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JUÍZO DA PRIMEIRA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ALTA FLORESTA-MT

Processo n°: xxx

“A”, já devidamente qualificado nos autos da Ação Penal em


epígrafe, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por
intermédio deste(a) adovado(a) que subscreve a peça,
apresentar ALEGAÇÕES FINAIS, na forma do artigo 403, §3º,
do CPP, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

I. BREVE SÍNTESE

Diante uma abordagem e da submissão do acusado “a” à busca


pessola, encontrou-se com ele 5 gramas de “maconha”e posteriormente mais 10
gramas do mesmo produto em sua residência.

Diante disso, acusado foi denunciado com incurso no art 33 da


Lei Federal nº 11.343/2006.

Realizado a prisão em flagrante, foi requerido pela autoridade


policia a manutenção da prisão após término do Inquérito Policial.

Em Sede de Audiência de Custódia, o Ministério Público não


acolheu o requerimento do delegado, pugnando pela liberdade provisória.

Recebida a denúncia, e após diversas tentativas de citação


infrutíferas “a” foi citado por edital cuja publicação se deu no dia 01.08.2023,com
audiência marcada para o dia 16.08.2023.

Após, vieram os autos para manifestação.

É o que merece relato.


II. DOS DIREITOS

DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS – ausência de comprovação de


atividade ilícita

Excelência, consta na exordial acusatória que o réu foi


abordado e submetido à busca pessoal, entretanto, o motivo alegado foi que o local da
abordagem é conhecido como ponto de vendas de entorpecentes.

Consta ainda que, no momento da abordagem foi encontrado


com ele quantidade ínfima de drogas, sendo um todas de 5 gramas de maconha e o
próprio teria indicado que em sua casa haveria mais uma porção do mesmo produto,
tudo para o seu próprio consumo.

Neste ponto, deve ser observado que, após a abordagem do


réu, este teria informado aos policiais que a quantidade de drogas que estava em sua
posse era exclusivamente para o consumo.

Ou seja, tem-se uma mínima quantidade de drogas, as quais ao


todo somam 15 gramas, o próprio flaglanteado assumiu que em sua casa haveria outra
porção, afastando, dessa forma, uma tentativa de esconder algo.

Fica evidente, pela atitude do denunciado, que não houve


intenção de ludibriar ou fugir, contou-se com a sua boa-fé em revelar que haveria uma
outra porção em sua casa.

Fatos esses que tornam evidente não se tratar de um traficante


de drogas, mas sim um usuário de entorpecentes, que luta contra os seus vícios, assim
como milhões de outros cidadãos.

Ainda insta salientar, que não foram apreendidos demais


elementos que comprovem a mercancia de drogas, como consta nos dados, apenas foi
encontrado maconha, não havendo nenhum outro elemento típicos de ponto de
drogas,, como balança de precisão, dinheiro trocado e baixas cédulas, caderno de
anotações, papelote, etc.

Isso porque, ao que se percebe do contexto probatório não


houve comercialização ou sequer transporte de entorpecente com o fim de
comercialização (ou de qualquer dos verbos tipos do artigo 33 da Lei de Drogas).
Observa-se que não há nos autos qualquer investigação que
comprove as alegações ministeriais de que o denunciado estaria vendendo
entorpecentes, e nenhuma das declarações prestadas em sede investigativa
confirmaram que o réu vende ou estaria vendendo drogas.

Ademais, nota-se que toda a quantidade de


entorpecente – 15 gramas de maconha – vinculada ao acusado tratava-se de
droga para uso. Tanto é que, frisa-se: não foi encontrada balança de
precisão, caderno de anotações, ou quaisquer outros materiais que
indicassem a traficância (normalmente encontrados).

Portanto, ausente prova hábil para a comprovação da


materialidade do delito imputado na inicial, tendo em vista a fragilidade dos
depoimentos colhidos, dos quais não deflui a necessária finalidade de distribuição ou
comercialização da substância, mostra-se incabível a condenação.

Dessa forma, o que se tem é que a denúncia se baseia em


apreensão de drogas com um usuário.

Nesse sentido, ao ilustrar tal afirmação traz-se o entendimento


de Salo de Carvalho, na obra “ A Política Criminal de Drogas no Brasil - Estudo
dogmático e criminológico”, 4ª ed., Editora Lumen Juris, 2007, o qual, ao comentar os
critérios diferenciadores entre os arts. 33 e 28 da Lei 11.343/06, refere que:

o raciocínio deve ser realizado de forma negativa, invertendo-se os


rumos tradicionais da doutrina e jurisprudência dominantes durante a
vigência da Lei 6.368/76. Desta forma, em havendo
especificação legal do dolo no art. 28 da Nova Lei de Drogas
(especial fim de consumo pessoal), para que não ocorra
inversão do ônus da prova e para que se respeitem os
princípios constitucionais de proporcionalidade e de
ofensividade, igualmente deve ser pressuposto da imputação
das condutas do art. 33 o dolo específico (desígnio
mercantil). Do contrário, em não havendo esta comprovação ou
havendo dúvida quanto à finalidade de comércio, imprescindível a
desclassificação da conduta para o tipo do art. 28.

A própria legislação, no § 2º do art. 28, ainda traz em seu texto


as evidências objetivas que devem ser ponderadas ao determinar se a droga destina-
se a uso pessoal ou ainda compartilhado, quais sejam: “ natureza e quantidade da
droga, local e as condições em que se desenvolveu a ação, as circunstâncias sociais e
pessoais, bem como a conduta e aos antecedentes” .

Ante o exposto, em se cotejando a prova colhida com o


disposto no § 2º do art. 28 da nova lei de tóxicos, restando ausente prova robusta
de mercancia, inviável a condenação nos termos da denúncia.

Trata-se, mais uma vez, do ônus de provar o fato constitutivo


do direito de punir. O Ministério Público não provou objetivo de mercancia. Assim,
por óbvio, não cabe à defesa convencer de que o crime não ocorreu. Mas, sim, a
acusação é quem deve provar o fato e suas circunstâncias, como suporte da pretensão
punitiva estatal.

Consolidando, de forma exemplar, tal entendimento, a seguinte


decisão do TJMT:

RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL – TRÁFICO DE DROGAS –


CONDENAÇÃO – IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA – PLEITO
ABSOLUTÓRIO – INVIABILIDADE – PROVAS IRREFUTÁVEIS DE QUE A
SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE APREENDIDA PERTENCIA AO
RECORRENTE – DESCLASSIFICAÇÃO DO ILÍCITO OPERADA DE
OFÍCIO PARA AQUELE INSERIDO NO ART. 28, CAPUT, DA LEI N.
11.343/2006 – VIABILIDADE – INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA NO
TOCANTE À DESTINAÇÃO DO ENTORPECENTE – IN DUBIO PRO REO
– CARACTERIZAÇÃO DA POSSE DE DROGAS PARA CONSUMO
PESSOAL – APELO DESPROVIDO, COM PROVIDÊNCIA DE OFÍCIO.
Uma vez comprovado de forma insofismável que a substância
entorpecente apreendida pertencia ao acusado, não se pode falar em
prolação de édito absolutório em seu favor. Considerando que o
substrato probatório não permite a exata aferição da
finalidade da droga apreendida – se voltada ao fornecimento
a terceiros ou ao consumo pessoal –, revela-se imperiosa a
aplicação do brocardo do in dubio pro reo para desclassificar
a conduta que lhe foi imputada para aquela descrita no art.
28, caput, da Lei n. 11.343/2006, com a consequente
remessa dos autos ao Juizado Especial Criminal. (Ap
176420/2016, DES. PEDRO SAKAMOTO, SEGUNDA CÂMARA
CRIMINAL, Julgado em 08/03/2017, Publicado no DJE 14/03/2017)
Consoante doutrina e jurisprudência acima referidas, restando
notório que não existem nos autos elementos concretos a indicar que o
denunciado realmente comercializava drogas, resta apenas a desclassificação da
conduta para o tipo previsto no art. 28 da Lei 11.343/06, pois para um juízo
condenatório, é necessária prova convincente e segura.

Desta forma, se faz necessária a desclassificação do fato


para o tipo previsto no art. 28 da Lei 11.343/06, pois face aos elementos acima
referidos, inviável tipificar-se a conduta dos denunciados como traficância, eis que
imprescindível a comprovação do dolo de mercancia.

DA EVENTUAL DOSIMETRIA DA PENA - DA APLICABILIDADE DO § 4º


DO ARTIGO 33 DA LEI DE DROGAS

Subsidiariamente, Excelência, em caso de condenação,


percebe-se que o agente é portador de boa conduta social, possuindo bons
antecedentes e demonstrou interesse em colaborar com as investigações de
demais crimes de tráfico de droga. Sendo assim, necessária a aplicação da
pena base, uma vez que não há circunstâncias judiciais desfavoráveis.

Ademais, o Próprio Ministério Público assume essa


veracidade ao não pugnar pela prisão preventiva do acusado, inferindo não
se tratar de um indivíduo que apresenta periculosidade para a sociedade,
assim é possível e necessária a aplicabilidade da causa de diminuição de
pena prevista no § 4º do artigo 33 da Lei de Drogas, pois preenchidos os
requisitos legais.

Vejamos.

No tocante aos primeiros e segundos requisitos,


percebe-se que s agente é primários e possui bons antecedentes.

Já em relação aos terceiro e quarto requisitos, até


mesmo como consequência lógica deste processo, não há comprovação de
que o réu se dedica à atividade criminosa (réu primário e sem
antecedentes, gize-se) e nem mesmo há prova de integração à organização
criminosa, pois trata-se de mero usuário.
Assim, completos os 04 requisitos pelo réu, impositivo
o reconhecimento da causa de redução de pena prevista no §4º do artigo
33 da Lei 11.343/06, no esteio da jurisprudência mais atualizada 1:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. MINORANTE DE PENA
PREVISTA NO ART. 33, § 4º, DA LEI N. 11.343/2006.
INCIDÊNCIA. CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO.
NÃO COMPROVADA A DEDICAÇÃO A ATIVIDADES
CRIMINOSAS OU INTEGRAÇÃO DE ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA. CAUSA DE AUMENTO DO ART. 40, III, DA
LEI ANTIDROGAS. AFASTAMENTO. CONCESSÃO DE
ORDEM DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE. AGRAVO
DESPROVIDO. 1. A quantidade de entorpecente apreendido,
por si só, não enseja, necessariamente, a negativa do
benefício contido no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006,
devendo a negativa ter como base, também, as
circunstâncias do caso concreto (AgRg no AREsp
1.351.997/GO, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
DJe 17/12/2018). 2. Hipótese de aplicação da minorante
da Lei Antidrogas, uma vez não comprovados ou
existentes indícios de dedicação da agente à atividade
criminosa e/ou participação em organização
criminosa. Quantidade da droga e circunstância do
transporte do entorpecente que são insuficientes para tal
comprovação. 3. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg
no AREsp: 1335919 SP 2018/0190663-7, Relator: Ministro
JOEL ILAN PACIORNIK, Data de Julgamento: 12/02/2019, T5
- QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/02/2019).

PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. TRÁFICO DE DROGAS. CAUSA DE
DIMINUIÇÃO DE PENA DO ART. 33, § 4º, DA LEI N.
11.343/2006. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS QUE
INDIQUEM SER O AGENTE HABITUAL NA PRÁTICA
DELITIVA. QUANTIDADE ÍNFIMA DE ENTORPECENTES.
1
Nesse sentido, cabe destacar que a leitura atenta da íntegra do acórdão trazido pelo órgão
ministerial como apto justificar a inaplicabilidade da causa de diminuição não apenas se
mostra desatualizada, como,principalmente, tratava de um caso concreto em que haviam
sido apreendidos mais de 500 gramas de droga (mais do que 10 vezes o discutido neste
processo).
APLICAÇÃO DA FRAÇÃO MÁXIMA. REGIME PRISIONAL.
PENA INFERIOR A QUATRO ANOS. CIRCUNSTÂNCIAS
JUDICIAIS FAVORÁVEIS. MODO ABERTO. SUBSTITUIÇÃO DA
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE
DIREITO. POSSIBILIDADE. MANIFESTA ILEGALIDADE
VERIFICADA. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA
DE OFÍCIO. (...) 2. A teor do disposto no § 4º do art. 33 da
Lei n. 11.343/2006, os condenados pelo crime de tráfico de
drogas terão a pena reduzida, de um sexto a dois terços,
quando forem reconhecidamente primários, possuírem bons
antecedentes e não se dedicarem a atividades criminosas ou
integrarem organizações criminosas. 3. Na falta de
parâmetros legais para se fixar o quantum dessa
redução, os Tribunais Superiores decidiram que a
quantidade e a natureza da droga apreendida, além
das demais circunstâncias do delito, podem servir para
a modulação de tal índice ou até mesmo para impedir a
sua aplicação, quando evidenciarem o envolvimento
habitual do agente no comércio ilícito de
entorpecentes. Precedentes. 4. Hipótese em que, à míngua
de elementos probatórios que indiquem a habitualidade
delitiva do paciente, e considerando sua primariedade e seus
bons antecedentes, impõe-se a aplicação do redutor do art.
33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 no máximo legal, sobretudo
porque não é expressiva a quantidade de droga apreendida
(42,32g de maconha e 2,80g de cocaína). 5. Estabelecida a
pena em patamar inferior a 4 anos, verificada a primariedade
do agente e sendo favoráveis as circunstâncias do art. 59 do
CP, o regime inicial aberto é o adequado à prevenção e à
reparação do delito, nos termos do art. 33, § 2º, "c", do
Código Penal. 6. Preenchidos os requisitos legais do art. 44
do Código Penal, é cabível a substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos. 7. Habeas corpus não
conhecido. Ordem concedida, de ofício, para fazer incidir a
causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º, da Lei n.
11.343/2006 no grau máximo, redimensionando a pena do
paciente para 1 ano e 8 meses de reclusão mais 166 dias-
multa, bem como para estabelecer o regime aberto e
substituir a pena privativa de liberdade por restritivas de
direito, a serem definidas pelo Juízo Execução. (HC
536.429/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 17/10/2019, DJe 29/10/2019)

Dessa forma, deve ser reconhecido o privilégio e


reduzida a pena do réu no mínimo legal.

III. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer seja:

a) a desclassificação da conduta para aquela prevista no artigo


28, da Lei nº 11.343/06, com todos os consectários legais.

b) Em caso de condenação, a aplicabilidade do §4º do art. 33


da Lei de Drogas;

Alta Floresta/MT, data da assinatura digital.

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