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TOMO III.
DO
m
a n c tro ,
COSTENDO
'ta x a r i
Doutor tui Leis pelu Uuiversitlmle de Coimlirii, Conselheiro Ano-enliol.
....
no Con-elho_ da
i . ii ,
Fazenda. *
TOMO III.
IUO DE JANEIRO,
835.
,\OTj
AANAES
TARA SERVIR
PAR TE I I I.
LIVRO III.
CAPITULO PRIMEIRO.
§ i.
Demora o Paraguay cm 12 a 13 gráos de latitude
au stral; desde o seu nascimento lie dividido em
muitos braços auriferos e diamantinos, segue
ao Sul com caudalosa enchente, que reunindo-se
forma o alvo deste memorável Rio navegavel sem
TOJIO III. I
ANN AES
i
8 ANNAES
§ h-
§ 5.
§ 6.
§<J-
§ 10.
Por aquella navegação do Paraguav póde scr
penetrado todo 0 interior do Brazil, por quantos
rios banhào a margem O riental, extendendo r
no U!0 Dli JANEIRO. 2I
dilatando a fronteira Ilespanliola , tanto mais con
siderada a incapacidade dos Governadores e Ma
gistrados que tèein sido enviados para aquella
fronteira, a mais importante do 15raz.il, ficando
abandonadas as nossas linhas que reclainão esta
belecimentos correspondentes á magnitude dos
nossos perigos para paralisarem as operações ini
migas , evitando não sermos surprendidos nas
nossas tão singulares naturaes posições de defeza
por entre a inim'- idade de legoas , onde para o
nascente estão ofegadas a maior parte dos ter
renos das Capitanias de S. Paulo e Mato Grosso,
para o Sul as immediacõcs de Villa Bella e Cuia
b á , até os contornos da Cidade de Assumpção,
por isso que até o presente o Governo não tem
sahido do seu fatal lethargo , nem mesmo depois
de se passar a Corte Portiigueza para o brazil ,
sendo bem de esperar que o augmento da popu
lação e riqueza das Provincias de S. Cruz e Chi-
quitos , pelo seu estado de força , levem a elfeilo
a execução dos planos do Governo Republicano,
que póde sem risco boslilisar-nos e destruir nos
sos debeis estabelecimentos com muito maior ce
leridade, do que pela vasta fronteira do Guapo-
rc , na certeza de que não temos forças , nem ao
menos o antigo patriotismo , com que outrora
denodadamenle saldamos victoriosos de todas a ;
tentativas de nossos visinhos, não tendo elles quo
turner a Capitania de Mato Crosso , que não node
ANN AES
§ "•
Ono se não deve esperar do poder Republica
no e de suas vistas ambiciosas e ameaçadoras,
senão de sermos esmagados debaixo do seu peso,
cumprindo dc sermos vigilantes e preparados a
rep.üir qualquer invasão , cobrindo ao menos o
DO MO DE JANEIRO.
§ I?-
lira por isso da mais urgente necessidade col-
locar huma povoação na Cachoeira do Salto de
nominada doThcolonio, e outra no Hio Madeira:
a importanda deste objecto lie tal, que entrevira
ao Brazil a chave do Rio Uruguay pelo Pará, sem
o que ello nao o pode sustentar a sua indepen
dência. Aquella povoarão supposta, ficava circun
dada de muitas iSações barbaras, algumas não
sao ferozes , e todas com suavidade podem ser
chamados a fazerem liuma parte da associação ci
vil . guardada a justiça para cora ellcs c aliciada
a Vaeao Indigena , por todos aquelles meios sa
lutares e judiciosos , com que os homens achão
doce c suave a Sociedade humana : nos ficaria por
este modo patentes a riqueza interior que abunda
além dos metaes preciosos, do cacáo, salsa , cra
vo , gominas, madeiras, por objectos de importa
rão do Pará, melhorada e aperfeiçoada a navega
ção e as estradas para Mato Grosso , os generos
transportados da Europa ; ainda quando nos of-
fcrece igualmente ampla navegação o Rio Tapo-
jós , que sc reune aos Rios Arinos , Sumidouro,
Junuim a, que nasce naquella mesma latitude cm
pequena distancia das aguas dc Jorarc . Guapu-
ré , Jaurú, Paraguay, e Cuiabá , por cujos auri
feros braços navegou o Sargento Mór João dc
Souza , que do Rio Cuiabá levou as canoas por
TOMO III. /,
26 ANNAES
§ >"•
El-Rei D. Pedro segundo tinha bera reconhe
cido a necessidade de se povoar nos pontos de de
feza e segurança, aquella navegação do Paraguay,
quando se erigio a Colonia do Sacramento, que
DO RIO DE JANEIRO, 27
§ il.
§ . 5.
(lorn a chegada a io de Agosto de huma em
barcação da Colonia correrão desagradavcis noti
cias do soíTrimento e extremidade de seus defen
sores, que a cxcepção da farinha, de tudo o mais
havia penuria insupporlavel , bem como que as
nossas embarcações ligeiras de guerra que cruza
rão pelo Rio da Prata, tomarão luima corveta de
Ilespanha, enviada dcaviso a Buenos Aires, sendo
a sua guarnição de iS pessoas. Além do Comman-
danle , foi aprchcndido o prego que o Capitão oc
cultura no seu corpo ; com a copia do seu con-
tlieúdo se fez a participação pelo Governador An
tonio Pedro a l'.l-1'u i , do que erão enviados para
Buenos Aires dous Galeões com 5oo homens de
desembarque , foi insendiada a corveta por huma
baila nossa que rompendo a pipa de aguardente
ateou o fogo que se não pôde apagar. A 15 do
mesmo moz aportou de Santa Galharina huma
outra embarcação com cartas do Brigadeiro José
da Silva Paes, dizendo ficar para sahir dali no
i.°daqucllc mez. depois de hum a intervista com
f.hristovão Pereira, enviado pelo Conde dc Sar-
zedas , Governador deS. Paulo, com i 5o homens
para promptificar cavallos para servirem oppor-
tunamente, demorando-se as nãos na Ilha por
causa da intervista daquelle Christovão Pereira
como Brigadeiro Paes, sobre os objectos da acção.
CO RIO DE JANEIRO. 3Õ
§ 16.
§ >;•
O nosso maior empenho era de levar por as
salto Montevideo, porém observando o Brigadeiro
huma noite aquella fortificação, pareceu-lhe bem
fortificada de torrão , com obras exteriores para
defensa da marinha, communieou ao Governa
dor esta observação com hum assignado da Olli-
cialidadc Maior da expedição, que votarão não
convir atacar por assalto de escalia aquella Praça,
pelqs diífieuldades que apontarão, e nessas irro-
galuçõesperderão amais plausível occasião de ga
nharem aquella Praça. Pedio o Brigadeiro Paes
ao Governador alguns artilheiros que lhes enviasse
em huma embarcação com mantimentos, embar
cando nclla o Comrnissario geral da Artilheria,
André Gonçalves dos Santos. A 24 aportou de
Lisboa oulro hiato com petrexo de guerra , noti
ciando sahir de Lisboa ao mesmo tempo huma
náo de guerra, cuja partida se pretextava de cem-
36 ANNAES
§ 18.
Desastrosa viagem sc aguardava á náo F.speran-
ea que se tinha feito á véla para a Colonia deste
ancoradouro em 11 de Setembro; tendo desarvo-
rado com calmarias , encalhou no banco , onde
permaneceu varios dias . tocando depois em ou
tro adiante , até que crescendo as aguas pode sa-
hir , ficando por isso em estado de não servir,
porém pôde todavia a outra náo Ondas ficar eu-
corporada com as tres primeiras , em huma en-
ceada fronteira a Montevideo , ficando todas com
ametade da tripulação e tropa por causa das doen
ças , que dominavào na estação. K snpposto
as duas náos inimigas se conservavão no Porto da
Barregaá, tempo ganhou o Governador de Buenos
Aires para fortificar e guarnecer Montevideo , es
perando reforços do Paraguay , não cessando o
Governador da Colonia de forticar as suas posi
ções militares . a despeito de todas as privações,
pois em hum attcstado dado ao Assenlista Anto
nio da Costa Quintão referia que se tinha comido
naqucllaPraaa animaes immundos,cavallos, gatos,
ratos. & c., e hervas agrestres pela penuria que se '
experimentou de todo 0 mantimento , a excep-
cão da farinha : e para aliviar a Praça da gente
inútil a sua defeza , e que só consumiáo, fez sa-
jo ANNAES
lur della alguns casaes para esta Cidade. Hum
hiaU: se mandou daqui sahir de aviso para Lis
boa . c por nrczes ficou suspenso o despacho dos
navios, que sc dirigião para o Norte , e este Go
verno tendo apromptado a náo Arabida , com
Uous navios de Provisões, os enviou para a Colo
nia . com hum destacamento de 200 homens en
v i o s de Pernambuco , além de 130 escolhidos
dos terços pagos desta Cidade e varias recrutas ;
corria de certo , que o Brigadeiro Paes pedira se
lhe mandasse gente com que clle podesse com a
náo Esperança ir ao Porto da Barregaá, tomar os
navios de guerra inimigos , visto não ler podido
conseguir huma força que a empreza reclamava
assim do Governador da Colonia , como do Coro
nel do mar Luiz de Abreu. Da Bahia também no
navio S. Fructuoso a 10 daqueUe mez forão en
v i a d o s 15 o soldados , c sc mandou também que
,1o Alinas descesse huma das Companhias de
Dragões , que ali residião , tendo partido nos na
vios S. Fructuoso c S. Felix para a Colonia, bem
como se recmbarcárão aquelles soldados da Co
lonia do primeiro destacamento da Bahia , que
vierão a curarcm-se, e por diversas embarcações,
muitos mantimentos, além do biscoito preparado
da farinha do moinho de vento da Hha das Co
bras , composta de milho e trigo com que se fez
o biscoito nos fornos construídos junto ao Trem,
em 2 de Dezembro daqueUe anno, além de 4 >ooo
DO r.io DE J A N E I R O , j(,
§ ' 9-
Naqueile tempo se achava Chrisíovão Pereira
no Rio Grande de S. Pedro com 200 homens
montados , e 5oo cavallos desmontados ; e para os
montar pedio a Colonia 3oo homens práticos da-
quelles campos,onde hostilisárãoaos Ilespanhoes.
totnoftdhes cavallos e gado, salgando 100 bois. <•
nò Rio huma rede, com a qual obtivera farer
abundante pescaria, remettendo twdo para a Co
lonia ean huma embarcação com 2,000 alqueires de
farinha, varios de trigo , 1,000 arrobas de carne
seeea , algum peixe salgado , e grande porção de
arroz pilado. Em 19 do mesmo mez seguirão para
aqvieiln Praça duas galeras, das quaes Corão Mes
tres-José Barbeia e Matheus da Silveira, com co
piosa quantidade de farinha, biscoito, carne see
ea , feijão , arroz pilado , gallinhas , e lenha. Em
hum hiate da Bahia aportado em 21, vieráo tam
bém 5oo alqueires de farinha, 5oo de feijão bran
co , 15o meros e vermelhos, 4 pipas de geribita,
e jo arrobas de fumo em rolos , enviados pelo
Vice Rei para á Colonia , ficando a embarcação
ao■’íerviço daquella Praça. A 9 de Fevereiro
1
sahio daqui para aquella mesma Praça o Bergan
tim N. Senhora do Soccorro e Bom Jesus, carre
gado dc mantimentos de boca e guerra. Nesse
mesmo dia chegou de Pernambuco a Galera N .
Senhora da Conceição c S. José com 6,020 al
queires de farinha , 5o de arroz pilado , 100 de
feijão, 4oo arrobas de carne secca do Ceará, 2,000
tainhas do espinha virada, 3,686 de espinha di
reita ,2,100 peixinhos de fundo , 85 garopas, e
7> charcos cm soccorro da mesma Praça.
§ 20-
Entretanto que se fortificava aquella Praça abas
tada então de mantimentos , Christovao Pereira
hostilisava buma Aldèa dos índios debaixo da di
recção dos Jesuitas , onde matou 5o Tapes, pri-
sionando outros, além de 700 bestas , entre ca
vados, e m u las; 2,000 vaccas , esperando a con-
ducção da Colonia para lhe serem enviados os
cavallos: a Praça porém se ressentia da inconstân
cia e infelicidade das recrutas das M;nas , que in
dignamente se passarão para o inimigo , e diver
sos outros soldados com muitos escravos. Em 17
de Novembro sahio daquelle porto o Brigadeiro
Paes, na náo Esperança , com hum hiate , dous
navios, ç huma balandra , com destino para o
da Barregaà, na intenção de entupir o canal por
onde entrarão as duas fragatas Ilespanholas pelo
temor de que não saliissem para ataca'-los , le-
DO RIO DE J A N E I R O .
§ at.
§ 2'-
, )ulra nova expedirão se preparou neste porto
composta dos navios de guerra Ondas c Nazareth
,lcm de tres navios, c huma sumaea dc guerra
com viveres. matemos c petrexos de guerra, com a
guarnição do huma companhia do Dragões dc * >-
,Us . de quc era Commandante Manocl dc harros
Guedes . 'com diversos artilheiros , e huma com-
-l,i; íianhia de infanteria. Capitão Manoel Alves da
i’onseea . além de hum France/. Pedro Carento,
com maleriacs e preparações convenientes dc po
der armar dons brulotes de fogo, e por meio dcl-
ics ir queimar os navios de guerra inimigos na
IIarroga á ; sendo porém o destino dos Dragões c
soldados para o Hio Grande. Acompanhou a ex
pedirão quantidade de materiaes, cal, telha c ti
jolo para as obras, e quinze casacs das Ilh as,por
quem se mandou distribuir gratuilamente da
Fazenda Real as ferramentas de que as lavouras
lazetn uso , além de i2#)ooo rs. a cada hum por
DO RIO DE J A N E I R O .
S a'h
§ 20.
§ -°-6-
Soube-se pelas cartas da Colonia que a Esqua
dra inimiga sc havia recolhido ao seu porto, ten
do sabido a nossa sobre as suas pequenas embar
cações, tomou huma e queimou duas, que
Porão forçadas encalhar cm suas praias, e des-
graeadamente, por falta de prevenção, perdemos
hum a, ancorada no mesmo Torto, que foi levada
a Costa inimiga, ficando prisioneira a equipagem,
c tomada a carga que a poderão salvar. Em i >
<!o Agosto seguirão deste Porto para o da Colonia
mais'duas fragatas, c a náo Bonança com varias
embarcações de transporte de mantimentos, sob o
commando de l ui/ de Abreu lio g o , que aui
■; hiirào no seguinte dia por haver encontrado o
navio lNogueira de Lisboa com as ordens da sus
pensão de armas, e que se dizia na náo Boa via
gem se tinha embarcado o Cosmographo mor
para o Bio da Traia, c que do Trança e Hespa-
nlia sabirião os Ministros Tlenipotcnciarios para
o recoubecimcnlo dos limites , pelos títulos de
cada 1nima das Coroas; e outro sim que o Go
vernador c Capilao General Gomes Freire de An
drade com o Governo das Minas subisse para
aquelle .ioverno (1) ; que o Coronel Prego com-
§ 2 ;.
Partindo a Frota a 21 de Agosto composta dc
19 navios mercantes, comboiados por duas na os
dc guerra ã Capitania de N. Senhora da Victoria,
Commandante o Coronel Luiz dc Abreu P rego,
e Almirante N. Senhora da Conceição, Comman-
te o Capitão de mar c guerra João Pereira dos San-
^ tos, importando os quintos das Minas Geraes e
. jj rendimentos daquelle, e anterior anno, e de S.
Paulo do anno de 1706, e algumas sommas de
varios sequestros, cinco milhões e meio, alem de
cem contos dc réis. Na mesma 1'rota se enviou
a relação da despeza da expedição e soccorro da
Colonia, Rio da Prata, Rio Grande, do 1“ de No
vembro de 1735 até 0 ultimo de Janeiro dc 1707
pela importância da despesa paga 552:o 54$>9° l
reis, estando por pagar mais de cem contos.
Importarão as despezas com as fortificações desta
Cidade, quartéis e carioca desde o i" de Ju
nho de 1735 até 0 ultimo de Junho de 1757,
DO r.IO DE JANEIRO.
§ 29 -
§ 3o.
§ Õ.7.
§ -V|.
Teve lugar a segunda conferencia no dia 18, e
nella se determinou que S. Ex, mandasse para a
Colonia, assim como o Marquez para Buenos Ai-
10 **
AN'NAES
§ 33.
Se installou a terceira conferencia no dia I 5 de
■Novembro, onde dc conformidade ordenarão aos
Ccographos o descobrimento de bum lugar ade
quado para o afmcamento do 9..° marco, que
declararão liaverem achado na Índia morta, aon
de se fez conduzir o m arco, o ali se fez levan
tar e afincar: houve outra conferencia em 5 de
Dezembro , onde sc discutio sobre a cxtencão que
tfevia ter a fralda meridional do Monte de Casti
lhos, que ficando indeterminada na conferencia
do dia 5 , propoz nella o Marquez as razões que
lhe pesavão, na disconeordancia de exceder a
fralda meridional daquelle monte ao declivio del
le, com aquellas qne pelo contrario produzia o
seu collega , que todavia lhe fez ceder tres quartos
de legoa para a parte de Hespanha, por ser a
distancia que julgou chegar 0 tiro dc canhão.
Assignalada a referida fralda, calorosa discussão
se moveu no dia 7 em que conferirão, presente
a configuração do terreno, sobre a direcção que
devia dar-se á linha divisória, que durou por
78 AXNAF.S
§ :,(i-
• ■ S ^
A clo/.e dc Marro receberão as cartas do Rio
Grande, coin oaviso do quo os Tapes, capitanea
dos poi> bum Padre Jcsuita, em numero de.m il
pessoas, atacarão hnnla nossa guarda avançada,
que commandava o lencnte de Dragões Erancis-
oo Pinto, composta de sessenta pessoas, que es
tando fabricando hum armazém, forão assaltados
cie madrugada, que se travou o choque c peleja
até ás nove horas, e nolle m orreu da nossa gente
hum Paulista c hum Caho de Esquadra, ficando
hum ferido com o Tenente, então os índios fu
girão , indo-se em seu alcance, forão encontrados
dezenove mortos , além de muitas armas e pon
ches. c no capão para onde se recolherão muito
sangue apparecia derrama do. Com a relação des
te succcsso seguio a 14 daquelle mez o l.x. “*
Freire para a Ilha de Martini Garcia, e em virtu
de da conferencia que teve lugar cm 2 f) pela ma
nhã, foi determinada a sua jornada ao Itio Gran
de . a fim de penetrar por essa parte as MissOes,
marcado o dia de i 5 de Julho para a sua execu
ção, entrou pela de S. Angelo, quer achasse os
Indígenas de paz ou de guerra pretendia obriga-los
evacuarem aquelle lugar, eproseguir contra outros
dous povos Indigenas, ficando quatro outros
consignados á evacuação pelos Ilespanhóes, o'
do mo ok nxnno.
quo lendo executado, se passaria ás dilns Missões
o Marquez de Vai de Urios que deixara em fSue-
nos Ayrcs, providenciando a expedirão da pri
meira e segunda partida, da demarcarão que
deveria occupar as Missões, para as entregar ao
Ex.“ Freire, e que este avisaria ao Governador
da Colonia para ter hum Corpo de Ligeiros no
prefixo termo das mutuas entregas, permanecen
do ali as tropas llespanholas cm quanto os Índios
continuassem desasocegados e revoltosos , impe
dindo alguma invasão; c outro sim sc convencio
nou, que fazendo os Índios guerra, fossem as
presas repartidas culre as duas Nações llespanlia
e Portugal, mas que annuindo-se a paz eobediên
cia, íicariáo perdoados cm nome de S. M. Catho
lica , que então lhes concederia poderem levar us
seus gados c cavallos. llespectivamcntc ao com
mercio se acordou que se dessem as mais posi
tivas e apertadas ordens para o Rio de Janeiro,
para que se não deixasse embarcar para a Colonia
genero algum de fazendas , e sobre as existentes
naquella Praca se enviasse bum Conmiissario da
parte de S. M. Catholica, para compra-la pelo
que convencionassem com os respectivos donos,
e que não mandando-se, ou nao se eífeituando a
a venda, fosse reexportada para o Rio de Janeiro ;
mas aquelles que anhelassem ficar sugeitos a
S. M. Catholica poderião vender as suas fazendas
pubbcamente, pagando os direitos que em Cadix
86 AIS NAES
§ :>9 -
Enipenbando-se as duas Coroas na determina
ção dos limites das possessões que ás mesmas to
carão. se expedio ao Provedor da Fazenda desta
Cidade, registado a 11. 71 do respectivo Livro de
Registo a Provisão do theor seguinte, para o paga
mento dos Empregados na noss a demarcação res
pectiva :
< I). José por Graea dc Deos, Rei de Portugal
« e dos Algarvcs, d aquem c d além, mar em Afri-
u ca. Senhor de Guiné &c. Faço saber avós
• Provedor da Fazenda Real do Rio de Janeiro,
«. que Eu fui servido ajustar e concluir com El-
« Rei Catholico hum Tratado de limites na Ame-
« rica para cessarem as disputas que entre os
« meus vassallos e os daquella Coroa semovião,
« ou se podoriáo mover nas intelligencias das li-
« nlias meridianas c imaginarias, e evitar as ques-
« toes entre esta Córte e a de Madrid, reduzindo
< os limites das duas Monarchias aos assignalado»
« no referido Tratado, com os nomes dos Rios,
» montes, e paizes, para que estas passagens
« denominadas sirvão de balisas, e que em ne-
1)0 RIO DE JANEIRO Js-
nlmm tempo sc possão confutulir, ncm dor
occasion a disputas, estipulando-se para a exe
cução do dito Tratado nomearem se Commis-
sarios e pessoas intclligentcs , para da parte do
hum a c outra Potência sc regularem os referi
dos limites, reduzindo-os á pratica, e ao ver
dadeiro conhecimento porcartas Geographicas;
e para este fim fui servido de nomear por meu
primeiro Commissario a Gomes freire de An
drade , ordenando-lhe qnc passe a Castilhos
pequenos, onde ha de principiar as conferen
cias com o 1.” Commissario da Côrle de Ma
drid, e dali poder expedir os Olliciaes de guer
ra , Astronomicos, Geographos, e Desenhado
res , que passão para este lim para essa Ame
rica na náo N. Senhora da Lampadoza, de
cujas pessoas, postos, c occupacòes vos cons
tará por outras ordens para o vencimento do»
seus soldos e ordenados; e alem destes ordeno
ao dito Gomes freire que se sirva dos mais
Olliciaes que achar com préstimo para me
servirem na referida expedição da demarcação,
cm razão do que IIouvc por hem determinar
no Decreto de i(i do corrente, que os referidos
Offieiaes que o mesmo Gomes freire oceupar
fóra dos seus empregos, lhes sejão pagos os
seus soldos, onde e como ordenar o dito Go
mes Freire , como também que sc satisfação as
despezas do sustento e conduccõcs, de todos os
AN'NAES
So'
r quo so omipnrom na (Vila riemarcaoao, cm
, quanto existirem nclla, c sòmentc alo chegarem
„ ;,o porlo on do sc houverem de embarcar para
, voltarem para Kuropa, on para ficarem cm ou-
,, n-o service na America. E quo com a him
„ (Pircia de Jiivar poderá ser empregado cm onto»
, ooverno, conforme as circunstancias e ordens
. envio ao mesmo Gomes Freire dc Andra-
50 lhes satisfação os sens soldos cm qnal-
, quer parte onde o empregar o dito Gomes
« (•'roiro. Do quo vos aviso, para que assim o
„ jouhaos entendido, ordenando-vo.s que na for-
„ nia referida cumprais iuviolavelmcnte csta mi-
, nil a Real Ordem, cm tudo o quo tocar a Cssa
Provedoria. Fl-Rei Nosso Senhor o mandou
, pvlns Conselheiros do seu Conselho Ultramarino
, .Raivo as-rignarios. hui/ Manoel a fez. cm Lisboa
i :ío ,lc .Setembro de 1701 , ecu o Conselheiro
„ Francisco Pereira da Gosta a fiz escrever. Ra-
. fuel Pires Gardiidio. Diogo Rangel dc Almeida
« Gastello Franco. »
S i°-
Pelo Tratado nssignado em Aladrid em 3 'dc
Junho de 17.30 Portugal renunciou 0 direito
que se persuadia ter ás Ilhas Piiilipinas , assim
por tratado , como pela eseriptnra de Sagarafa
de a a de Abril dc 1aap . cedendo a Ilcspanha a
Colonia do Sacramento da margem do Norte rio
1)0 r.IO DE JANEIRO. up
3lio <la Prata que llic ficou- dado pelo Tratado
do Utrecht do (j do Fevereiro do 171:”), bem cr>-
1110 a Aldca de S. Christovão , 0 terras adjacen
tes quc occupava entre os llios Geporé e Cissa,
que desaguão no dos Amazonas ; e Hespanha
renunciou o direito quc pelo Tratado dc Torde-
silhas sc llic dava ás terras possuídas peios Por-
luguezes na America do Sul ao Oriente da liidia
morediana , ajustado naquella , cedendo os l’or-
tuguezes as terras e povoações da margem Orien
tal do ltio Oraguel , desde o Rio Lugue para o
Norte , c AIdea de S. Roza , e quaesquor outras
estabelecidas pelos llespanhóes na margem Orien
tal do Rio (liiaporé; ficando o Rio da Prata per
tencente a llespauha , começaudo o dominio de
Portugal ua barra de Rastilhos. Prohibio-sc no
Artigo 19 todo o commercio c contrabando a hu
ma e outra Nação . e quc não podessem seus
vasallos entrar não levando passaporte, sob a pe
na de prisão e de sequestro, e quando fossem apa
nhados com alguma fazenda, fossem summaria-
dos e castigados. Naquelle artigo !\ foi mui espe-
eiíicamente reconhecidos por limites na divisão
quc respeitão o Brazil e a llespanha , o come
çar na costa do mar pelo regato de Castilho gran
de , c da fóz. delle a subir pelo cume dos montes
até a origem do Rio Negro , e dali até o R.io Ibi-
vé , proseguindo em diante a linha divisória pela
terra mais alta á fonte do rio mais proximo a dc-
T 0.M0 n i . 12
sembocar no, Rio P aran a, que marcaria o limite
q sua fonte p r in c ip i, e della pela terra mars
alia , buscando a origem do rio mais visinho que
fqsse desaguar no Paraguay , subindo pelo canal
principal , e deste até a Lagoa de Xaraes , c que
alguns Goographos a collocão no centro da Ame
rica Meridional , negando outros sem razão até a
barra do Jacurá : indo da sua boca lançar a mar-
gcm.do Sul do Rio Guapory, defronte do Rio Sa-
raré, ficando a navegação duquelle Jacurú dos par
ticulares. Defronte da fúz do Sararé seguia a divi
são pelo Rio Guaporé hum pouco abaixo da sua
reunião com o Mamoré,que atravessandoa Missão
de Moxos vai formar o Rio Madeira ,. servindo de
limite até a margem que fica quasi na mesma
distancia do Pará e boca do Mamoré , correndo
a linha divisória d’Qeste ao Rio Javary até dosem--
I bocar no Grão P ará, que servindo de limite até
ahpca mais Occidental do Rio Jupura, costeando
a subida desde o Rio ao Norte até encontrar o
alto da Cordilheira entro o Pará e o Qurinoca ,
prosegnindo pelo cume da Cordilheira com a cara
ap Oriente até o confim de ambas as monarchias.
Cedeu Respanha também por aquelle artigo
as, terras dos Sete Povos Tapes da liogoa Guara-
n y , c margem direita do Irag u ay , e Aldèas de
S, Christo,vão e S. Roza,
1>0 RIO DE JANEIEO. 9‘
§ 41-
Cam tudo este Tratado foi Annulladó, Serb Em
bargo de haverem reciprocanVentè empregada»
os Commissarios Astronomos c Geogruphos As
mais exnctas observações c exames nos pontos li
mitrophos, pelo Tratado de 12 de Fevereirode 1“6 \.
D. Pedro dc Sevalhos cm 20 de Fevercito
de 1777 entrou francamentò cm Santa CatbaHna,
fugindo vergonhosamente a iiossá Esquadra parA
o Rio de Janeiro , oude se tocon rebate rti snp-
posieão de scr inimiga, a qual se compiinha dai
íiáos Poderoso ( a Capitania), de 70 peeas, Cciili-
mandante o Brigadeiro l). João do Langra , e con
duzia o Tenente General do mar Marquez dc Casa
Teli, eo Capitão General de terra o Vice Réi de
Buenos Ayres D. Pedro Sevallios ; a náo Monarca
Almirante dc 70, Brigadeiro D. Pedro Truxi-
lho , levando o Chefe de Esquadra D. Adrião
Candron ; a náo S. José de 70 , Brigadeiro D.
Francisco Danzcz ; a náo S. Damaso dc 70 , Bri
gadeiro D. Francisco de Borja ; a náo S. Ihiago
(la America) de 70, Brigadeiro D. Antonio o
Sornó e Ferreira ; a náo Septahtrião de 6 \ , D.
Antonio 0 Sorno e Tuna , Commandante : bem
como das fragatas Venus de 5ò peças, Comman
dante D. Gabriel Guerra ; 0 Chavaqnin ou An-
dallus de ão , D. Benedicto de Lira ; Margarida de
a'6, Commandante D. ígriacio Duqiie ; dita The-
D. redro de Cadernás ; a Liebrc de 26 , D. Mi
guel de Macstre; Roma dc 16 , D. José Lastes-
so„; Ju piler de .6 , D. K iolào dc t i r a d a ; com
os parquebotes S. Marlhe de >4 , D. Antonio dc
Cordova ; Que,niso de . 4 , D- Sebastião Apodaca;
O/.opp dc 12 , D. André de Lhanos: alem de „
bombardeiras , 5 urcos, 7 chavecos , e 7 galeo
las, c fazia0 o numero dc 100 embarcações para
0 transporte da Infanleria; setenta da Cavallena.
vinte das mullas, trinta dos viveres , do carrega
mento de palha c cevada , quarenta c oito para a
polvora , dos pretevos de guerra setenta, hospi-
tacs oito, por todas 3 ',6. C ondu». a Esquadra
Õ4ã Officias, yG Guardas Marinhas, 5 18 artilhei
ros de brigada , tropa do mar 1,90o homens ,
marinheiros 8, i.'(8 , o Exercito de Infanleria mon
tava a . 9,531», além de 9',8 de Cavallaria , 800 de
Artilheria , c Üoo desertores, c por tudo a -,784
pruras. Bastou apresentar-se , que sc senhoreou
daqiiclle Porto e Cidade, entrando nolle alguns
navios e a guarnição que se julgou necessaria.
Eis a copia do termo celebrado para se capitular
com o inimigo. « Aos 28 dc Fevereiro de 1777
« no lugar da Praia de fóra do Cubatão , sendo
« convocados pelo Illm. e Excm. Sr. Antonio
« Carlos Furtado dc Mendonça , General Com-
« mandante do Departamento da Ilha dc Santa
, Catharina. — Sr. Coronel Governador Pedro
no sio nn ja neiro. ,y,
1 * * c .m m,i . . « gu r» c » : purg.n
t a » . 0 ,,,c ™ U .. ^ U » n * b o '» n » S «
:“: : r r r r = r f ::
nue responderão , que " d0 > P
. que « s » . « * w » “ em„ * ‘L ™
diencia e ia particular mente dmao , que P r
S 4 »-
Com ião faeil victoria, quo a fortuna unirá
mente deparou a Sevalhos, corrido da temp -
lade , que lhe não permit lio locar na Bahia, om <
o esporava o Governador Manoel da Gunha e
uo/.os , pelas participações da sua Corte , o qual
a S. Antonio da Barra falia votos pela salvacao
daquella Cidade, tomou S. Catharina , que foi
abandonada das nossas fareas de mar e terra, de
terminou de seguir a mesma fortuna com a con
quista do Bio Grande, navegando para ali com
o restante da sua Esquadra , a qual batida das
tempestades seguindo a Norte, fundeou em Mon
tevideo , onde desembarcou a tropa para dar-lhe
descanço e refresco , c ali preparar-se para as ul
teriores operações, que lhe ollerecia a vistada
Colonia, então soltando as vélas para aquelle
porto coin /)£> embai carões, fundeou na costa do
Sul fóra do tiro de canhão da Praça, e ali desem
barcou sem o menor risco, sua tropa , arlilheria
e munições, acampando-se nas praias com 8,000
soldados , que transportara e adquirira naquelle
pai/.. U Governador da Colonia Francisco José da-
lloclia, Coronel de Infantena, pelos avisos e re-
comincndaeões da sua Corte , de qtie a Esquadra'
inimiga vinha atacar hum dos pontos do Brazil,-
desveladamentu se deu aos trabalhos das fortifica
ções, para constituir a Praça em estado dc repellit'
no r.io nr, janeiro. 97
com gloria todao qualquer externa invasão.e tan
to mais sabendo pdas communicandos do Buenos
Ain'S ('Montevideo, seus movimentos e preparati
vos bellicos, que redamavão a sua vigilanda e pro
videndas para não ser surprehendido do inimigo,
fez por isso vehementes instancias para com o Aice
Bei do Brazil de ser opporlunamentc soccorrido,
mormente faltando-lhe a devida guarnição, estan
do cm penuria de mantimentos pelo bloqueio ri
goroso dos Hespanhóes, que não deixavão entrar
cousa alguma na Praça , prisionando os navios
que forão remettidos com mantimentos do lliode
Janeiro desprotegidos dos navios de guerra. P u m
cumulo da infelicidade puderão os inimigos to
mar a embarcação que expedira de aviso a Capi
tal com urgência . reclamando os soecorros de
manlimcntos, visto não ter a Praça meios de mu
niciar a tropa além do dia 20 de Maio, o que deu
oceasião de segurar o Commandantc Scvalhos a
sua presa , bem pesando a miseria e impossibili
dade da resistência , considerando 0 abandono e
desamparo da Praça e que estava reduzida sua
guarnição a 800 centos soldados , tendo além de
pouco mais de 100 paizanos , e quando pela pc-
ricia militare sumo patriotismo tossem capazes
dc debellar a tão superiores combatentes, não
podião permanecer naqnella infausta situaçao ,
definhados de fome e miseria ; naqnella desespe
rante situação se persuadiu o (iovernador (digno
TOMO III. 11
- A K S .«S
§ T'-
Muitas outras opprcssócs e violências soílrèrão
estes desgraçados, por quanto pagos os direitos,
se mandou intimar o interino Tenente Bei Gover
nador o seu exterminio na Cidade, para diversos
lugares da fronteira dos Indigenas barbaros, in
tentando formar com as famílias Povtoguez.es po
voações que íieassem expostas ás devastações e
correrias ordinarias dos selvagens, que lallavão
e destruião as lavouras, sem perdoarem ainda aos
que apanhavão. bin tão lastimosa e desesperante
situação, tentarão essas familias que preferião a
morte ao desterro, comprarem o fatal exterminio
ao Tenente Rei a duzentos e a trezentos pesos, já
env dinheiro, ja em alfaias, lie apenas crivei,
que por ordem daquelle Governo se apromptárão
na nova Praça de S. Mcoláo as carretas que deviuo
levar cada lnmia nove pessoas e seus trastes, e
que não sendo praticável, á sua custa se oliere-
ecrão os Porluguezcs pagar outras aos cainpono-
ANN AES
§ 43 .
tão Talai extremidade foi forçado o Gover-
• a pedir capitulação ao General Sevalhos,
d abusando do direito da força deteve ao
al que lhe fôra enviado, hum dia no seu
o , em quanto mandava adiantar.os aproxes
a Praça , reenviando-o de noite com a res-
, que depois de haver plantado os seus ata-
mtes do rompimento do fogo , publicaria as
s de El-Rei seu amo; e quando a Praca lhe
fogo, repclleria a força com as que tinha,
■sta artificiosa resposta foi adiantar as suas
pretendendo surprehenderas guardas avau-
, com duas columnas de seiscentos homens
etaguarda ; o que sendo sentido sc tocou a,
, e se deu da Praca huma descarga de ar-»
no m o nn JAxr.ir.o. f)!1
tlllieria, mas forão cbrigados ab mdonar as guar-
clas o avançadas, c suspender o fogo, no intuito
de alcançar condições menos duras, mas o inimi
go depois dc assestar as suas peças de bater, seis
morteiros c peças para balas roxas, mandou inti
mar a Praça de ordem dc seu Soberano, de que
fòru enviado por elie para castigar os insultos
praticados pelos Portuguezcs no Uio Grande,
nvadindo o Continente debaixo do goso da paz,
ordenando que se entregasse a Praça a discrição,
por isso que segundo o seu actual estado não se
íazia admissível a pedida capitulação. Dcsattendi-
das se tornarão as vehementes instandas do Go
vernador para com Sevalhos, que foi reduzido á
htiiniliação dolorosa de lhe entregar a Praça, da
mesma sorte que tizerão os de S. Catbarina , e
suppos to proinettesse usar da victoria com toda a
moderação , dando transporte aos OITiciues para a
sua Capital, ficando o povo na fruição dc seus
liens.
§ 4 Í-
§ -Í6-
Quem poderá conter as lagrimas a vista desta
relação veridica de taes inacreditáveis factos, que
caracterisão a barbaridade dos costumes, c irreli
gião daquelles oppressores, fazendo conduzir tan
tas lamilias desgraçadas, corridas de seus lares já
Irira l.iijao. para onde furão remessadas mais de
trinta lamilias. jn para Areio, Arreufes, Yaradei-
ro. Pergaminho, e outros lugares sem a menor
assistência do necessário para a conservação da
vida. Deu Sevalhos ordem aos Commandantes
daquelles districtos para lhes fazer repartir terras
para edificação e plantação, cominando aos ex
portados a pena dc serem enviados quando se não
prestassem a formar seu estabelecimento, para
mais remotos lugares. 0 Commandante de
rojto ui. i/j
ANNAES
loG
I’ercamini 10 os obrigou a fazer adobes para os
ranvos. succedeu passados varios mezes como se
vissem sem subsistência , sc passarão varios para
Buenos Ayres, já com licenças dos respectivos
Commandantes, e já sem cilas, o que chegando
ao conhecimento de Sevalhos os ícz prender, e
envia-los aos seus primeiros destinos, c os prisio
neiros de S. Calharina c Colonia apanhados nas
embarcações forao mandados ]*ara Mendonça c
Cordova, que nesta Cidade habitarão por algum
tempo no Collegio dos ex-.lcsuilas, c assistidos
com racão de carne, e depois lançados lóra.
§ '17-
Incalculáveis males solVròrão os Portuguczcs pela
evacuarão sem a menor resistência daqucllas im
portantes Praças de S. Calharina e Colonia, fican
do sem castigo o Vice liei, e os Commandantes
da Fsquadra que vergonhosamente desamparárao
os Paizcs que devião defender, e o mais he ate
furão absolvidos pelo Conselho Supremo Militar
os Governadores de S. Calharina e Colonia pela
Sentença cuja copia be a seguinte :
« Coníirmàoa Sentença na parte que absolveu
aos rcos Fernando da Gama Lobo Coelho, Coro
nel do Regimento da Ilha de S. Calharina; Ma
noel Rimes Ramalho, Tenente Coronel; Manoel
Godinho de Mira, Sargento mór do mesmo Regi
mento. o Capitão Miguel Gonçalves Leão, Gover-
DO RIO DF. JANEIRO, 10
nador quo foi da Fortaleza da Harm do Sul, c
Simão Rodrigues , Governador quo foi da Forta
leza da I’onta Grossa ; com declararão que por
haverem os primeiros Ires dado as mais evidentes
provas de constância e valor para dcleza da Ilha.
conservando-se nos postos que se Fies encarre
garão, até receberem ordem de retirada, execu
tando a mais trabalhosa, conduzindo a braços a
artilheria e munições (sem intervirem nos Con
selhos, nos quaes se resolveu a evacuarão da
mesma Ilha), e aos graves damnos pie tem pa
decido em tão dilatada prisão em sua honra e
hens (e que lhe não satisfaz huma simples absol
vição), os rccomniendão a S. àlagestade para os
indemnisar, melhorando-os de postos, como me
rece o bem que tem servido : e a mesma recom-
mendação fazem a respeito dos herdeiros do Ca
pitão Governador Miguel Gonçalves Leão, falle-
cido na prisão , para se altender á sem razão com
que o íizerão rco no processo, sendo na realida
de prisioneiro de guerra , e o unieo que o foi em
actual serviço do listado, cm prejuízo dos inimi
gos; ficando illeza a memória do Capitão Gover
nador Simão Rodrigues também (allecido na
prisão, para os herdeiros poderem requerer a
satisfação dos seus serviços.
« llcvogão porém a mesma Sentença, em quan
to condemna aos mais réos declarados nella. Ao
General Antonio Carlos Furtado de Mendonça ,
io S ANXAES
§ 4 ;-
Incalculáveis males sotfrèrão osPortuguezespela
evacuação sem a menor resistência daquellas im
portantes Praças de S. Calharina e Colonia, fican
do sem castigo o Vice Rei, e os Commandantes
da Esquadra que vergonhosamente desampararão
os Paizes que devião defender, e o mais lie até
forão absolvidos pelo Conselho Supremo Militar
os Governadores de S. Catharina e Colonia pela
Sentença cuja copia he a seguinte :
« Confirmào a Sentença na parte que absolveu
aos réos Fernando da Gama Lobo Coelho, Coro
nel do Regimento da Ilha de S. Catharina; Ma
noel Rimos Ramalho, Tenente Coronel; Manoel
Godinho de Mira, Sargento mór do mesmo Regi
mento, o Capitão Miguel Gonçalves Leão, Gover-
DO RIO DE JANEIRO, 107
nador que foi da Fortaleza da Barra do S u l, e
Siinão Rodrigues , Governador que foi da Forta
leza da Ponta Grossa ; com declaração que por
haverem os primeiros tres dado as mais evidentes
provas de constância e valor para defcza da Ilha,
conscrvando-se nos postos que se lhes encarre
garão, até receberem ordem de retirada, execu
tando a mais trabalhosa, conduzindo a braços a
artilheria e munições (sem intervirem nos Con
selhos, nos quaes se resolveu a evacuação da
mesma Ilh a), c aos graves damnos que tem pa
decido cm tão dilatada prisão em sua honra c
bens (e que lhe não satisfaz huma simples absol
vição) , os recommendão a S. Magestade para os
indemnisar, melhorando-os de postos, como me
rece o bem que tem servido : e a mesma recom-
mendação fazem a respeito dos herdeiros do Ca
pitão Governador Miguel Gonçalves Leão, fallc-
cido na prisão, para se attender á sem razão com
que o fizerão réo no processo, sendo na realida
de prisioneiro de guerra, e o único que o foi em
actual serviço do Estado, cm prejuízo dos inimi
gos ; ficando illeza a memoria do Capitão Gover
nador Simão Rodrigues também falleeido na
prisão, para os herdeiros poderem requerer a
satisfação dos seus serviços.
« Revogão porém a mesma Sentença, em quan
to condemna aos mais réos declarados nella. Ao
General Antonio Carlos Furtado de Mendonça ,
>4 “
108 ANN AES
§ 48-
m e n te o d o R e g im e n to d e P e r n a m b u c o e s td in t e i r a
m e n te i n c a p a z , p o is o r d e n a n d o - s e q u e d e ss e r e la ç ã o
d e g e n te q u e p o d ia v i r d f o r m a n o d ia d o s a n n o s d e
S u a M a g e s l a d e , n ã o p ô d e p o r m a is a r m a s p r o m p t a s
p a r a f o g o q u e d u z e n ta s e c in c o e n ta . T o m b e m rec e
b i a c a r ta d e V . E x . d e 10 d o m e s m o m e z , em q u e
V . E x . m e d i z t e r r e c e b id o a s m in h a s c a r ta s d e 2j
d e A b r i l , e q u e lh e n ã o f o i p o s s ív e l r e s p o n d e r a e lla s
( q u a n ta s n ã o liv e r ã o o u tr a r e s p o s ta m a s d o q u e e s ta
só ). E s p e r o q u e V . E x . m e r e s p o n d a , p o is a s p o s i
t i v a s o r d e n s d e V . E x . s e m p r e e u d e s e jo , p o r q u e s ã o
a s v e r d a d e ir a s in s tr u c to r s q u e d e v o s e g u ir .
Eis aqui como 0 Supplicante mudou o tom de
liberdade com que escrevia antes, para hum estilo
quepouco distava de ser vil,e puramente precario.
Se o Supplicante houvesse de fazer todas as refle
xões semelhantes do que passou, esta representa
ção iria ao infinito, c transcreve-sc só este §.
ainda que extenso, porque elle dá ao mesmo tempo
hum conhecimento do estado, em que se achava
128 ANNAES
ÍW
BO RIO DE JANEIRO. 1r -
firme hum posto vantajoso, aonde possão sir ;n-
tar-se com maior segurança do que tenhão na
Ilha, e he também certo que não deixaráó na Ilha
casa nenhuma que possa ser capaz dos Ilespa-
nhóes se aproveitarem, para supprirem a sua
necessidade, ou se repararem dos estragos que ti
verem recebido. 16. Nestas circunstancias, de que
fica servindo aquelle Porto c aquella Ilha na oc-
casião presente aos Hespanhóes, he sem duvida,
que não lhe podendo ella servir de cousa alguma,
elles a desempararáõ, e iráõ buscar o soccorro aos
seus Portos no Rio da Prata, se estes se acharem
tomados, tendo já a nossa Esquadra depois de
feita aquella acção saindo para fúra do Itio, he
sem duvida que não tendo os Hespanhóes outros
soccorros mais do que os que trazem , tendo en
contrado mais resistência e embaraços do que
suppnnhão , tendo gasto mais tempo do que ima-
ginavao, que elles se veráõ reduzidos á extrema
necessidade, c que será infullivel a sua destruição,
assim como o alcançarmos sobre elles a maior
gloria. Porém se este plano não fôr bem combi
nado, se V. S., o General do Sul, e o Governador
da Colonia não obrarem de commum acordo ao
mesmo tempo com a maior vivacidade, não só não
conseguiremos as felicidades que eu supponho
quasi certas, se praticarem debaixo dos mais sin
ceros sentimentos; mas pelo contrario virá a ser
a nossa total ruina. 17. Lembra-me finalmente,
IOMO III. 23
1- 8 ANNAES
CAPITULO II.
s >•
s
Depois delle emprehendeu Antonio Dias Adorno
a mesma viagem ; e de antigos manuscritos cons
ta que aportando a Caravellas, topara saphi-
ras e esmeraldas e varias pedras metallicas , e se
persuadira que cilas continhão prata ou ouro ;
atravessou os terrenos de diversas povoações dos
Tupins e Tnpinambás ao Norte, e voltou á Bahia
a dar conta ao Governador Geral. Confirmarão
as suas relações os exames de Tourinho, e se sou
be alem disto que a Leste da montanha do cristal
haviao esmeraldas, e ao Oeste saphiras. As amos
tras que apresentou foráo remettidas a El-Rei D.
Sebastião. Forão depois aquelles trabalhosos exa-
ines proseguidos por Diogo Martins Cão, por
aYitonomasia o m a t a d o r d e n e g r o , e seguido por
Marcos de Azevedo Coutinho. Apparecêrão tam
bém durante o serviço daquelle Governador Ge
ral bellas amostras de minas de cobre, entre a*
Serras da Jacobina, e seus trabalhos forão at*
agora desprezados , sendo a mina de huma exten
são, e riqueza prodigiosa.
§ 3.
Bober to Dias, descendente deCaramurti, des-
cobno naquella mesma Serra da Jacobina, hnnía
DO RIO DE JANEIRO. i§ l
§ 3.
§ 4.
Supposto que as calamidades da guerra contra
a Coroa enchião de temor e espanto aos habitan
tes , que esperavão todos os dias pelos invasores,
com tudo a Camara fazia esforços superiores ás
suas circunstancias , em hum tempo, em que até
a esterilidade dos mantimentos augmentava a som-
ma dos sofrimentos publicos , ella deu em
tão diflkels tempos os mais heroicos testemunhos
da sua generosidade, amor, e adhesáo á causa
publica , acordando com os bons do povo, man
dar-se vir do Reino /joo ârCabuzes , íoo mos
quetes, para se armarem os habitantes pobres
pela defensa da Cidade (i) ; ordenou a continua
ção dos tributos, accumulou a creação de ou
tros para conservação da Armada , pela imposi
ção de 8o réis por arroba no assuear branéo (a) ,
e 4o rs. nos mascavados , e panellas de meis; 2
reaes em cada arroba de tabaco, 5o reis em cada
couro de boi oU vaca , acordando ser esta renda
applicada para a sustentação da Armada , e de 12
galeões , que por ordem. Regia devião cruzaf na
Gosta do Brazil, para defensão dos povos, e pro
tecção do commercio, julgou conveniente entrar
na mesma applicação o producto dos bens con-12
§ 5.
S "■
Lamentava igualmente que os Governadores
pretendessem encher numero de praças , mas não
de homens honestos, disciplinados, eamantes da
sua preciosa occupação e profissão. Por hum tão
justo motivo levou â Tical Presença hum a repre
sentação sobre a indisciplina dos soldados, que
foi altendida pela resolução da Carta Regia de 1.4
de Junho de 1647 (1)» ordenando que se guar- 1
§ 9-
S 10-
Lida com toda a reflexão a patriotica Nota da
Governador, responderão a ellaos Ofliciaes da Ca
mara , pela maneira seguinte (1):
« Deferindo a esta proposta do Sr. Governa-
« d o r; que he justa, e como justificada em tudo
• o que nella nos persuade : assentamos primei-
* ram ente, que esta se traslade nos livros desta
« Camara; em segundo-lugar, que em execução
« da dita proposta, assentamos que s e faça o*1
' ’ —r ■ V -T
(1) Dito Livro e Archivo pag, 6,
1>0 TtJO BE JANEIRO. lç p
S '*■
$ >3-
§ »4 .
Prevenida a Camara com tão authentico teste
munho do merecimento do Governador dado
pelo mesmo Soberano, c que o julgára digno'
descendente dos seus maiores 0 da sua gloria,
recebeu pela mais insigne mercê aquella Real
recOnimendação, presüadido que o seu Soberano
acabava de escolher hum Chefe digno de os con
duzir a gloriosa tarefa de desempenhar seus arduos
deveres, pela gloria de imitar os feitos , e o he
roísmo com que seus maiores havião procedido
a bem do Real Serviço, reconhecendo no Gover
nador as mais louváveis qualidades , além de ser
infatigável em todos os ramos da sua Adminis
tração para Os conduzir á verdadeira gloria de
bem servir a Patria e a Monarchia ' pela estrada
das virdudes ; e elle se manifestou aos seus sub
ditos , como 0 aslrj bemfazejo, que disponían-
do no horisonte, illuminava a todo o mundo,
DO r.IO D E 'JANEIRO. '97
assim ellc, assentado sobre a cadeira da justiça,
na paz e na guerra, gerou no coração dos setts
subditos, virtudes dignas de serem transmittidas
a posteridade , além de trazer-lhes todo o genero
de gozos, e prosperidade. Felizes os povos, quando
os seus Chefes reúnem á nobreza do nascimento,
as virtudes moraes e politicas , adquiridas pela
sabedoria , e Religião, pois que só por via delias
se engrandecem os Estados , e se affirma etn ba
ses inabalaveisa sua prosperidade. Eiles se cons
tituem então Juizes e arbitros da pnblica felici
dade , pois na sabedoria , e na Justiça „ segundo
a sentença do livro do Ecclesiastico—erudimini
qui judicatis terram — formão e perpetuáo as ge
rações e a prosperidade Nacional. Então quão
doce não he a obrigação que impõe a lei , quão
magestosa e bella se mostra a autoridade dos Che
fes , conduzindo òs seus sçfnelhantes para a feli
cidade , estando sua alma tranquilla, e esclareci
das nas Leis Divinas e Hnmanas, só capazes de
dar vida aos povos , e por suas fadigas uteis dei-
■Xáo monumentes que o bafo da lisonja não pódo
nodoar , c a saudade do seu nome se transmitte
até as mais remotas gerações , o reconheciménto
publico lhe levanta templos e estatuas fabricadas
com pedra incorruptivel daquellc Juízo da pos
teridade, que hc sempre inflexível, e veridico.
AXNAE6
§ 15 -
§ . 6.
He inexprimível com que enthusiasmo foi ou
vida ler aquella Carta Regia, excitando o ardor
patriotico com a velocidade electrica, tocou a
sensibilidade profunda da Camara e povo desta
Cidade, que deu sempre indcleveis testemunhos
de amor á causa publi.ea : buscando ao Governa
dor (i) lhe pedio q«e considerasse o que convi-
(i) DUo Livio pag. 70.
200 •ANNAES
nha, e dispuzesse o meio mais proprio de $e rea-
lisarein as obras das fortificações, pois que todo
o povo de bom grado, e affecto de coração, esta-
vão dispostos acudirem pelo seu dever, no serviço
do seu Monarcha ; não obstante a miseria geral
a que todas as classes estavão reduzidas pela falta
decammercio, pois que a Companhia creada para
remediar os males soffndos, os havia accrescenta-
d o , reduzindo o povo ã mais definhada e esquá
lida pobreza, que om tão triste situação geralmen,
te todos tinhão os olhos fitos na sabedoria do seu
Governo, para empregar os lenitivos ás suas pro
longadas çalamidades, c que por fim lhe segura
va , que o voto publico e geral era de se prestarem
com as suas pessoas, e desfalcados bens, acudir
a tudo que lhes mandasse no serviço de El-Rei,
supposto que no vexame e oppressão actual lhes
parccião inúteis aos seus mais nobres desejos e
em prova da summa miseria do povo, aponta’va
que querendo a Camara nos passados tempos í ,)
acalmar o desassocegó publico, quando em a
de Setembro de 1649 acordara fixar o preco dos
generos que a avareza da Companhia tinha ele
vado a huma altura disproporcionada e arbitra
ria, estabelecendo e ordenando que a pipa de vi
nho de sessenta canadas, alto e maio, só valesse
'° -> o o reis, ou 6 66réis por canada, e que em
DO RIO DE JANEIRO, 201
razão da falta de troco da medida, corresse a 680;
c por barril de azeite de quinze canadas 990 réis,
que sahia a 1066 réis por canada, para correr a
1080 réis, pela difliculdade do troco ; e o baca-
Iháo a 5o réis a libra; e que tivesse o pão mimoso
seis onças de peso, e o de toda a farinha oito,
porém que fôra tão grande a escassez daquelles
generos, que nem por preços altíssimos se encon-
travão ; que em fim era a todos constante, que o
povo todo vivia esmagado debaixo do peso de
tanta miseria, e tão desalentado, que não se po
dia levantar para sustentar o brio hereditario,
sua generosidade, amor, e lealdade com que sem
pre anhelárão a gloria, o esplendor, respeito, e
consideração das armas de seu Principe e Senhor *
S 18.
Ainda que pesassem todos aquelles males sobre
os habitantes, elles se ostentavão superiores a
todas as suas desgraças e infortúnios, mostrando
0 mais exaltado patriotismo e zelo pela defensão
da Cidade; e o Governador depois de conferir
com a Camara os meios de accrescentar alnfante-
ria, lhes dirigio este Officio (1):
« Presentes sao a Vossas Mercês as razões que
* hontem conferimos, tocantes ao serviço de Sua
1 Magestade, que Deos Guarde, sobre a conserva-
§ ' 9-
Aquelle Officio produzio todos os saudaveis et-
feitos, mais do que se podia esperar em tão diffi-
ceis circunstancias ;ía experientia tem confirmado
com quanta sabedoria as antigas instituições da
Monarchia creárão as Camaras, parecendo reunir
todas as sortes de Governo com o Presidente que
representa 0 Soberano, e que he a alma daquelle
corpo politico, o mais proprio de exaltar o enthu-
siasmo publico, composto para assim dizer , do
Soberano representado pelo Presidente Magistrado
territorial ou Real T ou pelo Governador Militar e
Politico, dos grandes e bons do povo, e do povo
mesmo que aquella Corporação representa no Juiz
delle e seus misteres, para tomarem parte nos in
teresses da Municipalidade e da Monarchia: aquel>-
le Governo (1) sendo tão- louvável, por conspira
ti) N am cunctas N a tio n e s-e t u rbes-populeis a u t p rio re s,
au singuli r e g u n t, d e le c ta ex b y e t C o n stitu ta republics^'
fo r m a , L au d are faciliu s, q p am e v e u ir e , v e f si e v e n it, band,
d iu rn a esse p o te st- » m ix q .
2oG ANNAIS
§ 20 .
§ 21.
*
no R I O DE J A N E I R O . 2 13
§ 2',.
( i ) Dito L i v r o c i ta d o p a g . H2.
2i4 ANNAES
§ 2 5.
§ 27.
« Para a restauração de Pernambuco (conti-
« nuárão a dizer os Officiaes da Camara no seu
“ discurso) governando Salvador Corrêa de Sá e
* Benavides, não faltarão de mandar á Bahia,
« aonde naquelle tempo estava 0 Conde da Torre,
« tres companhias levantadas nesta Praça, que
« constava pela maior parte de naturaes seus, que
« quasi todos lá morrerão, além de grandes soc-
« corros de mantimentos que o povo por dona-
DO RIO DE JANEIRO. 2 ll
§ 28.
§ 29-
« Que á vista disto, sendo tão certos como jus
tificados osseus queixumes, estavào de unani
me acordo resolvidos de mandar ante Sua Ma
ges tade hum Cidadão, a quem consignavão
para o seu parsadio pelo subsidio, hum mil
cruzados cada anno , porque sc fallasscm aos
moradores na actual crise cm outra contribui
ção ou subscriprão, por mais debil e diminuta
que fosse, seria cxcilar-lhcs clamores c lamen
tações , c hum grito geral de dôr resoaria. A
vista do que supplicavão a clle Governador,
permittisse por dous annos em que necessaria
mente devia residir na Côrtc a pessoa elegida ,
a fim de levar ante Sua Magcstadc a represen
tação que o povo e Camara tinha dc lhe fazer
presente, que sc tirasse aquclles dous mil cru
zados repartidos do rendimento do subsidio dos
vinhos dos primeiros tres annos proximos, que
para aquellc fim pedirão emprestados, para
acudirem áquelles objectos dc que necessitasse
o Governo de presente, para as despçzas daqpel-
la imposição.
28**
ANN AES-
220
§ 3o-
i n ic n ta d o p a ra se p o d e r a d m in is tr a r a o s e n f e i-
« m o s , m u it o m a l c in d e c e n t c m e n t c a g a s a lh a d o ,
, s u p p r in d o a p ie d a d e d e Y . S . e sta f a lt a , p o r a
a Ig r e ja e m q u e fo i c o llo c a d o e p o s to S a c r a r io se r
„ m a l fe ix a d a e s e g u r a , c o m lh e m a n d a r fazer
« s e n t in e lla p o r s o ld a d o s , q u e h u m M in istro ch a -
, m o u C e n t u r i ó e s ; e s e m q u e o s m o r a d o r e s d e sta
« ter r a , co n h ecen d o -sc o b r ig a d o s a a c u d ir e m a
« e s s e s d e s a m p a r o s , o p o d e s s e m fa zer p o r se a ch a -
« rem d e t o d o fa lto s d e a le n t o e d e su b s ta n c ia .
„ £ o p e io r h e o q u e n ó s d e v e m o s m u it o te m e r
• e c h o r a r , q u a n d o e s te a n n o so h o u v e r d e tra-
« ta r d o s a r r e n d a m e n to s d o s d iz im o s c s u b s íd io s ,
« n o s h a Y . S . n e c e s s a r ia m e n te c o m o P a i q u e lie
« d a I n f a n t e r ia , d c a ju d a r a se n tir ta n ta p o b reza
« e r u i n a , s e n d o fa cil d e a ju iz a r e c o n h e c e r a c a u -
„ sa d e lia , q u a l a d a p o u c a lib e r d a d e d c c o m -
« m e r c io , e o s m o d o s e e s ta n c o s d e lle . A Sua
« M a g e s ta d e , q u e D e o s G u a r d e , s e t e m p r o p o s -
« to d e sta G a m a ra a s s e m r a zõ es c o m q u e a C o m -
« p a n h ia t e m u s a d o c o m e s ta terra , e d o s m ã o s
« p r o c e d im e n to s d e lia c o m o s v is in h o s , sen d o
« e s te h u m d o s q u a tr o g e n e r o s d e q u e m a is n e -
. c e s s it a m o s ; .m a s c o m o a C o m p a n h ia te m p o d e r
« e r i q u e z a , n ã o d e v e m d e c h e g a r o s n o ss o s c la -
. m o r e s á s u a m ã o , e s e c h e g ã o , n a o d e v e se r
« se r v id o d e d a r - n o s c r e d ito . V. S . c o m o q u e m
. h e , e com o t e s t e m u n h a tã o a c r e d it a d a , e d e
« v is ta , nos fa ç a m e r c ê r e p r e s e n ta r a S u a M ages-
22« ANNAES
' § õi-
Aquellc tão digno Governador consternado da
situação actual dos seus governados , respondeu
assim (i) :
* Vi a carta que Vossas Mercês me mandarão,
« e nella ha razões tão justificadas , como dig-
» nas de serem sentidas : as causas delia de que
« o tempo só tem tido culpa, porque a mudança
“ dos seus ellêitos está a ruina , ou melhora que
« temos visto em Monarchias m ui dilatadas : mas
>< não podem YV. Mercês deixar de terem huma**
« grande constância nesta , que experimentão ,
‘ para esperar o remedio, pois tem a Real Gran-
§ 3a-
lis t a n d o a p a r tir o C id a d ã o p a r a a C o r te , r e
c e b e u o G o v e r n a d o r h u m a C a r ta R e g ia d a t a d a e m
« p o s s ib ilid a d e p a r a is s o . E sp ero q u e c o m tr a b a -
• lh o e com a in d u s tr ia , e s o b r e t u d o c o m o
« v o s s o v a lo r , e c o m t o d o s o s v a s s a llo s q u e a h i
• t e n h o , se o r d e n e t u d o d e m a n e ir a , q u e s e a h i
« f o r e m o s in im ig o s , v e n h á o d e s e n g a n a d o s , p a r a
« n o s n ã o t o r n a r a in q u ie ta r . E se e m p a r tic u la r
« h o u v e r a lg u m a v is o m a is q u e o q u e e m g e r a l
« v o s m a n d o fa zer p o r e s ta C a r ta , se v o s a v isa r á
« c o m t o d a b r e v id a d e .— E s c r ip ta e m A lc a n t a r a ,
• a 2 5 d e J u n h o d e 1 6 5 / j . — R e i. »
§ 53.
A v is t a d e t ã o e m in e n t e p e r ig o o G o v e r n a d o r
d ir ig io á C a m a r a h u m O flic io , c o n t e n d o e x p r e s -
s õ e s a c r im o n io s a s c o n t r a as fa lta s a t tr ib u id a s á
C a m a r a : e is a s u a in te g r a ( i ) :
X'
22& ANN AES
« T o r n o a le m b r a r a Y o s sa s M e r c ê s a d e fe n s a
a d e s ta P r a ç a , e d e q u ê h e n e c e s s a r io d in h e ir o
« p a r a o g a s to d e lla , p o r q u e s e e m Y o s sa s M c r -
. c ê s h o u v e r fa lta , n ã o h a ja e m m im d e s c u id o ,
« p o is á c o n t a d e Y o s sa s m e r c ê s c o m o C a b e ç a ,
« e s tá o la n ç a m e n t o q u e e m g e r a l se h a d e f a z e r ,
« p o r n ã o h a v e r n a F a z e n d a R e a l d e q u e se tir e
0 m a is q u e a p e n a s o s s o c c o r r o s d o s s o ld a d o s ,
« o q u e a V o s sa s M e r c ê s h e t u d o tã o p r e s e n te ,
« q u e m e n ã o f ic a lu g a r m a is q u e d e lh o a p o n -
« ta r , para q u e d ê e m o r e m e d io d ’o n d e h a
« d e s a h ir o d a d e f e n s a .— D e o s G u a r d e a V o ssa s
« M e r c ê s. R io d e J a n e ir o , 27 d e .N o v e m b r o d e
« i 6 5 4 - — D - L u iz d e A lm e id a . »
§ 34.
S lir p r e n d id o s o s O ífic ia e s d a G a m a ra p e la s d e s
m e r e c id a s in c r e p a ç õ c s d a q u e lle O ffic io , o n d e se
d e s a b o n a v ã o , n ã o s ò o s se r v iç o s d e lia a té e n t ã o
r e c o n h e c id o s , n ã o o b s ta n te im p o s s ib ilid a d e de
m e io s q u e a m ise r ia p u b lic a o c c a s io n á r a , sc fize-
rã o p r o d ig io s o s e s fo r ç o s p e lo R e a l S e r v iç o , e c o m
a m a io r p o lític a e d e lic a d e z a , r e s p o n d ê r a o o s e
g u in te a o G o v e r n a d o r ( 1 ) :
« S e m p r e h u m e x e m p lo c u id a d o s o se r v io d e
« d is p e r t a r o s a n im o s m a is r e m is s o s , e d a r c a -
* lo r á m a is fr ia e d e s c u id a d a a c ç ã o . C o n f e s s a -
*
23o ANNAES
’ § " 5-
Á
k3 2 annaes
, que o povo queria inadvertidamente o fosse :
« na qual acção bem se mostra, que não he mos-
. trarmo nos pouco zelosos no serviço de S. M. ,
a que Deos Guarde, para impedir aos mandados
« e Ordens de V. S., senão só querer darsatisfa-
„ cão ao povo , antes para que á Y. S. seja no-
« torio , e por esta somente a S. M. e a todos
« conste do animo , cuidado , zelo , e fidelidade
. com que esta Gamara deseja servir ao dito be-
, „hor , estamos prestes para as que se offcrecer
„ do seu serviço darmos a execução de tudo , o
„ qUC y. S. nos ordena , tocante ao ministerio
das fortificações, que na sua nos diz com ef-
feito faz , não só contribuindo com o que for
possível , e fazendo da nossa parte toda a dili-
. gencias a que estamos obrigados, como Cabe-
« ças deste povo , mais ainda no particular de
« cada hum de nós, com a pessoa, com afazen-
, da, e com a ajuda, como lcaes Yassallos de
, S. M. e obedientes subditos de Y. S.—Rio de
« Janeiro , em Camara, ao ultimo de Novembro
, —Marcos de Azeredo Coutinho.—Aleixo
, Manoel.—João Fagundes Paris.—Gaspar Lopes
« de Figueiredo. »
§ 35.
A
,, ANN AES
v e n to s f a v o r á v e is , c o m m a n d a d o s p e la c o r a g e m e
l i » . i, * «o— • 7 o
L I , » » , c~,O «o « * * • * * * . “ '
l o/, a té o R io T a g u a h y , c o m h u m a c o s ta n n e n s a
q u c far. im p r a tic á v e l im p e d ir o p a s s o a te a Ilh a
G r a n d e , p o r o n d e e n tr a n d o p o d e se r a G .d a d c t o
m a d a p e lo s in im ig o s , d ir ig in d o - s e a e lla p e la s e s
tr a d a s a b e r ta s a o c o m m e r c io in te r io r .
§ 36. •
E m razão d e v a rio s e x e m p lo s á m u i s a b ia s e s -
e r ip t o r e s , p a r e c e u t a e s a r m a m e n t o s d e F o r ta le
z a s in ú t e i s , e a té p r e j u d ic ia e s , n ã o s e n d o s u s t e n
t a d o s p o r liu m a s u p e r io r id a d e , o u ig u a ld a d e d e
M a r in h a , s e m a q u a l sã o m u i o n e r o s o s d u r a n t e
a p a z , e in ú t e is n o t e m p o d a g u e r r a , e p e r ig o s o s
p e la fa c ilid a d e q u e d ã o a o in im ig o a p o d e r a n d o - s e
d e l i a s , c o m fa c ilid a d e p e r m a n e c e r n o p a iz , r e n
d e n d o a s F o r ta le z a s p o r b l o q u e i o , o u e s c a la n d o - a s ,
c t o m a n d o - a s p o r a s s a lto , a l t r a h in d o a o in te r io r
d o P a iz o s d e s a s tr e s d a g u e r r a : a C id a d e a b e r ta
„ „ e n ã o t e m M a r in h a s o f f r e m e n o s o b l o q u e i o ,
e o b o m b a rd ea m en to , i n c e n d i o , e d e s t r u iç ã o ,
c o m o p a d e c e m o s q u c l ê e m fo r tif ic a ç õ e s n ã o s u s
t e n ta d a s p e la f o r ç a n a v a l , p a r a d e s t r u ir a d o im -
m icro , o q u a l n ã o t e n d o o n d e r e p a r a r - s e , e m h u m
p a b . lo n g ín q u o o n d e l h e fa ltã o o s v iv e r e s , e o s
d e m a is s o c c o r r o s , p a r a p r o s e g u ir e m n o s s e u s .in-
DO RIO DE JANEIRO. 205
§ 37-
Como pôde com hum punhado de bravos o
Brazil expulsar da Bahia, Pernambuco, e de todo
o Brazil, os Batavos tão aguerridos e Senhores do
paiz? Porque a sua força e poder consistia na
virtude, patriotismo, generosidade , e fidelidade
do povo. quando não tinha nem tropa regimen-
tada , nem grandes Fortalezas e Arsenaes, foi que
sustentou durante a sua desgraça, forças navaes
para defeza do seu commercio, quando os Chefes
do Governo por todas as maneiras exaltando o
enlhusiasmo pela causa do Soberano, e conserva
ção da Beligião Christâ de seu paiz, servirão de
mais fortes baluartes com que fizerão prodígios,
recuperàráo a sua liberdade , desconcertarão ,
e destruirão os planos dos seus inimigos e derão
ao sen Soberano a firmeza, esplendor, e gloria do
seu Trono.
§ 38.
Acontecendo não ser destinada a Armada ini
miga para o Bio de Janeiro, então a Camara fez
partir o seu Concidadão à Corte com a seguinte
carta para El-Bei (1) :
« Senhor. Somos forçados de vèr quam irre-
< mediavelmente se acabará esta Praça, se me-
. lhor senão pôde dizer que está acabada, para
§ 3g.
§ 4o.
Tanta era a consideração que gozavão os Jesuí
tas , e o seu credito no Governo, que a Camara
sollicitou huma attestação dos mesmos, para jus
tificação dos motivos que a determinavâo enviar
i Côrte ao seu Procurador, para ser bem recebi
do no Ministerio, e acreditada a Justiça com que
representava ao Soberano ( i ) , e o Reitor do Col
legio se prestou, abonando a justa causa e capa
cidade do Procurador.
S 4>
§ 4 »-
S 4 >-
§ 43.
i A5*
§ 44-
8 46.
§ 47-
Os antepassados não provirão a que ponto seria
desgraçado o brazil, seguindo o exemplo fatal dos
Ilespanhóes com a população de negros, arranca
dos tão barbara c deshumanamente da Africa, seu
pai/, natal, por força e violência de hum commer
cio tão immoral c irreligioso, da venda de seus
semelhantes, condemnados a viverem sempre fòra
da sua Patria em sempiterna escravidão, sem es
perança de melhorar ao menos a sorte da sua
posteridade. Foi, não obstante sua horribilidade
e desconveniencia, aquelle trafico deshumano,
preferido e sustentado como util á prosperidade
rural e manufactureira do Brazil, porque dava
hum grande reddito ao Estado, nos direitos sobre
que forâo considerados nas Alfândegas e portagem
das Minas. 0 Brazil muito perdeu de industria,
riqueza, e moralidade, com a introducção tão
perniciosa de taes braços forçados para o trabalho
das suas lavouras, e mais industrias relativas,
DO RIO DE JANEIRO. 2 ^
TOMO III. 33
a 58 ANNAES
S 48.
§ 49 -
§ 5o.
§ 5o.
§52.
§ 54-
§ 55.
§ 56.
CAPITULO I II .
§ £
§ 4-
§5.
Proseguio na sua exposição dizendo que a For
taleza de S. João sendo a principal, estava m ui
» 0 RIO DE JANEIRO.
~ n
mm tratada dos tempos, cahida a varanda que
servia de recolher a Àrlilheria por falta das ma
deiras; que o Forte de S. Marlinho sito no alto do
Monte, carecia de armazeitp, não obstante as Of
ficinas que tinha, porque eslavão cahindo, não
só pela antiguidade daqucllas obras, como por
falta de madeiras de que se não refizerão, bem
como arruinadas estavão algumas paredes. Que
sendo estas as fortificações que havia reconhecido,
descobrira também rotos e carcomidos do tdmpo
os reparos das carretas da Artilheria de todas as
Fortalezas, que estavão incapazes de serviço na
occasião da guerra. Feio que respeitava ás m u
nições, apenas achava vinte e hum barris de pol-
vora, pouco morrão e bailas de artilheria c mos-
quetaria, assim como mui limitado numero de
Infanteria c guarnição das Fortalezas, que só ti-
nlião vinte e seis soldados, hum condestavel, e
hum artilheiro, sem quartéis nem alojamentos
para se abrigar da Infanteria, abertas e desam
paradas sem fortificações e petrexos de guerra que
em occasião de ataque do inimigo podesse resistir
com denodado valor.
§ 6.
§ 7-
Aquelles exames se dirigirão não menos a dimi
nuir a veneração publica que alcançára o Gover
nador que o acabava de servir, como accusava 0
6eu pouco zelo em tão importante objecto, des-
110 BIO DE JANEIRO. 279
§ 8.
§ 9-
§ to.
]\áo approvou o Governador porém aquella
medida proposta para o subsidio das obras, por
não caber na sua autoridade a revogação do pri
vilegio que fora dado á Companhia do commer
cio, que o General da Frota aífincadamente sus-
§ ia.
§ i 4.
§ >&•
$ ' 6-
§ . 8.
§ '!)•
ÀNNAI3
§ 25.
§ 26.
§ 27-
Vir to igualmente o Governador áqiielía Ses-
. die fez nella ver a Gamara que havendo
Oioct lio o pedido para agoa da carioca em
i:382$72o réis em dinheiro e assucares, carre
gado ao Thesoureiro Domingos Aires, sendo o
Escrivão da receita Antonio Cardoso, estava extinc-
to aquelle donativo na obra feita que montava
em seis centas braças de cano, lhe pedirão se dig
nasse ir ver o que estava feito, supposto ainda
faltasse o estarem cobertos, pois que o pedreiro
André Tavares exigia 3o $ o o o réis por braça,
que montava a i : 83o,$000 réis, sendo indispen-
«aVel para a sua conclusão fazer-se hum segundo
n o FIO DE lASEIRO. 3o 7
pedido ao povo ( i) ; o qual foi então acordado,
prestando-se o Governador de ir ver as obras co
meçadas , louvou muito a Gamara pelo seu ar
dente zelo pelo bem do seu paiz.
§ 2S.
§ 29
Tomando a Camara em consideração aquella
representação, com o parecer do Governador e
do Ouvidor geral que conhecião ser urgente a ne
cessidade daqnella entrada, se conformárâo na
concessão das duas partes do valor dos escravos
tomados aos rebelados mocambados, exceptuando
aquelles a quem a Justiça mandasse enforcar, e
n o RIO DE JANEIRO. 3o()
que igualmente lhes fossem dadas as crias in so
lidum , attendendo-se ás muitas despezas que tao
importante acção deveria arrastar, e que á sua
custa e riscos era emprehendida, e que ficasse
lnmia tal resolução servindo de regra para outras
semelhantes diligencias.
§ 3o-
Magoado vivia o povo com a contrariedade dos
successos dc tem po; eis que hum novo successo
«veio excitar-lhe o alarme e consternação por cau
sa da excommunháo com que o Administrador
da Jurisdicção Ecclesiastica acabava de fulminar
contra o Ouvidor geral Pedro de Mustrc Portugal,
ao tempo que se embarcava em razão do seu Offi
cio para a Capitania do Espirito Santo: veio aquel-
le Ministro á Sessão da Gamara em 3 de Novem
bro de i 63ç), eali communicou ter sido notificado
pelo Vigário geral o Licenciado Francisco da Sil
veira Villalobos ( i ) , para remetter ao seu Juizo
huma devassa dentro em tres dias, com a pena
dc ser declarado cxcommungado, e como tal o
declarou em 3 1 de Novembro daquclle anno, por
lhe não ser licito remetter a devassa que pedira.
Não se tinha até então visto excommungarem-se
aos Ministros Reaes: o povo ficou inserto se o
Presidente da Commarca estava ou não excom-
§ 3 ,.
§ 2a-
§ 33.
s 34.
§ 56.
S 5 7-
Levantou-se o Escrivão da Camara , e feita a
venia ao Governador e ás Autoridades convocadas
assim fallou: —Srs. Queixou-se o Tabellião Sebas
tião Ferreira Freire ao Ouvidor Geral Pedro de
Mustre P ortugal, de que recolhendo-se para a
sua casa na noite antecedente a sua queixa, o es-
tavão esperando dez ou doze homens de assuada
para o matar cm , correndo para ataca-lo, e elle
se defendeu milagrosamente , requereu que se ti
rasse devassa na conformidade da Ordenação Li
vro i titulo 65 , §. ibi — das assuadas — em
virtude da queixa tirou o Ouvidor devassa, e com
pleto o numero de testemunhas , lhe foi feita
conclusa ; e estando em seu poder em segredo
da Justiça, foi notificado com pena de excommu-
nhão para remettê-la ao JuizoEcclesiastico, e por
que não fosse remettida, foi de facto declarado ex-
commungado, tendo o mesmo Ministro appellado
ante omnia. Por Direito publico , Divino , natu
ral , e das gentes, e pela Doutrina recebida na
Igreja, não tinha lugar a censura, pela indispen
sável obrigação que tinha o Ouvidor de cumprir
a Lei, e pelo respeito, obediência queaquelle Pre
lado devia ter a Soberania tem poral, distincta , e
independente da Jurisdicçào Ecclesiastica , que
constitue aos Magistrados salvos das censuras da
Igreja, por não ter ella alguma ingerência em ma-
1 )0 RIO DE JANEIRO.
”7
terias temporaes, alheias do Sacerdócio , c oílen-
sivasdo Imperio, que os Principes Soberanos re
ceberão de Deos, a quem o Prelado Ecclesiastico
como Subdito e Yassallo he sugeito como o res
tante do povo ás suas Leis, pois que reparte com
os Magistrados a sua Jurisdicçáo , para a exerce
rem em seu nome; pertencia por isso ao imme
diato conhecimento do Soberano unicamente, res
ponder pelas suas acções , c menos podendo ser
privado daquellc Sagrado Direito , senão por de
terminação do mesmo Soberano, a que por re
curso extraordinario dcvèra pedir o Prelado a de
cisão, esperando da Justiça do scuMonarcha, que
procedendo com sabias vistas , segundo a gravi
dade da matéria, direitos da Igreja , e regalias, e
costumes do Reino , sem perturbação e cscandalo
da consciência dos povos, determinaria o que
fossse conforme o Direito, e segundo a Sabedoria
do seu illuminado Conselho.
§ 38.
§ 39.
§ 4o.
S - 4't.
§4a,
§ /,3.
Tal era a illusão do tempo, qne os Prelados
estavao persuadidos poder excommungar até ao
Soberano, em virtude daquella Bulia da Cêa,
quando embaraçasse o cxercicio do que chama-
vao JurisdicçãoEcclesiastica, confundindo os di-
reitosespmtuaes inlierentes ás funcções do Sagrado
Apostolado, com a autoridade extrínseca que se
arrogão como direito proprio, e que os Soberanos
les confiarão, não esperando a usurparão da Ju-
nsdicção Real, principalmente desde o século 8 .%
em que esta respeitável Corporação só aspirava
obter as riquezas, esplendor, e consideração po
lítica contra o Conselho do Apostolo S. Paulo na
segunda Epistola a Thimoteo c. a. v. 4. que todo
aquelle que estiver alistado nas Milícias do Senhor
nao se mtrometta nos negocios Seculares. Entre
os Sagrados direitos da Soberania Real tem lugar
a 'igilancia sobre a Religião, para se não fundar
ou estabelecer qualquer culto, levantar-se Igreja
ou lugar consagrado á Divindade sem o seu con
sentimento , porque só a elle compete saber 0 que
he util á publica salvação, conservando a pureza
da Fé e Religião, de que lie Protector em seu
Reino, e na qualidade de Grão Mestre lhe ficou
inherente a faculdade de levantar as Igrejas do
Brazil, constituir Parochias, e muda-Jas segundo
o bem da Igreja, commodidade, e utilidade de
32 8 ANNAES
§41-
§ 45.
§ 47*
§ 48.
I íveráo sempre os povos muito acatamento e
reverencia ás pessoas Ecclesiasticas , pelas suas
virtudes, sabedoria, e caridade, vendo-os dotados
das mesmas , desde o ingresso da Celeste Milicia,
porem logo que por imprudência e orgulhosa
ostentação semostrárão desmerecedores daquella
respeitosa veneração, não se mostrando doces e
caritativos, antes dando máos exemplos, come
çarão a ser olhados com despreso e indignação
pois que lhe faltarão as virtudes e luzes para se
rem os guias da salvação dos subditos queixosos
eoppnmidos de suas violências, que desejárâo
ser mais antes julgados pela Justiça Secular, que
pelo Juízo outrora saudavel dos Ministros da
fire)a- Desde entá0 ‘eve origem a fatal época da
DO RIO DE JANEIRO. Z5j
tmmoralidade c impiedade pelo despreso dos Sa
cerdotes, por quanto os Prelados que eráo vir
tuosos nao poderão mais pela força e autoridade
da sua missão Divina fazer parar a torrente dos
vícios que impunemente engrossavão o seu curso,
valendo-se os criminosos do mesmo remedio con
cedido, para conter a usurpação que se fazia da
autoridade Soberana, servir depois a sua impie
dade e orgulho no favor que oncontravão no
Tribunal da Coroa, ficando os Prelados com as
maos ligadas para proseguirem contra os Eccle
siasticos e Seculares mal comportados, e escanda
losos publicos. A Carla Regia de >8 de Janeiro
de 1698 dirigida a esta Camara, permittio (1) só-1
§ 4 8.
j) S 4o-
Nos Conselhos Rcaes porém não pareceu de(i-
rivel a outra representação da Camara para a
conservação do Governador Tlioiné Corrêa, pois
que El-Rei D. Alfonso YI mandou passar a Pa
tente de Governador, e em 17 de Setembro de
1658 que assignou (1) na mesma data a favor de
Salvador Corrêa de Sá e Eenavides, que no prin
cipio do anno do 1CG0 foi instalado no Governo,
e na Sessão de 21 de Janeiro do mesmo anno veio
á Camara, e aos Representantes do povo dirigio
o seguinte discurso (2): 1
§ 5o.
No dia antecedente tendo aconselhado aosOf-
ficiaes da Camara , que convinda a bem da Ci
dade e Republica nomearem-se tres pessoas ido
neas de experienda, consciência , e conselho, do
tados das mais partes necessarias para procura
rem o bem commum da Cidade e Povo, nas oc-
casioes que lhes offerecessc, forão chamados á sua
Sessão os concidadãos , a quem propuzerão que o
Governador ensinuára (1) que attenta a confor-
§ 5 i.
Commctteu o Governador hum dos seus maio
res erros politicos , apontando e approvando hu-
ma tal medida , não lhe occorrcndo o perigo a
a que expunha a dignidade do seu lugar, e a Re
gia Potestade , tratando com o povo negocios eco-
nomicos, ou politicos ; quando aquclle jamais
deve governar , mais sim ser governado bebaixo
da sugeição e obediência das leis , mórmente na
distancia do Trono , cujo resplandor o deve des
lumbrar , mas não tocar de perto, pois que elle
a semelhança do Oceano , na sua maior calma
ria se agita por qualquer efferveccncia de espíri
tos inquietos e revolucionários, que para tirarem
o partido conveniente , ainda que momentaneo ,
em sua utilidade , ou do partido que se levanta,
não duvidão sacrificar os mais Sagrados Direitos,
derramar o sangue dos Cidadãos, imputando ao
Governador as causas da miseria, a fim de o sedu
zir com promessas de melhor fortuna , aprovei
tando a disposição dos animos já dispostos a rc-
ANNAKS
§ •>2-
Faltando a veneração pela superior autoridade
que as virtudes patrioticas dão enthusiasnio, e o
maior poder ao Estado , as desgraças são 0 seu
ultimo resultado. A Moralidade publica he a bus-
sola que dilige aos Cidadãos , seni risco , pelos
tempestuosos mares das paixões , excila o nobre
enthusiasnio pelo hem, unico porto em que af-
ferra, preferindo aos parciaes interesses , o bem
publico: portacs sentimentos a historia nos trans-
mitlio , que Curcio , armado se lançou ao mar .
tendo em menos a sua vida , que a gloria de sa
crificar-se pela Patria, a troco daquella gloria que
estimava m ais, e por cila quiz morrer. Nas tris
tes circunstancias , em que eslava o llio pela sua
miseria e pobreza, toda a arte do Governo estava
em administrar as finanças de modo, que o povo
se persuadisse que pagava 0 menos possível , pa
gando mais porque então pagava muito de boa
vontade , e augmentava por isso a riqueza e forca
publica: pagar o mais que he possível , he fazer
o maior serviço possivcl, e pensar cm pagar o
menos , he esperar mais da contribuição que se
não estima cm valor. Muitas vezes por cIFeito do
enthusiasmo exaltado das virtudes de bom Ci
dadão , disputarão estes habitantes , com encar-
necimento os lugares mais perigosos cm diversas
acções contra os Indigenas, e piratas; derão con-
TOMO II I . 'Ad
•).Í6 ANJVAES
tribuições superiores ao seu estado , por exigira
honra e acrisolado patriotismo áquellas boas ac
ções. Sem duvida será reconhecido possuir a
sciencia do bom governo , o que fizer desejar aos
bidadáos como graça aceitar o Soberano a con
tribuição da sua pessoa, vida, e bens, apreciando
aquella oflerta , para que sc lhe tome a oíFerccer e
dar gencrosamente em toda a occasião: a contri
buição que consiste em pagar certa somma , não
he tao apreciável, porque o povo então pensa que
paga o mais que lie possível dar , tira então o go
verno a menor possível utilidade, porque o povo
julga a sua condição forçada e injusta. Eis aqui
porque o povo achou mui gravoso o tributo das
casas, quando levado por outros princípios concor
reria com muito superiores contribuições, e de boa
vontade para manter a segurança do paiz com
dignidade e decoro da Soberania.
§ 53.
Os princípios moraes e physicos são entre si
tão reunidos, assim como a alma o he com o cor
po , a qual não púde gozar saude se aquella está
na alHicáo e desgosto : por isso como o Governo
he a agulha polar , e o astro que surge no hori-
sonte , que com os seus raios de luz esclarece ao
mundo, derramando as suas benignas influencias,
convertendo no bem geral, o que parece desor
dem no physico, o empenho em taes circunstan-
1)0 RIO DE JANEIRO. 3 Í7
cias deveria voltar-se em promover a abundanda,
a industria o o commercio; a tranquillidadc in
terna , e segurança externa: para esse fim devia
ter cm vista tirar dos parti : ulares o maior ser
viço publico, com o que o paiz se tornaria pros
pero , seguro, e respeitável , abrindo os canaes
da industria, que facilita o trabalho , e faz o de
senvolvimento de todas as virtudes : hum povo
pobre , como eslavão os habitantes do Rio , sem
subsistência , não podia gozar da tranquilidade,
que lie o elfeito da abundanda das cousas da
vida, da justiça, boa ordem , e bons costumes :
não podia gozar de segurança , porque esta lie
conjuncta com a defeza interior , visto que lodo
o individuo emprega o seu trabalho, não só para
adquirir a sua subsistência, mas igualmcntc a do
publico , e por tanto tempo que emprega no tra
balho com o suor do seu rosto , lie hum tributo
geral , e continuo, que fornece a segurança do
Estado. Se elle está impossibilitado de pagar com
o dinheiro , por falta de subsistência propria , e
segurança do paiz pode ser adextrado nas armas,
e servir a causa do bem publico , para gozar de
tranquillidade, e ser feliz debaixo do seu governo :
assim todo o cidadão bem educado c instruído
dos seus deveres, cheio de merecimento e de boas
acções , he o melhor soldado , pois que os seus
interesses estão inteiramente ligados com a pros
peridade geral. 0 soldado lica então sendo o
.yts ANIVAES
apoio do poder, O qual dove delle fazer o maior
apreço: desta contribuição pessoal ninguem ho
nestamento se pode escusar, para servir o seu
Principe nos desvariados pontos do seu Reino, e
he então que se assinala o heroísmo e coragem .
firmando nos princípios religiosos c moral publi
ca , pois que então dies se acharáõ de boa von
tade , aonde forem mandados , naturalmente e
tao prestes, como se fizer necessario , encarando
lodos os perigos , e a morte mesmo com sere
nidade.
§ 54.
Sendo tacs princípios , pouco conhecidos, e
menos desenvolvidos, não era adequada a medi
da de impostos de dinheiro, e menos a escolha
de Ires Cidadãos para requererem o bem da
causa do povo, por isso não podião resultar dc taes
medidas successos felizes. E com efTeito desgos
toso o povo com grande effervescenda , se junta
rão em 28 de Janeiro de 1660 fi) , os Oíficiaes
da Camara na casa da Municipalidade, com im
menso concurso de gente , o Procurador da Ca
mara o Licenciado Diogo Mendes Duro propôz
que se devia tornar resolução sobre a proposi
ção do Governador Salvador Corrêa de Sá e Be-
navides, que exigia clfeitos bastantes para soc-
correr a Infanteria da Praça na falta dos da Real1
F a z e n d a , e d o s u b s id io d o s v i n h o s , d o s q u a e s h a
via g r a n d e p e n u r ia p r o s e n t e in e n t e p o r n ã o h a v e
r em c h e g a d o n a v io s, q u a n d o era fo r ç o s o só s u s l e n -
la r - s e o P r e s id io p a ra c o n s e r v a r ã o d a ('id a d e . e
p o v o d e lia , d iss e lh e p a r e c ia e n t r e as e x t r e m i
d a d e s e m q u e se a c h a v a , q u e s e a d o p ta s s e o q u e
fo sse m a is s u a v e a o s h a b it a n t e s , s e g u n d o as su a s
p o s s ib ilid a d e s , p a ra concorrerem com as su a s
la z e n d a s e p a tr im o n io a m a n te r a In fa n te r ia , e m
q u a n to n ã o c h e g a v ã o d e m a r e m fo ra n a v io s c o m
v in h o s , e o u t r o s e t l e i l o s , p o is q u e s u c c e d e n d o
q u e a p o r t a s s e m , c e s sa v a a n e c e s s id a d e da I n la n -
teria , e fic a v ã o a liv ia d o s o s m o r a d o r e s d e sta fo r
çad a c o n t r ib u iç ã o .
§ T,ã.
A n h e la n d o a C a m a ra r e s o lv e r c o m a c e r to , j u l
g o u a p r o p o s it o c o n v id a r p a ra d a r e m se u c o n
s e lh o , a ss im as p e s s o a s n o b r e s , c o m o as d e in e -
n o r c o n d iç ã o , v o ta n d o ca d a h u m a d e lia s e m õ
p e s s o a s , a sa b e r : õ d o s n o b r e s , e 2 d o s d e m e n o r
q u a lid a d e e c o n d iç ã o , p a ra q u e em nom e do
p o v o , co rfio se u s P r o c u r a d o r e s a p p r o v a s s e m , o u
c o n t r a d ic c s s e m o q u e se a c h a v a p r o p o s to d e m a
n e ir a t a l , q u e se c o n s e g u is s e o s e r v iç o d e F l- l l e i ,
e o b e m g e r a l d a R e p u b lic a . P o r ã o a s m a is v o z e s
e le it o s p o r p a r le d a n o b r e z a o C a p itã o L u iz d e
F reita s M a to zo , o S a r g e n to M ór J o ã o R o d r ig u e s
1 e s ta n a , e o C a p ita o M a th ia s d e M en d on ça . *
r>5o ANNAES
§ 56.
« d o 0 d e v ia d i e i g u a l m c n t e , d o u t r in a q u o p ó d e
“ e x e o n n n u u g a d o s p o r lu u n a e x c o m n n i n b ã o d a
* J>u lla d a ( . c a , e a p o n ta a m a r g e m o lu g a r c i -
" l a d o o M o lin a a l l e g a d o , d i s p o s iç ã o (i(i(j n .° i a ,
§ 5;.
O s J e s u ít a s fo r ã o d e p a r e c e r ( 1 ) q u e c m q u a n t o
d u ra sse e h o u v e sse n a r e a lid a d e n e c e s s id a d e d e
s u s t e n t a r o p r e s id io , n ã o h a v e n d o o u t r o r e m e d io
d e a c u d i r - s e a o m e s m o , se p r o c e d e s s e p o r h u m
d o n a tiv o q u e a b r a n g e s s e a t o d o o p o v o , e já m a is
p o r t r ib u t o p e la s r a z õ e s q u e e n s in u a v à o o s D ou-
m en tr ib u ti im p o n e re , a u t co n su e tu m a u g e r e , si qua
p ii u s i m p o s i t a s u n t sufficere p o s s i t n o v a s s u m p tio n e s
§ 59.
§&*.
tez muita honra ao Prelado a sua opinião, de
sempenhou o seu Ministério, que deve ser a re
gra dos bons costumes, instruindo codificando
os povos , e ao mesmo tempo identificando-os no
serviço de seu Soberano, dos quaes os seus Re
presentantes não devem ser corpos hetorogenoos,
que destroem a boa direcção , e acção dos mem
bros dos súbditos, que são as peças singulares
da maquina social que tendem pelas dircerões
da Justiça ao gozo da felicidade, c he só nclla ,
que está a conservação dos homens e dos Impé
rios: ella hc a luz. que illumina, agita, e move
os ânimos para o bem. Sc o Governador c mais
Autoridades eslavão intimamente persuadidos da
miseria geral, para que augmentar o desconten
tamento com novos impostos ? Se a defeza do
Paiz, e a honra do Soberano pedião o augmento
das forças de terra os corpos milicianos adextra-
dos têem niais iulimo interesse pela causa pu
xo 11o m . 46
."62 ASNAES
§62.
§ Gõ.
§ 6/,.
§ 65.
X
374 ANNAES
m e c â n ic o sc p o d c r á ó e x e c u t a r n e lle a s p e n a s v is
q u e p a r e c e r e m j u s t a s a o A l m o t a c e l.
D e t o d a s a s c o n d e m n a ç õ e s te r á a te r ç a p a r t e o
p r e s i d i o , a o u t r a te r ç a p a r t e o A d m in is t r a d o r , e
a o u t r a te r ç a p a r t e se p a r tir á p e lo a c c u s a d o r e
M is e r ic o r d ia , e d a p a r t e q u e to c a r a o A d m in is tr a
d o r d e q u a lq u e r c o n d c m n a ç á o q u e s e j a , d a r a d e z
c r u z a d o s p a r a a a g o a d a c a r io c a .
O A d m in is tr a d o r e c r ia d o s g o z a r á ó d e t o d o s o s
p r e v ilc g io s q u e g o z ã o e s A s s e n tis ta s e A d m in is tr a
d o r e s d a C o m p a n h ia g e r a l , n ã o s e n d o o b r ig a d o s
a a c u d ir a n e n h u m a la r d o .
l i p o r q u e o A d m in is tr a d o r c m a lg u m a s o c c a -
s iõ c s n ã o p o d e r á te r t a n t o d in h e ir o c o m q u e a s
s is ta , s e lh e p e r m it t e q u e p o s s a n o d ia d a m o s t r a
d c c a d a s o c c o r r o fa zer p a g a m a n t o d a m e ta d e d e ite s
p o r liv r a n ç a s d o s C a p itã e s p a s s a d >s a o s s o ld a d o s
d e su a s C o m p a n h ia s , a s q u a e s s e r á ò a s s ig n a d o s
p o r e l l e s , e n ã o p o d c r á ó p a ss a r c a d a m e z d e c r u
zad o , c te n d o ta m b ém fa r in h a s e lh e to m a r á
em co n ta a ra z ã o d e p a ta c a , t a n t o s a lq u e ir e s
q u a n t o s f o r e m o s s o ld a d o s ( p ie se s o c c o r r e r c m .
E p o r q u e o p r in c ip a l I a n d a m e n t o d e s t e a s s e n t o
c e le iç ã o d e s t e A d m in is tr a d o r lie c la r e z a e b o a
a r r e c a d a ç ã o d e s t e n e g o c i o , p o r c u j a c a u s a se l h e
c o n s ig n a a lg u m lu c r o que se p o s s a c o n s id e r a r
h a v e r n e s t a d i s p o s iç ã o , se o r d e n a q u e o d i t o A d
m in is tr a d o r te r á d o u s liv r o s r u b r ic a d o s e n u m e
ra d o s, com a s s e n t o f e ito n o p r in c ip io e n o f im
/
\
3: r, AXNAES
peio Juiz Ordinario c hum Vereador, hum delies
irá carregando todo o rendimento dos eíTeitos da
carne, cm quanto durar esta contribuição, dando
conta delia á Gamara, pelo menos todos os mezes,
« em outro os eíTeitos da agoardente, com a cla
reza necessaria de quem lha vendeu , para a todo
o tempo constar.
Os rendimentos destes eíTeitos são para os que
estuo consignados, e não se poderão divertir para
outra nenhuma cousa, e em caso que sobeje ao
cabo do anno se disporáõ delles pela ordem dos
Officiaes da Camara, Eleitores, e Procuradores,
ou minorando-se nos eíTeitos da carne, ou fazendo-
se o que mais parecer acertado.
O dispendio destes eíTeitos scráò passados por
verbas do Senhor Governador aos OíTiciaes da
Gamara, ao pé delle hum Juiz ou Vereador bas
tará que ponha a vista, e nesta forma se levará
em conta ao Administrador, que as dará á Ga
mara, c delias tirará a sua quitação todos os an
nos, cotejados com o seu livro da entrada, c assina
se lhe declarará na quitação que se lhe der, e
porque podem accrcsccr-se algumas razões que
pessão mais declaração, íicará lugar para que se
possão accresccntar neste regimento, e sendo fir
mada pelo Senhor Governador e Officiaes da Ga
mara teráõ a mesma forca e vigor que as demais.
Assentou-se mais , que em tudo o mais que está
declarado neste regimento se guardará a postura
X
DO RIO DE JANEIRO, •"77
e penas que estão impostas pcla Camara na ca
chaça c vinho de mci. Dcclara-se mais, que o
Meirinho quo ha de fazcr as diligencias para cstes
eíleitos será o mesmo Meirinho do Campo. De
clara-se mais, qnc as ditas pipas que se concedem
aos senhores de Engenhos poder vender no seu
Engenho, lhe ficão decada huma delias além dos
1:!.'•'ooo réis que atra/, se lhes permitte, mais
2,^000 reis, que vem a ser í/j.^Nooo réis que lhe
ha de ficar pela sua pipa , quebras, c vendagem,
e o demais entregará ao Administrador como fica
dito. Salvador Corrêa de Sá c IScnavidcs, lira/.
Sardinha, Francisco Telles llarreto, Assenso Gon
çalves Mattozo, João Rodrigues Pestana, Mathias
de Mendonça, Antonio Fernandes Valongo , Do
mingos de Oliveira, Procurador da Camara do
Conselho, Diogo Mendes Duro.
§66.
§67.
a p r a z im c n to d o p o v o p a ra s u s te n t a r a I n fa n te r ia
e x is te n te , c a q u e o G o v e r n a d o r a c e r e s c c n ta v a . B ern
d e p r e s sa te v e d e a r r e p e n d e r -s e d o lo u v o r c o m q u e
e x p u z e r a a n te o I r o n o a su a c o n d u c t a p u b lic a ,
e na verd ad e ta cs lo u v o r e s d u r a n te o p o d e r d o
c a r g o sã o e lic it o s da h u n ii l i a o ã o , o u d a lis o n j a : a
c x t in c c ã o d a a g o a r d e n te d a terra d e t e r m in a d a p o r
lle g ia R e s o l u ç ã o , n ã o p o d ia ser r e v o g a d a e a u t o -
r isa d a p e lo G o v e r n o r e s ta b e le c e n d o a c o n t in u a
ç ã o d o f a b r ic o r e p r o v a d o , se m la lta r a o s e u d e
v e r , a s u a h o n r a c o m p r o m e tt id a n o c u m p r im e n t o
d a s O r d e n s e L e is d o S o b e r a n o . a q u e m só c o n
v in h a r e p r e s e n ta r , e e x p ô r o s in c o n v e n ie n te s d a
a n n iq u illa e ã o c m se m o s tr a r c o n d e s c e n d e n t e c o m
o s s e n t im e n to s da G a m a r a , p r o d u z io o s m a i s t e r -
r iv e is revezes , m o tin s e s u b le v a ç õ e s , lis t a n d o
e lle fir m e n a r e s o lu ç ã o d e ter h u m a fo r c a p u b l i
ca s u p e r io r á s c ir c u n s ta n c ia s d o p a iz , p a r e c e n d o
não s u ffic ie n te s o s im p o s to s e s ta b e le c id o s p e la
/
\
J02 annaes
§ 68.
S 69-
Ainda que se pudessem considerar bem inten
cionadas as vistas do Governador sobre a urgente
!>0 mo DE JANEIRO. 385
necessidade de liuma força publica , por conve-
niencia do Real Serviço, c para conter a audacia
dos mãos e respeitável de dentro e de fora o seu
Ooverno , pro dm io todavia males incalculáveis :
elle não teve bem pesado Suas circunstancias , e
meditado sobre a miseria do povo, reduzido a de
sesperação , que não convinha cxarcerba-la por
nova contribuição nas pessoas , casas, c terras da
Província, existindo as niesinas causas da pòbfeza
gera,_- P01S *I,,e 03 di/imos de toda a Capitania não
chegarao a doze mil cruzados , c como poder-se
supportar demais hum outro tributo imposto gc-
ralmcnte nas terras e pessoas de todos os habitan
tes, aldm da perseguição dos exactores com a co
brança da duplicada Contribuição pela demora
dos pagamentos, que nãó poclião realisãr pelas
causas geraes da miséria e pobreza a que linh.lo
sido reduzidos por erro do seu mesmo Governo ? O
Governador, julgando tudo feito, se determinou
passar á Capitania de S. Paiiló , para toiViár pes-
soalmentc conhecimento do estado das minai , e
da nil port ancia dos seUs productos ; nonieoú co
mo lhe era facultado por El-Rei á Thonió Corrêa
ê è Alvarenga (i) a qüem passou Pi-ovisnòem i i
de Outubro de 16G0, UíUrando nél!n que fíié fora
com met tido o cntabolamento das kiiinas desde a
era de íü ji , com as faculdades de nomear du-
DO I.IVRO
, O - ~ I v i 1 1(
TIMDO INDICE.
*
erratas