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SOCIOAFETIVIDADE

Amanda Thaís Oliveira de Souza

Projeto Despertar

“A afetividade é a capacidade de reação do ser humano ante os estímulos


advindos dos ambientes externo e interno. Esta capacidade é modulada pelo
repertório de emoções e sentimentos que fazem parte das experiências e bagagens
de cada sujeito e que podem ser negativos ou positivos” (ZAGAGLIA, 2020, web). O
desenvolvimento afetivo é um processo pelo qual cada criança vai conformando seu
mundo emocional e sentimental. Toda esta bagagem emocional acompanhará em
todo momento os demais desenvolvimentos humanos e cada ação ou comportamento
cotidiano da criança, daí a relevância de facilitá-lo e potencializá-lo nas melhores
condições. As crianças querem sempre que podem a atenção dos mais velhos e para
conseguirem a mesma utilizam de todos os recursos que sabem. Quando ainda não
existe a linguagem, utilizam as emoções e suas manifestações para se comunicarem
com os adultos.

Defende-se a potencialização do desenvolvimento socioafetivo, como


dimensão vital do ser humano que favorece suas interações consigo mesmo, com os
outros, com o conhecimento e com o contexto onde está imerso. A estrutura e
dinâmica familiar vêm sofrendo profundas transformações nas últimas décadas, sendo
que a família nuclear, hoje, existe apenas como uma a mais entre as diversas formas
de composição familiar, os papéis de cada integrante das entidades familiares estão
se modificando, nem todos nascem na família pela natureza do vínculo, pesa a força
das circunstâncias sociais, culturais e de contexto. Novas dinâmicas foram criadas e
muitas outras desapareceram.

“A instituição "escola" também está sofrendo mudanças, agora constitui um


cenário complexo e diversificado, onde são vivenciados processos que implicam
dinâmicas sociais, culturais e comunicativas próprias dos contextos e dos sujeitos em
consonância com seus níveis de desenvolvimento e particularidades, que requerem,
para sua compreensão, leituras de tipo epistemológico, antropológico, sociológico e
pedagógico” (ZAGAGLIA, 2020, web).

Os seres humanos, desde sua concepção, estabelecem um relacionamento


com o mundo da vida, que lhes permite sentir, encontrar-se consigo mesmo e com os
outros, gerando vínculos que os ajudam a construir-se como ser emocional,
cognoscitivo, físico, criativo e social. “Com cada experiência pessoal, os vínculos e,
consequentemente, suas próprias emoções e afetos, vão ficando cada vez mais
complexos. Neste sentido, o desenvolvimento socioafetivo se torna importante,
entendido como o conhecimento, as atitudes e as habilidades necessárias para
reconhecer e controlar suas próprias emoções, bem como para demonstrar afeto e
preocupação com os outros, a fim de estabelecer relações positivas, tomar decisões
responsáveis e lidar com situações difíceis” (ZAGAGLIA, 2020, web).

A socioafetividade tem importância ímpar no desenvolvimento integral da


criança. No processo de socialização é possível reconhecer a si mesmo ao
compartilhar com outras pessoas as motivações, os interesses, os gostos, os
desgostos e suas correspondentes emoções, sentimentos e pensamentos, gerados
pelas realizações e contrariedades da vida. Neste sentido, a dimensão socioafetiva se
destaca quando brinda espaços e tempos suficientes para valorar e compartir estas
experiências e sentimentos com as demais pessoas de seu entorno.

O desenvolvimento socioafetivo é composto de pelo menos quatro conceitos


essenciais: valores, emoções, atitudes e pensamentos. “Os valores humanos foram
sendo construídos ao longo da história para permitir e facilitar a vida em sociedade,
refletindo-os em mentalidades coletivas, leis e costumes, religião e cultura; as
emoções humanas são os motores que movem de modo sensível o ser humano, tanto
no seu interior quanto na relação com os demais; as atitudes são as predisposições
para agir, perceber, pensar e sentir em relação a objetos e pessoas; mas os
sentimentos compõem o sistema de alarme que informa sobre como cada um se
encontra no meio em que vive, permitindo a realização das mudanças necessárias ao
melhor convívio” (ZAGAGLIA, 2020, web).

As crianças iniciam seu processo de socialização na família, espaço onde


interiorizam os elementos básicos da cultura e desenvolvem as bases de sua
personalidade. Esse processo é fortalecido no ambiente escolar, que na forma de uma
pequena sociedade, permite reconhecer normas e regras em outros contextos. Nas
escolas são gerados novos e diversos vínculos que favorecem a formação integral.
Desse modo, a escola reorienta o "agir" como parte de uma engrenagem que articula
a visão do desenvolvimento humano, promovendo a fusão do sentir, do pensar, do
querer e do valorar para que essa combinação de fatores potencialize a
aprendizagem, a partir convicção de que só é possível aprender o que se quer
aprender.
Os mecanismos que a família faz uso na socialização da criança são:
modelagem, reforço, limitação e observação. Esses mecanismos dentro da família têm
grande efeito porque os laços afetivos criados fazem com que os membros de uma
família se sintam parentes, se identifiquem entre si. Os comportamentos das crianças
são  reflexos fieis do que os adultos projetam no comportamento e, em particular, é
afetado pelas mudanças culturais e pelos meios de comunicação.

A formação psicossocial saudável de um adulto depende da ligação afetiva da


criança com sua família, ambiente onde deve encontrar, desde o nascimento, cuidado,
proteção, orientação, apoio e referência sobre o que ainda não conhece e que dará
suporte para enfrentar as dificuldades que surgirão durante seu desenvolvimento e na
vida adulta.

“Para garantir o desenvolvimento psicofísico infanto-juvenil, um grupo familiar


não precisa ser formado por laços biológicos, mas tem que estar centrado e edificado
no afeto, para que seus membros se sintam amados, protegidos, seguros, cuidados e
queridos e, consequentemente, tenham um desenvolvimento psicofísico” (ZAGAGLIA,
2020, web)”.

Hoje a família nuclear pouco lembra a família patriarcal. O poder do homem


como chefe da família passa a ser dividido com a mulher. O comportamento dos
membros da família contemporânea sofre transformações em sua essência. Os
princípios já não são de autoritarismo e tirania, mas de solidariedade e afetividade.
"Nessa evolução, a função procriacional da família e seu papel econômico perdem
terreno para dar lugar a uma comunhão de interesses e de vida, em que laços de afeto
marcam a estabilidade da família", o que resultou numa "verdadeira superação
do paradigma da família institucional", que deixou de ser "um núcleo econômico e de
reprodução para ser o espaço do amor e do afeto".

De acordo com Paulo Lobo, em princípio a família é socioafetiva apenas por


ser um grupo social considerado base da sociedade e unido na convivência afetiva.
Porém a afetividade, como categoria jurídica, "resulta da transeficácia de parte dos
fatos psicossociais que a converte em fato jurídico, gerador de efeitos jurídicos" sendo
que a socioafetividade tem sido empregada no Brasil no sentido estrito, com o
significado de "relações de parentesco não biológico, de parentalidade e filiação,
notadamente quando em colisão com os vínculos de origem biológica". E conclui:
"fazer coincidir a filiação necessariamente com a origem genética é transformar
aquela, de fato cultural e social em determinismo biológico, o que não contempla suas
dimensões existenciais".
A afetividade é um dever jurídico, enquanto que o afeto é o conjunto de valores
subjetivos como o cuidado, o amor e a solidariedade. Desse modo, mesmo quando o
afeto faltar, a afetividade é presumida e impõe deveres, sendo que "o dever jurídico da
afetividade entre pais e filhos apenas deixa de haver com o falecimento de um dos
sujeitos ou se houver perda do poder familiar ou autoridade parental".

O aluno precisa nutrir uma relação de confiança, respeito e admiração pelo


professor, para depois constituir um ambiente afetuoso que leva à disciplina em sala
de aula. Parrant-Dayan (2008, p.27) destaca: Se os alunos tiverem na frente da turma
um adulto que os respeita, que os escuta, que os trata como pessoas que pensam e
que têm o que dizer, e não apenas como alunos [...], situações angustiantes
provavelmente, não ocorrerão. Como deveria ser, então, a relação entre aluno e
professor? Um bom caminho seria interagir com os alunos vê-los e conhece-los. Assim
o professor agiria a partir de necessidades reais ou explicitadas pelos alunos e não de
acordo com suposições a propósito do que o aluno precisaria. Desta maneira,
inclusive os problemas de indisciplina poderiam ser vistos na sua própria significação.
Não serão os problemas de conduta uma forma de os alunos pedirem limites, afeto,
compreensão e amor?

Para Silva e Schneider (2007), muitos educadores se esquecem da


importância da afetividade, o que torna pobre o convívio sócio afetivo em sala de aula.
A afetividade é fundamental não apenas na relação professor-aluno, mas também
como estratégia pedagógica. “Um professor que é afetivo com seus alunos estabelece
uma relação de segurança, evita bloqueios afetivos e cognitivos, favorece o trabalho
socializado e ajuda o aluno a superar erros e a aprender com eles”. Além disso, a
criança aprende com os membros mais experientes de sua cultura. Assim sendo, se o
professor mantém uma relação afetiva com seus alunos, certamente estes aprenderão
a sê-lo. (SILVA E SCHNEIDER, 2007, p. 84). Dessa forma, priorizar a afetividade nas
interações ocorridas no ambiente escolar e, mais especificamente na sala de aula,
contribui para dinamizar o trabalho educativo em todos os seus aspectos.

A escola é um ambiente facilitador de bons relacionamentos e


consequentemente promotora do sucesso de aprendizagem. Uma boa interação no
âmbito escolar depende justamente desses dois componentes (professor e aluno),
pois eles definirão se o ambiente irá influenciar o processo de ensino-aprendizagem,
assim como as vivências pessoais que se constituirão nas bases da identidade
pessoal dessa criança que está em formação.
Sabemos que toda criança desde o início de seu desenvolvimento, sofre
influência do meio onde está inserida, e em sala de aula existe uma intenção previa de
organizar situações que propiciem ao aprimoramento dos processos de pensamentos
e da própria capacidade de aprender. “Se existe o grande desafio ao docente no que
diz respeito ao seu encargo com os elementos imprescindíveis envolvidos no processo
de ensino-aprendizagem, percebemos a necessidade de uma análise a respeito da
faceta de ensinar de duas formas “o que se ensinar” e “de que maneira se ensinar”,
pois só a partir desse olhar, é que as práticas educativas serão mais coerentes e
precisas para o desenvolvimento dos seus alunos” (ARAÚJO, 2014, web).

“Ao professor cabe o papel de estabelecer uma mediação entre o aluno e o


conhecimento de maneira atuante e prazerosa, se comprometendo em desvincular-se
de procedimentos pedagógicos que contemplem apenas o depósito de conhecimento
ao mesmo, desconsiderando os aspectos afetivos envolvidos no processo de ensino-
aprendizagem” (ARAÚJO, 2014, web).

É importante salientar que afetividade não é apenas demonstração de afeto,


carinho e que se faz necessário compromisso e ética profissional, além dessa
reciprocidade, que haja uma prática pedagógica pautada no respeito, na autoridade
humana, e no estabelecimento de limites, de modo que o professor contribua com o
desenvolvimento e fortalecimento do eu do educando, para que ele desenvolva
autoestima, confiança, respeito em si e ao outro. “A aprendizagem se dá através de
interações mútuas e dinâmicas nas quais alunos e professores estabelecem relações
afetivas que solidificam o desenvolvimento significativo de habilidades cognitivas e
sócio afetivas” (ARAÚJO, 2014, web). Uma prática educativa que engloba diferentes
variáveis no processo de ensino-aprendizagem, que é voltada para as necessidades
dos educandos e propicia as trocas sócio afetivas, requer do educador uma postura
importantíssima diante das realidades encontradas em sala de aula, onde somente a
partir da reflexão que ele proporcionará aos seus educandos uma educação mais
humanizadora no ambiente escolar.

É notório que o afeto faz parte de todo o processo educativo e deve ser visto
como parte inseparável da aprendizagem. Estão interligados, não há como separar,
não podemos deixar de pensar que o emocional interfere no aprendizado.

É importante lembrar que o comportamento intelectual é motivado pelas


implicações afetivas, visto que a afetividade norteia o processo de aprendizagem.
Muitas vezes, nós, educadores, não conseguimos nos colocar como sujeitos
facilitadores de uma aprendizagem afetiva, positiva dos nossos alunos, baseando a
educação no controle e desenvolvimento cognitivo, isolando ou não dando tanta
importância à questão do desenvolvimento afetivo.
Referências:

ZAGAGLIA, Rosângela M. A. A influência do contexto socioafetivo sobre o


desenvolvimento infanto juvenil, sob a ótica jurídica. Rio de Janeiro. Migalhas.
2020. Disponível em: <<https://www.migalhas.com.br/depeso/323867/a-influencia-do-
contexto-socioafetivo-sobre-o-desenvolvimento-infanto-juvenil--sob-a-otica-juridica>>
Acesso em 29 de setembro de 2021.

BATISTA, Jaqueline Batista de Oliveira Costa. A influência do ambiente sócio


afetivo da sala de aula sobre a (in) disciplina dos alunos. Paraná. UNOESTE.
2013. Disponível em: <<https://educere.bruc.com.br/CD2013/pdf/10615_5493.pdf>>.
Acesso em 02 de outubro de 2021.

ARAÚJO, Polyanna Ramos Cândido. AGUIAR, Andreza Sanny Mendes. UMA


ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO SÓCIO-AFETIVO NO AMBIENTE ESCOLAR: a
importância da relação professor-aluno. Paraíba. Editora Realize. 2014. Disponível
em:<<https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/cintedi/2014/
Modalidade_1datahora_08_11_2014_00_21_59_idinscrito_2089_3130700d934f0cbe1
b5f77f32a556767.pdf>> Acesso em 03 de outubro de 2021.

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