a vantagem de enfatizar a dimensão do
consentimento com o qual o governo de Eurico Dutra (1946-1951)
brindou o governo norte-americano e seus interesses na América
Latina. O cálculo estratégico do governo brasileiro baseava-se
na convicção de que as relações especiais, desenvolvidas entre
o Rio de Janeiro e Washington durante a guerra, teriam validade
para as relações internacionais do pós-guerra. O apoio às políticas
norte-americanas foi concedido sem contrapartidas, ou seja, sem
recompensas (LESSA; ALTEMANI, 2014, p.116).
E no contexto comercial, nesse mesmo ano também foi criado o Acordo Geral
sobre Tarifas e Comércio (GATT) cujo objetivo era normatizar e regular o comércio
internacional, nesse acordo não estavam incluídos os países da Cortina de Ferro.
Devermos observar que em todos esses acordos multilaterais nos quais o Brasil
participou foi sob as diretrizes dos EUA, porém, em troca o país pouco tinha conseguido,
ou seja, estava em plena execução o “Alinhamento sem Recompensa”.
131
NOTA
Sabia que o GATT é o antecessor da OMC?
O GATT (General Agreement on Tarriffs and Trade), cujo significado em português seria
“Acordo Geral de Tarifas e Comércio”, representava uma série de acordos multilaterais entre
os países a nível mundial – que vinham acontecendo desde o ano de 1945 – com o objetivo
de reduzir as barreiras comerciais entre as nações, especialmente as tarifas de exportação.
Em janeiro de 1995, os acordos estabelecidos mediante o GATT foram incluídos na criação
em um organismo internacional específico para o comércio internacional,
a Organização Mundial de Comércio (OMC).
Assim aos poucos esse “Alinhamento sem Recompensa” vai cedendo para
mitigar essa hegemonia dos EUA por meio de acordos e aproximações com a América
Latina. Porém, ainda o Brasil estava longe de mitigar esse alinhamento com os EUA,
somente foi a partir do governo de JK em 1956 que o Brasil fiz uma estratégia efetiva
que aliviaria a hegemonia dos EUA na região Latino Americana, conforme veremos
mais adiante.
132
os começos da Segunda Guerra Mundial. E de repente após 1945 esse país teve que
atuar como superpotência, tendo que agir em várias frentes geopolíticas (na Europa,
na Ásia, na América Latina, no Meio Oriente e na África), colocando uma forte ênfase
no avanço das intenções de expansão da URSS. Mas será que os EUA tiveram sucesso
nisso ou será que o próprio percurso da história deu fim a hegemonia da URSS? Foram
as próprias forças da economia de planejamento centralizada dentro da URSS que
iniciaram o debacle dessa superpotência, e como resultado disso o colapso de seus
espaços geopolíticos estabelecidos, como a “Cortina de Ferro”.
133
contra a revolução comunista. Diante as ameaças de um conflito desse estilo na América
Latina, os países da região desejavam que os EUA fizessem um planejamento tanto de
defesa militar como de desenvolvimento econômico na região e assim mitigar possíveis
ameaças tanto na frente militar como na frente econômica.
Perante esse objetivo dos países da América Latina, os EUA focaram mais seu
interesse na defesa militar, deixando para segundo plano a questão do desenvolvimento
econômico, o qual desde o ponto de vista histórico provavelmente foi um erro. Uma
das melhores maneiras de mitigar tentativas de revoluções de extrema esquerda é
precisamente planejar o desenvolvimento econômico e assim melhorar as condições
de vida e oportunidades para os cidadãos de um país. Nessa linha de pensamento o
Presidente Vargas se manteve, mas sem resposta por parte dos EUA, pensando que
a instabilidade internacional de começos da Guerra Fria poderia ser um meio para
implementar sua bem-sucedida política externa pragmática dos anos de 1930, com
foco no desenvolvimento.
Ou seja, nos anos de 1950 ao igual que o resto da América Latina, o Brasil aos
poucos foi entendendo que as condições da nova geopolítica já não era as mesmas,
algumas nações da vizinhança entenderam e visualizaram isso antes outras depois. Mas
no Brasil, o Presidente Getúlio Vargas manteve sua política externa ainda pensando que
poderia negociar posições com os EUA que sejam beneficiosas para seu planejamento
de desenvolvimento. Embora não teve o sucesso almejado para isso na Política Externa,
no contexto nacional ele manteve seu planejamento, nesse sentido, houve uma série
de empreendimentos de grande escala que inclusive ainda hoje fazem parte relevante
da economia nacional, tanto no contexto industrial como no contexto de melhorar a
estrutura financeira do país.
134
Nacional do Carvão, a Superintendência do Plano de Valorização
Econômica da Amazônia, o Banco do Nordeste, que visavam o
mesmo objetivo de promover o desenvolvimento econômico a partir
do dirigismo estatal (FGV CPDOC, 2021, on-line).
Talvez se o Presidente Vargas tivesse conseguido um maior apoio dos EUA, seu
projeto nacional desenvolvimentista pudesse ter sido mais abrangente, logo, poderia ter
melhorado tanto a competitividade nacional e o bem-estar da população. Logo de seu
falecimento durante seu mandato, ano de 1954, seu vice-presidente, Café Filho, tomou
posse como presidente. No seu curto mandato de pouco mais de um ano ele continuo
com a Política Externa de Vargas, mas ele foi mais cauto ante os EUA e ficou mais atento
com as relações e interesses comuns com a vizinhança. Ao final de seu mandato essa
aproximação de interesses comuns com a vizinhança continental veio a se intensificar
com o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961), JK.
Como era de se esperar o OPA não foi do agrado dos EUA, pois tirava a sua
hegemonia da região, mas ajudou a criar uma integração natural com a vizinhança. E
no contexto da Guerra Fria ajudou ao Brasil a se posicionar numa posição mais neutra.
Mas antes de iniciar uma análise do OPA, vamos estudar sobre a primeira fase da Política
Externa de JK, a aproximação aos EUA e demais países desenvolvidos. Essa primeira
135
fase começou bem no começo de seu mandato, 1956, a qual se baseava na procura de
recursos financeiros cujo objetivo era financiar seu ambicioso plano de desenvolvimento
nacional, conhecido como o “Plano Metas”.
136
NOTA
Conheça como a Revolução Cubana foi de grande impacto durante a
Guerra Fria, e quais foram os fatores para que Cuba esteja numa “Eterna
Guerra Fria” no livro CUBA E A ETERNA GUERRA FRIA: Mudanças
Internas e Política Externa nos anos 90.
Fonte: https://bit.ly/3tyRTzH.
ATENÇÃO
Sabia que hoje o BID tem mais de 619 projetos na América Latina e
o Caribe?
137
Embora o grande projeto da OPA que o presidente JK quis executar na
América Latina não teve o sucesso almejado, mas teve sim grandes repercussões no
contexto que ajudou a criar instituições que ainda hoje estão aí para iniciar projetos
de desenvolvimento, o BID ainda hoje continua operando e ajudando ao longo da
América Latina. E no contexto da Política Externa brasileira, o OPA foi peça importante
no processo de aproximação do Brasil com sua vizinhança.
A OPA conseguiu que o Brasil se aproximasse de seus vizinhos e deu uma visão
mais ampla da capacidade de ação internacional do Brasil. Despois desse divisor de
águas, a OPA, o Brasil se afastou de uma posição quase sempre favorável aos interesses
internacionais dos EUA, e teria uma atuação mais neutra diante o aquecimento da
Guerra Fria que estava por vir durante as décadas de 1960 e 1970. Como resultado
o Brasil se abriu para uma posição mais fundamentada nas questões de geopolítica
das Américas e do resto do mundo, valorizando o entendimento entre países por meio
do multilateralismo como meio de ação para as diversas questões a serem resolvidas
da política internacional. Ao final do mandato de JK o Brasil passaria por um período
conturbado que finalizaria no período da ditadura militar (1964-1985), questões
interessantes que teriam repercussões na Política Externa, conforme vamos estudar ao
começo da Unidade 3.
138
LEITURA
COMPLEMENTAR
CRISE DOS MÍSSEIS: O ANO EM QUE A VENEZUELA MOBILIZOU DESTRÓIERES
CONTRA PAÍSES COMUNISTAS
Margarita Rodríguez
BBC News Mundo
11 março 2019
Naquela época, a Venezuela tinha clareza sobre o lado a que se aliaria. E, muito
especialmente, sobre quem enxergava como ameaça.
Era o ano de 1962, sob a Guerra Fria, e a Venezuela assumiu uma posição firme
na chamada Crise dos Mísseis - que, para muitos, esteve perto de desencadear uma
guerra nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética.
139
Análises posteriores dos serviços de inteligência confirmariam que os mísseis
poderiam estar operacionais em 18 horas.
Khrushchev disse que a atividade de seu país na ilha era de natureza defensiva
e questionou as bases americanas na Turquia e na Itália.
O Ocidente
140
Naquele dia, em uma mensagem televisionada, Kennedy anunciou sua estratégia
e emitiu um aviso:
"Ele disse que tinha avisado Khrushchev que, se um único míssil nuclear fosse
lançado a partir de Cuba para qualquer país no Hemisfério Ocidental, não apenas contra
os Estados Unidos, seu governo iria responder com força total contra a União Soviética",
disse à BBC James G. Hershberg, professor de História e Relações Internacionais na
George Washington University.
"Em meio a esta situação de bipolaridade tão extrema entre os Estados Unidos
e a União Soviética, um dos cálculos feitos foi que a Venezuela poderia ser vulnerável
por causa de sua posição estratégica como um país produtor de petróleo e, portanto, foi
extremamente importante para Washington que esta vulnerabilidade não fosse afetada
no caso de uma guerra", diz Mondolfi, autor de A Insurreição Procurada, Guerrilha e
Violência na Venezuela dos anos 1960.
O papel da OEA
141
Foi a partir dessa perspectiva que a Organização dos Estados Americanos (OEA)
desempenhou um papel de peso.
"A OEA foi muito importante na primeira fase da crise porque permitiu que os
Estados Unidos obtivessem a aprovação (necessária) para implementar o bloqueio
contra Cuba", afirmou Hershberg.
Por essa razão, em vez de usar o termo bloqueio, a Casa Branca preferiu propor
uma "quarentena marítima".
Foi assim que a OEA votou a favor da "quarentena" e países como Argentina e
Venezuela assumiram papéis ativos no envio de navios para cooperar com os Estados
Unidos no patrulhamento do Caribe.
Os destroieres venezuelanos
"A Venezuela foi crucial durante todo o confronto entre os EUA e Cuba porque
Fidel Castro e os soviéticos realmente queriam a derrubada do governo de Caracas
pelos comunistas, especialmente para obter acesso ao petróleo venezuelano."
142
"Uma das primeiras coisas que Castro fez após o triunfo da Revolução
Cubana foi visitar a Venezuela, porque pensava que Betancourt, que acabara de ser
eleito presidente, poderia lhe apoiar", afirmou à BBC Mundo a jornalista venezuelana
especializada em relações internacionais María Teresa Romero.
Mas Castro se deparou com um líder venezuelano que, ao longo dos anos,
tornou-se crítico do comunismo, um líder que já nos anos 1930 dissera que "não
concordava com a interferência da União Soviética em países europeus".
"Betancourt disse a ele de uma forma amigável que ele não poderia ajudá-lo,
mas Castro não queria entender isso", disse Romero.
Um conselho
"Nessa visita, Betancourt recomendou a Castro que não caísse nas mãos da
União Soviética e realizasse eleições abertas", diz a especialista.
Venezuela pró-EUA
Essa relação com a Casa Branca e sua forma de governar alimentavam críticos
de Betancourt dentro e fora do país: ele enfrentou levantes militares, tentativa de
assassinato e guerrilhas rural e urbana inspiradas na Revolução Cubana.
143
O líder da Casa Branca estava à procura de aliados na América Latina "para além
das ditaduras de direita", afirma Hershberg.
O fim da crise
A virada
Após o fim da Crise dos Mísseis, um capítulo ilustra a dramática virada da política
externa venezuelana. A relação entre Fidel Castro e Betancourt, considerado por muitos
um dos pais da democracia na Venezuela, não melhorou ao longo dos anos.
144
Em 2011, o líder cubano escreveu sobre a Venezuela:
O líder bolivariano inaugurou uma estreita amizade com Castro e uma aliança
com a Rússia, estratégia que foi mantida por seu sucessor Nicolás Maduro, hoje
presidente da Venezuela e adversário dos Estados Unidos.
Os aviões partiram alguns dias depois, mas as ligações entre os dois países
devem durar muito mais tempo.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47409922
145
146
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• No contexto da Segunda Guerra Mundial, o Brasil, ao igual que o resto das Américas,
manteve uma posição neutral ante a Segunda Guerra Mundial.
• Como apoio aos EUA o Brasil rompeu sua neutralidade ante a Segunda Guerra
Mundial, depois da invasão de Pearl Harbour nos EUA, em junho de 1942.
• A partir da Segunda Guerra Mundial tanto os EUA como a URSS passaram a ser
consideradas superpotências, os EUA sob a bandeira do capitalismo e a URSS sob a
bandeira do comunismo.
• O OPA não teve o grande sucesso esperado pelo Presidente JK, mas ajudou ao Brasil
para ter uma posição mais fundamentada nas questões de geopolítica das Américas
e do resto do mundo. Assim, como ajudou ao Brasil para se colocar em uma posição
mais neutra ante o aquecimento da Guerra Fria.
147
AUTOATIVIDADE
1 A revolução de 1930 é considerada como o fim da Primeira República e o começo
da Segunda, ou Era Vargas. Existem diversas diferenças entre essas duas primeiras
fases do Brasil Republicano, no que tange à Política Externa da Segunda República,
ela é caracterizada:
a) ( ) pelo enfoque de afirmar alianças que sejam beneficiosas aos interesses geopolíticos
do Brasil e da América do Sul.
b) ( ) pela liderança do Brasil nas questões geopolíticas e econômicas da América Latina.
c) ( ) pela orientação ao desenvolvimento industrial e incentivo ao comércio internacional.
d) ( ) pelo interesse de desenvolver tanto o Brasil como sua vizinhança, pois isso iria
garantir a hegemonia brasileira dentro da comunidade latino-americana.
148
3 Após a Segunda Guerra Mundial o cenário mundial tinha mudado drasticamente, o
Império Britânico parou de se considerar uma superpotência passando a pertencer
ao grupo de potências importantes, mas não mais com sua hegemonia mundial que
o manteve por vários séculos. Na nova estrutura mundial, a geopolítica tinha mudado
para a hegemonia de duas novas superpotências, os EUA e a URSS. Assim, esse fato
alterou os interesses regionais, dentro da América Latina, por parte dos EUA. Sobre
isso é correto afirmar que:
a) ( )F-V-F
b) ( )V-F-V
c) ( )V-V-F
d) ( )V-F-F
5 Logo de ter passado mais de uma década após da Segunda Guerra Mundial, o Brasil
estava mais ciente de que os interesses dos EUA na região da América Latina tinham
passado para segundo plano. Assim, durante o mandato do Presidente JK foi feita
uma estratégia para que o Brasil possa se aproximar do resto dos países Latino-
Americanos para criar um ambiente de integração da América Latina favorável ao
desenvolvimento da região, o que foi conhecido como a Operação Pan-Americana
(OPA) liderado pelo Brasil. Embora a operação OPA não tinha sido o sucesso esperado,
teve alguns determinantes no contexto da Política Externa do Brasil. A seguir explique
quais foram esses determinantes.
149
150
REFERÊNCIAS
ATLAS FGV. Convênio de Taubaté. 2016. Disponível em: https://bit.ly/3inSMVi. Acesso
em: 16 dez. 2021.
BANCO MUNDIAL. Datos de libre acceso del Banco Mundial. 2021. Disponível em:
https://datos.bancomundial.org/. Acesso em: 29 nov. 2021.
BBC NEWS. La historia de Eric Hobsbawm es la historia del siglo XX. 2012.
Disponível em: https://bbc.in/36er8az. Acesso em: 19 dez. 2021.
BORIS, F. História do Brasil. 12. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2006.
BORIS, F. História do Brasil. São Paulo: Editora de Universidade de São Paulo, 2013.
DW BRASIL. 1946: Fim da Liga das Nações. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3IpyJ3o.
Acesso em: 24 dez. 2021.
FGV CPDOC. Liga das Nações. Disponível em: https://bit.ly/3qmJ8q6. Acesso em: 23
dez. 2021.
FÓRUM FGV. Competitividade das nações: análise da métrica utilizada pelo World
Economic Forum. 2012. Disponível em: https://bit.ly/3NgNetY. Acesso em: 7 dez. 2021.
151
MENDONÇA, V. A experiência Estratégica Brasileira na Primeira Guerra Mundial,
1914-1918. 2008. Disponível em: https://bit.ly/36gZmdz. Acesso em: 21 dez. 2021.
VEJA. As armas que ceifaram uma geração na I Guerra Mundial. 2014. Disponível
em: https://bit.ly/3ioL9ho. Acesso em: 21 dez. 2021.
VEJA. As armas que ceifaram uma geração na I Guerra Mundial. 2014. Disponível
em: https://bit.ly/3ioL9ho. Acesso em: 21 dez. 2021.
152
UNIDADE 3 —
A POLÍTICA EXTERNA
BRASILEIRA: REGIME
MILITAR (1964-1985) E
ÉPOCA DEMOCRÁTICA
ATÉ OS DIAS ATUAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender como a crise da dívida dos anos 1980 impactou ao Brasil e como isso
influenciou na dinâmica de sua Política Externa.
• entender como o fim da hiperinflação e a execução do Plano Real fizeram com que o
Brasil apresentasse uma época de estabilidade econômica.
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
153
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
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154
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA
NO REGIME MILITAR
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, estamos iniciando a última unidade deste livro sobre a Política
Externa Brasileira. Neste primeiro tópico, abordaremos a política externa durante o
Regime Militar (1964-1985). No contexto das relações internacionais, a década de 1960
foi um pouco instável em função das fortes mudanças, tanto no contexto externo
quanto no nacional. A década será lembrada como uma política externa de autonomia
e o universalismo. Logo depois dos anos 60 veio o Regime Militar (1964-1985), que teve
uma gestão governamental civil-militar. Durante esse período, principalmente na década
de 1970, a Política Externa brasileira teve coma pauta o pragmatismo como elemento
das relações internacionais.
No meio dessa tensão entre o mundo de livre mercado liderado pelos EUA e
pelo mundo socialista liderado pela URSS aconteceu a Crise dos Misseis em Cuba no
ano de 1962, crise que é conhecida como o ponto mais crítico da Guerra Fria, tema
bem interessante da Guerra Fria da leitura complementar da unidade 2. O Brasil diante
desse cenário conturbado regional e global nos começos da década de 1960 continuou
com sua posição neutra perante a Guerra Fria adotada a partir do Presidente JK. Essa
posição neutra, além de outras questões de interesse para o Brasil, foi formalizada
por meio da Política Externa Independente (PEI), exposta nos primeiros anos de
1960, antes de começar o regime militar de 1964. Por meio da PEI, o Brasil buscava a
diversificação dos laços internacionais em função dos interesses nacionais brasileiros
sob uma perspectiva política de centro-esquerda moderada. Porém, essa maneira
155
de atuar no cenário internacional – e ante os riscos de uma possível escalada das
reivindicações dos movimentos comunistas dentro do território nacional – chamou
a atenção dos setores conservadores e militares da sociedade brasileira os quais
acabaram articulando o golpe militar de 1964.
Para começos de 1980 o Brasil, com uma dívida externa expressiva, ficou
vulnerável perante os riscos econômicos de uma instabilidade internacional, em função
de uma alta dependência do financiamento externo, de importações de insumos para
os processos de transformação de sua indústria protegida e exportações de produtos
com pouco valor agregado. Ou seja, em termos econômicos o Brasil de começos da
década de 1980 tinha uma altíssima dívida externa e vulnerabilidade às oscilações do
mercado internacional.
Conforme foi estudado na última unidade para finais da década de 1950 muitos
acontecimentos no cenário externo vinham ocorrendo. No cenário regional das Américas,
a revolução cubana acabou com a ditadura de Fulgencio Batista e a partir de 1959 até
os dias atuais é o partido comunista quem governa o país insular. No cenário global,
a Guerra Fria estava se intensificando com uma competição geopolítica e ideológica
constante entre o bloco dos países da OTAN (Ocidente) contra os países da Cortina
156
de Ferro (Leste Europeu). Entretanto, na conferência de Bandung (Indonésia) nasce o
movimento de países “não-alinhados”, cujo objetivo principal foi manter a neutralidade
perante a Guerra Fria entre os dois grandes blocos de países liderados pelas duas
superpotências da época, os EUA e a URSS.
157
ATENÇÃO
Sabe qual o objetivo do “Modelo de Desenvolvimento de Industrialização por
Substituição de Importações?
158
9. Estabelecimento e estreitamento de relações com os Estados africanos.
10. Fidelidade ao sistema interamericano.
11. Continuidade e intensificação da Operação Pan-Americana.
12. Apoio constante ao programa da Associação de Livre Comércio Latino-Americana.
13. A mais íntima e completa cooperação com as repúblicas irmãs da América Latina,
em todos os planos.
14. Relações de sincera colaboração com os Estados Unidos, em defesa do progresso
democrático e social das Américas.
15. Apoio decidido e ativo à Organização das Nações Unidas […].
159
9. Estabelecimento e estreitamento de relações com os Estados africanos. Depois de
Segunda Guerra Mundial muitos países da África se tornaram independentes, logo,
o Brasil deseja estabelecer e estreitar as relações com esses países.
10. Fidelidade ao sistema interamericano. Esse princípio faz referência à fidelidade ao
Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
11. Continuidade e intensificação da Operação Pan-Americana. Isso implica que o
Brasil mantém ativamente a intensificação da integração regional tanto no contexto
político como econômico.
12. Apoio constante ao programa da Associação de Livre Comércio Latino-Americana.
Isso implica ampliar o comércio inter-regional até iniciar acordos multilaterais de
livre comércio.
13. A mais íntima e completa cooperação com as repúblicas irmãs da América Latina,
em todos os planos. Isso implica uma maior cooperação socioeconômica com a
vizinhança.
14. Relações de sincera colaboração com os Estados Unidos, em defesa do progresso
democrático e social das Américas. Isso implica manter e melhorar a tradicional
colaboração existente com os EUA desde a época do Barão de Rio Branco.
15. Apoio decidido e ativo à Organização das Nações Unidas [...] isso implica que Brasil
está disposto a apoiar e participar de maneira proativa na gestão da ONU.
Os 15 princípios da PEI representaram na realidade as diretrizes para dar
continuidade à Política Exterior brasileira ao longo do tempo, nesse sentido eles são
um marco referencial para essa época até os dias de hoje. Inclusive o princípio nº 14,
(“Relações de sincera colaboração com os Estados Unidos, em defesa do progresso
democrático e social das Américas”) é uma aproximação bilateral estratégica que se
vinha tomando desde a gestão de Barão do Rio Branco de começos de século.
160
Em relação ao diálogo bilateral com os Estados Unidos, na crise
dos mísseis o Brasil já assumira o papel que dele se esperava em
Washington e que era condizente com o perfil pacifista da sociedade
brasileira. A crise atingira dimensões suficientemente graves para
que o Rio de Janeiro deixasse claro o posicionamento contrário à
ingerência extracontinental (soviética) nos assuntos americanos. Tal
comportamento honrava os acordos interamericanos das décadas
anteriores e era convergente com os interesses de Washington
(LESSA; ALTEMANI, 2014, p. 125).
Assim, ante as mudanças drásticas que teve que passar Cuba no seu próprio
processo de transformação socioeconômico para uma sociedade comunista, o Brasil
se mostrou respeitoso, aplicando o princípio desde a época de Barão do Rio Branco da
“não-intervenção e da autodeterminação dos povos”. Contudo, quando essa posição
de alinhamento com a URSS por parte de Cuba ameaçou, por meio da Crise dos Mísseis
ao território dos EUA, o Brasil os se posicionou em favor aos norte-americanos, devido
seu território estar sendo ameaçado pelos mísseis soviéticos. Ambas as situações
mostraram na prática a posição de neutralidade e independência da Política Externa
Brasileira. Porém, esse mesmo posicionamento de independência e defensora da
“não-intervenção e da autodeterminação dos povos” deixou ao Brasil do Governo de
Goulart em uma atitude conflitiva ante as pressões e estratégias que tinha os EUA
perante a Guerra Fria.
161
reflexo da própria dinâmica que estava tomando conta de um cenário internacional
polarizado ante uma Guerra Fria, e que ia se tornando mais intensa tanto do lado dos
EUA como da URSS. No contexto nacional, os movimentos conservadores - com um
posicionamento mais a favor dos EUA perante o conflito da Guerra Fria - começavam
a ficar cada dia mais apreensivos perante as ações de ativismo social e perspectivas
econômicas e políticas do governo de João Goulart (1961-1964).
O Governo de Goulart tinha uma visão mais centrista e aberta ao diálogo com
diversos movimentos do espetro político, tanto de direita, liberais como de esquerda,
escutando e dialogando com especial ênfases sobre algumas das reivindicações dos
movimentos sociais, coisa que não era do agrado dos movimentos conservadores.
Inclusive um dos fatores que incentivaram ao Golpe de Estado foram as Reformas de
Base que iam se articulando mesmo desde o governo do Presidente JK.
NOTA
Deseja saber mais sobre as Reformas de Base que colaboram para uma
sociedade brasileira polarizada prévia ao Golpe de Estado de 1964?
Acesse ao artigo histórico da FVG CPDOC: As reformas de base.
<https://bit.ly/3qkpQ4U>
162
no que tange as reformas agrárias discutidas no projeto das “Reformas de Base”,
polarizando ainda mais as posições das lideranças políticas dos setores conservadores
e os setores de esquerda. Como resultado histórico, no ano de 1964, ante a crise e
perspectivas econômicas pouco otimistas, e um espetro político conturbado, os
movimentos conservadores junto com a liderança militar articularam o golpe de estado.
O Regime Militar veio para ficar por pouco mais de duas décadas (1964-1985).
Sobre esse período da história política do Brasil, existem diversos argumentos positivos
e outros nem tanto. Assim como existem severas críticas sobre a forte repressão social
que aconteceu durante essa época, questão característica de governos militares,
sejam esses de viés ideológico de extrema esquerda ou de direita. Neste livro didático,
independentemente das críticas ou elogios dessa época, vamos nos focar sempre
sob a ótica da Política Exterior. Assim, nas próximas páginas nosso objetivo será uma
análise objetiva e imparcial da política externa dessa fase da história recente do país.
Vamos começar nossos estudos dessa época a partir do primeiro governo civil-militar
do Presidente Castelo Branco (1964-1967).
163
Na Figura 1, mostra-se a atuação dos limitares durante o Golpe Militar de
1964. Logo depois disso começou a governar o Presidente Castelo Branco, quem deu
a prioridade de mitigar o processo inflacionário que estava começando ficar fora de
controle. Além de melhorar as perspectivas dos agentes econômicos, equilibrar o
Balanço de Pagamentos (contas externas) e mais outros fatores de cunho econômico
que vinham causando uma crise socioeconômica severa no país. E no contexto das
relações internacionais, logo no início do Governo do Presidente Castelo Branco,
houve, como era de se esperar, uma aproximação natural aos EUA e a seu combate (a
Guerra Fria), visando mitigar a hegemonia da URSS e seus desejos de expansão, tanto
ideológica, quanto geopolítica na América Latina.
Contudo, o Brasil vinculou esse apoio aos EUA exigindo em troca ajuda para o
projeto desenvolvimentista no país, criando um laço de interesses de “interdependência”
entras ambas as nações. Assim, essa aliança com os EUA mostrou uma estratégica de
vincular os interesses liberais e de uma economia capitalista de mercado de ambas
as nações, para que o Brasil pudesse continuar sua política desenvolvimentista. Essa
interpendência, como pauta importante das relações do Brasil com os EUA, marcou
uma diferenciação com a Política Externa Independente (PEI) estabelecida poucos anos
antes do Regime Militar.
Neste contexto, vamos ver algum desses princípios da PEI que continuaram
durante os primeiros anos do Regime Militar durante a década de 1960 até o retorno ao
regime democrático a partir de 1985.
164
• Projeto desenvolvimentista para o Brasil, e para uma integração inter-regional de
cunho desenvolvimentista entre países da América Latina, ambas ações expostas
nos princípios da PEI: nº6, Luta contra o subdesenvolvimento econômico; e nº 11,
Continuidade e intensificação da Operação Pan-Americana.
• Incremento do comércio e da cooperação com os países da América do Sul em
função de dois eixos geográficos, a Bacia da Prata (Argentina, Brasil, Bolívia,
Paraguai e Uruguai) e a Bacia Amazónica (Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia,
Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa). Estratégias de comércio inter-
regional e de cooperação que teriam vínculo com os princípios da PEI: nº 12, apoio
constante ao programa da Associação de Livre Comércio Latino-Americana; e nº 13,
a mais íntima e completa cooperação com as repúblicas irmãs da América Latina,
em todos os planos.
165
Assim, embora houvesse uma mudança drástica na gestão do Estado Brasileiro,
de um regime democrático para um regime civil-militar, as relações internacionais
marcaram um perfil de uma relativa continuidade, mas com algumas diferenças de
imagem que mostravam uma aproximação natural aos EUA, especialmente no que
tange na luta contra movimentos sociais de cunho socialista. Uma diferenciação clara
foi que enquanto o Regime Militar chamava para uma atuação de “interdependência”
nas relações internacionais brasileiras a PEI colocava uma imagem de “independência”.
Nessa diferenciação foi que o Presidente Castelo Branco iniciava uma Política
Exterior Brasileira de interdependência entre diversos blocos regionais (EUA, Europa
Ocidental, entre outros) com uma visão de criar uma posição de cunho nacionalista, de livre
mercado e desenvolvimentista, visando assim superar o gap econômico e tecnológico
entre o hemisfério norte (independentemente que seja dos países desenvolvidos ou
dos países socialistas da “Cortina de Ferro”) e o Brasil em conjunto com resto dos países
do Hemisfério Sul. Essa visão de atuação conforme a uma interdependência na Política
Externa deu início a uma gestão pragmática em função aos interesses nacionais.
O começo da década de 1970 foi marcado tanto pelo pragmatismo nas relações
diplomáticas brasileiras como pelo milagre econômico. Para finais de 1970 o pragmatismo
e universalismo da Política Exterior continuou sua própria dinâmica, mostrando um Brasil
mais próximo de sua vizinhança e mais aberto para manter seu comércio exterior para
países em desenvolvimento do resto da América Latina, da África e do Oriente Médio.
166
3.1 O MILAGRE ECONÔMICO (1967-1973) E O ENDIVIDAMENTO
EXTERNO AGRESSIVO
NOTA
Deseja ter maior conhecimento sobre a PAEG?
167
Os maiores exportadores de petróleo dessa época e membros da Organização
dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tiveram que reduzir drasticamente
a oferta de petróleo. Como resultado “os preços quase quadruplicarem em curto
período de tempo (o barril subiu de US$ 3,00 dólares para US$ 11,60).” (EL PAIS,
2017). Isso teve consequências imediatas tanto nos países desenvolvidos como nos
em desenvolvimento. Em países como os EUA e Europa Ocidental, dependentes das
importações de petróleo o impacto foi uma queda drástica da demanda interna,
disparando logo uma crise que se espalhou aos mercados financeiros. Nesse
sentido, o Brasil país dependente tanto das importações de petróleo como de fontes
de financiamento por meio de dívida externa teve uma forte queda na sua demanda
interna, dando início ao final de uma época com altíssimas taxas de crescimento e
de disponibilidade de crédito barato no mercado internacional.
168
O segundo choque do petróleo afetou negativamente os
países importadores, entre os quais os Estados Unidos, que,
em 1981, para enfrentar a inflação doméstica e a concorrência
de produtos importados no mercado interno, elevaram os
juros do país, sendo essa medida a principal razão para que o
valor da dívida externa de diversos países, particularmente os
latino-americanos, dobrasse ou triplicasse em pouquíssimo
tempo (LESSA; ALTEMANI, 2014, p. 146).
Para o Brasil não foi diferente, inclusive foram um dos fatores importantes para
o fim do regime militar em 1985. Devemos nos lembrar que na década de 1970, o regime
militar tomou a decisão de manter taxas de crescimento elevadas e dar conta do Plano
Nacional de Desenvolvimento (IIPND) de 1974, embora isso significaria aumentar a dívida
externa além de um risco aceitável. Nesse contexto, para começos da década 1980 o
Brasil tinha um alto risco de uma crise de dívida externa e pressão inflacionária, o que de
fato veio acontecer com o segundo choque do petróleo. Quando o Regime Militar deixou
o poder em 1985:
169
GRÁFICO 1 – CRESCIMENTO DO PIB REAL E PER CAPITA 1960-1990
170
3.2 POLÍTICA EXTERNA PRAGMÁTICA E UNIVERSALISMO
Durante a década de 1970 até finais do regime militar em 1985, a Política Externa
foi uma continuidade do que se vinha fazendo durante os primeiros governos do regime
militar. Ela estava baseada no desenvolvimento industrial, agroindustrial, energético
do Brasil e aumento da demanda interna. Nesse sentido, o crescimento econômico
foi sustentado pela política desenvolvimentista e pelo forte financiamento externo por
meio de dívida externa e parcerias de investimento direto. O resultado disso foi um
forte crescimento, conforme foi visto nas páginas anteriores, que teve repercussões
importantes tanto no âmbito nacional como internacional.
Embora o Brasil seja uma nação de dimensões continentais e com vastos recursos
naturais com o potencial de pertencer ao grupo das grandes potências mundiais, ainda
falta um longe caminho para atingir esse patamar. O Regime Militar estava ciente disso,
por isso de maneira pragmática foi feito uma estratégia para consolidar a condição
do Brasil como uma potência regional com capacidade de estreitar laços entre países
desenvolvidos do Hemisfério Norte e os do Sul.
172
No contexto da América do Sul, o Brasil dessa época fez diversos tratados com
a vizinhança, entre eles: o Tratado da Bacia do Prata que deu apoio para a criação do
“Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (FONPLATA); e o Acordo
Tripartite Argentina-Brasil-Paraguai em 1979, que viabilizou a finalização da Usina
Hidrelétrica de Itaipu. O Acordo Tripartite Argentina-Brasil-Paraguai abriu caminho para
uma maior integração regional, especialmente energética, por meio da viabilização para
finalizar a maior usina hidrelétrica do mundo dessa época, Itaipu, um grande projeto
binacional entre o Brasil e o Paraguai que está operando desde 1982.
NOTA
Deseja saber mais sobre o Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da
Bacia do Prata?
173
O pragmatismo e universalismo marcaram uma pauta positiva da Política Exterior
do Regime Militar da década de 1970 até os finais dele no ano de 1985. Essa pauta ajudou
a diversificar mercados internacionais, manter as boas relações estratégicas tanto com
os EUA como com a Europa Ocidental, fomentar o processo de integração regional sul-
americana, e ajudar no desenvolvimento econômico brasileiro em diversas áreas. Os
começos do retorno ao Regime Democrático em 1985 no que tange à Política Externa
marcou uma nova época de continuísmo do que se tinha já feito no Regime Militar, mas
com uma intensificação no processo de integração regional, conforme vamos abordar
no próximo tópico.
174
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Um dos fatores que incentivou ao Golpe de Estado de 1964 foi as “Reformas de Base”,
especialmente no que tange as reformas agrárias que vinham se discutindo no
projeto dessas reformas.
• Um dos focos importantes da Política Exterior do Regime Militar foi marcado por uma
agenda de relações internacionais de “interdependência”.
175
AUTOATIVIDADE
1 Nos primeiros anos da década de 1990 foi promulgada a Política Externa Independente
(PEI), que marcou os princípios norteadores da Política Exterior para as próximas
décadas, embora da negação da PEI por parte da gestão governamental civil-militar
do Regime Militar. A seguir defina quais sentenças são verdadeiras, com relação aos
princípios da PEI.
a) ( )F-V-V-F
b) ( )V-F-F-V
c) ( )V-F-V-F
d) ( )F-F-V-V
2 A partir da era do Regime Militar, isto é, 1964, começa um novo momento da Política
Exterior Brasileira sob a gestão governamental civil-militar, com uma clara alienação
aos EUA e combate ao avanço do comunismo. Nesse contexto, determine quais das
seguintes sentenças está correta. Durante o período do Regime Militar:
176
3 Visando se diferenciar da PEI, os Governos do Regime Militar procuraram intensificar
uma Política Exterior marcada por uma agenda de relações internacionais de
“interdependência”. Diante disso, analise as seguintes sentenças:
4 Entre finais da década de 1960 e primeiros anos da década de 1970 o Brasil apresentou
os anos de maior crescimento econômico do século XX, época conhecida como o
milagre econômico. Porém, a partir de 1973 houve mudanças drásticas no cenário
internacional que terminaram com o milagre econômico, principalmente houve o
primeiro choque dos preços do petróleo. A seguir exponha como os governos do
Presidente Médici (1969-1974) e Figueredo (1974-1979) conseguiram manter altas
taxas de crescimento econômico e qual foi o custo disso para o Brasil.
5 Uma das características na Política Exterior dos governos do Regime Militar foi o
Pragmatismo e Universalismo. Embora isso tivesse sido conceptualizada sob um
contexto diferente da PEI, mantinha traços de semelhanças com alguns de seus
princípios. Sobre esses traços de semelhança explique quais foram.
177
178
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
RETORNO À DEMOCRACIA E A CRISE DA
DÍVIDA EXTERNA
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste Tópico 2 da última unidade abordaremos a Política Exterior
dos primeiros anos após ter finalizado o último governo civil-militar do Regime Militar do
Presidente João Figueiredo. O repasse da presidência foi marcado pelo adoecimento
muito grave do Presidente eleito Tancredo Neves um dia antes da posse do dia 15 de
março de 1985. Em função disso o vice-presidente eleito José Sarney tomou posse
nesse dia como “Presidente Interino”. Logo após algumas semanas, no dia 21 de abril
de 1985, Tancredo Neves veio a falecer, logo, em termos práticos o período presidencial
do Presidente José Sarney foi desde o dia 15 de março 1985 até 15 de março de 1990.
179
Guiana Francesa. E além dos países fundadores/membros - Argentina, Brasil, Paraguai
e Uruguai, e a Venezuela que pelo momento está suspensa -, toda o resto da América do
Sul estão no MERCOSUL como países “associados”, exceto a Guiana Francesa.
2 SUL-AMERICANIZAÇÃO
Durante os anos de 1980 uma grande parte dos países da região viu suas dívidas
externas se duplicarem, inclusive triplicarem, em função do drástico aumento das taxas de
juros internacionais como desdobramento da crise econômica de 1980 nos EUA e do resto
do mundo. Os países da América Latina além de terem suas dívidas externas aumentarem
drasticamente também tiveram que suportar a queda dos preços de suas exportações, aliás,
maioritariamente commodities. Esses dois fatores, maior peso das obrigações financeiras
externas e queda nas exportações, implicou um aumento na saída de divas, para cumprir as
obrigações externas, e uma queda na entrada líquida do comércio exterior, menos entrada
de divisas das exportações. O resultado disso foi uma crise já crônica da dívida externa e
uma queda drástica no Balanço de Pagamentos ao longo dos países da região.
ATENÇÃO
Sabe qual a importância do Balanço de Pagamentos para a estabilidade do mercado de
câmbio de um país? O Balanço de Pagamentos é o saldo líquido da entrada e saída de
divisas, isto é, o saldo líquido da Balança Comercial (Exportações -
Importações) + Rendas (entrada de receitas do exterior – pagamento
de juros da dívida externa e lucros gerados por filiais de empresas
externas estabelecida no país) + Conta de Capital (entrada de capitais
financeiros e de investimento direto - saída de capitais) + Capitais
Compensatórios. Nesse sentido, se houver uma redução do Balanço de
Pagamentos (ou uma perspectiva disso), geralmente contabilizado em
US$, irá impactar na taxa de câmbio, acontecendo uma desvalorização
da moeda nacional.
180
até a Argentina. Muitos dos países da região acabaram com processos inflacionários
sistêmicos que terminaram em hiperinflações, conforme a BBC BRASIL (2018): a
Argentina, 197% ao mês em 1989; o Peru, 397% ao mês em 1990; a Nicarágua, 261% ao
mês em 1986; a Bolívia, 183% ao mês em 1985; entre mais outros países. No Brasil não
foi muito diferente, segundo a G1 ECONOMIA (2021) no país o processo hiperinflacionário
atingiu seu ápice no ano de 1990 com taxas acima de 80% ao mês!
O resto dos países, não mencionados acima, embora não terem atingido o
patamar de uma “hiperinflação” tiveram inflações médias de dois dígitos durante essa
época e constantes desvalorizações de suas moedas. O resultado foi a conhecida década
perdida de 1980, época na qual os países tiveram taxas de crescimento medíocres,
empobrecimento da renda média, perda de competitividade, crises fiscais constantes,
falta de investimento etc.
181
das dificuldades, a década de 1980 foi marcada por acontecimentos
relevantes no que diz respeito à aproximação dos governos latino-
americanos (IPEA, 2012, on-line).
No contexto do eixo dos países que fazem parte da Bacia da Prata, o Presidente
Sarney estava ciente de que primeiro dever-se-ia afirmar ainda mais as boas relações entre
a Argentina e o Brasil, que, aliás, vinham melhorando desde o apoio do Brasil à Argentina na
Guerra das Malvinas em 1982. Essa necessidade de afirmar mais ainda as relações com a
Argentina veio acontecer com a declaração de Iguaçu de novembro de 1985.
182
QUADRO 2 – ART. Nº 4 DA CONSTITUIÇÃO FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios:
I. independência nacional;
II. prevalência dos direitos humanos;
III. autodeterminação dos povos;
IV. não-intervenção;
V. igualdade entre os Estados;
VI. defesa da paz;
VII. solução pacífica dos conflitos;
VIII. repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX. cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X. concessão de asilo político.
183
Interesses semelhantes brotavam no resto dos países Latino-americanos. Nesse
sentido, a forte crise da dívida externa fez com que os países da região apresentassem
uma posição de interesses similares ante os EUA e o resto dos países desenvolvidos.
Daí mais um motivo para o Brasil se aproximar a vizinhança. Essa aproximação que
fez o Brasil com o resto da América Latina foi feita desde uma posição de liderança,
dado o fato de se identificar no cenário internacional como uma nação de proporções
continentais e de potência regional. Nesse sentido, o Brasil tinha bastantes interesses
comuns com seus vizinhos, tais como a exportações de commodities para os países
desenvolvidos e importação de tecnologia de ponta, mas tinha interesses próprios de
sua condição de ser um país que também tinha um setor industrial relativamente forte
com processos de transformação industrial com maior capacidade de geração valor.
Para finais da década de 1980 o Brasil, como uma potência regional, era um país
que teve que se adaptar as novas condições da geopolítica mundial onde a URSS estava
começando a colapsar. Devermos nos lembrar que durante esses 30 longos anos após
a Segunda Guerra Mundial os países desenvolvidos (EUA, Europa Ocidental e Japão)
tinham crescido muito tanto em termos econômicos como na capacidade de gerar
inovações e novas tecnologias.
Porém, esse sutil e perigoso equilíbrio mundial entre os EUA e a URSS estava
chegando ao final, e de fato para finais da década de 1980 essa constante ameaça
do comunismo estava diminuindo. Como desdobramento isso no contexto regional
das Américas, também estava finalizando a parceria estratégica que o Brasil e mais
184
outros países vinham mantendo com os EUA. Isto é, diante a diminuição de ameaças
do comunismo os EUA começaram diminuir também seu interesse de apoiar ditaduras
de direita na região, mudando sua visão para apoiar mais aos regimes com processos
democráticos e que tenham uma visão de economia aberta.
Nesse novo cenário, o Brasil de finais de 1980 teve que se adaptar e começou
ter parcerias estratégicas com diversos países da nova dinâmica internacional mais
globalizada e menos polarizada entre os EUA e a URSS, nesse sentido seria uma
Política Exterior mais de continuidade do “Universalismo” praticada durante o último
governo do Regime Militar do Presidente João Batista Figueiredo. Isso também
levou ao Brasil e demais países da região para consolidar a “Sul-americanização”
e assim fazer frente a nova ordem mundial, isto é, encarar a globalização como um
“bloco regional”, o MERCOSUL e demais blocos econômicos da região, tal como a
Comunidade Andina (CAN).
185
Nesse contexto, o processo de globalização mundial que já se vinha intensificando
na década de 1980 veio para ficar. Nesse contexto, o Brasil do Presidente Collor (1990-
1992) começa seu governo perante a necessidade de iniciar uma abertura econômica
de um Brasil que em términos econômicos era bastante fechado e que estava em um
processo de hiperinflação praticamente já sistémico. É assim que começa a se estruturar
a Política Exterior da última década do século XX, década de abertura econômica e
de fortalecimento de blocos econômicos regionais para fazer frente à dinâmica dos
mercados internacionais, nesse contexto temos o fortalecimento da União Europeia
(EU), o nascimento do MERCOSUL, do North American Free Trade Agreement (NAFTA),
e mais outros blocos.
O Brasil de começos de 1990 traz quase 60 anos de continuar com uma política
de desenvolvimento e protecionista da indústria nacional, desde a era Vargas (cujo
objetivo era desenvolver a indústria nacional), tinha produzido um forte setor industrial,
porém, era também uma indústria fechada e protegida diante a concorrência externa.
A dinâmica de protecionismo da indústria nacional estava em função da constante
desvalorização da moeda e da política de substituição de importações. O efeito de
ambos os fatores fazia que os produtos importados sejam extremadamente caros
diante as alternativas de produção nacional. Resultado? Produção industrial nacional
ineficiente que produzia mercadoria de qualidade inferior e mais “barata” ao se comparar
aos produtos importados bem mais caros e de melhor qualidade, que aliás existiam no
mercado nacional, mas que eram destinados ao mercado de alto poder de aquisitivo, ou
seja, a classe econômica “A”.
186
Porém, isso implicaria o fechamento de muitas empresas industriais e aumento
drástico do desemprego, o que de fato veio acontecer. E se somar a isso o Plano Collor
para combater a hiperinflação por meio do bloqueio da poupança e demissões em massa
dos servidores públicos, e mais outras medidas para reduzir a circulação da moeda, as
consequências foram catastróficas. Aliás, foram as bases para a perda de apoio político
que levou junto a escândalos de corrupção ao impeachment de Collor de 1992.
ATENÇÃO
Veja na reportagem: Planejado contra hiperinflação, plano Collor
deu início à abertura comercial como a abertura comercial estava
vinculado ao combate da hiperinflação de começos da década de 1990
Fonte: http://glo.bo/37EPwT7
187
Na América Latina, o primeiro país em aplicar as teorias neoliberais foi o
Chile na década de 1980. Nessa época o ditador Pinochet – quem tinha uma equipe
de economistas de visão neoliberal, os “Chicago Boys” e quem estava alineado às
políticas neoliberais do Presidente Reagan (1981-1989) dos EUA e da Primeira-Ministra
Margaret H. Thatcher (1979-1990) do Reino Unido – aplicou um plano econômico de
cunho neoliberal que marcou o começo de uma onda de políticas neoliberais que seriam
aplicadas em vários países da América Latina no percurso da década de 1990.
1. Disciplina fiscal;
2. Reordenamento nas prioridades dos gastos públicos;
3. Reforma tributária;
4. Liberalização do setor financeiro;
5. Manutenção de taxas de câmbio competitivas;
6. Liberalização comercial;
7. Atração de investimentos diretos estrangeiros;
8. Privatização de empresas estatais;
9. Desregulamentação da economia;
10. Proteção a direitos autorais.
188
desenvolvido (EUA, Europa Ocidental e Japão), e como segundo eixo foi continuar com
o processo de integração regional da América do Sul. Sobre as parceiras tradicionais
com o mundo desenvolvido, o governo do Presidente Collor procurou investimentos,
visando melhorar a competividade da indústria nacional, assim como tentou atingir
novos mercados para os produtos tradicionais brasileiros. E no contexto da integração
da América do Sul conseguiu a concretização do livre mercado do MERCOSUL.
Mas todos esses países membros deveriam aplicar tarifas de importação comuns
extrarregional, ou seja, qualquer mercadoria vinda fora do MERCOSUL deveria ter uma
tarifa de importação semelhante para todos os membros do bloco. Para termos uma
perspectiva do impacto disso, desde que foi implementado a dinâmica de livre mercado
entre os países do MERCOSUL o comércio intrabloco entre os países membros teve em
apenas 6 anos um “crescimento de cerca de 300%.” (LESSA; ALTEMANI, 2014, p.166).
189
Logo da criação do livre mercado entre os países membros do MERCOSUL os
EUA queriam atuar a favor da iniciativa negociando um acordo a favor da integração
comercial. Nesse sentido, os 4 membros fundadores do MERCOSUL firmaram o Acordo
“Jardim de Rosas” no dia 19 de junho de 1991 com o Presidente George W. Bush dos EUA,
acordo que visava aumentar o comércio e os investimentos entre as duas partes. Isto é,
acordo entre o MERCOSUL e os EUA, daí que venho seu nome histórico de “Acordo 4+1
do Jardim de Rosas”.
O Acordo 4+1 poderia ser analisado como uma dinâmica de negociação positiva
sobre como os países da região poderiam negociar melhor “em bloque” ante as maiores
economias do mundo, neste caso os EUA. Isso é particularmente beneficioso para es
economias menores, no caso particular do MERCOSUL, para o Paraguai e o Uruguai. E no
caso das economias maiores do bloco, Argentina e Brasil, também permite melhorar suas
estratégias de negociação diante situações de interesse comum diante o competitivo
mercado internacional e novas tecnologias de interesse para o desenvolvimento dos
países membros.
190
chefes de Estado. No RIO-92 foi assinado os seguintes acordos: a Carta da Terra, a
Declaração de Princípios sobre Florestas; a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento; e A Agenda 21. Em termos de imagem internacional, o Brasil ficou
como uma das principais nações a terem uma iniciativa proativa ante o impacto ao meio
ambiente da atividade econômica das nações. Assim, a RIO-92 tornou-se um marco
histórico no que tange no processo de conscientização das nações perante os impactos
ao Meio Ambiente e Mudança Climática que estão ameaçando o planeta.
ATENÇÃO
Deseja de aprofundar sobre a RIO-92? Acesse ao artigo: ECO-92: o que
foi a conferência e quais foram seus principais resultados?
Fonte: https://www.politize.com.br/eco-92/
191
FIGURA 2 – O ÍNDICE DO FUTURO VERDE
193
GRÁFICO 3 – TAXA DA INFLAÇÃO (IPCA, 12 MESES, %) ANOS 1994 E 1995
194
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A maioria de países da América Latina passou por uma severa crise da dívida externa
na década de 1980, a conhecida década perdida da região. Crise que por um lado
levou ao empobrecimento da população, mas por outro, ajudou à consolidação do
processo de integração regional.
• O Governo de Collor iniciou o processo de abertura econômica do Brasil. Mas isso foi
feito sem planejamento estratégico, sem consenso nacional e de maneira abrupta.
Isso resultou em uma severa crise econômica e continuação da hiperinflação,
contudo, propiciou o início do processo de abertura econômica e comercial.
195
AUTOATIVIDADE
1 Na década de 1980 o Brasil passou por uma severa crise de dívida externa, severas
crises que também aconteceram ao longo da América Latina, foi a conhecida
década perdida da região. Época na qual a maior parte dos países latino-americanos
passaram por processos inflacionários fortes, inclusive alguns iniciaram processos de
hiperinflação, como foi o caso da Argentina, o Brasil, o Peru e mais outros. Sobre essa
década perdida, é correto dizer que:
a) ( ) Na década de 1980 com a liderança dos governos conservadores tanto dos EUA
sobe a presidência do republicano Ronald Reagan como da primeira-ministra
do Reino Unido Margaret H. Thatcher houve uma mudança de perspectiva
econômica que intensificou a globalização.
b) ( ) O primeiro país em iniciar uma dinâmica de abertura econômica foi o Chile,
durante os anos 80, sob a ditadura de Pinochet, quem tinha uma equipe de
economistas de cunho neoliberal que estruturam as bases para um Chile mais
aberto ao mundo.
c) ( ) O Brasil começou sua abertura econômica desde 1985 no governo do presidente
Sarney quem começou o processo, porém, sem sucesso diante a crise da
hiperinflação que devorava o salário do brasileiro.
d) ( ) Embora os anos 80 foram o começo da intensificação da globalização, foi a partir
da virada desse década que começou esse processo a se manifestar de maneira
mais acelerada, diante a desintegração da URSS que abriu o caminho para que os
países da Europa do Leste iniciarem um processo de abertura ao mundo capitalista,
e dando passo a hegemonia dos EUA como a única superpotência desse período.
196
Destas sentenças, quais são verdadeiras:
a) ( )V-V-F-V
b) ( )F-V-F-V
c) ( )F-V-V-F
d) ( )V-F-F-V
5 O processo de integração dos países da Bacia do Prata levou décadas para que
pudesse se concretizar. Isso aconteceu de fato no ano 1991 durante a gestão do
presidente Collor com a criação do MERCOSUL. A seguir explique qual foi o foco inicial
do MERCOSUL em 1991, quais foram seus países fundadores e quais são os países
associados deste.
197
198
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
MULTILATERALISMO E CRESCIMENTO
ECONÔMICO
1 INTRODUÇÃO
Para quem nasceu a partir da década de 1990 provavelmente não tem na sua
memória como era o mercado de consumo nacional altamente fechado a oferta de bens
importados, com pouca variedade de escolha, qualidade relativamente baixa e preço
199
relativamente alto ao se compararem aos ofertados no mercado internacional. Somente
as famílias de alto poder aquisitivo que conseguiam viajar para fora do país que tinham
acesso à diversidade de bens de consumo ofertados no exterior. No início da abertura
econômica, o Presidente Collor, “insatisfeito, por exemplo, com os nossos automóveis,
que, segundo ele, pareciam carroças, prometia aos brasileiros o ingresso no primeiro
mundo.” (LESSA; ALTEMANI, 2014, p. 164).
200
Conforme vimos nas páginas anteriores o processo de abertura econômica já
tinha iniciado desde o ano de 1991 com o Presidente Collor, porém, esse processo de
abertura ainda precisava de mudanças na estrutura institucional e econômica do Brasil
para que essa abertura pudesse ser bem-sucedida. Isso aconteceu, entre outras coisas,
por meio da a execução do Plano Real cujo objetivo principal era estabilizar a inflação e
continuar com o processo de abertura do Brasil.
Essa foi a dinâmica industrial até os começos de 1990, mas a partir daí houve
uma enxurrada de oferta de produtos importados com preços mais competitivos ao se
comparar com os de produção nacional. Nesse sentido, a indústria nacional teve que
concorrer de um dia para outro com um leque de produtos importados. Perante isso,
houve a necessidade de planejar essa abertura do Brasil, processo de planejamento
desenhado durante os governos de Itamar Franco e FHC, ainda assim houve fortes
impactos sociais, perda de desempregos e muitas empresas fechando
201
Assim, a abertura econômica aos poucos ia criando mudanças estruturais nos
processos de transformação, tais como uma cultura de inovação e aprimoramento
contínuo, assim como ia aprimorando a própria dinâmica do comércio exterior brasileiro.
O governo de FHC para melhorar a competitividade da indústria nacional e para que
as empresas nacionais pudessem se adequar à concorrência de produtos importados
executou algumas políticas econômicas. Uma delas foi a Política de Competitividade
Industrial, a qual teve quatro importantes programas.
202
mínima. Nesse contexto, quando veio a abertura econômica da década de 1990 essas
indústrias acostumadas a seu canto de conforto tiveram que acordar e concorrer com
um leque de produtos de maior qualidade vindos do mercado internacional, produtos
importados que tinham maior variedade, melhor qualidade e preços competitivos.
203
dinâmica de um novo cenário internacional bem mais globalizado e competitivo do
século XXI. Isso pode-se conferir com a melhoria da competitividade relativa do Brasil,
para começos do século XX no ano 2001 o ranking de competitividade global do Brasil
estava na posição nº 44, segundo a BBC BRASIL (2006), aliás, o melhor ranking de
competividade até os dias atuais, conforme iremos ver mais adiante. Uma posição muito
boa para um país que vinha de décadas de fechamento econômico.
204
44 no ano 2001, o Brasil entrou no século XXI com uma competividade muito boa, o
que permitiu aproveitar muito bem a carona do boom das commodities dessa época,
se refletindo isso, entre outros fatores, no crescimento econômico forte da primeira
década de começos de século durante o governo do Presidente Lula, ajudando a muitos
brasileiros sair da pobreza. Mas quais são os elementos ponderados no ranking de
competividade global? Segundo o Banco Mundial:
2.2 O MULTILATERALISMO
Durante os dois mandatos do Presidente FHC (1995 -2003) o Brasil fez vários
acordos multilaterais levando em consideração as mudanças internacionais que tinham
acontecido com o colapso recente da URSS e seus países aliados do Leste Europeu nos
começos da década de 1990. Assim, para 1995 no começo do mandato de FHC existia
uma nova ordem mundial baseada nos princípios de livre mercado e democracia. Essa
nova ordem mundial estava alineada aos planos de transformação para uma economia
mais aberta que buscava uma melhor inserção internacional e regional.
205
FIGURA 4 – OS 48 CHEFES DE ESTADO E DE GOVERNO DA UE, AMÉRICA LATINA
E CARIBE, NA CÚPULA DE MADRI, MAIO DO ANO 2002
206
NOTA
Deseja saber mais sobre a OMC? Acesso ao site oficial da OMC:
<https://bit.ly/3KYhIPs> no qual poderá encontrar diversos assuntos de
interesse sobre o comércio internacional e mediação deste, aliás, existem
algumas mediações da OMC em litígios comerciais a favor do Brasil.
207
Sul-Americana (IIRSA). A IRRSA tinha como objetivo um plano de integração
intrarregional em eixos geográficos em questões de projetos para o desenvolvimento da
infraestrutura intrarregional em energia, transporte e comunicações. Esses eixos foram
desenhados em função da geografia econômica das diversas regiões da América do Sul,
se agrupando em Eixos de Integração e Desenvolvimento (EIDs).
208
BRASIL (2006) ao final de seu segundo mandato. Essa boa posição, além de outros
fatores, permitiu ao Brasil pegar carona no boom das commodities da primeira década
deste século, ajudando em parte ao alto crescimento econômico que houve no país
durante os dois mandatos do Presidente Lula.
209
demais países da América do Sul, o Brasil tinha como objetivo aumentar às exportações
de produtos manufaturados de maior geração valor à região. Entretanto, com os países
mais desenvolvidos, os EUA, Japão e os países europeus, se continuou com a política
tradicional de entendimento construtivo em função dos interesses das partes, por um
lado o Brasil desejava importar tecnologia e investimentos para o desenvolvimento
e assim melhorar a competividade brasileira e por outro lado desejava exportar
commodities para os mercados dessas nações mais desenvolvidas.
A Foto exposta acima representa a primeira cúpula dos BRICS no ano 2009
sediada na cidade russa de Ecaterimburgo. Por meio dos BRICS, o Brasil além de se
posicionar com uma potência regional, no contexto da América Latina, entrou no jogo
geopolítico mundial por meio da consolidação das relações com os países considerados
potencias regionais e de grande potencial de crescimento, isto é, os BRICS. Devermos
observar que para essa época, meados da primeira década deste século, a China ainda
não era considerada uma megapotência e seu PIB era um pouco maior que do Brasil.
Conforme dados do Banco Mundial (2021), no ano 2003 o PIB da China foi de US$ 1,66
trilhões, dos EUA US$ 11,458, da Rússia US$ 0,345, e do Brasil US$ 0,558; e para o ano
210
2020 o PIB da China foi de US$ 14,723 trilhões, dos EUA US$ 20,723, da Rússia US$
1,483, e do Brasil US$ 1,445. Enquanto, o PIB da China aumentou 8,87 vezes entre o ano
2003 e 2020, se convertendo, aliás, na segunda maior potência econômica do mundo,
o PIB do Brasil aumentou 2,59 vezes.
FIGURA 7 – PIB DOS BRICS E DOS EUA EM TRILHÕES DE US$, DESDE O ANO 2000 ATÉ O 2020
211
Em resumo, o Presidente Lula continuou com o processo de aproximação regional
tanto com o MERCOSUL como com o resto da América Latina, manteve as relações
tradicionais com o mundo desenvolvido e teve a iniciativa de posicionar ao Brasil com
o mundo emergente das potências regionais da época, os BRICS. E como parte de seu
legado de esquerda, também teve na sua Política Externa um foco ao ativismo social
atuando em diversos foros internacionais e de cunho regional procurando a cooperação
internacional para: a luta contra os impactos ao meio ambiente, luta contra a pobreza e
defensa dos direitos humanos.
212
Conforme o gráfico, conseguimos observar um claro comportamento
semelhante entre essas nações, e se acrescentar nesse gráfico o resto dos países
da região veremos a mesma correlação. No contexto regional de toda a América
Latina e o Caribe (ALC), praticamente todos os países aprontaram severas crises
no ano 2000 e a partir do ano 2003 começou o crescimento econômico em quase
todas as economias da região até o 2008 (ano da grande crise financeira mundial).
Depois desse ano (2008) volta de novo o crescimento econômico na região graças
à forte demanda de commodities por parte dos países asiáticos, especialmente da
China. E curiosamente a partir do ano 2012 o crescimento econômico em todos os
países começa a desacelerar. No caso do Brasil essa desaceleração foi muito mais
significativa a partir do ano 2015 com uma queda do PIB de 3,56%.
O que pode levar para essa correlação no desempenho do PIB dos países da
América Latina? Guardando as particularidades econômicas, e governos sejam eles
de esquerda ou de direita, todos os países da região mantêm uma alta dependência
na exportação de commodities. Ou seja, apesar de que muitas nações da América
Latina vêm intentando gerar maior valor agregado nos seus processos industriais
ainda são países dependentes da exportação de bens primários sem geração de
valor (commodities). Em termas teóricos, essa alta dependência na exportação de
commodities faz que um país seja muito dependente às oscilações do mercado
internacional em um grau muito maior que os países desenvolvidos. Para conferir
essa correlação entre o crescimento econômico da América Latina e Caribe (ALC) e os
preços das commodities vejamos o seguinte gráfico.
213
Desse gráfico, fica claro a forte correlação que tem a região da ALC com os preços
das commodities. No contexto brasileiro a queda drástica no preço das commodities no
ano 2015 teve uma forte influência na queda de PIB (-3,56%), assim como na queda de
popularidade da Presidente Dilma Rousseff, quem entre outros fatores socioeconômicos
e políticos teve o processo de impeachment e afastamento de seu mandato. Levando
em consideração esse comportamento histórico entre crescimento econômico e preços
das commodities, talvez deveríamos nos perguntar, como os países da ALC poderiam se
afastar dessa alta dependência das commodities? Ou seja, da produção e exportação
de produtos sem geração de valor.
É uma pergunta que poderia nos levar para várias teorias de desenvolvimento
econômico, mas em termos de um referencial que consegue nos orientar a resiliência
de uma economia perante essa dependência das commodities seria o ranking de
competitividade relativa global de uma nação.
Nesse sentido, enquanto mais competitivo seja uma nação, maior a resiliência
desse país contra as oscilações do desempenho econômico da economia globalizada
de hoje. Exemplificando durante a crise financeira de começos do século XX a ranking
de competividade global brasileira estava no ano 2001 na posição nº 44, aliás, a melhor
posição do Brasil desde que existe esse ranking, resultado?
No ano 2015, enquanto a queda dos preços das commodities tiveram uma
queda de quase 2% o PIB brasileiro teve uma forte queda de 3,56%. No ano 2016 a
economia brasileira continuava no vermelho com um crescimento negativo do PIB de
3,30%, e a partir do ano 2017 até os dias atuais (2022) o crescimento da economia
brasileira vem mantendo um desempenho medíocre, o resultado é uma queda drástica
da renda média do brasileiro.
214
ficando cada vez mais suscetível às crises econômicas internacionais, e mostrando
que o gap tecnológico para sair de sua condição de exportador maioritariamente de
commodities está ficando cada vez mais longe.
215
Esse ativismo social e identificação ideológica de esquerda levou à Presidente
Dilma se aproximar ainda mais à Argentina que estava sendo governada pela Presidente
Kirchner. Nesse contexto, houve uma especial prioridade nas questões de interesse
mútuo entre as nações e que tivessem vínculo ao ativismo social e ao desenvolvimento
regional, tal como “a disposição em fortalecer o Mercosul e atuar em favor da consolidação
da Unasul e da Celac.” (LESSA; ALTEMANI, 2014, p. 184).
ATENÇÃO
Talvez você esteja se perguntando quais são os objetivos da UNASUL e da CELAC. A
UNASUL é a União das Nações Sul-Americanas – UNASUL, onde os países da América
do Sul conseguem articular questões culturais, sociais, e aproximações tanto
no âmbito econômico como político. E a CELAC é a Comunidade de Estados
Latino-americanos e do Caribe (CELAC), cujo objetivo e criar o diálogo
construtivo para uma integração política entre as mais de trinta e três nações
da América Latina e o Caribe.
216
GRÁFICO 4 – HISTÓRICO DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO (IED), 2009 ATÉ 2020
Esse declivo dos IDE a partir do segundo mandato da Presidente Dilma, janeiro
2015, pode ser um reflexo da perda de competividade relativa do Brasil, ou seja, há
uma correlação entre a queda dos IDE e a capacidade competitiva do Brasil relativa
às demais nações. No ano 2014 o Brasil estava na posição nº 57 e em apenas um ano
tinha-se perdido 18 posições, passando para um ranking de competividade nº 75,
conforme podermos observar no gráfico do ranking de competividade global brasileira
do subtópico 2.1. Ou seja, no contexto de investimentos, o Brasil estava começando
perder seu atrativo como potencial de uma grande economia emergente, assim, as
oportunidades de inovar e gerar novos projetos de investimento direto perdeu força a
partir do ano 2015, se refletindo essa pouca atratividade até os dias atuais. Eis um dos
“porquês” é importante melhorar o ranking de competitividade, pois é um referente para
gerar investimentos.
Em agosto do ano 2016 a Presidente Dilma foi afastada do poder por meio
de um processo de impeachment e no dia 31 de agosto desse ano, o vice-presidente
Temer tomou posse da Presidência da República, governando o Brasil até o dia 31 de
dezembro 2018. O Presidente Temer focou seu governo no combate à inflação que
no ano 2015 tinha sobrepassado os dois dígitos pela primeira vez desde o ano 2002,
fato que ameaçava o legado do Plano Real. Para combater esse processo inflacionário
o Presidente Temer tomou uma série de medidas, entre elas: finalizou o subsídio aos
combustíveis e a energia elétrica, aumentou a taxa SELIC, entre mais outras medidas. O
resultado foi que no ano 2015 a inflação de 10,7% baixou para 6,3% no ano 2016 e para o
final de seu mandato (dezembro 2018) a inflação anual ficou em 3,8%, conforme dados
do IBGE (2022), voltando assim uma estabilidade inflacionária.
217
Desenvolvimento Econômico (OCDE), processo que ainda hoje não foi finalizado
conforme veremos mais adiante. Essa intenção de entrar no grupo dos países membros
da OCDE representa as intenções do Presidente Temer de inserir de maneira mais
intensa ao Brasil no comercio internacional, assim como posicionar ao país com as novas
tendências de desenvolvimento econômico para uma economia global descarbonizada,
o que poderia melhorar a competividade relativa brasileira.
ESTUDOS FUTUROS
Saiba o que é meta para uma economia descarbonizada até o ano 2050 na
leitura complementar ao final desta unidade. Essa meta é uma questão muito
relevante, pois nos próximos anos e décadas os países terão que se adequar
a essa nova realidade econômica que visa mitigar o aquecimento global.
218
Essa estratégia de procurar mais acordos comerciais, investimentos e
afastamento dos países de esquerda foi complementada com ações para combater
os crimes transnacionais que vinham se intensificando ao longo da América Latina,
com especial ênfase no tráfico de drogas. No contexto brasileiro isso significou uma
intensificação ao combate desses crimes transnacionais ao longo da vasta fronteira
brasileira. Em resumo, a Política Externa do Brasil mudou de rumo para uma imagem de
capitalismo liberal se afastando do ativismo ativo do PT, e se manteve a continuidade
dos objetivos de multilateralismo, regionalização e abertura econômica, traços da
Política Exterior desde antes mesmo do Presidente FHC. Como também se manteve
a imagem de uma Política Externa respeitosa aplicada desde a época do Barão de Rio
Branco de começos do século XX.
219
nas implicações disso nas relações internacionais brasileiras. Porém, há elementos
que vem acontecendo que são importantes de destacar. Um deles é a aproximação
intensa, inclusive de amizade pessoal, que teve o Presidente Bolsonaro durante a
gestão do Presidente Trump dos EUA, se afastando do clássico ditado do ex-secretário
de estado dos EUA, John Foster Dulles, “não há países amigos, mas interesses comuns.”
(BRITANNICA, 2021, n.p.).
220
Essa pressão da União Europeia poderia se espalhar para mais outras
nações que são abastecidas pelo Brasil com esses produtos. Provavelmente o
Brasil já esteja articulando gestões para defender seus mercados e iniciando uma
estratégia – sejam elas por parte do governo federal ou por parte do setor privado
– para se adequar a oferta exportável à pressão internacional sobre a questão do
desmatamento. Porém, recuperar a imagem de um Brasil a favor das políticas contra
a mudança climática levarão algum tempo. Inclusive com a presencia do Brasil na
Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 na qual o
negociador-chefe do Brasil, o embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto tinha
dito que “que o governo fez uma "reflexão cuidadosa" sobre sua política ambiental e
resolveu "corrigir" rumos.” (BBC BRASIL, 2021).
Os começos da terceira década deste século começam com uma série de
desafios internacionais que o Brasil terá que levar em consideração e tomar providências.
Começa uma era de novas potências ativas no jogo da geopolítica mundial entre elas a
China e a Índia, países que somente há três décadas pareciam longe de entrar no cenário
mundial como potências econômicas e políticas. A hegemonia dos EUA como a única
superpotência está mudando. Hoje, a China é a segunda maior potência econômica e
tem uma série de interesses econômicos espalhados ao longo de todos os continentes.
Além da China, há mais outras potências que desejam ampliar sua hegemonia regional
e global, exemplo disso é a crescente escalada de tensões entre a Rússia e a Ucrânia.
221
regional e inclusive global nas questões da geopolítica internacional. Para finalizar
o último tópico desta unidade convido você à Leitura Complementar que aborda o
assunto da descarbonização da economia que em algumas ocasiões se falou ao longo
deste tópico. É um assunto muito interessante e um grande desafio para o Brasil e o
resto do mundo. Grande desafio que mais tarde ou mais cedo vai entrar nas atividades
econômicas brasileiras, boa leitura!
222
LEITURA
COMPLEMENTAR
POR QUE E COMO DESCARBONIZAR A ECONOMIA
Para que se tenha uma ideia do que está em jogo, vejam esses números citados
por Jean Pisani-Ferry em um trabalho também do mês passado para o Peterson Institute
for International Economics. Partindo dos níveis de emissão anteriores à pandemia
(durante a qual as emissões caíram), o estoque atmosférico de gases de efeito estufa
compatível com a contenção do aumento da temperatura global em 2 graus Celsius
seria alcançado em menos de 25 anos. O período encurta para sete anos no caso de o
limite ser reduzido para 1,5 graus.
223
GRÁFICO 1 – EMISSÕES GLOBAIS DE CO2 VIA COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
224
Terceiro, haverá obsolescência acelerada dos estoques existentes de ativos
físicos (máquinas e equipamentos, construções, veículos) e intangíveis associados a
atividades intensivas em carbono. A contrapartida terá de ser o investimento acelerado
nos novos ativos que lhes substituirão.
Por outro lado, é claro que as tecnologias mais limpas também oferecerão
oportunidades de elevação de produtividade. De qualquer modo, o retorno socioeconômico
da descarbonização tem de incluir evitar que ondas de calor, enchentes, furacões, secas,
inundações e temporais como os deste ano se tornem ainda mais intensos e frequentes,
até porque o custo disso seria perdas cada vez mais significativas para o PIB das nações.
Fonte: https://bit.ly/36iyN7M.
225
226
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
227
AUTOATIVIDADE
1 A década de 1990 é conhecida pela intensificação de uma economia internacional
mais aberta ao comércio internacional tanto para bens de consumo como para bens
intermediários na cadeia produtiva. Diante desse cenário mais globalizado daquela
época, quais das seguintes sentenças é a correta:
a) ( ) Desde a Era Vargas (1930-1945) o Brasil vinha adotando uma política desenvolvimentista
que de certa maneira ajudou para o processo de abertura econômica da década de 1990.
b) ( ) Diante da necessidade de se adequar a uma economia mais aberta perante
um mundo mais globalizado, o Brasil teve que iniciar um processo de abertura
econômica logo de várias décadas de protecionismo de suas industrias.
c) ( ) O governo do Presidente Collor foi que iniciou o processo de abertura econômica, graças
a esse processo o Brasil conseguiu abrir seus mercados em um tempo recorde, assim,
como conseguiu acabar com a hiperinflação antes mesmo de seu impeachment.
d) ( ) Foi a partir do Regime Militar que por meio de sua Política Externa Pragmática que o
Brasil conseguiu desenvolver a indústria chave para seu desenvolvimento, ajudando
em grande parte a intensificação da abertura econômica da década de 1990.
228
3 Independentemente do tipo de governo que iniciasse suas atividades sempre houve
no Brasil uma tradição de continuidade de sua Política Externa, com suas diferenças
da própria atividade no percurso do tempo e orientação ideológica do governo de
turno. Inclusive na época do Regime Militar houve traços de continuidade. O mesmo
aconteceu no início do governo do Presidente Lula do Partido dos Trabalhadores (PT).
Sobre a Política Externa do Presidente Lula, é correto dizer que:
( ) Sua Política Externa, além da aproximação aos BRICS, foi baseada na continuidade
do governo anterior do Presidente FHC, pois o multilateralismo estava dando certo.
Foi somente a partir do governo da Presidenta Dilma que sua ideologia de ativismo
social internacional teve seu momento de protagonismo internacional nos países
de esquerda amigos do PT.
( ) Uma das característica da Política Externa do presidente Lula, além de dar
continuidade ao processo de consolidação do MERCOSUL, foi o ativismo social e
sua aproximação aos países emergentes com grande potencial, os BRICS.
( ) A aproximação aos países do BRICS, característico da era do Presidente Lula,
permitiu ao Brasil se inserir mais intensamente no cenário global, pois cada um
dos países desse bloco (o Brasil, a China, a Rússia e a África do Sul) eram, e são,
potencias regionais, que juntas até os dias atuais conseguem contrabalançar os
interesses geopolíticos das potências mundiais.
( ) A aproximação aos países do BRICS, característico da era do Presidente Lula, permitiu
ao Brasil se inserir no cenário global, pois países membros desse bloco (o Brasil, a
China, a Rússia e a África do Sul) tinham grande potencial e representatividade
tanto regional como global, especialmente a China e a Rússia.
a) ( )F-V-V-F
b) ( )V-F-F-V
c) ( )F-V-F-V
d) ( )V-F-V-F
229
5 A Política Exterior do Presidente Lula, além de dar continuidade ao processo de
integração regional, como foi a consolidação do MERCOSUL, também se focou na
aproximação do Brasil com países emergentes que eram considerados potências
regionais durante os primeiros anos do século XXI, os BRICS. Sobre esse bloco,
exponha quais são os países que fazem parte dele e explique a importância destas
para a Política Externa do Brasil.
230
REFERÊNCIAS
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Federation. 2022. Disponível em: https://bit.ly/3wjGsxq. Acesso em: 28 jan. 2022.
EL PAIS. OEA abre caminho para suspender a Venezuela. 2018. Disponível em:
https://bit.ly/3ud6xLT. Acesso em: 30 jan. 2022.
FOLHA DE SÃO PAULO. Ministros do Mercosul discutem acordo 4+1 com os EUA.
2001. Disponível em: https://bit.ly/36eHxvF. Acesso em: 19 jan. 2022.
231
IBGE. IPCA - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. 2022. Disponível
em: https://bit.ly/3Ik1deM. Acesso em: 29 jan. 2022.
IPEA. Anos 1980, década perdida ou ganha? 2012. Disponível em: https://bit.ly/3iorjTb.
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cement. Jul/Aug 2021. Cambridge, MA: The MIT Press, 2021.
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WORLD BANK. GCI 4.0: Global Competitiveness Index 4.0. 2021. Disponível em: https://
bit.ly/3Is5ixA. Acesso em: 25 jan. 2022.
232