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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO


RIO GRANDE DO SUL

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

AFETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NA EDUCAÇÃO


INFANTIL: POTENCIALIZANDO O SUJEITO QUE APRENDE

LUANA FRIES

Ijuí – RS
2017
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LUANA FRIES

AFETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NA EDUCAÇÃO


INFANTIL: POTENCIALIZANDO O SUJEITO QUE APRENDE

Trabalho de Conclusão de Curso, sob a


orientação da professora Eulália
Beschorner Marin, Curso de Licenciatura
em Pedagogia pela Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul – UNIJUÍ, Departamento
de Humanidades e Educação – Curso de
Pedagogia – Habilitação em Pedagogia.

Ijuí – RS
2017
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AGRADECIMENTOS

Ao concluir este trabalho quero agradecer:


A Deus, que esteve sempre olhando por mim, me
mantendo com a cabeça no lugar, dando-me forças
para não desistir.
A minha mãe, que nunca mediu esforços para que eu
conseguisse seguir o meu sonho, foi sempre meu
ponto seguro e hoje, segue em minhas orações e sei
que estás vibrando comigo ao chegar a conclusão
desta etapa.
As minhas colegas de trabalho que sempre estiveram
do meu lado me apoiando e me incentivando.
Ao meu querido Lucas que esteve sempre comigo em
momentos de desespero dizia que me acalmasse e
confiasse em minha capacidade.
A minha fada madrinha Mariana que sempre me apoiou
e me ajudou quando eu precisei.
A todos meus professores, que durante toda minha
vida escolar me proporcionando o necessário para o
sucesso de minha aprendizagem.
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“O difícil não é impossível. Quem vive para o que der e


vier, sabe que semeando a boa semente, ainda que
seja pela umidade das lágrimas, um dia verá nascerem
plantas. Pode mesmo acontecer que os outros não
valorizem o quanto custou esse trabalho. Não faz mal:
você se comprometeu pelo ideal do bem. Não importa
também se, nesse esforço, tropeçou e caiu, pois é aos
que tombam na luta que se costuma chamar de heróis.
Apenas o que se lhes pede é o testemunho da
perseverança”.

Gianfrancesco T. Venturin
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RESUMO

Este estudo busca apresentar reflexões sobre a importância dos vínculos afetivos na
aprendizagem de crianças, especialmente na Educação Infantil. Para fundamentar a
construção deste trabalho, busquei informações nos referenciais teóricos baseados
nas ideias de Wallon e Vygostky. Da mesma forma, as contribuições de Saltini foram
importantes para caracterizar um professor com olhar afetivo, que é aquele que se
preocupa com a aprendizagem, que deve ser significativa para a criança, onde ele
possa trazer suas experiências, fazer trocas, interagir, enfim estabelecer vínculos. A
partir deste trabalho entendo que a educação infantil deve ser orientada pelo afeto.

Palavras-chave: Afetividade. Aprendizagem. Educação Infantil.


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INTRODUÇÃO

Falar do tema educação é bastante abrangente e traz consigo muitos


debates. Pode-se dizer que não é possível falar de educação dando enfoque
somente ao conhecimento e esquecendo das emoções, pois sabemos que o ser
humano é dirigido por dois polos: razão e emoção. É notável que a afetividade no
contexto escolar favorece uma aprendizagem mais sadia onde o aluno se reconhece
como indivíduo responsável pela construção da sua identidade e consequentemente
de seu conhecimento.
Segundo Wallon (1979), a personalidade é formada por duas funções
básicas: inteligência e afetividade. A inteligência ou conhecimento está vinculado ao
mundo físico, à construção do objeto. Já a afetividade está ligada ás sensibilidades
internas e orientada à construção da pessoa. Assim, a afetividade assume papel
anterior à inteligência, no sentido de que assume função essencial no
desenvolvimento humano, definindo os interesses e as necessidades individuais da
pessoa.
A partir de reflexões e revisões teóricas acerca do tema em questão, desejo
investigar a importância da afetividade no processo de aprendizagem das crianças
da Educação Infantil. Para isso recorro suporte as contribuições teóricas de Wallon e
Vygotsky, tendo base também em minhas observações realizadas em uma turma de
Educação Infantil numa escola pública do município de Coronel Barros.
Ao voltar nossos olhares para a educação infantil, esse tempo em que à
educação e o afeto estão trabalhando juntos, onde o educar não é somente repassar
informações e conhecimentos, mas sim o ato de cuidar e educar que só ocorre
quando o afeto é complementado de amor, o desenvolvimento da criança não
acontece somente da relação de aspectos cognitivos, mas também e principalmente,
aos aspectos afetivos.
Segundo Vila (2000, p. 41): “A educação infantil tem três atores: crianças,
famílias e profissionais da educação [...]”. É por isso que é de extrema importância
auxiliar as crianças a construírem suas identidades, para isso precisamos oferecer
oportunidades afetivas, em uma parceria entre família, escola, professores.
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A criança necessita e deseja ser amada, ouvida, aceita, acolhida para que
possa despertar para a vida do aprendizado e da curiosidade.
A relação de afeto entre a criança e o educador é, portanto um apoio ao
conhecimento é um elemento fundamental na prática pedagógica, tornando
relevante que o processo de cuidar e educar se envolvam, pois, são partes
essenciais que formam um todo.
Busco também da abordagem Reggio Emilia a Pedagogia da Relação, onde
a criança é o foco de toda a abordagem, mas, é fundamental para a educação das
crianças também os professores e a família. Esta participação não é apenas
burocrática como reuniões bimestrais ou chamados aos pais para irem à escola
ouvirem do comportamento de seus filhos, como vemos frequentemente. Esta
participação é como se os três componentes centrais fizessem parte de uma família,
e a escola é preparada para que se sintam em casa. Segundo Malaguzzi:

Ela deve incorporar meios de intensificar os relacionamentos entre os três


protagonistas centrais, de garantir completa atenção aos problemas da
educação e de ativar a participação e pesquisas. Estas são as ferramentas
mais efetivas para que todos os envolvidos – crianças, professores e pais –
tornem-se unidos e conscientes das contribuições uns dos outros. Estas são
as ferramentas mais efetivas para que nos sintamos bem cooperando e
produzindo, em harmonia, um nível superior de resultados (In: EDWARDS;
GANDINI; FORMAN, 1999, p. 75).

Através da Pedagogia da Relação, tanto as crianças quanto os adultos


aprendem na diferença com o outro, com o diálogo, com a troca de ideias, mas isso
só acontece porque o ambiente democrático e aberto proporciona esta prática e
ampliam seus horizontes. As famílias são chamadas às reuniões para discutirem o
currículo, os projetos e pesquisas, ideias para a organização das atividades. As
crianças recebem todos os endereços e telefones das outras crianças e de seus
professores, são encorajadas a visitarem as casas de seus colegas e aos locais de
trabalho dos pais. Tudo isso coopera no desenvolvimento de uma educação em que
a criança tem um papel ativo na construção e aquisição da aprendizagem e da
compreensão. Esta concepção pedagógica é a base que origina o currículo, a
arquitetura e o sistema administrativo das escolas municipais de Reggio Emilia.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) destacou melhor cada um
dos direitos da criança e do adolescente bem como os princípios que devem delinear
as políticas de atendimento. Determinou ainda a criação dos Conselhos da Criança e
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do Adolescente e dos Conselhos. Os primeiros devem zelar pelo respeito aos


direitos das crianças e dos adolescentes, entre os quais o direito à educação,
incluindo para as crianças pequenas o direito a creches e pré-escolas (BRASIL,
2001). A creche e a pré-escola têm, portanto, uma função de complementação e não
de substituição da família como tantas vezes foi entendido.
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SOBRE AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM

Inicialmente, é importante relembrar e retomar o significado de alguns


termos relacionados a este trabalho, para que possa servir de auxilio no
entendimento e concepção dos mesmos e assim dar início ao trabalho. Assim,
procurei o auxílio na enciclopédia livre da internet, a Wikipédia, para compreensão
do termo abaixo:

A afetividade permite ao ser humano demonstrar os seus sentimentos e


emoções a outro ser ou objetos. Pode também ser considerado o laço
criado entre humanos, que, mesmo sem características sexuais, continua a
ter uma parte de “amizade” mais aprofundada. Em psicologia, o termo
afetividade é utilizado para designar a suscetibilidade que o ser humano
experimenta perante determinadas alterações que acontecem no mundo
exterior ou em si próprio. Tem por constituinte fundamental um processo
cambiante no âmbito das vivências do sujeito, em sua qualidade de
experiências agradáveis ou desagradáveis.

A afetividade está diretamente relacionada com experiências dos indivíduos


nos mais diversos espaços, como família, escola e comunidade. Essas experiências
podem ser negativas como positivas e ainda interferem nas relações sociais que os
sujeitos estabelecem com seus semelhantes.
É fato que a interação social forma os processos de relação entre afeto e
cognição. Neste caso, as contribuições das teorias de Wallon e Vygostsky sobre
estes dois processos dirigem seus estudos na fase infantil, em especial quando
falam das etapas de evoluções da criança e suas relações afetivas.
Segundo o Wallon (2007 p. 122), “é inevitável que as influências afetivas que
rodeiam a criança desde o berço tenham sobre sua evolução mental uma ação
determinante”, o que reforça mais uma vez que a aprendizagem tem uma ligação
com a afetividade. Ainda, segundo ele, o choro de um bebê recém-nascido, mesmo
que seja de fome, carregado de valor afetivo, pois, além de ser a expressão de uma
necessidade básica, no caso, alimentar, pode ser também emocional.
Falamos agora então sobre a afetividade: segundo a corrente psicogenética
de Wallon (DANTAS, 1992), “a afetividade não é só uma das dimensões da pessoa,
mas uma fase do seu desenvolvimento, talvez uma das mais arcaicas”. Isso significa
que assim que o ser humano deixa a sua vida orgânica, e passa a ser afetivo, ele vai
mudando para a vida racional. Daí pode-se deduzir (DANTAS, 1992) “que no início
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da vida, afetividade e inteligência estão misturadas, com o predomínio da primeira”.


E a partir de então:

A sua diferenciação logo se inicia, mas a reciprocidade entre os dois


desenvolvimentos se mantem de tal forma que as aquisições de cada um
repercutem sobre a outra permanentemente. Ao longo do trajeto, elas
alteram preponderâncias a afetividade reflui para dar espaço a intensa
atividade cognitiva, assim que a maturação põe em ação o equipamento
sensório motor necessário a exploração da realidade (Idem, p. 90).

É importante compreender que as crianças desde pequenas precisam


relacionar-se com outras crianças com o fim de interagir e dar espaços ao
desenvolvimento da afetividade e aprendizagem. Sendo assim, se dá início a
evolução da personalidade, sempre relembrando que as emoções estão ligadas a
este processo. Segundo Wallon (2007, p. 124):

À emoção compete o papel de unir os indivíduos entre si por suas relações,


mais orgânicas e mais íntimas, e essa confusão de ter consequência ulterior
as oposições e os desdobramentos dos quais poderão gradualmente surgir
as estruturas da consciência.

É na família que a criança começa a vivenciar suas primeiras experiências


afetivas. Mas é na escola que esse processo se torna mais rico e significativo. Isso
porque o ambiente escolar proporciona as mais diversas oportunidades de interação
somando o que as crianças trazem de casa, ou seja, suas vivências e
conhecimentos. Nesse caso, a educação:

[...] é um processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao


conviver com o outro se transforma espontaneamente, de maneira que seu
modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o outro
(MATURANA, 2002, p. 29).

As ideias de Wallon defendem a afetividade como sendo o aspecto mais


importante, pois o considerava o fator primordial de sobrevivência do ser humano.
Wallon sempre fundamentou suas pesquisas abordando três aspectos das pessoas:
afetivo, motor e cognitivo.
Vygostsky, também defendia a não divisão dos aspectos cognitivos e
emocionais no ser humano, sendo que em suas obras nunca utilizou o termo
cognição (DANTAS, 1992, p. 75), pois ele preferia usar os termos consciências ou
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funções mentais. Vygotsky (Idem, p. 76) afirmava que: “o pensamento tem sua
origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses,
impulsos, afeto e emoção”.
Desta forma, Vygotsky defende também a importância das interações
sociais, traz a ideia da internalização como aspecto fundamental para a
aprendizagem e também a interação entre os sujeitos envolvidos.
Analisando conjuntamente as teorias defendidas por Henri Wallon e
Vygotsky, pode-se dizer, que há alguns pontos comuns que os autores assumem no
que se refere à afetividade. Segundo Leite (2006, p. 24) estes pontos são:

A) Assim que as manifestações, inicialmente orgânicas, vão ganhando


complexidade à medida que o indivíduo desenvolve-se na cultura, passando
a atuar no universo simbólico, ampliando-se suas formas de manifestação.
B) Assumem, pois o caráter social da afetividade. C) Assumem que a
relação entre afetividade e inteligência é fundamental para o processo de
desenvolvimento humano.

Piaget (1896 – 1980) em seus estudos e escritos reconheceu que a


afetividade desencadeia a atividade cognitiva do aprender. Para ele a afetividade
seria uma ação e a razão seria o que o possibilita ao sujeito identificar, conhecer os
seus desejos, os seus mais diversos sentimentos, conseguindo então êxito nas suas
ações.

Furth descreve que a afetividade impulsiona o desenvolvimento da


inteligência e agirá na resolução dos problemas que a vida nos oferece,
principalmente nos problemas apresentados ou surgidos, no interior da escola. Ele
diz: “Obviamente, para a inteligência funcionar deve ser motivada por um poder
afetivo. Uma pessoa jamais resolverá um problema se não se interessar. O ímpeto
para tudo reside no interesse, motivação afetiva [...]” (FURTH, 1995, p.11). Nesta
perspectiva, uma pessoa somente resolverá um problema qualquer se estiver
interessado, estando o ímpeto, para qualquer atividade, no interesse, portanto, na
motivação afetiva. Desta forma, é pela afetividade que o aluno faz as suas escolhas,
estabelece e vai em busca de seus objetivos.

Espindolla considera o desenvolvimento intelectual como tendo dois


componentes: o cognitivo e o afetivo. “O desenvolvimento afetivo se dá
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paralelamente ao cognitivo e tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento


intelectual.” (ESPINDOLLA, 2004, P.1).

As relações entre afetividade e aprendizagem faz-nos compreender que


Piaget concebe a afetividade como resultado de uma construção ativa, não estática,
que se estabelece e acontece nas relações cotidianas entre o sujeito e o objeto e,
portanto, a afetividade resulta da construção diária e permanente durante todo o
processo da existência humana, sendo a sala de aula, a escola, o ambiente escolar
um espaço por excelência de construção ativa da afetividade nas múltiplas relações
estabelecidas e que resultarão em interferências na construção e elaboração do
projeto vital da criança.

A afetividade, os sentimentos e as emoções passam a ser instrumentos que


podem beneficiar a criança, na tomada de decisões, pois são constitutivos do
psiquismo humano. Desta forma, os sentimentos são instrumentos de que o sujeito
dispõe para estabelecer as relações afetivas com pessoas, animais, coisas e
relacionar-se consigo mesmo.

Diante de todos os apontamentos trazidos pelos referenciais teóricos,


podemos afirmar que falar de emoção, afetividade, aprendizagem, inteligência,
enfim, cognição, significa abrir as portas para as inter-relações que acontecem nos
diversos ambientes, experiências estas que devem ser facilitadoras para nossos
alunos aprenderem mais e serem felizes.
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OS EFEITOS DA AFETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DAS


CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE ESCOLA PÚBLICA, REFLEXÕES
SOBRE A PRÁTICA

Esse capítulo traz as minhas observações durante um período de início de


ano letivo em uma escola pública do município de Coronel Barros. Período este de
adaptação, que para muitas crianças é o primeiro contato com a Escola.
A adaptação é um período delicado que requer muita paciência e muita
dedicação tanto da professora como da família.
Iniciei minha vida escolar na referida escola da pesquisa lembro-me que
sempre gostei de ir para escola, quando minha mãe dizia que naquele dia não iria ir
era aquela briga. Eu ia todos os dias de transporte escolar, na volta chegava em
casa de “noite”.
Minha primeira professora, é a mesma que hoje observo durante minha
pesquisa, foi ela que me ensinou a ler e escrever. Eu gostava muito de minha
professora.
Agora retornando a escola não mais como aluna, mas com o olhar de futura
professora, me sinto com orgulho de ter estudado ali. A escola mudou muito tanto
em estrutura como no pedagógico, mas a essência, o acolhimento, é o mesmo.
Poder retornar a minha escola base é uma experiência maravilhosa para minha
formação como professora.
Dividi minhas observações em três partes: 1ª relação criança x criança, 2º
relação professor x criança e 3ª relação criança x professor x família.
Neste período de observação busquei aprender ao máximo de experiências
para levar para minha constituição como professora. Percebi o quanto a afetividade
é importante para trabalhar com a Educação Infantil, pois eles são bem mais
sensíveis e verdadeiros na hora de expressarem seus sentimentos, mas também
mais vulneráveis às manifestações emotivas de colegas e do professor.

AS CRIANÇAS

“Uma criança não é uma criança para ser pequena, mas para tornar-se
adulta” (CLARARÈ, 2004, p. 30).
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A turma é constituída por 26 crianças. Destes 70 % fazem uso do transporte


escolar porque residem no interior. Muitas crianças chegam na escola cansados e já
com fome devido ao fato de residirem em localidades mais distantes, necessitando
permanecerem 1 hora ou mais no transporte para chegar na aula. E ao término da
tarde, retornam para suas casas chegando muitas vezes de noite em casa.
Morando em locais mais afastados, muitas crianças não têm amigos da
mesma idade próximos para brincarem. Alguns têm irmãos, mas percebe-se
claramente a diminuição do número de filhos. Aprender a brincar com os iguais,
dividir os brinquedos (que são também novidades, diferentes dos de casa) é uma
longa aprendizagem.
Ao iniciar as observações, procurei construir uma relação de carinho com as
crianças, buscando não interferir negativamente no que a professora planejava. Aos
poucos a professora foi introduzindo a rotina da turma. Saltini (2008, p. 102) defende
a rotina, no sentido de que esta dá suporte psicológico à criança:

O que regra a vida quotidiana é a sequência dos acontecimentos. A duração


de cada atividade pode mudar, aumentar ou diminuir (roda, lanche, pátio,
história, etc.), porém não a sua ordem... O hábito e os rituais em sequência
são essenciais para a segurança psicológica da criança; estes são um porto
seguro para o novo.

Interessante observar que a rotina é facilmente assimilada pelas crianças.


Quando outra professora entra em sala, as crianças orientam quanto aos tempos e
questionam se não realizaram alguma atividade que habitualmente fazem em aula.
Ir na pracinha e a hora do recreio são os momentos favoritos. Brincam,
correm, gritam e também criam conflitos os quais muitas vezes necessitam a
intervenção do adulto para solucionar. Ao longo dos dias, das semanas, a
professora vai proporcionando momentos que exijam que sentem, que compartilhem
os materiais e que aprendam a escutar e respeitar a vez de cada um falar.

A RELAÇÃO CRIANÇA X CRIANÇA

Durante minhas observações pude perceber muitos pontos sobre os


relacionamentos entre crianças, a construção de afinidades e também a falta de
afinidades com alguns.
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As crianças mesmo nesta faixa etária já se permitem realizar experiências


afetivas, trocas, acordos, e sem tantas brigas, chamando a professora apenas
quando não há nenhum acordo.

Aos cinco anos torna-se mais sociável. E mais amistosa que hostil. Os
desejos dos companheiros começam a ser considerados, com promessas
compensatórias, mas ele ainda se coloca em primeiro lugar (FERREIRA,
2002, p. 16).

Nesta fase costumam ouvir mais o colega entram facilmente em um acordo,


aceitam a ideia e a solicitação do outro, Fortuna (2004, p. 49), diz que, as crianças
desta faixa etária já estabelecem vínculos afetivos, como sugere a citação a seguir:
“por outro lado, tanto jogo quando brincadeira contem a ideia de laço, relação,
vínculo, pondo indivíduos em relação consigo mesmos, com os outros, com o mundo
enfim”.
Muitas crianças ao ingressarem na Educação Infantil, tinham até o momento
como relação principal apenas seus familiares. Aprender a olhar, a perceber a
presença, a brincar com outras crianças da mesma idade é uma grande
aprendizagem a ser realizada nesta etapa de ensino.
Outro fator muito relevante é que cada turma tem suas características.
Turmas mais falantes, mais quietas, em alguns anos se tem alunos na maioria á do
interior, em outros na maioria da cidade e que vários já frequentaram a Escola
Infantil. Todas estas peculiaridades devem ser observadas na hora de planejar as
aulas.

A PROFESSORA

O processo de formação docente não se dá de forma singular, ocorre no dia


a dia com os demais professores através da troca de experiências e observações
diárias. Trabalhar na coletividade não é fácil, aprender a receber críticas e
compartilhar os saberes somente o tempo ensina, mais do que o diploma, nos
constituímos professores no cotidiano da Escola.
O sucesso escolar se dá no esforço coletivo e não nos interesses pessoais.
O ser professor é um desafio diário. A pesquisa, a busca por novas alternativas, o
pensar juntos é que vão contribuir ao processo de ensino.
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A formação docente é um contínuo, ao longo de nossas experiências vamos


nos constituindo professores, através da reflexão de nossas práticas ampliamos os
conhecimentos, pois um professor nunca está formado por definitivo, a constante
mudança requer que o docente esteja paralelamente acompanhando-a, seja
mudanças pela sociedade, pelas tecnologias e até mesmo por suas próprias práticas
que envolvam a relação professor-aluno.
A professora regente da turma é formada em Biologia e a 23 anos trabalha
com Educação Infantil e Anos Iniciais. Conversamos informalmente, percebe-se
claramente o quanto gosta de trabalhar na Educação Infantil.
Nós como educadores defendemos a lógica de que cada educando e
educanda são sujeitos históricos. E apostamos na capacidade de cada um educar-
se em interação com seus pares. O nosso desafio está em nos prepararmos para
conviver, conhecer, entender e lidar pedagogicamente, com as diferenças culturais
que se multiplicam.
As crianças cada vez mais vem para escola por obrigação e não por
interesse. O ensinar e o aprender deve ser em conjunto criança e professor e é por
isso que o interesse deve ser por igual.
Devemos como professores buscar a cada dia trazer motivos para as
crianças voltarem no dia seguinte, é nosso dever criar ou recriar o interesse pela
escola e pelo aprender. Muito do que falta na escola é a comunicação entre
professor e criança.
E é tarefa nossa, estudantes, que estamos em formação de buscar
alternativas, sabemos que em toda escola tem aquela professora que não aceita
ideias novas, e continua naquele método que aprendeu há muitos anos atrás.
Temos que aprender que somos professores e não temos que simplesmente dar
aulas, dar conteúdos... trabalhamos com vidas precisamos considerar esses sujeitos
que temos em sala de aula, em suas singularidades e acreditar sempre que todos
tem condições de aprender cada um de acordo com suas possibilidades.

A CRIANÇA E SUA PROFESSORA

O educador tem um papel de fundamental importância na construção da


identidade autônoma de cada criança, principalmente na educação infantil, onde as
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crianças estão mais abertas à aprendizagem, ao se identificarem com o modelo que


lhe foi apresentado.
Há uma grande importância também em reconhecer o trabalho desenvolvido
pelos educadores que trabalham com a educação infantil, pois é através deles que
acontece a estimulação para a longa caminhada da construção da identidade. Mas
por outro lado pode-se pensar nas possibilidades de exemplos negativos que esse
mesmo educador pode cometer.
O educador atuante na educação infantil e no processo de construção da
identidade proporciona situações onde a criança reconheça suas particularidades e
interaja com outras crianças, seja qual for a faixa etária.
A criança ao ingressar na escola traz consigo uma grande expectativa
quanto à sua futura professora. Como para muitas crianças é o primeiro contato com
a escola, seus primeiros anos da vida, vão marcar para sempre seu percurso como
estudante.
A Educação Infantil é uma etapa privilegiada, atua com crianças autênticas,
criativas e com muita energia. O educador promove muitas situações de escuta,
principalmente na rodinha os alunos compartilham suas vivências, relatando em
vários momentos, situações que ocorrem em casa, muitas vezes constrangedoras,
necessitando a professora intervir para evitar futuros desentendimentos.
Nesta etapa escolar o que a professora diz é “lei”. Por isso, nas brincadeiras,
imitam muitas vezes sua professora e adoram brincar de escolinha.

A FAMÍLIA

Ao iniciar o processo escolar as crianças precisam se sentir seguras. Muitos


problemas de adaptação que a escola enfrenta vem da insegurança da família.
A forma como os pais interagem com seus filhos, suas expectativas em
relação dos filhos desempenham papel fundamental no processo de
desenvolvimento e aprendizagem das crianças.
A família precisa “viver a escola” junto com a criança. Vibrar com suas
conquistas, elogiar suas produções, organizar a mochila e o lanche com carinho,
perguntar e estimular o filho à contar o que fez na escola. Tudo isto ajuda muito no
aprendizado e traz um diferencial para a sala de aula.
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Trabalhar com uma turma de crianças em que as famílias estejam


comprometidas com a vida escolar de seus filhos, que venham até a escola, que
conheçam como a professora faz com que o trabalho pedagógico flua, as crianças
aprendem mais rápido o que faz sentido para elas, o que elas vivenciam. Daí a
importância de família e escola caminharem na mesma direção.
Em um dos dias observados a professora pediu para que cada um
desenhasse sua família, para que tivessem a confiança que mesmo estando na
escola a família estaria ali junto. Saltini (2008, p. 103) defende a participação dos
pais na escola e na sala de aula, sendo que o autor dá algumas dicas:

O educador poderá pedir aos pais que venham falar do que sabem e do que
fazem... na medida do interesse das crianças por um determinado tema,
fazendo as devidas ligações das declarações dos pais com os fatos
evidenciados pelas próprias crianças.

A RELAÇÃO CRIANÇA X PROFESSORA X FAMÍLIA

Cada vez mais nos dias de hoje está entrando em discussão qual o papel da
família e da escola quanto à educação da criança, a família tem feito sua parte? Ou
é a escola que acaba fazendo o que não é de sua função?
A família tem um papel muito importante, quando a criança começa sua vida
escolar. Precisa dar apoio emocional para a criança, incentivar. A criança só vai
confiar na escola se a família confiar.
Durante meu período de estudo, trabalho, observações e conversas percebi
muito a falta e participação da família no desenvolvimento das crianças, cada vez
mais a educação das crianças está terceirizada para a escola. Cresci ouvindo de
meus pais que a educação vinha de casa e o que se aprendia na escola era o
conhecimento. Mas, hoje já não é mais assim, me parece que os pais não têm mais
tempo para dar educação para os filhos e assim deixam essa responsabilidade para
a escola.
E isto está refletindo diretamente nas salas de aula, crianças
desinteressadas, todos os dias ouvimos nos noticiários os resultados de
aprendizagem no Brasil hoje que a cada dia baixam as médias. Com tanta
tecnologia, e acessibilidade, professores capacitados nas escolas hoje, estes
números são inadmissíveis. Podemos perguntar então “O que está faltando?”.
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O que falta é dar valor à educação. A escola é decisiva para a vida futura de
todos. Temos que buscar, reconquistar as famílias para que famílias, crianças e
professores possam trabalhar e tornar o aprendizado mais significado.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizar uma reflexão de pesquisa e observação é tarefa complexa ainda


mais quando os sentimentos e as emoções aflora juntamente as aprendizagens
construídas. Ter abordado a afetividade neste trabalho foi algo que me possibilitou
aprendizagens pessoais que jamais serão esquecidas.
Sempre procurei estabelecer vínculos afetivos com as crianças, mas sei que
existe uma linha tênue entre os afetos e as pressões sociais, por isso que este tema
é tão delicado e muitas vezes não é levado em consideração por grande parte dos
educadores.
A afetividade é a propulsora da aprendizagem, pois é fundamental para o
desenvolvimento cognitivo. É importante que o professor planeje e proporcione
atividades e brincadeiras para as crianças, fazendo com que se sintam bem,
queiram brincar e, ao mesmo tempo, aprender.
A aprendizagem é mentora da identidade, isto é, uma vez que cada um é
único se diferencia dos demais, para tanto o professor precisa oportunizar aos
alunos situações de aprendizagem que evidenciem seus sentimentos na escola e
não apenas sua inteligência e/ou sua capacidade de aprender.
Os sujeitos infantis, suas professoras e seus pais precisam estar em aliança,
para que a criança possa tirar o máximo de proveito. E que esta aliança perdure por
toda a vida escolar.
Este trabalho busca contribuir e para tal reafirmo a ideia de que o professor
afetivo é mais feliz no seu ato docente, estabelece relações mais significativas com
as crianças tornando a aprendizagem mais prazerosa.
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REFERÊNCIAS

AFETIVIDADE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,


2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Afetividade&oldid=
47780650>. Acesso em: 19 jan. 2017.

DANTAS, Heloysa. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de


Wallon. IN: LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl e DANTAS, Heloysa. Piaget.
Vygotsky e Wallon. Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus,
1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa.


São Paulo: Paz e terra, 1996.

FURASTÉ, P. A. Normas técnicas para o trabalho científico: explicitação das


normas da ABNT. 17. ed. Porto Alegre: Dáctilo-Plus, 2014.

MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo


Horizonte: UFMG, 2002.

SALTINI, Cláudio. Afetividade e inteligência. Rio de Janeiro: DP&A, 2008.

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes,


1994.

WALLON, H. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WALLON, H. Psicologia e educação da criança. Lisboa: Editorial Veja, 1979.

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