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INTRODUÇÃO
quase todos são marcados por uma história de fracasso e de exclusão vivenciada
em uma escola convencional, durante a infância ou adolescência. É comum o relato
de alunos apontado que tal situação foi determinada por condições econômicas e
sociais desfavoráveis: nos adultos é constante uma história de interrupção da vida
escolar pela necessidade de a criança ajudar os pais na agricultura, situação que,
geralmente, foi agravada pela grande distância entre a residência e a escola ou pela
ausência de um sistema de transporte na época. Mas também é visível a
discrepância existente entre a forma como a escola se organizava e o trabalho
pedagógico desenvolvido, produzindo impactos afetivos negativos que acabaram
gerando nos alunos um sentimento de incapacidade e baixa autoestima.
Por conta dessa realidade, o aluno da Educação de Jovens e Adultos, ao
tentar reatar o vínculo interrompido não pode encontrar um ambiente escolar que
continue produzindo impactos afetivos negativos; ao contrário, o ambiente de sala
de aula deve ser planejado de forma a garantir todas as condições possíveis no
sentido de que as experiências aí vivenciadas produzam impactos afetivos positivos,
o que aumentará a chance de o aluno continuar o seu processo escolar. Deve-se
relembrar que são altíssimos os índices de evasão nas salas de aula e um dos
motivos, certamente, refere-se a essa inadequação acima apresentada. Assim, o
fracasso do aluno na Educação de Jovens e Adultos significa uma história de dupla
exclusão do sistema, que não foi capaz de recompor adequadamente a relação do
aluno com as práticas e conteúdos escolares.
É certo que quando existe um clima de confiança e respeito com o aluno,
temos uma situação mediadora de aprendizagem muito importante, porque a
motivação para o aluno frequentar as aulas reside justamente nos vínculos que o
educando constrói no ambiente educacional.
De modo geral, os indivíduos se desenvolvem ao longo de toda a vida, e faz
parte desse desenvolvimento uma série de aprendizados, vivências e experiências
interpessoais, algumas boas, outras ruins, e o processo é contínuo, cabe ao
professor administrar toda essa gama de informação em seu favor para transformar
alguns fatores em aprendizado significativo, e se tudo isso acontece num ambiente
de respeito e amabilidade, é mais fácil de ter êxito.
Assim, o educador ao oferecer uma melhor condição de desenvolvimento
para o educando, ele pode ser considerado um dos melhores mediadores numa
aprendizagem mais sólida, oportunizando uma relação íntima com o saber além de
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Para Cunha:
Rubem Alves (2004) diz que uma das sabedorias da psicanálise é que
frequentemente aprendemos a gostar de algo através do amor de alguém que
amamos. E se paramos para pensar, é de fato o que acontece. Um dia, conversando
com um grupo de educandos de uma turma da EJA, um dos educandos fez a
seguinte observação: “como pode eu ver uma coruja, e imediatamente me lembrar
da professora, dela dizendo que a coruja é símbolo da sabedoria e da fidelidade, até
eu já estou gostando de coruja de tanto que a professora gosta”.
Indagando ao grupo de educandos, como era a relação entre essa professora
e a turma da sala, eles responderam que a professora sempre se preocupa em
deixá-los à vontade na sala para perguntas, para se colocarem às vezes, até mesmo
contrários a seu ponto de vista, para trocas de experiências, e em algumas
situações, até mesmo se colocar como ouvinte de seus problemas; e que ela
também parecia estar à vontade, em fazer intervenções, corrigir equívocos, e trocar
algumas experiências pessoais.
E ao serem questionados sobre o que pensava da professora, eles disseram
que ela era sempre muito carinhosa e divertida, que sempre demonstrava
preocupação com cada um de seus alunos, sobre o que estavam achando das
aulas, o que estava faltando, que sempre percebia quando um dos seus alunos
estava diferente (agitado, triste, nervoso, cansados), e tenta ajudá-lo. Que sempre
procurava uma forma diferente de para tratar os assuntos das disciplinas, para
tornar as aulas mais “legais”, que eles se sentiam muito bem em frequentar as aulas.
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um auto conceito positivo fazem com que a criança melhore sua capacidade de
aprendizagem devendo ter como primordial estar integrada aos currículos escolares
tornando o aluno um ser pensante e criativo que nutra o desenvolvimento de sua
auto-estima.
Claret (1995) define a auto-estima como “a confiança que o indivíduo tem em
sua capacidade de pensar e de enfrentar desafios. ”
Quando o indivíduo tem auto-estima ele confia em si mesmo, e na sua
capacidade de fazer, de se expressar, de desejar, se sente merecedor de ser feliz.
Uma auto-estima negativa bloqueia o desenvolvimento psicológico e,
consequentemente, compromete o desenvolvimento cognitivo. Assim, é certo
afirmar, que o educador deve proporcionar situações e desafios que estejam a altura
da competência do aluno para que ele se sinta capaz e motivado para prosseguir.
Esse olhar diferenciado para o educando, é também uma forma de afetividade, e
oferece força, resistência e regeneração, conforme ensinamentos de Claret. Assim,
é importante que a escola também ofereça uma situação favorável para a
construção da auto-estima positiva desse educando.
O educador deve se apropriar de uma prática pedagógica de vivência
humanizadora, procurando oferecer a compreensão do educando, e proporcionando
boas relações de convivência em grupo, enfatizando o educando num todo, com o
objetivo desse aluno sentir-se capaz e valorizado.
É relevante ter consciência que as internalizações surgem dentro de uma
convivência em grupo, onde o indivíduo deseja se inserir, e ser aceito. É diante
desse grupo, que haverá um autoconhecimento, quando ele ouve o que dizem a seu
respeito, e dependendo da opinião ou da crítica que lhe é feita, alguns efeitos
positivos ou negativos podem surgir.
A auto-estima é um fator marcante para a aprendizagem do indivíduo, porque
é fruto da interação social, onde a troca de vivências e experiências, havendo um
fortalecimento de vínculos, haverá a aprendizagem.
A auto-estima, nada mais é que o modo como o sujeito interage com os
outros e consigo mesmo. Diante disso, a auto-estima é fundamental para que haja
aprendizado.
Perfilando essa ideia é que Prandini (2004) traz o contexto de que o aluno
enquanto aprendente tem sua auto-estima ligada diretamente ao que sente em
relação aquilo que lhe está sendo ensinado.
Daí a necessidade de trabalhar a sua auto-estima possbilitando a ele não
somente adquirir o conhecimento, mas entender que o adquiriu o orgulho de tê-lo
adquirido e estar pronto para continuar na busca desse aprendizado. A
transformação da sala de aula na prática das atividades pedagógicas favorece o
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[...] é preciso garantir que ele não o abandone. Estratégias para conquistar
os alunos são imprescindíveis até que se construa, em conjunto, uma
proposta de ensino que atenda às suas necessidades. Os alunos adultos
tendem a ser mais participativos e esperam a recepção calorosa do
educados. Ambientes receptivos fazem com que todos fiquem à vontade.
Um exemplo da dimensão da escola na vida dos adultos são as sextas-
feiras, geralmente com baixa frequência de jovens, mas com a participação
plena dos mais velhos. O espaço escolar torna-se um lugar de vivência, de
relacionamento e de lazer para eles. Por isso, é fundamental que sejam
criadas estratégias para tornar o ambiente acolhedor, sobretudo, para que o
aluno se identifique com o espaço. Assim, tal como afirma Maria Conceição
Fonseca, Coordenadora do Ensino Fundamental de Jovens e Adultos do
Núcleo de EJA da Universidade de Minas Gerais, vamos contribuir “para
diminuir a evasão, além de aumentar a auto-estima e o rendimento do grupo
(GENTILE, 2003, p.1).
mini adultos, a verdade é que todos eles buscaram resposta para a mesma
pergunta: Como se dá o processo de desenvolvimento humano.
Por esta premissa, os cursos que preparam o indivíduo para a docência,
tomam como foco a educação infantil, e pouco se fala da Educação básica para
Jovens e Adultos que não frequentaram a escola quando crianças, daí a existência
de profissionais despreparados para assumir uma turma de pessoas mais velhas.
Eis que aqui surge a situação, onde o profissional assume uma turma da EJA e
simplesmente transporta seus métodos e atividades das aulas infantis para o a sala
de aula de Jovens e adultos, e ai se confunde infantilização de metodologias com
afetividade.
Na edição da revista Educação e Sociedade, ano XX, nº 68, Dezembro de
1999, Vera Masagão Ribeiro, menciona uma reflexão de Sérgio Hadad referente a
198 teses acadêmicas sobre a Educação de Jovens e Adultos, onde ele constata
que apenas 26 delas contemplam as reais necessidades das salas de formação
para Jovens e Adultos, os demais trazem inadequações de condutas de professores
frente a este público.
Chamar os alunos da EJA de “minhas crianças”, que é uma ação praticada
por inúmeros professores da EJA, vem sendo criticada dentro do meio profissional
vez que é infantilizar a Educação, além de ter um caráter maternal, que seria
totalmente inviável no trato com jovens e adulto, entretanto, conversando com uma
turma de Jovens e adultos com média de idade entre 19 e 65 anos, os alunos
elogiaram a educadora pela sua atenção, paciência, e acrescentaram suas
exposições contando o que foi que esta educadora os ajudou a conquistar, sempre
demonstrando muito respeito e gratidão por esta professora que não se intimida em
chamá-los de minhas crianças.
Do ponto de vista de Vera Masagão Ribeiro (1999), embora estes alunos de
bom grado aceitam este tratamento, isso nos dá a impressão de que eles são
marmanjões que desajeitadamente estão ocupando uma lugar que não é deles: a
sala de aula, e que assim, seria mais adequado a este grupo a professora dizer: “
meus queridos alunos”, talvez.
É certo que se deve ter cautela no trato com este público, e que se coloque
um limite nesta afetividade, de modo que o professor proporcione sim um ambiente
agradável e propício ao aprendizado, envolvendo os alunos com respeito e amizade,
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respeito à forma de pensar, agir e sentir do outro.” (Texto: A escola pública como
lócus de formação do jovem e do adulto, pg. 6)
O ideal é trazer para o lócus de aula da EJA uma postura única e própria para
aqueles educandos maiores de 14 anos que ainda não completaram o ensino
fundamental, de modo que não houvesse um constrangimento para o educando que
se sentiria fazendo parte daquele contexto, de forma muito tranquila e natural. E
principalmente afastando a ideia de educação compensatória, incentivando uma
educação adequada, e a educação continuada. A EJA deve ser vista como ação
contra a exclusão socioeducativa, afastando totalmente a ideia de assistencialismo e
educação compensatória. A EJA tem a função real de oferecer uma educação
libertadora, colocando o indivíduo numa condição transformadora, a fim dele
construir e transformar sua própria realidade tornando-se independente e capaz,
construindo um senso crítico, a partir de seus aprendizados.
Diante do exposto, é correto afirmar que o sucesso do educando, depende da
qualidade da mediação do educador, da afetividade destinada nesta relação e das
práticas pedagógicas desenvolvidas durante as aulas.
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seja no Brasil, ou na América Latina, a fim de proporcionar uma identidade para esta
modalidade da educação, o que contribuiria veemente na qualidade da educação e
no tratamento mais adequado ao lócus, e para todos os que ali frequentassem.
Em uma rede de educação Municipal da região do estado de São Paulo, foi
instituído um código para que haja uma sistematização da Educação de Jovens e
Adultos, onde se oferece uma abordagem mais voltada para o público jovem e
adulto, além de um currículo mais apropriado ao contexto deste público. Este
método proporciona uma uniformidade de aplicação dos conteúdos dentro da rede
de educação, e auxilia para que os conteúdos sejam contextualizados dentro de
Eixos temáticos, que contemplam as disciplinas regulares, assuntos da atualidade e
questões regionais (em geral do bairro, sociedade familiar, sociedade escolar,
município, estado, etc.) abordando uma questão mais próxima de sua realidade,
sem abandonar os assuntos de cunho universal.
A questão é: será que na prática isso realmente funciona?
Foi realizado uma roda de discussão entre dez profissionais envolvidos
nestas rotinas, cada um de uma escola diferente, e de modo geral, este método tem
dado certo, no que diz respeito ao aprendizado, e às questões pedagógicas, porém
há ainda um caráter e exigência assistencialista, por parte do sistema público, que
leva à já discutida imagem de fragilidade e total impotência do aluno jovem e adulto,
posto que ele é visto como um excluído que precisa ser tratado de forma
diferenciada. Mas qual a medida deste tratamento diferenciado?
O ideal, é que este indivíduo que foi “excluído”, e por tal circunstancia se sinta
oprimido, desmotivado e chegue aos bancos da escola carregados de baixa alto-
estima, seja tratado com respeito e educação, e que a ele seja oferecido motivação,
incentivo e que se encontre nele, algum talento, demonstrando que ele é capaz.
Um corpo fala muitas vezes sem sons e precisa ser lido com cuidado, com
atenção e com respeito pelas formas peculiares, através das quais ele
produz seu discurso. Assim a relação educador/aluno deve permitir tanto a
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
CLARET, Martin. O Poder da Auto-Estima. São Paulo. Ed. Martin Claret Ltada.
1995 – (Coleção: O poder do poder).
FREIRE, Paulo. Carta a uma alfabetizadora. São Paulo: Fascículo, Vereda, 1986.