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Pesquisa e Prática Educativa II

Naila Souza da Fonte Ramos

SEGUNDA ATIVIDADE DO DIÁRIO DE ESTUDO


 

Meu registro reflexivo do nosso último encontro foi tecido a partir de uma
narrativa que trouxemos de outra disciplina para dentro de PPE. Um momento em
que bebês da educação infantil construíram um bolo de aniversário com canecas e
cantaram parabéns foi interrompido pela professora, que ordenou que a bagunça
acabasse e voltassem às atividades. Muito me incomodou essa narrativa, já que é
uma situação que presenciei algumas vezes onde trabalho e durante o nosso debate
foi possível problematizar a cena, e tecer criticas sobre a atuação da Educação
Infantil nos dias atuais e discutir relações mais saudáveis entre professores e alunos
no ambiente escolar.
Primeiramente, foi de suma importância reconhecer a derivação daquele
momento de socialização entre os bebês. O que pode ser visto como uma
brincadeira que gerou desorganização dentro do ambiente escolar, é de fato uma
brincadeira mas que possui um valor altíssimo, é preenchida de contexto cultural e
histórico que fala muito sobre o que as crianças experimentaram e como isso as
impactou. A professora Nazareth nesse debate se referiu a brincadeira como uma
experiência de cultura, e a partir dessa afirmação riquíssima, conseguimos ter visões
muito importantes sobre o valor da brincadeira. É através dela que um bebê passa
por todos os seus processos de crescimento e interioriza aprendizados. Em uma
brincadeira entre algumas crianças pode existir tantas trocas de experiências, uma
criança pode ensinar e aprender sobre culturas em um simples (mas
importantíssimo) momento lúdico.
Tendo essa reflexão em mente, avançamos para a realidade, como os bebês
e crianças realmente socializam e precisam se comportam dentro do ambiente
escolar. Na verdade, ainda na creche os bebes já são comparados a outros, são
taxados como "mais chorões" ou "mimados" e precisam interromper vínculos com a
família para se encaixarem em padrões exteriores, processo esse que fica ainda
mais intenso na escola. Na Educação Infantil, local onde ainda não deveria ser
trabalhada a perspectiva de aula, as atividades dadas aos alunos já são avaliadas
individualmente entre "bom" "muito bom" e "excelente", processo esse que já
interioriza nas crianças e nos seus pais que existem expectativas que devem ser
alcançadas para serem reconhecidos como os melhores, sem levar em
consideração as vivências e os limites individuais.
Na Educação Infantil, até as horas vagas que são denominadas "brincadeiras"
são controladas. É permitido brincar, mas sem falar alto, sem correr e em locais
escolhidos pela professora. Brincar de massinha precisa ser em silêncio, sem
mistura-las, não pode ser no chão caso a crianças esteja desconfortável em sua
cadeira. E são nesses padrões que a maioria das brincadeiras acontecem dentro da
escola, todas restritas e geralmente após horas da criança sentada em uma cadeira
sendo ensinada apenas pela professora e em uma relação vertical.
Colocar bebês e crianças nessa posição de aluno tão cedo interrompe sua
formação processual individual, ela deixa de ser criança para pode ser um aluno que
precisa se encaixar em padrões que não são os dele (espero nos próximos
encontros podermos discutir e entender como exatamente esses processos de sala
de aula e padrões impactam no futuro/formação da criança). A sala de aula na
verdade precisa ser uma sala processual e o ambiente escolar da Educação Infantil
precisa abolir a ideia de aula, aluno e avaliações, dando lugar a perspectivas de
relações, experiências e processos.

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