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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE


IGARAPÉ AÇU

PROCESSO Nº

NOME COMPLETO, já devidamente qualificada nos autos do processo em


epígrafe, vem, por sua advogada in fine perante V. Exa. apresentar sua

RESPOSTA ESCRITA A ACUSAÇÃO

DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA – AUSENCIA DE INDICIOS DE AUTORIA

A acusada foi presa em flagrante delito no dia 22 de setembro de 2022,


por ter, supostamente, praticado o crime de tráfico de entorpecente, previsto no artigo 33 da
Lei nº 11.343/2006.

O Ministério Público ofereceu denúncia em face da acusada imputando-


lhe a prática do crime de tráfico e associação para o crime de tráfico, ambos previstos na Lei nº
11.343/06, respectivamente nos artigos 33 e 35.

O Ministério Público em sua exordial narrou que:

“(...) Narram os...


Segundo as testemunhas, a equipe da Polícia Civil recebeu diversas
denúncias de que o cidadão conhecido por "Manuel", ora
indiciado, estava comercializando entorpecentes em uma residência
localizada na rua João Vicente, bairro Água Limpa; diante das
informações os Policiais Civis realizaram vigilância, à distância, no
local ocasião em que foi constatado que, de fato, várias pessoas,
aparentemente usuários de drogas, chegavam naquela casa,
chamavam "Manel", e este entregava-lhes drogas, discretamente;
esses clientes, em seguida, realizavam o pagamento e saiam do
local.
As testemunhas ressaltaram que ao perceber a chegado dos policiais
o indiciado correu rapidamente para sua casa, momento em que foi
alcançado já no interior da residência, sendo realizada a revista
pessoal dos indiciados e posteriormente a busca no local, momento
em foram localizadas no quintal da residência, acondicionadas em um
tubo de plástico escondido sob um tijolo, 17 (dezessete) porções
de entorpecente vulgarmente conhecido como OXI"; além disso,
foram encontrados, na residência, R$ 264,50 (duzentos e sessenta e
quatro reais e cinquenta centavos) em espécie.

Diante dos indícios da prática de tráfico de drogas os indiciados foram


encaminhados a DEPOL.

A indiciada negou a autoria delitiva, alegando não ter conhecimento de


que o indiciado ... , seu companheiro, comercializava entorpecentes
no imóvel do casal; bem como, que o dinheiro encontrado era de sua
propriedade, fruto da comercialização de roupas e joias.

Já o indiciado . . . confessou a autoria delitiva, mas informou que


sua companheira não tinha conhecimento da venda de drogas no local.
(...)”

Analisando-se as provas produzidas até o presente momento, bem como a


narrativa constante da denúncia, observa-se que em momento algum a Autoridade Policial, bem
como o ilustre representante apresentou quaisquer provas que sejam capazes de comprovar ao
mínimo os indícios de autoria da acusada.
Ressalta-se que para que um dos requisitos para propositura da ação penal,
através do oferecimento da denúncia é a justa causa, a qual é constituída pelo binômio indícios
suficientes de autoria e prova da materialidade do crime.

No caso em tele, embora possa se afirmar de forma cabal que está presente a
prova da materialidade do crime, o mesmo não se pode dizer quanto ao requisito indícios
suficientes de autoria.

Todas as testemunhas policiais informaram que receberam denúncia


de que um homem estaria vendendo droga, a denúncia não é de um casal e nem de uma
mulher.

Informaram também que chegaram ao local e ficaram de longe investigando


a suposta denúncia e puderam ver o acusado Manoel, companheiro da requerente, do
lado de fora da casa, ou seja, no quintal vendendo drogas.

Eles viram o acusado vendendo drogas no quintal em nenhum momento


afirmaram que visualizaram a acusada vendendo drogas, ou prestando qualquer
forma de assistência que demonstrasse qualquer apoio ao seu companheiro.

Afirmaram que fizeram a abordagem do Sr. Manoel, o qual tentou se


esquivar, mas que foram atrás e pegaram o referido acusado no interior de sua residência, onde
se encontrava a acusada.

Os policiais foram categóricos em afirmar que dentro da casa onde a


acusada se encontrava não foi encontrada droga alguma, nem com a mesma e nem no
interior da casa, mas tão somente no quintal da casa, do lado de fora onde se encontrava o
acusado.

O Sr. .... em seu depoimento em sede policial afirmou que é traficante e


usuário e que sua companheira, ora acusada, não tem qualquer participação.

A requerente em seu depoimento informou que trabalha com vendas de


roupas e joias e que não faz venda de drogas e que nem ainda sabia que existia drogas no
quintal da casa, droga esta que nem sabe se pertencia ao companheiro.
Ministério Público acrescentou em sua denúncia que a autoria da acusada .... do
crime de tráfico de drogas estar em ter em depósito a droga encontrada.

Como imputar o crime de deposito se a droga foi encontrada escondida


no quintal e que o acusado que teria amostrado onde a droga se encontrado?

Qual a prova de que a acusada Ana Claudia tinha ciência que em seu quintal
estava escondida a droga, o nosso direito a responsabilidade é subjetiva e não objetiva, tem que
haver demonstração não só de que havia droga no quintal da acusada, mas que a mesma tivesse
conhecimento de tal fato e mais ainda que esta tivesse se associado ou concordado em guardar
a droga em seu quintal, para que esta pudesse ser responsabilizada pelo crime de tráfico e
associação na modalidade ter em depósito.

Exa. até o presente momento não existe quaisquer provas concretas


que sejam de que a acusada é traficante, ou que a mesma tenha se associado com seu marido
para praticar o crime de tráfico de drogas, sabendo-se que uma pessoa não pode ser processada
e presa por suposição de que ela seja uma traficante, nem ainda que a acusada tivesse
conhecimento de que seu marido pratica o crime de tráfico, tal conhecimento por si só não lhe
configura como traficante, até porque não existe crime de tráfico de drogas por omissão e uma
pessoa não pode ser responsabilizada criminalmente por ter conhecimento de
que alguém mantém droga em determinado local, até porque tal fato é atípico.

A lei não se exige da companheira que denuncie o cônjuge, da mesma forma


que não existe a conduta do tráfico por omissão. Ou seja, o simples fato de saber das práticas
do marido não faz dela comparsa do seu marido, mesmo porque o crime de associação para o
tráfico é crime de concurso necessário, o que também não restou demonstrado nos autos, pois
não existe qualquer prova do vínculo subjetivo existente entre os acusados ou ainda a prova
de que esta tenha se associado, de que forma e, por último, qual seria sua participação
efetivamente.

Em julgamento recente a Turma do Tribunal de São Paulo, Processo nº


1500073-93.2020.8.26.0066, absolveu a esposa presa com o marido, pois a turma, por
unanimidade, concordou com os argumentos dos defensores e manteve a absolvição e
segundo o relator, desembargador Francisco Orlando,
houve “demonstração inequívoca” de que o marido estava envolvido com o tráfico de
drogas, inclusive por ter confessado em juízo. Porém, afirmou o magistrado, não há “elementos
de convicção necessários” sobre a participação da mulher.

“Não se descarta a possibilidade de que a corréu tivesse


conhecimento de que o réu mantivesse drogas na casa, mas daí a concluir que estivesse a
ele associada para a prática da traficância a distância é grande. Aliás, a prova não
permite a responsabilização dela sequer pelo tráfico, porque ter
conhecimento de alguém que mantém droga em determinado local é fato
atípico”, afirmou.

Para o relator, “não se produziu prova alguma” de que a mulher teria


concorrido de qualquer forma para a atividade ilícita que vinha sendo praticada pelo marido,
“tampouco que tenham engendrado uma empresa secreta com a finalidade de traficar
entorpecentes”.

Ressalta-se Exa. que a requerente é pessoa primária de bons antecedentes


criminais, com residência fixa e atividade lícita reconhecida, embora responda processo
criminal junto a esta Comarca o certo é que nem ainda se desenvolveu a fase instrutória do
referido processo, devendo ser a mesma considerada presumidamente inocente naquele e nesse
processo.

Diante do exposto, requer seja a acusada ABSOLVIDA


SUMARIAMENTE em razão da inépcia da denuncia por ausência de indícios
de autoria, bem como requer seja REVOGADA A PRISÃO PREVENTIVA.

Caso esse não seja o entendimento de V. Exa. requer seja analisado o


pedido de REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA pendente, bem como requer a
produção de prova oral, para oitiva das testemunhas de defesa, as quais serão apresentadas no
dia da audiência.

Tudo como forma da mais sábia e lídima Justiça!

Termos em que, pede e espera DEFERIMENTO. Castanhal, 15

de novembro de 2022

ADVOGADA

OAB

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