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19/04/2023, 15:51 Revista Educação Pública - Afetividade nas relações educativas: uma abordagem da Educação Infantil

ISSN: 1984-6290
Qualis B1 - avaliação CAPES 2020-2024
DOI: 10-18264/REP

Afetividade nas relações educativas: uma abordagem da Educação Infantil

Ana Claudia Amaro Martins


Professora, licenciada em Pedagogia (UNIRIO, polo UAB/Cederj Cantagalo)

Rosiane de Oliveira da Fonseca Santos


Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF) e em Tecnologias e Educação a Distância (Centro Universitário Barão de
Mauá), licenciada em História (UNIRIO), professora da rede estadual do Rio de Janeiro, articuladora acadêmica da licenciatura de História (UNIRIO, polo UAB/Cederj
Cantagalo)

O vínculo afetivo na escola, em nossa sociedade atual, parece estar se perdendo; ele é constituído inicialmente na Educação Infantil, primeira
etapa de escolaridade, e acaba se perdendo aos poucos no Ensino Fundamental e no Médio, dando lugar a relacionamentos distantes e
conflituosos, marcados por transmissão de conhecimento e avaliação.

O tema afetividade na relação entre professor e aluno traz à memória muitas experiências passadas, como a figura do “professor amigo” que se
perde quando passamos a enxergá-lo como um “mero avaliador” ao longo da segunda etapa do Ensino Fundamental, causando certa negação
por parte da turma em ter uma relação afetiva e de qualidade e com o professor e gerando desmotivação na aprendizagem.

A presente pesquisa aborda a conceituação de afetividade e sua importância no ambiente escolar para o desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem, investigando duas realidades distintas, em uma unidade pública e outra particular. Buscamos articular um diálogo entre
construção do conhecimento e afetividade como dimensões interligadas. 

Nesse contexto, o objetivo primordial deste estudo é investigar como a afetividade pode contribuir para o desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem na Educação Infantil.

Os objetivos específicos são: conceituar a afetividade; refletir sobre a afetividade na relação entre professor e aluno e seu impacto no processo
ensino-aprendizagem; e refletir sobre a importância da afetividade na Educação Infantil.

Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se como recurso metodológico a pesquisa bibliográfica realizada com base na análise de
publicações na literatura clássica, monografias e artigos científicos sobre o tema e a pesquisa de campo em escolas do município de Cordeiro/RJ,
realizada nos primeiros meses de 2020.

Tal estudo certamente contribuirá de forma significativa para nossa vida profissional como educadores e para a área acadêmica, proporcionando
reflexões e discussões sobre a temática.

A concepção de afetividade de Henri Wallon


Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879-1962) foi um destacado filósofo, médico, psicólogo e político francês, conhecido principalmente por seus
estudos sobre o psiquismo humano, dedicando-se à infância. Sua concepção de desenvolvimento engloba de forma integrada as dimensões
intelectual, afetiva e motora.

Lev Vygotsky e Jean Piaget já haviam destacado anteriormente a importância da afetividade, mas Wallon, por sua vez, tratou a temática com
mais profundidade, destacando a afetividade como central na construção do conhecimento e da pessoa. Para Wallon (1954, p. 288),

A afetividade é um domínio funcional cujo desenvolvimento é dependente da ação de dois fatores: o orgânico e o social. Entre esses dois fatores
existe uma relação recíproca que impede qualquer tipo de determinação no desenvolvimento humano, tanto que a constituição biológica da
criança ao nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias sociais da
sua existência, em que a escolha individual não está ausente.

Fernanda Salla (2011), baseando-se em Wallon (1954), explica que, como seres humanos, somos afetados e respondemos a elementos externos –
que podem ser gestos, olhares e atitudes de outras pessoas, objetos que nos chamam atenção, informações que recebemos do meio – e por
sensações internas como medo, alegria e fome, entre outros; a essa condição é dado o nome de afetividade, sendo decisiva para o
desenvolvimento humano.

A afetividade, segundo Wallon, refere-se à capacidade do ser humano de ser afetado positiva ou negativamente tanto por sensações internas
como externas. A afetividade é um dos conjuntos funcionais da pessoa e atua, juntamente com a cognição e o ato motor, no processo de
desenvolvimento e construção do conhecimento (Salla, 2011).

Com base na explicação do conceito de afetividade em Wallon (1954), percebemos que ele não deve ser considerado como sinônimo de carinho
e amor, estando atrelado a estímulos e aprendizagem.

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Souza (2013) aponta que Wallon (1954) dá grande importância às emoções no desenvolvimento humano e é por elas que se externam seus
desejos e vontades, ressalta ainda que,

segundo Wallon, a afetividade depende de dois fatores: o orgânico e o social, que possuem uma importante relação, tanto que as dificuldades de
uma situação podem ser superadas pelas condições mais favoráveis do outro. Essa ligação durante o desenvolvimento do indivíduo modifica a
fonte de onde provêm as manifestações afetivas, ou seja, a afetividade, que no início era uma reação basicamente orgânica, passa a sofrer
influência do meio social, a constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser
amplamente transformados pelas circunstâncias sociais da sua existência, em que a escolha individual não está ausente, a afetividade tem uma
evolução progressiva, se distanciando do fator orgânico e tornando-se mais relacionada ao fator social (Souza, 2013, p. 13-14).

Em seus estudos, Wallon defende que o processo de evolução depende tanto da capacidade biológica do sujeito quanto do ambiente, que o
afeta de alguma forma. De acordo com o autor, o afeto pode ser expresso de três maneiras: a emoção, que se caracteriza por ativar as reações
orgânicas, ou seja, não controlada pela razão; o sentimento,que tem caráter cognitivo, em que o indivíduo expressa o que sente; e a paixão,que é
caracterizada pelo autocontrole – o indivíduo controla suas emoções. A afetividade e o espaço se entrelaçam, possibilitando experiências de
sensações; Henri Wallon afirma:

O espaço não é primitivamente uma ordem entre as coisas, é antes uma qualidade das coisas em relação a nós próprios, e nessa relação é grande
o papel da afetividade, da pertença, do aproximar ou do evitar, da proximidade ou do afastamento (Wallon, 1986, p. 33).

Dessa forma, observa-se que o afeto se faz presente em todos os momentos, movimentos e circunstâncias das ações humanas. O ambiente
possibilita a proximidade ou o afastamento nas sensações de bem-estar ou mal-estar.

Afetividade na relação entre professor e aluno no processo ensino-aprendizagem


A afetividade vai além de sentimentos de amor, ternura e carinho; ela está relacionada a emoção, estados de humor, motivação, atenção,
personalidade, temperamento, dentre outros termos. Ela exerce papel fundamental nas relações, influenciando o interesse na aprendizagem, a
autoestima, a memória, a percepção, a vontade e as ações, favorecendo a construção da personalidade humana. Para Vygotsky (1998, p. 42),

a afetividade é um elemento cultural que faz com que tenha peculiaridades de acordo com cada cultura. Elemento importante em todas as etapas
da vida da pessoa, a afetividade tem relevância fundamental no processo ensino-aprendizagem no que diz respeito à motivação, avaliação e
relação entre professor e aluno.

Ao falar de afetividade na relação entre professor e aluno, é necessário articular com emoções, motivação, postura de conflito do eu, do outro e
disciplina. Em todo meio do qual a criança faça parte, seja família, escola ou outro ambiente, essas questões estão sempre presentes.

Freire (1996, p. 96) ressalta características do professor que envolve afetivamente seus alunos:

O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é, assim, um
desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento,
surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.

Piaget (1999, p. 22) aponta que “existe, com efeito, um paralelo constante entre a vida afetiva e a intelectual”; assim, o educador deve trabalhar a
afetividade da criança, desse modo se desenvolverá a intelectualidade dela.

De acordo com os autores estudados, Vygotsky, Piaget e Wallon, a afetividade é indispensável para o ato de ensinar, facilitando o processo de
aprendizagem.

Atualmente são vistos com frequência nas salas de aula conflitos, alunos desafiando o educador; diante disso, é de extrema importância uma boa
relação de afetividade para contornar esses desafios de convivência entre professor e aluno. Quando em sala de aula se tem uma relação de
confiança, o ensino se torna mais eficaz e prazeroso, favorecendo um ensino com trocas de conhecimentos; o aluno tem mais disposição para
aprender e os educadores se sentem mais motivados.

Assim, em seu trabalho cotidiano, o professor deve atuar de modo que alguns sentimentos e emoções não se façam presentes:

evitar despertar nas crianças determinados sentimentos negativos, como hostilidade, desprezo, ciúme e inveja que em nada contribuem para o
convívio em sociedade (...), despertando a cooperação e não a rivalidade. (...) A família e a escola têm uma participação íntima, pois são um meio
favorável à aprendizagem de sentimentos que marcam a vida da criança. Por isso, já nos primeiros anos escolares, o professor deve ser competente
em preparar a criança para viver em coletividade (Almeida, 2008, p. 353).

Segundo Paulo Freire (1980), para que haja a construção do conhecimento, é necessário que haja em sala de aula o debate e o respeito.

O diálogo é o encontro entre os homens, mediatizados pelo mundo, para designá-lo. Se ao dizer suas palavras, ao chamar ao mundo, os homens o
transformam, o diálogo impõe-se como o caminho pelo qual os homens encontram seu significado enquanto homens; o diálogo é, pois, uma
necessidade existencial (Freire, 1980, p. 42).

Observamos como o diálogo é importante em sala de aula na mediação do conhecimento; entretanto, para que haja diálogo é necessário ter
uma relação positiva e afetiva para haver trocas de experiências, questionamentos sobre o tema e aprendizado em conjunto. Os alunos se
sentirão confortáveis para expressar conhecimentos e dúvidas.

Sendo assim, dialogo e o afeto são ingredientes fundamentais para a formação de uma pessoa, com exercício do diálogo e uma forma de
despertar o afeto e desenvolver o ato de escutar, de respeitar, de entender, de aprender e de ensinar. Nesse sentido, a afetividade está ligada a
várias experiências que o sujeito pode ter, seja na família, no ambiente escolar, na comunidade ou sociedade. Para a construção de laços
saudáveis e duradouros, é necessário ter afeto, e essa experiência pode influenciar no decorrer da vida.

Conforme Piaget (1976), o afeto é fundamental para ocorrer o desenvolvimento do raciocínio e inteligência:

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vida afetiva e vida cognitiva são inseparáveis, embora distintas. E são inseparáveis porque todo intercâmbio com o meio pressupõe ao mesmo
tempo estruturação e valorização. Assim é que não se poderia raciocinar, inclusive em Matemática, sem vivenciar certos sentimentos, e, por outro
lado, não existem afeições sem um mínimo de compreensão (Piaget, 1976, p. 16).

Percebe-se assim a importância do papel da afetividade na construção do processo de ensino-aprendizagem. Ela favorece um ensino que levanta
questionamentos, participações e relações sociais entre os sujeitos, tornando-se um impulso para que haja interesse nas ações e atividades
propostas.

A afetividade na Educação Infantil


A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996), em seu Art. 29, preconiza que: “A Educação Infantil, primeira etapa da Educação
Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e
social, complementando a ação da família e da comunidade”. Na Educação Infantil, inicia-se a escolarização da criança, há uma integração entre
o educar e o cuidar; nesse aspecto, o professor exerce papel fundamental no desenvolvimento da afetividade.

O profissional que atua diretamente com a criança precisa desenvolver competências específicas na área, como perfil afetuoso, senso de justiça,
atenção, solidariedade, cuidados, atitudes cooperativas, princípios éticos etc.

Crianças precisam de afetividade para aprender e se desenvolver seguras e felizes. Quando a criança não faz uso da linguagem oral, utiliza a
emoção para se comunicar com todos ao redor, através do choro e sorriso, por exemplo.

Jean Piaget (1976) destaca o desenvolvimento intelectual em dois componentes: o cognitivo e o afetivo; ambos caminham juntos. Para o autor,
toda atividade e o pensamento são ações cognitivas, representadas pelas estruturas mentais e o afeto, por uma estrutura energética, a
afetividade.

O conhecimento é construído e internalizado em nossas mentes pela forma que nos é apresentado. O olhar especial do educador para o
educando é de suma importância, pois é para eles que dedica seu trabalho, tempo e esforços.

Paulo Freire, em seu livro Professora, sim, Tia, não: cartas a quem ousa ensinar (1997), convida a uma reflexão sobre o embate entre os
significados sociais travados entre tia e professora. A figura do educador na sociedade por muito tempo se tornou escura e desmerecida,
considerada por muitos sem importância e que pode ser desempenhada por qualquer um, ou mesmo ser escolhida por não ter opção e sentir
obrigada a “lidar com crianças”. Nisso, vemos que não se espera que o professor seja uma segunda mãe, nem que seja carinhosa como uma tia,
mas que seja um profissional afetuoso, que passe segurança para criança.

O trabalho do professor em sala de aula não se resume na transmissão de conhecimento, tampouco no cuidado; é um trabalho complexo de
articulação entre teoria adquirida durante sua formação e a prática cotidiana, promoção de momentos para construção do conhecimento,
conversa, escuta, troca, incentivo e afetividade que contribuem para a aprendizagem.

Na Educação Infantil a relação entre professor e a turma deve ser positiva; quando o professor é afetuoso, ou seja, atencioso, demonstra se
importar com o aluno, busca sempre interagir e despertar interesse no aluno, as crianças desenvolvem melhor o raciocínio, a autoestima e o
pensamento.

Souza (2013) ressalta que

as relações afetivas nas salas de aula dependem muito das atitudes do professor. Se ele se mantiver indiferente ou expressar raiva em relação aos
alunos, a tendência é que essas atitudes causem reações recíprocas nos alunos, gerando um ambiente conflituoso que dificultará a aquisição do
conhecimento. As emoções e os sentimentos das crianças influenciam o seu desempenho escolar. A relação que elas estabelecem com o meio tem
um importante papel na aprendizagem (Souza, 2013, p. 20-21).

Quando se fala de afetividade na EDUCAÇÃO INFANTIL, é acolher a criança a um ambiente totalmente diferente de sua casa, é proporcionar
trocas de experiências, estímulos à aprendizagem, despertar para as motivações; não se trata de abraçar o tempo todo e fazer demonstrações de
carinho. O professor nessa fase inicial deve preocupar-se com aspectos que influenciam no desenvolvimento cognitivo da criança como um
ambiente escolar com afetividade, segurança e confortável.

A Educação Infantil é a etapa em que a criança comece a construir sua identidade, e nesse momento é de suma importância que a criança se
sinta amada, acolhida, aceita e ouvida para que possa despertar para a vida, a curiosidade e a busca pelo conhecimento.

Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) acerca dos Objetivos Gerais da Educação Infantil, são apresentadas
oito diferentes capacidades que as crianças devem desenvolver a partir da prática na Educação Infantil:

desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações;
descobrir e conhecer seu próprio corpo, potencialidades e limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a saúde e bem-estar;
estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua autoestima e ampliando suas possibilidades de comunicação e interação
social;
estabelecer e ampliar as relações sociais, aprendendo a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e
desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração;
observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio
ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação;
brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades;
utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a
compreender e ser compreendido, expressar suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados,
enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva;
conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade (Brasil,
1998, p. 63).

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O Referencial para a Educação Infantil propõe uma visão do professor como mediador do conhecimento, auxiliando a criança a desenvolver sua
identidade, sua autonomia, sua confiança e despertando o olhar crítico e atuante na sociedade. Para que todos esses objetivos propostos pelo
referencial sejam cumpridos de forma satisfatória, é imprescindível que o professor na sua sala de aula estabeleça vínculos afetivos. Sendo assim,
observa-se que a afetividade proporciona um ensino prazeroso e produtivo.

Metodologia de pesquisa
Para Minayo (1993, p. 23), a pesquisa é uma "atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. (...) É uma atividade de
aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados". Partindo dessas
considerações, com o intuito de alcançar o objetivo deste artigo foi realizada uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo.

Para a construção da fundamentação teórica, a pesquisa bibliográfica foi realizada em artigos científicos, livros e dissertações de diversos
autores. Para Köche (1997, p. 122), trata-se de “conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes sobre determinado tema ou
problema, tornando-se instrumento indispensável a qualquer tipo de pesquisa”.

Quanto aos procedimentos adotados na coleta de dados na pesquisa de campo, empregou-se um levantamento por questionários fechados em
contato direto com as pessoas; ele foi aplicado a professores de uma escola pública, que denominaremos A, e outra particular, que
denominaremos B, ambas no município de Cordeiro/RJ, com intenção de investigar duas realidades distintas. Optamos, por questões éticas, por
manter o nome das escolas em sigilo.

Resultados e discussão
De início, a pesquisadora procurou conhecer a realidade das escolas pesquisadas em visitas e conversas com os docentes e demais funcionários;
após isso, apresentou os questionários aos professores e pediu a colaboração no seu preenchimento, explicando a finalidade.

A pesquisa de campo, com entrevistas com questionário e algumas perguntas via diálogo interativo, foi realizada com 20 professores, sendo 10
professores do setor público e 10 professores do setor privado, todos da Educação Infantil, que lecionam nas turmas de Maternal, Pré I e Pré II
da escola A (pública) e Maternal, Grupo I, Grupo II e Grupo III da escola B (particular), a fim de investigar suas concepções de afetividade, a
presença da afetividade em seus planejamentos e em sua prática de ensino.

A partir da coleta de dados, verificamos a formação dos professores: na escola A (pública), são 3 com apenas o Curso Normal, 4 com graduação
e 3 com pós-graduação. Na escola B (particular), são dois com apenas o Curso Normal, 5 com graduação e 3 com pós-graduação. 

A formação inicial e a continuada são fundamentais para a atuação do profissional com qualidade e atendimento aos alunos para seu
desenvolvimento integral. Os professores reconhecem isso em suas falas, e os que têm apenas o Curso Normal afirmam ter planos de dar
prosseguimento aos estudos em uma graduação.

Santos (2019) aponta que a formação do professor deve ser continuada, se originando na formação inicial e se prolongando por toda a vida;
além de capacitação, exige-se reflexão sobre a prática desenvolvida, e, se necessário, fazendo mudanças. 

Acerca do tempo que leciona, apuramos os seguintes resultados:

Tempo de atuação profissional como professor docente Nº de professores da Escola A Nº de professores da Escola B

(pública) (particular)

Até 3 anos 3 4

Entre 3 e 6 anos 3 2

Mais de 6 anos 1 1

Mais de 9 anos 3 3

Compreendemos que a formação docente também se faz na prática cotidiana, na lida diária é que o professor reinventa suas práticas
pedagógicas e as adapta a cada novo desafio; o tempo de docência mostra maturidade, mas não é um fator determinante na qualidade do
trabalho.

Ao serem questionados sobre o conceito de afetividade, apenas um entrevistado respondeu que compreendia como sinônimo de carinho e
amor; os demais compreendem a Afetividade como um conceito mais amplo, relacionado às ideias de autores como Piaget, Wallon e Vygotsky.

Todos os 20 entrevistados acreditam numa relação entre a afetividade e o desenvolvimento cognitivo do aluno; essa relação foi verificada nos
estudos de revisão bibliográfica feitas no tópico anterior.

Os professores foram unânimes em afirmar que a afetividade está presente em sala de aula, planejando as aulas levando em conta a afetividade,
e acreditam que o afeto é necessário para gerar motivação e um ensino prazeroso.

Souza (2013) aponta que:

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A afetividade é fundamental para a construção das informações cognitivo-afetivas nas crianças e consequentemente nas relações que devem ser
estabelecidas entre professor e aluno, é por meio dela que acontece a identificação com as outras pessoas. O afeto, a sensibilidade e a maneira de
se comunicar do professor vão influenciar o modo de agir dos alunos e facilitar o desenvolvimento cognitivo, já que durante o processo de
aprendizagem não se consegue separar no aluno o intelectual e o afetivo (Souza, 2013, p. 11).

O educador deve estar atento à construção dos vínculos afetivos com as crianças e as famílias, principalmente durante o período de adaptação
no ambiente escolar na Educação Infantil, em que o vínculo afetivo é o primeiro laço que dá segurança e impulso para todas as etapas do
desenvolvimento da criança. Os aspectos afetivos influenciam o desenvolvimento cognitivo da criança, é necessário ter vontade de aprender,
estar confortável e motivado no ambiente escolar para de fato ocorrer uma construção de conhecimento com qualidade.

A Educação Infantil deve proporcionar um ambiente de muito aprendizado e bem aconchegante, capaz de proporcionar segurança e
desenvolvimento das emoções e habilidades das crianças, despertando o desejo de fazer parte do grupo, promovendo suas relações sociais, de
maneira que possam ser capazes de demonstrar sua capacidade de superar desafios.

Nessa fase de desenvolvimento da criança, a relação de afetividade e ensino é de suma importância para um ensino de qualidade que contribui
na formação da criticidade, criatividade, felicidade e solidariedade; é necessário cativar os alunos para despertar seu interesse, proporcionando a
eles momentos gratificantes e de desenvolvimento por completo.

Considerações finais
A afetividade é fundamental para a vida humana; na infância, primeira etapa da vida, as ações humanas são desenvolvidas por estímulos afetivos,
internos ou externos, que vão contribuindo para o desenvolvimento da criança em interação com o mundo a seu redor, o que influencia também
toda sua vida.

Considerando a afetividade como de suma importância para o desenvolvimento da criança em seus primeiros anos de vida, entende-se também
como necessário seu conhecimento teórico por educadores e sua presença na escola contribuindo no processo de desenvolvimento do ensino-
aprendizagem.

Vários estudiosos dão grandes contribuições acerca da importância da afetividade e seus impactos, entre eles Henri Wallon, Jean Piaget e Lev
Vygotsky; é muito importante que os educadores tenham em mente tais ideias ao elaborar suas práticas pedagógicas, com a compreensão de
que afeto vai além de sentimentos, gestos, abraços, beijos, colos; engloba muitos aspectos cognitivos, afetivos e emocionais.

A criança precisa ser ouvida, ter sua opinião valorizada, ter seu ritmo e seu tempo respeitados, receber estímulos e ser motivada para que possa
se desenvolver e aprender de forma efetiva, construir sua autoestima, autonomia e pensar de forma crítica. Assim o professor deixa de ser um
transmissor do conhecimento para ser um mediador na aprendizagem em sala de aula, contribuindo para a preparação de crianças inteligentes e
felizes. 

Compreendemos que a afetividade no ambiente da Educação Infantil é indispensável, pois traz benefícios indispensáveis para toda a vida da
criança. O desenvolvimento da afetividade na escola, nas práticas pedagógicas, é um instrumento que contribui no cuidado e atitudes do
professor para que não afete a criança de forma negativa.

Na pesquisa de campo aplicada, analisamos que, nas duas escolas estudadas no município de Cordeiro/RJ, os professores de Educação Infantil
dão grande importância à afetividade e procuram planejar suas aulas levantando a interação afetiva em sala de aula, pois compreendem a
relação entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo do aluno. Os educadores preocupam-se em proporcionar um ambiente aconchegante,
transmitindo carinho, amor, segurança e afeto às crianças, desenvolvendo sua capacidade de aprender.

Ao abordar a Educação Infantil, as temáticas desenvolvimento e aprendizagem merecem atenção especial, pois, muito além do cuidar, o
educador precisa criar condições para favorecer esse processo, proporcionando um ambiente agradável, onde a criança possa ter além do
aprendizado sobre o mundo a seu redor um desenvolvimento afetivo; isso se faz quando em sua prática pedagógica o educador busca favorecer
o ensino por meio do lúdico, da interação, da aceitação e do respeito.

Referências
ALMEIDA, A. R. S. A afetividade no desenvolvimento da criança: contribuições de Henri Wallon. Inter-Ação, v. 33, nº 2, p. 343-357, jul./dez. 2008.

BRASIL.Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF,1998.

______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. 15ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação - uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 4ª ed. São Paulo: Moraes, 1980.

______. Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar.São Paulo: Olho D’Água, 1997.

______. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MINAYO, Maria Cecilia de Souza. O desafio do conhecimento. São Paulo: Hucitec, 1993.

PIAGET, J. A construção do real na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

______. Seis estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999.

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SALLA, Fernanda. O conceito de afetividade de Henri Wallon. Nova Escola, 1 de outubro de 2011. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/264/0-conceito-de-afetividade-de-henri-wallon. Acesso em: 07 de jan. 2020.

SANTOS, Rosiane de Oliveira da Fonseca. Algumas considerações sobre a Educação Inclusiva e as novas exigências para a formação de
professores. Educação Pública, v. 19, nº 12, 25 de junho de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/12/algumas-
consideracoes-sobre-a-educacao-inclusiva-e-as-novas-exigencias-para-a-formacao-de-professores.

SOUZA, Cristiane Belarmino de. A afetividade na visão de docentes da Educação Infantil. 2013. 42 f. Monografia (Especialização em Educação:
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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

WALLON, Henri. Les mileux, les groupes et la psychogenèse de L’enfant. Enfance, Paris, v. 4, nº 3, p.287-296, mai/oct. 1954.

______. L’evolution psychologique de l’enfant. Paris: Collin, 1986.


Publicado em 17 de novembro de 2020

Como citar este artigo (ABNT)


MARTINS, Ana Claudia Amaro; SANTOS, Rosiane de Oliveira da Fonseca. Afetividade nas relações educativas: uma abordagem da Educação Infantil. Revista
Educação Pública, v. 20, nº 44, 17 de novembro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/44/afetividade-nas-relacoes-
educativas-uma-abordagem-da-educacao-infantil

Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional (CC BY-NC 4.0)

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