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DA COMPETÊNCIA EM GERAL

Continuação...

CAPÍTULO IX
DA COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DO PÔSTO OU DA FUNÇÃO

Natureza do pôsto ou função


Art. 108. A competência por prerrogativa do pôsto ou da função decorre da sua
própria natureza e não da natureza da infração, e regula-se estritamente pelas normas
expressas nêste Código.

O CPPM prevê duas modalidades de prerrogativa: a de posto e a de função.

Exemplo de prerrogativa de posto – julgamento de Oficiais-Generais pelo STM (art. 6º,


I “a” LOJMU).

Exemplo de prerrogativa de função:

a) LOJMU - julgamento do Comandante do Teatro de Operações pelo STM (art.


95 pu LOJMU).
Lobão: em tempo de guerra, o posto de General cede em importância à função, um
General comum não terá o STM como foro, mas sim o Conselho Superior de Justiça.

A prerrogativa de função em tempo de guerra e é destinada ao comandante do teatro


das operações (que será um oficial-general) e a instauração da ação penal no Superior
Tribunal Militar está condicionada à requisição do Presidente da República. É a única
ação penal militar em que existe requisição presidencial.

OBS: As ações penas originárias no STM sempre terão como relator um Ministro civil,
escolhido por sorteio. A instrução processual é feita por esse Ministro civil, porém o
momento do julgamento contará com a presença de todos os ministros em exercício do
STM.

OBS: A Lei nº 8719/93 revogou o art. 6º, I, “b”, da Lei nº 8457, que estipulava prerrogativa
de função para os crimes militares praticados por juízes-auditores, membros do MPM e
Defensores Públicos Federais. No entanto, a competência por prerrogativa de função
para os juízes e membros do MPM encontra-se estampada expressamente no art. 108,
I, da Constituição Federal. Defensor Público não tem prerrogativa de função.

b) CF/88 - julgamento do Cmt das FFAA pelo STF nos crimes comuns e de
responsabilidade. Nos crimes de responsabilidade conexos ao PR são julgados pelo
Senado Federal.

Lobão (2010, p. 175) – “Prerrogativa de posto. Oficial na inatividade”. Opinião muito


interessante!

Nucci – critica o foro por prerrogativa de função no Brasil.

Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do tribunal do


júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido
exclusivamente pela Constituição Estadual. (STF. Plenário. Aprovada em
08/04/2015 - Info 780).
DO DESAFORAMENTO

O desaforamento também é uma hipótese de alteração da competência (art. 87, c, do


CPPM).

QUESTÃO: Há diferença do desaforamento do CPPM com o do CPP?

De plano, verificamos 2 distinções:

a) No CPP comum o desaforamento é destinado aos crimes dolosos contra a vida,


ao passo que no CPPM o desaforamento alcança todos os delitos;

b) No CPP comum o desaforamento pode ser solicitado pelo Juiz ou pelas partes, ao
passo que no CPPM o rol de legitimados é maior, vez que o desaforamento a ser
apreciado pelo STM pode ser feito pelos Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, comandantes da Região Militar, do Distrito Naval e do Comando Aéreo,
Conselhos de Justiça ou juiz federal da JMU (juiz de direito do juízo militar) e partes
(MPM e acusado).

Caso de desaforamento
Art. 109. O desaforamento do processo poderá ocorrer:
a) no interêsse da ordem pública, da Justiça ou da disciplina militar;
b) em benefício da segurança pessoal do acusado;
c) pela impossibilidade de se constituir o Conselho de Justiça ou quando a dificuldade
de constituí-lo ou mantê-lo retarde demasiadamente o curso do processo. (Mais comum)

Tríplice aspecto da Ordem pública – segurança pública, salubridade pública e


tranquilidade pública (Cícero)

DESAFORAMENTO. AUDITORIA DA 4ª CJM. IMPOSSIBILIDADE DE


CONSTITUIÇÃO DO CONSELHO DE JUSTIÇA PARA A MARINHA.
DEFERIMENTO. UNANIMIDADE. O Desaforamento constitui medida
excepcional de derrogação da competência territorial para processamento e
julgamento do feito, bem como do afastamento da regra do Juiz Natural e da
premissa de que o Réu responde pelo crime no local onde ocorreram os fatos,
sendo admitida, como no caso dos autos, pela absoluta impossibilidade de
composição do Conselho Julgador no âmbito daquela Circunscrição
Judiciária Militar. A escolha da Auditoria onde o feito será processado e
julgado deverá sopesar a conveniência da instrução criminal, bem como o
interesse e o direito dos Acusados de exercerem, em sua plenitude, as
garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Evidenciada a
impossibilidade de composição do Conselho de Justiça para a Marinha no
âmbito da Auditoria da 4ª CJM, deve ser acolhido o pedido de desaforamento
para uma das Auditorias da 1ª CJM. Deferimento. Unanimidade.
(Desaforamento de nº 0000005- 50.2016.7.04.0004, Rel. Min. Cleonilson
Nicácio Silva, data da publicação:20/06/2016) (destaquei)

Num: 0000022-55.2007.7.12.0012 UF: AM Decisão: 13/06/2012


Proc: DESAF - DESAFORAMENTO Cód. 130
Publicação
Data da Publicação: 02/08/2012 Vol: Veículo: DJE
Ementa
DESAFORAMENTO. Composição de Conselho Especial de Justiça que se
mostra desaconselhável tanto no que diz respeito à conveniência da
Administração Militar, haja vista que os oficiais que compõem a lista de
prováveis componentes do Conselho Especial de Justiça são, na sua maioria,
Comandantes de unidades consideradas de extrema prioridade para a Defesa
Nacional, quanto no que concerne à eficiência na prestação jurisdicional, uma
vez que as dificuldades apontadas para o deslocamento na selva amazônica
podem retardar, e muito, o correr do feito. Hipótese que se subsume à parte
final da alínea "c" do art. 109 do CPPM. É entendimento pacificado na Corte
de que deve ser respeitado o número mínimo de sete oficiais para
participarem do sorteio destinado a compor os Conselhos de Justiça.
Derrogação de competência territorial deferida para a Auditoria em que reside
um dos acusados, o que é conveniente ao exercício da ampla defesa.
OBS: Lobão entende que o mínimo deve ser 08 para o Conselho Especial e 12 para o
Conselho Permanente (considerando os suplentes) (2010, p. 242).

Num: 0000013-66.2012.7.04.0004 UF: MG Decisão: 23/05/2012


Ementa - EMENTA: DESAFORAMENTO REQUERIDO PELA JUÍZA-AUDITORA DA
AUDITORIA DA 4ª CJM. IMPOSSIBILIDADE DE CONSTITUIR CONSELHO DE
JUSTIÇA. O Desaforamento constitui medida excepcional de derrogação da
competência territorial, resultando, também, no afastamento da regra do Juiz Natural e
da premissa de que o Réu responde no distrito da culpa. No presente caso, encontra-se
demonstrado que um dos requisitos exigidos pela Lei para a medida excepcional foi
preenchido, pois o efetivo da Marinha, no âmbito da 4ª CJM, não dispõe de oficiais em
número suficiente para compor o Conselho Permanente de Justiça, o que enseja o
deferimento da pretensão. Pedido deferido, designando a 4ª Auditoria da 1ª CJM, uma
vez que o militar denunciado serve em unidade localizada no Estado do Rio de Janeiro
e aquele Juízo já atuou no feito, quando declinou da sua competência. Unânime.

Num: 0000019-73.2012.7.04.0004 UF: MG Decisão: 11/10/2012

Ementa
Pedido de Desaforamento. Conselho de Justiça. Formação. Impossibilidade.
Derrogação. Competência. Pedido de Desaforamento formulado pelo Juízo da 4ª
CJM, com fundamento no art. 109, alínea "c", do CPPM, em virtude da inexistência
de oficiais superiores ou intermediários em condições de comporem Conselho de Justiça
na sua área de jurisdição. Medida excepcional de derrogação da competência territorial
que, in casu, deve ser efetivada para o Juízo mais próximo, qual seja, uma das Auditorias
da 1ª CJM. Deferimento do Pedido. Decisão por maioria.

OBS: O Ministro Coelho votou vencido. Indeferiu o desaforamento porque o acusado era
CIVIL. Logo, entendeu que poderia formar um Conselho de Justiça com Oficiais das
outras Forças e não necessariamente da Marinha. HOJE essa discussão não existiria!
Num: 0000020-74.2008.7.08.0008 UF: PA Decisão: 15/02/2011
Ementa
EMENTA. DESAFORAMENTO. IMPOSSIBILIDADE DE SE FORMAR CONSELHO
ESPECIAL DE JUSTIÇA EM RAZÃO DA ANTIGUIDADE DE OFICIAL DENUNCIADO.
Desaforamento requerido pelo Juiz-Auditor da 8ª CJM em razão da impossibilidade de
formar Conselho Especial de Justiça para o Exército, visto não haver oficiais em
condições de julgar um dos acusados em virtude da sua antiguidade. Pedido
deferido para designar uma das auditorias da 1ª CJM para julgar o feito, haja vista que,
embora não seja aquela em que está presente o maior contingente do Exército, é a que
melhor privilegia a ampla defesa e a conveniência da instrução criminal, vez que o co-
réu civil reside no Rio de Janeiro. Desaforamento deferido por unanimidade.

HOJE seria diferente! Porque o correu civil atrai todos os demais para a competência
monocrática.

Num: 0000170-77.2010.7.05.0005 UF: PR Decisão: 09/02/2011


Ementa
EMENTA. DESAFORAMENTO REQUERIDO PELA JUÍZA-AUDITORA DA 5ª CJM.
IMPOSSIBILIDADE DE CONSTITUIR CONSELHO DE JUSTIÇA. O Desaforamento
constitui medida excepcional de derrogação da competência territorial,
resultando, também, no afastamento da regra do Juiz Natural e da premissa de que
o Réu responde no distrito da culpa. Restou demonstrado que inexiste a possibilidade
da formação de um Conselho Especial de Justiça naquele Juízo, em razão do número
mínimo de Oficiais para compor o Colegiado (art. 109, alínea "c", do CPPM). Pedido
deferido, designando uma das Auditorias da 1ª CJM para dar prosseguimento ao feito, a
ser definida por regular distribuição. Decisão unânime.

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