Você está na página 1de 18

Consulta Psicológica e Desenvolvimento

Considerações acerca da sua aplicabilidade aos domínios de intervenção


da Psicologia Social, do Trabalho e das Empresas

Por:

Alexandre M. Campos

Psicólogo, Universidade do Porto

INTRODUÇÃO

Este trabalho tenta fazer uma exploração sobre a perspectiva


preventiva, social e comunitária da intervenção psicológica e, mais
especificamente, reflectir sobre a aplicabilidade deste tipo de
intervenção psicológica, na perspectiva de um modelo desenvolvimental
ecológico, a problemas, populações, e contextos específicos dos
domínios de intervenção da Psicologia Social, do Trabalho e das
Empresas.

Atentase ainda a um conjunto de modalidades de actuação do exercício


profissional da consulta psicológica, tanto às formas tradicionais
como o aconselhamento e a psicoterapia, visando alcançar objectivos
mais remediativos, como às modalidades mais recentes, nomeadamente, os
grupos de desenvolvimento e diversos tipos de consultadoria tendo como
objectivos a prevenção e promoção ao nível do pessoal e do
transpessoal.

CONSIDERAÇÕES

Ao falarse no modelo desenvolvimentalecológico estamos a


debruçarmonos sobre o desenvolvimento humano, e sua inserção nos
vários contextos de vida.

O desenvolvimento humano é considerado como uma variável dependente


das interacções ocorridas nos vários contextos em que as pessoas
vivem. Assim, há que conhecer o processo de desenvolvimento do
indivíduo nos vários sistemas em que ele se insere, sistemas como a
sua família, a escola, o local de trabalho, etc., assim como o seu
processo de desenvolvimento relativamente aos diversos papéis que
desempenha em cada um, nomeadamente pai, mãe, filho, cônjuge,
professor, aluno, trabalhador, cidadão, etc...(Campos,1985).

A Psicologia Comunitária vai então enquadrarse nesta pesrpectiva, o


que obriga a uma reflexão posterior. "Não é apenas o desenvolvimento
dos indivíduos ou das pessoas significativas dos meios em que vivem
que está em questão: é também o dos próprios grupos em que os
indivíduos se inserem e das redes de relações comunitárias de que
fazem parte"(Campos,1988).
É de acordo com este pressuposto que a perspectiva ecológica se
organiza, isto é, há que, além de considerar os sistemas pessoais,
abranger também os sistemas transpessoais. O desenvolvimento
psicológico é importante, mas ele não é nem deve ser a única dimensão
do desenvolvimento humano a ser considerada, nem se poderá de modo
algum reduzir este desenvolvimento humano a um desenvolvimento baseado
unicamente no psicológico.

Deste modo, o psicólogo, se pretende intervir, deverá estar preparado,


para adoptar uma abordagem multidimensional dos problemas humanos
(Coimbra,1991), para observar todas as facetas de cada problema de
cada cliente, mantendose sempre presente uma posição holística uma
vez que vai actuar não só no desenvolvimento do indivíduo, mas também
no desenvolvimento de pessoas significativas do cliente, e ainda no
conjunto de relações em que ele se insere. Todas estas "dimensões"
convergirão para o todo que o indivíduo é, mas não deverão ser
observadas segundo uma perspectiva estanque ou determinista.

Como já foi dito, a actuação do psicólogo está grandemente orientada


para as relações que os indivíduos têm com os outros e com os diversos
contextos de vida à sua volta. Nesta linha, há que actuar para
transformar tanto os microssistemas como os mesossistemas do cliente.
Os primeiros porque constituem, de acordo com Bronfenbrenner,
conjuntos estruturados de relações interpessoais, actividades e papéis
que o indivíduo em desenvolvimento experiencía (por exemplo, o grupo
de amigos, de colegas de trabalho, ou mesmo o casal, etc.). Os
segundos pois definem as relações que existem entre o pares de
microssistemas (e. g.: a relação entre o emprego e a família).

Portanto, ao nível da intervenção, além de uma actuação no sistema


pessoal ela deve orientarse para os vários ecossistemas em que o
cliente se enquadra, assim como todos os outros sistemas
transpessoais.

De acordo com a perspectiva que se tem estado a desenvolver, a


intervenção poderá ter diferentes objectivos, consoante a situação
específica em que o cliente se encontre.

Em situações de crise, nas quais o cliente está em pleno desequilíbrio


psicológico, o indivíduo está a enfrentar uma situação que constitue
um problema, e não consegue resolvêla com os recursos que lhe estão
disponíveis no momento, e que ele normalmente utiliza para as outras
situações. Neste tipo de situações, o objectivo é Remediar a situação,
identificando e tratando o problema. Tratase de um processo reactivo,
visto ele ser ocasionado pela crise.

Em situações de crise potencial, já se visa Prevenir o aparecimento da


crise. Há que actuar, não quando a crise está a manifestarse, mas sim
previamente, quando é provável que ela surja. Tanto neste caso como no
seguinte, os sujeitos estão em posição de adquirirem competências e
capacidades nas várias áreas de vida. Deste modo, há agora uma atitude
proactiva.

Nas situações fora da crise o objectivo é Promover as competências do


sujeito.

Assim, a intervenção tanto pode ocorrer quando os sujeitos se


encontram em situação de crise (e. g.: a morte de um outro
significativo), de transição (e. g.: o divórcio), de confusão (e. g.:
o sentido de autocompetência), como quando estão disponíveis para
adquirirem capacidades cada vez mais complexas de expressão e criação,
nos vários domínios da existência (Campos,1985).

Se na perspectiva remediativa a atitude é claramente reactiva, na


perspectiva preventiva e de promoção a atitude é proactiva. E se
relacionarmos esta última atitude com a nossa tentativa de evitar que
algo aconteça, nomeadamente uma situação negativa, a crise, temos que
falar na prevenção. A prevenção primária deve ser a detentora de
primazia uma vez que está dirigida para o evitamento da crise em
populações de risco e para os processos de promoção de capacidades
(perspectiva do prevenir e do promover).

A recessividade das prevenções secundária e terciária deveria


justificarse, a meu ver, pelo facto de a primeira apenas tentar
evitar que uma dada situação se agrave, e de a segunda ser um processo
de prevenção discutível, pois enquadrase numa linha remediativa,
especificamente na cura.

Nesta perspectiva, os alvos da intervenção psicológica encontramse


não só ao nível dos indivíduos (clientes e outros significativos) mas
também os vários grupos, comunidades e organizações. Segundo o modelo
desenvolvimentalecológico, para haver mudança há que intervir nos
sistemas pessoais, interpessoais e transpessoais, isto é, nos domínios
da realidade intrapsíquica, das relações entre os indivíduos, e dos
muitos e variados contextos de vida.

A promoção do desenvolvimento humano, enquanto intervenção


psicológica, deverá ainda contar com todos os contingentes
sócioeconómicos do momento. Assim, ela será melhor efectuada se
enquadrada nos projectos de desenvolvimento sócioeconómico da
comunidade (Campos,1988). O macrossistema (Bronfenbrenner,1979) (as
crenças, as ideologias vigentes num dado momento históricosocial) que
envolve o indivíduo influencia tanto este como todos os outros
sujeitos e os contextos de vida (e naturalmente a orientação
sócioeconómica da comunidade).

Relativamente às estratégias utilizadas para alcamçar os objectivos


desejados junto dos alvos, elas podem ser directas (efectuamse junto
do sujeito), nomeadamente o Aconselhamento Psicológico, a
Psicoterapia, a Educação Psicológica ou Grupos de Desenvolvimento,
(intervenção fora da situação de crise) e indirectas (efectuamse
juntos do meio, no transpessoal, embora se vise a promoção do
sujeito), como é o caso da Consultadoria (seja ele triádica, de grupo,
organizacional ou comunitária).

A perspectiva desenvolvimentalecológica privilegia os grupos de


desenvolvimento ou de educação psicológica e a consultadoria e dá
menos importância ao aconselhamento psicológico e à psicoterapia.

Assim, os Grupos de Desenvolvimento ou de Educação Psicológica


tratamse de uma estratégia de intervenção directa, consistem em
intervenções realizadas a grupos, fora das situações de crise, que
visam desenvolver, capacitar ou educar o indivíduo. Tratase de, mais
do que ensinar e instruir, desenvolver e construir.

A Consultadoria já se trata de uma estratégia indirecta de intervenção


psicológica, visto efectuarse não directamente no sujeito, mas nos
indivíduos com que ele contacta, como outros significativos ou
profissionais que têm alguma ligação com o cliente. Deste modo, estes
vão exercer, consequentemente, influência e pressão no sentido
positivo junto do cliente. Ao consulente cabe a responsabilidade da
implementação das soluções resultantes do processo. É um tipo de
intervenção que tenta actuar nas redes sociais do cliente e deste modo
ajudar a sua vida. Por e. g.:, o psicólogo pode intervir no professor
(o consulente), prevendo a intervenção futura deste no aluno (o
sujeito, alvo de mudança). Fornecese serviços directos ao consulente,
capacitandose este e logo agindose indirectamente no cliente.

Esistem vários modelos históricos de consultadoria; a


ConsultadoriaDiagnóstico que prevê o recurso a um especialista para
produzir um diagnóstico e uma prescrição quanto a um problema; na
Consultadoria de Formação fazse a actualização e formação de
profissionais e disseminação de competências, tendo sempre em vista
que a aprendizagem acontece ao longo de todo o ciclo vital. O
planeamento destas acções de formação propiciará melhores resultados
se for colaborativo, incluindo indivíduos presentes nas várias áreas
envolvidas. A Consultadoria centrada no Desenvolvimento Profissional
do consulente está mais orientada para o desenvolvimento deste e a
aquisição de competências por parte do mesmo, do que propriamente em
formar e treinar profissionais na área técnica. Em colaboração com o
consultor, o consulente deve, no final do processo, ser capaz de
resolver os seus problemas autonomamente, em virtude das "coping
skills" que adquiriu. Na Consultadoria Organizacional, fazse
sobretudo uma análise da organização, atentando a aspectos da sua
estrutura e do seu funcionamento, e incidindo em temas como estilos de
liderança, estratégias para negociação e resolução de conflitos, ou a
participação dos trabalhadores nas tomadas de decisão.

As intervenções preventivas, sociais e comunitárias podem, ora


centrarse na competência do sistema pessoal e/ou na qualidade dos
contextos de vida, ora serem especificamente psicológicas ou
integradas em projectos de desenvolvimento humano e social. No
primeiro caso, tentase intervir no sistema pessoal do indivíduo (o
intrapessoal), ao nível interpessoal (nomeadamente as redes sociais de
apoio) ou nos sistemas transpessoais, visando modificar os contextos
de vida (o desenvolvimento dos indivíduos acontece nos vários
microssistemas, e a qualidade destes tem repercussões naquele mesmo
desenvolvimento). Para o segundo caso, contase com o facto de os
projectos de desenvolvimento muitas vezes não serem especificamente
psicológicos. Deste modo, estando presentes outros profissonais
integrados numa equipa, teremos que actuar a outros níveis que não só
o psicológico. Assim, "o psicólogo apercebese rapidamente de que é
ilusório trabalhar em termos individuais quando se desejam resultados
positivos e que, em trabalho de grupo, o modelo mais eficaz é o
colaborativo" (Coimbra,1991).

O modelo do especialista (tradicional), devido às consequências que


acarreta, não vai ser muito desenvolvido. Ele conduz a uma
estanquicidade da área de actuação, uma excessiva valorização das
competências, técnicas e instrumentos de acção do psicólogo, e a uma
errada legitimação das práticas de intervenção baseada na pretensa
"cientificidade" das técnicas. "O modelo de especialista instaura,
efectivamente, uma relação de poder e dependência" (Coimbra,1991).

O modelo colaborativo, alternativo ao anterior, baseiase na


colaboração, na interdisciplinaridade e numa abordagem global dos
problemas. Por um lado, "o psicólogo é percepcionado como um recurso,
envolvido na prossecução de objectivos gerais, para os quais a sua
acção concorre..." (Coimbra,1991). Ao mesmo tempo, ele é "um
profissional...cuja intervenção ocorre a par da de outros
profissionais" (Dinkmeyer & Dinkmeyer,1984; citados por Coimbra,
1991). Esta abordagem permite observar com maior nitidez todas as
dimensões que, para além da psicológica, constroem a grande
complexidade dos problemas de cada indivíduo (as dimensões social,
económica, cultural, etc.). Além da partilha de responsabilidades e
negociação conjunta das decisões, há ainda a partilha dos
conhecimentos, experiências e competências que cada interveniente tem,
e que são úteis para se atingir o fim proposto.

"O apoio psicológico ao desenvolvimento psicológico dos alunos e à sua


orientação escolar e profissional bem como o apoio psicopedagógico às
actividades educativas e ao sistema de relações da comunidade escolar
" (artº 26º e 24º da Lei de Bases do Sistema Educativo) são objectivos
que os psicólogos devem ter quando estiverem a intervir no contexto
escolar.E que intervenção cumpre melhor estes fins que não a
intervenção ecológica ou comunitária, nomeadamente a Consultadoria
Ecológica? Cleto (1989) considera que o psicólogo a exercer na escola
deve dar resposta à diversidade de pedidos e problemáticos de
adolescentes e jovens quer os que se ligam directamente à dimensão
escolar em sentido estrito... quer os que se prendem com outras
dimensões, papéis e contextos de vida do adolesente (Coimbra,1991).
Assim, e em virtude do papel que os psicólogos têm na promoção do
desenvolvimento pessoal e social dos alunos, foi implementada a área
curricular de formação pessoal e social, visando tanto a capacitação
para a resolução de vida, como a promoção do desenvolvimento
psicológico, e mesmo uma educação para os valores.

Neste contexto, a intervenção deve efectuarse tanto através de


programas de intervenção exclusivamente psicológicos, como através de
estratégias de consultadoria. No 1º caso, as intervenções de "educação
psicológica deliberada " destinamse a desenvolver nos alunos
capacidades psicológicas de preparação para as várias tarefas. No 2º
caso, podese falar em "consultadoriaformação psicológica junto de
professores" (Alpert & Ass. ,1982; Campos, 1987; Cole & Siegel, 1990;
VandenplasHolper, 1991), tratandose de um processo destinado ao
desenvolvimento de programas, ou à inovação pedagógica, ou mesmo de
integração, em termos de igualdade numa equipe de projecto (Campos,
1990). Assim, a consulta para o desenvolvimento humano do aluno deve
estenderse à colaboração com os professores, para os apoiar no seu
papel de profissionais do desenvolvimento. Devese ainda alargar a
intervenção a todo o sistema organizacional da escola, pois "o
desenvolvimento das competências de vida e da respectiva dimensão
psicológica resulta ainda do impacto que neles tem o sistema ecológico
constituído, nomeadamente pela estrutura e organização da instituição
escolar e do processo de ensino/aprendizagem, bem como das relações
que aquelas mantém com os outros contextos directos de vida" (Campos,
1990). É necessária assim uma intervenção ecológica que se dedique
tanto às actividades e relações interpessoais dos alunos
(microssistema) como as relações das escolas com a família e a
comunidade (mesossistema), no fundo uma Consultadoria Ecológica
(Campos, 1990). Felizmente, a reforma curricular em curso abre
perspectivas para o incremento de um modelo desenvolvimentalecológico
(Campos, 1990; Christenson, Abery & Weinberg, 1988).

Ao nível do desenvolvimento do sistema pessoal do indivíduo, a acção


do psicólogo pode passar pela criação de competências para lidar com a
vida, com as transições e tarefas desenvolvimentais, fornecendo às
pessoas capacidades para agirem na interacção com o meio, promovendo a
sua capacitação comunitária e social. Os sujeitos devem obter
autonomia para conseguirem inplementar os seus projectos e ao mesmo
tempo ultrapassarem os obstáculos que se lhes deparam, especialmente
originados por um confronto com os projectos sociais.

Segundo a perspectiva desenvolvimental do "lifespan" ou ciclo vital,


a intervenção deve estar orientada para tornar o indivíduo mais
autónomo, promovendo assim o desenvolvimento de capacidades para lidar
com momentos importantes como os que já foram referidos: tarefas
desenvolvimentais, transições e tarefas de vida. Segundo Havighurst
(1972) uma "developmental task" é uma tarefa que aparece em
determinado momento da vida e, caso ela seja resolvida, o indivíduo
adquire capacidade para resolver situações futuras, assim como
satisfação. A não resolução origina infelicidade e incapacidade de
resolver tarefas que o indivíduo venha a ter que ultrapassar. Ainda
para Hopson & Adams (1976), uma transição consiste numa
"descontinuidade consciente no espaço de vida de uma pessoa, que vai
exigir novas respostas comportamentais". Transições como o divórcio,
mudança de emprego, etc. podem activar crises nas quais as pessoas
veem os seus recursos de coping a serem totalmente esmagados. No
geral, uma crise é um desiquílibrio psicológico numa pessoa que
enfrenta uma situação perigosa e que constitui um problema importante
do qual não consegue escapar, e nem o consegue resolver com os seus
habituais recursos de resolução de problemas (Caplan, citado por
Sandoval, 1988).

As noções de tarefas desenvolvimentais e transições relacionamse


nitidamente com o modelo do ciclo vital. Esta perspectiva, visto
considerar um desenvolvimento ao longo da vida do indivíduo, assume
que existe uma continuidade temporal, marcada por mudanças activas e
sistemáticas, e que os indivíduos, em todo este processo, interactuam
com os contextos de vida (perspectiva ecológica do desenvolvimento).
Essas mudanças e acontecimentos de vida podem estar associados à idade
do indivíduo ou ao momento histórico geracional que ele atravessa
(normativos), mas podem ser ainda acontecimentos idiossincráticos (não
normativos). Devem abranger ainda uma das dimensões de vida do sujeito
(psicológica, social, cultural), e serem ou não esperados por este.
tempo e esforço. Há que não ter apenas "amigos íntimos". A família,
por ex:, envolve afecto e assistência, é uma grande fonte de apoio,
mas é um sistema que como qualquer outro, poderá não saber responder a
todo o tipo de exigências.

O processo de apoio é influênciável por um conjunto de factores. As


características pessoais como a empatia, a extroversão, etc.
condicionam a quantidade e qualidade de apoio que o indivíduo recebe.
Também existem influências do contexto social em que o sujeito se
insere.

A profissão exercida, a comunidade em que o sujeito vive, e mesmo a


família da qual o indivíduo tem origem são factores determinantes das
redes de apoio. Por ex:, quando eventualmente um indivíduo muda de
casa, a sua rede pode ser quebrada, mantendose algumas relações e
construindose outras. A apreciação não só da influência do indivíduo
nas suas redes e o apoio individual dos elementos ao sujeito, mas
também dos vários contextos sociais em interacção com o indivíduo e
entre si, faz vislumbrar um modelo ecológico de todo o processo de
apoio social. Também o sexo ou o momento do ciclo vital em que o
indivíduo se encontra são variáveis que condicionam o apoio social.
Geralmente os homens tem redes de apoio maiores que as mulheres, visto
muitas destas últimas serem "donas de casa". Assim, o fenómeno de
diferenciação do apoio social em função do género tem muito a ver com
os papeis sexuais e a sua socialização. Por outro lado, ao longo do
ciclo vital o sujeito sofre mudanças, nomeadamente na sua capacidade
de envolver outros como figuras de apoio, na sua disponibilidade para
investir nas redes sociais, ou ainda ao nível da mutabilidade das suas
necessidades, o que obriga à constante actualização e renovação das
redes. Também os contextos de vida do indivíduo mudam o que acarreta
constrangimentos à capacidade do sujeito criar, manter, e inovar as
redes sociais de apoio que necessita.

Segundo Gottlieb (1988), o apoio social é um recurso que é mais


acessível, é culturalmente válido e aceite, do que os serviços
oferecidos pelos profissionais de saúde mental. Não só com base nisto
mas também em função da importância que o apoio social tem para o
indivíduo há que assegurar que as pessoas tenham apoio suficiente e
adequado sempre que ele seja necessário, e que estejam cientes dessa
situação. É este o objectivo das intervenções de apoio social.

A intervenção visa assim em primeiro lugar fazer com que a pessoa


utilize mais eficazmente a rede de apoio existente. Em segundo lugar,
há que, determinar se é necessário desenvolver novas redes de
relações, e se se deve manter a(s) rede(s) de apoio actual(ais). Além
da promoção da oferta e aceitação de comportamentos de apoio, devese
alterar as apreciações subjectivas que o indivíduo faz do apoio
recebido. Na avaliação da sua rede, o indivíduo pode ter percepções
irrealistas que urgem serem tornadas realistas.

As intervenções podem ser efectuadas a vários níveis: no indivíduo


(permitindo que seja feita uma avaliação profunda e clara da rede do
indivíduo), na família, nos grupos (não nos grupos já existentes, mas
na criação de novos grupos, como por ex: os grupos de interajuda),
nas organizações (a escola, o contexto de trabalho, etc.), na
comunidade (o bairro, a freguesia em que se vive) e mesmo na sociedade
em si. O local de trabalho, por ex:, apresenta, segundo Price (1985),
oportunidades para projectos de apoio social. O contexto de trabalho
oferece frequentemente uma população segmentada pela idade, sexo,
nível educacional, no fundo grupos de pessoas que partilham situações
e responsabilidades e enfrentam problemas comuns. O clima deste
contexto pode ou não facilitar o estabelecimento de relações entre os
vários funcionários, mas este último "constitui sem dúvida uma
importante fonte de ligações sociais potenciais, para adultos e
jovens". (Vaux, 1988). Não se está a falar apenas de relações de
trabalho, mas também de relações sociais que surjem daqueles momentos
de interacção não relacionados com o trabalho, e que poderão ter um
efeito positivo no bem estar das pessoas no próprio contexto de
trabalho, e no quotidiano. A política da organização em que se insere
o posto de trabalho pode incrementar a cooperação ou por outro lado
instigar à competição. Ainda ao nível do local do trabalho, este pode
conter factores importantes de stress (House, 1981), como ambiguidade
e conflito de papeis, ou trabalho repetitivo, entre outros. Segundo
Vaux (1988), são os próprios colegas de trabalho que melhor respondem
a muitos dos problemas neste contexto, em virtude de estarem por
dentro das restrições e constrangimentos que ele impõe. A família
apenas poderá dar algum apoio emocional, e estando ela envolvida com a
pessoa em crise (especialmente os membros mais próximos) não poderá
deixar de se envolver demasiado emocionalmente, e provavelmente acabar
por ficar psicologicamente afectada e desenvolver críticas e
comportamentos hostis à pessoa em crise (Gottlieb, 1988).

A intervenção ao nível das redes de apoio previligia estratégias como


a Construção de Competências, orientada para a comunidade em geral e
não para um grupo específico. Esta estratégia tem como princípio o
facto de todos os indivíduos deverem possuir competências que mais
cedo ou mais tarde virão a precisar. É uma estratégia que dirige as
atenções não para a resolução de perturbações, mas para a obtenção do
bem estar (Vaux, 1988). Outra estratégia é o "Empowerment" dos
indivíduos. Profissionais e membros da comunidade colaboram em
esforços para capacitar, fornecer mestria, aos indivíduos para eles
resolverem as suas dificuldades e atingirem os seus objectivos
(Rappoport referido por Vaux, 1988), mestria essa aplicável ao nível
individual mas também ao nível comunitário.

As técnicas de mudança social reflectem três processos de intervenção


distintos: informar, persuadir e exercer coerção. A informação
baseiase na crença de que as pessoas agem com base em interesses
próprios clarificados, enquanto que o uso da coerção assenta na
necessidade do seu emprego alcançar e eliminar conflitos de interesses
e/ou atitudes que estão enraizadas no indivíduo. Mas é a persuasão
que, segundo Vaux (1988) se mostra como sendo a estratégia mais
promissora para as intervenções de apoio social. Os processos de
intervenção que se enquadrem nesta área de estratégia são, por um
lado, mais eficazes do que se se orientassem para o fornecimento de
informação. Por outro lado, as tácticas persuasivas são bastante menos
propensas em gerarem oposição ou problemas éticos do que a coerção
para a mudança. Por outro lado, como Vaux afirma, a influência social
persuasiva é mais vista como ferramenta legítima dos profissionais da
psicologia e outros afins da elaboração dos programas de apoio social.

Assim, as intervenções são multiplas, por ex:, a Terapia da Rede visa,


segundo Schoenfeld et al. (1985) restabelecer a rede do indivíduo como
uma unidade funcional, com o propósito de aumentar a proximidade e
capacidade de apoio e ajuda dos membros do grupo, entre si. Esta
estratégia envolve o trabalho directo do psicólogo com a totalidade ou
segmentos da rede do indivíduo, como vizinhos, família, amigos etc. Há
que reunir a rede, juntar os membros, alterar a responsabilidade,
através da mobilização da rede ao nível da sua energia, cuidados,
comportamentos de apoio, tudo para ajudar o indivíduo em crise.

Outro exemplo é o caso dos Grupos de Interajuda e de Apoio, que


pretendem sobretudo aumentar o apoio social através do suplemento ou
substutuição dos recursos das redes actuais do indivíduo. De acordo
com Gottlieb (1988), as pessoas têm o direito absoluto de definir
aquilo que para elas, constitui apoio e de determinar os seus níveis
ideais de participação num grupo. Este é um princípio muito importante
ao qual os grupos de apoio obedecem. Esta modalidade de intervenção
propicia a solidariedade, o apoio emocional e o corte do isolamento
dos indivíduos, mas poderá criar uma dependência entre os vários
elementos do grupo, o que conduzirá a dificuldades quando a separação
se torna necessária.

Não se pode isolar as pessoas dos contextos em que elas vivem. O


conceito de "pessoaemcontexto" é assim importante para
compreendermos a interacção que existe ao longo do tempo entre o
indivíduo em desenvolvimento e os seus contextos de vida, e para nos
apercebermos que é por causa dessa mesma interacção que surgem muitos
problemas. Orford (1992) afirma que os indivíduos estão num estado de
"transacção" contínua com os vários contextos em que vivem, num
processo de influência recíproca. Assim, o objectivo da intervenção
para a mudança dos contextos institucionais de vida é presisamente
essa "interface" entre a pessoa e os contextos sociais.

Orford, propõe assim uma perspectiva centrada na noção de Contexto, a


qual enfatiza a referida transacção contínua entre os indivíduos e os
vários contextos, e uma outra perspectiva mais abrangente que a
anterior, centrada na noção de Sistema. Atentase nesta última à
interrelação que existe entre os vários contextos, sempre numa
tentativa de integração e de relação dos diversos contextos de vida.

Ao abrigo das metodologias centradas na noção de Contexto estão o


Modelo de Barker e os seus "contextos comportamentais". Estes "padrões
estáveis de comportamento e ambiente", fenómenos naturais, muitas
vezes criados para servir interesses e necessidades humanas, têm,
segundo Barker (citado por Orford, 1992), um poder quase coersivo
sobre o comportamento das pessoas, levando à perda da individualidade
das pessoas nesses contextos comportamentais. Este "condicionamento"
acaba por ser excessivo e logo nefasto para o indivíduo.

Como Moos, e a sua "Ecologia Social", surge o conceito de "atmosfera"


ou "clima" social, que consiste, em traços gerais, na percepção que o
indivíduo tem do ambiente num determinado contexto. Esta perspectiva
tenta assim compreender o impacto que o ambiente tem no indivíduo
(enfatizando a percepção individual do ambiente), ambiente esse com
duas vertentes intimamente ligadas, igualmente contributivos para a
experiência individual e, deste modo, dignas de estudo: o ambiente
físico e o ambiente social. Ao nível da intervenção, há que descobrir
os diferentes aspectos de organização dos ambientes para que se possa
maximizar o desenvolvimento pessoal dos seus habitantes. Só após
recolha de informação que permita um conhecimento estruturado do
ambiente pelos indivíduos, eles poderão ter o controlo ambiental de
que necessitam para melhor serem capazes de proceder à transformação
desse mesmo ambiente, de forma a tornálo mais adequado. Em função da
relação directa entre complexidade do indivíduo e capacidade de
transformação e adaptação, será útil promover o desenvolvimento do
sujeito através de outro tipo de intervenções.

Já no domínio das perspectivas orientadas para a noção de Sistema


surgemnos modelos que se preocupam mais com as conexões que existem
entre os muitos e diferentes contextos de vida do indivíduo. É o caso
da Teoria do Comportamento Interpessoal, com a sua perspectiva base da
complementaridade da açcão, tão importante quando pensamos num bom
funcionamento das relações interpessoais, por exemplo, nos contextos
de trabalho. Podese referir também o interaccionismo (interacção
entre o indivíduo e o contexto) e a congruência pessoaambiente.Aqui,
e segundo Holland, é importante que o ambiente corresponda ao tipo de
personalidade do sujeito( ex: se o indivíduo é competitivo, o
ambiente também o deve ser) .

As transições, períodos de conflito de papéis, obrigam a um


questionamento pessoal e a um iniciar de novos estilos de vida, e têm
implicações aos níveis da percepção de si próprio, da percepção da
relação do indivíduo com os outros, ou da percepção da acção que ele
desenvolve nas várias áreas. Algumas perspectivas referem também o
conceito de Crise, situações de excessiva carga assumida.

Ao nível da intervenção, há que evitar a ocorrência destes


acontecimentos, ou preparar os sujeitos para aqueles, bastando muitas
vezes o fornecimento, ou melhor ainda, a promoção de competências para
lidar com estas situações negativas. Não nos podemos esquecer,
contudo, que, apesar das suas consequências negativas, estes
acontecimentos são frequentemente promotores potenciais do
desenvolvimento do indivíduo. Ao porem "em crise estrutural, funcional
ou emocional o sistema pessoal, e lhe exigirem mudanças, constituindo
assim tarefas de desenvolvimento ..." (Campos, 1990), vão permitir que
se construa um sistema pessoal mais autoorganizado e mais integrado.

Quando pensamos em intervir para desenvolver as capacidades para lidar


com as tarefas de vida e com as transições desenvolvimentais, devemos
estudar e definir as dificuldades, exigências das situações para, de
seguida, identificar competências específicas. Vai ser necessário
desenvolver métodos sistemáticos para ensinar aquelas competências,
assim como elaborar programas para a sua disseminação. Os programas
devem estar elaborados de acordo com as necessidades concretas e reais
dos indivíduos, assim como permitirem a estes a transformação das
situações problemáticas em oportunidades de desenvolvimento
psicológico. A intervenção deve focarse em três diferentes áreas onde
a promoção e o desenvolvimento de competências é de extrema
importância: O indivíduo deve adquirir competências relativamente a si
próprio (e. g.: competências de estudo, ou de tomada de decisão,
etc.), relativamente à relação com os outros (e. g.: competências de
emissão de feedback), e competências mais específicas relacionadas
com contextos específicos e mais previsíveis que ocorrem ao longo da
vida, como o emprego, a família, ou a comunidade (e. g.: competência
para manter o emprego, ou ser um(a) pai/mãe eficaz). NelsonJones
(1984) apresenta a terapia da responsabilização pessoal, na qual a
noção de "tarefas individuais" se liga com a ideia de que as pessoas
criam as suas vidas através das escolhas diárias. Em suma, a terapia e
consulta da responsabilização pessoal focase sobretudo sobre os
desejos e tarefas que fazem parte da vida de todos nós.

Segundo Moos & Schaffer (1987), e de acordo com a teoria das crises,
um indivíduo está especialmente receptivo à influência externa no
tempo de mudança. Esta acessibilidade oferece aos psicólogos uma
preciosa oportunidade de provocar um impacto construtivo. Há que
transformar as situações de crise em oportunidades de desenvolvimento
psicológico. Sandoval (1988) apoia esta perspectiva, e afirma que o
objectivo não é propriamente reorganizar completamente as dimensões da
personalidade do indivíduo, mas sim restaurálo para que ele tenha um
resolver criativo dos problemas. O sucesso na resolução de uma crise
leva provavelmente à aquisição de novas capacidades para lidar com
situações problemáticas, e à adopção de um melhor funcionamento.

As mudanças de residência, mudanças de emprego e de estatuto


ocupacionais, assim como a grande mobilidade em diferentes relações
interpessoais, ou mesmo a situação de desemprego são momentos de vida
importantes, que ocorrem, no presente, com uma maior frequência do que
em gerações anteriores (Felner et al., 1983) e que constituem
acontecimentos de vida stressantes e de crise.

E são ainda muitas outras as problemáticas que os indivíduos


apresentam, consoante o seu periodo desenvolvimental. (Wortley &
Amatea, 1982, citados por Costa & Menezes, 1991), nomeadamente as
fases universitária, de jovem adulto, da vida adulta e de idosidade.
Na fase adulta, por ex:, são comuns problemas relacionais e de
comunicação (com os colegas, com a família), problemas de realização
(dificuldades escolares, de tomada de decisões, etc.), e problemas de
identidade (ou autoorganização, como por ex: dificuldades ao nível da
autodefinição e da consciencialização dos sentimentos (Costa &
Menezes, 1991).

Visto o modo como as pessoas lidam com situações de crise, transições


e problemas vários estr sujeito a vários constrangimentos que têm a
vêr com as características do próprio indivíduo e do acontecimento
como também com as características do contexto de vida (Brammer &
Abrego, 1981; Hopson, 1985; citados por Costa e Menezes, 1991), que
contextos de intervenção psicológica a este nível são mais apropriados
que os centros comunitários. Estes constituem un contexto privilegiado
para a operacionalização da perspectiva ecológica da consulta
psicológica, visto, em virtude da sua própria inserção, poder
mobilizar com mais facilidade os recursos ao nível dos microssistemas
e mesossistemas, o que é muito relevante na intervenção para a
promoção do desenvolvimento humano (Soares, 1991). Além disso, a
intervenção não deve assentar num "psicocentrismo do exercício
profissional"(Soares,1991), pois o psicólogo não é o único a
contribuir para o desenvolvimento, devendose trabalhar em conjunto
com professores, família, pares, e outros. Os centros comunitários têm
realmente uma efectiva integração comunitária (através das estruturas
aí inseridas, com os centros sociais, as autarquias, etc.),
trabalhando assim em sintonia com os problemas e recursos que a
comunidade possui. (Campos 1989; citado por Costa & Menezes, 1991).

A situação de desemprego tratase de um momento de crise para o


indivíduo. O trabalho representa, para as pessoas o seu contexto de
ligação com a realidade, o meio que lhe confere uma identidade de
pertença a uma determinada colectividade, além de ser uma fonte de
estruturação das relações humanas. No fundo, ele é fornecedor de
autoestima e ponto de referência. Além disso, o não ter emprego tem,
a nível social,*/* uma conotação negativa. O desempregado é visto como um
indivíduo diferente.

Uma situação deste tipo pode provocar reacções como a agressividade.


desânimo, desespero, ansiedade, inibição, apatia, culpabilidade, perda
de identidade, abaixamento da autoestima, desorientação, ..."
(Kaufman, 1982; citado por Rodrigues & Rodrigues, 1987). São assim,
aspectos com que o psicólogo terá de lidar ao nível da intervenção
(Rodrigues & Rodrigues, 1987).

Uma vez que o problema do desemprego é claramente um problema social,


económico e político, a intervenção não deverá situarse apenas no
domínio do psicológico, mas deverá obedecer ao já referido e
desenvolvido modelo desenvolvimentalecológico da intervenção
psicológica, isto é, além de atentar ao pessoal e ao interpessoal,
deve incidir também no transpessoal.

A consulta psicológica na situação de desemprego deve tentar, em


primeiro lugar "estimular a procura de emprego". Para tal deverseão
manter sessões de grupo com objectivos vários, visando sobretudo a
aquisição de informação e competências de competitividade no mercado
de trabalho. Claro que se estas iniciativas forem complementadas com
medidas sociais, económicas e políticas tomadas conjuntamente, as
probabilidades de sucesso serão maiores (Pombo, 1985; citado por
Rodrigues & Rodrigues, 1987). Em segundo lugar há que "capacitar para
viver com o desemprego", pois nem todas as situações de desemprego
poderão ser solucionadas. Assim, os indivíduos têm direito e
necessidade que lhes sejam fornecidas capacidades e condições para
lidarem de um modo saudável com a situação.

Aqui a intervenção deve tanto apoiar directamente ao nível individual,


como promover encontros entre desempregados, intervir em contextos
como a família ou a sociedade (promoção social da mentalidade que
tende a vêr o desempregado como algo mau), e mesmo criar alternativas
de ocupação que criem os benefícios de "ter emprego" (Rodrigues &
Rodrigues, 1987).

A intervenção psicológica para o desenvolvimento do sistema pessoal do


indivíduo pode incidir também nas estruturas cognitivas da acção
humana. Segundo Kohlberg, o indivíduo constrói uma nova estrutura em
função do desiquilíbrio na acção, sendo este provocado pelo conflito
cognitivo, ou então para Coimbra (1991) o desenvolvimento do cliente
ocorre a partir de um processo de transformação do seu sistema
pessoal, integrando níveis anteriores (mais simples) em níveis mais
complexos de compreensão da realidade. A intervenção visa então
promover a facilitação do processo de transição, ou seja desenvolver
competência(s) no indivíduo. Estáse assim a falar de estratégias.
cognitivodesenvolvimentais. As estratégias que vão ser desenvolvidas
são para se rem aplicadas em situações de ausência de crise. São
assim essencialmente educativas.

A intervenção pode ser ora sectorial, ora global. Uma técnica de


desenvolvimento sectorial das estruturas cognitivas é a "Discussão de
Dilemas", a qual visa desenvolver o raciocínio moral e promover o
desenvolvimento interpessoal. Esta técnica baseiase no pressuposto de
que a apresentação de problemáticas com um conflito de interesses (o
que vai levar à consideração de vários pontos de vista Tomada de
Perspectiva Social), conduz ao conflito cognitivo, e a consequente
resolução deste último leva ao desenvolvimento do indivíduo, mais
concretamente à ou às estrutura(s) cognitiva(s) abrangida(s). O
cliente vai passar assim para um nível mais complexo de compreensão da
realidade. Em virtude de a discussão de dilemas não intencionalizar
mudanças de comportamento, Kohlberg começa a desenvolver a sua
"Abordagem da Comunidade Justa", visando a mudança do sistema
interpessoal.

A Educação Psicológica Deliberada é uma intervenção que já tem como


ambição o desenvolvimento global das estruturas cognitivas, tem por
base uma "orientação holistica da intervenção" Coimbra, 1991). Aqui,
Sprinthall apoia o princípio de que o desenvolvimento do indivíduo
(passagem para estádios de desenvolvimento mais complexos) ocorre
quando este vive experiências significativas, desafiantes e mais
complexas do que o permitido pelo seu desenvolvimento actual, o que
vai provocar um desiquilíbrio. Esse desiquilíbrio não deve ser
demasiado, ou o indivíduo não conseguirá evoluir e sucumbirá.

Segundo Coimbra (1991), "na educação psicológica deliberada, o


processo de intervenção organizase no sentido de melhorar a própria
qualidade de vida psicológica do cliente, proporcionandolhe a
oportunidade de viver e integrar experiências reais de vida em
contextos genuinos". Assim, e como se pode observar, esta é uma
estratégia que incide não só nos recursos do próprio sujeito mas
também nos recursos dos vários contextos, o que faz dela uma
intervenção não exclusiva e somente centrada no indivíduo mas tambem
orientada para a psicologia ecológica.
As estruturas idiossincráticas são as regras a partir dos quais o
indivíduo organiza e atribui significado à realidade. São dimensões
tácitas, quer do autoconhecimento, quer das teorias do sujeito e da
sua relação com o mundo. São no fundo regras abstratas que o indivíduo
não consegue enunciar mas que organizam a sua acção. Como no fundo o
processo de construção dos significados é um percurso de
autoreconhecimento, para o psicólogo produzir mudança e logo intervir
nas estruturas indiossincráticos ele deve, segundo Marcia, antes de
mais, desenvolver uma relação segura com o cliente (assim como em
qualquer outra intervenção), criar condições para o investimento do
indivíduo e propiciar possibilidades de exploração de alternativas.

Analisandose a lógica actual do funcionamento do indivíduo,


conseguese saber o que é que o perturba, e podese então desafiar a
estrutura do cliente, fazendose perguntas desiquilibrantes (mas
emparelhandoas com o apoio), que desafiem a estrutura tácita cliente
tendo como objectivo a progressão de uma dimensão explícita
(acontecimento) para uma dimensão tácita (regras, estruturas).

O apoio social é, segundo Vaux (1988), um processo transaccional


complexo que envolve um intercâmbio activo entre o indivíduo e a rede
social de apoio. Esse apoio social tem, na opinião de Cobb, uma grande
importância em relação ao stress e ao bem estar, pois o indivíduo
necessita ser querido, respeitado e protegido de muitos acontecimentos
frustrantes. A família, os amigos, os serviços sociais, os vizinhos,
etc, são, para Caplan, sistemas de apoio muito importantes que
desempenham um papel crucial no resultado das crises e transições
desenvolvimentais das pessoas. As redes de apoio ao fornecerem apoio
social, podem ter funções instrumentais (dando resposta a necessidades
materiais) e/ou funções expressivas (dando resposta a necessidades de
amor, afecto, amizade, etc.). O indivíduo tem assim necessidade de
possuir redes sociais de apoio que consigam abranger todas as suas
carências. A ajuda deve ser efectiva, surgindo frequentemente
situações em que as redes de apoio são vistas como tal, mas
efectivamente são fonte de perturbação, ou por outro lado, as redes
fornecem apoio concreto mas o indivíduo não percebe ou sente esse
apoio. Há que intervir nomeadamente ao nível da percepção de apoio que
o indíviduo tem, ou orientálo para o apoio (avaliação da necessidade
de apoio pelo indivíduo e mobilização das suas redes).

As redes sociais apresentam mais vantagens se forem grandes (maior


distribuição dos pedidos de apoio), e se tiverem uma maior diversidade
da sua composição. A densidade da rede deverá ser idealmente alta em
questões emocionais, e baixa em actividades instrumentais. A densidade
pode ser positiva ou negativa, conforme as situações, isto é, pode ser
que a partilha da mesma perspectiva ou problemática para muitas
pessoas diminua o conflito ou a confusão, mas por outro lado, diminua
a disponibilidade dos membros da rede. Redes com relações complexas e
recíprocas são muito importantes e indispensáveis, preenchendo muitas
necessidades de apoio, mas são também muito dispendiosas em termos de

Há então que melhorar a qualidade psicosocial dos contextos de vida


recorrendo à modalidade de intervenção indirecta consultadoria , e
utilizando uma estratégia colaborativa.

A colaboração ou cooperação entre psicólogos e profissionais propicia


um maior investimento, por parte destes últimos, nas mudanças que
forem necessárias implementar, assim como aumenta a probabilidade da
intervenção se situar no campo do possível. Além disso, é sempre útil
obter novas perspectivas e experiências e trabalhar com um leque maior
de percepções e competências, se bem que a cientificidade do processo
possa ser abalada em virtude de os próprios profissionais estarem
envolvidos na mudança.

No caso concreto da situação de trabalho, e da intervenção na


organização, Jetton (1984) alertanos para a utilidade de intervir
junto dos líderes quando produzir mudança é o nosso objectivo.
Poderseà mudar o funcionamento organizacional ?...Provavelmente não,
mas talvez se consiga, em vez de de mudar a estrutura da organização
ao menos permitir a partipação dos trabalhadores nas tomadas de
decisão. Tal será positivo para a empresa (maior informação a dar
entrada no processo de tomada de decisão e maior eficácia
organizacional) e ao mesmo tempo para os trabalhadores (aumento da
motivação e investimento e maior sentimento de gratificação).

No fundo, tratemos de actuar nos problemas do quotidiano e no modo de


lidar com esses problemas, através da intervenção nos vários e
diferentes níveis de análise que o permitam (psicológico, social,
profissional), sem perder de vista todos os recursos que a comunidade
nos oferece.

BIBLIOGRAFIA

Baker, S. & Shaw, M. (1987). Improving counseling through primary


prevention. (cap.2). Merril Pub. Comp..

Bronfenbrenner, U. (1979). The ecology of human development. Harvard


University Press.

Campos, B. (1985). Consulta psicológica e projectos de


desenvolvimento humano. Cadernos de Consulta Psicológica, 1, 56.
Campos, B. (1988). Consulta psicológica e desenvolvimento humano.
Cadernos de Consulta Psicológica, 4, 512.

Campos, B. (1990). O psicólogo e o desenvolvimento pessoal e social


dos alunos. Cadernos de Consulta Psicológica, 5, 8395.

Campos, B. (1991). Psychological intervention and human development.


In B. Campos (Ed.) Psychological intervention and human development
(pp. 1323). Porto: ICPFd e LouvainlaNeuve: Academia.

Coimbra, J. (1991). O psicólogo face aos outros profissionais da


educação: reflexões sobre a consultadoria psicológica. Cadernos de
Consulta Psicológica, 7, 2126.

Coimbra, J. L. (1991). Estratégias cognitivodesenvolvimentais em


consulta psicológica individual. Porto:Instituto de Consulta
Psicológica, Formação e Desenvolvimento.

Conyne, R. K. (1987). Primary preventive counseling: empowering


people and systems. Muncie: Accelerated Development Inc..

Costa, M. E. & Menezes, I. (1991). Consulta psicológica de adultos


em centros comunitários. Cadernos de Consulta Psicológica, 7, 7782.

Felner, R. Farber, S. & Primavera, J. (1983). Transitions and


stressful life events: a model for primary prevention. In R. Felner et
al., Preventive psychology, (cap. 12). N.Y.: Pergamon Press.

Gottlieb, B. H. (1988). Marshaling social support: Formats,


processes, and effects, (caps. 1, 3, 5, 11). California: Sage
Publications.

Hopson & Scally, M. (1981). Lifeskills teaching, (cap. 5). London:


McGraw Hill.

Illback, R. J., Zins, J. E., Maher, C. A. & Greenberg, R. (1990). An


overview of principles and procedures of program planning and
evaluation. In T. B. Gutkin & C. R. Reynolds (Eds.). The handbook of
school psychology, (pp. 799820). 2nd ed. N.Y.: Wiley.
Kohlberg, L. & J. L. Gewintz (Eds.). Moral development through
social interaction. N. Y.:Wiley.

Moos, R. & Schaffer, J. (Eds.) (1987). Coping with life crises,


(cap. 1). N.Y. Pergamon Press.

NelsonJones, R. (1984). Personal responsability counseling and


therapy, (cap. 6). London: Harper & Row.

Orford, J. (1992). Community Psychology. Theory and practice.


(Cap.2). Chichester: Wiley.

Rodrigues, B. & Rodrigues, H. (1987). Consulta psicológica e


desemprego. Cadernos de Consulta Psicológica, 3, 123126.

Vaux, A. (1988). Social Support: Theory, research and intervention.


(caps. 1, 3, 7, 9 e 10). N.Y.: Praeger.

Por:

Alexandre M. Campos

Psicólogo, Universidade do Porto

Porto
, Agosto de 1994

Você também pode gostar