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3 Caminhos do litoral

1 - Vinheta: UFPR-Litoral- A Educação é a nossa praia, ARPUB-


Associação de rádios públicas brasileiras, MINC- ministério da cultura e
Petrobras apresentam:

Programa Mar Aberto

Uma seqüência de programas que mostrarão as relações que a costa


paranaense propicia a seus habitantes desde tempos imemoriais.
Nestas series mergulharemos no tempo e navegaremos no espaço
buscando saberes, ritmos e idéias.

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Programa Mar Aberto – mergulhe em idéias

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2- Bem vindos a bordo marujos


preparem-se para caminhar. Nesse programa lançaremos ancora no paralelo
25, um lugar chamado Antonina e seguiremos a pé nas antigas rotas e
caminhos da Serra do Mar, rumo ao planalto curitibano e ao Vale do
Ribeira.

Conversaremos com, sábios, professores, andarilhos e caminhantes,


que nos contarão sobre o desbravamento da Serra do Mar.... duvidas,
certezas, idéias e sabores.

A maré esta alta e o vento a nosso favor, segurem-se marujos que vamos
partir.

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3 - As formosas baias de Paranaguá são cercadas por altíssimas montanhas


de nome pernapiacaba, muralhas inacessíveis que separam as terras
centrais. Essas cordilheiras balizam os navegantes que as chamam com
nomes especiais, a Serra da Prata, a do Guarumby, da Mãe Catira, da
Graciosa e da Ariraia.
A Serra da Prata é a que mais se avista do mar grosso por estar saliente, na
sombranceira da terra, próximo da Barra do Sul.

Foi Capistrano de Abreu que primeiro fez a historia dos antigos caminhos
indígenas no território brasileiro. Ele dizia, que os caminhos indígenas
influenciaram na colonização, Facilitaram a conquista e direcionaram os
estrangeiros, os mineradores, os jesuítas, os bandeirantes, os madeireiros,
os colonos, os imigrantes, os latifundiários....

Um desses caminhos foi descrito por cronistas no século XVI... deram-lhe


o nome de Peabiru e diziam fazer a ligação entre o Oceano Atlântico e o
Pacifico. O padre jesuíta, Ruiz de Montoya descreve um caminho com 80
centímetros de largo e 40 de fundo...formava um leito e era coberto por
uma graminea em toda sua extensão...

O Peabiru era uma rede de caminhos com um tronco principal e vários


ramais. Grande parte desses ramais estavam na Serra do Mar, no Rio de
Janeiro-Minas Gerais, São Paulo- Santos e Curitiba-Paranagua.
Todos esses ramais teriam sido modificados e retificados no processo da
colonização e transformaram-se na Trilha do Ouro em Minas Gerais, no
Caminho do Itupava, na Estrada da Graciosa e no caminho dos Ambrósios
mais ao sul, rumo a Joinville.... Em casos mais dramáticos, essas trilhas
indígenas foram sendo alteradas pelo espirito das épocas e hoje constituem
trechos das Rodovias Brasileiras.

4 –O reconhecimento foi ótimo, e agora vamos caminhar no tempo para


saber mais sobre os espaços de serra acima...

A partir da vila de Curitiba, Ao sul atravessando o rio Iguaçu, cresce a


povoação de São José dos Pinhais, em torno da Capela do Senhor Bom
Jesus dos Perdões, edificada em 1690, em antiga zona de mineração.
Desta povoação parte para leste o caminho do Arraial e para sudeste, o dos
Ambrósios, ambos rumo às regiões litorâneas. O caminho do Arraial levava
ao Arraial Grande, antigo centro de mineração na serra do mar. Já o
Caminho dos Ambrósios era a estrada de comunicação entre Curitiba e São
Francisco do Sul, em Santa Catarina.

Para o oeste da vila de Curitiba, os currais estabelecidos nas redondezas do


rio Barigui estendem-se para a região de Campo Largo até atingir a serra de
São Luis do Purunã, limite natural entre os campos de Curitiba e os
Campos Gerais de Curitiba, conhecido também como o 2o. Planalto
Paranaense.

Na região da Borda do Campo, para leste da vila de Curitiba, havia o


Caminho da Graciosa, usado até hoje ligando Curitiba a Antonina, antigo
porto marítimo paranaense. E finalmente, para o sul e sudoeste, iniciava-se
o sertão de Curitiba, sertão incógnito.

Ao longo destes caminhos foram crescendo muitas freguesias e povoados,


No registro de 1766, estavam as localidades do Atuba, Barigui, Piaçaúna,
Boa Vista, Tatuquara, Botietatuba, Palmital, Arraial Queimado, Borda do
Campo, Campo Largo, rio Verde, freguesias de São José, Minas do Itambé,
Descoberto da Conceição, Registro e Campos Gerais.

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Caminho Colonial do Itupava


Grande parte deste caminho é protegido pelo Tombamento da Serra do Mar
e cadastrado como Patrimônio Arqueológico no IPHAN, Instituto do
Patrimônio Historico e Artistico Nacional. Originário daquelas antigas
trilhas indígenas, o Itupava foi a principal via de comunicação entre o
Primeiro Planalto paranaense e a Planície Litorânea, do século XVII até a
construção da Estrada de Ferro Curitiba – Paranaguá, em 1885.

O Caminho do Itupava partia do porto Padre Joao da Veiga, no rio do


Pinto, hoje, Rio Nhundiaquara. Subindo a Serra passava pelo Pão
Vermelho, pelo terreno das lavras chamado Pantanal e Limoeiro de onde
subia os morros do Brejautuba, de Serra Velha da Fortuna, do Pau Oco e do
Palmital chegando onde antigamente se conhecia como Arraial, atual
Atuba.
A partir de Curitiba, o Caminho do Itupava iniciava onde hoje e o circulo
Militar de Curitiba, antigamente chamado de Passo do Rio Belém e cruzava
os rios Belém, Juveve, Bacacheri, Atuba e Palmital chegando no Arraial e
na Fazenda Agropastoril do Canguiri, próximo a atual cidade de Quatro
Barras. Dessa localidade havia um ramal que vinha de Piraquara e outro
que vinha da Campina, todos se unindo próximo ao vale da Boa Vista, na
encosta da Serra do Pão de Lot.
O Itupava foi adequado ao uso pela primeira vez em 1649. Quase 100 anos
depois o caminho possuía boas pontes de madeira, calçamento e estivas nos
alagadiços

O Caminho da Graciosa e o do Itupava seguiam a mesma rota ate cerca de


tres legoas do Curitiba, onde entao se separavam.

O Caminho Colonial da Graciosa, também conhecido como Caminho dos


Jesuítas ou calçadinha, liga o primeiro planalto paranaense ao litoral.
Descendo a serra Graciosa, foi utilizado desde os tempos pré-coloniais
pelos indígenas, que subiam ao planalto coletar pinhões. Mais tarde, foi
utilizado pelos portugueses, junto com outros caminhos, como o do Itupava
e do Arraial. Entre 1820 e 1853, por ordem do Barão de Antonina, e
Presidente da província Zacarias de Góes e Vasconcelos foi construída uma
íngreme e estreita calçada de pedras, parte da qual existe até hoje.
Atualmente a Estrada da Graciosa é calçada por paralelepípedos facilitando
o tráfego de automóveis e ainda conserva construções em pedra feitas por
tropeiros quando da povoação dos planaltos de serra acima.

Retornando ao litoral, Na BR 277, sentido Curitiba – Paranaguá existe um


caminho conhecido como Estrada da Anhanha. Para quem quiser conhecer,
deve pegar a esquerda logo depois do Viaduto dos Padres, dali parte a
pequena estrada rumo a cidade de Morretes seguindo todo o vale do rio
Nhundiacuara.

Continuando na BR 277 sentido Paranaguá, depois da descida da Serra,


próximo a localidade da Marta, parte a trilha da Ambulância. Esta trilha
fica na Serra da Prata e nos leva ate a baia de Guaratuba, na região da lagoa
do Parado e dali ao rio Cubatao. A trilha e conhecida por esse nome devido
a uma ambulância chamada para socorrer um morador local, devendo ser
levado as pressas ao hospital, a ambulância encalhou num atoleiro.... dizem
que os restos do veiculo estão lá ate hoje.

Já na Planicie Costeira existe a chamada estrada Ecologica do guaraguaçu,


o antigo caminho que levava ate o Pontal do Sul e a Ilha do Mel. Vamos
passar por ela, mas essa será uma outra historia...

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5 - Como contrapeso para nossa embarcação vamos levar na memória o


relato de Robert Avec Lallemant sobre o caminho dos Ambrosios,
percorrido por ele em 1858.

Novela O Caminho dos Ambrosios por Robert ave lallemant-

Narrador - O Caminho dos Ambrosios fazia a ligação entre a região de


Joenville e a Colônia Dona Francisca ate os planaltos, o campo dos
Ambrosios..atual município de São José dos Pinhais. A subida da serra
pelo caminho dos Ambrosios foi descrita pelo medico alemão Robert Ave
Lallemant que percorreu a trilha no ano de 1858.

Robert ave lallemant- Este deve ser nosso rumo... devemos atravessar 4
legoas de várzeas alagadiças que formam a planície costeira e começar a
difícil caminhada na mata.

Narrador - Com o passar, o solo elevava-se gradualmente, as águas


murmuravam mais alto, mais agrestes eram as arvores tombadas, afinal, a
própria mata escureceu.. em ambos os lados se elevavam os picos da Serra.
Do vale sul da serra da prata e do rio seco, subia a picada com muita
habilidade..

Robert ave lallemant- O desfiladeiro esta cada vez mais estreito, solitário e
selvagem....
Vejam, uma clareira, uma clareira...mas...mas, esse e o mais original dos
abrigos na floresta, uma cabana silvestre.
Hummmm... 14 pes de fundo, telhado largo e paredes baixas. Toda feita de
palmeiras, troncos inteiros e fendidos, folhas... tudo amarrado com cipo na
melhor ordem..O conjunto se apoia em duas grandes palmeiras.
No interior .... duas camas de sarrafos forradas com folhas, traves de murta
como assentos e no centro uma agradável fogueira.
No alto, pendurado em travessas, estão machados, calcas velhas, carne
seca, polainas de couro, caca morta e cobertas velhas, panelas, copos de
lata, sal, arroz, uma botica, pólvora, chumbo e espingardas.....Estamos
dentro da mata e vivemos como príncipes....

Narrador – naquela noite comeram carne de caca ensopada com milho


grosseiramente moido...uma comida a que chamam de quirera... Na manha
seguinte continuam a caminhada

Robert ave lallemant- O sol esta quase a pino e acabamos de chegar ao


cume da Serra da Prata...um belo mundo de floresta com magnificos vales..
mas o tempo não esta favoravel... sibila um vento quente e violento, no alto
da serra escuta-se gritar os urus e inhamus anunciando a borrasca....
Nada alterara nosso animo, seguiremos pela estreita picada ate o Campo
dos Ambrosios..
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O caipora nos caminhos...


O aspecto do caipora varia conforme a impressão que causa e a pessoa que
ele tem que arruinar e fazer infeliz.
Freqüenta, de ordinário, as encruzilhadas e as curvas dos caminhos.
Antigamente, só espantava os caminhantes a pé ou a cavalo, fazendo este
passarinhar e dar com o cavaleiro ao chão. Atualmente, ele coloca pedras
nas estradas de rodagem para fazer capotar os autos e caminhões; serra as
vigas das pontes e dos mata-burros para causar desastres. De tempos em
tempos, ele se hospeda nas povoações, cercado de inúmeros caiporinhas,
que são outros tantos diabinhos, que entram no couro do pessoal festeiro,
isto principalmente na época do carnaval e da queima do Judas.

6- A viagem esta chegando ao fim, devemos partir e como despedida


escutem Roque de Barros Laraia. Um trecho sobre a difusão cultural e
hilário e fizemos uma ambientacão sonora.... acompanhe a descrição de
Ralph Linton em 1959.
Sons em tudo
Hoje, um cidadão americano acorda pela manha em uma cama construída
segundo um padrão originário do Oriente Próximo, mas modificado na
Europa Central antes de ser transmitido a América. Sai debaixo de cobertas
feitas de algodão cuja planta foi domesticada na índia, ou de linho, ou de la
de carneiro, domesticados no Oriente Próximo, ou de seda, chinesa. Todos
esses materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente
Próximo. Levanta da cama e vai ao banheiro, ou quarto de banho, invenção
européia recente.... Tira o pijama, vestuário inventado na Índia e lava-se
com sabão, inventado pelos antigos Gauleses, faz a barba que era um rito
masoquistico que descende dos antigos sumerios ou egípcios.

Voltando ao quarto o cidadão pega as roupas que estão sobre a cadeira


estilo europeu meridional e veste-se. As pecas de vestuário tem as formas
das vestes de peles costuradas originais dos nômades das estepes asiáticas e
cortadas num padrão proveniente das civilizações clássicas do
Mediterrâneo... Seus sapatos são feitos de peles curtidas por um processo
inventado no antigo Egito.

Antes de sair olha pelo vidro, também egípcio, se estiver frio amarra no
pescoço um adereço usado pelos croatas do século XVII. Se estiver
chovendo coloca galochas usadas por ameríndios da América Central ou
um guarda-chuva de origem asiática. O chapéu de feltro vem das estepes.

O cidadão sai de casa rumo ao desjejum e compra um jornal, paga com


moedas, invenção libanesa. Ao entrar na lanchonete , toda uma serie de
elementos tomados de empréstimo o espreitam. Os pratos são de porcelana,
proveniente da China, a faca [e de aço, inventado na India do sul, o garfo
foi inventado na Itália Medieval, a colher vem de um original romano.

A primeira coisa que come [e uma laranja, fruta de origem mediterrânea, o


melão [e persa, a melancia e Africana. Toma café, uma planta abissínia
com açúcar, indiano. O leite e a idéia de domesticar gado vem do Oriente
Próximo. Come bolinhos de trigo originário da Asia e preparados com uma
técnica escandinava e os rega com mel, muito consumido pelos indígenas
da America. Ou talvez coma ovos de uma ave domesticada na Indochina
com delgadas fatias de carne de um animal domesticado na Asia Central,
salgada e defumada por um processo inventado no Norte da Europa.

Ao final, nosso amigo recosta-se para fumar uma planta proveniente da


America do sul em seu cachimbo típico dos indígenas da Virginia.
Enquanto fuma lê o jornal, um material inventado na China e impresso com
caracteres inventados pelos antigos semitas por um processo inventado na
Alemanha. Ao inteirar-se das narrativas dos problemas estrangeiros, se for
bom cidadão conservador, agradecera a uma divindade hebraica, numa
língua indo-europeia o fato de ser 100 por cento americano.

– Ralph Linton – 1959. 36 linhas 4min

6 - Obrigado pela companhia marujos e agora vamos saborear um prato


tipico que conhecemos durante nossa caminhada, a quirera.. A receita ?
costelinha de porco fresca e defumada, milho grosseiramente moído, panela
de barro e algumas horas de fogo. Prepare o prato e delicie-se.

E preparem-se para o próximo programa onde navegaremos pelas


Ilhas interiores e Oceânicas do litoral do Paraná... vamos conversar com
sábios, mergulhadores e pescadores, que nos contarão sobre essas ilhas,
vamos saber a sua importância para as pessoas, para o ar e para o mar da
região....... projetos, certezas, idéias e sabores.

Para contatos em alto mar acessem


www.ufprlitoralemmaraberto.podomatic.com

7- vinheta final: O programa mar aberto é produzido pela UFPR-Litoral- A


Educação é a nossa praia, com apoio da - Associação de rádios públicas
brasileiras, do ministério da cultura com financiamento da Petrobras
Programa Mar Aberto – mergulhe em idéias

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