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EMENTA
EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE – PRELIMINAR
SUSCITADA DE OFÍCIO – NÃO CABIMENTO DE EMBARGOS
INFRINGENTES EM CORREIÇÃO PARCIAL – DECISÃO
RELATIVA AO PROCEDIMENTO, E NÃO O MÉRITO DA CAUSA –
AUSÊNCIA DE CARÁTER DEFINITIVO – RECURSO NÃO
CONHECIDO (vencido).
MÉRITO – DISCUSSÃO SOBRE RITO A SER ADOTADO PARA O
PROCESSAMENTO E O JULGAMENTO DOS CRIMES TRAZIDOS
À COMPETÊNCIA DESTA JUSTIÇA MILITAR, A PARTIR DAS
MODIFICAÇÕES INSERIDAS NO ART. 9º DO CÓDIGO PENAL
MILITAR PELA LEI N. 13.491/2017 – CRIMES DENOMINADOS
MILITARES – OBSERVÂNCIA DE REGRAMENTO PRÓPRIO DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR – ATO TUMULTUÁRIO
RECONHECIDO EM VIRTUDE DE ADOÇÃO DE
PROCEDIMENTOS PRÓPRIOS DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL – EMBARGOS PROVIDOS.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, sendo embargante
Renne Flávio Nunes Caetano e embargado o Ministério Público do Estado
de Minas, acordam os juízes do Tribunal Pleno, por maioria, em passar
pela preliminar levantada pelo juiz Jadir Silva de não recebimento dos
embargos, por não serem cabíveis. Vencido o juiz Jadir Silva, que ficou na
preliminar.
No mérito, por maioria de 5 votos a 2, acordam em dar provimento
ao recurso, a fim de declarar a competência do Conselho de Justiça para
julgar o feito, aplicando-se o rito previsto no Código de Processo Penal
Militar, observado o rito da legislação específica.
Vencidos os juízes Rúbio Paulino Coelho e Fernando Armando
Ribeiro, que declararam a competência do Conselho de Justiça e
determinaram o prosseguimento do feito nos termos do Código de
Processo Penal brasileiro.
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RELATÓRIO
Trata-se de embargos infringentes e de nulidade, opostos nos
termos do art. 538 e seguintes do CPPM e art. 246, inciso I, do Regimento
Interno do TJMMG, contra decisão da Primeira Câmara deste Egrégio
Tribunal, publicada no Diário Judiciário Militar Eletrônico – DJME, de
27/02/19, onde por maioria, acordaram os juízes, nos termos do voto do
juiz relator para o acórdão Fernando Armando Ribeiro, em negar
provimento ao recurso, mantendo a decisão da juíza de 1º grau de
jurisdição.
Ficou vencido o juiz Osmar Duarte Marcelino, que deu provimento à
correição parcial, para determinar a aplicação dos procedimentos
previstos no CPPM à ação penal de origem, desde o seu ingresso nesta
justiça especializada, anulando-se todos os atos praticados sob o manto
do Código de Processo Penal comum.
Sustenta a Defensora Pública que a Lei n. 13.491/2017, que alterou
a redação do art. 9º do CPPM, aumentou o rol de crimes militares e
igualmente ampliou a competência da Justiça Militar, trazendo uma nova
categoria de crimes militares, qual seja, a dos crimes militares por
extensão.
Afirma a douta Defensora que a alteração da competência
promovida pela referida Lei atrai a incidência da norma processual penal
militar, por considerar necessário o respeito aos princípios da
especificidade e da segurança jurídica.
Desta forma, o embargante pugna para que seja determinada a
aplicação do rito previsto no CPPM nos autos de referência e que seja
decretada a nulidade de todos os atos que se realizaram no procedimento
diverso daquele determinado pela legislação própria da justiça castrense.
Em despacho de fl. 63, presentes os requisitos de admissibilidade,
nos termos do art. 251 do Regimento Interno deste TJMMG, foi
determinada a abertura de “vista” ao douto Procurador de Justiça, no
prazo de cinco dias, para a apresentação de suas contrarrazões.
O e. Procurador de Justiça ofertou o seu parecer às fls. 64/64v,
pugnando pelo não provimento do presente recurso.
É o sucinto relatório.
VOTOS
JUIZ JADIR SILVA, REVISOR E RELATOR PARA O
ACÓRDÃO
Eméritos julgadores, suscito, aqui, uma preliminar, de ofício,
referente ao descabimento dos embargos infringentes contra decisão não
unânime proferida nos autos de correição parcial.
Pois bem.
A previsão do recurso de embargos infringentes está contida no art.
538 do Código de Processo Penal Militar (CPPM). Transcrevo:
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Cabimento e modalidade
Art. 538. O Ministério Público e o réu poderão opor embargos de
nulidade, infringentes do julgado e de declaração, às sentenças finais
proferidas pelo Superior Tribunal Militar.
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MÉRITO
Os presentes embargos se baseiam nos argumentos contidos no
voto vencido do juiz Osmar Duarte Marcelino, que, na visão da defesa,
trouxe uma nova perspectiva para reforçar a ilegalidade perpetrada pela
Juíza de Direito Titular da 1ª Auditoria de Justiça Militar Estadual (AJME),
na aplicação de procedimento diverso daquele previsto no Código de
Processo Penal Militar (CPPM).
A Lei n. 13.491, publicada em 13 de outubro de 2017, trouxe
significativa ampliação da competência criminal na Justiça Militar estadual
e provocou profundas modificações na redação do artigo 9º, inciso II, do
Código Penal Militar (CPM), o qual define os crimes militares, bem como
sua competência para julgamento. Com isso, estudiosos e operadores do
direito militar descontentes com esta inovação tentam insistentemente
macular a norma penal com a pecha de inconstitucionalidade.
O Supremo Tribunal Federal (STF) já recebeu diversas ações diretas
de inconstitucionalidade em face da nova lei, contudo a Constituição
Federal (CF) define, nos artigos 5º, LXI, 124 e 125, § 4º, que o crime
militar é aquele definido por lei.
Se considerarmos que inexiste o deferimento de qualquer medida
cautelar nas ações diretas de inconstitucionalidade que tramitam no STF
que suspenda os efeitos da Lei n. 13.491/2017, fica fácil concluir que a
partir de 13 de outubro de 2017, todas as ações penais, ainda não
sentenciadas em primeiro grau de jurisdição da justiça comum nas quais o
autor seja militar estadual, independentemente do delito praticado, desde
que atendidas as condições do art. 9º, inciso II, do CPM, deverão ser
imediatamente remetidas a esta justiça especializada, sob pena de
nulidade dos eventuais atos judiciais decisórios praticados, por
incompetência absoluta do Juízo comum. Temos recebido dezenas de
processos oriundos de diversas comarcas do Estado de Minas Gerais
demonstrando que a competência trazida pela nova lei está mais do que
consolidada.
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É fácil perceber que não se trata de crime militar que não é dirigido
contra civil, que se encontra na competência constitucional expressa
definida do Conselho Permanente de Justiça.
Por tais razões, dou provimento ao presente recurso, para anular as
decisões monocráticas proferidas pela juíza titular da 3ª AJME.
É como voto.
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