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13/09/2022 20:30 Revista Educação Pública - Afetividade no processo de aprendizagem

ISSN: 1984-6290
B3 em ensino - Qualis, Capes
DOI: 10.18264/REP

Afetividade no processo de aprendizagem

Eliane dos Santos Barbosa


Graduada em Pedagogia (FAP)

Este trabalho tem o intuito de verificar as relações de afetividade professor-aluno e de como elas podem contribuir no processo de ensino-
aprendizagem. São vários os fatores que interferem no processo de aprendizagem da criança. Porém, dentre tantos, a emoção que a criança
sente ao aprender as primeiras regras, as quais se aplicam depois à sociedade, ou seja, a formação cidadã, advém de uma boa formação
emocional.

Grande parte dos teóricos reconhece que a afetividade é o berço da socialização do indivíduo, pois é com ela que são transmitidos os primeiros
ensinamentos às crianças. Por isso, a emoção é responsável por grande parte do desenvolvimento delas nos anos iniciais. Nesse período elas
necessitam de maior atenção daqueles que as cercam. A afetividade na escola, como complemento da afetividade na família, é de suma
importância para seu desenvolvimento, tanto cognitivo quanto social. Assim, a necessidade de compreender se a dimensão afetiva entre
professor-aluno influencia o processo de ensino-aprendizagem é o que justificou este trabalho.

Para realização dele, recorreu-se a referenciais importantes, tendo como base principal a luz dos estudos de pesquisadores da área da Psicologia.

Afetividade
Segundo Antunes (2008), o ser humano nasce extremamente imaturo; para sua sobrevivência,  necessita da presença do outro e essa
necessidade é traduzida como amor. Por outro lado, o instinto de sobrevivência e a percepção da necessidade de proteção fazem com que a
mãe e o pai apresentem também o sentimento de amor pelo filho e a reciprocidade desse amor do filho e dos genitores funde-se ocasionando a
afetividade. Esse sentimento não se manifesta apenas entre filhos e pais. No passado, os homens das cavernas ensinaram que a sobrevivência
implica viver em grupo, expandindo a afetividade de um para o outro.

De acordo com Antunes (2008, p. 1),

a origem biológica da afetividade, como se percebe, destaca a significação do “cuidar”. O amor entre humanos surgiu porque sua fragilidade
inspirava e requeria cuidados e a forma como esse cuidar se manifesta é sempre acompanhada da impressão de dor ou prazer, agrado ou
desagrado, alegria e tristeza. Percebe-se, portanto, que afetividade é uma dinâmica relacional que se inicia a partir do momento em que um sujeito
se liga a outro por amor e essa ligação embute um outro sentimento não menos complexo e profundo. A afetividade, ao longo da história, está
relacionada com a preocupação e o bem-estar do outro; a solidariedade não apareceu na história humana como sentimento altruísta, mas como
mecanismo fundamental de sua sobrevivência. 

O ser humano necessita se relacionar com o outro, só assim procura maneiras de melhorar essas relações, que deram origem às regras, que mais
tarde viraram leis que auxiliam esse processo. Com a evolução da cultura humana, a afetividade passou a ter grande importância nas relações
interpessoais. A afetividade começa no âmbito familiar com o nascimento; esses laços afetivos duram a vida toda, sendo transmitidos para o
outro. Desde os primórdios as relações entre professor-aluno foram e continuarão a ser motivo de preocupação das pessoas relacionadas com a
educação, visto que esses sentimentos são mecanismo fundamental para a sobrevivência da humanidade (Antunes, 2008).

A afetividade e a autoestima
Segundo Ferreira (1999), a afetividade é o conjunto de fenômenos psíquicos experimentados e vivenciados sob a forma de emoções e de
sentimentos de dor, prazer, satisfação, agrado, desagrado, alegria ou tristeza.

A afetividade é um dos fatores que favorecem a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo, fazendo com que o individuo aprenda através
dos sentimentos, das emoções e das experiências que são trocadas na interação com o outro. Por isso, a afetividade é muito importante na vida
das pessoas desde o nascimento e porque é a primeira fase do desenvolvimento humano. O ser humano é um ser afetivo, mas com o passar do
tempo acaba se tornando racional (Davis; Oliveira, 1994).

Na relação professor-aluno, a autoestima é muito importante, porque é ela que dá a capacidade de sentir a vida, dá confiança ao seu modo de
pensar e enfrentar os problemas e o direito de ser feliz, desfrutando os resultados de seu próprio esforço (Tiba, 1996).

Para Zagury (2007, p. 2),

autoestima (autoimagem ou amor-próprio) é a forma pela qual o individuo percebe o seu próprio eu. É o sentimento de aceitação ou rejeição da
sua maneira de ser. Se a pessoa se vê de forma positiva, valorizando suas características, podemos dizer que tem autoestima elevada ou positiva.
Se, ao contrario, ela não se aceita ou se desvaloriza, isto é, se há inconformidade consigo mesma, dizemos que tem baixa autoestima ou
autoestima negativa.

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Quando a autoestima é positiva, o individuo tem boa imagem de si mesmo, acreditando que os outros gostam dele e confiam em suas
habilidades de lidar com os desafios. Quando a autoestima é negativa, acha que não merece o amor de ninguém, não acredita que é capaz de
realizar nada sozinho, considerando-se incapaz e que não sabe fazer nada direito (Tiba, 1996).

A relação do afeto e da autoestima no âmbito escolar


De acordo com Pilette (2004), é no meio social que a criança passa a fazer parte de um novo meio, se adaptando a ele e submetendo as suas
determinações, pois é nesse ambiente que encontrará novos amigos, formando vínculos afetivos que podem influenciar no desenvolvimento de
sua identidade. A criança passa a conhecer o mundo através de suas relações com o outro. Pois é nas interações sociais que a criança tem acesso
aos instrumentos e aos sistemas de signos que possibilitam o desenvolvimento de formas culturais de atividades, permitindo estruturar a
realidade e o próprio pensamento. A escola é um espaço importante de trocas de um com o outro, promovendo o desenvolvimento da criança.

Nas palavras de Chalita (2001, p. 153), “o professor é a referência, o modelo, é o exemplo a ser seguido e, exatamente por causa disso, o pouco
que fizer afetuosamente, uma palavra, um gesto, será muito para o aluno com problemas”.

Pode-se concluir que o clima afetivo escolar de ajuda mútua que valoriza o aluno, respeita seu ponto de vista e estimula sem pressionar está
nutrindo o desenvolvimento de sua autoestima e ensinando o prazer de aprender. Portanto, a relação afetiva do educador pode fazer o aluno se
sentir valorizado  (alimentação psicológica) ou diminuído (desnutrição psicológica); isso vai depender do estado do desenvolvimento de sua
autoestima. A melhor escola é aquela que leva o individuo a descobrir por si próprio a alegria de ser e o entusiasmo em viver, pois não existe
pessoas felizes sem a autoestima de querer-se bem (Chalita, 2001).

Nesse sentido, Antunes (2008) afirma que o professor muitas vezes é quem melhor pode ajudar o aluno a desenvolver e descobrir qualidades,
talentos e surpreender-se com as revelações, com a responsabilidade, com a disciplina e a felicidade. A disciplina aumenta a autoestima do aluno
e quanto maior for a autoestima do aluno, mais se tornará disciplinado, nutrindo assim esse ciclo de disciplina e autoestima. A escola tem papel
fundamental no desenvolvimento socioafetivo da criança, estabelecendo a relação com o outro para o desenvolvimento da aprendizagem.
Afirma Almeida (2005, p. 106):

A escola tanto quanto a família têm o seu papel no desenvolvimento infantil, e a relação professor-aluno, por ser de natureza antagônica, oferece
riquíssimas possibilidades de crescimento. Os conflitos que podem surgir dessa relação desigual exercem um importante papel na personalidade
da criança.

De acordo com o texto, Almeida diz que, no desenvolvimento da criança, a família tem papel importante, assim como a escola. Cada uma dá sua
contribuição a seu tempo e modo. A responsabilidade da escola inicia quando termina o da família e vice-versa. Sendo assim, a função da escola
e da família não acaba nunca, pois cada uma tem de se preocupar com suas responsabilidades de estabelecer relações especificas no tempo
certo.

A relação afetiva do professor ao trabalhar a autoestima da criança desde pequena é muito importante porque “criança com elevado grau de
autoestima apresenta desempenho consistentemente melhor do que crianças de habilidades semelhantes com baixa autoestima” (Fontana;
David, 1998, p. 162). Os autores afirmam que quando o professor proporciona ao aluno confiança em suas próprias conquistas está dando a
oportunidade de sucesso, em vez de cobrar com severidade, pois quando o fracasso ocorrer dentro da sala de aula o aluno sabe que pode
contar com a ajuda do professor, porque há entre ambos um vinculo de amizade, de afetividade. A escola tem ligação com a vida da criança
acolhendo e oferecendo condições para o desenvolvimento da autoestima, autoconfiança e de um bom autoconceito, elementos importantes
para a aprendizagem e para que construa sua identidade, situando-se na realidade para elaborar e realizar com determinação seus projetos de
vida.

Aprendizagem
Celidônio (1998) concebe aprendizagem como um processo em que a personalidade da criança possa se desenvolver autonomamente e não
como reflexo de um certo modelo de individuo que a família ou a sociedade julgam ideal. Assim sendo, o processo de aprendizagem, ao invés
de ser visto de forma mecânica e estática, deve ser visto como um processo ativo em que a aquisição de padrões de conteúdos, por parte de um
individuo, envolve um processo de atribuição de significado àquilo que é aprendido.

José e Coelho (1999) também focalizam a aprendizagem significativa e a aprendizagem como mudança de comportamento em função da
experiência. Ressaltam que é comum as pessoas delimitarem os conceitos de aprendizagem somente ao que é apreendido na escola, como
resultado de ensino. No entanto, devemos compreender os hábitos que formamos e os aspectos da nossa vida afetiva e a assimilação de valores
culturais já construídos. Podemos citar ainda os aspectos funcionais resultantes de toda uma estimulação ambiental recebida pelo individuo no
decorrer de sua vida.

O ato de conhecer é dinâmico; é mais do que memorizar ou reter informações; é mais do que assimilar de modo passivo um reconhecimento
previamente elaborado. Conhecer envolve, além da assimilação, a reelaboração crítica, a reinterpretação ou a recriação de informações e de
conceitos.

Segundo Wallon (1978),  é a partir de suas próprias experiências, das repetições, das diferenças que se apresentam que a criança se torna capaz
de distinguir e reconhecer o que está de acordo ou não com suas expectativas e necessidades, o que consequentemente a leva ao aprendizado.

“A aprendizagem é um processo, isto é, uma atividade interior que tem inicio, desenvolvimento e fim. Nesse sentido, a aprendizagem é algo
muito pessoal, mas que pode ser influenciada, com êxito, por pessoas habilitadas e através de estímulos e técnicas” (Xavier, 2003, p. 124). Essa
concepção supõe a superação da noção comum, na nossa tradição educacional, que identifica o conhecimento somente como conteúdo
expresso nos livros e programas de ensino, como algo pronto e acabado que só poucos podem produzir. Supõe também superar a concepção
de currículo como algo estático, em que as preocupações se limitam somente a colocar ou retirar disciplina do plano curricular, aumentar ou
reduzir a carga horária.

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Para Vygotsky (2003), o processo de internalização do conhecimento envolve uma série de transformações que colocam em relação o social e o
individual. Ele afirma que  todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social; depois, no nível
individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica) e, depois, no interior da criança (intrapsicológica). Partindo desse pressuposto, o papel do
outro no processo de aprendizagem torna-se fundamental e, consequentemente, a mediação e a qualidade das interações sociais. Exemplo disso
é a interação dos alunos em sala de aula e nas suas brincadeiras na hora da recreação, pois um aprende com o outro.

Os educadores têm mostrado crescente preocupação com a preparação da criança que vai ser alfabetizada. É claro que essas habilidades têm
sua função dentro do processo de aprendizagem. Porém, não podemos considerá-las o centro do processo de aprender a ler e escrever. A
criança que aprende a ler e a escrever é um ser que pensa e que busca a compreensão do mundo de objetos à sua volta. Deve-se levar a criança
a pensar e a descobrir os resultados, seja acertando ou errando, pois o aprendizado da criança que aprende a pensar vai além do que viu, pois
ela cria hipóteses, ampliando seu repertório de aprendizagem.

Nesse sentido, Cool (1996, p. 47) afirma:

A aprendizagem é produzida como resultado da interação entre o sujeito e o ambiente e se traduz invariavelmente numa modificação
comportamental, porém, ao mesmo tempo, concede grande importância aos processos mentais ou encobertos que subjazem a esta mudança
comportamental, que são postuladas pelo autor como conceitos, constructos, hipotéticos, a partir de resultados da pesquisa experimental.

Desde o inicio da Idade Moderna, os pensadores se preocupam com o processo cognitivo: como podemos conhecer? Como o ser humano
constrói conhecimento? Por quais caminhos pode se chegar ao conhecimento? Pela razão ou pelos sentidos. Para John Locke (1632-1704), a
criança nasce sem nenhum conhecimento; segundo ele, é como uma tábula rasa ou uma folha de papel em branco, que, pela experiência dos
sentidos, vai gravando as informações e construindo aos poucos o conhecimento por meio das ideias simples e complexas. 

Relação afetiva professor-aluno


Pensar na construção de uma sociedade escolar mais justa e solidária é refletir sobre os valores e afetos que fazem a diferença humana nas
relações escolares no dia a dia, em que cruzamos com alunos que carregam no rosto um ar de insatisfação e de mal-estar consigo mesmos e
com todos à sua volta. O papel do professor é muito delicado porque necessita de um autoinvestimento afetivo na relação professor-aluno que
ajudará no desenvolvimento da autoestima e eficácia na aprendizagem (Chalita, 2001). A relação do professor no desenvolvimento da
autoestima, do autoconhecimento e da autoeficácia de alunos inseguros é muito importante para seu desenvolvimento escolar.

A influência exercida por cada pessoa sobre a criança varia muito; nos primeiros anos ela é influenciada pelos pais e familiares, com o
crescimento aparecem os professores, os colegas e os amigos. Por isso, o mundo escolar é determinante na vida da criança, pois ela passa
grande parte de sua vida e de seu tempo no ambiente escolar com os professores e colegas que contribuem ativamente para o seu
desenvolvimento pessoal (Chalita, 2001) Diante disso, a conquista do disciplinar que possibilita o bom desenvolvimento da autoestima e eficácia
na aprendizagem da criança depende da relação afetiva do professor, do conhecimento e da capacidade de intervir no processo. Sempre há
possibilidade de ajudar e incentivar corretamente a criança no processo ensino-aprendizagem (Zagury, 2007). No relacionamento professor-
aluno, a afetividade facilita o processo de ensino-aprendizagem, pois o forte vínculo afetivo dá à criança maior conforto e segurança nas suas
construções.

Para Arantes (2002, p. 162), “o papel da afetividade para Piaget é funcional na inteligência. Ela é fonte de energia de que a cognição se utiliza
para seu funcionamento”, pois a afetividade é o combustível que a cognição utiliza para funcionar. Por isso, afetividade e cognição são
diferentes, mas inseparáveis em todas as ações simbólicas e sensoriais-motoras. Afeto e cognição são resultado de uma adaptação continua e
interdependente, em que os sentimentos exprimem os interesses e os valores das ações ou das estruturas inteligentes.

A afetividade está esta interligada às funções cognitivas; uma não poderia funcionar sem as outras. O desenvolvimento afetivo se dá
paralelamente ao cognitivo; por isso, para haver cognição na sala de aula é preciso ter afetividade com os colegas, professores e os conteúdos,
mas isso não significa que se não tiver afeto não terá cognição (Arantes, 2002).

De acordo com Taille, Oliveira e Dantas (1992, p. 65),

quando se trata de analisar o domínio dos afetos nada parece haver de muito misterioso: a afetividade é comumente interpretada como uma
energia; portanto, como algo que impulsiona as ações. Vale dizer que existe algum interesse, algum móvel que motiva a ação. O desenvolvimento
da inteligência permite sem dúvida que a motivação possa ser despertada por um número cada vez maior de objetos ou situações. Todavia, ao
longo desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações, e a razão está a seu serviço.

Numa abordagem piagetianas, os autores Taille, Oliveira e Dantas (1992) dizem que a afetividade é a energia que impulsiona a ação; por isso ela
é fundamental para o funcionamento da inteligência, mas não modifica a estrutura. A afetividade é a peça fundamental na constituição da
inteligência, mas não é o suficiente. A inteligência permite organizar o mundo; a afetividade é a energia que move a ação, e a razão possibilita ao
sujeito identificar seus desejos, sentimentos variados que o ajudarão a ter êxito nas suas ações. Para formar pessoas felizes, éticas, seguras de si
mesmas e capazes de se relacionar com o outro e com o mundo que as cerca, faz-se necessária a afetividade desde o nascimento, sendo
fundamental cuidar do aspecto afetivo no processo de ensino-aprendizagem e no desenvolvimento da autoestima, porque a criança é diferente
cognitivamente em cada estágio de seu desenvolvimento; por isso cabe ao professor proporcionar ao aluno situações de interação que
contribuirão na formação da sua identidade. A afetividade pode despertar interesse , motivação, desejos, valores, emoções, perguntas, respostas
e o desenvolvimento da inteligência.

A afetividade é um componente importante para a construção do autoconceito e da autoestima do aluno, pois quando o professor valoriza seu
desempenho na sala, seu rendimento escolar também melhora. O sentimento de insucesso em sala de aula compromete o seu desempenho
escolar; por isso é importante a relação afetiva do professor na construção da identidade dos alunos; essa relação aparece como solução
milagrosa para resolver todos os problemas de aprendizagem (Souza, 2012).

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Nesse sentido, Taille, Oliveira e Dantas (1992) registram a preocupação de Vygotsky de como os indivíduos enfrentam os conflitos diários, tanto
sozinhos quanto em grupo, e até que ponto esses conflitos podem afetar o desenvolvimento da sua aprendizagem, pois o afeto é um elemento
importante para fortalecer e aumentar a eficácia da aprendizagem do aluno, porque integra o aspecto cognitivo, sendo ambas inseparáveis. O
desenvolvimento da afetividade depende, dentre outros fatores, da qualidade de estímulos que o ambiente oferece; por isso, o professor precisa
compreender adequadamente a base afetiva do indivíduo para ter uma compreensão completa do seu pensamento. A interação com o outro
determina padrões afetivos, despertando vários processos de desenvolvimento que estão inteiramente enraizados nas influências mútuas.

Arantes (2002, p. 164) afirma: “Na perspectiva genética de Henri Wallon, inteligência e afetividade estão integradas: a evolução da afetividade
depende das construções realizadas no plano da inteligência, assim como a evolução da inteligência depende das construções afetivas”.

Considerações finais
As teorias da afetividade e do desenvolvimento humano que foram surgindo têm mostrado o quanto essas especificidades intervêm na
individualidade humana; portanto, não podemos estabelecer leis psicológicas gerais que devem ser aplicadas igualmente a todos os seres
humanos. São muitos os esforços praticados atualmente para adaptar o ensino às características individuais de cada um.

A afetividade só é estimulada por meio da vivência, na qual o professor-educador estabelece vínculo de afeto com o educando. A criança precisa
de estabilidade emocional para se envolver com a aprendizagem. O afeto pode ser uma maneira eficaz de chegar perto do educando; a
ludicidade, em parceria, é um caminho estimulador e enriquecedor para atingir uma totalidade no processo do aprender, quando há
aprendizado de fato.

Todo ser humano precisa de limites, mas de carinho e amor também. Um educando aprende o que é respeito e respeita a partir do momento em
que vê o educador como um amigo que tem e espera respeito, como alguém que se preocupa de verdade com ele e que lhe mostra os
caminhos.

Todos esses aspectos devem ser compreendidos como importantes na construção global do individuo. Não intencionando tornar um fator mais
importante que o outro, ressalvo a importância do professor na construção e no desenvolvimento da aprendizagem como mediador dos
interesses que se faz entre a aprendizagem e a afetividade. As considerações apresentadas como positivas na relação professor-aluno descrevem
as mudanças que ocorreram no processo de ensino-aprendizagem ao longo dos últimos anos. A educação ideal é a construção progressiva de
sistemas de significados compartilhados entre professor e alunos e a transferência progressiva do controle do professor para os alunos.

Dentre os fatores analisados quanto à influência da afetividade na aprendizagem, ressalto a motivação como instrumento que permeia todas as
relações de aprendizagem professor-aluno. Mesmo que o aluno que domine as operações formais e disponha de conhecimento adequado,
necessita atribuir um sentido ao que aprende. Tal sentido é transmitido pela interação professor-aluno e engloba os fatores psicológicos de
caráter afetivo, que nessa relação são mediados pela percepção que o aluno tem de si mesmo (autoconceito), a percepção que tem do professor,
suas expectativas e o valor que atribui a si próprio (autoestima).

Foram apresentadas algumas teorias da construção e do desenvolvimento do autoconceito e da autoestima que demonstram a importância da
família, desde as condutas de apego até as práticas educativas realizadas nesse contexto que interferem nas relações sociais que serão
estabelecidas pelo indivíduo durante toda a vida.

É imprescindível, então, que no contexto escolar trabalhemos a articulação afetividade-aprendizagem nas mais variadas situações, considerando-
a essencial na prática pedagógica e não a julgando como simples alternativa da qual podemos lançar mão quando queremos fazer uma
“atividade diferente” na escola. Essa articulação deve ser uma constante busca de todos que concebem o espaço escolar como locus privilegiado
na formação humana. Os conhecimentos são construídos por meio da ação e da interação. O sujeito aprende quando se envolve ativamente no
processo de produção do conhecimento, mediante a mobilização de suas atividades mentais e na interação com o outro. Portanto, a sala de aula
precisa ser espaço de formação, de humanização, onde a afetividade em suas diferentes manifestações possa ser usada em favor da
aprendizagem, pois o afetivo e o intelectual são faces de uma mesma realidade – o desenvolvimento do ser humano.

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ZAGURY, T. Como agir para ajudar. Escola sem conflito parceria com os pais. 7ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.

Publicado em 27 de outubro de 2020

Como citar este artigo (ABNT)


BARBOSA, Eliane dos Santos. Afetividade no processo de aprendizagem. Revista Educação Pública, v. 20, nº 41, 27 de outubro de 2020. Disponível em:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/41/afetividade-no-processo-de-aprendizagem

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