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Contribuição ao Estudo do Norte do Paraná *

Nice Lecocq Müller* *

RESUMO
Este artigo, publicado originalmente em 1956, no Boletim Paulista de Geografia, é um dos trabalhos importantes sobre
o Norte do Paraná. Inicialmente foi feita uma discussão sobre a delimitação da região e caracterização dos aspectos
fisiográficos; em seguida tratou-se do povoamento e da organização do espaço agrário e urbano, concluindo-se com a
importância econômica da região, em especial no que se refere ao café.

PALAVRAS-CHAVE: Norte do Paraná; características físicas; cafeicultura; povoamento; espaço agrário e urbano.

Embora contando com um número já do Paraná, uma vez que reúne porções que
elevado de estudos de caráter geográfico, o fazem parte de regiões naturais que a ele
Norte do Paraná estava a exigir, por sua pertencem. Desse jogo de afinidades deriva a
importância e pelo interesse que sempre originalidade do Norte do Paraná: é um capítulo
desperta, um trabalho de síntese de caráter da vida paulista, mas, em território paranaense.
regional. Foi este, exatamente, o objetivo que Embora com traços fisionômicos bastante
norteou a profa. Dra. Nice Lecocq-Müller, marcados, para ser reconhecido com facilidade,
sócio efetivo da A. G. B. e assistente da cadeira o Norte do Paraná não teve, até hoje, suas
de Geografia Humana da Faculdade de Filosofia fronteiras demarcadas, de maneira satisfatória
da Universidade de São Paulo, ao elaborar o Como porção mais setentrional do Estado
presente estudo, para a feitura do qual do Paraná, a região tem limites precisos ao Norte
manipulou a abundante bibliografia que o (rio Paranapanema), a Leste (rio Itararé) e a
acompanha e utilizou observações pessoais Oeste (rio Paraná) ; é no sentido Sul que reside
recolhidas em viagens realizadas à região. o problema de sua delimitação. Na tentativa
de estabelecê-lo, parece que o melhor critério
seria o de adotar a produção do café, elemento
O NORTE DO PARANÁ E O PROBLEMA que lhe assegura individualidade no conjunto
DE SUA DELIMITAÇÃO do Estado. Esta solução esbarra, porém, no
grave inconveniente de que as fronteiras do café
Do ponto de vista econômico e paisagístico, não estão definitivamente estabelecidas, uma vez
o Norte do Paraná – criado pelo extravasamento que sua marcha, à procura de terras virgens, está
da cultura cafeeira paulista – tem pontos de ainda em pleno desenvolvimento. Diante deste
contato com o Estado de São Paulo. Por outro fato, torna-se necessário adotar uma de duas
lado, no que se refere aos traços fisiográficos, alternativas: a) levar em consideração apenas
tem íntimas relações com o conjunto do Estado as áreas efetivamente ocupadas, o que daria à
* Artigo publicado originalmente no Boletim Paulista de Geografia, n.22, p.55-97, março, 1956. Agradecemos a
profa. Nice Lecocq Müller que gentilmente autorizou a reedição do mesmo.
** Professora aposentada da Universidade de São Paulo. E-mail: lecocq@greco.com.br

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delimitação valor de curta duração; b) segunda possibilidade parece mais atraente,
considerar como Norte do Paraná, além da área sobretudo quando se considera que já estão
efetivamente ocupada pelo café, toda a que esboçadas, em suas linhas gerais, as fronteiras
estiver dentro de sua possível expansão. Mesmo da futura expansão do domínio cafeeiro.
com o risco da necessidade de futura revisão, a
Mapa 1 – Norte do Paraná – Produção de Café – 1950.

Embora tenha sido a “terra roxa” o elemento o clima fator decisivo, parece lícito adotar o limite
básico da penetração do café no Norte do climático do café2 como a própria demarcação
Paraná, parece não ser sua ocorrência que do limite meridional do Norte do Paraná.
constitue o fator essencial na delimitação da Comparando a área efetivamente ocupada
lavoura cafeeira. De fato, na sua marcha para o pelo café, com os limites de sua possível
Oeste, ele está atualmente aparecendo nos solos expansão (vide mapa n.0 1), constata-se que, se
arenosos do extremo ocidental do planalto, em alguns pontos elas coincidem, em outros
provenientes do arenito de Caiuá, que aí recobre há ainda vasta extensão a ser ocupada. A Leste
o manto de diabase1 . da região, o café chega até seu limite climático3 ,
Se os solos não parecem ter influência podendo a demarcação meridional do Norte do
decisiva, constitui o clima limite bem mais Paraná aí ser considerada como definitiva. A
rígido. De fato, tem o Norte do Paraná clima Oeste, no entanto, os limites do café, mesmo
de transição entre o tipo subtropical, que considerando-se como otimista a delimitação
caracteriza a maior parte do Terceiro Planalto, climática, são bem mais amplos que o da área
ao sul do Ivaí, e o tropical de altitude do Oeste atual de cultura; é possível que, no futuro,
paulista; assim sendo, à medida que se caminha aqueles limites não sejam atingidos ou sejam
ultrapassados. Quem sabe? Apesar das
para o Sul, a diminuição das temperaturas e a vicissitudes da previsão, parece que essa
maior freqüência e intensidade das geadas vão delimitação, dentro das tendências observadas,
tornando impraticável a cultura do café. Sendo ficará pele menos mais próxima da realidade4 .
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CARACTERÍSTICASFISIOGRÁFICASDAREGIÃO importância, por agir em todas as estações,
como se fosse um anti-ciclone semi-fixo;
Do ponto de vista fisiográfico, o Norte do predominando na maior parte do ano, sofre no
Paraná constitui um todo geograficamente bem Verão ligeira oscilação para Leste, localizando-
caracterizado, embora esteja correlacionado com se sobre o oceano. Sua predominância
outras regiões, por determinados aspectos. determina dias claros e ensolarados, com tempo
O clima constitui um dos fatores que lhe firme e seco. No Verão, quando se desvia Ta

conferem individualidade: por ser de transição, para Leste, toma seu lugar a massa equatorial-
difere tanto do que predomina nas regiões continental que, atraindo os ventos alísios do
paulistas vizinhas, quanto do que caracteriza o hemisfério norte, que aí chegam quentes e
restante do Terceiro Planalto paranaense. De úmidos, é animada de forte movimento de
modo geral, por estar mais exposta às massas convecção, instalando um regime climático de
de ar frio, a região conta com temperaturas mais tipo equatorial, com fortes aguaceiros e
baixas (principalmente no Inverno) que as áreas perturbações atmosféricas
do planalto sedimentar do Oeste paulista, de O regime de chuvas, intimamente
clima tropical de altitude; de outro lado, por condicionado pela alternância das massas de ar,
ter um regime pluviométrico que acusa, embora apresenta-se com um período úmido no Verão,
atenuadamente, chuvas de Verão e secas de dada a predominância de e um de secas no
Ec,

Inverno, afasta-se do clima subtropical das Inverno, seguindo-se a instalação de Sendo Ta.

regiões mais meridionais do Paraná, para se as observações pluviométricas por demais


aproximar daquele tipo de clima que aparece escassas, torna-se impossível o exame detalhado
em território paulista 5 . das quedas de chuva: pode-se apenas adiantar
Na análise especifica dos fatores climáticos, que, nas áreas localizadas logo após a escarpa
o caráter de zona de transição aparece ainda no do planalto basáltico, os índices anuais
fato de constituir o Norte do Paraná a área de ultrapassam 1700 mm, enquanto que em
contato entre as massas de ar tropical-atlântica Londrina, Jataizinho, Jacarezinho e Andirá,
(Ta) e equatorial-continental A massa
(Ec). localizadas mais para o interior do planalto,
tropical-atlântica é, para a região, a de maior oscila entre 1200 e l400mm6 .
Mapa 2 – Norte do Paraná mapa da vegetação. (extraído do Mapa Fitogeográfico de Reinhard
Maack – 1950).
NORTE DO PARANÁ MAA DA VEGETAÇÃO
(extraído do Mapa Fitogeográfico de Reinhard Maack – 1950)

L. Müller Des. Rufino

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Se para as chuvas são raros os dados, a no Inverno e é para escapar à sua ação que os
pobreza é ainda maior em relação às cafezais procuram as terras mais altas e, no Norte
temperaturas, para as quais não há observações do Paraná, de preferência as vertentes
metódicas em todo o conjunto do Norte do ensolaradas, de orientação N e NW A . geada

Paraná. A título de informação, podem-se preta ocorre quando a frente polar avança,
apenas registrar os dados fornecidos por facilitada pelo recuo da massa Tropical-
Reinhard Maack a Pierre Monbeig 7 em relação Atlântica. O encontro das duas massas provoca
à cidade de Rolândia: média anual de 19º, tempestades, seguidas de brusca queda de
média de Verão de 23º,4' e média de Inverno temperatura: as plantas, carregadas de umidade
de 17º,1'. O Inverno, em toda a região, registra não evaporada, são então queimadas por
fortes e bruscas quedas de temperatura, congelamento. O perigo da para os
geada preta

ocasionadas por incursões de anticiclones cafezais é incomparavelmente maior que o da


móveis escapados da massa Polar-Atlântica (Pa), “branca”: ocorrendo no inicio do Verão, quando
muitas vezes reforçadas por contribuição da as plantas não estão em repouso vegetativo, ela
massa Polar-Pacífica Estas massas de ar
(Pp). aniquila e mata, comprometendo seriamente a
penetram na região pelos vales dos rios tanto safra. Por várias vezes, principalmente nos anos
mais quanto maior o afastamento da massa de 1942, 1953 e 1955, o Norte do Paraná foi
Tropical-Atlântica (Tu). duramente atingido pela fato que
geada preta,

Dentre os fenômenos climáticos que comprova estar a região no limite mais


ocorrem na região, as geadas, devido à cultura meridional em que o café pode ser plantado sem
do café, se revestem de especial importância. definitivas impossibilidades climáticas.
O Norte do Paraná é atingido pelos dois tipos Se, do ponto de vista de clima, o Norte do
de geada a “branca” e a “preta”, a primeira
: Paraná tem personalidade, também concorre
também muito comum no Estado de São Paulo. para isso a vegetação: no conjunto do Estado,
A geada branca corresponde a um “golpe de frio” essa região é o domínio da mata latifoliada.

local: graças à irradiação noturna, ocorre a Tendo sempre aspecto rico e intrincado, sua
inversão de temperatura, aparecendo então composição é, no entanto, diversa segundo as
brumas frias e geadas nos vales e depressões do variações pedológicas. (vide mapa 2)
terreno. A ocorre principalmente
geada branca

Foto 1 – Este aspecto, apreendido entre Cornélio Procópio e Bandeirantes, a 21 Km daquela primeira cidade, é
eloqüente testemunho dos estragos produzidos nos cafezais pela geada que, mesmo em ligeiras depressões do terreno,
como no caso que focalizarmos, faz sentir os seus efeitos dos anos de ocorrência mais intensa (foto N. L. Müller).

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Na “terra roxa”, a mata latifoliada é Nos solos arenosos, a mata latifoliada tem,
constituída, no primeiro horizonte, por espécie no primeiro andar, a predominância da peroba
de alto porte, de 25 a 30m de altura, como a (Aspidosperma sp.), do jequitibá (Cariniana
figueira branca (Ficus pohliana Mig.), o pau excelsa) e do cedro (Cedrela sp.). No segundo
d’alho (Gallezia gorazena Vel. Mig.), o tamboril horizonte, aparecem o jacarandá (Machaerium
ou timbaúva (Enterolobium ellipticum Benth.) sp.), o faveiro (Pterodon pubescens Benth.), a
O segundo andar é formado por espécies caviúna (Dalbergia nigra F. All.) e a aroeira
suscetíveis de atingir iguais dimensões das do (Astronium urinduva Fr. All.). Vem, a seguir, o
andar superior se lhe forem dadas condições andar das palmeiras (principalmente o jeribá,
ecológicas favoráveis, tais como a canjerana ou Arecastrum romanzoffianum) e das taquaras e,
canjarana (Cabralea cangerana Sald.) e o cedro por último, o andar herbáceo.
Branco (Cedrela fissilis Voll.). Vem a seguir o andar Segundo Dora de Amarante Romariz, a mata
em que predominam as paineiras (principalmente latifoliada típica da terra-roxa recobria também a área
o palmito, Euterpe edulis) e as samambaias, e, a SE do Norte do Paraná, onde esse tipo de solo só
finalmente, um andar herbáceo8 . aparece em manchas, entre terrenos provenientes de
deposições do permiano e carbonífero9 .

Mapa 3 – Carta Geológica do Norte do Paraná (estrato do mapa Geológico do Estado do Paraná,
por Reinhard Maack, 1953).

Permiano
ERA Quartenário Terrenos do permiano superior (Série Passa Dois) e
CENOZÓICA Depósitos fluviais inferior (Grupo Estrada Nova e Irati)

Série São Bento Carbonífero superior


Jurássico (liássico ?) ERA
Terrenos da Série Tubarão dos Grupos Guatá e Itararé e
PALEOZÓICA das formações Tabó e Palmira
Arenito Caiuná – formação supratrepp eólica
Derrame de Trapp – Paraná (diabásios, melátrofos, Devoriano
vitrófiros, etc.) com arenitos eólicos intertrapp Terrenos do devoviano inferior e do siluriano (Siluriano
ERA – gotiandiano ?)
MESOZÓICA Diabases, parfiníticos (basaltícos) e andesitas
nna capa do derrame de Trapp Escarpa Devoniana
ERA
Diques de diabásico Triássico PROTEROZÓICA
TerrenosEo - algonquianos
Arenito Botucatú (eólico predominando,
Inclusive facies pluvial e facies Piramboia na base)

Escarpa Triássica

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À medida que se progride para o Sul, a mata Da constituição estrutural das camadas
latifoliada vai apresentando formas de transição sedimentares resulta o relevo escalonado típico
para a floresta sub-tropical, que também dessa formação, com as testas das escarpas
ocorrem em áreas mais elevadas, como a de voltadas para Leste e o topo em forma de
Apucarana: ao lado da araucária (Araucaria mesetas ligeiramente inclinadas para Oeste. Essa
angustifólia) surgem então a imbuia (Phoebe constituição do relevo é alterada pelas freqüentes
porosa Mez.) e, por vezes, também o palmito. intrusões de diabásio14 : onde quer queos “sills”
A continuidade da mata latifoliada é se intrometam entre os sedimentos aparecem
quebrada pela existência, em áreas ilhadas, de pequenas “cuestas” 15 ; onde a eruptiva se
associações de cerrado que se apresentam como apresenta em derrame, os rios que os seccionam
verdadeiros “campos inclusos” 10 . Esses campos, tomam aspecto caótico, com saltos e corredeiras
embora paisagísticamente diferentes dos do Brasil escalonados, espraiando-se irregularmente, à
Central, apresentam as mesmas espécies que nestes procura de pontos de menor resistência; as
aparecem: barbatimão (Stryphenodendron sp.), a margens, freqüentemente se elevam em paredões,
palmeira barirí (Cocos sp.) e palmáceas anãs encaixando os cursos d’água16. Até mesmo quando
(Diplothemium campestris). Essas espécies, em a rocha eruptiva aparece em estreitos diques, sua
lugar de se apresentarem em tufos, arranjo típico ação se faz sentir sobre o modelo, pois a maior
dos cerrados, formam manto contínuo11 . resistência acarreta quebras no perfil de equilíbrio
A enorme extensão original de florestas do dos rios que os atravessam.
Norte do Paraná está hoje bastante reduzida, Como elementos do relevo, a um tempo
implacavelmente devastada para o plantio do ligados à região de Cinzas e ao planalto, carece
café. Na retaguarda pioneira, há só apontar as elevações que, ao Norte e a Oeste
remanescentes raros e, na vanguarda, a daquela área, acompanham o traçado da escarpa
derrubada progride, abrindo claros cada vez do Terceiro Planalto. Trata-se de testemunhas
maiores. Levando em conta a rapidez com que da antiga frente da ‘’cuesta”, isoladas por efeito
vem se processando a ocupação da região, pode- da erosão regressiva; normalmente capeadas por
se prever o desaparecimento das atuais reservas camada pouco espessa de efusivas, sobressaem
em futuro muito próximo. na paisagem, apresentando-se sob a forma de
Se, pelo clima e vegetação, o Norte do Paraná “cuscuzeiros” e “peões”. Nesta área, os morros-
tende a constituir uma unidade, pela geologia testemunhos não aparecem muito afastados da
e formas de relevo se divide em duas províncias escarpa, como acontece mais para o Sul, onde
distintas: a região de Cinzas e o planalto arenito- chegam a distâncias da ordem de 30 Km. Os
basáltico (vide mapa 3). A região de Cinzas 12 melhores exemplos, no Norte do Paraná, são en-
está localizada a SE da região, ao Sul e Leste da contrados a SE de Santo Antônio da Platina (do
escarpa do planalto, fazendo parte do que os lado esquerdo da “percée” do rio Jacarezinho), ao
paulistas chamam de “depressão periférica”, e S de Ribeirão do Pinhal (à direita do boqueirão
os paranaenses de “Segundo Planalto”. Quanto do rio Laranjinha) e na região de Araiporanga
ao planalto arenito-basáltico 13 , é ele parte da (antigo São Jerônimo da Serra), ao lado direito da
grande área de ‘’trapp” que é conhecida, no secção da escarpa pelo Tibagi.
Paraná, como o “Terceiro Planalto”. No que se refere ao planalto arenito-basálico
A região de Cinzas é constituída do Norte do Paraná, deve ser lembrado,
principalmente por terrenos sedimentares inicialmente, ser ele parte do grande “campo
paleozóicos, do permiano e do carbonífero, em de lava” que recobre o Oeste do Estado. A
estrutura monoclinal ligeiramente inclinada geologia é a mesma para toda a região,
para Oeste. Esta formação é cortada por diferenciando-se a porção que estudamos pelo
sistemas de diques de diabásio, orientados no capeamento de arenito que aparece no lado
sentido NW-SE, bem como por alguns “sills”. ocidental. A idade das atividades vulcânicas está
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limitada entre o triássico superior e o cretáceo No planalto arenito-basáltico, as feições
superior, possivelmente entre o rético e o topográficas são semelhantes às que descrevemos
jurássico 17 , recobrindo os derrames um para a região de Cinzas pois, também ali, a
embasamento de camadas espessas e estrutura é de camadas alternadas de resistência
horizontais 18 do arenito triássico (rético?) diferente, com inclinação para Oeste; as formas
Botocatú, de origem eólica. A erupção deu-se de relevo, no entanto, são mais acentuadas, em
através de fendas de tração, pelas quais parte devido a erosão mais forte, com níveis de
extravasaram derrames sucessivos: Viktor Leinz base mais baixos, em parte devido ao basalto
pôde verificar, variando conforme a região, de que, por sua resistência, contribui para sublinhar
8 a 13 corridas de lavas. Entre um derrame e os traços topográficos. De forma geral, o relevo
outro houve hiatos, durante os quais abriram- é escalonado (donde o nome “ trapp ”,
se fases de sedimentação eólica, reaparecendo, significando “escada”), tendo os espigões topos
em alternância com as camadas da eruptiva planos, em forma de meseta, ou suavemente
básica, o arenito Botucatú. Passado esse arredondados 21 . Os degraus do relevo se
período, abre-se uma fase de predominância do apresentam tanto nos perfis transversais quanto
vulcanismo, na qual se formaram grossas nos 1ongitudinais dos rios. Nestes, os degraus
camadas de basalto e no fim da erupção, ou trazem a formação de rápidos e cachoeiras, que
depois de seu término, vieram se depositar sobre se alternam com trechos quase planos, em que
o “trapp” (continuamente a NW e em manchas os rios correm vagarosos. No perfil transversal,
ao N), espessas formações de arenito eólico, as vertentes apresentam descidas suaves e
que recebeu o nome de arenito Caiuá 19 . abruptas que se sucedem, ficando entre elas
Estruturalmente, a região está na dependência níveis quase planos; os rios ora possuem vales
da direção geral do periclinal da bacia Paraná- abertos, ora profundamente encaixados. Estas
Uruguai, mergulhando as camadas para Oeste, formas de relevo parecem estar presas, como
numa inclinação que F.F. Marques de Almeida acontece na região de Cinzas, à erosão
considera da ordem de 1 a 3m/km 20. A diferencial. Além da alternância de basaltos com
drenagem é basicamente conseqüente (rios arenitos, tanto na parte superior quanto na
Paranapanema e Ivaí), mas alguns rios inferior do pacote de lava, é preciso lembrar que
subseqüentes, secundários embora, têm grande o próprio basalto apresenta diferentes graus de
importância no modelado da região. resistência, graças às variações de textura 22 .

Foto 2 – Aspecto do relevo do planalto arenito-basáltico a Leste do rio Tibagi. Esta fotografia, tirada na área entre
Cornélio Procópio e Bandeirantes, a 21 km daquela cidade (direção NW), registra os aspectos principais do relevo do
planalto arenítico-basáltico a Leste do Tibagi: suaves espigões, frequentemente coroados por elevações de basalto mais
resistente ou não decomposto, como se vê à esquerda, no último plano; essas linhas de espigões são cortadas,
compartimentando a topografia, pelos afluentes e sub-afluentes do Paranapanema, subsequentes, que abrem vales
assimétricos, como se pode observar à direita da fotografia (foto N. L. Müller).

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As faixas de basalto com diaclases horizontais profundamente e trouxe o estrangulamento da
constituem o piso dos degraus morfológicos, o superfície aplainada do grande espigão.
plano em que correm vagarosamente os rios; o Finalmente, mais para Oeste, vem a área de
basalto de diaclases verticais dá formas abruptas, capeamento do “trapp” pelo arenito onde, ao
formando as corredeiras e saltos, os declives lado de formas tabulares, de chapadas, aparecem
acentuados das vertentes23 . formas suaves de outeiros.
Se, no conjunto do planalto arenito- O planalto arenito-basáltico termina a Leste,
basáltico, as formas topográficas têm certa como todo o conjunto do Terceiro Planalto
uniformidade, em plano menor aparecem paranaense, por uma grande escarpa,
diferenças regionais. Entre o Itararé e o Tibagi, dominando o Segundo Planalto, onde é
o planalto acha-se fortemente dissecado pelos freqüentemente fronteada pelos maciços
afluentes do Paranapanema (principalmente o destacados, de topo achatado. Trata-se de uma
Cinzas, o Laranjinha e o próprio Tibagi) , escarpa estrutural, formada pela ação da erosão
apresentando grande movimentação do relevo. diferencial sobre o arenito Botucatú, e as várias
Na região de Cornélio Procópio, a erosão é tão camadas de basalto24 . A altitude da escarpa é
forte que tem ação mais rápida que o variável, sendo mais elevada na área que vai de
intemperismo, agindo sobre basaltos não Faxinal a Araiporanga (ex-São Jerônimo da
decompostos: em conseqüência, falta Serra), onde atinge cerca de 100m, com
freqüentemente o solo nas partes mais altas, desníveis da ordem de 500-600m. Mais para o
exatamente as mais favoráveis à cultura do café. Norte, perde altitude, tendo em média 700m e
A partir do Tibagi para Oeste, até a área de desníveis de 300m; mesmo assim, pode ser
Maringá, o relevo é suave, com grandes reconhecida como continuação da escarpa, que
extensões quase planas, como a do espigão que penetra no Estado de São Paulo sob o nome de
serve de divisor de águas entre as bacias do Ivaí Serra da Fartura. No Norte do Paraná, ao
e do Paranapanema; dentro dessa área, faz contrário do que acontece mais para o Sul, onde
exceção a zona de Apucarana, elevação entre as a escarpa serve de divisor de águas, a frente do
Bacias do Ivaí, Paranapanema e Tibagi, onde a planalto é seccionada por vários rios,
forte erosão regressiva das cabeceiras entalhou apresentando imponentes “percées” epigenéticas.

Foto 3 – Aspecto do relevo do planalto arenito-basáltico a Oeste do rio Tibagi. Largos espigões, de topo plano, suavemente
inclinados para Oeste, são cortados por rios consequentes, afluentes ou sub-afluentes do rio Paraná. As vertentes são
frequentemente suaves até certo ponto, para depois cairem abruptamente sobre os cursos d’água. O aspecto que
registramos, bastante característico, foi colhido a 2 km de Sarandi, na direção norte (foto N.L.Müller).

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Correspondendo às variações geológicas, o utilizados para o café, os primeiros vêm sendo
Norte do Paraná apresenta vários tipos de solos. ocupados pelo café, a exemplo do que aconteceu
Da decomposição dos terrenos eruptivos em território paulista.
básicos, provém a terra-roxa que, por variações
de composição, apresenta diferentes graus de
fertilidade25 . Esta região, de modo geral é O POVOAMENTO DO NORTE DO PARANÁ
privilegiada, pois que nela ocorrem os dois tipos
que permitem a cultura do café: a terra-roxa O povoamento do Norte do Paraná teve
legítima e a terra-roxa misturada. A terra-roxa inicio no século XVII, por meio dos Jesuítas
legítima aparece principalmente nos espigões, que aí instalam várias missões. Esta região
enquanto a misturada é encontrada nos vales, pertencia, então, à Província de Guaíra, que
nas áreas vizinhas às formações do arenito Caiuá estava sob o domínio espanhol e foi com o
e na maioria das manchas de diabásio da região conhecimento e apoio do governo da Espanha
de Cinzas. Na área em que o basalto é capeado que os missionários fundaram reduções com o
pelo arenito, há inversão da disposição, intuito de reunir e catequizar os índios
aparecendo a terra roxa nos vales, enquanto os Guaranis. Foi este o primeiro esboço do
espigões têm solos arenosos: fato de grande povoamento que não teve, no entanto, vida
importância para a lavoura cafeeira que, nestes longa: já em fins do século XVII estavam as
casos, ou tem que se contentar com terras altas Missões inteiramente aniquiladas pelas
pobres, ou precisa enfrentar o risco das geadas incursões dos Bandeirantes paulistas, que
para o aproveitamento das terras mais férteis. expulsaram para a margem direita do Paraná
Além da terra roxa, o Norte do Paraná tem índios e Jesuítas. Dessa primeira tentativa de
grande extensão de terras arenosas, onde quer colonização restam, hoje, apenas ruínas: no vale
que ocorra o arenito, e os solos provenientes do Ivaí, as de Vila Rica e de Jesus Maria, e no
das formações sedimentares permo-carboníferas da vale do Paranapanema, as de Loreto e de Santo
área de Cinzas; enquanto estes últimos não são Inácio (vide mapa 4).
Mapa 4 – Colonização do Norte do Paraná.

10 0 10 20 30 40 50

Escala

Colonização recente não dirigida na área de Colonização recente dirigida de


Cinzas (I) iniciativa particular (III)
Colonização recente não dirigida no Colonização recente dirigida de
planalto, a Leste do Tibagi (II) iniciativa oficial (IV)
Desenho Rufino
N.L. Müller

Ruínas das Missões: a) Ruínas de Vila Rica b) Ruínas Jesus Maria c) Ruínas de Loreto d) Ruínas de Santo Inácio.
I – 3 – Siqueira Campos; 4 – Santo Antonio da Platina; 5 – Venceslau Brás; 6 – São José da Boa Vista.
II – 1- Jataí; 2 – Araiporanga (Ex. São Jerônimo da Serra); 7 – Jacarezinho; 8 – Cambará; 9 – Bandeirantes; 10 – Cornélio Procópio.
III – A – Colônia Primeiro de Maio; B – Colônia Sertanópolis; C) Colônia Zacarias de Gois; D – Área colonizada pela Companhia de Terras
do Norte do Paraná; E) Colônia Ibiporã.
IV – F – Colônia Içara; G – Colônia Paranavaí; H – Colônia Jaguapitã; I – Colônia Centenário.

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Durante o século XVIII, o Norte do Paraná A segunda metade do século XIX abriu nova
ficou inteiramente à margem das correntes de fase de povoamento para o Norte do Paraná,
colonização: processava-se, então, a ocupação desdobrando-se pela região, numa avalanche,
do Segundo Planalto pelos criadores que, pela o manto verde dos cafezais (vide mapa 5). Essa
formação de “pousos”, foram disseminando a ocupação foi feita a partir de 1862, efetuando-
semente de futuros núcleos urbanos. A região se as primeiras penetrações através dos cursos
se engrenou na grande via de circulação natural superior e médio do rio Itararé. Eram
dos “campos gerais”, fazendo parte do percurso fazendeiros paulistas que, seguindo a marcha
seguido pelas tropas de muares que, vindas do Rio para Oeste do café, foram atraídos pelas
Grande do Sul, demandavam o Estado de Minas manchas de terra-roxa da região sedimentar
Gerais, então grande centro de mineração. permo-carbonífera. Surgiram então, os
Foi somente em meados do século XIX que primeiros núcleos: Colônia Mineira (1862),
se processou a retomada da colonização do hoje Siqueira Campos; Santo Antônio da
Norte do Paraná, de forma mais efetiva, mas Plantina (1866), Venceslau Brás e São José da
assim mesmo tímida: trata-se da fundação da Boa Vista (1867). Desses núcleos, que balizam
Colônia Militar de Jataí e dos aldeiamentos de a frente pioneira da época, a expansão
São Pedro de Alcântara e São Jerônimo da Serra. prosseguiu para Oeste, tendo pleno
A Colônia Militar de Jataí foi fundada em 1855, desenvolvimento até o rio das Cinzas além dele, :

à margem direita do Tibagi, no ponto em que esmorecia e perdia vitalidade. A configuração


este rio começa a ser navegável; ligada por uma do relevo contribuiu para que essa primeira
estrada a Curitiba, a Colônia tinha por função penetração cafeeira perdesse seu impulso inicial:
estabelecer ligação com Mato Grosso, agindo a rede hidrográfica, correndo para o Norte, abre
como posto militar avançado de proteção dessa espigões de orientação NE-SW, que
vasta área, então ameaçada pelo ditador dificultavam a marcha do povoamento no
paraguaio, Solano Lopez. Em frente à colônia sentido tradicional. Posteriormente, com a
militar, na outra margem do Tibagi, foi ligação ferroviária Jacarezinho-Jaguariaiva-Curitiba
posteriormente fundada a colônia de São Pedro (1930), e indiretamente atingida pela evolução
de Alcântara, destinada a congregar os econômica do planalto, a região de Cinzas foi
elementos civis da população e que, unida a tomada de surto progressista, de que ficou à
Jataí, constitui hoje a cidade de Jataizinho. Em margem apenas a área compreendida entre o rio
1859, em terreno doado pelo Barão de Cinzas e o Laranjinha, até hoje pouco povoada.
Antonina, à beira do caminho aberto por sua Ocupada a região de Cinzas, as correntes de
ordem entre Jataí e Curitiba, nasceu um terceiro povoamento descobriram o planalto arenito-
núcleo, São Jerônimo da Serra hoje , basáltico, cuja colonização se processou em duas
Araiporanga. São Jerônimo, estrategicamente fases: a mais antiga, que se desenvolveu nas três
situado na orla da escarpa, constituía ponto de primeiras décadas deste século, abrangendo a
parada obrigatória para os viajantes, derivando área compreendida entre o rio Itararé e o Tibagi;
disso seu primeiro fator de desenvolvimento. Esses e a mais recente, de colonização dirigida, que,
centros de povoamento, postos avançados de por iniciativa particular ou oficial, promoveu a
colonização num sertão ainda não desbravado, ocupação do planalto do Tibagi às barrancas
mantiveram-se como pequenos povoados até este do rio Paraná.
século, quando, sob o impulso da colonização
moderna, começaram a se desenvolver.

98 Geografia , Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001


Mapa 5 – Expansão do Povoamento do Norte do Paraná (Baseado em Nilo Bernardes, op. cit.)

N. L. Müller
Desenho Rufino

O povoamento do planalto a Leste do Tibagi novos núcleos, como Bandeirantes (1921) e


foi um desenvolvimento natural da expansão Cornélio Procópio (1924). Embora essa
dos cafeicultores paulistas que, depois da ocupação, facilitada pelas enormes extensões de
primeira onda colonizadora, na região de terra-roxa, progredisse como uma onda
Cinzas, investiram para essa nova região, com invasora, na sua retaguarda foram ficando vastas
ponto de partida em Ourinhos, atingida pela áreas desocupadas, à espera de ocasião oportuna
“Estrada de Ferro Sorocabana” em 1908. A para se fazer especulação com as terras; os fundos
aproximação dos trilhos fora suficiente para que dos vales, sem valor imediato para a cultura do
o povoamento, andando à sua frente, à moda café, ficaram cobertos de matas, só mais tarde
paulista, já se tivesse concretizado na fundação derrubadas para a ocupação por pastos e outras
de Jacarezinho (1900) e Cambará (1904). Com culturas, ou em conseqüência do loteamento
Ourinhos como “boca de sertão” ou “ponta de em pequenas propriedades26 (vide mapa nº 6).
trilhos”, a colonização se expandiu, surgindo
Mapa 6 – Divisão de terra no município de Cambará (parcial).
( )

L. Müller
Desenho Rufin

Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001 99


Apesar da relativa rapidez com que se abrindo uma nova frente pioneira independente
processou o povoamento do planalto a Leste de Ourinhosserviram de base à continuação da
do Tibagi, a onda colonizadora não teve ali o penetração de Leste para Oeste e ao povoamento
mesmo ímpeto que mais tarde teve a que se do planalto a Oeste do Tibagi.
desenvolveu a Oeste deste rio. A demora na A colonização intensiva do planalto arenito-
progressão dos trilhos da “Sorocabana” fez com basáltico, em moldes modernos, teve início em
que povoadores, temerosos de se distanciarem 1929 e foi obra da Companhia de Terras Norte
demais da “boca de sertão”, que foi primeiro do Paraná Esta organização, que empreendeu
.

Ourinhos (até 1925) e depois Cambará (até uma das mais notáveis obras de colonização no
1930), avançassem com certa precaução. Assim, Brasil, foi fundada com capitais ingleses (1.460.
enquanto ainda tinha lugar a ocupação desta 000 £, em ações, e 375 000 £, em obrigações),
área, já começava o povoamento a Oeste do começando por adquirir, no Estado do Paraná,
Tibagi por pioneiros vindos do Norte, através uma gleba de 515.000 alqueires paulistas
do Paranapanema. Esta primeira penetração (12.643 km 2) Segundo parece, a Companhia
do planalto, em sua porção a Oeste do Tibagi, resolvera, de início, comprar essas terras para
foi realizada dentro dos moldes da colonização nelas fazer culturas de algodão, que viessem
dirigida. Tratava-se, inicialmente, de duas glebas substituir a matéria prima do Sudão, onde a
de 50.000 hectares, cedidas pelo Governo situação política não era, para o Império
paranaense a particulares: a mais setentrional, Britânico, muito tranquilizadora. As primeiras
denominada Primeiro de Maio, ia do viagens de reconhecimento, no entanto, de-
Paranapanema ao ribeirão Biguá, afluente do monstraram que talvez melhores resultados
Tibagi; a mais meridional, chamada fossem obtidos com o loteamento da gleba em
Sertanópolis ia deste ribeirão até o divisor de pequenas propriedades: os colonos plantariam
águas dos rios Cágados e Abóboras, também algodão e, atingindo assim seu objetivo
afluentes do Tibagi, aproximadamente a 15km primário, a Companhia poderia ainda
ao N de Jataizinho. A ocupação começou pela recuperar, com lucros, o capital empatado.
colônia Primeiro de Maio, em 1923, Formou-se, então, definitivamente, a Paraná

transpondo os povoadores o Paranapanema por Plantations Co. que, percebendo a grande


meio de balsas aí construídas pelos importância que boas vias de comunicação
concessionários das terras, “Corain e Cia”. No teriam para seu plano, desdobrou-se em duas
ano seguinte, o concessionário de Sertanópolis, subsidiárias: a Companhia de Terras Norte do
Leopoldo Paula Vieira, começou o povoamento Paraná que trataria da colonização, e a
, Cia.

de suas terras, para isso aproveitando as balsas e Ferroviária São Paulo-Paraná que , comprando
vias de comunicação da colônia vizinha. Em o ramal Ourinhos-Cambará, procuraria levar
ambos os casos, o loteamento seguiu o plano os trilhos até as zonas de loteamento. As duas
de lotes indo dos cursos d’água aos espigões, entidades, assim entrosadas, se completavam:
sendo as propriedades de tamanho variável: enquanto a colonização garantia fretes à ferrovia,
pequenas chácaras ao redor dos núcleos esta assegurava o fluxo contínuo de
urbanos, vindo depois sítios e, nas partes altas, colonizadores para as frentes pioneiras.
principalmente nas cabeceiras, pequenas Em julho de 1929, a Companhia tomou a posse
fazendas. Mais para Oeste, à margem do efetiva de sua enorme propriedade com a fundação
Paranapanema, houve posteriormente uma da cidade destinada a lhe servir de sede e de “capital”
terceira concessão, feita a Manoel Firmino de da zona por ela colonizada: Londrina. Aí instalados
Almeida, que organizou o loteamento da os escritórios da Companhia, em verdadeira clareira
Colônia Zacarias de Góis, de progresso muito aberta na mata virgem, começaram os trabalhos de
mais lento que as duas anteriores. Estas, as levantamento topográfico e, a seguir, os planos de
colônias de Primeiro de Maio e de Sertanópolis, loteamento, construção de estradas e localização dos
revestem-se de grande importância pois, núcleos urbanos27 (vide mapa n.0 7).
100 Geografia , Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001
Mapa 7 – Tipos de loteamento da Companhia de Terras do Norte do Paraná.

Escala: 1:80.000

N. L. Müller Des. Rufino

Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001 101


O eixo de toda a colonização, a espinha acompanhando os contrafortes, iriam depois se
dorsal da penetração das vias de circulação, é o desdobrar nos caminhos vicinais, bem como
espigão divisor de águas entre as bacias do Ivaí receber os núcleos urbanos menores. Por uma
e do Paranapanema, com seu topo largo e plano. hierarquia de estradas e de centros urbanos, toda
Nele foram traçados os leitos da ferrovia e da a área colonizada ficava engrenada no sistema
estrada principal, nele foram reservadas áreas de circulação, além de nenhuma propriedade
para os principais núcleos urbanos da região. ficar a mais de 15km de uma vila ou cidade 28 .
Dele saíram as estradas secundárias que,
Mapa 8 – Área pertencente a Cia. de Terras do Norte do Paraná.

ÁREA PERTENCENTE A CIA DE TERRAS


DO NORTE DO PARANÁ

Escala
5 0 5 10 15 20

Campo Mourão

N.L.Müller Desenho Rufino

O loteamento começou em 1933, seguindo Londrina (1935). Apucarana (1937) e,


planos pré-determinados. Os lotes, traçados em recentemente, Maringá.
longas fitas, vão dos espigões aos vales, tendo, Em 1939, a . perdeu a
Paraná Plantations Co

ao mesmo tempo, frente para a aguada e para a estrada de ferro que, encampada pelo Governo
estrada. Em média, a extensão é de 16 alqueires Federal, passou a fazer parte da “Rede de Viação
paulistas, embora o tamanho, na realidade, varie Paraná-Santa Catarina” (RVPSC); quanto à
conforme a localização: vão de 1 a 5 alqueires Companhia de Terras Norte do Paraná talvez ,

ao redor dos núcleos urbanos, passando depois em conseqüência dos pesados impostos sobre
para a classe de 5 a 10 alqueires, para, nas áreas capitais estrangeiros, foi vendida em 1944 a um
mais afastadas, atingirem superfícies que vão grupo de capitalistas paulistas, passando a se
acima de 10 alqueires. Acompanhando o chamar Companhia Melhoramentos Norte do
loteamento, progrediu a estrada de ferro, que Paraná Sob a nova direção, a colonização não
..

foi atingindo sucessivamente Jataizinho (1931), mudou de orientação: o loteamento de terras,


102 Geografia , Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001
a construção de estradas e a fundação de núcleos maior facilidade de comunicação com o espigão
urbanos foram sendo executados conforme mestre do que entre si. Optou-se, pois, pela
tinham sido planejados. Da nova administração formação de duas colônias: Içara, em ligação
é a fundação de Maringá (1946), destinada a se direta com Arapongas, e Jaguapitã, que mantém
tornar a capital da porção mais ocidental dos comunicação com Rolândia. Em Içara, o
domínios da Companhia; também da nova fase loteamento foi feito em frações variáveis, de 10
são as cidades de Apucarana, Mandaguari, a 200 hectares, seguindo a norma de irem do
Pirapó e Jandaia. Na atual frente pioneira, na vale ao espigão; sua ocupação foi completada,
zona do Ivaí, dá seus primeiros passos a futura com grande sucesso, em 1941. Quanto a
cidade de Cianorte. Provável nova capital Jaguapitã, localizada à margem direita do
regional, como Maringá e Londrina. Bandeirante do Norte, a iniciativa oficial já
Quanto à estrada de ferro, deverá, com uma encontrara ali, quando da demarcação dos lotes
alteração de rumo para SW, continuar seu (1943), inúmeros “posseiros” estabelecidos: a
traçado até Guaíra, atravessando os rios Ivaí e divisão se fez, então, em áreas relativamente
Piriqui, estabelecendo conexão com a rede pequenas, de 31 hectares em média, sempre em
ferroviária paraguaia: Santos e Assunção ficarão frações perpendiculares a rios e espigões.
ligadas, assim, via Norte do Paraná. A colônia Centenário, localizada entre o rio
Estimulados pelo sucesso da “Companhia de Bandeirante do Norte e o Pirapó, foi aberta em
Terras Norte Paraná” e de sua sucessora, outras 1944, constituindo exceção à regra de toda a
iniciativas, particulares e oficiais, prosseguem região, pois foi loteada em grandes
na colonização da região. Entre os terrenos da propriedades. Mais isolada, sem ligação direta
Companhia e o rio Tibagi, surgem duas novas com o espigão mestre, sua colonização se fez a
colônias, uma particular por concessão do partir do Norte, através do Paranapanema, e
Governo, Ibiporã, e outra vizinha a Jataizinho, por Porecatú, a ela ligada por uma estrada29 .
oficial. A primeira, aberta em 1935 sob a De todas as colônias oficiais, Paranavaí é a
responsabilidade do Engº. Francisco Gutierrez maior, indo desde os limites ocidentais das terras
Beltrão, atravessada pela estrada de ferro e pela da “Companhia Melhoramentos Norte do
de rodagem, progrediu logo: seus lotes, na Paraná” até as barrancas do rio Paraná; no
média de 10 alqueires, foram rapidamente sentido L-W, cobre uma extensão superior a 100
vendidos e ocupados, e a sede, Ibiporã tem hoje , km. A sede, Paranavaí está localizada no
,

foro de cidade. Quanto à outra área, espigão mestre, a 78 km de Maringá, no mesmo


compreendida entre a colônia Ibiporã e o rio ponto em que se erguera, anos atrás, a casa da
Tibagi, de cerca de 5.783 hectares, foi dividida residência da antiga “Fazenda Brasileira” 30 cujas
pelo Departamento de Terras e Colonização do terras, hoje, constituem as da colônia. A divisão
Estado do Paraná em lotes também pequenos, de terras da colônia Paranavaí seguiu critérios
no máximo de 24 hectares, estando atualmente bastante variáveis. Em volta de Paranavaí, os
todos ocupados. lotes são pequenos, de 40 a 80 alqueires; mais
Contanto ainda com terras na orla da gleba para o Sul, os lotes são ainda menores, de 20 a
da “Companhia Melhoramentos Norte do 70 alqueires, devido à existência da terra-roxa.
Paraná”, o Governo iniciou a partir de 1939, a Às margens do Ivaí, em virtude da escassez de
abertura de quatro novas colônias: Içara, aguadas e de estradas, os lotes já são bem
Jaguapitã. e Centenário, ao Norte, de áreas maiores, indo até 500 hectares. Todavia, a área
relativamente pequenas, e, a Oeste a enorme de Paranavaí não está ainda ocupada: a
colônia de Paranavaí. As colônias de Içara e penetração se fez principalmente ao longo da
Jaguapitã deveriam, inicialmente, formar um estrada para Porto São José, enquanto que, para
todo; no entanto, sendo constituídas por terras o Norte e Sul do espigão, as derrubadas ainda
localizadas nas duas margens do rio Bandeirante se processam irregularmente, separadas por
do Norte, afluente do Pirapó, tinha cada parcela vastas áreas desocupadas.
Geografia , Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001 103
Essa colonização do Norte do Paraná, ligada domínio em que reina o café. No plano dos
à expansão paulista e à marcha do café, sofreu 400-600 m, ou mesmo no de 600-1.000 m, o
infiltrações de elementos estranhos a uma e a café dirige a ocupação do solo. Esta é bastante
outra. De um lado, houve a invasão de paulistas uniforme: fugindo aos vales e depressões, o café
de Itararé e Faxina (atual Itapeva) que, com base começa à meia-vertente a subida para o espigão,
em São Sebastião do Faxinal, tomaram os deixando as terras mais baixas para os pastos e
flancos meridionais do espigão mestre: eram outras culturas. Paralelas aos cursos d’água,
criadores de porcos e “safristas” que, formam-se, assim, faixas de ocupação
tipicamente, não chegaram a se fixar na região. diferenciada em altitude que, com o verde
Por outro lado, a região vem recebendo, esmaecido dos pastos e carregado dos cafezais,
recentemente, um influxo povoador partindo traçam as linhas mestras da paisagem.
de Campo Mourão, de colonos gaúchos e Sobre esse grande cenário superpõem-se os
catarinenses que, atraídos pelo renome do Norte elementos que irão diferenciar unidades
do Paraná, abandonaram suas policulturas para paisagísticas locais. Nas áreas em que predomina
tentarem o café. Já atingida pelo Norte, por a pequena propriedade 31 , aparece
penetrações independentes do movimento L- freqüentemente, entre a faixa de pastos e a de
W, mas ainda ligadas ao café, a região recebe café, um terceiro domínio, representado por
agora a de elementos do sul, recém-chegados culturas variadas. O pequeno produtor, o
da cultura cafeeira. sitiante, de finanças mais precárias que o
fazendeiro, procura prover a sua subsistência,
plantando aí cereais (milho, arroz), a mandioca
A OCUPAÇÃO DO SOLO NO NORTE DO e outros produtos; em alguns casos, como
PARANÁ garantia contra os riscos apresentados por um
único produto para venda, procura por-se a
A ocupação do Norte do Paraná se fez por dois salvo das oscilações do mercado introduzindo
elementos distintos, porém inseparáveis: a um outro produto comercial, como o algodão.
colonização rural e a fundação de
núcleos urbanos. Com o acréscimo desses novos campos de
Na colonização rural, o elemento básico da cultura, a paisagem diversifica-se, ganhando em
posse da terra é o café, fator da unidade variedades e colorido. A introdução desses
paisagística da região e de sua individualidade elementos, no entanto, só se efetua raramente:
no conjunto do Estado. Admitindo embora a o sitiante do Norte do Paraná já está bastante
grande importância do café, óbvia aos olhos de engrenado no mecanismo de especulação do
qualquer observador, o exame detalhado café para não procurar sempre garantias ou
constata variações de forma e de intensidade melhor equilíbrio financeiro. Aparece, por
na posse da terra por ele efetuada. Assim, dentro exemplo, nas áreas de conquista recente, onde,
desse conjunto uniforme em suas grandes enquanto o café está sendo plantado ou ainda
linhas, se o café é na maioria dos casos figura de não produz, o sitiante precisa garantir a
primeira plana, em outros pode desempenhar manutenção da família e contar com um
papel menos relevante e, até mesmo, secundário. elemento comercial de produção rápida, como
A área em que o café domina é a das terras o algodão. Só excepcionalmente, como em
altas, a isso obrigado pelas injunções climáticas, alguns casos esparsos e na colônia japonesa de
a fim de fugir da geada. Os pequenos espigões Assaí, o sitiante procura manter,
de direção N-S, a Leste do Tibagi, o enorme definitivamente, a cultura diversificada. É certo
espigão mestre que de L-W separa as bacias do que em algumas áreas ele é a isso obrigado,
Ivaí e Paranapanema, bem como os espigões devido às condições locais, como nas colônias
secundários suficientemente amplos, – esse é o da Içara e Jaguapitã: ocorrendo a terra-roxa em

104 Geografia , Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001


áreas limitadas, o sitiante é levado a adotar a mais baixas (mesmo sendo terras-roxas), os
batata como segundo produto comercial, a fim pastos e o arroz. O apelo dos altos preços pode,
de aproveitar os solos arenosos. Conforme a até mesmo, levar a soluções desesperadas: na
posição do sítio, pode até mesmo acontecer uma área de Sabaudia, em 1946, sitiantes haviam
inversão na ordem da ocupação: batata nas terras plantado o café até a beira dos rios, mesmo com
altas, café no andar intermediário e, nas terras o risco de geadas.

Foto 4 – A paisagem vista do espigão. Para o viajante que acompanha a estrada principal, que corre pelo espigão-
mestre, o traço predominante da paisagem é o café. Os elementos que a compõem não são vislumbrados, por ocuparem
as terras mais baixas.

Outro elemento introduzido na paisagem pasto. A forma de construção da residência


pela predominância da pequena propriedade é denuncia, tal como a maior ou menor variedade
o “habitat” disperso: correspondendo uma casa das culturas, a idade da ocupação do solo:
a cada lote, cria-se como que um corredor de quando recente, as casas são habitualmente de
habitações, mais ou menos alinhadas à meia- madeira; quando relativamente antigo, as
vertente, separadas umas das outras por espaços construções já são de alvenaria.
variáveis. As habitações estão usualmente Nas áreas em que a grande propriedade
situadas na faixa de pastos, não muito próximas coexiste com a pequena, o cenário comum à
do curso d’água, quase sempre no ponto em paisagem geral de toda a região recebe também
que as vertentes deixam seu perfil de inclinação novos elementos32 . O “habitat” é, então, nas
suave para caírem abruptamente sobre os rios. áreas das fazendas, aglomerado, representado
Cercadas de árvores frutíferas, contribuem para pelo núcleo de povoamento que se desenvolve
a humanização da paisagem, sem se falar nos junto à sede, formado por casas de colonos e
acréscimos ainda trazidos pelas demais demais benfeitorias. Além disso, nas fazendas,
benfeitorias, que lhes ficam adjuntas: depósitos, devido à grande área facilitar a possibilidade de
celeiros, cercados para o gado ou animais existência de solos diversos, o café pode dividir
domésticos, as próprias cercas que delimitam o as honras de produto comercial com outras
Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001 105
culturas: é o caso da região de Sertanópolis, onde estrada principal, que correm pelo espigão
a cana de açúcar, ocupando as terras baixas, mestre, a única visão. que se tem é a de cafezais,
marca a paisagem com seu verde claro e tenro. contínuos, quer sejam recém formados, novos,
A usina de açúcar, também presente, completa em plena produção ou, até mesmo, quando
a variação dos quadros clássicos, por suas devastados pela geada, decadentes. Para que a
instalações e imponentes chaminés. real ocupação seja percebida, é preciso descer
Essas paisagens, nascidas de uma ocupação as estradas secundárias e vicinais e atingir os
de solo típica e generalizada, poderão, no vales: só então a paisagem aparece, completa e
entanto, passar despercebidas ao observador em todos os seus detalhes.
pouco avisado. Viajando-se pela ferrovia ou pela

Foto 5 – A paisagem vista do vale. Descendo-se por estradas secundárias até os cursos d’água, a paisagem se diversifica
pela presença das casas e demais benfeitorias, dos pastos e, às vezes, de outras culturas. Na fotografia acima, tomada a
5 km. de Cambará, entre esta cidade e Bandeirantes, vê-se, nas cabeceiras de um ribeirão, o aspecto típico que acima
descrevemos. As casas estão localizadas entre os pastos e o cafezal, no ponto em que a vertente deixa sua inclinação
suave para descer mais abruptamente (foto Ary França).
Essas paisagens descritas, embora sejam as Outra variação de paisagem digna de ser
mais típicas da região, podem, no entanto, ser mencionada é a das frentes pioneiras, como na
substituídas por variações do mesmo tema. Na área de Paranavaí, onde a ocupação do solo,
região de Cinzas, onde a terra-roxa só aparece ainda em processo, cria quadros originais. Antes
em manchas, o café, correspondendo a essas de mais nada, é a presença da mata, embora já
ocorrências, não mais aparece em manto entrecortada de clareiras, principalmente ao
contínuo. Os cafezais surgem ilhados em áreas longo da estrada. A paisagem, onde se efetua a
ocupadas por pastos e outras culturas, ocupação do solo, é quase caótica: entre troncos
desaparecendo a diferenciação da ocupação em derrubados e semi-calcinados, o café, ainda na
andares verticais, para se impor uma variação cova, coexiste com o milho ou feijão; a mal
no próprio plano horizontal. construída habitação, freqüentemente de pau-a-
106 Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001
pique ou de tábuas, reforça as cores da tomada de povoamento rural e ao urbano: nesta colônia,
posse ainda indecisa; os largos e longos aceiros, constava do contrato de venda dos lotes rurais
muitas vezes presentes, denunciam o próximo o compromisso por parte do comprador de
prosseguimento da devastação pelas queimadas. edificar, dentro de dois anos, uma casa no lote
Fora da frente pioneira, que no momento se urbano que lhe era cedido sem ônus, como parte
encontra além de Maringá e de Paranavaí, as da transação. Em conseqüência, apesar de
paisagens da retaguarda já se encontram isolada de outras áreas de colonização, o núcleo
bastante evoluídas. Sente-se que a ocupação de Sertanópolis, que data de 1924, já era
do solo está definida e a humanização como elevado à vila em 1927 e à cidade em 1929.
que completa. Das paisagens originais muito A “Companhia de Terras Norte Paraná”,
pouco resta: as franjas de mata no fundo dos bem como sua sucessora, tem a responsabilidade
vales ou no alto dos espigões estão cada vez mais da fundação de grande número dos núcleos
raras. O devastamento foi, aliás, extremamente urbanos da região. Os principais estão
rápido: em 1935 viajava-se, como conta Pierre localizados no espigão mestre, à margem da
Monbeig, por entre a mata, de Bandeirantes a ferrovia e da estrada principal, espaçados entre
Apucarana; em 1946, reencontramos essa si por distâncias aproximadamente regulares.
experiência somente além de Mandaguari; Essas cidades, estrategicamente localizadas em
atualmente, para se ver a mata bordejando a pontos de que saem os contrafortes e, em
estrada é preciso ir bem além de Paranavaí... conseqüência, de onde se irradiam estradas
No ritmo acelerado em que se vem processando secundárias, são pequenas ‘’capitais’’ regionais,
a. ocupação da terra no Norte do Paraná, é lícito dominando, cada uma, certa área de
prever-se a completa humanização da paisagem povoamento. Algumas, mais desenvolvidas,
em futuro muito próximo. irradiam sua influência por áreas maiores, tais
Ao lado da colonização rural,como elemento como Londrina, Apucarana e Maringá. Além
distinto da ocupação, mas dela inseparável, estão das cidades dos espigões, a região conta ainda
os núcleos urbanos . Só em raros casos, como no com núcleos urbanos menores, localizados nos
de Jataizinho e de Araiporanga, as cidades espigões secundários, que, servindo à população
nasceram independentemente da valorização da local como centros comerciais de pequeno
região em que se encontram. A fundação de âmbito, são sobrepujados pelas cidades maiores
patrimônios, verdadeiros embriões de cidades, sempre que se trata de transação de vulto,
segue de perto a colonização rural; o seu próprio procura de melhores colégios ou tratamento de
desenvolvimento posterior está na dependência saúde. O colono pode, conforme a necessidade,
da progressão da ocupação da terra. Há casos, apelar para os recursos de centros urbanos
como o de Sertanópolis, em que foram os hierarquicamente escalonados.
mesmos elementos que contribuíram ao

Foto 6 – A ocupação do solo no planalto arenítico-basáltico a Oeste do rio Tibagi. A fotografia documenta um aspecto
de ocupação ainda recente na área de Sarandi (direção Norte). No primeiro plano, cultura de milho, no andar de
culturas variadas que se desenvolve, às vezes, entre os pastos e os cafezais. Na vertente oposta do vale, no plano médio
da fotografia, vê-se a ocupação típica das terras baixas: pastos com cercados para os animais e, pouco acima, as habitações
cercadas ou não de árvores frutíferas. Os pequenos lotes, perfeitamente visíveis, terminam na fotografia por capão de
mato, no centro, ou por eucaliptais, à esquerda. É na altura das matas, como se vislumbra à esquerda do capão principal,
ou além delas, que se desenvolvem os cafezais (foto N. L. Müller).

Geografia , Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001 107


Todos os centros urbanos criados pela geométrica do traçado. Mesmo o crescimento
“Companhia de Terras” contam com plantas posterior não atinge a disposição original da
que denunciam haverem sido planejados com estrutura urbana: a Companhia, tendo
antecedência. Embora com formas variadas reservado área para a expansão das cidades,
– elípticas, quadrangulares, em trevo ou continua a orientar os loteamentos mais recen-
lembrando uma nave – têm todos os aspectos tes (vide mapa nº 9).
de cidades “criadas”, derivadas da disposição
Mapa 9 – Tipos de planos de cidades localizadas na área colonizada pela Companhia de Terras Norte do Paraná.

Escala
1:80.000

.L.Müller Desenho Rufino

De forma geral, a urbanização do Norte do destaca, não apenas por sua população, a cidade
Paraná tem sido surpreendentemente rápida. de Londrina, a mais importante da região.
Em 1950, pelo último recenseamento nacional, Localizada sobre o espigão mestre, a cidade,
o Norte do Paraná contava com três cidades devido ao seu plano quadrangular (vide mapa
com mais de 10.000 habitantes: Londrina, com 10), ultrapassa-o um tanto nos seus limites
33.707, Apucarana, com 12.054, e Arapongas, setentrionais e meridionais, onde atinge parte
com 11.787 habitantes. Nessa categoria, o das vertentes: por esse motivo, além da
Estado do Paraná tinha apenas mais três cidades: ondulação suave do divisor de águas (com
Curitiba (141.349 habitantes), Ponta Grossa altitudes locais variando entre 570-600m), a
(44.130 habitantes) e Paranaguá (16.046 topografia urbana se movimenta para a periferia.
habitantes). Além desses três núcleos mais O traçado rigorosamente geométrico superpõe-
populosos, o Norte do Paraná apresentava ainda, se ao terreno sem quaisquer adaptações,
no mesmo ano, sete cidades com mais de 5.000 resultando algumas ladeiras na orla e no centro
habitantes: Cornélio Procópio (8.831 habitantes), da cidade (a praça principal e a Matriz de
Jacarezinho (8.343 habitantes), Rolândia (7.959 Londrina ocupam uma pequena elevação) . A
habitantes), Maringá (7.389 habitantes), Cambé simetria do traçado é apenas quebrada pelas
(6.505 habitantes), Mandaguari (6.471 curvas em S, paralelas, traçadas de L-NW pela
habitantes) e Cambará (6.108 habitantes). estrada de ferro e pelo prolongamento, dentro
Desse florescente conjunto urbano se do perímetro urbano, da estrada de rodagem.

108 Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001


Foto 7 – O entrosamento entre as cidades e os campos. Intimamente ligados na história do povoamento do Norte do
Paraná, as cidades e os campos se entrosam, frequentemente, até mesmo nas paisagens. Aqui vemos um cafezal novo
chegando até a altura das últimas casas de Santa Mariana (direção NE). (foto Ary França).

Inicialmente, embora inteiramente ferro. Posteriormente, com o crescimento da


demarcada, Londrina cresceu ao longo da cidade, toda a área ao Sul da Avenida Paraná
Avenida Paraná, que vem a ser o prolongamento tornou-se residencial, sendo que a SW se
da rodovia, e desta avenida para o Norte, em desenvolve o bairro “chic” de Londrina (Avenida
direção à estrada de ferro. Essa primeira Higienópolis e adjacências). Esse zoneamento,
ocupação seguiu certo zoneamento: enquanto embora relativamente espontâneo, foi, no
o comércio se adensava na praça central e ruas entanto, indiretamente orientado pela
vizinhas, as residências se espraiavam pela Companhia devido à diferença de preço dos
Avenida Paraná e proximidades e os terrenos.
estabelecimentos de comércio atacadista e
pequenas indústrias procuravam a estrada de

Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001 109


Mapa 10

ESCALA
1:40.000

N. L.Müller Desenho Rufino

O desenvolvimento de Londrina, Comparando-se o número de edificações em


extremamente rápido, só encontra rival, em uma e outra, o paralelismo torna-se evidente:
território paulista, na cidade de Marília33 .

110 Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001


Anos Marília Londrina Na constituição da população de Londrina
1927 ......................................... 14 ___ aparecem os principais elementos do
1928 ......................................... 686 ___ povoamento do próprio Norte do Paraná, como
1929 ......................................... 1.084 2 se olhássemos para uma amostra: 92,1% de
1935 ........................................ 2.846 800 brasileiros e 7,9% de estrangeiros. Do elemento
1943 ......................................... 4.898 2.910 nacional: 70% de paulistas, 15% de mineiros,
1944 ......................................... 5.048 3.708 10% de paranaenses; entre os estrangeiros (num
1945 ......................................... 5.232 4.080 total de 2.682), 39% de japoneses (945) vindo
depois os italianos (382), portugueses (368)
Paralelamente ao ritmo sempre crescente das espanhóis (358) alemães (193) e mais 21
construções, a população de Londrina vem nacionalidades compreendendo os restantes 439.
aumentando constantemente 34 : Com o constante crescimento de sua
Anos Sede Restante do Total
população, Londrina, atualmente, conta com
toda uma constelação de “vilas”, que constituem
município como que seus bairros periféricos. Em número
1935 4.000 11.000 15.000 elevado, cerca de 53, essas “vilas” se desenvolveram
principalmente ao N e a L da cidade, nascidas da
1940 10.531 64.765 75.296
subdivisão de lotes em pequenos terrenos de baixo
1945 22.500 33.000 55.500
35
preço. Recentemente, esses loteamentos foram
proibidos, a fim de não prejudicar o plano
1950 33.707
36
33.144 66.851 urbanístico da cidade, dirigido pela Municipalidade.
1953 48.000 42.000 90.000

Foto 8 – O núcleo original de Maringá. Nesta rua, prolongamento da estrada para Paranavaí, nasceu Maringá. Em
1946 aí existia apenas uma vintena de casas, de madeira, pertencentes a trabalhadores da ferrovia e a alguns poucos
comerciantes. Tendo a cidade crescido noutra direção, o núcleo inicial, abstraindo-se a ausência da floresta, que nos
primeiros anos o circundava em todas as direções, tem ainda o aspecto tipicamente pioneiro. (foto N.L. Müller).

Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001 111


Foto 9 – O primeiro hotel de Maringá. Apesar de acrescido de uma fachada em alvenaria, o “Hotel Maringá”, que
recebeu os primeiros visitantes do que mais tarde seria uma cidade, mantém, com sua estrutura de madeira, o mesmo
aspecto que tinha nos primeiros anos de vida de Maringá. (foto Ary França).
Verdadeira capital do Norte do Paraná, indústrias e 27 casas de crédito. As rendas
Londrina é hoje seu maior centro industrial, públicas do município bem demonstram sua
financeiro e comercial. Conta com 900 progressiva importância econômica, bem como
estabelecimentos comerciais, 478 pequenas a excepcional posição que atingiu 37 :
Arrecadação Arrecadação Arrecadação Total
Municipal Estadual Federal
Anos Cr$ Cr$ Cr$ Cr$
1935 137.939,90 406.131,40 543. 871,30

1940 1.249. 222,30 5.228.397,90 1.098.563,20 7.576.183,40

1945 3.502.403,70 12.587.776,50 5.505. 320,90 21.595. 501,10

1950 15.587.129,50 60.306.607,50 29.996.341,10 105.890.078,10

Com essa arrecadação, Londrina só é ultrapassada, exportação por esse porto paranaense. Quanto
no Estado, pelo município de Curitiba. a Maringá nova “cabeça de zona” a que a
Ocupando o principal papel entre os núcleos “Companhia Melhoramentos Norte do Paraná”
urbanos da região, Londrina é secundada por tem dedicado especial atenção, é provável que
Apucarana e Maringá. Apucarana, já importante se torne, proximamente, uma grande cidade.
por drenar a produção de toda uma vasta área Seu crescimento tem sido espantoso: quando a
de que centraliza os meios de comunicação, terá visitamos, em 1946; tinha apenas uma rua, que
ainda maior relevância como nó de era a própria estrada para Paranavaí, e cerca de
comunicações quando se completar a 20 casas; hoje, com uma população de 25.000
construção da ferrovia que deverá ligá-la a Ponta habitantes, 50 na sede, é um centro urbano
Grossa e Paranaguá: tornar-se-á, então, o centro desenvolvido, febricitante, cheio de futuras
de reunião dos produtos de toda a região para a promessas que, por certo, se realizarão. Sua área
112 Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001
de influência, já atualmente bem demarcada, visão de sua importância econômica. Os
ficará provável ainda mais estabelecida depois resultados obtidos por sua ocupação
da construção da ferrovia para Paranaguá, demonstram que os recursos publicitários
quando com Apucarana, terá maior influência usados nos primórdios da colonização não
em toda a área ocidental das terras da foram ilusórios: o Norte do Paraná é, mesmo, a
Companhia. O futuro delineia, ainda, o “Canaan do Brasil”.
desenvolvimento de mais uma cidade, Cianorte, Para comprová-lo, basta que se analise a
que, embora em seus primeiros passos, está produção do café. Antes de mais nada, os cinco
destinada a servir de “cabeça de zona” para a área primeiros municípios na produção cafeeira do
do Ivaí. O Norte do Paraná, bem urbanizado de Brasil são do Norte do Paraná (l952): Bela
modo geral, contará então com três cidades com Vista do Paraíso (2.200.000 arrobas), Apucarana
grande raio de ação: Londrina, Maringá e (1.500.000 arrobas), Cornélio Procópio
Apucarana, com o possível acréscimo de Cianorte. (1.457.000 arrobas), Assaí (1.500.000 arrobas) e
Mandaguari (1.200.000 arrobas), que somam o
respeitável total de 7.682.300 arrobas38 .
A IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DO Se esse fato de possuir os cinco primeiros
NORTE DO PARANÁ municípios produtores do país já lhe serve de
galhardão, a produção total é também de muita
À guiza de fecho para este estudo do Norte significação, tendo crescido continuamente:
do Paraná, nada parece mais adequado que uma
Produção em Valor da produção em % na produção
Anos 1000 Kg Cr$ 1000,00 do Brasil
1947 89.192 591.782 9,41

1948 115.481 753.556 11,13

1949 150.255 1.236.958 14,07

1950 202.452 3.042.890 18,90

1951 173.542 2.693.627 16,07

A diminuição observada em 1951 não se cafeeira. A pujança das terras do Norte do


prende à ocorrência de geadas, mas à natural Paraná garante esse alto nível de produção, com
queda de produção que, em geral, sucede a um notáveis índices de rendimento, especialmente
ano excepcional. Sendo essas oscilações significativos quando comparados com os do
normais, não se pode, no entanto, deixar de Estado de São Paulo:
notar a constante progressão da produção
Rendimento em kg/Ha Rendimento em Kg/1000 pés
Anos Norte Paraná São Paulo Norte Paraná São Paulo
1947 586 338 929 440

1948 583 423 932 552

1949 621 369 992 480

1950 758 334 1 202 432

1951 594 337 948 442

Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001 113


Os dados são bastante eloqüentes para que 6 Ruth Mattos Almeida Simões, Notas sobre o clima do
se torne necessário qualquer comentário. Paraná, p. 127.
7 Pierre Monbeig, Pionniers et planteurs de São Paulo,
Mesmo levando-se em conta um possível p. 56.
cansaço das terras no futuro, é certo que o Norte 8 A composição florística foi extraída da obra de Pierre
do Paraná estará relativamente, sempre em boa Monbeig, já citada, p. 71-75.
posição na produção agrícola. Correspondendo 9 Dora de Amarante Romariz, Mapa da vegetação original
as esperanças de colonizadores e colonos, o do Estado do Paraná.
Norte do Paraná vem conquistando, a passos 10 Essa designação foi proposta por Carlos Stelfeld; em

largos e seguros, lugar de proeminente im- Fitogeografia geral do Estado do Paraná, a exemplo de A.
portância no Brasil de hoje e de amanhã. J. Sampaio em relação aos campos da Hiléia amazônica.
11 Os “campos inclusos”, segundo os especialistas,

não representam formações secundárias, mas


remanescentes da vegetação original, posteriormente
NOTAS modificada pela implantação de clima mais úmido.
12 Denominação proposta para essa área por Beneval
1 Também nas áreas novas do Estado de São Paulo, o de Oliveira, Contribuição para a divisão regional do
café foi plantado em terras arenosas. O extremo Oeste Estado do Paraná.
do Norte do Paraná é considerado, pelos fazendeiros 13 Denominação dada por Aroldo de Azevedo, em O
da região, como de melhores solos que de algumas planalto brasileiro e o problema da classificação de suas
regiões arenosas de São Paulo, como, por exemplo, formas de relevo , para todo o Terceiro Planalto
os da Alta Sorocabana. Este julgamento é, paranaense, mas que parece especialmente indicada
evidentemente, baseado na cobertura vegetal original, para o trecho deste no Norte do Paraná.
ali mais exuberante e densa que nesta área. 14 Baker, em Lava field of the Paraná Basin , p. 72,
2 Adotamos, reste estudo, o limite climático do café
considera a possibilidade do Segundo Planalto ter
estabelecido por Maack em seu Mapa fitogeográfico sido recoberto por massas de lava, capeamento esse
do Estado do Paraná, 1950. Apesar de um tanto que teria sido retirado por erosão depois do Mezozóico
otimista, parece bem mais exato que o apresentado ou Cenozóico. As atuais ocorrências em forma de
por Alceo Magnanini em Condições geográficas e pequenos lençóis seriam, assim, não ocasionados por
aspectos econômicos da Bacia Paraná-Uruguai. extravasamento de lavas pelos diques, mas
3 Na realidade, devido aos altos preços, o café ultrapassou remanescentes daquela cobertura.
aí, em alguns pontos, o limite climático. Trata-se, no 15 F. F. Marques de Almeida, Relevo de cuestas na bacia
entanto, de áreas limitadas e de pequena produção, sedimentar do rio Paraná, p.25
em que o café não domina a paisagem, podendo, por 16 A respeito, ver os relatórios de Anibal Alves Bastos,
isso, ficar excluídas. Exploração do rio Ivaí, p.112 e Exploração do rio Tibagi,
4 Para fins cartográficos, apesar da delimitação
p.56.
estabelecida, optou-se, quase sempre, pelo 17 Viktor Leinz, Contribuição à geologia dos derrames
mapeamento do Norte do Paraná até o paralelo de basálticos no Sul do Brasil.
24º S. Em alguns casos, como nos mapas fisiográficos,
essa extensão é até mesmo necessária, para melhor
18 Viktor Leinz, no entanto, encontrou no embasamento
compreensão da parte dentro do todo – ou seja, do “indícios de falhamentos em forma de zonas
Norte do Paraná no conjunto do Estado. A fim de milotinizadas”, que levanta a necessidade de uma
manter uniformidade e possibilitar melhor revisão neste ponto.
19 A cronologia e nomenclatura da seqüência inteira
comparação, o paralelo de 24º 5 foi então adotado.
Esse limite, aliás, tem sido correntemente aceito conto de lavas e dos arenitos intercalados, tanto na lapa
a fronteira sul da região, como nos trabalhos de quanto na capa do derrame, não estão ainda
Salette M. Cambiaghi, O povoamento no Norte do determinadas. Se há dúvidas na datação dos lençóis
Paraná, e Nilo Bernardes, Expansão do Povoamento de lava e do arenito Botucatú, no caso do arenito Caiuá
no Estado do Paraná. há ainda maiores incertezas. Proposto por Washburne,
5 O estudo detalhado do clima do Norte do Paraná que lhe deu idade jurássica, colocando-o entre os
é impraticável devido à pobreza de dados existentes. derrames basálticos (que seriam do triássico) e o
Há, na região, apenas quatro postos meteorológicos, arenito Baurú (cretáceo), o arenito de Caiuá não tem
funcionando, há poucos anos, em Andirá, Jataizinho, sido reconhecido como formação à parte pela maioria
Jacarezinho e Londrina. dos geólogos. Evaristo Penna Scorza está entre os
poucos que lhe concedem individualidade, embora

114 Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001


diminua bastante a área carteada por Washburne, 24 A origem da escarpa tem sido atribuída a falhas e à
indicando ter havido confusão com os arenitos erosão diferencial. A concepção de sua formação como
Botucatú e Baurú em alguns casos. Entre os demais resultado de falhas é antiga, tendo sido modernamente
especialistas, alguns, como Maack e Gordon, aceita pelo Padre Geraldo Pauwels; embora algumas
consideram-no como um “arenito de São Bento falhas locais tenham sido observadas, ainda não foram
Superior” (Botucatú). Crêem outros que o arenito identificadas provas de que esse fenômeno tenha
Caiuá é cretáceo-jurássico, constituindo um fácies ocorrido em tão largas proporções. A teoria da gênese
do Baurú, corno preferem Otávio Barboza e Backer. da escarpa por erosão diferencial provém do primeiro
Ruy Osório de Freitas, recentemente, segue a opinião, decênio deste século, sendo mais tarde exposta por
já esboçada por Setzer, que o que tem sido chamado Oppenheim; essa interpretação baseia-se na hipótese
de arenito Caiuá às vezes trata-se de arenito Baurú, de que as lavas tenham sido represadas a Leste por
outras vezes é o arenito Botucatú que, tendo formado terrenos de maior altura, provavelmente os cristalinos.
grandes “ergs”, afloraria por não ter sido recoberto Recentemente, Viktor Leinz estabeleceu a hipótese da
pelo basalto; outras vezes, ainda, seria arenito terciário, formação original da escarpa pela acumulação de lavas
nos vales. no fim da corrida: tendo essa idéia ocorrido em relação à
20 F. F. Marques de Almeida, op. cit. p. 25. escarpa no Rio Grande do Sul e aceita por Vitor Peluzo
21 Os espigões principais têm altitudes variáveis, Júnior para o Estado de Santa Catarina, resta comprovar
elevando-se de L para W até a área de Arapongas- até que ponto é válida para o Estado do Paraná.
Apucarana, para depois decaírem em direção ao
Paraná. Para melhor esclarecimento, damos algumas 25 A terra roxa legítima é a que deriva da decomposição
altitudes de localidades de L para W: Cambará, 448m; de diabásios, meláfiros e basálticos. Contem 60% de
Santa Mariana, 484m; Londrina, 6l0m; Rolândia, argila em sua composição e sua acidez, no estado
765m; Arapongas, 810m; Mandaguari, 765m; natural, é de 7 a 7,5. A terra roxa misturada tem
Maringá, 556m e Paranavaí, 508m. A região de também por rocha-mater o diabásio, mas os seus
Arapongas-Apucarana, mais elevada no conjunto, detritos se encontram misturados, por erosão ou
funciona como centro de dispersão da rede contato, com os de terrenos areníticos. Há ainda um
hidrográfica local. terceiro tipo, de ocorrência não registrada no Norte
22 Segundo Viktor Leinz, as diferentes resistências do do Paraná, a terra roxa de campo, também misturada,
basalto decorrem de diferenças de textura pelo processo mas com maior proporção de arenito que a anterior.
de resfriamento do magma. Quando a corrente de Segundo Marger Gutmans, comprovou-se recentemente
rocha em fusão extravasa, a parte em contato com a que a terra roxa misturada pode ser autóctone, pois
superfície do embasamento esfria com rapidez, recentes pesquisas de laboratório comprovaram a
tornando-se vítrea. A camada imediatamente superior existência de diabásios que contêm quartzo.
consolida-se com diaclases horizontais, enquanto o 26 Em uma dessas áreas desocupadas, que ficaram à

centro, que perde calor lentamente adquire a forma retaguarda da frente pioneira, foi fundada, em 1931,
de colunas verticais; ao se aproximar do topo, surgem a colônia Assai, pertencente a uma companhia
novamente os basaltos com planos horizontais, japonesa, a “Sociedade Colonizadora do Brasil Ltda.”
superpostos pela rocha com vesículas, que se formam Nos moldes característicos da colonização que efetua,
pelo contato com o ar. A faixa de diaclases horizontais o loteamento foi feito em pequenas parcelas e os
e de textura amidalóide decompõem-se mais proprietários, devidamente orientados por um
facilmente, dada a maior retenção da água de agrônomo, nelas se localizaram imediatamente. Na
percolação, dando formas planas. O basalto de divisão das terras a “Sociedade Colonizadora do
diaclases verticais facilita a disjunção de blocos de Brasil” seguiu duas orientações: enquanto alguns
prumo, com solapamentos pela decomposição mais lotes vão dos cursos d’água aos espigões, outros vão
rápida do piso. de rio a rio. Em conseqüência. o sistema de construção
23 As formas de relevo do planalto arenito-basáltico têm de estradas é misto: às vezes correm pelo espigão, no
aspecto de juventude embora, no dizer de Backer, possa traçado tradicional, outras vezes correm a meia-
ser considerado como “uma das mais velhas topografias vertente. A colônia japonesa de Assai, embora
jovens que se conhece”. Os aspectos que apresenta, com grande produtora de café, dedica-se à policultura,
terraços nos cursos inferiores dos rios, podem levar à nisso seguindo a praxe usualmente adotada na
interpretação da morfologia como sendo resultante colonização por elementos dessa origem.
de vários ciclos de erosão com rejuvenescimento. Embora 27 A área pertencente à Companhia de Terras Norte do

essa hipótese possa e tenha sido aventada, a maioria dos Paraná foi dividida em “zonas” que, por sua vez, se
estudiosos opta pala interpretação do relevo como subdividem em “glebas”. Ha, ao todo, seis zonas:
resultante da erosão seletiva. Tibagi, Pirapó e Primitiva, ao Norte doespigão mestre,
dispostas nesta ordem de Leste para Oeste; ao Sul do
espigão, na mesma direção, ficam as zonas do Rio Bom
Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001 115
e Paranhos; a SO de Paranhos, na direção do rio Ivaí, BIBLIOGRAFIA
fica a zona de Ivaí. As primeiras a serem colonizadas
foram as de Tibagi e Pirapó, mais próximas de
Londrina, logo seguidas pela do Rio Bom. A seguir, ABREU, Silvio Fróis de. Comunicação sôbre a
vieram as duas zonas “além Maringá”, as de Paranhos fisiografia do Paraná. Boletim Geográfico, n. 21,
e Primitiva. A mais recente, ainda em colonização, é p.1376-1379, 1944.
a de Ivaí. (vide mapa n. 8). ALMEIDA, Fernando Flávio Marques de. Relêvo
28 De 1929 a 1935, a Companhia construiu 3.615 km de cuestas na bacia sedimentar do Paraná. Boletim
de estradas. Paulista de Geografia, n.3, p.43-50, out. 1949.
29 Segundo Lysia Cavalcante Bernardes, cujo trabalho O
ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS
problema das frentes pioneiras no Estado do Paraná BRASILEIROS. Condições geográficas e aspectos
utilizamos amplamente para a elaboração deste
capítulo, as duas frentes pioneiras na colônia geo-econômicos da Bacia Paraná-Uruguai. São Paulo,
Centenário estavam, em meado de 1950, separadas Comissão Interestadual da Bacia Paraná-
por uma faixa de 20 km de mata virgem. Atualmente, Uruguai,1955.
não há essa separação, estando a área toda ocupada. AZEVEDO, Aroldo de. O planalto brasileiro e o
30 A “Fazenda Brasileira” fora aberta para se tornar uma problema da classificação de suas formas de relêvo.
grande plantação de café, tendo, no entanto, Boletim Paulista do Geografia, n. 2, p.43-50, 1949.
fracassado. A fazenda chegou a contar, em 1929, com BACKER, C.L. Lava field of the Paraná Basin.
1.200.000 pés de café e 1.200 famílias de colonos. A Journal of Geology, Vol. XXXI, n. 1, p.66-79, 1923.
penetração se fizera pelo Paranapanema, por elementos
provenientes de Presidente Prudente. Quando a área BALDI, P.E. La colonizzazione agricola del Brazile
reverteu para o Governo do Paraná, em 1942, a e l’opera delia Compagnia de Terras Norte do
fazenda contava apenas com três famílias e em seus Paraná. Revista de Agricoltura Subtropicale, Vol. 42,
200.000 alqueires (ou mais) havia apenas 250 em n. 4-6, p.109-116, 1948.
capim colonião. Estes pastos serviam ao gado que BARBOZA, Otávio. O arenito Caiuá e a Série
vinha de Mato Grosso pelo Porto São José, utilizando
a estrada boiadeira que ia dar em Londrina e que fora Bauru. Mineração e Metalurgia, Vol. III, n.16,
terminada em 1937. p.212,nov./dez., 1938.
31 Como nas glebas correspondentes aos dos domínios ______. Notas sôbre a geologia do Nordeste do
da “Companhia Melhoramentos Norte do Paraná” e Paraná. Anais da Academia Brasi1eira de Ciências,
das colônias Primeiro de Maio, Ibiporã e Jaguapitã. vol. 23, p 341
32 Essas paisagens são comuns na parte Leste do
BASTOS, Annibal Alves. Exploração do rio Ivaí.
planalto arenito-basáltico e nas colônias de Relatório Anual do Diretor, Serviço Geológico e
Sertanópolis e Içara. Na colônia Centenário, as Mineralógico do Brasil, 1935, p. 110-148.
fazendas predominam, bem como nas áreas mais
distantes e isoladas da colônia Paranavaí. ______. Exploração do rio Tibagi’’, Relatório Anual
33 Curiosamente, tanto Marília quanto Londrina são do Diretor, Serviço Geológico e Mineralógico do
conhecidas pelo cognome de “cidade-menina”. Brasil, 1936, p. 53-62.
34 Dados fornecidos pela Prefeitura municipal de BERNARDES, Lysia Maria Cavalcanti.
Londrina. Crescimento da população do Estado do Paraná.
35 A diminuição da população nesse ano é conseqüência Revista Brasileira de Geografia, Ano XIII, n.2, p.265-
de desmembramento do município 271, abril/jun.,1951.
36 Dado do recenseamento nacional. ______. Excursão ao Paraná e Santa Catarina:
37 Dados fornecidos pela Prefeitura Municipal de Londrina e a zona pioneira do Norte do Paraná.
Londrina. Boletim Geográfico, Ano III, n 28, p.603608,
38 Todos os dados estatísticos para a produção do jul.,1945..
café foram extraídos do “Anuário Estatístico do ______. O problema das frentes pioneiras no
Brasil”, ed. I.B.G.E. Estado do Paraná. Revista Brasileira de Geografia,
ano XV, p.335-384, jul./set.,1953.
BERNARDES Nilo. Expansão do povoamento
,

do Estado do Paraná. Revista Brasileira de Geografia,


Ano XIV, n. 4, p.427-456, 1952.

116 Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 89-118, jan./jun. 2001


BIGARELLA, João José. Esboço da geologia e LEME, Alberto Betim Paes. Gênese dos solos dos
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Notes to North of Paraná Knowledge


ABSTRACT
This article, printed formerly in 1956 – Boletim Paulista de Geografia edition-, is the one among others remarkable
works aiming North of Paraná region. A discussion about its limits and physical aspects is followed by settling and urban
and rural patterns. Finally, throws a glance at region economic role, particularly coffee economy.

KEY-WORDS: North of Parana; physical aspects; coffee economy; settling; urban and rural space.

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