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AO JUÍZO DE DIREITO DA COMARCA DE ARAPIRACA/AL.

PROCESSO Nº 0700000-00.0000
Miguel Garza, brasileiro, casado, professor, portador da cédula de identidade nº xxxx,
inscrito no CPF nº xxx, residente e domiciliado na Rua Coronel Lucena, nº 666, Bairro
Luiz Gonzaga de Carvalho, Arapicarca - AL, vem, por intermédio do sua advogada
infra-assinado aos autos, com endereço profissional situado a Rua Leonardo Bonfim,
apresentar ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS, pelas razões de fato e de direito a
seguir:

i. DOS FATOS

Consta na denúncia ofertada pelo Parquet, que no dia 23/03/2023 por volta das
17h30, na Rua José Lopes da Silva, Bairro Centros, Arapiraca - AL, havia,
supostamente, praticado o crime de TRÁFICO DE DROGAS - Art. 33, da Lei N.
11.343/2006, por estar transportando, trazendo consigo drogas sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Relata ainda a denúncia que, no dia supramencionado, policiais militares estavam


realizando patrulhamento de rotina, quando avistaram o indivíduo, próximo ao
mercado público, momento em que este se assustou com a presença da guarnição e
tentou se desfazer de algumas sacolas nas quais estavam em sua posse.
Diante de tal atitude, os policiais efetuaram a abordagem e busca pessoa no
denunciado, onde encontraram dentro das sacolas algumas pedras de crack, em
quantidade pequena.
Em seu interrogatório policial, o réu disse que “é apenas usuário, sendo que faz uso de
entorpecente há mais de dois anos. Disse que tinha ido ao mercado público e,
consequente, pegou droga para o uso, passo em que fora abordado. Afirmou que
estava com nove pedras de crack e que que não ia vender a droga apreendida, visto
que era para o seu consumo”.
Vale ressaltar Exa. que a Parquet se utiliza como argumento para proferir a denúncia a
natureza, forma de acondicionamento que a quantidade de drogas apreendidas é
muito pequena para caracterizar o crime de tráfico.
Excelência, os fatos narrados na Denúncia não condizem com a realidade fática, pois, o
denunciado é apenas usuário, não podendo responder criminalmente por tráfico de
drogas, tendo em vista quantidade que foi encontrado consigo, o que de pronto
caracteriza como usuário de substâncias químicas, conforme estabelece o art. 28 da lei
nº 11.343/06.
Eis o breve relato.
i. DO DIREITO
DA NECESSÁRIA DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS PARA O
DE USO PRÓPRIO
Excelência, o Ministério Público denunciou o Sr. Miguel Garza apenas por transportar
consigo drogas, o que não configura, portanto, o delito de tráfico, pois, a quantidade
apreendida em posse do denunciado é insuficiente para a caracterização do crime,
mas em verdade ser para uso próprio, conforme prenomina o art. 28 da lei nº
11.343/06 e conforme informa a própria Denúncia.
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
O DENUNCIADO É MERO USUÁRIO, NÃO PODENDO RESPONDER
CRIMINALMENTE POR TRÁFICO, POIS, A QUANTIDADE DE DROGAS APREENDIDA
CONSIGO É POUCO E ERA PARA USO PRÓPRIO.
Excelência, destaca-se, que estamos diante de uma emendatio libelli, pois ao narrar
os fatos e descrever a denúncia, resta evidenciado claramente que o MP narra como se
fosse o crime do art. 28 da lei de drogas, porém, tipifica pela condenação no art. 33
(tráfico).
O Art. 383 do CPP, diz que:
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa,
poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de
aplicar pena mais grave.
Portanto, Excelência, percebe-se que a tipificação penal necessita nova classificação,
pois, o denunciado não praticou o delito de tráfico de drogas, e sim inferiu no art. 28
da lei nº 11.343/06, por ser meramente um usuário e não um traficante de drogas.
Ademais, segundo os depoimentos dos policiais militares no inquérito policial, não há
qualquer elemento que evidencie a prática do comércio de drogas, uma vez que não
houve flagrante de venda, detenção de usuários, apreensão de objetos destinado à
preparação, embalagem e pesagem da droga, entre outros que possam caracterizar o
tráfico de drogas, NÃO HOUVE.
Em verdade, como informa a peça acusatória e os depoimentos pessoais dos militares
no inquérito, o acusado tinha ido ao mercado público e, consequente, pegou droga
para o uso, passo em que fora abordado pela composição policial por supostamente
perceberem que ele tentou se desfazer da sacola plástica.
A propósito, extrai-se do termo de depoimento do policial militar Nathaniel Almeida,
na condição de condutor do flagrante (fl. 10):
Que estava em patrulhamento de rotina nas proximidades do Mercado Público, sendo
que o referido local é conhecido pela ocorrência de tráfico de drogas. Disse que
avistaram um homem, momento que, ao perceberem a presença da guarnição, este
esboçou certo nervosismo. Ademais que o homem jogou uma sacola plástica e que, ao
realizar uma busca no indivíduo, fora encontrada uma quantidade de entorpecente.
Disse ainda que o motivo da abordagem fora em razão de atitude suspeita”.
Dessa forma, considerando o depoimento do aludido policial militar, não há, nem de
longe, qualquer importe fático que conduza à figura do tráfico de drogas ilícitas, ao
contrário do que aduz a denúncia do Parquet.
Ressalta-se que, a peça acusatória destaca que o denunciado transportava “pequena”
quantidade de drogas, o que, em verdade, não tem o condão de justificar a condenação
pelo crime de tráfico de drogas, mormente pelo que dispõe o art. 28, § 2º, da Lei n.
11.343/2006.
Art. 28 [...]
§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à
natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.
Portanto, Excelência, não tem um indicio sequer, segundo todos os depoimentos
colhidos, que os policiais tenham visto o acusado efetuando a venda das pedras de
crack, caindo por terra a tipificação no art. 33 da lei nº 11.343/06 (tráfico de drogas).
Corroborando com o tema e nesta ordem de entendimentos, o Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará vem entendendo pela desclassificação quando for apreendida pouca
quantidade de drogas com o denunciado, ora vemos:
APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS. PLEITO DE DESCLASSIFICAÇÃO DE
TRÁFICO DE DROGAS PARA USO PRÓPRIO. VIABILIDADE. ACERVO PROBATÓRIO
INSUFICIENTE PARA SE CONCLUIR QUE A DROGA TINHA DESTINAÇÃO
MERCANTIL. POSSIBILIDADE DE PORTE PARA CONSUMO PRÓPRIO. IN DUBIO
PRO REO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1 - No crime de tráfico de drogas, a
existência de meros indícios não autoriza o decreto condenatório, devendo
estar comprovada, de forma segura e firme, a narco traficância exercida pelo
acusado. As circunstâncias indicam a possibilidade de se reservar ao consumo
do próprio do réu, impondo-se a desclassificação do delito de tráfico para o de
uso de substância entorpecente. (art. 28, Lei 11.343/06). Aplicação do princípio in
dubio pro reo. 2 - A Lei Antidrogas não mais prevê a aplicação de pena privativa de
liberdade ao condenado no art. 28 da Lei 11.343/06, impondo unicamente medidas
restritivas de direitos de advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de
serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo. O parágrafo 3º do citado dispositivo legal, por seu turno, vaticina que as
penas previstas nos incisos II e III do caput, (prestação de serviços à comunidade e
medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo), serão
aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses. 3 - Nesse contexto, a aplicação de
sanção ao recorrente pela prática da infração do art. 28 da Lei 11.343/06 não cabe a
este Tribunal, pois se trata de delito de menor potencial ofensivo (arts. 60 e 61 da Lei
9.099/90), que conclama o encaminhamento do feito ao Juizado Especial, caso
instalado na comarca de origem, mas se não, ao juízo processante para efeito de
aplicação dos institutos da lei regente, com a advertência de que eventual tempo de
prisão preventiva deve ser considerado. 4 - Recurso conhecido e provido. ACÓRDÃO:
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de
Justiça do Estado do Ceará, em dissonância do parecer da Procuradoria-Geral de
Justiça, a unanimidade, em conhecer e dar provimento ao recurso da defesa, nos
termos do voto da eminente relatora. Fortaleza, de de 2022. DESEMBARGADORA
LÍGIA ANDRADE DE ALENCAR MAGALHÃES Relatora
APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS. AUSÊNCIA DE PROVAS DA
TRAFICÂNCIA. SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE DESTINADA AO CONSUMO
PESSOAL DO APELANTE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO.
Desclassificação do crime de tráfico de drogas para o delito de uso de substância
entorpecente. AINDA PREVALECE NO STJ O ENTENDIMENTO SEGUNDO O QUAL O
PORTE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE PARA CONSUMO PRÓPRIO (ART. 28 DA
LEI 11.343/2006) FOI APENAS DESPENALIZADO, MAS NÃO DESCRIMINALIZADO.
RECURSO PROVIDO. EXTINÇÃO, DE OFÍCIO, Da punibilidade do Recorrente, tendo
em vista a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva, em sua modalidade
retroativa. 1. O arcabouço probatório aponta que o Apelante era usuário de drogas,
não evidenciando, todavia, que o Recorrente traficava substâncias entorpecentes,
mesmo porque, embora o art. 33 da Lei 11.343/2006 seja um tipo penal misto
alternativo, as condutas previstas no referido dispositivo legal devem ter por escopo o
tráfico de drogas, cabendo destacar que, se a droga for para o consumo pessoal do
agente, restará caracterizado o crime previsto no art. 28 da Lei 11.343/2006.
ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 3ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Estado do Ceará em dar provimento à Apelação Criminal e, de
ofício, declarar extinta a punibilidade do Apelante, tendo em vista a ocorrência da
prescrição da pretensão punitiva, em sua modalidade retroativa, nos termos do voto
do Relator. Fortaleza, 12 de abril de 2022. DESEMBARGADOR HENRIQUE JORGE
HOLANDA SILVEIRA Relator
Nesse diapasão, denota-se que os elementos de convicção de que dispõe o caderno
processual mostram-se frágeis para atestar a prática de tráfico de drogas, conduzindo-
se para a hipótese de que o Acusado se enquadra na figura do usuário, na estreita
ordem delimitada no art. 28 da Lei n. 11.343/2006.
Portanto, Excelência, REQUER a desclassificação e absolvição do denunciado no crime
tipificado no art. 33 (tráfico de drogas) e a classificação para o de uso próprio (art. 28
da lei nº 11.343/06) cujo pena é uma advertência sobre os efeitos das drogas,
prestação de serviços à comunidade ou medida educativa de comparecimento à
programa ou curso educativo.
DOS BONS ANTECEDENTES, ENDEREÇO CERTO E EMPREGO FIXO E COM CURSOS
DE FORMAÇÃO EM VIGILÂNCIA E SEGURANÇA.
De acordo com o que consta nos autos, o acusado não possui antecedentes criminais,
conforme certidão as fls. 33 e 34 e nada consta da Justiça Federal e Estadual anexo a
esta defesa, além de sempre trabalhar como professor, conforme declarações feitas
em sede policial, as fls. 12, e que, portanto, trata-se de pessoa íntegra, de bons
antecedentes e que jamais respondeu a qualquer processo crime.
Além disso, possui ainda endereço certo na Rua Coronel Lucena, onde reside com sua
família e trabalha como PROFESSOR regularmente inscrito junto a Prefeitura de
Arapiraca - AL, sendo professor de Artes na Escola Municipal Joanita de Melo,
conforme comprovantes em anexo.
As razões do fato em si serão analisadas oportunamente, no devido processo legal, não
cabendo, neste momento, um julgamento prévio que comprometa sua inocência,
conforme precedentes sobre o tema:
EMENTA: HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO E FURTO QUALIFICADO TENTADO.
PRISÃO PREVENTIVA. SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS
MENOS GRAVOSAS. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA.
PACIENTE PRIMÁRIO, DE BONS ANTECEDENTES E COM RESIDÊNCIA FIXA.
ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. - A prisão preventiva é medida excepcional
que deve ser decretada somente quando não for possível sua substituição por
cautelares alternativas menos gravosas, desde que presentes os seus requisitos
autorizadores e mediante decisão judicial fundamentada (§ 6º, artigo 282, CPP)- No
caso, considerando a ausência de violência ou grave ameaça e, ainda, as
condições pessoais favoráveis do paciente (primariedade, bons antecedentes e
residência fixa), a substituição da prisão por medidas diversas mais brandas
revela-se suficiente para os fins acautelatórios almejados. (TJ-MG - HC:
XXXXX80115032000 MG, Relator: Renato Martins Jacob, Data de Julgamento:
15/03/2018, Data de Publicação: 26/03/2018, #73417246)
Neste sentido, Julio Fabbrini Mirabete em sua obra, leciona:
"Como, em princípio, ninguém deve ser recolhido à prisão senão após a sentença
condenatória transitada em julgado, procura-se estabelecer institutos e medidas que
assegurem o desenvolvimento regular do processo com a presença do acusado sem
sacrifício de sua liberdade, deixando a custódia provisória apenas para as hipóteses
de absoluta necessidade." (Código De Processo Penal Interpretado, 8ª edição, pág.
670)
À vista do exposto, requer-se a consideração de todos os argumentos acima com o
deferimento do presente pedido.
DO STANDARD PROBATÓRIO E A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
Um decreto condenatório deve estar fundamentado sobre uma prova forte, ou seja,
deve ser forte o suficiente que alicerce uma conclusão judicial “para além de uma
dúvida razoável” (“beyond a reasonable doubt”, para as matrizes angloamericanas).
Este é o padrão, o nível mínimo a atingir, enfim, o “standard” da prova capaz de
legitimar a relativização do princípio constitucional do estado de inocência (art. 5º,
LVII da CF/1988) e, portanto, legitimar uma sentença condenatória.
No limite, pode-se conectar a invocada noção ao princípio do “in dubio pro reo”,
segundo o qual, pairando dúvida sobre a hipótese acusatória, há que se reconhecer a
inocência do imputado, notadamente em função da contenção dos danos potenciais
(no aspecto individual, do cidadão, e institucional-político, para a sociedade) advindos
de uma condenação indevida ou injusta.
Como já afirmou o próprio STF:
“A presunção de inocência, princípio cardeal no processo criminal, é tanto uma regra
de prova como um escudo contra a punição prematura. Como regra de prova, a
formulação mais precisa é o standard anglo-saxônico no sentido de que a
responsabilidade criminal deve ser provada acima de qualquer dúvida razoável
(“proof beyond a reasonable doubt) e que foi consagrado no art. 66, item 3, do
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. (AP 580, Rel. Min. Rosa Weber,
Primeira Turma, julgado em 13/12/2016).”
A relação entre o Princípio do In Dubio Pro Reo e a prova além da dúvida razoável é
esclarecida de forma bastante satisfatória nas lições do Doutrinador Aury Lopes
Junior, em sua obra Direito Processual Penal (pag. 397, 2020), quando estabelece que:
“E no Brasil, existe um standard probatório? Podemos trabalhar com o além da dúvida
razoável‟?
Essa é uma questão interessante e normalmente não enfrentada. Pensamos que, ao
consagrar constitucional e convencionalmente a presunção de inocência, fez o
legislador uma escolha de política processual importante. A presunção de inocência -
[...] - é concebida como norma (ou regra) de tratamento, norma probatória e norma de
juízo, na classificação de ZANOIDE DE MORAES.
O in dubio pro reo é uma manifestação da presunção de inocência enquanto regra
probatória e também como regra para o juiz, no sentido de que não só não incumbe
ao réu nenhuma carga probatória, mas também no sentido de que para condená-
lo é preciso prova robusta e que supere a dúvida razoável. Na dúvida, a absolvição
se impõe.”
Sendo assim, Excelência, percebe-se que o constituinte originário, ao consagrar os
princípios da presunção de inocência e do in dubio pro reo, “sinalizaram claramente
a adoção do standard probatório de „além da dúvida razoável‟” (Lopes, 2020, p.
398), ou seja, somente quando não houver dúvida razoável, os julgadores poderão
proferir sentença condenatória.
E convenhamos, Excelência, com todo o respeito a peça acusatoria apresentado pelo
membro do Ministério Público, em nenhum momento ficou comprovado, para além
da dúvida razoável, que o Réu Miguel Garza cometeu os crimes que estão sendo
processados nesta Ação Penal.
DA TRANSAÇÃO PENAL
O direito a concessão da transação penal ao denunciado está assegurado no parágrafo
único do art. 60 e no art. 76 da lei nº 9.099/95, onde diz que:
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos,
tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais
de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri,
decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os
institutos da transação penal e da composição dos danos civis.
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor
a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na
proposta.
Inicialmente, ao se falar em transação penal, cabe ao Ministério Público fazer a
proposta para tal benefício ao denunciado, tendo em vista se tratar de crime de menor
potencial ofensivo.
A transação penal é conceituada como um instituto do Direito Processual Penal onde
permite a aplicação de uma solução rápida, célere e satisfatória ao conflito, já que se
trata de um acordo proposto pelo Ministério Público e aceito pelo acusado, nas
infrações de menor potencial ofensivo, como é o caso em tela.
Com isso, a concessão da transação penal evita o processo e todas as consequências
advindas do mesmo, dando celeridade e um julgamento justo ao denunciado, tendo
em vista que o mesmo não poderá ser julgado e condenado por um crime cujo qual
não cometeu.
Percebe-se que, o único crime praticado pelo denunciado foi o de usar drogas, cujo
pena não cabe prisão, visto que o crime é ínfimo e o acordo beneficia ambas as partes.
Portanto, Excelência, o art. 76 da Lei 9.099/95 é bem claro ao dizer que o Ministério
Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas,
que evidencia a transação penal.
Sendo assim, o Ministério Público, na incidência de um crime de menor potencial
ofensivo possui a faculdade de dispor da ação penal, respeitadas as condições
previstas em lei, propondo ao infrator a aplicação de pena não privativa de liberdade,
sem denúncia e sem instauração de processo.
Entretanto, percebe-se que o Parquet não propôs ao infrator a concessão da transação
penal e o denunciou no incurso das penas tipificada no art. 33 da lei nº 11.343/06.
Porém, o entendimento majoritário da doutrina é de que a proposição da Transação
Penal não se trata de prerrogativa do Ministério Público, dependendo da
discricionariedade do Parquet, mas sim de que, preenchidos todos os requisitos por
parte do infrator para fazer jus à aplicação do instituto, aquele tem o dever da
proposição do instituto.
Leciona Fernando da Costa Tourinho Filho que:
“Uma vez satisfeitas as condições objetivas e subjetivas para que se faça a transação,
aquele poderá converter-se e deverá, surgindo para o autor do fato um direito a ser
necessariamente satisfeito. O Promotor não tem a liberdade de optar entre ofertar a
denúncia e propor simples multa ou pena restritiva de direitos. Não se trata de
discricionariedade. Formular ou não a proposta não fica à sua discrição. Ele é obrigado
a formulá-la. E esse deverá é da Instituição. Nem teria sentido que a proposta ficasse
subordinada ao bel-prazer, à vontade, às vezes caprichosa e frívola, do Ministério
Público.” (TOURINHO FILHO, 2011, p. 92).
Logo, verifica-se que parte da doutrina entende não ser o instituto da transação penal
uma faculdade do Ministério Público e, sim um dever quando caracterizado os
requisitos necessários à sua aplicação. Nesse viés, a ausência de proposição do
Parquet, reflete no direito da proposição pelo infrator ou pelo magistrado.
Portanto, Excelência, o denunciado preenche todos os requisitos impostos pelo § 2º do
art. 76, onde diz que:
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação
de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
O acusado é primário, não porta maus antecedentes, nunca foi condenado por
sentença definitiva pela prática de crime, tem emprego lícito, tem residência fixa, não
tendo atentado em nenhum momento contra a instrução processual, razão pela qual
inexistem motivos supervenientes e contemporâneos capazes de justificar a denúncia
por tráfico de drogas.
Com isso, Excelência, REQUER a concessão da TRANSAÇÃO PENAL ao denunciado,
cujo ação deverá correr pelo rito da lei nº 9.099/06 (Juizado Especial Crimina), pois,
trata-se de crime de menor potencial ofensivo, onde deverá advertir o denunciado do
uso de entorpecentes.
i. DOS PEDIDOS
Diante o exposto, Requer que Vossa Excelência se digne:
i. A DESCLASSIFICAÇÃO e ABSOLVIÇÃO do denunciado no crime tipificado no art.
33 da lei nº 11.343/06 (tráfico de drogas) e a CLASSIFICAÇÃO para o de uso
próprio (art. 28 da lei nº 11.343/06) cujo pena é uma advertência sobre os efeitos
das drogas, onde deverá correr pelo rito da lei nº 9.099/06 (Juizado Especial
Crimina), pois, trata-se de crime de menor potencial ofensivo;
ii. A reconhecer por este Juízo, a primariedade, os bons antecedentes, de nunca
ter sido condenado por sentença definitiva pela prática de crime,
reconhecer a sua boa conduta social, de ser pai de família e de ter filhos, e
que não se dedica as atividades criminosas e nem integra a organizações
criminosas.
iii. A arbitrar a proposta de TRANSAÇÃO PENAL, cujo pena deverá ser de advertir o
denunciado sobre o uso de entorpecentes, designando audiência para sua
aceitação (formal) e homologação;

Termos em que, pede deferimento.


Arapiraca/AL, 10 do 04 de 2023.
ISLANDJA NUNES
OAB/66- 66.666

ALUNOS:
Amanda Tojal Silva
Domingas Maria dos Santos
Felipe Luiz Soares Alcantar
Kátia Ferreira Barbosa
Ykaelle Nunes Brandão de Alencar

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