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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIVINÓPOLIS

Lidiane Alves da Silva

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO NOS


PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

DIVINÓPOLIS
2022
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIVINÓPOLIS

Lidiane Alves da Silva

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO NOS


PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Pedagogia do
Centro Universitário UNA Divinópolis, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Licenciado(a) em Pedagogia.

Orientadora: Profa. Me. Andreia Mendes


Costa.

DIVINÓPOLIS
2022
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
DIVINÓPOLIS CURSO DE PEDAGOGIA

Lidiane Alves da Silva

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO NOS


PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª Orientadora Me. Andreia Mendes Costa

Prof.ª Avaliadora Me. Cíntia de Oliveira Teixeira Sousa

Prof.ª Avaliadora Me. Nara Freitas Simões

Aprovado em / /
A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO NOS
PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Lidiane Alves da Silva1


Andreia Mendes Costa2

RESUMO
Este estudo busca demonstrar que a afetividade está entrelaçada na relação
professor-aluno, influenciando significativamente a aprendizagem na Educação
Infantil, tendo em vista que esta é a fase em que a criança começa a entender as
mudanças físicas e sociais e a adaptar-se a elas, criando conexões com o meio em
que se insere. Nesse sentido, assume-se como objetivo entender a importância da
afetividade nas práticas pedagógicas da Educação Infantil e sua influência na
aprendizagem de crianças, nessa etapa escolar. Para tanto, são utilizadas como
metodologias a revisão de bibliografia e a pesquisa de campo de cunho qualitativo.

Palavras-chave: Educação Infantil, Afetividade, Desenvolvimento, Educação


Emocional

ABSTRACT
This study seeks to demonstrate that affectivity is intertwined in the teacher-student
relationship, significantly influencing learning in Early Childhood Education, given that
this is the phase in which the child begins to understand and adapt to physical and
social changes, creating connections with the environment in which it is inserted. In
this sense, the objective is to understand the importance of affectivity in the
pedagogical practices of Early Childhood Education and its influence on children’s
learning at this school stage. For that, the bibliography review and qualitative field
research are used as methodologies.

Keywords: Early Childhood Education, Affectivity, Development, Emotional


Education.

1Graduanda em Pedagogia pelo Centro Universitário Una. E-mail: lidianealves097@gmail.com


2Mestra em Gestão e Avaliação da Educação Pública. Professora Orientadora do Centro Universitário
Una. E-mail:andreia.m.costa@animaeducacao.com.br
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... .6

2. REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................... 8

2.1. Afetividade na educação infantil............................................................................ 8

2.2. Afetividade nas relações professor e aluno........................................................... 9

2.3. A influência da afetividade na aprendizagem..................................................... 10

3. METODOLOGIA.....................................................................................................13

4. ANÁLISE DE DADOS............................................................................................14

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................19

REFERÊNCIAS..........................................................................................................20
6

1. INTRODUÇÃO
Conforme postula a Base Nacional Comum Curricular (BNCC 2017), a
Educação Básica deve assegurar a crianças e estudantes a formação integral,
buscando o desenvolvimento das dimensões cognitiva e socioemocional. Neste
contexto, este estudo está pautado na compreensão da afetividade na relação
professor e estudante, e em sua influência no processo de ensino e de aprendizagem,
em especial na Educação Infantil.
Segundo Wallon (1968), a inteligência surge da afetividade e estabelece com
esta uma relação de conflito, e é por meio dela que os significados no movimento do
aprender são atribuídos. Assim, o papel do professor é o de mediador, pois ele cria e
fortalece o vínculo com o outro. A afetividade desenvolve o ser e o seu compromisso
com o outro.
Ainda conforme o referido teórico, a criança acessa o mundo simbólico por meio
das manifestações afetivas que permeiam a mediação que se estabelece entre ela e
os adultos que a rodeiam. Assim, o autor defende que a afetividade é a fonte do
conhecimento. Nessa perspectiva, o professor tem um grande desafio para a
construção da aprendizagem do aluno, devendo considerar a individualidade de cada
estudante e as suas necessidades dentro de sala de aula.
A presente pesquisa desenvolve-se sobre a seguinte questão: de que maneira
a afetividade entre aluno e professor influencia os processos de ensino e
aprendizagem na Educação Infantil? Assume-se como objetivo geral: entender a
importância da afetividade e sua influência na aprendizagem de crianças nessa etapa
da Educação Básica. E como objetivos específicos são elencados: I) realizar estudo
do referencial teórico construído em torno do tema; II) investigar, por meio de pesquisa
de campo, quais são as percepções de professores da Educação Infantil acerca das
influências da afetividade na aprendizagem das crianças.
O desenvolvimento do estudo justifica-se porque na Educação Infantil a
convivência entre professor e alunos é intensa, sendo o estabelecimento do vínculo
afetivo entre docente e discente importante para que se desperte na criança o desejo
pela aprendizagem. Para tanto, são utilizadas como metodologias a revisão de
bibliografia e a pesquisa de campo de cunho qualitativo.
O trabalho está organizado nas seguintes etapas: introdução, incluindo uma
breve apresentação do tema, a questão de pesquisa, os objetivos geral e específicos
e a justificativa para a escolha da temática; a fundamentação teórica, respaldando a
7

pesquisa por meio do levantamento de estudos realizados por autores reconhecidos


pela comunidade científica; a metodologia, detalhando o desenvolvimento da
pesquisa qualitativa; a análise dos dados coletados, seguida das considerações
finais, que destacam as conclusões do estudo.
As páginas a seguir apresentam o desenvolvimento do que foi apresentado em
síntese nesta introdução.
8

2. REFERENCIAL TEÓRICO
Esta parte do trabalho desenvolve-se com o intuito de estabelecer
fundamentação teórica que permita a compreensão da afetividade na Educação
Infantil, sua manifestação nas relações entre professor e aluno na mencionada etapa,
bem como a influência dela na aprendizagem dos estudantes. Para melhor
abordagem dos assuntos, o texto foi dividido nos subtítulos que se seguem.

2.1. Afetividade na Educação Infantil


A Educação Infantil é uma das fases de escolarização mais importantes para o
desenvolvimento da criança. Abarca um momento da vida do indivíduo em que ele
está se desenvolvendo nos aspectos motor, cognitivo, intelectual e emocional. Assim,
o trabalho pedagógico nessa etapa, considerando a afetividade, contribui para a
constituição de um adulto mais seguro.
Para Wallon (1968), duas funções básicas constituem a personalidade:
afetividade e inteligência. A primeira está pertencente às sensibilidades internas e se
orienta em direção ao mundo social e para a construção da pessoa. A inteligência, por
sua vez, relaciona-se às sensibilidades externas e está direcionada para o mundo
físico, para a construção do objeto. Nas relações sujeito e objeto do conhecimento, a
afetividade se faz presente na mediação sutil que estimula a empatia e a curiosidade,
fazendo a criança avançar em suas hipóteses no processo de desenvolvimento e
aprendizagem. Nesse sentido, razão e emoção não se separam, visto que uma não
acontece sem a outra.
Segundo Wallon:

A afetividade é um domínio funcional, cujo desenvolvimento depende da ação


de dois fatores: o orgânico e o social. Entre esses dois fatores existe uma
relação recíproca que impede qualquer tipo de determinação no
desenvolvimento humano, tanto que a constituição biológica da criança ao
nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser
amplamente transformados pelas circunstâncias sociais da sua existência
onde a escolha individual não está ausente (WALLON,1978, p. 288).

Assim, conforme o autor, a afetividade representa um domínio significativo na


formação do ser humano, sobretudo na primeira infância, quando a criança precisa de
atuação mais intensa e próxima do professor para o desenvolvimento da
aprendizagem.
9

No próximo subtítulo, aborda-se a importância do desenvolvimento da


afetividade entre professor e estudantes.

2.2. Afetividade nas relações entre professor e aluno


A relação interpessoal professor-aluno é um fator determinante para o
desenvolvimento do ensino-aprendizagem. Para Vygotsky (1998, p. 42), a afetividade
é um elemento cultural importante em todas as etapas da vida da pessoa,
influenciando a aprendizagem no que diz respeito à motivação, à avaliação e à relação
entre professor e aluno.
Silva (2001) enfatiza que, quando a afetividade se faz presente no cotidiano da
sala de aula, seja pela postura do professor, pela dinâmica de seu trabalho ou nas
interações entre sujeitos, os estudantes sentem-se mais seguros.
A relação estabelecida, dentro de sala de aula, entre docente e discente,
envolve uma cumplicidade, uma troca para a construção de aprendizagens. Quando
o conhecimento do professor é apenas passado para o aluno sem que haja esse
processo de troca, a afetividade acaba ficando ausente das relações, deixando de
fortalecer o interesse do estudante em aprender.
Neste ponto, La Taille et al (1992) destaca que Piaget distingue relações de
coação e cooperação nas situações de ensino e aprendizagem. O autor chama de
coação social os tipos de interação em que pesa, entre os indivíduos, elementos de
autoridade ou de prestígio. Isso pode ser percebido quando, na relação entre
professor e aluno, os conhecimentos são apresentados de maneira absoluta e
meramente transmissiva, sem possibilidade de diálogo. Conforme o autor, as relações
de cooperação constituem-se aquelas em que o desenvolvimento é possibilitado
justamente pela não imposição de saberes e crenças, havendo espaço para a
constituição dialógica do conhecimento, com participação de professor e aluno, de
maneira equilibrada para a construção da aprendizagem. Compreende-se que o maior
espaço de manifestação dado ao aluno nas relações de cooperação favorece o
desenvolvimento de sua capacidade de autoexpressão e comunicação, oportunizando
que segurança, autonomia e criticidade sejam estimuladas desde cedo nas crianças.
Ainda segundo as ideias de Wallon (1968, p. 42), “a afetividade seria a primeira
forma de interatividade com o meio ambiente e a motivação primeira do movimento
[...]. As emoções são, também, o eixo do desenvolvimento do terceiro campo
10

funcional, as inteligências”. O autor estabeleceu suas ideias em quatro elementos


básicos que se inter-relacionam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a
inteligência e a formação do eu como pessoa. Para Wallon (1978, p.25): “As emoções
têm um papel predominante no desenvolvimento da pessoa. É através delas que o
aluno manifesta seus desejos e suas vontades [...]”.
Podemos ressaltar que é na Educação Infantil que as emoções são
desenvolvidas mais consideravelmente. No entanto, a não consideração das
necessidades afetivas, em prol das cognitivas e motoras, afeta diretamente o processo
de aprendizagem nessa etapa da Educação Básica.
Assim, à pré-escola cabe o papel de preparar a emancipação da criança,
reduzir a influência exclusiva da família e promover o seu encontro com outras
crianças da mesma idade. Ou seja, é preciso que a escola amplie e promova um
ambiente socioafetivo saudável para as crianças, destacando a socialização como
caminho para o ensino e a aprendizagem de valores como a colaboração, a
cooperação, a amizade e a solidariedade.
A seguir, apresenta-se um subtítulo dedicado à discussão das influências da
afetividade na aprendizagem.

2.3. A influência da afetividade na aprendizagem


A afetividade constitui-se um fator importante para o sucesso do processo de
ensino-aprendizagem, manifestando-se na Educação Infantil como algo de extrema
relevância, pois quando trabalhada adequadamente, estimula o desenvolvimento e a
construção do conhecimento por meio da troca entre o sujeito, o meio e suas
experiências.
Segundo Wallon (apud LA TAILLE et al,1992), a afetividade é anterior ao
desenvolvimento e as emoções têm papel extremamente importante no
desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos
e suas vontades. A raiva, a alegria, o medo, a tristeza apresentam funções
significativas na relação da criança com o meio, causando impacto no outro e
tendendo a se propagar no meio social, pois são sentimentos altamente orgânicos.
Desta forma, acredita-se que a afetividade é um ponto de partida para o
desenvolvimento do indivíduo.
11

Na psicogenética de Wallon, a extensão afetiva ocupa a centralidade, tanto do


ponto de vista da construção da pessoa quanto do conhecimento. Para o autor, a
emoção é vista como instrumento de sobrevivência típico da espécie humana, que se
caracteriza por um prolongado período de dependência em relação aos progenitores
(LA TAILLE et al, 1992). A expressão emocional, para Wallon, é o primeiro e mais
forte vínculo entre os indivíduos, suprindo a insuficiência cognitiva dos primeiros
tempos após o nascimento. “A consciência afetiva é a forma como o psiquismo
emerge da vida orgânica: corresponde à sua primeira manifestação” (LA TAILLE et al,
1992, p. 132).
Por sua vez, na teoria de Jean Piaget, o desenvolvimento intelectual é
considerado como tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo, ou seja, paralelo
ao desenvolvimento cognitivo está o afetivo. Segundo Piaget (1975) “[...] os aspectos
cognitivos e afetivos são indivisível e irredutível [...]”
Assim, entende-se que a afetividade é necessária ao desenvolvimento da
cognição e sua motivadora, além de berço da socialização do indivíduo, pois é por
meio dela que são transmitidos os primeiros ensinamentos às crianças. Para Wallon,
é o vínculo imediato que a consciência afetiva estabelece com o ambiente social que
permitirá a aquisição pelo indivíduo dos instrumentos com os quais trabalha a
atividade cognitiva (LA TAILLE et al, 1992).
Nos anos iniciais de escolarização, as interações afetivas são responsáveis por
grande parte do desenvolvimento, pois nesse período as crianças necessitam de
maior atenção daqueles que as cercam. Assim, a afetividade na escola, como
complemento daquela instituída em âmbito familiar, é de suma importância para o seu
desenvolvimento, tanto cognitivo quanto social.
Com a maturação das estruturas cerebrais, ao longo do tempo e à medida que
a criança se desenvolve, ela vai adquirindo controles de sua dimensão afetiva por
meio de um melhor desempenho da cognição. Ambos aspectos continuam a operar
ao longo da vida de maneira conjunta, por vezes antagônica, mas nem sempre. Como
exemplo, é fácil reconhecer que, para envolver uma pessoa em um processo reflexivo
é imprescindível que seus níveis de ansiedade sejam controlados, reduzindo-se a
angústia. Por outro lado, é mais provável que se consiga motivar uma pessoa à
compreensão de determinado assunto se ela se alinhar positivamente aos seus
afetos, às suas experiências prévias e emoções.
12

Na próxima seção do texto aborda-se o percurso metodológico adotado para a


elaboração deste estudo.
13

3. METODOLOGIA
Este Trabalho de Conclusão de Curso está fundamentado por pesquisa de
caráter exploratório, que busca o estudo de referencial teórico acerca da afetividade
enquanto aspecto importante dos processos de ensino e aprendizagem promovidos
na Educação Infantil. Assim, tem-se por objetivo conhecer a temática de maneira mais
aprofundada, utilizando como âncora, principalmente, o que postula Wallon (1978) ao
colocar a afetividade como um dos aspectos centrais do desenvolvimento.
A fim de investigar in loco a aplicação dos conhecimentos científicos verificados
no referencial teórico, foi realizada pesquisa de campo com o intuito de compreender
e analisar, a partir da realidade, quais são as percepções de professores da Educação
Infantil acerca das influências da afetividade na aprendizagem. Para tanto, a
metodologia de pesquisa utilizada apresenta abordagem qualitativa, uma vez que
busca estudar aspectos subjetivos de fenômenos sociais e do comportamento
humano, situando-os temporal, local e culturalmente.
Para a coleta de dados, utilizou-se a aplicação de questionários e a realização
de entrevistas semiestruturadas, por meio das quais a pesquisadora realizou
perguntas pré-determinadas em roteiro, mas também atuou de maneira flexível e
acrescentou outras, de acordo com os interesses de pesquisa e o desenvolvimento
das conversas.
Na seção a seguir, apresenta-se a análise dos dados coletados em campo,
tomando como base o referencial teórico estudado.
14

4. ANÁLISE DE DADOS
A pesquisa de campo foi desenvolvida por meio de processos de observação e
entrevistas respondidas por profissionais atuantes na Educação Infantil em uma
escola localizada na região leste da cidade de São Gonçalo do Pará. A unidade de
ensino atende 308 alunos do maternal 2 ao segundo período da Educação Infantil,
com idades de 2 a 5 anos. Não houve autorização, nem por parte da escola e nem
dos profissionais ouvidos, para menção aos seus nomes neste texto. Assim, os
depoimentos coletados são identificados pelos cargos dos respondentes.
As perguntas para a entrevista foram planejadas com o objetivo de identificar a
importância da consideração da afetividade no ambiente escolar para o
desenvolvimento dos alunos, buscando-se entender como é o relacionamento entre
professores e estudantes e quais são os impactos desse relacionamento nos
processos de ensino e aprendizagem na Educação Infantil.
Quando perguntada a respeito de sua percepção sobre a importância do
desenvolvimento da afetividade na Educação Infantil, a supervisora, graduada em
Pedagogia com pós-graduação em Gestão e Supervisão Escolar, afirmou que o
trabalho da afetividade contribui para que se possa ter um espaço agradável em sala
de aula. “Essa receptividade é uma troca de experiências e estímulos, não
necessariamente uma troca de carinho. É um despertar dos estímulos e motivações”,
explica. Já a professora, que tem formação superior em Pedagogia e pós-graduação
em Supervisão e Gestão Escolar, além de especialização em Educação Especial e
Inclusiva, relatou que considera a preocupação com a afetividade em sala de aula de
suma importância, pois entende que esse aspecto reflete na vida escolar, e na forma
como a criança é tratada e ensinada. Já a monitora escolar, que possui o curso de
Magistério em nível médio e Pedagogia em nível superior, afirmou que “Um espaço
escolar onde é trabalhada a afetividade contribui muito para o desenvolvimento
cognitivo e intelectual de uma criança”.
As percepções das três profissionais coadunam com o que estabelece Wallon
(1968), que não limita o entendimento da afetividade como a mera manifestação de
carinho e apreço, como muitas vezes sugere o senso comum:

É possível pensar a afetividade como um processo amplo que envolve a


pessoa em sua totalidade. Na constituição da estrutura da afetividade,
contribuem de forma significativa as diferentes modalidades de descarga do
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tônus, as relações interpessoais e a afirmação de si mesmo, possibilitada


pelas atividades de relação (WALLON, 1968, p.14).

Questionadas sobre os principais ganhos de desenvolvimento da criança


durante a Educação Infantil, as profissionais destacaram a capacidade intelectual,
cognitiva e social da criança. “É o trabalhar em sua maneira de pensar, agir e se
comportar no meio social”, conforme a supervisora. A professora complementou a
resposta falando sobre a Educação Infantil respeitar a maneira infantil de pensar e
agir ligada à ludicidade. A monitora, por sua vez, ressaltou que é na Educação Infantil,
pela estimulação que ela promove, que as crianças começam a dar os primeiros sinais
de autonomia, avançando em interação e socialização, e desenvolvendo seus
aspectos cognitivos.
As respostas refletem o que coloca a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional ao destacar, em seu artigo 29, a Educação Infantil como primeira etapa da
Educação Básica, que tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de
até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade.
Ainda fundamentando a resposta dada pelas respondentes à última questão, a
Base Nacional Comum Curricular (2018) pontua que, na Educação Infantil, o
desenvolvimento se dá por meio das brincadeiras e das interações das crianças com
adultos, com outras crianças, além de consigo mesmas. Esse desenvolvimento
também ocorre no ambiente familiar e a função da escola é diversificar e ampliar as
aprendizagens das crianças, estruturando-as pelas interações e brincadeiras, de
modo a ensinar conforme a linguagem e a maneira de agir próprias do universo infantil.
Nesse sentido, “o estudo da criança exigiria o estudo dos meios onde ela se
desenvolve. É impossível de outra forma determinar exatamente o que é devido a este
e o que pertence ao seu desenvolvimento espontâneo” (WALLON, 1968, p. 164).
Questionadas sobre como o professor pode contribuir para a construção de
uma relação afetiva positiva com as crianças na Educação Infantil, as profissionais
responderam à questão, buscando exemplificá-la. A supervisora apontou a
necessidade de se evitar comparações entre as crianças, oferecer apoio, estímulo e
convívio a elas em um ambiente acolhedor, sem deixar de respeitar o tempo e o modo
de desenvolvimento de cada uma. A professora foi um pouco mais além da relação
escolar, ressaltando a importância de se “entrar no mundo da criança, estar próximo,
demonstrar afeto, e manter uma boa relação escola-família”. A monitora, por sua vez,
16

deu ênfase à necessidade de expressão dos discentes, destacando a importância de


“Ser um professor mais ouvinte, chegar na sala e deixar que os alunos compartilhem
com ele como foi seu dia. Escutar um pouco o aluno ajuda a entender o seu
comportamento dentro de sala de aula”, sugere.
As respostas convergem para o que afirma Briggs (2000):

(...) ajudar as crianças a desenvolver sua autoestima é a chave de uma


aprendizagem bem sucedida. Pois, a criança que se sente aceita, valorizada,
amada, desenvolve autonomia, adquire confiança em si e na sua importância
como pessoa, aprende a se respeitar e a respeitar e amar também o próximo
(BRIGGS, 2000, s.p.).

É importante retomar aqui um aspecto já mencionado da teoria de Piaget (LA


TAILLE et al 1992), a respeito do desenvolvimento das relações de cooperação e não
de coação em sala de aula, privilegiando-se uma troca de conhecimentos, com o
professor posicionando-se de maneira mais horizontal em relação ao aluno, de modo
a considerar suas necessidades e a manifestação de suas ideias, suas experiências,
seu modo de ver o mundo.
Com relação a como estimular a compreensão da afetividade em todas as fases
do desenvolvimento infantil, as educadoras responderam destacando a necessidade
de preocupação com a formação integral da criança, de estimular o autoconhecimento
e a autonomia “É através do processo de aprendizagem que a criança expressa seus
sentimentos e emoções”, afirma a supervisora. A professora destacou a necessidade
de se estimular a socialização, trabalhando brincadeiras que incentivem o
entendimento dos aspectos afetivos, das emoções pessoais e também o
desenvolvimento da empatia. A monitora acrescentou em sua resposta, como
caminhos para essa estimulação, o uso de histórias e músicas que favoreçam
reflexões sobre os sentimentos, as emoções das crianças nas situações de
aprendizagem.

A afetividade acompanha o ser humano desde o nascimento até a morte.


Ela está em nós como uma fonte geradora de potência, de energia. Dizemos
que, até os 12 anos, a vida do ser humano é extremamente afetiva e, a partir
daí, o futuro adulto já tem estabelecidas suas formas de afetividade. A
afetividade domina a atividade pessoal na esfera instintiva, nas percepções,
na memória, no pensamento, na vontade, nas ações, na sensibilidade
corporal — é componente do equilíbrio e da harmonia da personalidade
(ROSSINI, 2001, p. 09).
17

Assim, compreendendo que a experiência escolar não pode ater-se apenas à


estimulação intelectual, mas deve ter como norte o desenvolvimento holístico do ser
humano, é válido retomar o que postula a Base Nacional Comum Curricular (2018) ao
estabelecer como uma das Competências Gerais que devem ser desenvolvidas pelos
discentes ao longo da Educação Básica:

Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional,


compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e
as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas (BRASIL,
2018, p.10).

A capacidade de lidar com as emoções também pode ser problematizada


conforme o que coloca Wallon (LA TAILLE et al, 1992, p.137) ao abordar o circuito
perverso da emoção, que quando esta não é bem elaborada ou intelectualmente
compreendida pelo indivíduo, tende a ganhar espaço em momentos de incompetência
do ser para mobilizar o outro, ou falha da sua racionalidade. Quando não trabalhada
a educação afetiva e emocional dos indivíduos, na vida adulta os arroubos emocionais
tendem a surgir perante circunstâncias novas e difíceis, para as quais a cognição
ainda não se apresenta apta. Por isso, Dantas apud La Taille et al (1992, p.138) coloca
que “a educação da emoção deve estar incluída entre os propósitos da ação
pedagógica, o que supõe conhecimento íntimo de seu modo de funcionamento”.
Indagadas a respeito de como a educação emocional pode colaborar para o
desenvolvimento cognitivo da criança, as profissionais entrevistadas responderam
que é preciso promover na Educação Infantil atividades que despertem a curiosidade
da criança, como a experimentação, a investigação, propostas que estimulem
vivências diversas, tanto física, psicológica, social ou culturalmente. Elas ainda
ressaltaram a necessidade de oferecer a ela desafios, incentivando-a a resolver
problemas, buscar soluções, despertando seu senso criativo e ao mesmo tempo
crítico.
Para além dessa apresentação de estímulos para a resolução de desafios, que
certamente produz na criança um sentimento de confiança em seu próprio potencial,
Sarmento (2010) acredita que o professor, ao fazê-lo, tem por consequência, uma
ajuda na aprendizagem do aluno.
E este, que já terá sentimentos de confiança e consideração por seu docente,
apresentará mais disposição para adquirir conhecimentos; o que contribui para
18

transformar o espaço educacional num ambiente acolhedor e favorável à edificação


do aprendizado.
Ao final da entrevista, a professora e a monitora foram estimuladas a dar
exemplos de ações pedagógicas que favorecem a construção de uma relação de
confiança, estima e respeito entre os alunos entre si; e também entre estes e o
docente. Segundo a professora, é preciso contar sempre com o estudante nas tarefas
do dia a dia da sala de aula, demonstrar literalmente afeição, contar com a ajuda de
uns para com os outros. A monitora, por sua vez, ressalta a importância da troca de
experiências dentro da sala, além de trabalhar atividades e realizar tarefas que
estejam dentro da realidade do aluno, o que, segundo ela, faz com que se crie uma
relação de proximidade.
Todos os exemplos dados pelas professoras colocam o professor não mais
como a principal fonte do conhecimento (LIBÂNEO, 2002), ou apenas aquele que
transmite conhecimentos, mas, sobretudo, como um mediador e não um detentor do
saber.
Sabe-se que a aprendizagem é um processo que envolve os indivíduos em sua
inteireza. Nesse sentido, é importante que o professor se perceba como facilitador do
processo de aprendizagem, pois quando a relação que estabelece com seu aluno é
pautada por vínculos de respeito e confiança, ele tem a oportunidade de mostrar, criar,
entregar o conhecimento e permitir que o outro possa interagir com ele, incorporá-lo
e apropriar-se dele. Como afirma Cury (2008), o poder dessa relação salutar e
imensurável, pois, em suas palavras, “o afeto e a inteligência curam as feridas da
alma, reescrevem as páginas fechadas do inconsciente” (CURY, 2008, p.57-58).
Na sequência, encerra-se o estudo em tela, sendo apresentadas as
considerações finais.
19

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão da afetividade como fundamental no processo de ensino e
aprendizagem é crucial para que educadores possam refletir sobre suas práticas e a
atuar pela qualidade do convívio educativo.
Partindo-se do pressuposto de que a afetividade é capaz de mudar as
dinâmicas interacionais, chega-se à conclusão de que cada pequena atitude de
aproximação interpessoal, respeito e cuidado para com o aluno pode tornar-se aliada
da atuação mediadora do professor, fomentando a criação de laços de confiança,
sensação de segurança e acolhimento.
Assim, é importante que as unidades de ensino direcionem as ações para um
ensino que valorize o desenvolvimento de questões socioemocionais de maneira
concomitante ao estímulo da cognição, visando a resultados qualitativos em relação
aos indivíduos. Conforme Cunha:

A professora ou professor é o guardião do seu ambiente. A começar pelos


seus movimentos em sala, que devem ser adequados e gentis. A postura, o
andar, o falar é observado pelos alunos, que o vêem como modelo.
Independentemente de idade, da pré-escola à universidade, o professor
sempre será observado. Então, um bom ambiente para a prática do ensino
começa por ele, que canalizará a atenção do aprendente e despertará o seu
interesse em aprender (CUNHA, 2008, p.80).

Saltini (2008, p. 69) coaduna com a mesma visão e afirma que o professor deve
ser aquele que não apenas preocupa-se em expor conteúdos a seus alunos, mas
principalmente estabelece uma relação e um diálogo íntimo, “bem como uma
afetividade que busca mobilizar sua energia interna. É aquele que acredita que o aluno
tem essa capacidade de gerar ideias e colocá-las ao serviço de sua própria vida”.
Conclui-se, deste modo, que a educação não deve ser opressora. Deve,
contrariamente, constituir-se de modo dinâmico, alegre e acolhedor. A Educação
Infantil não pode realizar-se tratando as crianças apenas como sujeitos que precisam
ter competências cognitivas aprimoradas. Na verdade, essa etapa deve ser especial
e marcante, deve constituir-se espaço e tempo em que elas possam mostrar e
desenvolver sua capacidade de pensar, agir e interagir, tendo respeitados e
valorizados os aspectos emocionais e afetivos que compõem sua personalidade.
20

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e


Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996. BRASIL.
___________. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,
2018.

BRIGGS, Dorothy C. A autoestima do seu filho. São Paulo: Martins Fontes, 2000.em:
30 set. 2022.

CUNHA, A. E. Afeto e Aprendizagem, relação de amorosidade e saber na prática


pedagógica. Rio de Janeiro: Wak, 2008.

GRATIOT-ALFANDÉRY, Hélène. Henri Wallon . 134. ed. Recife -PE: editora


massagana, 2010. p. 14.

LA TAILLE, Yves de e OLIVEIRA, Marta Kohl de e PINTO, Heloysa Dantas de


Souza. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo:
Summus. . Acesso em: 03 out. 2022. , 1992.

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO. Afetividade e processo ensino-aprendizagem:


contribuições de Henri Wallon*. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
69752005000100002. Acesso em: 28 mar. 2022.

ROSSINI, M. A. S. Pedagogia afetiva. Petrópolis, RJ: Vozes 2001.

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