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DIREITO PENAL MILITAR

Direito Penal Militar é o ramo especializado do Direito Penal que estabelece as regras
jurídicas vinculadas à proteção das instituições militares e ao cumprimento de sua
destinação constitucional.
O Direito Penal é sempre a “ultima ratio”, decorrência do princípio da subsidiariedade,
assim, também na esfera militar, deve-se fazer distinção entre as condutas, pois não serão
todas tuteladas pelo DPM, algumas condutas serão tratadas apenas na esfera
administrativa, por serem de menor relevância.
Por exemplo, o crime de deserção é um crime que atinge o próprio serviço militar, uma vez
que o sujeito se ausenta sem autorização, e o militar ele tem uma dedicação exclusiva a
sua função; se ausentando por mais de 8 dias, ele se torna um desertor (Art. 187 do CPM)
ou o caso do insubmisso (Art. 183 do CPM) que é aquele que não se apresenta para
incorporação.
Por outro lado, existe uma situação diferente da insubmissão que é o caso do refratário
(Art. 24 e 26 da Lei do Serviço Militar - Lei 4.375/64), que é aquele que não se apresenta
na turma, no momento certo em que deveria se apresentar para o serviço militar e não o
faz, sendo este um Civil.

CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES MILITARES

Crime militar é a conduta que, direta ou indiretamente, atenta contra os bens e interesses
jurídicos das instituições militares (autoridade, dever, serviço, hierarquia, disciplina),
qualquer que seja o agente.
A competência da Justiça Militar Estadual é de processar e julgar os militares dos Estados
nos crimes militares definidos em lei. Na esfera federal, temos a JMU para processar e
julgar os crimes militares definidos em lei. Os civis respondem na esfera Estadual, uma vez
que essa é ratione materiae e ratione personae, não abrangendo os não militares dos
estados e nem os militares das forças armadas.

CRIME PROPRIAMENTE MILITAR

Os crimes propriamente militares são aqueles que tem como bens jurídicos interesses
exclusivos da vida militar, interesses exclusivos para instituição militar (a autoridade, a
disciplina, a hierarquia, o serviço, a função e o dever militar). Ou seja, são os delitos
exclusivos da própria vida militar, são interesses estranhos à vida comum. O sujeito ativo só
pode ser militar da ativa, uma vez que tal qualidade do agente é essencial do tipo.
Autorizam a prisão sem flagrante e sem ordem judicial.
Exemplos: Art. 149, 153, 157, 159, 163, 165, 166, 187 a 192, 194 e 195 a 293, todos do
CPM.

CRIME IMPROPRIAMENTE MILITAR

Os crimes impropriamente militares relacionam-se aos interesses típicos (a autoridade, a


disciplina, a hierarquia, o serviço, a função e o dever militar) com outros bens jurídicos que
são comuns, São crimes previstos tanto no CPM quanto nas leis penais comuns, com igual
ou semelhante definição, e tem como sujeito ativo o militar da ativa ou o civil. Como o bem
jurídico é comum, pode ser praticado por qualquer pessoa ou militar. É um crime militar,
porque está na lei penal militar.
Exemplo: Homicídio, lesão corporal, furto, roubo, extorsão, estupro, delitos que tem um viés
de proteção de interesses comuns (bem jurídicos comuns a vida civil), mas por serem
praticados por militares ou lugares de proteção administrativa militar são chamados de
crimes impropriamente militares.

APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR

A aplicação da lei penal militar, assim como nos demais ramos do direito, rege-se pelo
princípio da legalidade, desaguando nos entendimentos da reserva legal e da
anterioridade, previsto no art. 5º, XXXIX da CF/88, bem como no art. 1º do CPM, vejamos:
Art. 5º, XXXIX, CF/88 - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;
Art. 1º, CPM - Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal.
Salienta-se que no Direito Penal o princípio da legalidade abrange tanto os crimes quanto
as contravenções penais. Todavia, na legislação penal militar não se tem contravenção
penal; abrange, portanto, apenas os crimes. Em relação à sanção penal, estão abrangidas
as penas e as medidas de segurança.
Essa garantia tem por objetivo histórico evitar que alguém seja preso ou privado de seus
bens pela vontade singular do soberano. Resulta na obrigação de existência prévia de lei
penal incriminadora para que o cidadão possa ser processado e condenado por um crime
(anterioridade) e que apenas lei em sentido estrito (emanada pelo legislativo) seja
utilizada para criar crimes e cominar penas (reserva legal).
Ademais, temos como consequência de destaque a proibição da utilização de analogias
em prejuízo do acusado.

LEI PENAL NO TEMPO

O Direito Penal Militar segue o princípio geral do “tempus regit actum” (o tempo rege o
ato). Aplica-se a lei penal em vigor quando foi praticado o fato e, sobrevindo nova lei,
somente retroagirá para beneficiar o acusado (art. 2º, CPM e art. 5º XL, CF/88).
Art. 5º, XL, CF/88 - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
Art. 2º, caput, CPM - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.

A Lei penal militar não retroage para A Lei penal militar retroage para
prejudicar o réu. Irretroatividade da lei beneficiar o réu. Retroatividade benéfica.
penal em prejuízo.

Tendo em vista que as respectivas premissas básicas, genéricas, acabam desaguando em


algumas situações conflitantes, se faz necessário uma resposta específica, as quais
resultam nas seguintes possibilidades:

O que acontece quando:


Uma lei penal militar descriminaliza uma conduta?
Uma lei penal militar é mais benéfica?
Uma lei penal militar é mais gravosa ou cria um novo crime?
Uma lei penal intermediária é considerada mais benéfica?
Quando uma determinada lei ainda está em vacatio legis?

Todas as situações elencadas são exemplos de Conflitos da lei penal no TEMPO, ou seja,
conflitos que decorrem da aplicação do princípio geral de que o tempo rege o ato.

CONFLITOS DA LEI PENAL MILITAR NO TEMPO


ABOLITIO CRIMINIS
Lei nova descriminaliza uma conduta que antes era crime.
Art. 5º, XXXIX, CF/88 - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal.
Art. 2º, caput, CPM - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.
O primeiro dos conflitos trata da chamada “abolitio criminis”, ou seja, o advento da lei
penal militar que descriminaliza uma conduta que antes era considerada típica.
A abolitio não afasta a existência do crime já cometido, mas extingue a sua punibilidade,
(art. 123, III do CPM) e afasta todos os efeitos penais (principais e secundários) da
sentença condenatória, mesmo com trânsito em julgado.
Não confundir abolitio com anistia, pois anistia (Art. 123 II, CPM) é amnésia, o
esquecimento jurídico, mas não existe uma descriminalização do comportamento.

Extingue-se a punibilidade do crime cometido anteriormente à revogação do tipo penal.


A conduta é descriminalizada do momento da abolitio criminis em diante.
Extingue-se os efeitos penais, principais e secundários, de sentença
preexistente (mesmo que transitado em julgado)
Não há exclusão dos efeitos civis.

Antes do trânsito em julgado


Extingue a punibilidade e impede os efeitos penais e extrapenais da sentença.
Após o trânsito em julgado
Extingue a punibilidade em âmbito penal, mas os efeitos extrapenais serão produzidos.

NOVATIO LEGIS IN MELLIUS


Retroatividade da lei mais benigna.
Art. 5º, XL, CF/88 - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
Art. 2º, §1º, CPM - A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se
retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível.
A “novatio legis in mellius”, no âmbito do DPM também segue o mesmo padrão do DP, ou
seja, ocorre retroatividade em benefício do acusado.
É também conhecida como retroatividade da lei mais benigna nada mais é do que a
vigência de uma lei mais benigna, de algum modo, à situação do réu.
A sentença com trânsito em julgado é alcançada pela lei mais benéfica.
A lei penal mais benéfica pode ser aplicada imediatamente, mesmo durante o período de
“vacatio legis”.
Abolitio criminis Determinada conduta
deixa de ser crime. Exemplo: revogação Novatio legis in mellius A conduta sendo
do tipo penal do art. 204 do CPM. crime, mas ocorre mudança benéfica à
situação do acusado. Exemplo: redução
da pena prevista para o art. 204 do CPM.

APURAÇÃO DA MAIOR BENIGNIDADE


Art. 2º, §2º, CPM - Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior
devem ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis
ao fato.
A benignidade da lei nova deve sempre ser aferida no caso concreto, cabendo
exclusivamente ao juiz comparar as leis em confronto de per si e decidir qual é a mais
benéfica.
O CPM veda a combinação de leis. Se a lei é boa ou não, devem ser feitas de forma
separadas, os sistemas não podem se misturar. Assim, a apuração da lei penal benéfica
deve ser feita separadamente.

NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA E NOVATIO LEGIS IN PEJUS


Art. 5º, XL, CF/88 - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.

Novatio legis incriminadora Novatio legis in pejus


Conduta antes lícita, passa a ser A conduta continua sendo crime, mas
considerada crime. ocorre mudança que piora a situação
É o oposto da abolitio criminis do acusado.
É o oposto da novatio legis in mellius

Em ambos os casos, veja que a mudança da lei penal militar irá afetar a situação do
indivíduo de uma forma negativa, prejudicial.
Dessa forma, diante de “novatio legis incriminadora” e “novatio legis in pejus”, ocorrerá a
IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL.

MEDIDAS DE SEGURANÇA
Art. 5º, XL, CF/88 - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
Art. 3º, caput, CPM - As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da
sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução.
O CPM estatui que as medidas de segurança serão regidas pela lei vigente no momento da
prolação da sentença, mas irá prevalecer a lei da execução, caso seja diversa.
Todavia, tal preceito deve ser interpretado à luz da CF/88, pois a lei penal posterior somente
se aplica aos fatos anteriores a sua vigência se trouxer benefícios ao réu.

LEIS TEMPORÁRIAS E LEIS EXCEPCIONAIS


Art. 4º, caput, CPM - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado
durante sua vigência.
Lei temporária é aquela que traz em seu texto um período prefixado de duração,
delimitando de antemão o lapso temporal em que estará em vigor.
Lei excepcional é aquela que tem vigência enquanto persistirem determinadas
circunstâncias excepcionais, pois objetiva atender as situações extraordinárias de
anormalidade social ou de emergência.

TEMPO DO CRIME
Art. 5º, caput, CPM - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,
ainda que outro seja o resultado.
O CPM adotou o mesmo critério do CP, qual seja: TEORIA DA ATIVIDADE. Assim, o crime
será considerado praticado no momento da ação ou da omissão, independente da
ocorrência do resultado.

LUGAR DO CRIME
Art. 6º, caput, CPM - Considera-se praticado o fato, no lugar em que se desenvolveu a
atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob forma de participação, bem como
onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato
considera-se praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida.
DIFERENTEMENTE do CP, o CPM adota duas teorias diferentes para determinar o lugar do
crime, dependendo da classificação do crime praticado.
CRIME OMISSIVO, adota-se a Teoria da ação ou atividade, pois “considera-se o lugar do
crime aquele em que deveria realizar-se a ação omitida”.
CRIME COMISSIVO, adota-se a Teoria da ubiquidade ou mista ou unitária, pois
“considera-se praticado o fato no lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa no
todo ou em parte e ainda que sob forma de participação bem como onde se produziu ou
deveria produzir-se o resultado”.

CONFLITOS DA LEI PENAL MILITAR NO ESPAÇO


Art. 7º, caput, CPM - Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional, ao crime, cometido, no todo ou em parte no território
nacional, ou fora dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha
sido julgado pela justiça estrangeira.
§1º - Para os efeitos da lei penal militar consideram-se como extensão do território nacional
as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militar ou
militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente, ainda que
de propriedade privada.
§2º - É também aplicável a lei penal militar ao crime praticado a bordo de aeronaves ou
navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à administração militar, e o crime atente
contra as instituições militares.
§3º - Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio toda embarcação sob
comando militar.
O Direito Penal Militar adota a territorialidade e a extraterritorialidade incondicionada
igualmente como regras de aplicação da lei penal no espaço.
Quando o crime militar é praticado no todo ou em parte, dentro do território nacional,
dizemos que se aplica o princípio da territorialidade.
Aplica-se a lei penal militar ao crime cometido fora do território nacional, ainda que, neste
caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira.
Justifica-se pela própria natureza da atividade militar e pelos bens jurídicos tutelados,
prevalecendo o Princípio da soberania nacional (defesa da pátria), através da aplicação
irrestrita do princípio da extraterritorialidade.

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