Você está na página 1de 16

A AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Michelle Macedo Faria de OLIVEIRA1

RESUMO: O presente artigo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, a qual


apresenta uma análise da relação estabelecida entre afetividade e aprendizagem na
Educação Infantil à luz de alguns pressupostos teóricos de referência nesse
assunto, mostrando que a afetividade está diretamente ligada ao desenvolvimento
cognitivo da criança. Apresenta como objetivo compreender como o afeto contribui
para a aprendizagem e o desenvolvimento da criança na Educação Infantil.
Concluiu-se, portanto que a afetividade se faz necessária para o desenvolvimento da
criança em todos os sentidos, porém o foco maior aqui é o desenvolvimento
cognitivo.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil. Afetividade. Aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

A afetividade acompanha o ser humano desde o momento da concepção até


a morte, passando por todas as fases de desenvolvimento. Na educação, ela
permite que todo o processo ensino-aprendizagem aconteça com mais intensidade,
o que a relaciona ao favorecimento e a maiores facilidades nos processos de
formação cognitiva e intelectual.
A relação professor/aluno representa um esforço a mais na busca da
praticidade, afetividade e eficiência no preparo do educando para a vida, numa
redefinição do processo ensino-aprendizagem.
A abordagem dessa temática tem em vista as relações de afetividade e
aprendizagem no cotidiano escolar, a qual vem sendo discutida e refletida com muita
ênfase no contexto educacional, e que visa as mudanças exigidas na atuação
docente no século XXI.

1
Graduação em Matemática pela Faculdade da Região dos Lagos, Especialização em Educação
Infantil pela Faculdade de Educação São Luís de Jaboticabal – SP. E-mail:
michellemacedofaria@gmail.com Orientadora: Prof.ª Esp. Luciana Mialich Scadelai.
2

Wallon possibilita uma maior adequação dos objetivos e métodos


pedagógicos às possibilidades e necessidades infantis, suscita uma prática que
entenda as necessidades da criança no plano afetivo, cognitivo e motor, e que
promova o seu desenvolvimento em todos os níveis. Para ele, a afetividade tem uma
função principal do ser humano, pois é através dela que a criança revela suas
vontades, seus desejos.
Partindo dos estudos feitos por Wallon, Vygotsky e outros autores, pode-se
afirmar que a afetividade é essencial em todos os seres humanos, especialmente no
desenvolvimento infantil. Neste sentido, a educação afetiva consiste na construção
de uma escola a partir do respeito, compreensão, moral e autonomia de idéias. Uma
vez que se pretende capacitar sujeitos críticos, honestos e responsáveis, o
desenvolvimento afetivo é fundamental para qualquer indivíduo. Com isso, a
afetividade contribui para o desenvolvimento da aprendizagem de forma crítica e
autônoma, pois a afetividade não se resume em manifestações de carinho físico,
mas principalmente em uma preparação para o desenvolvimento cognitivo.
(RIBEIRO, 2010).
Assim sendo, fica evidente que a dimensão do afeto para ser praticada no
processo educativo precisa está contemplada na formação dos docentes da
Educação Infantil.
Mediante fontes bibliográficas, que proporcionou maior familiaridade com o
tema, o objetivo desse artigo visa compreender como a afetividade pode contribuir
para aprendizagem e desenvolvimento da criança, pois sendo o professor o principal
mediador do processo ensino-aprendizagem é imprescindível que esteja em
constante reflexão sobre a sua prática pedagógica, visando melhorar a
aprendizagem das crianças, bem como colaborar para o seu desenvolvimento
afetivo, cognitivo e social.

2 UM OLHAR SOBRE A AFETIVIDADE

Notadamente a afetividade deve ter importância central na formação escolar e


integral da criança, desde o ponto de vista de que a criança é um ser complexo que
não é dotado somente de razão, mas antes de afeto, componente fundamental para
que a aprendizagem ocorra, já que está justamente na base da inteligência humana.
3

Wallon (1987) citado por Galvão (2008) ressalta que a emoção é o primeiro e
mais forte vínculo entre os seres humanos. Para ele, as emoções podem ser causa
de progresso no desenvolvimento, podem ser fonte de conhecimento, pois enquanto
expressões do sujeito, as emoções precedem, acompanham e orientam as
atividades de relação, sem as quais elas não teriam como capturar o mundo exterior.
Segundo Galvão (2008), a afetividade é um conceito amplo que abrange
várias manifestações de emoções e sentimentos que podem ser tanto negativos
quanto positivos como o carinho, amor, atenção, raiva, confiança, dentre outros.
A criança começa a criar vínculos afetivos, desde recém-nascida quando é
acolhida pelas pessoas mais próximas que interpretam seus movimentos como
estados afetivos. O pequeno humano inicia a manifestação com vários tipos de
emoções que visam a expressão e a comunicação de algo ao outro, que pode ser o
desconforto ou a alegria, a dor por meio do choro etc.
Para Galvão (2008), é através da afetividade que irá surgir várias
manifestações como a emoção e o sentimento. “As emoções, assim como os
sentimentos são manifestações da vida afetiva”. (p.61).
No intuito de compreender o psiquismo humano, Wallon (1987) citado por
Galvão (2008) volta sua atenção para a criança, destacando que por meio dela é
possível ter acesso à gênese dos processos psíquicos. Para isso busca investigar a
criança nos vários campos de sua atividade e nos vários momentos de sua evolução
psíquica. Para tal compreensão enfoca o desenvolvimento em seus domínios
afetivo, cognitivo e motor.
Segundo Piaget (1964) citado por Almeida (1993), é por meio da interação
familiar que a criança adquire seus primeiros valores e estímulos positivos ou
negativos, que formam os primeiros afetos.
Wallon (1987) citado por Galvão (2008) mostra as diferentes etapas e
vínculos, bem como suas implicações com o “todo” representado pela
personalidade, considerando que o sujeito se constrói na sua interação com o meio.
Jean Piaget (1964) citado por Almeida (1993), outro grande estudioso da
psicologia do desenvolvimento e da inteligência infantil, dedicou-se exclusivamente
ao estudo do desenvolvimento cognitivo. Em sua Teoria Construtivista da
Inteligência, Piaget (1964) afirma que o conhecimento é construído com o tempo e
por meio da interação entre os indivíduos e o meio social.
4

Para este teórico as relações afetivas pressupõem sentimentos bons ou ruins


de acordo com o momento vivido. Nesse sentido, Piaget (1964) citado por Almeida
(1993) ressalta que a afetividade intervém na organização da atividade intelectual, o
saber, a inteligência, o que pode estimular ou não o desenvolvimento intelectual. No
entanto o afeto não é neutro, significa um sentimento e emoção de agrado ou
desagrado, prazer ou dor, amor ou ódio.
No pensamento de Wallon (1987) citado por Galvão (2008) a afetividade e a
cognição têm o mesmo nível de importância no processo de desenvolvimento da
criança. Para este teórico, a afetividade é um termo abrangente que incluem
sentimentos, já a emoção é mais orgânica, são manifestações corporais e tônicas
que o recém-nascido, por exemplo, dispõe para se comunicar com o meio social.
Wallon (1987) citado por Galvão (2008) apropriadamente aponta que o
nascimento da afetividade é anterior da inteligência, no inicio da vida são
expressões motoras que ao longo do desenvolvimento e com a entrada no mundo
das representações simbólicas e da fala cedem cada vez mais lugar à inteligência
embora tenha um lugar privilegiado na vida psíquica do ser humano.

2.1 A afetividade na educação escolar e na relação professor

De acordo com Galvão (2008), a relação professor-aluno tem como principal


fator a emoção, muitas vezes o educador usa o autoritarismo despertando no aluno
o sentimento de oposição. A autora questiona o método tradicional da escola e a
prática pedagógica utilizada. Questiona também que a sala de aula deveria ser um
lugar acolhedor e agradável propiciando a aprendizagem. Nesta linha de
pensamento, o papel da escola é contribuir para que a criança se desenvolva no
aspecto cognitivo, mas também no afetivo e psicomotor, considerando o aspecto
afetivo como um dos elementos essenciais à formação do ser humano. Saltini (2008)
enfatiza que a afetividade é essencial no desenvolvimento da inteligência. A
motivação e o interesse nascem da afetividade.
Por sua vez Cunha (2010) ressalta que o amor e o carinho são os grandes
diferenciais no ato de educar porque quem ama não expõe somente, mas estimula o
educando a vivenciar suas experiências afetivas. Cunha (2010, p.41) acrescenta
ainda que a escola é um lugar privilegiado para a socialização, onde as relações
5

afetivas possuem substancial valor. O aluno possui a necessidade de conviver,


estabelecer relações, adquirir conhecimento.
Ainda segundo Cunha (2010, p.12), muitas crianças e adolescentes não
aprendem e recebem conceito de menos inteligentes, quando, na verdade, estão
afetivamente carentes, afinal, nossa inteligência não só agrega aspectos cognitivos,
mas também, emocionais.(CUNHA, 2010, p.22). Logo conclui-se, que a ausência de
afetividade na relação professor-aluno pode trazer sérias consequências ao
educando, como o desinteresse, baixa auto estima, raiva e alunos introspectivos.
Assim, a relação ensinar-aprender é vista como um desafio a ser enfrentado,
tanto no nível teórico como no nível das práticas pedagógicas, as quais traduzem de
forma concreta essa relação. Almeida (1993) critica que algumas práticas
pedagógicas ainda hoje não sabem sobre a importância da afetividade e do desejo
no processo de aprendizagem, pois baseiam-se no racionalismo e na visão dualista
do homem, considerando a aprendizagem como um processo exclusivamente
consciente, produto da inteligência.
Dessa forma, a pesquisadora propõe uma análise a respeito da relação
ensino-aprendizagem a partir de uma visão integradora do ser humano,
considerando que a afetividade expressa-se entre aquele que ensina e aquele que
aprende.
De acordo Almeida (1993, p.32) cita Pain (1991) que afirma que “o
conhecimento não pode ser transmitido de uma só vez e sua transmissão não se dá
no vácuo, ou seja, na ausência do outro”, é através da relação ensino-aprendizagem
que o aprendiz se apropria do conteúdo ensinado, transformando-o e reproduzindo-o
enquanto conhecimento elaborado. Neste caso Almeida (1993) quer dizer que é
impossível que se aprenda no vazio.
Segundo Pain (1991) citada em Almeida (1993, p.32), “a aprendizagem é um
processo de transmissão de conhecimento e transferência do saber”. Assim, a
relação entre o ensinar e o aprender é sempre vincular, ocorre de início na família, e,
progressivamente, estende-se ao meio social.
Almeida (1993) em seus estudos verificou que segundo o sentido Piagetiano,
o termo inteligência refere-se a uma estrutura lógica e genética o que significa dizer
que a inteligência não é inata e nem adquirida, mas sim o resultado de uma
construção progressiva, tendo como ponto de partida o desenvolvimento cognitivo
que, para Piaget, aparece como uma adaptação mais precisa e objetiva à realidade.
6

A mesma autora enfoca ainda outra dimensão presente na relação ensino-


aprendizagem de fundamental papel, que se refere à afetividade. Destacando Freud
(1974). Este conceitua a afetividade como “estímulos que se originam dentro do
organismo e alcançam a mente.” E o afeto diz Freud “é a expressão qualitativa da
quantidade de “energia pulsional”. (p.32).
Com relação ao desejo, na Teoria Freudiana, este tem por modelo a primeira
experiência de satisfação, o que constitui a essência do desejo. Já para Lacan o
desejo é sempre o desejo do outro e está intrinsecamente ligado a uma falta que
não pode ser preenchida por nenhum objeto real. Desse modo, a pesquisadora
concorda com estes autores concluindo que não existe, em última análise,
satisfação do desejo na realidade e que sua dimensão não tem outra realidade
senão a realidade psíquica.
Almeida (1993) ressalta a importância da afetividade e do desejo na relação
professor-aluno, destacando a posição contrária de vários autores em relação à
Piaget que defende que não há estrutura cognitiva sem afetividade.
Na teoria de Wallon citado por Almeida (1993) as emoções são a fonte do
conhecimento ocasionando progresso no desenvolvimento uma vez que estas
acompanham e orientam as atividades sensório-motoras e intelectuais tornando
possível a representação levando à ‘linguagem imaginada’ repleta de afetividade.
Ainda de acordo com seus estudos realizados por Almeida (1993), em Piaget,
Wallon e Freud citados por Almeida (1993) a afetividade pode vista sob diferentes
perspectivas, ocupa lugar privilegiado no desenvolvimento psíquico e intelectual da
criança e do adolescente, sendo a raiz afetiva a base de toda a atividade psíquica e
intelectual. Ainda nesse contexto, o professor atua como peça fundamental nesse
processo, transferindo seu conhecimento ao aluno, pois, é no campo pedagógico,
das relações professor-aluno, que a inteligência, a afetividade e o desejo se
articulam, confrontando-se com faltas e carências a fim de contribuir para a
construção de novas e infinitas possibilidades de aprendizagem.

2.2 A dimensão afetiva no desenvolvimento da criança

Wallon se dedicou sobre o estudo da afetividade, em busca de fundamentar a


sua pesquisa sobre a psicogênese da pessoa completa, considerada em todos os
aspectos: afetivo, cognitivo e motor. Estudou a grande complexidade que a
7

afetividade e as emoções sofrem no decorrer do desenvolvimento do ser humano.


Para ele a afetividade tem um papel imprescindível no processo de desenvolvimento
da personalidade do sujeito. É entendida como instrumento de sobrevivência do ser
humano, pois corresponde a primeira manifestação do psiquismo. Ele afirma que a
personalidade é construída por duas funções básicas: afetividade e inteligência,
desta forma a afetividade assume um papel fundamental no desenvolvimento da
criança.
A afetividade, assim como a inteligência não surgem pronta, ambas se
desenvolvem ao logo do tempo: são construídas e se modificam de um período a
outro, pois à medida que a criança se desenvolve, as necessidades afetivas se
tornam cognitivas, daí a importância dos pais estarem presentes na vida dos filhos,
pois as emoções representam um papel de destaque nas interações entre bebês e
adultos.
De acordo com Rego:

A sobrevivência depende dos sujeitos mais experientes de seu grupo, que


se responsabilizam pelo atendimento de suas necessidades básicas
(locomoção, abrigo, alimentação, higiene, etc.), afetivas (carinho, atenção) e
pela formação do comportamento tipicamente humano. Devido à
característica imaturidade motora de dependência dos adultos (REGO,
1995, P. 59).

Vygotsky (apud REGO 1995, p. 59) enfoca que os fatores biológicos têm
preponderância sobre os sociais somente no início da vida da criança. No decorrer
do tempo as influências mútuas com as pessoas do seu convívio social e com os
objetos de sua cultura passam a exercer a conduta e o desenvolvimento do seu
pensamento.
Pode-se afirmar, então, que o contexto do desenvolvimento da criança
envolve a linguagem, o espaço físico, a cultura e principalmente as pessoas
próximas, deixando evidente que, a criança retira do meio no qual ele cresce
recursos para o seu desenvolvimento, e que esse meio transforma-se juntamente
com a criança. Portanto, a afetividade exerce um papel fundamental nas correlações
psicossomáticas básicas, além de influenciar decisivamente a percepção, a
memória, o pensamento, a vontade e as ações, e ser, assim, um componente
essencial da harmonia e do equilíbrio da personalidade humana.
8

O estudo sobre a importância da afetividade para a aprendizagem e


desenvolvimento da criança nos revela que desde pequeno o ser humano utiliza a
emoção para se comunicar. O bebê, mesmo antes de desenvolver a linguagem oral,
estabelece uma ligação afetiva com a mãe através de gestos e da linguagem do
choro, ou seja, os movimentos de expressão são transmissores de significados
afetivos. “Assim temos, no primeiro estágio da psicogênese, uma afetividade
impulsiva, emocional, que se nutre pelo olhar, pelo contato físico e se expressa em
gestos, mímica e posturas” (GALVÃO, 1995, p. 45).
De acordo com (WALLON apud REGO, 1995) no estágio impulsivo-
emocional, a predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às
pessoas, quais intermediam sua relação com o mundo físico; a exuberância de suas
manifestações afetivas é diretamente proporcional a sua inaptidão para agir
diretamente sobre a realidade exterior.
Percebe-se então, que a criança, desde o nascimento vivência fases de
desenvolvimento onde predomina ora a afetividade, ora a cognição, e que as
emoções representam um papel fundamental nas interações entre as crianças e os
adultos. Assim sendo, faz-se necessário que nós educadores e educadoras da
Educação Infantil valorizemos as demonstrações de afeto a todas as crianças
indistintamente, pois tal atitude é importante na constituição do sujeito, uma vez que
é nessa fase que a criança vai construindo a sua personalidade.
Quando se refere às demonstrações de afeto, não estamos voltados ao
cuidado apenas de dar beijinhos e colocar no colo, a relação de afetividade com as
crianças vai muito “além da dimensão afetiva e relacional ao cuidado, é preciso que
o professor possa ajudar a criança a identificar suas necessidades e priorizá-las,
assim como atendê-las de forma adequada” (BRASIL, 1998, p. 25).
Corroborando com este pensamento, pode-se entender a afetividade como
expressão de sentimentos e atividades exclusivamente positivas, e que esta envolve
uma complexidade e diversidade maior de sentimentos e atividades, as quais
contribuem como facilitadoras da aprendizagem.

2.3 A aprendizagem e a afetividade


9

A afetividade está sempre presente nas experiências empíricas vividas pelos


seres humanos, no relacionamento com o ‘outro social’, por toda a sua vida, desde
seu nascimento.
Sabe-se que a aprendizagem é um processo que, uma vez iniciado com o
nascimento, só finda com a morte. Isso significa que em qualquer etapa, em
qualquer situação, ou em qualquer momento, o indivíduo está aprendendo, sendo
que, à medida que aprende varia seu comportamento, seu desempenho, sua ótica,
seus enfoques.
Quando se fala em aprendizagem, como uma mudança relativamente
aparente, significa que o aprendido deve estar incorporado ao indivíduo não só em
situação temporária, mas por um tempo razoável. À medida que novas
aprendizagens surgem, vão sendo incorporadas às já existentes, propiciando o
surgimento de novos enfoques, idéias e atitudes.
Segundo Piaget (1982), na medida em que os aspectos cognitivos se
desenvolvem, há um desenvolvimento paralelo da afetividade. Os mecanismos de
construção são os mesmos. As crianças assimilam as experiências aos esquemas
afetivos do mesmo modo que assimilam as experiências às estruturas cognitivas.
Como já foi dito no item anterior:

O aspecto afetivo tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento


intelectual. Ele pode acelerar ou diminuir o ritmo de desenvolvimento. Ele
pode determinar sobre que conteúdos a atividade intelectual se concentrará
(WADSWORTH, 1997, p. 23).

O interesse e o desejo é o que determinará a seleção que faremos das


atividades intelectuais. Ao escolher um livro sobre determinado assunto, a
assimilação do conteúdo desse livro ocorrerá em função do meu interesse sobre
esse tema. Na visão piagetiana esta escolha não é provocada pelas atividades
cognitivas, mas pela afetividade.
A importância da afetividade no processo intelectual é apresentada também
por Hillal:

A afetividade é o suporte da inteligência, da vontade, da atividade, enfim, da


personalidade. Nenhuma aprendizagem se realiza sem que ela tome parte.
Muitos alunos há cuja inteligência foi bloqueada por motivos afetivos; outros
há cuja afetividade não resolveu determinados problemas, apresentando
falha no comportamento. A afetividade constitui a base de todas as reações
da pessoa diante da vida de todos os seus acontecimentos, promovendo
todas as atividades. (HILLAL, 1985, p. 18).
10

Quando a criança ingressa na escola torna-se ainda mais evidente o papel da


afetividade na relação professor-aluno. A escola é a primeira aprendizagem no meio
social da criança e ela traz consigo muitas experiências afetivas.
No decorrer do desenvolvimento, os vínculos afetivos vão ampliando-se e a
figura do professor surge com grande importância na relação de ensino e
aprendizagem.
A criança ingressa na escola carregada de emoções, sentimentos, inclusive o
do medo, daí a importância do período adaptativo das crianças com o mundo
escolar. Sendo que o tempo que ela necessitará para envolver-se neste novo
universo é diferente entre cada criança e dependerá das relações afetivas que terá
com sua professora.
Nesse sentido, para a criança, torna-se importante e fundamental o papel do
vínculo afetivo, que inicialmente apresenta-se na relação pai-mãe-filho e depois vai
se ampliando para a figura do professor.
De acordo com Guillot (2008), uma criança não é um ser de pura razão, os
afetos, as emoções e os sentimentos são essenciais para a constituição do
indivíduo.
A criança pequena não aprende desvinculada de afeto, ela aprende
investindo sua corporeidade, sua sensibilidade e seu imaginário.
Para Guillot (2008, p. 12), “o professor é um mediador entre os valores éticos
universais, entre a criança e a lei, entre a criança e a aprendizagem, entre a criança
e a ação”. A criança é um ser de emoção e ação.

2.4 A relação afetiva e a aprendizagem na sala de aula

Acredita-se que a afetividade, a motricidade, o cognitivo e o social são de


extrema importância para o desenvolvimento da criança. Serão discutidos então a
importância entre a emoção e a atividade intelectual na sala de aula, pois com
relação a este aspecto sabe-se que a relação ensino-aprendizagem é um fenômeno
menos complexo em que diversos fatores interferem na dinâmica da sala de aula.
Vygotsky (apud REGO 1995, p. 120) concebe o homem como um ser que
pensa, raciocina, deduz e abstrai, mas também como alguém que sente, se
emociona, deseja, imagina e se sensibiliza. Ele demonstra a existência de um
11

sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem,


mostrando que cada idéia contém uma atitude afetiva.
É fundamental que os pais brinquem com seus filhos, conversem com eles,
contem histórias abracem, passeiem com eles, pois a participação dos pais na vida
dos filhos é muito importante e traz grandes benefícios para a aprendizagem escolar
da criança. A criança seja em casa, na escola ou em outro lugar está se constituindo
como ser humano, através de suas vivências com o outro, naquele lugar, naquele
momento. A construção do real se dá através de informações e desafios, mas o
aspecto afetivo está sempre presente nessa construção.
Ao contrário da família, na qual a posição é fixa, a escola oferece uma
diversidade de papéis e posições que são essenciais para a construção da
personalidade da criança, contribuindo de forma positiva para a sua aprendizagem e
para o seu desenvolvimento.
Portanto, é dever da escola propiciar, no contexto escolar, atividades de
interações entre os diferentes sujeitos com o objetivo de promoção social e
educativa. Para Vygotsky:

As relações emocionais exercem uma influência essencial e absoluta em


todas as formas de nosso comportamento e em todos os momentos do
processo educativo. Se quisermos que os alunos recordem melhor ou
exercitem mais seu pensamento, devemos fazer com que essas atividades
sejam emocionalmente estimuladas (VYGOTSKY, 2003, p. 121).

Para Wallon, (apud GALVÃO, 2001), a afetividade desempenha um papel


fundamental na constituição e funcionamento da inteligência. Desta forma, faz-se
necessária a conscientização do professor quanto ao seu importante papel como
mediador na construção do conhecimento da criança.
Pode-se, portanto, estabelecer vínculos afetivos entre os alunos, onde as
crianças alcancem o pleno desenvolvimento de suas capacidades cognitivas,
afetivas de relação interpessoal e inserção social. Consequentemente, o professor
ocupa uma função privilegiada no desenvolvimento e aprendizagem da criança.

2.4 O afeto na escola

O ambiente escolar, onde as crianças passam grande parte dos dias, deve
ser aconchegante e transmitir aos alunos a sensação de que ali é a sua segunda
12

casa, pois muitas são excluídas, buscam sanar suas carências na escola, e
pretendem encontrar as referências e exemplos que não encontram em casa no seu
professor.
Wallon foi o primeiro a sugerir que se levasse para a sala de aula a criança e
a suas emoções (NOVA ESCOLA, 2009). Para ele, as emoções têm um papel muito
importante no desenvolvimento de uma pessoa.
No entanto, Galvão traz uma diferenciação entre afetividade e emoção:

As emoções, assim como os sentimentos e os desejos, são manifestações


da vida afetiva. Na linguagem comum costuma-se substituir emoção por
afetividade, tratando os termos como sinônimos. Todavia, não o são. A
afetividade é um conceito mais abrangente no qual se inserem várias
manifestações (GALVÂO, 1998, p.61).

A partir disso, pode-se compreender que o lado afetivo de um indivíduo não


se resume apenas às suas emoções. Estas são apenas uma consequência da
afetividade.
Galvão cita o fato de que as emoções causam efeitos em quem as recebe e
exemplifica:

Imaginemos que, por um motivo qualquer, alguém chega ao trabalho


contente e dando risadas à toa. A pessoa entra na sala de reuniões e
depara-se com um clima tenso, as pessoas brigando e muito irritadas.
Desse confronto de emoções, dois resultados são possíveis. Ou a pessoa
alegre é contagiada pela tensão do ambiente e pára de rir ou, ao contrário,
contagia o grupo com sua alegria (GALVÂO, 1998, p.64).

Assim é também na sala de aula. Se o aluno encontrar um professor tenso,


impaciente e grosseiro, fica difícil reagir com afeto e dedicação, pois acaba se
contagiando pelo clima pesado do ambiente. Do contrário, se encontrar um
professor alegre, esperando ansioso pela sua chegada, lhe desejando boas-vindas,
paciente e disposto a ajudá-lo, certamente tentará fazer o mesmo para agradá-lo.
Considerando a importância das emoções, é essencial fortalecer a afetividade
na relação entre professor e aluno para que esse vínculo possa estimular a melhora
da auto-estema.
Se tiverem um laço de amizade, ambos se sentirão mais seguros e a
convivência em sala d aula será muito mais agradável. Além disso, o aprendizado
passa então a ganhar espaço para acontecer naturalmente.
13

Se a auto-estema, que é fruto de incentivos e atitudes afetuosas estiver baixa,


a tristeza e as preocupações passam a tomar o espaço e a atenção que seria
disponibilizada para a aprendizagem. Aí surgem os problemas e conflitos em sala de
aula.
O professor não tem o poder de apagar os problemas que os alunos
encontram em casa, mas com certeza consegue preencher grandes vazios
emocionais causados pelo abandono e a indiferença de algumas famílias. Cury diz
que “Ser educador é ser promotor de auto-estima” (2003, p. 145), e esta é uma
grande responsabilidade.
Os educadores precisam compreender que encontram todos os dias vários
olhinhos à procura de um fio de esperança, de um motivo para resgatar a alegria
pela vida e pelo aprendizado, e às vezes acabam deixando de fazer simples gestos
que poderiam ser de grande valia para quem tem tão pouco em termos afetivos.
Ser promotor de afetividade é incentivar, apoiar, aconselhar. Pequenas
atitudes podem fazer a diferença para aquela criança que chega à escola totalmente
desmotivada e desanimada, sem vontade de se abrir para novas oportunidades de
aprendizado. Se, ao invés de criticá-la pela sua postura diferenciada em relação aos
demais membros da turma, o professor elogiar seus aspectos positivos, já estará
fazendo um grande bem. Talvez este possa ser o único local onde a criança poderá
ter suas qualidades reconhecidas. Cury enfatiza que “O elogio alivia as feridas da
alma, educa a emoção e a auto-estima. Elogiar é encorajar e realçar as
características positivas. Há pais e professores que nunca elogiaram seus filhos e
alunos” (2003, p. 143).
Vale lembrar que o fator econômico não influencia na questão afetiva. Muitas
crianças de famílias com boa condição financeira são deixadas de lado, esquecidas
em meio a tantos presentes e entretenimentos que os pais julgam os fazer felizes.
Afeto não se compra, se demonstra, se sente. A felicidade momentânea
causada por um belo presente acaba assim que este perde a graça, a utilidade.
Nenhum bem material consegue substituir o afeto.
Muito se discute e questiona sobre a tecnologia, que muitas vezes acaba
roubando o espaço da educação. São muitas as crianças que sabem operar um
computador, mas não sabem ter atitudes de respeito, gratidão, que passam horas
“batendo papo” através das ferramentas de comunicação da internet, mas não
sabem conversar com seus colegas de classe e professores. São os “filhos da
14

tecnologia”, que passam mais tempo com aparelhos eletrônicos como o computador
e o vídeo game do que com seus pais. E a educação e o afeto onde ficam?
Aí podem-se citar os murmúrios sobre a hipótese dos professores um dia se
tornarem desnecessários, serem substituídos pelas máquinas. Isto certamente não
acontecerá, pois professores, assim como os pais, têm um papel tão importante na
vida afetiva dos alunos que máquina nenhuma conseguiria suprir.
Chalita enfatiza que “A máquina reflete e não é capaz de dar afeto, de passar
emoção, de vibrar com a conquista de cada aluno. Isso é um privilégio humano”
(2004, p. 161).
É preciso então que tenhamos em sala de aula professores apaixonados pelo
que fazem, que não medem esforços para alcançar os verdadeiros objetivos de um
educador, e que estejam dispostos a fazer a diferença em uma época em que a
maioria das pessoas preferem a indiferença. Alves traz o questionamento:
“Educadores onde estarão? [...] Professores há aos milhares. Mas professor é
profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário,
não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma
grande esperança” (1993, p.11).
Essa esperança deve nortear o trabalho do educador, que tem em suas mãos
a capacidade de fazer uma criança feliz. Tiba (2002) destaca a importância de uma
criança sentir-se amada, pois o amor transforma-se em auto-estema que vai
acompanhando o seu crescimento e alimentando-se de suas realizações.
Uma pequena conquista reconhecida pelo professor pode significar muito na
vida de um aluno que não tem nenhum tipo de reconhecimento por parte da família.
Isso contribui para que ele se sinta importante e útil na sociedade.

3 CONCLUSÃO

Após concluir essa pesquisa verificou-se que afetividade e educação estão


Intrinsecamente ligadas à aprendizagem. A afetividade influencia de maneira
significativa a forma pela qual os seres humanos resolvem os conflitos de natureza
moral.
A organização do pensamento prepondera o sentimento, e o sentir também
configura a forma de pensar. Nesse sentido, a afetividade perpassa o funcionamento
psíquico, assumindo papel organizativo nas ações e reações.
15

Os pais precisam repensar suas atitudes e responsabilidades na formação


dos filhos. Já o professor precisa ter consciência da importância que tem perante
uma comunidade e permitir que os alunos vejam a escola com uma extensão de
seus lares e encontrem nele uma referência de afeto, para que possam ajudar a
espalhá-lo em um mundo que hoje é tão carente do mesmo.
É fundamental que os professores saibam que toda a criança tem o potencial
de gostar de si mesma, e que aprende a ver a si mesma tal qual as pessoas
importantes que a cercam a vêem, pois, ela constrói sua auto-imagem a partir das
palavras, da linguagem corporal, das atitudes e dos julgamentos dos outros.
É necessário valorizar a atividade docente como um ato de amor e
competência. A formação pela vida e para a vida perpassa caminhos complexos.
Acredito que ter abordado a afetividade nessa pesquisa foi algo que
possibilitou aprendizagens pessoais e principalmente profissionais que jamais serão
esquecidas. Afetividade, emoção e aprendizagem são processos interligados
permeados pelas experiências e vivências que as crianças nos trazem, cabe ao
educador filtrar e aproveitar ao máximo toda essa riqueza de informações.
Tendo em vista a importância da afetividade para a aprendizagem e
desenvolvimento da criança, concluiu-se que é imprescindível que o professor e toda
equipe escolar estejam sempre refletindo sobre suas práticas, atualizando-se com
os estudos mais recentes sobre a Educação Infantil.
Está, portanto, mais do que evidenciada por estudiosos, pesquisadores e
especialistas, a necessidade de se cuidar do aspecto afetivo no processo ensino
aprendizagem, levando em conta que a criança é diferente, cognitiva e afetivamente
falando, em cada fase do seu desenvolvimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, S.F.C. O lugar da afetividade e do desejo na relação ensinar-aprender, in:


Temas em Psicologia, Desenvolvimento cognitivo: linguagem e aprendizagem.
UNB: Sociedade Brasileira de Psicologia, 1993.

ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. 28. ed. São Paulo:
Cortez, 1993.

BRASIL. Referencial curricular nacional para educação infantil, Brasília,


MEC/SEF, 1998, Vol I
16

CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. 17. ed. São Paulo: Gente,
2004.

CUNHA, Eugênio. Afeto e Aprendizagem - Relação de Amorosidade e Saber na


Prática Pedagógica. Rio de Janeiro: WAK, 2010.

CURY, Augusto J. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro:


Sextante, 2003.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento


infantil. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

GUILLOT, Gerard. Artigo, Revista Pátio nº 17, 2008.

HILLAL, Josephina. Relação professor – aluno: formação do homem consciente.


São Paulo: Paulinas, 1985.

PAÍN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4 ed. São


Paulo: Artmed, 1991.

PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro : Forense Universitária,


1985.

RIBEIRO, L.P.L. Afetividade na Educação Infantil: a formação cognitiva e a moral


do sujeito autônomo. Monografia. Faculdade Alfredo Nasser, Instituto Superior de
Educação. Aparecida de Goiânia, 2010.

REGO. Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórica – cultural da


educação, 4 Ed, Petrópolis, RJ: Vozes 1995.

REVISTA NOVA ESCOLA. Edição Especial: Grandes pensadores. São Paulo:


Abril, n.25, jul. 2009.

SALTINI, Cláudio J. P. Afetividade & inteligência. Rio de Janeiro: Walk, 2008.

TIBA, I. Quem ama educa. São Paulo: Gente, 2002.

VYGOTSKY, Lev Semionovitch. Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed,


2003.

WADSWORTH, Barry J. Inteligência e Afetividade da Criança na Teoria de


Piaget. São Paulo: Pioneira, 1997.

WALLON, Henri. Psicologia e Educação da Infância. Lisboa: Editorial Estampa,


1987.

Você também pode gostar