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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE JEQUIÉ-BA

Processo nº (XXXXXXXXXXXXXXXXXXX)

MÉVIO SANTOS SANTANA, já qualificado nos autos da ação


penal em epígrafe, por meio dos seus advogados que subscrevem, vem,
à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 403, §3º do
Código de Processo Penal apresentar:

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS


com fulcro no artigo 403, parágrafo 3º, do Código de Processo
Penal, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I – DOS FATOS

Trata-se de um processo no qual o réu foi denunciado pelo


Ministério Público sob a alegação de ter cometido o crime de tráfico de
drogas e associação para o tráfico, conforme os artigos 33, caput e 35
caput da Lei 11.343/2006. O fato ocorreu durante uma ronda policial
em um local conhecido como ponto de vendas de drogas, no qual avo
avistar a viatura neste local, algumas pessoas empreenderam fuga.

Seguindo do pressuposto, os agentes policiais deteram uma


pessoa identificada como MÉVIO SANTOS SANTANA, e as outras
pessoas que estavam no local fugiram, deixando para trás objetos
como: uma sacola com substâncias análogas ao craque e uma balança
de precisão. Consequentemente, ao ser abordado pelos policiais, o réu
confessou a natureza da ação na qual lhe levou a correr e os motivos
que o lhe levaram a estar naquelas extremidades, por nunca ter
vivenciado aquilo.

Importante ressaltar, que o réu jamais teve qualquer


envolvimento com atividades criminosas anteriores a este evento, além
de ser réu primário, esta é a primeira vez que enfrenta uma acusação
penal. A prisão ocorreu em um contexto, no qual Mévio agiu sob o
impulso do medo e da vulnerabilidade associados à sua dependência
quimica, tendo corrido ao ouvir alertas sobre a chegada da polícia –
uma reação compreensível dadas as circunstâncias, de não saber
caracterizar tal atitude.

A denúncia foi recebida pelo juízo competente da Magistratura


titular da 2º Vara Crime da Comarca de Jequié-BA, após regular
instrução processual, a defesa passa a apresentar suas Alegações
Finais, com o objetivo de demonstrar a ausência de provas suficientes
para a condenação do réu e, ainda, abordar outras questões relevantes
para o deslinde da causa, como a prescrição da pretensão punitiva,
mencionada a seguir na preliminar.

DO MÉRITO

Expõem-se fatos que inviabiliza o réu, em que se configura fato


ilícito, vez que causa prejuízos ao agente. Portanto, é fundamentado
promover a reparação, aos seguintes fatos narrados:

I – DA ANALISE DE PROVAS:

Não obstante a exposição nas Alegações Finais do Ministério Público,


na qual é pedida a condenação do Acusado nos termos da denúncia, a
acusação contida na exordial acusatória é de total improcedência, pelos
grandes excessos que contém.

Tanto seu interrogatório policial, como em juízo, o Acusado


confessou ser usuário, réu primário e em seguida, afirmou que não
vende drogas.
Como diante do contraditório judicial não foram produzidas provas
concretas, especificadamente, os traficantes que confirmassem a
compra de entorpecentes e a participação ou vínculo permanente com o
acusado, e sendo vedado pelo art. 155 do Código de Processo Penal,
a condenação com base apenas nos elementos colhidos na investigação
policial, diferentemente, do que entende o Ministério Público em suas
alegações finais, resta cristalino que não existem elementos suficientes
acerca do tráfico, muito menos da associação para o tráfico.

Assim, percebe-se do conjunto probatório que não existem provas


suficientes que confirmem que o acusado não praticou os crimes
capitulados na denúncia, devendo ser aplicado ao caso o “in dubio pro
réu”.

II – DA POSSE PARA USO PESSOAL:

Embora, a denúncia ministerial e a condenação do denunciado pelo


crime de tráfico de drogas e associação criminosa. Ocorre que, a
própria descrição dos fatos como trazida na inicial já deixa claro que o
denunciado seria apenas um usuário e foi surpreendido logo quando
adquiria a substância alucinógena.

Tal fato é evidenciado pela ínfima quantidade de entorpecente


encontrada com o réu, apenas duas petecas de substâncias análogas ao
craque.

Destarte que Mévio simplesmente comprou uma pequena porção,


pois era apenas um consumidor, que adquiria apenas para uso
pessoal, afirma que é dependente químico ao uso do craque há mais
de 05 anos, e que nunca se envolveu em nenhum crime, conforme
declaração prestada em interrogatório.

A narrativa não demonstra certeza suficiente da destinação


comercial da substância, nem qualquer prova da traficância ou ao
menos elementos mínimos que demonstrem o animus do Réu em
traficar, mas reforça a conclusão de que seria exclusivo para uso
próprio, devendo ocorrer a desclassificação do crime denunciado,
conforme precedentes sobre o tema:
DESCLASSIFICAÇÃO DO TRÁFICO DE DROGAS PARA O CRIME
DE USO PRÓPRIO (ARTIGO 12 DA LEI Nº 10.826/2003) - SENTENÇA
CONDENATÓRIA - INSURGÊNCIA DA ACUSAÇÃO CONTRA A
DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DE USO PRÓPRIO - NÃO
CABIMENTO - PEQUENA QUANTIDADE DE DROGA APREENDIDA
COMPATÍVEL COM O CONSUMO DIÁRIO DE UM USUÁRIO -
AUSÊNCIA DE ELEMENTOS PROBATÓRIOS QUE CONFIRMEM A
TRAFICÂNCIA - SENTENÇA MANTIDA. APELAÇÃO NÃO PROVIDA.
(TJPR - 3ª C.Criminal - 0000567-66.2018.8.16.0038 - Fazenda Rio Grande -
Rel.: Desembargador Gamaliel Seme Scaff - J. 08.08.2019)

PELAÇÃO CRIMINAL - Artigo 33, "caput", da Lei nº 11.343/06 -


Desclassificado para o artigo 28, da mesma lei. Recurso do Representante
do "Parquet" - Pleiteia a condenação nos termos da denúncia -
INADMISSIBILIDADE - DÚVIDAS SOBRE O DESTINO COMERCIAL DA
DROGA - DESCLASSIFICAÇÃO MANTIDA. Inexistindo prova segura de
que a substância entorpecente apreendida destinava-se ao comércio ilícito, e
restando demonstrada, pela prova oral colhida, pela pequena quantidade de
drogas apreendidas e pelos demais elementos probatórios …

Tal conduta, nos termos como foi narrada, é despenalizada


conforme art. 28, caput, da lei 11.343/06.

Ou seja, o denunciado pode ser no máximo advertido sobre os


efeitos das drogas e convidado a comparecer em programas
educativo.

Necessário, portanto, a instauração de incidente de dependência


toxicológica, que desde já requer.

II – DA NÃO CONFIGURAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO:

Conforme análise probatória já realizada, no caso em tela, o


acusado negou, tanto em sede policial, como em juízo, os delitos
imputados. A autoria, por sua vez, não restou comprovada pelo MP, que
se frise, fez meras presunções acerca das frágeis provas contidas nos
autos.

Frise-se que, em nenhum momento veio aos autos sequer um único


usuário que tivesse afirmado ter comprado drogas do Acusado por uma
única oportunidade, o que era ônus da acusação, e não da defesa.
Da mesma forma, os policiais que testemunharam em sede policial e
juízo, bem como atuaram no caso, não viram qualquer transação.

Na hipótese vertente, é notório que o conjunto probatório falha


quando tenta imputar a autoria do crime de tráfico de drogas ao Réu.
Por oportuno, vale destacar novamente que, a respeito da
apreciação da prova, o art. 155, caput, do Código de Processo Penal
adota o sistema da livre convicção ou persuasão racional, possuindo o
julgador liberdade para apreciar a prova, devendo, no entanto,
fundamentar suas decisões, nos termos do art. 93, inciso IX, da
Constituição Federal.

Guilherme Madeira Dezem leciona que "há ampla liberdade de


julgamento para o juiz e sua análise do contexto probatório havido nos
autos. Contudo, a referida liberdade não implica arbítrio: o magistrado
pode decidir a causa segundo seu livre convencimento, mas tal decisão
deve ser amplamente motivada" (Da Prova Penal. Campinas:
Millennium, 2008, 119).

In casu, destarte, denota-se que é de suma importância que para a


decretação da condenação penal as provas sejam unânimes em
apontar a autoria. Há sérias dúvidas, porque o Acusado não foi
flagrado comercializando substância alguma. Na dúvida, o Acusado
deve ser absolvido.

Neste contexto, impossível a formação de um juízo de convicção


seguro acerca da autoria delitiva. Muito embora existam frágeis indícios
da ocorrência criminosa, em juízo não foi reproduzida mínima prova
escorreita da autoria, à luz do art. 155 do Código de Processo Penal.
Colhe-se de julgado do Egrégio TJSC:
APELAÇÕES CRIMINAIS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES E
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO (ART. 33, CAPUT E § 1º, INC. III, E ART. 35,
CAPUT, DA LEI N. 11.343/06) [...] RECURSO DE SEBASTIÃO E GILSON.
PLEITEADA ABSOLVIÇÃO DAQUELE DA IMPUTAÇÃO DA PRÁTICA DO
CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS. CARÊNCIA DE PROVAS PRODUZIDAS
SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO CAPAZES DE ASSEGURAR A AUTORIA
DO DELITO. ABSOLVIÇÃO DE SEBASTIÃO QUE SE IMPÕE [...] (Apelação
Criminal (Réu Preso) n. 2010.024752-0, de Brusque, rel. Des. Alexandre
d'Ivanenko, j. 27/07/2010).

Pede-se a desqualificação do art. 35 da lei nº 11.343/06, pois


seguindo as fundamentações dada pelo relator no STJ, Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, destacou que a jurisprudência da corte
entende que é necessária a demonstração da estabilidade e da
permanência da associação para a condenação pelo crime do art. 35 da
Lei 11.343/2006, em tese característica o elemento subjetivo para que
seja comprovado associação criminosa é dada pelo dolo e a
permanência do vínculo com mais pessoas. O réu durante o tempo em
que esteve detido, relata que era a primeira vez naquele local, e em
documento contraditório testemunhal, aos agentes policiais possui
divergências, ao apenas um definir as pessoas no local como um
suposto grupo, o que em outro depoimento não foi relatado com
clareza de vínculo, entre o réu e as pessoas que ali estavam presentes.

Ora, para que se cogite a conduta delitiva prevista no art. 35,


caput, da Lei nº. 11.343/2006, faz-se mister que o quadro fático
encontrado seja de sorte a demonstrar o ânimo associativo dos
integrantes do delito em espécie. Dessa feita, cabia ao Ministério Público
evidenciar, com clareza e precisão, a eventual convergência de
interesses dos Acusados em unirem-se para o tráfico, de modo estável
e permanente.

III – Confissão do ato:

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que a conduta do réu se


enquadra nos dispostos da Sumula 545 do STJ, que estabelece:
“Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do
julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, línea d,
do Código Penal”

Seguindo, conforme foi apurado nos autos do processo, o réu ao ser


abordado pelas autoridades policiais, para estabelecer parâmetro de
que não havia cometido nenhum tipo de delito, confessou
espontaneamente o porquê e em quais circunstâncias, se encontrava
naquele local.

Partindo do mesmo pressuposto, ao ser revistado foi encontrado


consigo duas petecas de substâncias de entorpecentes, em que logo em
seguida foi acusado de traficante, seguindo o parâmetro da Súmula
630 do STJ, em que cita: “A incidência da atenuante da confissão
espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o
reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera
admissão da posse ou propriedade para uso próprio." Em tese, não
se pode caracterizar nenhuma ação relevante aquilo que já teria sido
exposto pelo réu de forma voluntária.

IV – EXCLUDENTE DE CULPABILIDADE

Ademais, cabe destacar a existência de uma excludente de


culpabilidade, com fulcro no art. 5 XXXIX e seguintes do Princípio
da Reversa Legal, que exposto em seu preceito fundamental do
direito, determina que : “ O agente somente poderá ser processado, se
sua conduta for previamente tipificada com clareza e preceito como
crime”.

Embora o referido dispositivo legal trate especificamente de crime


em caráter legal, não se foi comprovada nenhum crime desde a captura
do agente até o conteúdo no qual estava em sua posse, visto que a
Súmula 630 do STJ , não caracteriza a traficância até o momento em
que se admite pelo autor, o réu no entanto, só reintegrou a sua ação
de correr do local o que não gera nenhum crime tipificado em lei,
sendo inimputável as suas condições de entender tal atitude
impulsionada , visto a suas condições mentais e psicológicas atribuídas
pelo uso de entorpecentes. E com essa conduta se prevê os dispostos
citados como forma de excluir a culpabilidade do agente.

No caso concreto, o réu se viu diante de uma situação imaginária


que se caracteriza como estado de necessidade putativo em que, diante
do cenário, imaginou estar correndo perigo, pois poderia haver alguma
ocorrência perigosa no local, e para preservar-se de alguma acusação,
acabou correndo. Ao ser abordado e preservando sua integridade
física , colaborou para todo o momento da abordagem, se manteve em
completo respeito e naturalidade diante as autoridades policiais. A
reação do réu foi proporcional a abordagem, visto que em documento
testemunhal dado pelos agentes, descrevem com clareza a atitude e
naturalidade do réu, durante a abordagem até o decurso do presente
momento.

Diante do exposto, pugna-se pelo reconhecimento da excludente de


de culpabilidade, com base nas Súmulas 545 e 630 do STJ,
respectivamente, e, consequentemente, pela absolvição do réu, nos
termos do artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal.

V – ANÁLISE PROBATORIA

Respectivamente, diante das acusações feitas em tese do réu, a


caracterização pelo suposto crime foi por estar em local suspeito como
ponto de venda de drogas, com caráter discriminatório e hostil, e por
avistarem pessoas próximas ao local.

Em consequência das acusações, entendemos a desqualificação do


art. 33, caput, para o art. 28 caput da Lei nº 11.343/06, em que
descreve:

Art. 28, §2: Para determinar se a droga se destinava a consumo


pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância
apreendida, ao local e ás condições em que se desenvolveu a ação, às
circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e os
antecedentes do agente”

O presente momento, o caracteriza a sua prisão como indevida e


desqualificada, seguindo o art. 28, incisos I, II e III, sobre as
consequências de um réu primário guardar consigo substância de
estimulantes naturais, o quão ocorreu indevidamente a seguinte
questão.

Portanto, solicita-se uma análise detalhada das justificativas que


não se encaixam na situação que resultou na acusação do crime, o qual
não apresenta evidências sólidas o bastante para prová-lo.

III – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer-se a Vossa Excelência:


1. Em caso de condenação, hipótese com a qual desde já, declara a
defesa que não se conformará, seja DESCLASSIFICADA a
capitulação dada pelo Parquet em sua denúncia, para o crime
previsto no artigo 28 da Lei 11.343/06;

2. Subsidiariamente, caso não sejam reconhecidas, requer-se a


aplicação da pena no mínimo legal e a substituição da pena
privativa de liberdade por multa, conforme previsão do artigo 60
do Código Penal, dada a primariedade do réu, a ausência de
antecedentes criminais e a inexistência de circunstâncias judiciais
desfavoráveis.

3. Em casos de eventual e remota condenação, a defesa requer-se,


na dosimetria da pena, seja reconhecida a atenuante do art. 28,
parágrafo §3, bem como afastada a causa de aumento do art.
33, caput, da lei nº 11.343/06, para que seja respeitado o
princípio da individualização da pena, previsto no art. 5º, XLVI
da Constituição Federal;

4. Ainda, havendo condenação, que seja fixado o regime inicial de


cumprimento de pena aberto, uma vez que restarão preenchidos
os requisitos legais previstos no art. 33, §1º, “c”, do Código
Penal ou os requisitos preenchidos em jurisprudência
consolidada, conforme entendimento colacionado no item
anterior.

5. Contudo, por insuficiência de provas concretas e complexas que,


descaracteriza a autoria do agente como acusado dos crimes
referentes ao tráfico de drogas e associação criminosa, no qual
não se possuem comprovações contundentes, a defesa requer-se
porventura, a aplicação do art. 386, caput, do Código de
Processo Penal.

6. Caso ainda reste dúvida a este juízo, que se valha do instituto do


IN DÚBIO PRO RÉU;

Termos em que,

Pede deferimento.
28, de março de 2024

Eloah Duarte

OAB XXXXXXX

Maria Eduarda Reis

OAB XXXXX

Matheus Sena

OAB XXXXX

Sabrina Borges

OAB XXXXXXX

Samira Cardoso

OAB XXXXXX

Thainan Limoeiro

OAB XXXXX

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