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Jurisdição e

Competência
Profª. Me. Danielly Campos.
JURISDIÇÃO
▪ É uma das funções do Estado mediante a qual este se substitui
aos titulares dos interesses em conflito para aplicar o direito
objetivo ao caso concreto.
▪ É uma garantia constitucional do cidadão, da qual não pode
abrir mão.
▪ No processo penal, vige o princípio da necessidade. É que o Jus
puniendi só pode ser exercido através do exercício legítimo da
jurisdição. Não pode ser exercido com a auto-executoriedade
típica dos atos administrativos.

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CARACTERÍSTICAS
▪ Inércia;
▪ Substituividade;
▪ Público;
▪ Inevitabilidade,
▪ indeclinabilidade
PRINCÍPIOS
▪ Juiz independente (com garantias);
▪ imparcial (não impedido, suspeito ou contaminado);
▪ natural (previamente definido pela CF e pela lei, vedação aos
tribunais de exceção);
COMPETÊNCIA
▪ Do princípio do juiz natural vem a competência.
▪ CF/88 - art. 5º, XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
▪ CF/88 – art. 5º – LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente
▪ CF/88 - LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; Daí se forma o princípio da juiz
natural, que é um dos tripés do processo penal acusatório, ao lado do devido processo
penal e dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
▪ O artigo 5º inciso XXXVII veda a criação de juízos ou tribunais de exceção, ou seja, é
vedada a criação de órgãos jurisdicionais “pós factum”, devendo a competência ser
atribuída a órgãos já existentes, o que nos remete ao artigo 92 da CF traz os órgãos
que compõe o poder judiciário
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COMPETÊNCIA
Obs. O CNJ não possui poder
jurisdicional, possuindo apenas
atividade administrativa.

Obs. 2 O tribunal do júri também é


um órgão jurisdicional, mas não está
no artigo 92 da CF, mas sim no artigo
5º inciso XXXVIII.
Outrossim, o art. 98 da CF
determinou ainda a criação dos
JECRIMs. Ambos só existem nas
justiças comuns estadual e federal.

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COMPETÊNCIA
▪ COMPETÊNCIA: é a medida e o limite do exercício legítimo da
jurisdição.
▪ Embora todos os juízes tenham jurisdição, apenas um terá
competência no caso concreto, o que é fixado a partir de
regras previamente estabelecidas.
▪ Competência, portanto, só pode ser exercida para quem possui
jurisdição, os demais órgãos, que não possuem jurisdição,
possuem atribuições e não competência jurisdicional.

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COMPETÊNCIA
▪ A determinação da competência é fortemente influenciada por um caráter
políticoideológico. A justiça federal foi criada em 1890 para atender aos
interesses da república recém criada. Por isso, só possui competência
quando houver interesse direto da união. É por isso que a nova república
que havia sido instaurada iniciou preocupando-se com os crimes políticos.
Note-se, no entanto, que em 1967, o regime militar trouxe os crimes
políticos para a justiça militar, sob a denominação de crimes contra a
segurança nacional. Em 1988, os crimes políticos foram novamente
trazidos para a justiça federal pela constituição cidadã.
COMPETÊNCIA

▪ Outro exemplo disso, é que quando ocorreu o massacre do


Carandiru, o homicídio praticado pelos militares contra civis
era considerado um crime militar, pois praticado por militares
em serviço e com armas militares. Mas em razão da
repercussão, a lei 9299/96 modificou radicalmente o conceito
de crime militar e a competência da justiça militar, pois a
simples circunstância de ser praticado com arma militar não
basta para o tornar crime militar. E mais, quando o crime
praticado por militares contra civis for doloso contra a vida não
será crime militar, e sim do tribunal do júri.
COMPETÊNCIA
▪ “Ratione materiae”. Em relação à matéria, há a justiça comum
federal ou estadual e a especial, eleitoral ou militar. A justiça
do trabalho não tem competência criminal. Eventuais crimes
praticados em seu âmbito, são de competência da Justiça
Federal (ex: desacato praticado contra juiz do trabalho).
▪ “Ratione personae”. Pessoas que exercem determinada função
possuem a prerrogativa de julgamento por determinados
tribunais.
▪ Ratio loci. É a competência territorial, o que é determinado em
relação ao local em que foi praticada a infração penal. Em
regra, adota-se a teoria do resultado.
▪ Exceção. Nos crimes dolosos contra a vida e no JECRIM adota-
se a teoria da atividade.
COMPETÊNCIA
▪ Competência funcional. Fixada de acordo com a função de cada órgão
judicial num processo. Pode ser por fase no processo. Ex. No júri, há a
competência dos jurados para decidir acerca do fato e sua autoria, e a
competência do juiz presidente, para aplicação da pena. Pode ainda ser
vertical. Ex. Competência recursal dos tribunais. Outros exemplos são a
revisão criminal, o HC e o MS;
▪ Competência absoluta x relativa. Como regra, a competência funcional,
em razão da pessoa e da matéria seria absoluta e em relação ao local, por
prevenção (súmula 706 STF É RELATIVA A NULIDADE
DECORRENTE DA INOBSERVÂNCIA DA COMPETÊNCIA PENAL
POR PREVENÇÃO), seria relativa, mas há críticas a esse entendimento,
pois no processo penal, a competência é sempre garantia, assim, para essa
parcela minoritária da doutrina, toda a incompetência seria absoluta, pois
viola o direito fundamental de julgamento pelo juiz natural.
COMPETÊNCIA ABSOLUTA
▪ É improrrogável e, portanto, sua inobservância gera nulidade
absoluta. Pode ser reconhecida de ofício e arguida a qualquer tempo e
grau de jurisdição. Portanto, mesmo que não alegada através de exceção
de incompetência, deve ser reconhecida.
▪ No entanto, em sede recursal, se reconhecida em recurso exclusivo da
defesa, não é possível que haja “reformatio in pejus indireta”, em
respeito ao art. 617 do CPP: O tribunal, câmara ou turma atenderá nas
suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável,
não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver
apelado da sentença e à súmula 160 do STF.
▪ É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não
arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.
Após o trânsito em julgado, pode ser alegada em sede de HC e revisão
criminal, mas apenas em favor da defesa. De outra banda, a consequência
da incompetência absoluta é a anulação somente dos atos decisórios.
COMPETÊNCIA RELATIVA
▪ É prorrogável e, portanto, pode ser modificada. Sua
inobservância gera apenas nulidade relativa e, por isso, deve
ser arguida em momento oportuno, ou seja, através da
exceção de incompetência, mas isso não impede que o juiz
reconheça a incompetência relativa de ofício, em razão da
autorização do artigo 109 do CPP: Se em qualquer fase do
processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente,
declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação da parte,
prosseguindo-se na forma do artigo anterior.
▪ OBS. A súmula 33 do STJ - A incompetência relativa não pode
ser declarada de ofício.– não se aplica ao processo penal!
1º PASSO – DEFINIÇÃO DE
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA
MATÉRIA
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA
MATÉRIA
▪ Possuem competência criminal, as justiças especiais (militar
estadual e federal e eleitoral) e comum (estadual e federal).
▪ Justiça militar. A militar estadual só julga crimes militares
cometidos por militares. A militar federal julga militares e
civis que cometam eventuais crimes militares.
▪ CF/88 - § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e
julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos
em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil,
cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças;
JURISDIÇÃO ESPECIAL : JUSTIÇA
MILITAR
▪ Há duas espécies de crimes militares: próprios (previstos
apenas como crimes militares) e impróprios (previstos tanto
como crimes militares quanto como comuns).

▪ O STF, no HC 81438 entendeu que nos próprios, a condição de


militar é uma elementar do tipo e, portanto, pode se
comunicar ao civil que atuar em concurso de agentes,
sabendo da condição de militar do cúmplice.

▪ Obs. O crime de abuso de autoridade praticado por militar é


crime comum, pois não existe previsão desse delito como
crime militar, sendo, portanto, julgado pela justiça comum..
▪ Nesse sentido:
▪ STJ Súmula 172: Compete à Justiça Comum processar e julgar
militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em
serviço.
▪ O mesmo ocorre com: Porte Ilegal de Arma de Fogo e Disparo de
Arma de Fogo; Pedofilia por meio da Internet; e vários outros
previstos em leis especiais.

▪ A Súmula 75 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar


e julgar o policial militar por crime de promover ou facilitar a fuga de
preso de Estabelecimento Penal.
▪ Deve ser analisada com ressalvas, pois se aplica apenas se
estabelecimento penal for civil. Se for militar, a competência será da
justiça militar

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JUSTIÇA MILITAR
▪ Pergunta: Quando um militar estadual comete um crime militar em outro
estado da federação, de quem será a competência?
▪ Súmula 78 do STJ: Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de
corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade
federativa
▪ Competência recursal:
▪ No RS, SP e MG é do TJM. Nos demais estados não há TJM, portanto a
competência é do TJ.
art. 125, § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a
Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos
Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por
Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte
mil integrantes.
JUSTIÇA MILITAR
▪ Obs. Havendo conexão entre crime militar e comum, haverá necessariamente
uma cisão.
▪ Nesse sentido, o Art. 79: A conexão e a continência importarão unidade de
processo e julgamento, salvo:
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar
o No mesmo sentido, a súmula 90 do STJ: Compete à Justiça Estadual Militar
processar e julgar o policial militar pela prática do crime militar, e à Comum
pela prática do crime comum simultâneo àquele.
o Obs. 2. O crime de homicídio cometido por militar contra civil é crime
comum e a competência é do Tribunal do Júri.
o Mas e o homicídio praticado por civil contra militar? Depende, se for contra
militar estadual, será crime comum e a competência será do Júri. Se for contra
militar federal, poderá ser crime militar, se o crime for relacionado à função.
JUSTIÇA ELEITORAL
▪ Julga os crimes eleitorais (mas o que são crimes eleitorais? São
aqueles definidos no código eleitoral e aqueles definidos em leis
especiais expressamente definidos como eleitorais), bem como os
que lhe forem conexos.
▪ A justiça do trabalho não tem competência em matéria criminal.
▪ Não sendo das justiças especiais, a competência será da justiça
comum estadual ou federal.
JUSTIÇA DO TRABALHO
▪ (julga HC que envolva matéria da jurisdição do trabalho)
▪ O STF, na ADIN 3.684, ajuizada pela PGR, concedeu liminar, com efeitos ex
tunc (retroativo), para atribuir interpretação conforme a Constituição, aos
incisos I, IV e IX de seu art.114, declarando que, no âmbito da jurisdição da
Justiça do Trabalho, não está incluída competência para processar e julgar
ações penais.
▪ O Juiz que exerce a jurisdição não-penal, onde se inclui o Juiz do Trabalho,
só poderá decretar prisão de natureza civil (depositário infiel, débito
alimentício).
▪ Portanto, não pode decretar prisão em flagrante por crime de
desobediência, por exemplo. Mas quando houver estado de flagrância,
deverá o Juiz dar voz de prisão (que é diferente de decretar) e encaminhar o
preso à autoridade policial para que, se for o caso, lavre o flagrante.
JUSTIÇA POLÍTICA
▪ Assembleias Legislativas: julgam o Governador no crimes de
responsabilidade.
▪ Senado Federal: competência prevista no art. 52, I e II da CF.

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


▪ I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da
mesma natureza conexos com aqueles; (EC 23/99)
▪ II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os
membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do
Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral
da União nos crimes de responsabilidade; ( EC 45/03)
JUSTIÇA COMUM FEDERAL
▪ Compete à JF julgar: CF/ 88
▪ IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de
bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a
competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
▪ V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente;
▪ V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste
artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
▪ VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos
determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-
financeira;
JUSTIÇA COMUM ESTADUAL
▪ A justiça estadual possui competência residual.
▪ Na justiça comum, deve-se verificar se a competência é do
júri ou do JECRIM, do contrário, será de um juízo comum
▪ Em casos de conexão e continência, a competência do júri
prevalece ainda sobre a competência do juiz singular e
JECRIM e o singular sobre o JECRIM.
▪ O juiz presidente do júri ou o juiz singular é que deve aplicar
as medidas despenalizadoras cabíveis
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA
PESSOA
▪ A competência em razão da pessoa é chamada de competência por
prerrogativa de função, que configura hipóteses de competências
originárias dos tribunais. Como a prerrogativa é do cargo ou da função, só
se pode dela cogitar quando o agente está no seu exercício, (para os
parlamentares, inicia-se com a diplomação). Desse modo, não importa se
o agente ocupa o cargo no momento do fato, mas sim no momento em
que está sendo processado. Isso permite que o processo mude de juízo
competente durante seu trâmite.
▪ Em alguns casos, deve-se combinar as competências ratione materiae e
personae. Ex. Prefeito que comete crime eleitoral vai para o TRE. Mas há
alguns casos em que isso não ocorre. Ex. Juiz estadual não sai do TJ e o
Federal não sai do TRF nem mesmo em contravenção, ressalvada, apenas
a competência do TRE para o julgamento de crimes eleitorais. Essa
competência por prerrogativa de foro só pode ser estabelecida por
norma constitucional.
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA
PESSOA
▪ A CF permite que as constituições estaduais estabeleçam essa
prerrogativa, respeitada a simetria à CF. Ex. A CE pode estabelecer essa
prerrogativa ao vice-governador no TJ, pois a CF traz prerrogativa de
foro ao vice-presidente no STF, mas não pode conferi-la a um Delegado
de polícia.
▪ Essa é a competência mais graduada de todas e, portanto, prevalece
sobre outras em caso de conexão e continência.
▪ Prerrogativa x tribunal do Júri: a jurisprudência não é nada pacífica,
pois há entendimento de que prevalece a conexão e ambos são
julgados pelo tribunal togado e outro de que há cisão. Mas se alguém
que praticar crime doloso contra a vida tiver competência por
prerrogativa de foro estabelecido na CE, prevalece o júri. Mas há
entendimento de que isso não se aplica aos deputados estaduais, em
virtude do princípio da simetria;
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA
PESSOA
▪ Princípio da isonomia: ressalte-se que a competência não se
fixa em razão da pessoa, mas em razão da função exercida,
do cargo. É que, de outra forma, estar-se-ia ofendendo o
princípio constitucional da isonomia.
▪ Foro privilegiado x Foro por prerrogativa de função: na
verdade, embora se utilize, com frequência a expressão “foro
privilegiado”, estamos, na verdade, diante de “foro por
prerrogativa de função”, o que é bem diferente, pois que, na
prática, não pode advir desse foro nenhum tipo de benefício.
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA
PESSOA
▪ Competência originária do STF: deputados federais, senadores,
membros do TCU, presidente da república, vice, ministros de estado,
presidente do banco central, AGU, comandantes das forças armadas,
representantes diplomáticos, PGR, ministros do STF e dos tribunais
superiores.
▪ Competência do STJ: membros dos demais tribunais e do MP que
oficiam perante tribunais, salvo o PGR que é julgado pelo STF,
governador, conselheiro do TCE e dos tribunais de contas dos
municípios.
▪ Competência do TRF: juízes federais, do trabalho, juiz auditor militar e
membros do MPU que atuam no primeiro grau. Além de prefeitos,
deputados estaduais e demais autoridades com foro no TJ estabelecido
pela Constituição Estadual quando praticam crimes federais.
▪ Competência do TJ. Juiz de direito e promotor de justiça, prefeitos e
deputados estaduais, além das demais autoridades estabelecidas pela
constituição estadual.
▪ Diplomação no curso do processo: sendo o agente diplomado Deputado
Federal ou Senador no curso do processo, os autos deverão ser
remetidos imediatamente para o STF, que passa a ser o juízo
competente para o julgamento, o mesmo ocorrendo com as demais
funções.
▪ Tempus regit actum: os atos processuais executados antes da
diplomação serão considerados válidos, pois há que se entender que,
na época que foram realizados, a autoridade que os presidiu tinha
competência para tanto.
▪ Súmula 394 do STF: “Cometido o crime durante o exercício funcional,
prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que
o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele
exercício.”
▪ Revogação da Súmula 394 do STF: o STF revogou a súmula 394,
passando a entender que, terminado o mandato ou encerrada a função
dotada de prerrogativa, os autos deveriam ser encaminhados à 1ª
instância, onde o processo deveria prosseguir (Questão de Ordem no
INQ. 687/SP)
▪ Restabelecimento da Súmula 394 do STF: A Lei nº 10.628/2002 tentou restabelecer,
pelo menos parcialmente, o teor da Súmula 394 do STF, ao dar nova redação ao art.
84 do CPP. Dessa forma, segundo a norma, se o crime tivesse relação com o exercício
da função, persistiria a competência especial:
▪ Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do
Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça
dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder
perante eles por crimes comuns e de responsabilidade.
▪ § 1º A competência especial por prerrogativa de função, relativa a atos
administrativos do agente, prevalece ainda que o inquérito ou a ação judicial sejam
iniciados após a cessação do exercício da função pública.
▪ § 2º A ação de improbidade, de que trata a Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, será
proposta perante o tribunal competente para processar e julgar criminalmente o
funcionário ou autoridade na hipótese de prerrogativa de foro em razão do exercício
de função pública, observado o disposto no § 1º.
▪ Inconstitucionalidade: O plenário do STF, em setembro de 2005, entretanto, declarou
inconstitucionais os parágrafos 1º e 2º do novo art. 84 do CPP (Adin 2797, rel. Min.
Sepúlveda Pertence).
RATIONE MATERIAE X RATIONE
PERSONAE :
▪ Existindo conflito entre essas duas competências, o foro por
prerrogativa de função, quando estabelecido expressamente
pela CF, é o que deve prevalecer (mesmo que haja outra
previsão, na própria CF, em razão da matéria).
▪ Mas se o “foro privilegiado” for estabelecido somente pela
Constituição Estadual ou por lei, vale o que determina a CF,
ou seja, não vale o foro por prerrogativa de função.
▪ Exemplo: em caso de crime doloso contra vida praticado por
Deputado Federal, o julgamento cabe ao STF, pois se trata de
competência originária expressa.
▪ Promotores de Justiça e Juízes de Direito: não importa a natureza da infração nem o
local onde o delito tenha sido praticado. Serão julgados pelo Tribunal de Justiça do
Estado onde exercem suas funções.
▪ Deputados Estaduais e “crimes federais”: compete ao TRF processar e julgar deputado
estadual que tenha, no Tribunal de Justiça, o foro por prerrogativa de função, isso se
acusado de crime em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, suas
entidades autárquicas ou empresas públicas (RSTJ 17/134).
▪ Súmula 451 do STF: “A competência especial por prerrogativa de função não se
estende ao crime cometido após a cessação definitiva do exercício funcional.”
▪ Conexão ou continência entre crime doloso contra a vida e outro com “foro
privilegiado”: não haverá reunião dos processos, sendo que cada um dos autores será
julgado perante seu juiz natural.
▪ Foro por prerrogativa de função para Delegados de Polícia: o STJ considerou
inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual do Rio de Janeiro que atribuía
foro especial aos delegados de polícia, já que não há garantia equivalente na
Constituição (STJ, RHC 478/RJ).
▪ Foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos: também no Rio de Janeiro,
em razão de previsão contida na Constituição Estadual, que guarda simetria com a
Constituição Federal, os Defensores Públicos serão julgados, tanto nos crimes comuns
como nos de responsabilidade, pelo TJ/RJ ou seja, gozam de foro pro prerrogativa de
função (STJ, HC 45.604/RJ).

▪ Foro por prerrogativa de função para vereadores: ainda no Rio de Janeiro, em razão
de previsão contida na Constituição Estadual, que guarda simetria com a Constituição
Federal, os Vereadores serão julgados pelo TJ/RJ, quer dizer, também gozam de foro
pro prerrogativa de função (STJ, HC’s 57340, 57.257 e 40388);

▪ Proposição de ação penal após o fim da função: a ação penal poderá ser proposta
mesmo após o término do mandato, já que a condenação não visa, apenas, a
cassação da função, mas, também, a imposição de pena privativa de liberdade,
inabilitação para o exercício da função pública e reparação do dano causado.
3º PASSO: RATIONE LOCI
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO
LOCAL
▪ Verificada a competência em razão da matéria e da pessoa, cabe, por
último, estabelecer a competência em razão do lugar, justamente para
se saber qual o juízo eleitoral, militar, federal ou estadual é dotado de
competência territorial.
▪ Regra geral:
▪ No lugar onde ocorreu o delito: de regra, a competência será
determinada pelo lugar em que se consumar a infração penal. No caso
de tentativa, será determinada pelo lugar em que for praticado o último
ato de execução (art. 70).
▪ Regra subsidiária:
▪ Residência do réu: se o lugar da infração não for conhecido, a
competência será determinada pelo domicílio ou residência do réu (art.
72,caput).. 70.
▪ Casos de exclusiva ação privada: quando tratar-se de ação
penal privada exclusiva, o querelante poderá preferir o foro
de domicílio ou da residência do réu, ainda que seja
conhecido o lugar da infração (art. 73).
▪ Ação penal privada subsidiária da pública: nesse casos, como
o art. 73 menciona exclusiva ação privada, o querelante
deverá propor a ação no local onde ocorreu o delito.
▪ Homicídio: nos crimes de homicídio, quando os atos
executórios forem praticados num local e a consumação se
verificar em outro, o STJ entende ser competente o local da
execução.
DISTRIBUIÇÃO
▪ Estabelecida a competência do foro, faz-se, finalmente, a
distribuição do processo entre os juízes da jurisdição perante
o qual irá correr a ação penal.
▪ Casos em que não haverá distribuição:
a) nos crimes dolosos contra a vida, já que o julgamento fica
afeto ao Tribunal do Júri (órgão jurisdicional especial - art. 74
§1°), a não ser que haja mais de um juízo competente (como
em Fortaleza);
b) Quando, em razão da continência ou conexão, as infrações
devam ser apuradas em processo em que já haja autoridade
judicial prevalente (arts. 76 a 78);
c) quando houver prevenção (art. 83)
a) Incerteza da jurisdição onde ocorreu o delito: quando não
houver certeza onde ocorreu o delito, a competência será
estabelecida pela prevenção entre os juízes das jurisdições
(arts. 70 § 3° e 71).
b) Réu com mais de um endereço: a competência será
estabelecida pela prevenção (art. 72 § 1°).
c) Local da infração desconhecido e réu com endereço ignorado:
se o réu não tiver residência certa ou seu paradeiro for
desconhecido, competente será o juiz que primeiro tomar
conhecimento do fato (art. 72 § 2°).
d) Súmula 706 do STF: É relativa a nulidade decorrente da
inobservância da competência penal por prevenção.
▪ 1ª) Teoria da atividade: lugar do crime é o lugar da ação ou omissão, sendo
irrelevante o resultado.
▪ 2ª) Teoria do resultado: lugar do crime é o local do resultado, independente da ação
ou omissão.
▪ 3ª) Teoria da ubiqüidade: lugar do crime é tanto o da ação ou omissão quanto o do
resultado.
▪ Teoria adotada: Depende do caso.
a) conforme o art. 6° do CP, quando o crime for cometido em território nacional e o
resultado ocorrer em território estrangeiro (crime à distância), será competente tanto o
juiz do local onde se deu a conduta quanto o juiz onde se deu o resultado, adotando-se,
portanto, a teoria da ubiqüidade
b) quando a conduta e o resultado forem operados, ambos, em território nacional, mas
em locais diferentes, , será competente o juiz do local onde se consumou o delito (ou
onde se efetuou o último ato executório, nos casos de crimes tentados), ou seja, aplicase
a teoria do resultado;
c) ALei n° 9.099/95, para os crimes de menor potencial ofensivo, adota-se a teoria da
atividade (art. 63). à Crimes praticados no exterior: art. 88 do CPP.
Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o
juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver
residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República.
o Crimes cometidos a bordo de embarcações: art. 89 do CPP. Art. 89
▪ Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas territoriais da República, ou
nos rios e lagos fronteiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais, em alto-
mar, serão processados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que
tocar a embarcação, após o crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em
que houver tocado.
▪ Crimes cometidos a bordo de aeronaves: art. 90 do CPP. Art. 90. Os crimes praticados
a bordo de aeronave nacional, dentro do espaço aéreo correspondente ao território
brasileiro, ou ao alto-mar, ou a bordo de aeronave estrangeira, dentro do espaço
aéreo correspondente ao território nacional, serão processados e julgados pela justiça
da comarca em cujo território se verificar o pouso após o crime, ou pela da comarca
de onde houver partido a aeronave.
▪ Perpetuatio jurisdictionis: caso haja alteração dos limites da comarca após a
propositura da ação penal, o foro original continuará sendo competente (STJ, RHC
4796/SP).
COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO
OU RESIDÊNCIA DO RÉU
▪ Quando desconhecido o lugar da infração: competente será o
juízo de residência do réu (art. 72, caput).
▪ Réu com mais de um domicílio: fixa-se a competência pela
prevenção (art. 72, §1°). à Réu com residência ignorada: juízo
que primeiro tomar conhecimento (art. 72, §2°).
▪ Ação penal exclusivamente privada: o querelante poderá
escolher como foro competente entre o do lugar onde ocorreu
o delito e o de residência ou domicílio do réu (art. 73).
▪ Obs.:Nas ações privadas subsidiárias, não poderá haver
escolha.

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