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lJNIAO GEOGRAFICA INTERNACIONAL

COMISS>fO NACIONAL DO BRASIL

ORLANDO VALVERDE

PLANALTO MERIDIONAL
DO BRASIL

Guia da excursão n.o 9,. realizada


por ocasião do
XVIlI CONGRESSO INTERNACIONAL
DE GEOGRAFli\

;-.'
Parte 11

!,

.~
,

ASPECTOS REGIONAIS
VI. O Norte do Paraná

As observações aqui registradas para o Norte do Pa-


raná dizem respeito, principalmente, à região de Londrina
para oeste, mas, em sua maior parte, ,;ão válidas também
para a que lhe fica a leste, até a fronteira com São Paulo.

Relêvo, Estrutura e Solos

A região que se conhece pelo nome de Norte do Pa-


raná está tôda compreendida no terceiro planalto. Ela
forma junto com a região de Ribeirão Prêto - Araraquara,
uma das duas maiores manchas de terra roxa em território
brasileiro. A expressão "zona de terra roxa", no Brasil, é
quase eqüivalente a "terra de café". Mas, enquanto a zona
de Ribeirão Prêto - Araraquara é composta de cafezais
velhos, o Norte do Paraná é, hoje em dia, uma das maiores
regiões cafeeiras do Brasil. Seria legítimo dizer-se que a
zona de Ribeirão Prêto - Araraquara foi um dos principais
esteios da produção de café na primeira RepÚblica (até
1930), ao passo que o Norte do Paraná o tem sido dos da
segunda.
A topografia do Norte do Paraná é característica do
reverso de uma cuesta. À proporção que se vai de leste
- 166-

para oeste, primeiro sobe-se lentamente dos 400-500 e


poucos metros de altitude, até o máximo de 700 e tantos,
no espigão de Apucarana-Pirapó, para tornar a descer sua-
vemente até 200-300 e tantos metros, na,,; barrancas do rio
Paraná.
o norte do Paraná forma uma cunha para oeste entre
os rios Paranapanema, Paraná e Ivaí, semelhante ao Tri-
ângulo Mineiro (fig. 15). Entre os vales largos do Para-
napanema e do Ivaí, estende-se um planalto de relêvo
muito regular.
Na sua parte leste, o Norte do Paraná é constituído de
derrames de trapp. A terra roxa é um solo derivado dêsses
derrames qU2ndo submetidos a um clima tropical Úmido
ou semi-Úmido. Quando o solo resulta da decomposição da
camada superior de um derrame, que é um horizonte com-
posto de meláfiro, conforme acontece nas vizinhanças de
Apucarana, a terra roxa é mais rÍC'l.do ponto de vista mi-
neral, em virtude da dec'omposição dos nódulos de cálcio,
potássio e heulandita.
No percurso de Apucarana a Maringá, a rodovia acom-
panha o divisar de águas Paranapanema-Ivaí. De lá, pode-se
observar que os vales da vertente sul, do Ivaí, têm encostas
mais íngremes do que os da vertente norte. Isto se deve à
circunstância de que os derrames apresentam regional-
mente um mergulho que não é pràpriamente para N.W.,
mas antes para W.N.W. MAACK,após várias perfurações
para obtenção de 'ágtla' chegou à conclusão de que o mer-
gulho para o norte é de 0,89 metros por quilômetro, en-
quanto que para oeste é de 2,63 por km. Em conseqüência,

l
nos vales voltados para o norte, a erosão incide mais obliqua-
---
--~--------~~ --~--

'~Km
10St,M

---_.- .. _- -- ..
FIG. 15. Mapia do Norte do Paraná.
- 167-

mente sôbre as camadas de trapp que nos vales da vertente


sul, daí formarem encostas menos abruptas.
De um modo geral, o relêvo basáltico do NO'lte do
Paraná apresenta três níveis estruturais: o mais alto cor-
responde ao tôpo plano do espigão; o segundo, forma um
patamar estrutural a meia encosta; o terceiro desenvolve-se
no fundo dos vales. Em alguns lugares, como na chamada
Serrinha, entre Pirapó e Apucarana, por exemplo, a erosão
isola morros-testemunhos de um dos dois níveis mais
elevados.
A oeste de Maringá, êsses derrames eo-jurássicos são
recobertos por uma capa de arenito Caiuá, que R. MAACK
datou também do eo-jurássico. O arenito Caiuá tem estra-
tificação entrecruzada de origem eólea; foi formado em
condições de clima elesértico.
Em sua parte leste, a cobertura ele arenito Caiuá forma
apenas uma língua delgada que cobre o tôpo elos espigões.
Mais para oeste, o arenito vai gradativamente descendo as
encostas, de modo que só nas partes mais fundas dos vales
a erosão fluvial traz à luz o trapp e a terra roxa. Em Para-
navaí, já o arenito Caiuá atinge o próprio fundo dos vales.
Aí não há mais patamares estruturais; o relêvo torna-se
mais suave e os rios têm vales em V muito aberto. Quando
os rios têm pequeno volume d'água entalham o seu leito
entre duas pequenas escarpas de arenito; quando, porém,
() seu volume é grande e o declive não muito forte, abrem
no arenito um vale calibrado.

I ••••Nos poços que abriu nesses terrenos areníticos, MAACK


f· encontrou uma espessura de 8 metros a poucos quilômetros
do contacto com otrapp, logo a oeste de Maringá. A maior
espessura que êle teve oportunidade de medir no arenito
- 168-

Ça;i.uá .akallÇOll 37.5 metros,na fazenda e serra dos Três


Irmãos, a noroeste de Paranavaí.
A espessura da camada de arenito tem grande impor-
tância prática. Quando é muito delgada, gera um solo de
terra roxa misturada; quando é espêssa, forma solos are-
nosos, pobres e muito porosos .
Na região de Paranavaí, o solo derivado do arenito
Caiuá é frouxo, arenoso, de côr clara. A pouco mais de
um metro de profundidade, formou-se um fino horizonte
de argila e óxido de ferro ("ortstein"), que constitui um
nível hidrostático. Mais abaixo, a cêrca de 20 metros de
profundidade, há uma espêssa camada de argila compacta,
sôbre a qual se forma o lençol d'água principal.
Essa estrutura do solo pode ser observada na grande
"vossoroca" existente no fim de uma das ruas de Parana vaí.
Ao contrário do que se pode pensar, não se encontram, fora
da cidade de Paranavaí, vestígios importantes de erosão
em ravinas. Essa preferência pela cidade se explica pela
construção das sargetas, por onde se inicia êsse tipo de
erosão.

Clima

o clima do Norte do Paraná resulta do jôgo de três


massas de ar. A dominante é a massa tropical atlântica, que
é a principal componente da média térmica anual, a qual
varia entre 19° e 22°. A umidade relativa é da ordem dos
84,1% às 7h, 55,2% às 14h e 83,2% às 21 horas.
No verão, a região é invadida periàdicamente pela
massa equatorial continental, que forma chuvas frontais
e de convecção .(estas localmente), com trovoadas.

-
169 -

No inverno, pejo contrário, l~ a massa polar atlântica


que sobe pejo vale do Paraná e invade de vez em quando
a região, causando geadas e formando chuvas frontais de
inverno.
O Norte do Paraná não tem uma estação sêca bem
marcada, como sucede no Planalto Central. As chuvas são
bem distribuídas durante o ano todo, com um ligeiro má-
ximo no verão. O período mais chuvoso corresponde aos
meses de janeiro e fevereiro. A estação mais sêca vai de
15 de julho a 15 de setembro; período que é precedido de
um em que as precipitações são um pouco mais intensas,
o qual vai de 15 de abril a 15 de julho.
O clima do Norte do Paraná deve ser classificado como
do tipo efa, de KOPPEN"-
Sendo a cultura do café feita em cafezais descobertos,
à moda paulista, é fácil de compreender como são temidas
e danosas as geadas hibernais no Norte do Paraná.
Na noite de 5 para 6 de julho de 1953, foram quei-
mados pela geada 220 000 000 de pés de café, segundo a
estimativa de R. MAACK. :Este autor elaborou um mapa da
ocorrência da geada, que mostra bem a gravidade do fe-
A •
nomeno e o seu mecamsmo.
Efetivamente, o café no Norte do Paraná está muito
próximo do seu limite polar; por isso, as freqüentes geadas
leves, que se acumulam nos fundos do vale, em conseqüência
da inversão de temperatura, não causam prejuízos, porque
êstes lugares são deixados com pastos plantados (fig. 16).
Quando a massa polar agressora invade com ventos
fortes que vêm do quadrante sudoeste, não só os fundos
de vales são sujeitos às geadas, mas também as encostas
voltadas para o sul, que são as noruegas. Os topos dos es-

~'" -
r-
i

FIG.16. Cafezal, vendo-se as habitações e o vale aproveitado com pasto plantado. Município
de Apucarana, Norte do Paraná.
Foto C.N.G. Tibor Jablonsky. 25.7.955.
- 171 -

plgoes e as encostas soalheiras (voltadas para o norte)


estão mais protegidos, desta forma, do perigo das geadas.
O sitiante experiente dá preferência a esta situação, quando
adquire sua propriedade.
Em 1953, enquanto a massa polar subia pelo vale do
Paraná, havia um centro de baixa pressão instalado mais
a leste, de modo que o ar frio infletiu-se nessa direção e
penetrou pelos vales do Ivaí e do Paranapanema, formando
a oeste uma frente oclusa. Com surprê3a os lavradores ve-
rificaram que, dessa vez, as próprias vertentes voltadas
para o norte tinham sido .castigadas pela geada, que poupou'
apenas alguns bolsões em que se formaram nevoeiros
locais. (l»
A geada de 1953 causou ao país um prejuízo de cen-
tenas de milhões de dólares e deu origem a uma crise
econômica em 1954.
Na primeira metade de 1955, o Brasil começou a re-
cuperar-se lentamente, à custa de imensos sacrifícios.
A 28 e 29 de julho de 1955, o Norte do Paraná foi
-mais uma vez invadido pela massa polar, que penetrou

( " ) A propósito, é um conceito extremamente difundido êsse


de que a geada queima os cafezais. Entretanto, nos locais em que
se forma neblina, mesmo quando a temperatura\desc€ a alguns graus
abaixo de zero, a folhagEm do café não murcha; fica apenas "sa-
pecada", conforme a expressão popular. O que realmente -queima
o cafeeiro é o aquecimento brusco subseqüente à geada, em virtude
do belo tempo que caracteriza o domínio da massa fria.
A célula de clorofila tem elasticidade suficiente para dilatar-se
com o congelamento da água nela contida, mas, ao contrair-se de
novo, perde a sua integridade.
Após a geada de 1955, um odor intenso a clorofila perdurou
nos cafezais do Norte do Paraná durante muitas horas.

~
- 172-

vagarosamente com um gradiente fraco, muito poucas


chuvas, mas fazendo descer a coluna termoml'trica a 3,5,
4,5 e até 5,.5 graus centígrados. Na noite de 29, o frio que
provocou a condensação da umidade do ar, formou um
espêsso nevoeiro, que cobriu com um manto cinzento tanto
os vales como os espigões. O dia 30 de julho foi um dia
londrino no Norte do Paraná, mas na madrugada anterior
não ocorreram geadas, porque o nevoeiro produziu um
"efeito de estufa".
Entretanto, ao anoitecer dêsse mesmo dia, ventos um
pouco mais fortes varreram os baixos estratos e deixaram
límpida a atmosfera. A mais severa geada de qU13se tem
notícia no Norte do Paraná castigou tremendamente todos
os cafezais, quer nas encostas, quer nos espigões, que no
mesmo dia adquiriram uma côr castanho-escura. A tem-
peratura desceu a 6° abaixo de zero. Depois das 10 horas
da manhã de 31 ainda se viam restos de gêlo acumulados
nos lugares sombrios (fig. 17).
Uma a duas semanas depois, os cafezais inteiramente
desfolhados pareciam espectros após uma catástrofe.
Logo em seguida à geada estabeleceu-se o pânico. Os
lavradores desacoroçoados reuniam-se nas ruas e nas portas
dos bancos, comentando os fatos e sem saber o que fazer.
Previa-se uma grande crise, a perda do mercado interna-
cionâ1; mas a realidade não foi tão negra. Realmente. o
Pa:(anl terá sua produção dràsticamente reduzida, mas o
Brasil, no Seu conjunto, poderá vender os seus estoques
de safra e manter, mais ou menos, a sua posição.
Algumas providências foram sugeridas por p,;rticulares,
técnicos e administradores para que o Brasil se livre dêsses
desastres no futuro. Umas medidas deverão ter conseqüên-
- 175-

travam duas pequenas manchas de campo cerrado. Uma


em Sabaudia, ao norte do município de Arapongas; outra,
já um tanto fora da região, em Campo Mourão.
Embora se classifiquem dentro do mesmo tipo de for-
mação, as matas do Norte do Paraná têm variações fisio-
nômicas de acôrdo com o tipo de solo.
A estrutura da floresta típica da terra roxa foi estudada
num dos seus raros remanescentes, que é o Horta Florestal
de Maringá. Ela assim se apresenta:
Acima de tudo, as árvores emergentes, com 35 a 40
metros de altura, constituídas pelos gigantes da mata,
como as perobas (Aspidosperma sp.) a cabreúva (Myrio-
carpus sp.), o monjolo (Enterolobium sp.), a figueira
branca (Ficus doliaria, Mart.), etc;
em seguida, vem a abóbada foliar, composta por um
andar fechado de copas das árvores adultas, de 20 a
30 metros, em que figuram cedros (Cedrela sp.) e paus
d'alho (Gallesia sp.), no meio das, quais esgueiram-se os
palmitos (Euterpe edulis), com seus caules brancos e
esguios;
abaixo, vem o andar arbóreo inferior, com árvores de
8 a 12 metros, de troncos finos, umas adultas, outras
correspondendo às árvores mais altas em desenvol-
vimento;
por fim, conta-sc o sub-bosque, formado de pequenas
árvores e arbustos tendo de 1 a 1,5 metros de altura.
Entrc êles predominam as plantas de fôlhas largas e
as samambaias.

o cllão da floresta é composto de fôlhas caídas, mor-


tas e mn decomposi~~ão, troncos no mesmo estado, gravetos,
tudo formando uma espêssa camada de matéria orgânica.
Nas proximidades do rio Ivaí, a Companhia de Melho-
ramentos do Norte do Paraná constituiu uma reserva flo-
- 176-

restal numa e noutra margem. Na parte inferior das


encostas, a mata não é tão alta. O palmito é abundante, mas
não cresce até a altura da abóbada foliar; fica no nível do
andar inferior, a fim de se proteger do frio excessivo. Outra
árvore que indica tal condição de clima é a gurucaia (Pite-
colobium sp.), cujo adensamento é considerado como in-
dicativo de terra muito fria para a cultura do café.
É fora de dúvida que a mata instalada sôbre o arenlto
Caiuá tem árvores mais finas e de menor porte que a d,-,
terra roxa. Challla a atenção o fato de que na estrada de
Paranavaí, o palmito cede seu lugar ao gerivá (Arecastrum
romanzoffianum), padrão de terrenos mais secos.
Êste é um bosquejo rápido da vegetação original, que
hoje em dia desapareceu na maior p~rte da região, em
virtude da devastação em larga escala para o plantio de
cafezais. O processo dessa transformação dá-se da maneira
seguinte: primeiro, derruba-se o sub-bosque e as árvores
do andar inferior, utilizando-se para isso a foice. Esta vege-
tação derrubada é deixada a secar para constituir o que
chamam o facho. Quando o facho está bem sêco, derru-
bam-se sôbre êle as árvores grandes. Só as árvores mortas
e :linda em pé são poupadas, porque o serviço de
derrubá-Ias é tarefa arriscada.
Quando chega o fim da estação sêca (fim de agôsto-se-
tembro) toca~se fogo á derrubada. É a queimada. Muitos
extraem perobas para as serrarias depois desta operação,
porque a peroba não queima o lenho.

Certos proprietários, quando querem deixar urna re-


serva de mato, geralmente retiram dêle as madeiras de lei
(cedro e peroba, principalmente) e vendem-nas. Resta
!l
/
I
então o que se chama de mata brocada. Neste caso, as ár-

••
- 177-

vores da abóbada foliar deixam penetrar mais luz e as


trepadeiras galgam os troncos das árvores com um vigor
dcsconhecido nas matas originais.

Geografia Econômica e Agrária

Os principais produtos agrícolas do Norte do Paraná


são o café, o algodão, o milho, o feijão e o arroz.
A grande quantidade de milho produzida no Norte do
Paraná é exportada em grão para São Paulo. Essa cultura
está intimamente ligada ao plantio de cafezais. Os contratos
de empreitada para a abertura dos cafezais são, na maioria,
de 4 anos. Nesses contratos, as safras de café do 3.0 e 4.0
anos pertencem ao empreiteiro, bem como as safras de
cereais, dentre os quais o mais comum é o milho.
A emprêsa Carguil (pertencente a Rockefeller) tem em
Arapongas um grande depósito para desinfetar o milho e
vendê-Io por atacado para São Paulo.
A lavoura por excelência no Norte do Paraná é, porém,
() café. Apesar dos numerosos contratempos representados
pelas geadas ou pelas sêcas e chuvas temporãs, ou ainda
pelas crises econÔmicas, o cafeicultor tem uma fé inquebran-
tável no chamado "ouro verde", por causa dos seus rendi-
mentos elevados. Segundo F. SIMONS,geógrafo e sitiante
de café da região, a produtividade aproximada do café no
Norte do Paraná assim se apresenta:
no 4.° ano:

em terra roxa: 20-30 sacas" por 1. 000 pés;


arenosa: 15-20" " " "

Sacas de 60 quilos.

12 •.,.
-- 178-
no 5.° ano:

em terra roxa: 50-60


arenosa: 30-40

no 6.° ano:

em terra roxa: 100-120 sacas por 1.000 pés;


.... arenosa: 80

Depois baixa um pouco. Na opinião do Dr. ARISTIDES


DE SOUZAMELO,gerente da Companhia de Melhoramentos
do Norte do Paraná, o rendimento médio dos cafezais.é da
ordem de 80 a 100 sacas n por mil pés. Entretanto, na
fazenda. Santa Híldegardis, em Ràlândia, o Sr. SIMONSteve
ocasião de observar uma produção de 320 sacas ~~ por
mil pés de café, sem adubação!
Calcula-se que a duração de um cafezal com rendi-
mento econômico seja de 30 a 40 anos, em terra roxa sem
adubo, e de 15 anos em terra arenosa; mas de Londrina
para oeste, o povoamento é por demais· recente, não ha-
vendo, portanto, observações concretas a êsse respeito ..
Não obstante o seu caráter especulativo, a cultura do
café afigura-se muito rendosa. O capital inicial necessário
à exploração de 10 alqueires ~ de cafezal é da ordem de
15 a 20 mil cruzeiros por alqueire; mas, já no primeiro ano,
êle recompensa cêrca de 30% das despesas com as culturas
intercalares de cereais.
Num sítio de 10 alqueires, geralmente 7 são plantados
com café. Um alqueire de terra comporta de 1350 a 2300

",,, Sacas de café em côco, de 40 kg cada uma.


" No Norte do Paraná, a unidade agrária de superfície é o
alqueire paulista, que vale 24 200 metros quadrados.
-- 179 -

covas, porém, se fôr plantada a variedade chamada "café


caturra", pode levar até 2700 covas.
A saca de café é comprada atualmente ao produtor por
Cr$ 1 800,00, e por Cr$ 19'50,00, se fôr já beneficiado. Além
disso, o cafeicultor pode obter do Banco do Brasil um fi-
nanciamento de Cr$ 1 500,00 por saca.
As maiores firmas compradoras de café (máquinas de
beneficiamento) nesta região são: a American Coffee, a
Anderson Clayton, a Leon Israel, a Almeida Prado. Tôdas
elas são também exportadoras. Além disso, à American
Coffee está ligada a empresa Transparaná, que faz o trans-
porte do café por caminhão para Paranaguá. Ve-se, por aí,
como a economia cafeeira do Norte do Paraná está em
grande parte controlada por intermédiários que são, na
maioria, grandes cartéis internacionais.
Há alguns anos, o café do Norte do Paraná era expor··
tado por Santos. O governo paranaense desenvolveu grande
esfôrço para capturar o escoamento do café por Paranaguá.
Aparelhou esse pôrto. prolongou a ferrovia até Maringá
(onde chegou em janeiro de 1954) e, assim, conseguiu ex-
portar cerca de 80%do café produzido no Estado.

Uso da Terra e Regime de Propriedade

O padrão usual da utilização da terra no Norte do


Paraná está relacionado com a topografia e dispõe-se da
seguinte maneira (fig. 16): no fundo do vale fica o pasto,
com umas poucas cabeças de gado, que fornec~m leite
para consumo doméstico. Os pastos mais comuns são o co-
lonião, o kikuyu e, em menor escala, o jaraguá. O cafezal
não chega até o vale por causa da inversão de temperatura.'
180. -

A casa do sitiante aproveita geralmente a borda de


um terraço estrutural a meia ehcosta. Junto dela ficam as
culturas de cereais não consorciadas com o café e algumas
frutas, sobretudo a laranja e' a banana. Alguns nem isso
têm; compram tudo. Diz P. MONBEIG (25), que quanto
melhor a situação econômica do agricultor, menor é a área
.em cultivo de cereais e frutas e maior a de cafezal, e
vice-versa. No tôpo do espigão fica, por fim, a reserva de
mata que, na maioria dos sítios do Norte do Paral)á, já
não existe mais.
:Este é o padrão da ocupação nos sítios de café, que
constituem a maior parte das propriedades no Norte do
Paraná, de Londrina para oeste.
Nas fazendas de café, o uso da terra é geralmente mais
simples: quase não há culturas de subsistência, a não ser
as que estão intercaladas nas fileiras dos cafezais novos.
Em baixo, como sempre, ficam os pastos.
:Estes tipos de propriêdades ~ de uso da terra dão ori-
gem a diferentes tipos de habitat rural. A regiões divi-
didas' em sítios geram um habitat disperso. As casas ficam
nos vales, dentro dos seus lotes, que se distribuem em leque
na cabeceira do vale.
Nas fazendas de café, as "colôniás" formam um tipo
de habitat nucleado, entre o cafezal e o pasto.

Povoamento

o Norte do Paraná nada mais é do que o ramo mais


meridional e mais recente da vasta região pioneira pau-
lista. A parte mais oriental, de Jacarezinho, Cambará, Ban-
deirantes. Comélio Procópio, etc., foi povoada ain(la no fim
da década de 1920; é por isso chamada o "Norte Velho't.
- 181-

A antiga emprêsa "Paraná Plantatíons Ltd", mais tarde


denominada "Companhia de Terras Norte do Paraná", or-
ganizou-se em 1925 e em 1927 tinha terminado a compra
das terras e a regularização dos papéis. Eram a princípio
450000 alqueires paulistas (10 800 km~), que foram re-
centemente ampliados para 500 000 (12 000 km~). Como
emprêsa de colonização bem planejada, os seus sócios eram
também os maiores acionistas da E. F. S. Paulo - Paraná.
Esta ferrovia levou os seus trilhos até Londrina o mais
ràpidamente possível.
Nesse Ínterim, sobreveio a grande crise de 1929-1932,
de modo que só a partir dêsse ano pôde a frente pioneira
progredir. O surto cafeeiro do Norte do Paraná foi frnto
da valorização progressiva do café na década de 1930, que
se prolongou até o após-guerra.
Em 1944, como conseqüência das dificuldades finan-
ceiras da Inglaterra decorrentes da guerra, sobretudo quanto
aos seus investimentos no estrangeiro, a Companhia de
Terras foi vendida a um grupo de capitalistas nacionais. A
emprêsa passou a chamar-se desde então "Companhia de
Melhoramentos do Norte do Paraná" e tem como principais
acionistas os VIDIGAL,os MESQUITA,os MORAISBARROS,
todos capitalistas de São Paulo .
. O slogan "a maior emprêsa colonizadora da América
do Sul", que a comp8.nhia emprega na sua propaganda,
parece bem me~·ecido. Os dados abaixo fornecidos pela
C. M. N .P., bem o demonstram. Em 28 anos de tra-
balho, ela povoou uma área superior a 400 000 alqueires
(9 600 km2) com uma densa e próspera população de pe-
quenos proprietários rurais. É interessante observar que,
de acôrdo com êsses dados, aí se encontra uma população
- 182

relativa correspondente à de países europeus: 96 hab/krn~.


Se tomarmos apenas a população rural lia Úrea vcn-
dida, êS3C nÚmero não se modiGca substancialmente: 93,.3
hab/km2•
Os trabalhos de levantamentos, aberturas de estradas,
demarcação dos lotes e entrega dos títulos obedecem a um
plano perfeitamente organizado e sua execução deve servir
de modêlo a outros serviços de colonização oficial e
partiC:Jlar.
Existem no Brasil outras áreas cuja densidade de po-
pulação rural iguala ou mesmo supera a do Norte do Pa-
raná, como por exemplo, alguns trechos da zona da Mata
nordestina e a zona fumageira do Hecôncavo baiano, mas
em nenhuma delas o nível de vida geral da população é
tão elevado. No Norte do Paraná constituiu-se o mais forte
reduto de uma deplOcracia rural do Brasil.

Tipo de Povoamento

Como uma ponta de lança da região pioneira paulista,


o povoamento do Norte do Paraná avançou de leste para
oeste como uma onda maciça, ao longo do espigão plano
entre o Paranapanema e o Ivaí. Nêle estabeleceram-se os
patrimônios, depois transformados em cidades; no seu dorso
abriram a principal rodovia e a estrada de ferro. Hoje em
dia, só quando se avista ou se desce um vale pode-se fazer
idéia de como é numerosa a população rural.
O povoamento promovido pela Companhia de Terras
começou a partir de Londrina, no extremo oriental de
sua concessão, onde por muito tempo foi a ponta dos
trilhos da E. F. São Paulo - Paraná. Ela era, portanto, uma
~ 183-

Umschlagplatz;; e tornou-se desde entào a etapa principal


da zona pioneira do Norte do Parallá.
No entroncamento da rodovia principal com as es-
tradas secundárias foram surgindo novas cidades, cuja
função inicial era de Stadtpliitze. "" Estes núcleos suce-
dem-se com notável regularidade a distâncias de 10 a 15
km. Quando, por acaso, a Companhia deixou de fundar
um patrimônio nessa distância, a iniciativa particular fêz
florescer uma cidade. Quando, por outro lado, duas ini-
ciativas fizeram surgir duas Stadtplatz.e a distâncias meno-
res, uma delas nào progrediu. É o caso de' Mandaguaçu
que suplantou 19uatemi, que lhe fica a 5,5 km; e também
o de Cambiiá, sufocada entre Jandaia do Sul e Pirapó, a
7,5 km de cada uma delas. Isto prova que é a concorrência
da freguesia entre elas que fêz matar ou estagnar uma
d}ls cidades.
À semelhança do que aconteceu no planalto paulista,
os núcleos urbanos do Norte do Paraná acrescentaram
novas funções à inicial, que era a de centro de comérci,o.
Tôdas elas têm, em maior ou menor escala, uma função
industrial, baseada no beneficiamento de café ("máqui-
nas"), de cereais ou de algodào. Estas funções reunidas
dão aos jovens núcleos aquêle vigor que no Brasil só se
conhece na zona pioneira paulista.
Também com uma certa regularidade sucedem-se os
centros maiores: Londrina, Apucarana, Maringá, e, plane-
jados pela Companhia para o futuro, Cianorte e Umuarama.
Tódas elas estão na convergência de estradas de impor-
••
Umschlagplatz significa centro de mudança de meio de
••
Stadtplatz quer dizer centro comercial .
- 184-

tância regional. Assim, Londrina fica no ponto em que a


estrada axial se reúne com a que vai para o norte, para
São Paulo, pelo pôrto de Alvorada do Sul, no Paranapa-
nema. Apucarana, brevemente também centro ferroviário,
liga o Norte do Paraná com a esb'ada que vaI para Castro,
Ponta Grossa e Curitiba. Maringá está situada na bifurcação ,.,1

das estradas que vão para Paranavaí e para Cianorte.


Naturalmente, como cidades de espigão, os núcleos. do
Norte do Paraná estão enfrentando certos problemas rela-.
tivos a melhoramentos urbanos: água, esgotos, luz.
Todos os pab-imônios e quase tôdas as cidades são
abastecidas de água por meio de poços, que perfuram as
camadas de solo decomposto e atingem o lençol d'água .
subterrâneo sôbre o trapp. Existe o perigo da contaminação
da água pela proximidade das fossas a menos de 12 metros
uma da outra.
Em Londrina e Cambé há água potável nas casas, ser-
vida por encanamentos. Na primeira, após uma crise de
falta d'água, bem como em outras cidades dessa região,
MAACKperfurou o trapp e obteve poços semi-artesianos
de lençóis d'água entre os derrames basálticos. Além disso,
captaram a água de ribeirões e elevaram-na por recalque,
por meio de bombas. Está em construção uma rêde que
bombeia a água de um ribeirão a 9 km, que é tratada e
filtrada. Essa água é também suficiente para o esgôto. "
Nem tôdas as cidades do Norte paranaense são bem
iluminadas. Há várias bem deficientes quanto a êsse
aspecto. II

Londrina aproveita a energia do rio Apucaraninha, ~


afluente do Tibaji que lhe fica ao sul, o qual forma duas
quedas d'água de cêrca de 120 metros de altura total.
J
- 185-

o problema da luz será resolvido definitivamente no


Norte do Paraná, quando fôr executado o projeto paulista
do govêrno GARCEZ,de construção de cinco reprêsas no rio
Paranapanema. A de Salto Grande já está em construção.

[ Quando tudo estiver pronto, todo o Norte do Paraná es-


tará muito bem servido de energia elétrica para todos os
fins, sobretudo luz e indÚstria.
Enquanto nas terras da C. M . N .P. a marcha do po-
voamento procede de E. para, W., como um vérdadeiro
ramo da zona pioneira paulista, na parte ocidental dessa
região, a partir das cercanias de Alto Paraná para oeste,
o povoamento vem do sul para o norte, feito por descen-
dentes de alemães e italianos que vêm do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina, à procura de novas terras.
A influência cultural dêsses colonos já se faz notar na
paisagem, sobretudo por meio de suas habitações, com pa-
redes de tábuas verticais e telhados de forte inclinação,
e suas carroças de 4 rodas.

Formas de contrato de trabalho e relações de trabalho no


Norte do Paraná. (Jt<-)

Quando alguém adquire um sítio no Norte do Paraná,


êle geralmente ainda está coberto de mata. A primeira
tarefa é pois, a de "abrir o sítio", o que requer pequeno
capital.
Se o sítio é entregue a um empreiteiro para abri-Io,
leva no mínimo quatro anos. Se o fazendeiro está presente
pode supervisionar e financiar o serviço, entregando-o a
um fiscal ou administrador.

( ") Informe verbal gentilmente prestado pelo Sr. F. SIMONS.


- 186-

No primeiro caso, o empreiteiro pode especular com os


mantimentos obtidos nas culturas intercalares, redundando
em maior economia.
Os empreiteiros deslocam-se, assim, das zonas mais
antigas para as mais novas, à procura de serviço. Para o
Norte do Paraná vieram em grande nÚmero de São Pa!1lo
e Minas Gerais.
São três os tipos de contrato de trabalho no Norte do
Paraná. Os contratos são sempre escritos e bastante porme-
norizados em suas cláusulas, mas em linhas gerais obede-
cem aos seguistes esqnemas:
A - contrato de 4 anos - Neste caso, o dono do sítio
paga a derrubada, a coveação e a plantação do café. O
empreiteiro trata do cafezal durante quatro anos. Os pro-
ventos que lhe advêm resultam: de uma certa importância
por cova, fixada em contratá; do rendimento das culturas
intercalares no cafezal novo, que são geralmente de milho,
feijão e arroz, e, por fim, da colheita de café do 4.° ano,
que poderá render de 15 a 30 sacos por mil pés, se não
gear.
Se tiver sorte, o empreiteiro poderá tornar-se pro-
prietário.
Este tipo de contrato pode ter a modalidade de pro-
longar-se por cinco anos. Nesta hipótese, o dono do sítio
recebe sempre a metade do café colhido.
B - contrato de 6 anos - Neste caso, o empreiteiro
faz tôdas as operações por sua conta e risco: derruba, planta
e trata do cafezal.
Esta forma de contrato é conveniente para os pro-
prietários que não dispõem de capital para iniciar a cul-
187 -

tura do café. No fim de fi anos, Ôks [('cehem o cafÓzal já


formado sem despesa alguma.
C - contrato de 8 anos - Neste tipo de contrato, o
dono recebe sempre metade do café. Êle se assemelha a
uma sociedade em que o proprietário entra com a terra
e o emprenteiro com o trabalho. Tem uma certa vantagem:
proporciona ao empreiteiro colocação por muito tempo. f~
usual, quando o dono do sítio mora na cidade.
O contrato de 8 anos é conveniente se o empreiteiro
fôr um homem de confiança e possuir um .pequeno capital

Nas fazendas de café as relações de trabalho são di


ferentes; impera o sistema do colonato. Segundo o contrato
do colono, a fazenda paga todo o serviço dêle, por mês e
pelo número de pés de café de que cuida, mas uma de-
terminada importância pelo número de sacas de café
colhido pelo colono.
Existe ainda o "camarada" ou "peão", que recebe uma
quantia por dia de trabalho ou por empreitada para
executar certo serviço.
Dentre as tarefas executadas pelos trabalhadores ru-
rais, uma há que requer especialização: a derrubada, em-
preendimento em que se têm distinguido os baianos.
Quando o peão recebe por dia, o contrato é verbal;
quando é pago por mês, êle recebe do administrador ou
responsável uma caderneta agrícola.
Há sítios em que tôda a família do proprietário tra-
balha, de modo que o alivia, às vêzes totalmente, das des-
pesas de mão-de-obra.
- 188-

o que se chama nas fazendas "uma enxada" corres-


ponàe ao trabalho de um homem ou de duas mulheres ou
crianças. Esse trabalho equivale ao trato de 4000 a 4500
pés de café. Nas fazendas velhas, em que o cafezal requer
maiores cuidados, corresponde ao trato de 3 500 pés de
café ..
Em conclusão, pode-se afirmar que a sociedade rural
do Norte do Paraná é mais democrática do que a do pla-
nalto paulista em geral, embora esteja baseada no mesmo
produto agrícola: o café. O regime de propriedade predo-
minante no primeiro gera contratos e relações de trabalho
entre os proprietários da terra e os trabalhadores rurais
em que quase não há superioridade econômica entre uns
e outros. A riqueza está mais bem distribuída e a classe'
mais pobre tem oportunidade de ascender econômica e
socialmente. Esse é um fenômeno social raro no Brasil. O
Norte do Paraná é, por isso, a terra da esperança.

VII. A Secção Apucarana-Castro


A secção de Apucarana a Castro, ao longo da rodovia,
proporciona um corte completo nos sedimentos paleozóicos
do segundo planalto do Paraná, no sentido descendente da
coluna geológica.
- 190-

ridas na estrada Apucarana - Castro, mas sobretudo a ve-


getação.

Sítios de Café

o trecho compreendido entre Apucarana e Araruva é


antes uma dependência daquilo que foi considerado acima
,como Norte do Paraná. É uma parte do terceiro planalto,
constituída de terras roxas, com' relêvo ondulado, que se
vai acentuando desde antes do povoado Califórnia para o
sul. A vegetação original era de mata tropical latifoliada,
característica daqueles solos.
A ocupação foi feita, há poucos anos, por pequenos
proprietários cultivadores de café, até Araruva, não se
encontrando aí, por isso, nenhnm cafezal velhó. Dada a
proximidade do limite polar dos cafezais descobertos, esta -
região está sujeita a geadas esporádicas que prejudicam
severamente as plantações da rubiácea, como aconteceu
em 1955.
Araruva é um núcleo urbano a 72.5 metros de altitude,
constituído de casas de madeira, geralmente bem feitas,
tôdas de aspecto novo. Por volta de 1930, êste local foi
povoado por caboclos provenientes do vale da Ribeira do
Iguape, que estabeleceram um povoado de origem religiosa,
de casas de madeira tôscas, cobertas de tabuinhas, atraídos
por um "santo", chamado São Tiago, hoje ainda vivo e re-
sidente no lugar. Nesse tempo, havia pinhais nas redon-
dezas de Araruva.
Durante e após a Segunda Guerra Mundial, com a va-
lorização do café, vieram colonos do Narte do Paraná e aí
abriram seus sitias. Começou então o surto de progresso
de Araruva, cuja população primitiva de caboclos retirou-se
com a chegada dos novos colonos, ahandonando o seu líder
carismático,

"Ghost Landscape"

De Araruva até o rio Imbatlzinho desce-se a escarpa


do terceiro para o segundo planalto; passa-se dos derrames
de trapp, intercalados com arenito São Bento, para o are-
nito Botucatu, os folhelhos, os tilitos, os arenitos flÚvio-gla-
ciais, dos depósitos gondwânicos. Nada disso, contudo, im-
pressiona tanto quanto o que resta da antiga paisagem
vegebl Ê uma ghost landscape, constituída ora sàmente
de samambaiais, em que a sinusia inferior, de 1 metro a
1,5 metros, é uma cobertura homogênea e cerrada de sa-
mambaias de tapera (PteridiUln aquilinum), ora só de ca-
poeiras, a perder de vista, entremeadas ambas de pinheiros
(Araucaria angustifolia) e gerivás (Arecastrum romanzof-
fianUl71) isolados, meio queimados ou com sinais de fogo.
Aí vivem caboclos muito esparsos, que não poderiam
ser, de modo algum, os Únicos responsáveis por essa devas-
tíl.ção tremenda e indiscriminada. Mantêm êles suas rocinhas
de subsistência contendo mandioca, milho, e com as quais
alimentam também alguns porcos. Habitam pequenas
casas, de tábuas verticais, cobertas de cavacos.
Os causadores desta ghost landscape foram os antigos
moradores desta regi:'ío, cahoclos também, que eram "sa-
fristas" (") os quais vendiam seus porcos para Ortigueira
e Tibaji, tocando-os a pé pelas picadas, em viagens de
.•
Criadores de porcos.
- 192-

uma ou duas semanas. Os porcos eram criados à sôlta e


as roças eram cercadas. Para abrir as roças, faziam, quei-
madas sem aceiro, por isso o fogo lavrava sem contrôle.
Muitos dêsses caboclos já se retiraram para lugares
mais longínquos.

Zona Mista de Mata e Campo

Do rio 1mbauzinho para sudeste, começam a aparecer,


nas terras de mata, clareiras naturais, que acabam for-
mando uma região em que a mata de araucárias e o campo
limpo se interpenetram. É uma "zona mista de mata e
campo", segundo o conceito de BIGG-WITTHER (v. pág. 72).
Esta região estende-se também até Harmonia, na mar-
gem direita do Tibaji, onde se encontra a fábrica de papel
de Monte Alegre.
Ao longo da estrada, o povoamento é disperso e rare-
feito, constituído por caboclos que praticam na mata uma
rotação de terras primitiva para subsistência.
Nas terras de campo há uma pecuária muito extensiva,
com poucas cabeças de gado, o qual é mestiçado com zebu.
Um dos maiores criadores da região, o Sr. WALDEMIRO DE
CARVALHO, de 1mbaú, tem sàmente 150 reses.
As propriedades da região não são grandes, exce-
tuando-se a da fábrica de papel de Monte Alegre. Esta,
mesmo antes de sua formação, já era um vasto latifúndio.
A fábrica está estratêgicamente localizada na zona
mista. Da mata, ela rec~be a lenha para suas fornalhas; no
campo, ela mantém bosques artificiais de pinheiros para o
fornecimento de matéria prima. A faixa fornecedora de
lenha de Monte Alegre estende-se até longe, na região
,mterior, onde alcança as cercanias de Ortigueira.
- 193-

Campos Gerais de Tibaji

Os Campos GerclÍs são atravessados por esta estrada,


desde um ponto a 8 km antes da cidade de Tibaji até a
escarpa devoniana.
Os campos de Tibaji têm um relêvo suave, típico dos
reversos de cuesta. São campos limpos com capões e matas
ciliares de araucáriaso No meio dos campos, predominam
as gramíneas, dentre as quais sobressaem os tufos formados
pela barba-de-bode (Aristida pallens). Entre elas, es-
palham-se numerosos exemplares de uma palmeira anã, o
. Diplothemium campestre, também muito comum nos cam-
pos de Vila Velha o
A rocha que forma os terrenos dos campos de Tibaji
é o arenito Furnaso Só no seu extremo oeste é êle encoberto
por camadas delgadas de sedimentos glaciais, que deixam
afIm"ar o arenito Fumas no leito dos rios o
Nenhum dêsses depósitos contém material solúvel.
Apesar disso, encontram-se nessa região depressões fecha-
das muito rasas, com lagoas, algumas das quais são pe-
riódicas (figo 12) o
A ocorrência dessas depressões talvez se possa explicar
pelo cruzamento de diáclases, que teria facilitado o arras-
tamento de partículas sólidas através das fendas alargadas.
Êste e outros aspectos da morfologia dos arenitos serão
discutidos mais adiante, a propósito de Vila Velha o
Os Campos de TibaE são pouco povoados. Nêles pre-
dominam ·os latifúndios, dedicados à criação extensiva de
gado azebuado para corte. As casas das fazendas estão
situadas nos capões ou junto às matas ciliares o
- 13-
- 194-

Planalto de Castro

o curto trecho que separa a cidade de Castro da es-


carpa devoniana tem um relêvo mais enérgico junto à
frente da cuesta, e aos poucos se vai tornando ondulado, à
medida que se aproxima de Castro.
A rocha predominante aí é o quartzo-pórfiro.
Perto da escarpa ocorre uma zona mista, que logo cede
lugar à mata.
A terra é ocupada por latifúndios em que se pratica
uma rotação de terras primitiva. Sua população ruraJ é
escassa.

Tibafi e o potJoamento da mata e da zona mista. (~)


A posição de Tibaji já tinha sido escolhida para a
instalação de núcleos de povoamentos, antes mesmo da
penetração luso-brasileira. Aproveitando a passagem pelo
caminho pré-histórico do Piabiru, fundaram os jesuítas,
perto da atual cidade de Tibaji, a sua primeira redução nos
campos da província do Guaíra: São Miguel. Em 1629, os
paulistas a destruíram antes das demais, porque o acesso
a ela foi facilitado, através dos campos. Suas ruínas se en-
contram ainda hoje, a S.S.E. de Tibaji.
A sucessão de "campinas", clareiras naturais no meio
da mata, facilitava a penetração nela, em rumo noroeste.
Isto veio dar a Tibaji, mais tarde, uma importância relativa.
Mesmo depois de destruídas as missões do Guaíra, a
região de Tibaji permaneceu por muito tempo como palco

•• O texto que se segue sôbre o povoamento está baseado nas


informações gentilmente prestadas pelo Sr. LEOPOLIlO MERCER, de
Tibaji.
- 195-

de tropelias entre índios e brancos. As notícias de ataques


de selvagens, demoveram SAINT-HILAIREde visitá-Ia em
1820. Hoje em dia, os restantes dêsses indígenas estão al-
deados perto de Ortigueira, na margem do rio Bonito, aflu-
ente do Alonzo.
A atual Tibaji nada tem a ver com a antiga redução
de São Miguel. Por volta de 1780, instalou o sargento-moI'
JosÉ FELIX a fazenda Fortaleza, que ainda hoje existe, a
nordeste dã cidade, com objetivo de dedicar-se à criação
de gado nos seus campos.
Um lugar-tenente de JosÉ FELIX chamado ANTÔNlO
MACHADORIBEIRO,obteve uma sesmaria relativamente pe-
quena do lado de oeste, que confrontava com a do S3,r-
gento-mor pelo rio Tib~ji. Um filho de MACHADORIBEIRO
fêz a doação do patrimônio à igreja, e uma neta do mesmo
obteve a sua elevação a freguesia em 1846.
O barão de ANTONINAmandou demarcar o sítio da ci-
dade e o Eng.o E):..LlOTTtraçou-lhe a planta.
Tibaji foi, portanto, tipicamente uma cidade planejada.
Daí o seu traçado rigorosamente em xadrez, tão ao sabor
dos urbanistas daquela época.
A cidade está situada no limite entre a zona mista e
o campo. Ela não ficava propriamente no caminho do gado,
que vinha do sul. Êste deixava-a para oeste, passando por
Lapa, Palmeira, Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Ja-
guariaíva e seguia para São Paulo por Capão Bonito, Itape-
tininga e Sorocaba.
No princípio, as tropas de mulas eram levadas até o
sul de Minas Gerais. Só depois é que as tropas passaram a
em Sorocaba, no limite entre a mata e o campo.
196 -

Essa longa viagem não podia ser feita seguidamente.


Passava de um ano a outro, porque os animais, f'stafados,
tinham que pousar para se refazer. Havia, para êsse fim,
uma série de invernadas em tôrno de Tibaji, aonde se
chegava fazendo-se um pequeno desvio no percurso. As
principais invernadas 8stavam em Monte Alegre, Vará, Fa-
zendinha e Fortaleza.
No planalto meridional, o têrmo "invernada" tem uma
significação diferente da que possui no Brasil tl"opical. Na
primeira região, chama-se "invernada" um pasto natural
que só é submetido ao pastoreio para animais que vão
pousar. Estão, por conseguinte, em terras de campo, ao
passo que no Brasil tropical, incluindo São Paulo, a inver-
nada é um pasto plantado em terras originalmente cobertas
de mata.
De freguesia, passou Tibaji a município em 1872, a
têrmo em 1874 e a comarca em 1904. Contudo, não teve
ela nenhum surto notável de desenvolvimento, apesar de
ter sido, a partir da segunda década dêste século, etapa
principal de uma pequena região pioneira.
Em 1926, a frente pioneira estava em Ortigueira, La-
jeado Bonito, Caeté e São Jerônimo. Faxinal, antigamente
chamado Faxinal de São Sebastião, era um pôsto avançado
dessa frente, fundada em 1920. Em Monte Alegre, já existia,
no ano de 1926, um latifúndio.
Tibaji tinha então as maiores vendas dos Campos
Gerais paranaenses, depois de Ponta Grossa. Ela exercÍ'i
função de centro de mineração e de lugar de baldeação nos
transportes ("Umschlagplatz"). De Ponta Grossa a Tibaji,
podia-se viajar de automóvel; de lá para Ortigueira, ia-se
de carroça, e, daí em diante, para o sertão, partiam de
- 197-

Tibaji tropas que chegavam até o Faxina!. De Ortigueira


a Apucarana passava uma antiga estrada boiadeira, por
onde desciam pontas de gado vindas de Mato Grosso para
abastecer as cidades paranaenses, especialmente Curitiba.
O traçado dêsse caminho foi aproveitado pela atual es-
trada de rodagem, que foi reconstruída mais ou menos
em 1948.
Só em 1929 começaram a transitar caminhões até 01'-
tigueira, então denominada Queimadas ..
A frente pioneira era formada pelos "safristas", que
nos legaram a atual ghost landscape.
Por essa altura, a frente pioneira paralisou-se. Houve
duas razões princiFais que concorreram para fazer uma
drenagem humana que a deteve: o avanço de uma nova
frente pioneira muito mais importante no Norte do Paraná,
a partir de Londrina, em 1932, e a constituição da indústria
de papel e celulose Klabin S. A. , de Monte Alegre,
em 1935.
Tibaji permaneceu, assim, uma cidade estagnada, de
casas antigas, sem quase nenhuma edificação nova. É pro-
vável que a abertura da nova estrada de ferro em cons-
trução, que ligará Ponta Grossa a Apucarana passando por
Tibaji, vá arrancá-Ia do marasmo em que mergulhou.

História da exploração dos diamantes no rio tiba;i (")

A primeira notícia da existência de diamantes no Tibaji


data do fim do século XVIII, quando foram encontrados

•• O texto que se segue sôbre a exploração de diamantes ba-


seia-se em informações gentilmente prestadas pelo Dr. REINHARD
- 198-

pequenos diamantes dcntro de galinhas que catavam pe-


quenas pedrinhas na margem daquele rio.
A mincração organizada no Tibaji começou em 1872.
Foi constituída uma companhia inglêsa, que funcionou
daquele ano até 1874. Mas essa emprêsa não explorou dia-
mantes e sim ouro. Em 1874, tendo a companhia paralisado
seus trabalhos, as famílias dos engenheiros radicaram-se
em Tibaji.
A garimpagem de diamantes começou há cêrca de 38
anos. Quem fêz a sua exploração pela primeira vez foi
WILHELM BOSCH,um sul-africano de origem alemã, que
veio de sua pátria para trabalhar no Paraná. Depois, os
garimpos passanm a ser explorados por baianos.
Em 1925, CusTamo COELHODE ALMEIDAorganizou a
Companhia Paranaense de Mineração e Colonização, tendo
adquirido os direitos de monopólio da exploração de dia-
mantes no Tibaji. Essa companhia contratou o Dr. R.
MAAcKpara estudar os meios de 'exploração mecânica dos
diamantes. Êste só trabalhou alguns meses; a revolução de
1926 fêz paralisar os serviços da emprêsa.
Em 1928, constituiu-se em Paris a Companhia de Mi-
nm'ação, Colonização e de Estrada de Ferro Monte Alegre,
com sede em Curitiba e sucursal em Paris. Estava ligada à
companhia inglêsa Mexican Mine EI Oro. Tinha um capital
total de 40000 contos de réis (Cr$ 40000 000,00), compre-
endendo capitais inglêses, franceses e nacionais.
Essa companhia comprou a fazenda Monte Alegre, de
62 000 alqueires (cêrca de 150 000 hectares), e levantou no
Banco do Estado do Paraná um crédito de 4 000 contos de
réis (Cr$ 4000 000,00). Três anos durou a companhia fun-
- 199-

cionando, até que parou em 1932. Em conseqÜência de uma


crise política, ela foi nessa época arrastada à falência.
Quando ainda em funcionamento, 20% de tôda a pro-
dução do Tibaji ficava para a Companhia. Enquanto se
desenvolvia o processo de falência, o DI'. MAAcKcontinuou
zelanrlo pelos interêsses dela na garimpagem, até 1933.
Passou então a receber, em nome da Companhia, mil cru-
zeiros por máquina e 200 de cada garimpeiro, por ano.
No período de 1930 a 1933, em que os garimpos atin-
giram o seu apogeu, chegou a haver 300 máquinas tra-
balhando. Saiam normalmente 5 a 7 milhões de cruzeiros
por ano em diamantes, do Tibaji.
A fazenda Monte Alegre, junto com a fazenda Con-
ceição, foram postas em leilão em hasta pública em 1934,
mas ninguém as arrematou. Mais tarde, elas passaram para
o Banco do Estado pela importância de 1 000 000 de
cruzeiros.
Ainda em 1934. a firma Klabin S.A. comprou Monte
Alegre pagando 1 000 000 de cruzeiros de entrada e mais
50 000 cruzeiros mensais durante 10 anos.
Em 1937, com o grande desenvolvimento que tomaram
os garimpos do rio das Garças, muitos garimpeiros foram
debandando para Mato Grosso.
Em 19'48, só existiam no Tibaji 20 máquinas tra-
balhando, ocupando ao todo 120 a 200 garimpeiros.

A colônia Augusta Vitória

A colônia Augusta Vitória foi fundada em 1933, pelo


pastor W. FUGMANNc o Sr. BRASÍLIOFRANÇA,na estrada
de Castro a Apucarana, situada a 13 km de Ortigueira, 33 de
Harmonia e 44 km a N.W. de Tibaji.
- 200-

A terra era de uma antiga fazenda pertencente ao Sr.


FRANÇA, e, na ocasiãCi da compra pelos colonos, já estava
totalmente transformada em capoeira. Os primeiros colonos
que chegaram receberam 20 alqueires cada um (48,4 hec-
tares ), mas os mais modernos, que são a grande maioria,
receberam cêrca de 10 alqueires (24,2 ha), sómente.
Os colonos eram quase todos de origem alemã, vindos
de diversas partes: J oinvile, Cândido de Abreu, etc.
A colônia tem duas sedes. Na sede central moram 13
famílias de origem alemã e 11 de brasileiros; na segunda
vivem 10 famílias de tronco alemão e uma de caboclos.
No planejamento da colônia não foi adotado o habitat
disperso, mas o concentrado. Os lotes dividiam-se em ur-
banos e rurais. Cada colono recebeu dois lotes: um urbano,
de um alqueire (2,42 ha), para nêle construir sua casa, e
um rural, de 9 alqueires (quase 22 ha), a 2 ou 3 km do
ouh·o. Neste Último ficam os paióis. Só os lotes rurais estão
distribuídos como Hufen (povoamento disperso linear).
Este sistema tem o inconveniente de que cada colono,
para ir e voltar de carroça do seu lote rural, perde mais
ou mimos duas horas de traballio por dia. Não obstante,
alguns colonos se adaptaram a isso e não se queixam. Em
compensação, dizem êles; as casas ficam mais próximas
umas das outras, evita'1do o isolamento.
Os principais produtos comerciais de Augusta Vitória
eram o porco, o milho e o feijão. O porco era vendido para
compradores de frigoríficos, que trabalham em Ortigueira.
Além disso, vendem agora muita lenha, laranjas, legumes,
galinhas e ovos para Ortigueira e para Monte Alegre, hoje
em dia o seu principal mercado.
-- 201

Para consumo doméstico, os colonos produzem milho,


feijão, batatinha, aipim, centeio, arroz, frutas, mel e mate.
No lote urbano, os colonos usam o arado, mas não
adubam a terra, porque têm muito poucas cabeças de gado,
fato decepcionante numa colônia alemã.
Nos lotes rurais, os colonos cultivam principalmente o
milho em roças, obedecendo à seguinte rotação de terras:
1 ano - milho
3 a 4 anos - capoeira
Nos lotes urbanos é costume plantar-se o milho com
plantadeira; nas roças, o plantio é feito com cavadeira.
Aqui, pois, a lavoura é semelhante à dos caboclos: trata-se
de uma rotação de terras primitiva.
Os solos são, de um modo geral, considerados bons
pelos colonos. Lá poderiam produzir trigo, mas acham êles
que o chopim, passarinho muito abundante na região, come
tôda a colheita.
Em Augusta Vitória ocorrem anualmente geadas fortes
nos meses de junho e julho. As laranjas dão bem, mas as
bananas e o abacaxi não se cultivam, porque são prejudi-
cados pelas geadas. Antigamente, os colonos vendiam bas-
tante cêra e mel de abelhas, porém, em 1940, o inverno
rigoroso fêz baixar daí por diante a produção.
Uma das maiores queixas dos colonos diz respeito à
devastação inútil e incontrolada das terras pelos incêndios
que os caboclos ateiam. Quando isto acontece, forma-se
no solo uma crosta de cêrca de 10 centímetros de espessura.
Se fôr usado o arado antes da primeira cultura, o período
de repouso pode ser restingido a 3 ou 4 anos. Mas, se não
se empregar o arado, a terra deve ficar descansando cêrca
de 6 anos.
- 202

Augusta Vitória é tIpicamente uma colônia particular.


O govêrno brasileiro não teve a menor interferência no
assunto. O dono das terras foi um dos promotores da co-
lonização. Apesar disso, o govêrno alemão, por intermédio
do seu cônsul no Paraná, estêve diretamente envolvido na
criação da colônia. A identidade de datas -- 1933 - da
fundação da colônia e do advento do nazismo ao poder na
Alem:mha não foi mera coincidência.
A idéia de organizar núcleos do tipo village resulta do
propósito de pregar assim mais fàcilmente o ideal nacional-
-socialista entre os colonos e mantê-Ios controlados mais
de perto.
Com a eclosão da Segunda Guerra mundial e 0S acon-
tecimento político-militares de todos conhecidos, Augusta
Vitória perdeu a sua orientação inicial e entrou logo em
decadência.
O desenvolvimento de uma cidade industrial em Har-
monia, por causa da fábrica de papel criou um mercado
de consumo invejável em suas proximidades. Por outro lado,
a estrada de ferro em construção trará um surto de pro-
gresso a tôda a regEio por ela servida.
Nada disso, porém, poderá fazer com que. o núcleo
colonial retome o rumo do progresso agrário. A desorga-
nização cumpriu sua tarefa. Não resta dúvida que a colônia
não se encontra agora num estado primitivo; houve algum
progresso e as terras foram muito valorizadas.
Antes de tudo isso, Augusta Vitória já mostrava um
certo atraso, comparada com outras colônias alemãs, como
as dos vales do Caí e do Itajaí. Quando se considera, en-
tretanto, que ela estava a cêrca de 115 km da estação
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ferroviária mais prÓxima ( Castro), compreende-se que o


que fôra realizado já era uma coisa considerável.
O exemplo de Augusta VitÓria é uma prova a mais de
que o acesso ao mercado é o fator principal de progresso
de uma colônia. Ela é muito mais moderna que as colônias
do Caí e do Itajaí; deveria, pois, adotar técnicas agrícolas
mais avançadas. Mas o seu mercado restrito não absorveria
safras maciças, produzidas por uma lavoura em moldes
intensivos.

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