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resolucao-de-conflitos-na-educacao-infantil
Publicado em NOVA ESCOLA 29 de Maio | 2023

Clima escolar

Clima escolar e resolução


de conflitos na Educação
Infantil
Ainda que na Educação Infantil as crianças estejam
estabelecendo suas primeiras relações, os conflitos podem
emergir, o que exige um plano de ação
Paula Sestari

O papel mediador do professor é fundamental no sentido de apoiar as crianças


em seus diálogos, desenvolvendo a empatia e a solidariedade. Foto: Getty
Images
Queridas professoras e queridos professores! Ainda que nossa etapa de
atuação seja a Educação Infantil, em que os protagonistas estão estabelecendo
as primeiras relações, os conflitos já emergem nesse momento. Desde muito
pequenos, os bebês já reconhecem afinidades, formas de ser e
comportamentos que lhes agradam ou não, enquanto vão construindo sua
personalidade e seu jeito próprio de ser e estar no mundo.
Mas, antes de falar sobre as situações que envolvem as relações entre as
crianças, é importante ressaltar alguns aspectos sobre a relação entre adulto e
adulto, ou seja, entre nós professores e pais.
Lembrem-se de que o ponto primordial de uma relação entre os adultos na
escola é o estabelecimento de laços de confiança. Tal qual uma casa tem suas
etapas e processos para uma boa construção – e um tijolo mal assentado pode
comprometer toda uma parede –, do mesmo modo, um gesto ou palavra mal
dita pode comprometer toda a relação.
Acolhimento em palavras e gestos
Em outros momentos, falei sobre a importância do acolhimento em todo
período letivo, e aqui reforço meu posicionamento, pois, antes de tudo, o gesto
é a expressão que acolhe, que recebe, que aceita. Depois, a palavra clara,
honesta e garantindo a primazia da Educação que é o bem-estar, a segurança e
o pleno desenvolvimento dos bebês e crianças pequenas também é
fundamental.
Um acolhimento diário com um sorriso, um cumprimento honesto, faz toda a
diferença. Assim como uma despedida com informações transparentes e
sucintas. Essas ações revelam disponibilidade, abertura para aproximação e
diálogo. Temos um ditado interno na escola: “É pelas crianças que ganhamos os
pais”, mas entendam que é sobre o profissionalismo do ato educativo, o
respeito e a cordialidade que estamos falando.
Aceitar e valorizar o outro como ele é
Nas situações em que o conflito se instala, é importante rever as suas origens e
consequências. Mas um ponto de reflexão importante para nós, professores, e
que observo muito no dia a dia: por vezes, temos a tendência de querer
impregnar nas famílias e nas crianças nossos valores, nossas crenças, nossos
modos, práticas culturais como sendo as mais adequadas, e, ao tentar intervir,
podemos até subjugar os conhecimentos e o modo de vida do outro,
provocando conflitos desnecessários.
O ato de acolher diz respeito também a aceitar e valorizar o outro como ele é.
Entender que, em muitas situações, o que nos parece pouco está sendo, na
verdade, um grande esforço de superação para o outro. Sabe aquela velha
frase sobre precisar fazer a trilha com os calçados e a mochila do outro para
compreender de fato os desafios que existem no seu caminhar? Então, isso
também se chama empatia.
Respeito ao processo de desenvolvimento da
criança
Na relação com as crianças se sobressai a ideia de que somos os mais
desenvolvidos psicológica e emocionalmente e que, para tanto, a criança está
no lugar de que precisa de apoio para lidar com seus sentimentos e
compreender a realidade que a cerca. Diante disso, situações de cobrança por
coisas que as crianças ainda não dão conta de fazer por si só, porque
simplesmente não atingiram as condições necessárias, são algo agressivo e
injusto.
Em vez de reagir, de rebater, de amenizar as emoções e até colocá-las em
situação de invalidez, precisamos ver cada momento como uma ordem de
aprendizagem e desenvolvimento, pois o currículo da Educação Infantil é
composto pelo que é vivido nesses espaços de construção de boas relações. As
estratégias do planejamento precisam prever abordagens que nos aproximam
do modo como pequenos de cada faixa etária percebem o mundo e se
relacionam com ele, sempre permeados pelos eixos das interações e
brincadeiras.
Professor como mediador
Entre as crianças, é fundamental o papel mediador do professor, no sentido de
apoiá-las em seus diálogos desenvolvendo a empatia e a solidariedade. Nossos
gestos dizem muito mais que palavras, então é fundamental colocar-se na
posição de escuta respeitosa aos anseios de cada um.
Existem aprendizagens essenciais dentro das situações de conflito, tanto que
temos no campo de experiência do Eu, o Outro e o Nós objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento que tratam de maneira específica sobre essa
questão.
Quando os profissionais da escola, desde a gestão, agem de maneira educativa,
inclusive na relação que estabelece com as famílias, as crianças são
diretamente impactadas. Quando se estabelece uma relação de confiança
mútua, ainda que ocorra situações de impasse e divergência, o movimento será
sempre de respeito à individualidade de cada um, sem disputa, pois na escola
cada um ganha quando todos ganham.
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de
Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestra em Ensino de
Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota
10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto
com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.

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