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Relatório final
Registro/SP
2º Semestre/2021
Resumo: No cenário mundial a cultura do café se encontra entre os produtos mais
comercializados e rentáveis representando fonte de renda para vários países. A espécie
Coffea canephora L. se destaca na cafeicultura do Brasil, possuindo grande importância
para a economia na contribuição como agente atuante positivo na balança comercial
brasileira. Diante dessa importância econômica, objetivou-se com o projeto avaliar o
comportamento de 20 clones de cafeeiro Coffea canephora no Vale do Ribeira Paulista,
aliado à boas características agronômicas, a fim de gerar informações que contribuam
para a recomendação técnica desses clones para a região. O experimento foi instalado
em dezembro de 2019, no Câmpus Experimental da Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita filho” – UNESP, em Registro-SP, no espaçamento de 3,00 x 1,0m.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com três
repetições, e parcelas de 10 plantas, sendo considerada como parcela útil apenas as seis
plantas centrais. Foram avaliadas as seguintes características: diâmetro de caule, número
de ramos plagiotrópicos, altura de plantas, número de nós dos ramos plagiotrópicos,
comprimento de ramo plagiotrópico, incidência de cercosporiose nas folhas dos
cafeeiros, incidência da ferrugem, incidência de bicho-mineiro nas folhas dos cafeeiros
e incidência de phoma. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o
programa computacional Sisvar (Ferreira 2000). Os dados médios, das características
avaliadas, foram submetidos à análise de variância pelo teste F e, as médias comparadas
pelo teste de Skott Knott a 5% de probabilidade. Os resultados obtidos permitem
concluir que: os clones utilizados, de forma geral, foram tolerantes às principais pragas
e doenças da cultura do Coffea canephora na Região do Vale do Ribeira Paulista; com
relação ao crescimento vegetativo, todos os tratamentos obtiveram resultados
semelhantes, com destaque positivo para o tratamento 18 (Clone 410) que obteve
resultados e adaptação acima dos demais clones testados no Vale do Ribeira Paulista.
1. INTRODUÇÃO
Uma região de grande potencial para o cultivo do café no Estado de São Paulo é
o Vale do Ribeira. Essa região está localizada no sul do estado de São Paulo e norte do
estado do Paraná, abrangendo a Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape e o
Complexo Estuarino Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá. Sua área é extensa com
cerca de 2,83 milhões de hectares, abriga uma população de 481.224 habitantes, de
acordo com o Censo do IBGE de 2000 e inclui integralmente a área de 31 municípios (9
paranaenses e 22 paulistas). Existem ainda outros 21 municípios no Paraná e 18 em São
Paulo que estão parcialmente inseridos na bacia do Ribeira.
Duas espécies de café são as mais cultivadas comercialmente, no mundo e no
Brasil, sendo a Coffea arabica, que produz os cafés arábicas, considerados de melhor
qualidade e a espécie Coffea canephora, que dá origem aos cafés robusta, de qualidade
inferior. No mercado, os cafés arábica representam cerca de 65% do consumo mundial e
o robusta 35%, com crescimento grande observado para o robusta nas últimas décadas.
As variedades de café arábica são mais adaptadas às regiões de clima mais ameno, com
temperaturas médias anuais de 19-22º C, enquanto o robusta é bem adaptado a climas
mais quentes, em zonas de altitudes mais baixas, com temperaturas médias na faixa de
22-26º C. No Brasil o café robusta-conilon é cultivado principalmente nas regiões de
baixa altitude no estado do Espírito Santo, pouco no Vale do Rio Doce em Minas e
Extremo Sul da Bahia e em Rondônia.
As áreas aptas ao cultivo do café robusta são aquelas que apresentam
temperatura média anual entre 22 e 26oC e déficit hídrico inferior a 200 mm/ano,
podendo-se considerar como marginais, áreas com déficit hídrico de até 300 mm/ano
(MATIELLO, 1998). Segundo o mesmo autor, no Brasil, considerando-se as exigências
térmicas e hídricas, existem áreas aptas nos estados do Amazonas, Acre, Roraima,
Amapá, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Pernambuco.
O cultivo de Coffea canephora no Brasil vem se expandindo rapidamente, com
forte tendência de aumento, a despeito dos menores preços alcançados pelo produto, que
tendem a oscilar entre 10 e 15% abaixo do preço dos arábicas locais (MATIELLO,
1998). Este fato decorre do menor custo de produção do café conilon, proporcionado
por sua menor exigência em tratos fitossanitários e de seu maior potencial produtivo.
Com o crescimento da demanda pelo robusta pelas indústrias de café expresso,
cápsulas e outras bebidas à base de café, a APTA e o Centro de Café do Instituto
Agronômico (IAC) têm se dedicado a desenvolver pesquisas para selecionar clones de
robusta adaptados às condições paulistas. “A maior parte das torrefadoras e indústrias
de café solúvel estão em São Paulo. Por que não oferecer o produto aqui, o que implica
em menor custo, do que ter que trazê-lo do Espírito Santo?,” explica o pesquisador Júlio
Cesar Mistro, responsável pelo projeto no IAC.
Dados preliminares da Secretaria de Agricultura paulista indicam que a
produção do café robusta oferece uma rentabilidade entre 20% e 30% superior à do café
arábica, mesmo com um preço 45% menor que o da variedade mais nobre. O custo
inferior e a alta produtividade justificam o investimento no plantio em terras paulistas.
Desse modo, em contraste ao valioso patrimônio ambiental, o Vale do Ribeira, é
historicamente uma das regiões mais pobres dos estados de São Paulo e Paraná. Seus
municípios possuem índices de desenvolvimento humano inferiores às respectivas
médias estaduais, assim como os graus de escolaridade, emprego e renda de suas
populações, entre outros indicadores, são tradicionalmente menores do que os de outras
populações paulistas e paranaenses.
Os principais ciclos econômicos que se instalaram no Vale do Ribeira ao longo
da história foram a exploração aurífera, a partir do século 17, e de outros minérios até
décadas recentes, e as culturas do arroz, do chá, banana e tentativas de estabelecer a
cultura do café. Estes ciclos transformaram o Vale do Ribeira em fornecedor de recursos
naturais de baixo custo, explorados sem qualquer respeito ao patrimônio ambiental e
cultural e sem geração de benefícios para a população residente.
Apesar da pesca exercer papel fundamental na ocupação e desenvolvimento
econômico das comunidades locais do Vale do Ribeira, é importante ressaltar que a
agricultura continua sendo a principal atividade e fonte de renda da população desta
vasta região paulista. Atualmente, existe produção e comercialização de mudas de
espécies nativas da Mata Atlântica, manejo do palmito nativo de juçara aproveitando
somente as frutas das árvores, plantio de banana em grande escala, açaí, pupunha, arroz,
chá-da-índia, produções de vários tipos de flores, folhagens e frutos com o plantio de
maracujá, goiaba, cupuaçu, etc.
Devido à sua proximidade com a capital de São Paulo e Curitiba-PR, outras
opções agrícolas devem ser pesquisadas para o Vale do Ribeira. Nesta região, grande
número de produtores, desenvolve agricultura de subsistência e, neste caso, o cultivo do
café deveria ser mais bem investigado a fim de proporcionar uma nova opção agrícola.
De acordo com o Sebrae, o Vale do Ribeira atualmente se caracteriza pela grande
concentração de pequenas propriedades, com até 50 hectares. Essas propriedades são
representadas pela agricultura familiar.
Com base no exposto, objetivou-se com o projeto avaliar o comportamento de
20 clones de cafeeiro Coffea canephora no Vale do Ribeira Paulista, aliado à boas
características agronômicas, a fim de gerar informações que contribuam para a
recomendação técnica desses clones para a região.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Instituiç
Orde Clon
ão de
m es
origem
INCAP
01 2V
ER
INCAP
02 3V
ER
INCAP
03 4V
ER
INCAP
04 5V
ER
INCAP
05 6V
ER
INCAP
06 8V
ER
INCAP
07 10V
ER
INCAP
08 13V
ER
INCAP
09 401
ER
INCAP
10 402
ER
INCAP
11 403
ER
INCAP
12 404
ER
INCAP
13 405
ER
INCAP
14 406
ER
INCAP
15 407
ER
INCAP
16 408
ER
INCAP
ER
17 409
INCAP
18 410 ER
19 411 INCAP
ER
20 412
INCAP
ER
200 25
150
15
100
10
50 5
0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1
y-2 n-2 l-2 g-2 p-2 ct-2 v-2 c-2 n-2 b-2 r-2 r-2 y-2 n-2 l-2
a Ju Ju u Se O o e Ja Fe a p
M A Ma Ju J
u
M A N D
Meses
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Crescimento vegetativo
80.00
60.00
40.00
20.00
Apr-20 Jun-20 Aug-20 Sep-20 Nov-20 Jan-21 Feb-21
Tempo
2V Linear (2V) 3V Linear (3V)
Clones: 4V Linear (4V) 5V Linear (5V)
6V Linear (6V) 8V Linear (8V)
25.00
Diâmetro de caule (cm)
20.00
15.00
10.00
5.00
Apr-20 Jun-20 Aug-20 Sep-20 Nov-20 Jan-21 Feb-21
Tempo
2V Linear (2V) 3V Linear (3V)
Clones: 4V Linear (4V) 5V Linear (5V)
6V Linear (6V) 8V Linear (8V)
150.00
Evolução do comprimento de ramos ao longo do tempo
Comprimento de ramos plagiotrópicos (cm)
125.00
100.00
75.00
50.00
25.00
0.00
Apr-20 Jun-20 Aug-20 Sep-20 Nov-20 Jan-21 Feb-21
Tempo
2V Linear (2V) 3V Linear (3V)
Clones: 4V Linear (4V) 5V Linear (5V)
6V Linear (6V) 8V Linear (8V)
Figura 04. Comprimento de ramos plagiotrópicos de 20 clones Coffea canephora
avaliados em 4 épocas em Registro – SP.
A evolução do número de ramos plagiotrópicos ao longo do tempo (Figura 05),
demonstrou que todos os tratamentos tiveram desenvolvimento semelhante ao longo das
4 épocas, não havendo diferença estatística entre os mesmos (Tabela 4). Isto pode ser
explicado pelo fato de estarem em pleno desenvolvimento vegetativo e, portanto, se
tratar de plantas jovens ainda em formação.
Cafeeiros conilon crescem mais rapidamente na fase de formação do que na fase
de produção (Silveira et al., 1993), apresentando quedas nas taxas de crescimento com a
idade (Bragança et al., 2010) e o modelo de seu crescimento segue o padrão sigmoidal
(Bragança et al., 2010) e não é modificado pela remoção dos frutos, ainda que cafeeiros
sem frutos exibam maiores taxas de crescimento (Libardi et al., 1998). O crescimento é
diferenciado entre os clones que compõem uma variedade (Contarato et al., 2010) e pela
idade do ramo (Partelli et al., 2010).
Sabe-se que a característica nº de ramos plagiotrópicos é de suma importância
para conhecimento do potencial produtivo de um cafeeiro, visto que a produção de
flores e, por extensão, de frutos em cafeeiros dependem da quantidade de ramos
formados na estação corrente (DAMATTA et al., 2007), Thomaz et al., (2001) também
encontrou resultados semelhantes onde as floradas do cafeeiro tendem a serem
diretamente proporcionais ao número de ramos plagiotrópicos e ao número de nós por
ramo plagiotrópico.
Em trabalho desenvolvido por Bragança S. M., (2005) com cafeeiro formado,
encontrou dados interessantes, o qual resultados obtidos sugerem que, com o
envelhecimento da lavoura, estabelece-se gradualmente um desequilíbrio entre a área
foliar (associada à fotossíntese) e a massa seca total da planta, que passa a ser
constituída basicamente pelo excesso de ramos ortotrópicos, que se tornam fortes drenos
por fotoassimilados. Essas informações indicam, de forma contundente, a importância e
a necessidade de realização da poda na lavoura de café conilon, para que se tenha
equilíbrio na relação fonte dreno entre os componentes da planta.
O aumento do número de ramos plagiotrópicos pode ser considerado como um
aumento do potencial produtivo do cafeeiro, uma vez que ocorra aumento no número de
nós, local onde se originam as gemas laterais com capacidade produtiva. Contudo, o
lançamento excessivo de ramificações secundárias e terciárias pode prejudicar a safra
seguinte, pois pode estar ocorrendo uma grande diferenciação de gemas vegetativas em
detrimento das reprodutivas (MORAIS, 2003).
O aumento do número de ramos plagiotrópicos não necessariamente é capaz de
refletir em incrementos consideráveis de produtividade (PAVAN et al., 1994;
DaMATTA; RENA, 2002; DaMATTA et al., 2007; PEREIRA et al., 2011), por efeitos
do adensamento desses ramos na copa e de autossombreamento de folhas no dossel.
25.00
Nº de ramos plagiotrópicos
20.00
15.00
10.00
5.00
Apr-20 Jun-20 Aug-20 Sep-20 Nov-20 Jan-21 Feb-21
Tempo
2V Linear (2V) 3V Linear (3V)
Clones: 4V Linear (4V) 5V Linear (5V)
6V Linear (6V) 8V Linear (8V)
140.00
120.00
100.00
80.00
60.00
40.00
20.00
Apr-20 Jun-20 Aug-20 Sep-20 Nov-20 Jan-21 Feb-21
Tempo
2V Linear (2V) 3V Linear (3V)
Clones: 4V Linear (4V) 5V Linear (5V)
6V Linear (6V) 8V Linear (8V)
Figura 06. Número de nós dos ramos plagiotrópicos de 20 clones Coffea canephora
avaliados em 4 épocas em Registro – SP.
Analisando o desdobramento de tratamento dentro de cada época, verificou-se
efeito de relevância para cultivares (P≤0,05), apenas em quatro das cinco variáveis e
somente nas épocas 1, 2 e 4 representado pelos meses junho/2020, setembro/2020 e
fevereiro/2021 respectivamente (Tabelas 02,03 e 04).
A característica de comprimento de ramos plagiotrópicos apresentou efeito
significativo nos clones em todas as épocas, havendo a formação de 3 grupos distintos
de clones na última épocas de avaliação, indicando maior variabilidade entre os clones
nessa variável (Tabelas 04).
Tabela 02. Médias e (desvios padrões) das variáveis altura de planta (AP) e
comprimento do primeiro ramo plagiotrópico (CPRP) para a avaliação do mês de junho
de 2020.
JUNHO/2020
Tratamento
AP CPRP
1 39,78 (5,75) A 27,05 (4,68) A
2 40,89 (3,89) A 21,33 (2,56) B
3 31,83 (3,42) B 15,66 (1,01) B
4 29,28 (4,62) B 20,66 (1,69) B
5 30,83 (2,34) B 18,55 (3,25) B
6 40,56 (4,51) A 26,55 (2,26) A
7 37,11 (1,95) A 19,61 (2,00) B
8 38,22 (4,60) A 20,89 (5,36) B
9 44,33 (2,73) A 24,44 (2,54) A
10 39,45 (3,50) A 18,52 (3,13) B
11 42,61 (3,75) A 23,89 (3,23) A
12 37,33 (4,01) A 18,50 (5,08) B
13 38,61 (5,40) A 16,16 (2,35) B
14 32,56 (3,16) B 18,00 (1,16) B
15 37,56 (3,99) A 19,22 (2,55) B
16 42,60 (2,43) A 17,51 (4,15) B
17 39,94 (3,96) A 23,50 (2,60) A
18 43,66 (3,33) A 24,05 (3,69) A
19 33,00 (2,29) B 20,22 (1,07) B
20 39,99 (3,40) A 20,83 (0,57) B
Tabela 03. Médias e (desvios padrões) das variáveis altura de planta (AP), siâmetro de
caule (DC) e comprimento do primeiro ramo plagiotrópico (CPRP) para as avaliações
do mês de setembro de 2020.
SETEMBRO/
Tratamento 2020
AP DC CPRP
5 .REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Partelli, F.L., Vieira, H.D., Silva, M.G., Ramalho, J.C. (2010) Seasonal vegetative
growth
of different age branches of conilon coffee tree. Ciências Agrárias, Londrina,
31(3):619-
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desenvolvimento do botão floral e floração do café conilon. In: Anais do Congresso
Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, Águas de Lindóia-SP. p.100-102.
Thomaz, M.T., Sakiyama.N.S., DaMatta, F.M., Cruz, C.D., Martinez, H.E.P.,
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Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil - Vitória-ES, 24 a 27 de setembro.
Fonseca, A.F.A. da, Ferrão, R.G., Lani, J.A., Ferrão, M.A.G., Volpi, P.S., Verdin Filho,
A.C., Ronchi, C.P., Martins, A.G. (2007b) Manejo da cultura do café conilon:
espaçamento, densidade de plantio e podas. In: Ferrão, R.G., Fonseca, A.F.A. da,
Bragança, S.M., Ferrão, M.A.G., DeMuner, L.H. (eds.). Café conilon. Vitória, ES:
Incaper, cap.9, p.259-277.
6. APÊNDICES
Apêndice A – Avaliação de crescimento e adubação de cobertura.