Você está na página 1de 69

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

CAMPUS PETROLINA
PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM FORMAÇÃO
DE PROFESSORES E PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES

ELIZÂNGELA ALVES MIRANDA ATANÁZIO

AFETIVIDADE E PRÁTICA DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

PETROLINA – PE
2023
ELIZÂNGELA ALVES MIRANDA ATANÁZIO

AFETIVIDADE E PRÁTICA DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Formação de Professores e Práticas
Interdisciplinares da Universidade de Pernambuco
(PPGFPPI) Campus Petrolina, como requisito para
obtenção do título de Mestre em Educação, na linha
de pesquisa Políticas Educacionais, Formação
Docente e Práxis Pedagógica.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Silva de Souza


Ribeiro

PETROLINA – PE
2023
PÁGINA RESERVADA PARA FICHA CATALOGRÁFICA (ELABORADA
EXCLUSIVAMENTE PELO BIBLIOTECÁRIO
ELIZÂNGELA ALVES MIRANDA ATANÁZIO

AFETIVIDADE E PRÁTICA DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Formação de Professores e Práticas
Interdisciplinares da Universidade de Pernambuco
(PPGFPPI) Campus Petrolina, como requisito para
obtenção do título de Mestre em Educação, na linha
de pesquisa Políticas Educacionais, Formação
Docente e Práxis Pedagógica.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Silva de Souza


Ribeiro

Aprovada em: 00/00/2000.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Silva de Souza Ribeiro (Orientador)
Universidade de Pernambuco Campus Petrolina (UPE)

__________________________________________________
Profa. Dra. Iracema Campos Cusati (Membro interno)
Universidade de Pernambuco Campus Petrolina (UPE)

___________________________________________________
Profa. Dra. Janedalva Pontes Gondim (Membro externo)
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)

PETROLINA – PE
2023
“A pessoa parece então ir além dela mesma.
Para as diversas relações sociais que acabara de
aceitar e nas quais parecia ter apagado, procura
uma significação, uma justificativa. Confronta
entre si valores e compara-se com eles. Com
esse novo progresso, termina a preparação para
a vida que a infância foi.”

Henri Wallon
AGRADECIMENTOS

Gratidão a Deus é o que tenho vivido de mais intenso, por me permitir que eu continue
acreditando nos meus sonhos e vencendo os obstáculos, por me dar forças e sabedoria para
seguir nessa trajetória e concluir esse processo acadêmico, o qual enfrentei com determinação
todos os desafios.

À minha família, sempre presente, com seu apoio e amor incondicional. Minha mãe
Creuza (in memória) e meu pai Agenor, que torce pela vitória dos seus, sem medir esforços,
minha eterna gratidão. A meu esposo Lídio, com seu acostar-se diário e força constante, que
me incentiva a continuar firme. Aos meus filhos, Évili e Érick, sempre presentes e me
auxiliando na correria diária, entre trabalhar e estudar, mesmo tendo que aguentar minhas
ausências, stress, cansaço e reclamações.

A minhas irmãs e sobrinhos, na torcida pela minha vitória profissional e familiar.

As companheiras do grupo de estudo do mestrado, Márcia, Cristineide, Neylane e


Silvana, buscando auxiliar uma a outra nas dúvidas e necessidades apresentadas.

Ao meu professor orientador Dr. Marcelo Ribeiro, que além de conduzir cada momento
com maestria e sabedoria, compreendendo e acompanhando as minhas fraquezas, foi paciente
e confiou que eu daria conta.

A minha colaboradora Clara Miranda, incentivadora para o ingresso no mestrado,


mostrou-me o caminho e estimulou para que eu acreditasse, que prosseguisse firme, pois
conseguiria chegar até o fim dessa caminhada.

As professoras e coordenadora do CMEI Maria Teresa Brennand Coelho, por


colaborarem com a pesquisa, em especial a gestora Eliete, que me apoiou e incentivou para que
eu não desistisse, mas tivesse ânimo e coragem de continuar até o fim.

Aos professores do PPGFPPI, por me proporcionarem momentos de discussões,


interações, bem como compartilhar conhecimento e aprender em grupo.

A banca examinadora, nas pessoas da professora Drª Iracema Cusati e Drª Janedalva
Gondim, que desde a pré-qualificação me orientaram e ajudaram com suas contribuições, para
a melhoria e fortalecimento deste trabalho.

A todos, muito obrigada.


“Me movo como educador, porque, primeiro, me movo como gente.”
(FREIRE, 2002)
RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar a afetividade na prática pedagógica de docentes de um
Centro Municipal de Educação Infantil de Petrolina – PE. Trata-se de um estudo de natureza
qualitativa e interpretativa, considerando o objeto de estudo, as compreensões das práticas
pedagógicas dos docentes em relação a afetividade na Educação Infantil. A pesquisa se
caracteriza como descritiva e exploratória, já que visa descrever características da população,
analisando aspectos da realidade dos pesquisados e suas vivências. Participaram da pesquisa,
quatro docentes em efetivo exercício na Educação Infantil, todos lecionando na pré-escola na
Unidade de ensino em estudo. Os dados foram coletados através da aplicação de três
instrumentos, sendo o questionário, a entrevista semiestruturada e as observações não
participante, de momentos de interações, dos docentes em suas vivências cotidianas da prática
docente na Educação Infantil. Os dados revelaram que, apesar das dificuldades vivenciadas, os
docentes não têm deixado de pensar na afetividade em sua prática, mesmo que não tratem do
assunto continuamente. As demonstrações de afeto fazem parte de momentos do cotidiano
escolar. Indicam interesse no aperfeiçoamento e apontam para novas práticas, que consolidem
as expressões afetivas e que alinhem mudanças condizentes com um fazer pedagógico pautado
na afetividade, acolhendo, compreendendo e interagindo com a apropriação de novos
conhecimentos e aprendizagem. Um guia de orientação, “Afetividade na Educação Infantil,
como instrumento para uma prática docente”, foi produzido como produto da pesquisa, em
formato online, que pode ser acessado através de link e QR CODE, ficando disponível para
professores e interessados, que buscam refletir sobre uma prática docente, acerca dessa
temática, e com o intuito de colaborar, para uma prática afetiva e com proficuidade de guia e
ferramenta, para elaboração do plano de desenvolvimento individual e coletivo, com
intervenções focadas nas emoções, sentimentos, fortalecimento de vínculos e potencialização
de aprendizagem e desenvolvimento da criança, com ênfase na afetividade.

Palavras-chave: Prática Docente. Educação Infantil. Afetividade.


ABSTRACT

This work aims to analyze the affectivity in the pedagogical practice of teachers of a Municipal
Center for Early Childhood Education in Petrolina - PE. This is a qualitative and interpretative
study, considering the object of study, the understanding of teachers' pedagogical practices in
relation to affectivity in Early Childhood Education. The research is characterized as descriptive
and exploratory, as it aims to describe the characteristics of the population, analyzing aspects
of the reality of those surveyed and their experiences. Four teachers in effective exercise in
Early Childhood Education participated in the research, all teaching in preschool in the teaching
unit under study. Data were collected through the application of three instruments, namely the
questionnaire, the semi-structured interview, and the non-participant observations, of moments
of interactions, of the teachers in their daily experiences of teaching practice in Early Childhood
Education. The data revealed that, despite the difficulties experienced, teachers have not
stopped thinking about affectivity in their practice, even if they do not deal with the subject
continuously. Demonstrations of affection are part of everyday school moments. They indicate
an interest in improvement and point to new practices that consolidate affective expressions
and that align changes consistent with a pedagogical practice based on affectivity, welcoming,
understanding and interacting with the appropriation of new knowledge and learning. An
orientation guide, “Affectivity in Early Childhood Education, as an instrument for a teaching
practice”, was produced as a result of the research, in online format, which can be accessed
through a link and QR CODE, making it available to teachers and interested parties, who seek
to reflect about a teaching practice, about this theme, and with the intention of collaborating,
for an affective practice and with usefulness as a guide and tool, for the elaboration of the
individual and collective development plan, with interventions focused on emotions, feelings,
strengthening of bonds and potentialization of learning and development of the child, with
emphasis on affectivity.

Keywords: Teaching Practice. Child education. Affectivity.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 01 – Aspectos sociodemográficos .............................................................................. 40


Quadro 02 – Formação que contempla a dimensão afetiva ...................................................... 40
Quadro 03 – Afetividade e relação com os comportamentos docentes ................................... 52
Quadro 04 – Demonstração de cuidado e afeto por meio disciplinar ....................................... 53
Quadro 05 – Manifestação emocional na execução das atividades .......................................... 54
Quadro 06 – Afetividade e a relação com os conflitos ........................................................... 55
Gráfico 01 – Dimensão afetiva contemplada na prática docente ............................................. 41
Gráfico 02 – Prática docente que contempla a dimensão afetiva ............................................ 41
Gráfico 03 - Momentos com o tema afetividade para docentes na Educação Infantil ............. 42
Figura 01 – Palavras que representam a prática docente fundamentada na dimensão afetiva . 42
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEE Atendimento Educacional Especializado


BNCC Base Nacional Comum Curricular
CMEI Centro Municipal de Educação Infantil
COEPRE Coordenação de Educação Pré-Escolar
KM Quilômetro
MEC Ministério de Educação e Cultura
PE Pernambuco
PPGFPPI Programa de Pós-graduação em Formação de Professores e Práticas
Interdisciplinares
TCLE Termo de Consentimento livre e Esclarecido
UPE Universidade de Pernambuco
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 16
1.2 O CAMINHAR...................................................................................................................16
1.2 EDUCAÇÃO INFANTIL X AFETIVIDADE....................................................................18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 24
2.1 EDUCAÇÃO INFANTIL E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR BNCC....25
2.2 PRÁTICA EDUCATIVA E AFETIVIDADE SEGUNDO PAULO FREIRE....................28
2.3 EDUCAÇÃO INFANTIL E A DIMENSÃO AFETIVA SEGUNDO HENRI
WALLON.................................................................................................................................30
2.4 AFETIVIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO
INFANTIL................................................................................................................................32
3. OBJETIVOS .......................................................................................................................34
3.1 OBJETIVO GERAL...........................................................................................................34
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..............................................................................................34
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................................... 34
4.1 DESENHO DO ESTUDO .................................................................................................. 34
4.2 LOCALIZAÇÃO DO ESTUDO ........................................................................................ 35
4.3 SUJEITOS E AMOSTRA .................................................................................................. 35
4.4 INSTRUMENTOS DA PESQUISA .................................................................................. 35
4.5 RISCOS E BENEFÍCIOS...................................................................................................36
4.6 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS.............................................................................................37
4.7 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS .............................................................37
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................................... 39
5.1 DESENHANDO O PERFIL DOS PARTICIPANTES.......................................................39
5.2 DIALOGANDO COM OS SUJEITOS DA PESQUISA....................................................44
5.2.1 Situações concretas do cotidiano escolar da sala de aula e interações com os estudantes
...................................................................................................................................................44
5.2.2 Abordagem de conflitos entre os estudantes....................................................................46
5.2.3 Auxílio aos estudantes e planejamento das atividades escolares, considerando aspectos
afetivos......................................................................................................................................47
5.2.4 Afetividade e aprendizagem da criança............................................................................50
5.3 Atuação docente e suas vivências........................................................................................51
5.3.1 Comportamentos docentes................................................................................................52
5.3.2 Expressões de afetividade.................................................................................................53
5.3.3 Execução das atividades ...................................................................................................55
5.3.4 Conflitos entre os estudantes ...........................................................................................55
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................58
7. PRODUTO DIDÁTICO......................................................................................................60
REFERÊNCIAS......................................................................................................................61
APÊNDICES ...........................................................................................................................63
APÊNDICE 01 – QUESTIONÁRIO...............................................................................63
APÊNDICE 02 – ENTREVISTAS .................................................................................65
APÊNDICE 03 – OBSERVAÇÕES................................................................................66
APÊNDICE 04 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.........67
APÊNDICE 05 - TERMO DE CONFIDENCIALIDADE..............................................70
APÊNDICE 06 - CARTA DE ANUÊNCIA....................................................................71
16

1 INTRODUÇÃO

O capítulo introdutório desta dissertação apresenta minha trajetória pessoal e profissional,


que me fez debruçar em questões acerca da afetividade e das práticas docentes na Educação
Infantil. São aqui apresentadas e discutidas, de forma a observar o percurso que se deu a
Educação Infantil, embasadas pelos pensadores Henri Wallon e Paulo Freire, buscando refletir
as práticas docentes, sobretudo considerando a dimensão pedagógica afetiva e a construção da
aprendizagem, no que tange a afetividade.

1.1 O CAMINHAR

O sujeito é construtor do processo e da sua transformação, de trilhar o caminho que percorre


durante a vida. Nesse vai e vem, nas idas e voltas, percebemos que o caminhar é um movimento
cheio de recordações e conquistas. Ao olhar para trás, percebo que fui me construindo de um
jeito peculiar, em que um pouco de cada momento e de cada pessoa que convivi me ajudaram
a ser e chegar até aqui.

Trago, portanto, um recorte da minha trajetória pessoal e profissional, ambas entrelaçadas


e apoiadas uma na outra, fazendo-me alcançar os desejos que me sustentam e me fazem
continuar a caminhada.

Ser professora é um anseio desde criança, já presente nas brincadeiras com as bonecas no
quintal de casa. Uma infância cheia de boas recordações com família, amigos e a escola. Tudo
isso me fez uma pessoa confiante e com força para ir atrás de realizar meus sonhos.

Em Orocó, uma cidade simples e pacata, estudei até concluir o magistério, em 1993. Desde
o estágio já dei continuidade à docência, que até hoje faz parte de minha vida. A necessidade
de continuar, fazer uma faculdade, foi sendo realizada, mesmo tendo a distância como
empecilho. Em 1998, consegui duas realizações, passar em um concurso público municipal, na
cidade de Orocó- PE e passar no vestibular na Universidade de Pernambuco (UPE), em
Petrolina – PE. No entanto, os dois estavam afastados por 140 km de distância, e eu precisava
decidir. Então optei por escolher os dois. Trabalhava de manhã em Orocó e vinha a Petrolina à
tarde, para estudar, todos os dias, pegando carona, para ir e voltar.

Não foram dias fáceis, mas eu precisava ter coragem, a fé que me movia era maior. Foram
dois anos e meio de muita correria, que em 2001 foi cessada, pois passei no concurso da
Prefeitura de Petrolina – PE, diminuindo então, a distância entre estudar e trabalhar.
17

Nesse percurso da caminhada, tive apoio de minha família (mãe, pai e irmãs), do meu
esposo e nesse processo dos meus filhos, que foram chegando para fazermos a caminhada
juntos, fazendo-nos melhores e juntando forças para prosseguir.

Na busca constante de melhorar meus conhecimentos e construir minha história


profissional, participei de cursos, seminários, congressos, formações e fui assim fazendo minha
trajetória acadêmica, que considero às vezes lenta, mas processual e constante. Em 2008, iniciei
a pós-graduação, na UPE, oportunidade que não poderia deixar passar e que nos foi apresentada
pela Prefeitura Municipal de Petrolina -PE, para fim de formação dos profissionais que atuavam
na educação, ofertando a tão desejada continuidade de ser atualizado e melhor.

No decorrer dos anos que trabalho na Educação da Prefeitura Municipal de Petrolina,


pude fazer parte de vários processos que foram me transformando numa profissional mais
atuante e participativa. Passei por algumas instituições e percorrendo algumas funções, as quais
me fizeram conhecer mais e contribuir com a educação de forma plena e perspicaz. As funções
desempenhadas foram desde professora de sala de aula regular do Ensino Fundamental 1 e
Educação Infantil, professora de laboratório de informática, secretária escolar, gestora de
escola, coordenadora pedagógica, professora de Atendimento Educacional Especializado
(AEE) e atualmente na gestão de um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), fazendo-
me construir esse caminho de aportes e crescimento.

Até então, para mim o mestrado era algo distante, desejado, no entanto, longe de meu
alcance. Foi então que encontrei no meu trabalho, uma pessoa querida, que me apresentou o
Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares
(PPGFPPI) e me mostrou que eu poderia dar início e buscar uma vaga para o tão longínquo
mestrado. Em 2021 consegui ingressar, após duas tentativas.

Mobilizei-me e construir meus saberes, fui edificando um novo caminho, expandindo


meus conhecimentos, acerca da pesquisa que me instiga e me faz perceber um novo movimento
para a docência e o crescimento da educação, e na tarefa difícil de fazê-la, preciso reconhecer
as dificuldades, mas entender que preciso realizar um trabalho docente de qualidade, mostrando
possibilidades e direções que me ajudaram no trilhar deste caminho.
18

1.2 EDUCAÇÃO INFANTIL X AFETIVIDADE

A Educação Infantil é uma importante etapa no processo de escolarização, ainda que


não centrado em disciplinas, foi inserida nas ações do Ministério da Educação e Cultura (MEC)
em 1975 e criando a Coordenação de Educação Pré-Escolar – COEPRE, para crianças de 4 a 6
anos. Em 1988 a Constituição elevou a educação como direito de todos, valorizando a educação
nos primeiros anos de vida e afirmando como direito à educação de creches e pré-escolas. É
importante observar que o processo formativo na Educação Infantil é preconizado de maneira
pluridimensional, envolvendo, inclusive, as dimensões afetivas das experiências que
constituem o desenvolvimento e a aprendizagem da criança.

Considerando que a aprendizagem é uma experiência indelével do ser, mas que se dá de


maneira específica a depender da espécie e da fase do desenvolvimento, há singularidades no
modo de aprender do ser humano enquanto criança. Isso indica possibilidades no modo como
o docente da Educação Infantil exercita sua prática na sala de aula, sobretudo ao considerar a
dimensão afetiva. Portanto, quando em práticas que afirmam a afetividade, há contundentes
evidências de que o docente tende a ter melhores condições de mediar a aprendizagem e o
desenvolvimento integral da criança (CARVALHO, 2014; RODRIGUES; GARMS, 2006).

Pensadores como Henri Wallon e Paulo Freire, têm estudos que tangenciam essa
temática, (GALVÃO, 1995; WALLON, 2007; FREIRE, 1996; FREIRE, 2004), cada um de
modo particular, contribuindo significativamente para compreensão dessa relação entre
afetividade e aprendizagem. De modo geral, ambos subsidiam entendimento de que a dimensão
afetiva durante as práticas pedagógicas influencia no processo de aprendizagem. Afinal a
dimensão emocional é central, sobretudo no desenvolvimento da criança para esses autores.

Como salientado, os estudos de Henri Wallon e Paulo Freire, trazem reflexões que são
significativas e contribuem para a temática da pesquisa. É possível, só a título de uma prévia
apresentação citar algumas de suas obras e de outros autores que se inspiram neles
estabelecendo as contribuições necessárias para a pesquisa.

Nesse sentido, elencamos o texto “Henri Wallon: uma concepção dialética do


desenvolvimento infantil” Galvão (1995, p.46), no qual aborda questões referentes ao cenário
da Educação. Segundo a autora, Wallon volta sua atenção para a criança nos vários campos da
sua atividade dos conjuntos funcionais (afetivo, motor e cognitivo), “apesar de alternarem a
dominância, afetividade e cognição não se mantem como funções exteriores uma da outra...” e
19

nos vários momentos de sua evolução psíquica, dando foco ao desenvolvimento em seus
domínios afetivos, cognitivo e motor, e as diferentes etapas, vínculos e implicações
representadas pela personalidade.

Penso na afetividade como ação de acolher, demonstração de interesse, compreensão do


indivíduo nas suas diversidades, para a partir daí, ser impulsionado as ações de estímulos e o
processo de aprendizagem, potencializando a construção do conhecimento, por consequência a
afetividade facilitará a construção desse conhecimento, visto que, a estabilidade e acomodação
dos sentimentos e emoções, que precisam ser considerados e explorados em sala de aula, estarão
sendo compreendidos e ao mesmo tempo estabelecida uma relação de reciprocidade, que auxilia
na mediação e no vínculo afetivo dos pares.

No texto, “A evolução psicológica da criança”, Wallon (2007), o autor fala de crianças


e adolescentes que possuem corpo e emoções na sala de aula, e contempla a relação entre o
desenvolvimento da inteligência, do conhecimento e da percepção, sendo que tais processos
são inseparáveis do mundo da afetividade e essenciais para a educação.

Na “Pedagogia do Oprimido”, Freire (2004), que propõe uma pedagogia com uma nova
forma de relacionamento entre professor, estudante e sociedade, em que educador ao educar
também é educado, propondo que o educador e o educando se tornem sujeitos do processo sem
autoritarismo, crescendo juntos e nessa troca exercitando a afetividade.

“Pedagogia da Autonomia”, Freire (1996) traz uma reflexão sobre os saberes


necessários a prática educativa, em que a autonomia faz parte da própria natureza educativa.
Traz elementos constitutivos da compreensão da prática docente enquanto dimensão social da
formação humana. Freire propõe que o professor é alguém que impulsiona os alunos para que
cresçam e evoluam afetivamente.

Os textos tratam de afetividade, aprendizagem e práticas docentes, mostram que o


processo de construção do conhecimento e vivências afetivas são primordiais para a formação
do “bom professor”, como também para influenciar e intensificar os vínculos afetivos,
desenvolvendo a aprendizagem, sobretudo considerando a Educação Infantil, que é início e
fundamento do processo educacional.

Ambos os autores trazem nos seus estudos, acerca dessa temática, pensamentos que nos
ajudam a perceber que a afetividade influência a aprendizagem, de modo que o afeto possibilita
20

um ambiente agradável e facilitador da aprendizagem na vivência da criança. Segundo Freire


(1989, p. 170), “a afetividade é o território dos sentimentos, das paixões, das emoções, por onde
transitam medo, sofrimento, interesse, alegria.”, é preciso que o professor assuma e desempenhe
o papel de estar preparado para trabalhar a relação afetiva no processo de ensino-aprendizagem,
sem desprezar os interesses, sentimentos, emoções, atitudes e valores que a criança demonstra
na sua realidade.

Em uma visão geral, é possível dizer que para Wallon (1879-1962), a cognição e a
afetividade têm também raízes orgânicas e adquirem complexidade e diferenciação via uma
relação dialética e social, em que o indivíduo e o meio se integram e se articulam, possibilitando
o desenvolvimento da criança, tanto no plano motor como no afetivo, aprendendo a se conhecer
como pessoa e exercendo papeis que possibilitam o conhecimento de si, de forma completa e
concreta. “As pessoas do meio nada mais são, em suma, que ocasiões ou motivos para o sujeito
exprimir-se e realizar-se”. (Wallon, 1986, 164).

Para Freire (1921-1997), a relação professor e aluno é essencial para o processo de


aprendizagem em sala de aula, uma vez que oportuniza possibilidades de experimentar uma
nova maneira de ver o mundo, intervir para além do conhecimento de conteúdo, está atento para
perceber e despertar inúmeras aprendizagens. Uma relação prenhe de afeto revela nos alunos a
presença do professor como um estimulador de curiosidades, trazendo à tona a imaginação, as
emoções e, consequentemente, a alegria de aprender.

Pode-se assim complementar que, no campo educacional, a afetividade é vista como um


vínculo, um laço entre professor e aluno, contribuindo para romper limites, favorecer
aprendizagem e desenvolvimento, sendo, portanto, constituinte das práticas docentes dinâmicas
e interativas. A sala de aula pode ser vista como espaço em que o afeto se dá sobretudo via a
demonstração de práticas pedagógicas afetivas, o que influencia na aprendizagem e na
construção do conhecimento, gerando movimentos de aproximações entre os parceiros de
relação, além de contribuir com a aprendizagem significativa.

Para Wallon (1975, 169), “O Eu tanto projecta noutrem os traços da sua personagem,
como por vezes não ousa se quer reconhecer-se”, visto que a criança desde seu nascimento vai
vivenciando fases de desenvolvimento onde predominam ora a afetividade, ora a cognição, ora
social. Na Educação Infantil, a criança vivencia a fase personalista em que há predominância
21

da afetividade. É a fase em que a criança vai constituindo o seu Eu, sua subjetividade e sua
personalidade. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), traz disposta que:

[...] na Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas
quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar
desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir
significados sobre si, os outros e o mundo social e natural. (BRASIL, 2017)

Nesse sentido, é possível perceber que na Educação Infantil a afetividade é uma


dimensão presente em todos os processos interativos e nas dinâmicas de apropriação de novos
conhecimentos. Assim, o professor, frente a realidade da sala de aula, de acordo com as
circunstâncias e acontecimentos, deve perceber a ligação entre afeto e cognição, focando no
essencial para que o ambiente da sala de aula seja agradável e favorável a aprendizagem,
estabelecendo vínculos afetivos entre o sujeito, o espaço e o objeto. Isso significa que a criança
precisa ter com o professor uma relação íntima e amigável. Wallon (2008) sugere que:

O espaço não é primitivamente uma ordem entre as coisas, mas antes uma qualidade
das coisas em relação a nós mesmos e, nessa relação, é grande a parte que cabe à
afetividade, à pertença, à aproximação ou ao evitamento, à aproximação ou ao
afastamento. (WALLON, 2008, 206)

Do mesmo modo, o docente vivencia momentos reflexivos de sua prática pedagógica


potencializando a afetividade e sua função de educar e cuidar, proporcionando a criança superar
os desafios impostos ao longo de sua vida. Neste aspecto, Freire (1996) propõem que:

É preciso, por outro lado, insistir em que não se pense que a prática educativa vivida
com afetividade e alegria, prescinde da formação científica séria e da clareza política
dos educadores ou educadoras. A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria,
capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente da
permanência do hoje. (FREIRE, 1996, p. 90).

Para tanto, compreende-se que o profissional de Educação Infantil que valoriza e lida
com suas emoções e das crianças, faz um trabalho interligado, de um lado com a atuação em
sala de aula, do outro com um ser humano afetuoso que educa e cuida, mas que tem que agir
com responsabilidades curriculares, atendendo o currículo exigido, buscando variadas
metodologias e dinâmicas, as quais desenvolvam na criança o seu crescimento intelectual,
aliados a aprendizagem significativa e afetiva. Importante proporcionar no espaço da sala de
aula a observação e a escuta atenta, com possibilidades de compreender a criança, suas
individualidades, suas dúvidas e anseios, transformando a relação entre professor e aluno, em
momentos afetivos e fundamentais para uma interação ampla de conhecimento.
22

De tal modo, o educador poderá transformar momentos da sala de aula, no qual Freire
(1996) propõe que:

Esta abertura ao querer bem não significa, na verdade, que, porque professor me obrigo
a querer bem a todos os alunos de maneira igual. Significa, de fato, que a afetividade
não me assusta, que não tenho medo de expressá-la [...]. (FREIRE, 1996 p. 52.)

Nesse sentido, a relação entre educador-educando com interação afetiva, mas com sua
autoridade de docente, que medeia a construção e reconstrução do conhecimento, em que o
professor, ao querer bem aos seus alunos, potencializa e impulsiona o processo de
aprendizagem. Com isso, Mello (2004) destaca que:

A educação da criança, por exemplo, é o processo de humanização, pois desde os


primeiros anos de vida ela está sofrendo constantes estímulos do mundo que a cerca, a
partir disto esta criança irá aprender como ele funciona e assim absorverá costumes,
hábitos e criará a sua personalidade (MELLO, 2004).

Nessa perspectiva, a construção de um ambiente escolar agradável implica em


considerar a relação do professor-aluno e a afetividade. Diante desse contexto, surgiu o seguinte
questionamento: De que modo os professores da Educação Infantil têm vivenciado, em sala de
aula, aspectos relacionados a afetividade e como a afetividade expressada na prática docente,
pode contribuir para a aprendizagem na Educação Infantil?

Esse questionamento, por sua vez, me fez pensar nas discussões suscitadas pela Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) da Educação Infantil, que trata sobre os direitos de
aprendizagem e campos de experiências, além da divisão da faixa etária e a nomenclatura para
as etapas. Segundo a BNCC (2017), “a Educação Infantil é o início e o fundamento do processo
educacional”, por isso a importância da afetividade na relação professor-aluno para o processo
da aprendizagem, gerando segurança nesse momento de integração social.

A BNCC é apresentada como solução dos problemas educativos, em um contexto


histórico e político educacional, no entanto, é preciso considerar que o sucesso escolar não
depende somente de uma ação individual, não garante por si só, direitos de aprendizagem nem
qualidade para educação, pois são necessários vários fatores, como investimentos, formação de
professores, materiais didáticos, merenda, transporte escolar, entre outras ações que fortaleçam
e façam valer o ensino aprendizagem.

Diante dessa problematização, a presente pesquisa justifica-se pela ideia de aprofundar


a questão da afetividade na prática docente na Educação Infantil, propondo compreender as
23

práticas de professoras de um Centro Municipal de Educação Infantil da rede de Petrolina-PE,


no que tange a afetividade. Nesse sentido, a pesquisa possibilitará a descrição e discussão das
práticas docentes voltadas a afetividade, além de identificar as formas de expressão da
afetividade no contexto da Educação Infantil e analisar os sentidos da afetividade na prática
docente.

Partimos do pressuposto, portanto, que o afeto é um grande laço que conecta o professor
e o aluno, sendo um conjunto onde estão relacionados à autoestima, amor, sentimentos e
valores, constituindo relações entre educador e educando. Sobre essa ideia de afetividade como
conexão e à luz da teoria walloniana, para Almeida (2004) nos diz:

[...] como tudo que ocorre com a pessoa tem um lastro afetivo, e a afetividade tem em
sua base a emoção que é corpórea, concreta, visível, contagiosa, o professor pode ler o
seu aluno: o olhar, a tonicidade, o cansaço, a atenção, o interesse, são indicadores do
andamento do processo de ensino que está oferecendo. (ALMEIDA, 2004, p. 126)

Sobre isso, é importante dizer que, ao considerar a afetividade como oportunizadora de


bem-estar nas relações, a prática docente se efetiva de um modo prazeroso, significativo, além
de promover segurança e novas experiências de aprendizagem.

Daí, portanto, produzimos como questões orientadoras as seguintes perguntas de


pesquisa: Como a afetividade é contemplada na prática docente na Educação Infantil? Qual a
importância da afetividade na relação professor aluno? Qual o sentido da afetividade na prática
docente na Educação Infantil? Como essa afetividade se expressa nas práticas das professoras?

Nesse sentido, e como já dito anteriormente, a pesquisa baseia-se na prática educativa


na perspectiva de Paulo Freire e na teoria do vínculo afetivo por Henri Wallon. Ambos nos
ajudam a compreender a relação e da prática educativa e afetividade. Este estudo propõe ainda
discutir a questão da afetividade e da prática docente, com relação a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) da Educação Infantil, os direitos de aprendizagem e os campos de
experiência, buscando conhecer como são articulados o conhecimento e desenvolvimento pleno
da criança, que por vezes, surgem de um trabalho docente bem elaborado e com interações que
assegurem esses direitos.
24

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo traz uma breve contextualização acerca de teóricos que discorrem sobre
vivências afetivas e práticas docentes, bem como influências e interesses que perpassam da
formação de vínculos afetivos e que podem desenvolver a aprendizagem através das relações
positivas. Além de destacar pontos da BNCC, que apontem a construção do desenvolvimento
da criança na Educação Infantil, buscando compreender os direitos de aprender e se desenvolver
de forma ampla e afetiva.

O legado de Paulo Freire (1996/2015) e de Henri Wallon (2007) possibilitam a


compreensão das particularidades e especificidades do relacionar-se e conhecer-se, numa
prática educativa focada na afetividade, alegria, mudança e saberes, em que os sentimentos
permeiam as relações da atuação do professor que trabalha com Educação Infantil, pois é
afetado pelos alunos através de suas emoções.

A prática docente que se entrelaça com a afetividade, se configura com possibilidades


de ampla influência na aprendizagem do aluno, pontuado anteriormente a relação da construção
do conhecimento e vivências afetivas, interesse de vínculos afetivos que desenvolvam a
aprendizagem.

Nessa dimensão, pretende-se aqui discorrer conceitos ancorados nas concepções de


Henri Wallon e Paulo Freire, que trazem reflexões acerca do papel da afetividade na prática
docente. Wallon discute conceitos do papel das emoções e relações da vida intelectual, que
podem ampliar a compreensão dos professores sobre as possibilidades de crescimento da
criança, no processo de ensino e aprendizagem; E embasado por Freire, que trata de conceitos
concernentes a prática educativa, em que o docente tem alinhado a uma aprendizagem afetiva
e significativa, podendo assim perceber, o discente como indivíduo completo, que possui
sentimentos e não somente como recebedores de informações.

As discussões acerca da afetividade e da prática docente de acordo com à Base Nacional


Comum Curricular (BNCC) da Educação Infantil, que são os direitos de aprendizagem e
desenvolvimento na Educação Infantil – conviver, brincar, participar, explorar, expressar e
conhecer-se, estão entrelaçados com a afetividade, quando de forma intrínseca, são vivenciadas
nas práticas pedagógicas de sala de aula, pois ao conviver com seus pares, brincar com
diferentes pessoas e espaços, participar da vida cotidiana, explorando e expressando suas
necessidades, emoções, sentimentos, opiniões e descobertas, e conhecendo-se através desse
25

movimento, são constituídas as aprendizagens positivas e que revelam o quão importante são
as vivências afetivas.

Dito isso entende-se que há finalidade educativas de se promover nas crianças o


desenvolvimento dos aspectos físicos, motor cognitivo, social e emocional, importantes para a
formação do estudante, envolvendo as diferenças, o desenvolvimento de personalidade e da
autonomia, criação dos laços de amizade e descoberta, construção de conhecimento em
diferentes áreas. Essa finalidade educativa aponta para um papel importante do docente,
responsável por conduzir o processo de ensino-aprendizagem, considerando o âmbito afetivo.

2.1 EDUCAÇÃO INFANTIL E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da Educação Infantil é mais um processo


histórico da Educação, pois traz pontos que precisam ser pensados e revistos, mas que
configuram alguns importantes focos, que são os direitos de aprendizagem e campos
de experiência, além da divisão da faixa etária e a nomenclatura para as etapas:

A Base Nacional Comum Curricular é um documento normativo que define o conjunto


de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das
etapas e modalidades da Educação Básica. Seu principal objetivo é ser a balizadora da
qualidade da educação no País por meio do estabelecimento de um patamar de
aprendizagem e desenvolvimento a que todos os alunos têm direito! (BRASIL, 2017)

Nessa perspectiva, de ter uma educação de qualidade, visando a aprendizagem e o


desenvolvimento das crianças, amparados por seus direitos, Cunha (2008) alerta para a
importância de se conhecer os estágios do desenvolvimento cognitivo da criança, que evolui
durante a vida e ao lado das capacidades motoras e emocionais, ajudam no crescimento
intelectual. Tendo essa consciência, o professor certamente definirá sua prática pedagógica
respeitando cada etapa de desenvolvimento do discente e dará novos sentidos a aprendizagem
da criança e seus vínculos afetivos. Ainda de acordo com Cunha:

O modelo de educação que funciona verdadeiramente é aquele que começa pela


necessidade de quem aprende e não pelos conceitos de quem ensina. Ademais, a prática
pedagógica para afetar o aprendente deve ser acompanhada por uma atitude vicária do
professor. (CUNHA, 2008, p. 63)

Portanto, é importante proporcionar situações que valorizem o cuidado e o afeto,


direcionando caminhos que abram novas perspectivas de desenvolvimentos significativos,
dando ênfase a carga de bagagem cultural e familiar que cada criança carrega. A sala de aula,
precisa ser lugar de troca de experiências misturadas com afeto, sabedoria, observações,
26

reflexões, disponibilidades e muita boa vontade, em que o professor visualize os anseios e


dificuldades que a criança expressa.

Tendo em vista o processo de ensino aprendizagem, no qual a criança está inserida, o


afeto é algo que precisa estar presente, para fortalecer vínculos, conhecer e compreender a
criança e seu desenvolvimento que vem representado por estímulos, alegria, produtividade,
interesse, sendo estes ingredientes para um desenvolvimento amplo, despertando bons
sentimentos, promissores para um ambiente amigável e trocas de afetos.

Momentos como estes promovem encontro da criança com suas emoções, que
contribuirá para aprendizagens enfáticas, em que o professor estimule o potencial de cada
estudante, cativando a criação, imaginação e aprendizagem, elevando a autoestima. Na BNCC
está disposto que:

[...] na Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas
quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar
desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir
significados sobre si, os outros e o mundo social e natural. (BRASIL, 2017)

Nesse contexto, o professor carregado de possibilidades, que não se esgotam, na


melhoria da sua prática docente, busca enriquecer suas aulas, na constante produção da
cidadania, tendo como aliado o conhecimento, aguçando a curiosidade, trazendo novas formas
de transmitir conhecimentos. O professor tem a missão e o compromisso na sua prática diária,
ensinando para a vida, impulsionando esperanças, semeando sonhos, em busca da melhoria da
desigualdade imposta na vida de muitas crianças. Freire (2015), salienta a importância de que:

Há uma relação, entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A


esperança de que o professor e os alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-
nos, produzir juntos igualmente resistir aos obstáculos a nossa alegria.” (Freire, 2015,
p. 70)

Mesmo havendo questionamentos que permeiam acerca da qualidade do ensino, como


ineficiente e precário, é necessário haver reflexões e conhecimentos que busquem a melhoria
das práticas docentes, a fim de desenvolver a ampliação de discussões que contribuem na
reelaboração da prática e da formação docente, onde pensamentos críticos propiciem condições
de experiências educativas efetivas e afetivas. Para Wallon (1975), a relação entre o
desenvolvimento da inteligência, do conhecimento e da percepção são como processos
inseparáveis do mundo afetivo, apontando o docente para o entendimento de que, o aluno
carrega uma história e emoções, o professor considerando isso em sala de aula, vive-se a
afetividade. Mesmo a afetividade sendo apontada como algo bom, que ajuda a melhorar e ter
27

autocontrole acerca de situações adversas, pode-se também perceber que por vezes os conflitos
existentes trazem à tona a raiva e o stress, bem como a forma como o docente lida com as
situações de conflitos, de forma peculiar, buscando desenvolver o autocontrole de suas emoções
e mediando os estudantes de forma que resolva as agitações.

A escola que possibilita ao discente um ambiente favorável a formação intelectual e


pessoal, propõe ensinar através de reflexões e construção de diálogo na busca de fortalecer a
aprendizagem, de forma que o sujeito encontre caminhos, que o leve a possibilidades de
aprender, refletir e vencer as dificuldades impostas nesse contexto, além de oferecer ao docente
uma plena realização educacional. Segundo Galvão (2003), durante a Educação Infantil, cabe
ao docente saber intervir e mediar o afeto, para que a criança se desenvolva e alcance os
objetivos propostos.

Reitera-se, dessa forma, que o afeto é construído a partir do conhecimento e no processo


de educação do ser humano, sendo o desenvolvimento um procedimento contínuo, em que o
indivíduo está inserido e que é de grande importância, pois as emoções são vinculadas por ações
que iniciam na família e continuam dentro da escola. Nessa direção, a BNCC aponta que é
importante, “[...] para potencializar as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, a
prática do diálogo e o compartilhamento de responsabilidades entre a instituição de Educação
Infantil e a família são essenciais.” (BRASIL, 2017).

Deste modo, a BNCC apresenta que o desenvolvimento pleno da criança surge do


trabalho do professor que promove situações de reflexão, planejamento, organização, que media
e monitora suas práticas e interações que garantam a pluralidade dessas situações, onde se
observe tanto as suas práticas quanto a aprendizagem da criança, assegurando assim os direitos
de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil que são: conviver, brincar, participar,
explorar, expressar e conhecer-se. (BRASIL, 2017).

No entanto, se faz necessário compreender que a BNCC traz um norte de orientações,


mas que carecem destacar e considerar características primordiais para o adiantamento da
criança e atuação dos docentes nas atividades realizadas, que garantam o desenvolvimento
pleno do estudante na Educação Infantil e as aprendizagens decorrentes do processo em que
está inserido. Privilegiando orientações as famílias, compartilhando com elas a troca de
informações sobre o processo e desenvolvimento da criança.
28

Nesse contexto, tanto as teorias de Wallon quanto as de Freire, buscam humanizar a


educação em seus estudos e concepções, haja vista que, a escola parece ainda não ter clareza de
que a construção do conhecimento lida paralelamente com outros aspectos do desenvolvimento,
diretamente relacionado ao aspecto afetivo. Tendo em vista o papel que o professor desempenha
dentro da escola, excepcionalmente na Educação Infantil.

Nota-se que os educadores já percebem a importância de serem sensíveis as


necessidades pessoais e sociais das crianças, ajudando no enfretamento dos conflitos, através
do acolhimento, parceria, compreensão e participação do cotidiano, considerando situações
comuns do dia a dia, em que a construção garanta uma aprendizagem contínua e eficaz,
pertinentes a prática pedagógica na relação com a afetividade.

A reflexão através de relações dialógicas em que os sujeitos da escola sintam


participantes do processo de construção do conhecimento afetivo em que vivem, superando as
vivências do sujeito. Segundo Wallon (1979), é nos anos iniciais que a criança, a partir da
relação com o outro, através do vínculo afetivo, começa a ter acesso ao mundo simbólico e
conquistar avanços no âmbito cognitivo e o professor representa figura fundamental nesse
processo educativo, visto que a interação entre professores e alunos ultrapassam os limites da
prática docente e da escola, onde o professor é o elo na busca de relações interpessoais que
valorizam a afetividade. É importante lembrar que por mais que o vínculo afetivo entre
educador e educando seja essencial, ele deve estar centrado na aprendizagem.

Deste modo, a BNCC apresenta que o desenvolvimento pleno da criança surge do


trabalho do professor que promove situações de reflexão, planejamento, organização, que media
e monitora suas práticas e interações que garantam a pluralidade dessas situações, onde se
observe tanto as suas práticas quanto a aprendizagem da criança, assegurando assim os direitos
de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil que são: conviver, brincar, participar,
explorar, expressar e conhecer-se. (BRASIL, 2017).

2.2 – PRÁTICA EDUCATIVA E AFETIVIDADE SEGUNDO PAULO FREIRE

Considerando as afirmativas de Paulo Freire (1996) sobre a prática educativa que


envolve afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança ou,
lamentavelmente, da permanência de algo que deveria ser superado, é perceptível que o trabalho
do professor não é apenas só uma variável, mas várias atuações dentro do ambiente escolar com
questões alinhadas a uma aprendizagem significativa e afetiva. (FREIRE, 1996, p. 161)
29

A atuação do professor diante do estudante pode ser marcada por uma postura de
empatia que facilita a aprendizagem. Sendo assim, Freire (2004, p. 68) salienta que: “(...) o
educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com
o educando que, ao ser educado, também educa”. Dessa forma é imprescindível que professores
conheçam e diferenciem as manifestações da afetividade para interferir em situações do
cotidiano escolar. O professor motivador cria condições afetivas, buscando encontrar prazer no
ensinar e no aprender.

Nesse contexto, a prática docente deve propiciar s construção do conhecimento, com


ênfase na vivência e na bagagem de vida do estudante, efetivando e dando sentido as
experiências construídas no decorrer da sua vivência, fortalecendo vínculos afetivos que não só
favoreça aprendizagem de signos, mas que abra um leque de possibilidades que emocionem,
tragam bem-estar, afeto e criatividade. Freire (2015), enfatiza que:

[...] como professor [...] preciso estar aberto ao gosto de querer bem aos educandos e à
própria prática educativa de que participo. Esta abertura ao querer bem não significa,
na verdade, que, porque professor, me obrigo a querer bem a todos os alunos de maneira
igual. Significa, de fato, que a afetividade não me assusta que tenho de autenticamente
selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano.
Na verdade, preciso descartar como falsa a separação radical entre “seriedade docente”
e “afetividade”. (FREIRE, 2015, p. 159)

Dessa forma, os professores da Educação Infantil repensam suas práticas pedagógicas


quanto a suas concepções sobre afetividade, pautando no senso comum, que ainda é
manifestado superficialmente, compreendendo como a expressão de emoções e sentimentos.

Em relação ao docente, sua vivência de momentos de afetividade e a reflexão de como


sua prática pedagógica se baseia nessa afetividade e das crianças, na função de educar e de
cuidar para que a criança supere os desafios encontrados ao longo de sua vida, Freire (2015)
propõem que:

É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima


prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem que ser de tal
modo concreto que quase se confunda com a prática. O seu “distanciamento
epistemológico” da prática enquanto objeto de sua análise deve dela “aproximá-lo ao
máximo. (FREIRE, 2015, p. 40).

Por esse viés, compreende-se que o profissional de Educação Infantil precisa valorizar
e saber lidar com suas emoções e das crianças, pois o trabalho docente pode estar atrelado de
um lado com a atuação em sala de aula, de outro com um ser humano afetuoso que educa e
cuida, mas que tem que atuar com responsabilidades curriculares, atendendo o currículo
exigido, buscando variadas metodologias e dinâmicas, as quais desenvolvam na criança o seu
30

crescimento intelectual, aliados a aprendizagem significativa e afetiva. Promovendo no espaço


da sala de aula a observação e a escuta atenta, com possibilidades de compreender a criança,
suas individualidades, suas dúvidas e anseios, transformando a relação entre professor e aluno,
em momentos afetivos e fundamentais para uma interação ampla de conhecimento.

2.3 EDUCAÇÃO INFANTIL E A DIMENSÃO AFETIVA SEGUNDO HENRI WALLON

Para Wallon (1979), a criança desde seu nascimento, vai vivenciando fases de
desenvolvimento onde predominam ora a afetividade, ora a cognição. Na Educação Infantil, a
criança vivencia a fase personalista em que há predominância da afetividade, é a fase em que a
criança vai constituindo o seu Eu, sua subjetividade e sua personalidade, a criança começa a si
descobrir e se ver diferente das outras, vai sendo marcado por aspectos pessoais, tais como
oposição, imitação, distinção entre objetos e surge os conflitos de competição, bem como a
predominância cognitiva.

Wallon divide as fases do desenvolvimento em cinco etapas: Impulsivo-emocional (0 a


1 ano), Sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos), Personalismo (3 a 6 anos), Categorial (6 a 11
anos) e Puberdade e Adolescência (11 anos em diante).

A fase personalista, que é a terceira entre as cinco, é marcada por oposição, sedução e
imitação, é a fase em que a criança começa a se descobrir diferente uma da outra e do adulto,
também pela formação dos aspectos pessoais de criança, de sua personalidade, da
autoconsciência. Neste estágio é reconhecer e respeitar o surgimento das diferenças,
valorizando e oportunizando as expressões destas diferenças.

É o estágio marcado pela presença de crise negativa, em que a criança se opõe ao adulto,
já começa a distinguir entre o meu e teu objeto, e assim busca conflitos para obter o objeto que
não é seu, competindo com outras crianças. Neste estágio, é importante possibilitar exercícios
de escolha, para que tenha contato com crianças de outras idades também. É possível a
predominância dos conjuntos funcionais, especificamente ao conjunto afetivo no estágio do
personalismo, em que o indivíduo está mais voltado para si mesmo.

Na Educação Infantil, a afetividade é uma dimensão presente em todos os processos


interativos e nas dinâmicas de apropriação de novos conhecimentos. Assim, o professor, frente
a realidade da sala de aula, de acordo com as circunstâncias e acontecimentos, buscará perceber
a ligação entre afeto e cognição, focando no essencial para que o ambiente da sala de aula seja
31

agradável e favorável a aprendizagem, estabelecendo vínculos afetivos, entre o sujeito, o espaço


e o objeto, em que a criança precisa ter com o professor uma relação íntima e amigável.

Constituindo assim, o papel das emoções e as relações com a vida intelectual é apontada
por Wallon (1986) como:
[...] a coesão de reações, atitudes e sentimentos, que as emoções são capazes de realizar
em um grupo, explica o papel que elas devem ter desempenhado nos primeiros tempos
das sociedades humanas: ainda hoje são as emoções que criam um público, que animam
uma multidão, por uma espécie de consentimento geral que escapa ao controle de cada
um. (WALLON, 1986, p. 146)

A emoção é a exteriorização da afetividade, expressa através de pensamentos, atos e


movimentos, variando de acordo com as interações que são estabelecidas entre as pessoas com
quem se vive e pode ser determinante na evolução mental, pois a emoção tem influência na
percepção do outro. A emoção não pode ser vista isolada, precisa está integrada ao
funcionamento da inteligência, motricidade e do social, devendo assim o docente, direcionar o
ensino aprendizagem, conhecendo melhor os fatores afetivos que influenciarão ao longo do
desenvolvimento infantil e dando espaço ao cognitivo.

Em relação a afetividade, é importante observar os momentos que envolvem


sentimentos e emoções, ressaltando a distinção entre ambos. A emoção é essencial a
afetividade, pois a emoção é a exteriorização da afetividade, que acontece através da expressão
corporal e motora. A emoção tem reação imediata a estímulos, mexe com a pessoa e não
envolve pensamento, já o sentimento é construção, envolvendo a avaliação e percepção de algo.

O sentimento é a representação da emoção, é elaborado mentalmente, permeiam as


relações sociais que acontecem, os sentimentos promovem a capacidade ideal do sujeito, para
lidar com os conflitos do cotidiano, aumentando as manifestações dos sentimentos.

A emoção, de acordo com Wallon (1995, p. 140), “consiste essencialmente em sistema


de atitude que correspondem a determinada espécie de situação.” A emoção cria um sentimento,
que pode criar emoções e outros sentimentos. Ambos estão relacionados, sendo a emoção a
reação ao cérebro a um estímulo ambiental, como alegria, surpresa, raiva, pânico, já o
sentimento é o resultado de uma experiência emocional, como amor, felicidade, inveja, ódio.
São reações geradas pelas emoções de forma consciente e serão os gatilhos para a criação de
sentimentos, são sensações que podem ser escondidas, pois acontecem no fundo da mente, não
podem ser passageiras, mas em caso negativo, podem fazer mal, os sentimentos duram mais
tempo, como o amor.
32

Dessa forma, os professores da Educação Infantil podem repensar suas práticas


pedagógicas, a partir dos sentimentos e emoções manifestados, em diferentes momentos pelas
crianças, na sala de aula, que vão regulando suas trocas com o mundo e com o outro,
demonstrando assim, através de estímulos, suas atitudes de aprendizagem e desenvolvimento
inerentes a afetividade.

Muitas reflexões foram feitas, através de relações dialógicas em que os sujeitos da


escola são participantes do processo de construção do conhecimento afetivo em que vivem,
superando as vivências do sujeito. Segundo Wallon (1979), é nos anos iniciais que a criança, a
partir da relação com o outro, através do vínculo afetivo, começa a ter acesso ao mundo
simbólico e conquistar avanços no âmbito cognitivo e o professor representa a figura
fundamental nesse processo educativo, visto que a interação entre professores e alunos
ultrapassam os limites da prática docente e da escola, onde o professor é o elo na busca de
relações interpessoais que valorizam a afetividade. É importante lembrar que por mais que o
vínculo afetivo entre educador e educando seja essencial, ele deve estar centrado na
aprendizagem.

2.4 AFETIVIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO


INFANTIL

A educação é ferramenta de transformação na vida de muitas pessoas, oportuniza


mudanças em diversas circunstâncias, inerentes ao meio em que vivem. Na Educação Infantil,
o desafio é ainda maior, pois é preciso relacionar efetivamente aprendizagem e afetividade,
considerando o momento em que a criança rompe os laços familiares e tem o primeiro contato
com o ensino aprendizagem.

Para tanto, é pertinente lembrar que, na Educação Infantil, a criança como qualquer
outro ser humano é dotada de sentimentos e emoções, ela apresenta durante o processo de
aprendizagem comportamentos que traduzem esses sentimentos. Assim, quando em contato
com as relações de afetividade docente terá melhores condições de se desenvolver
integralmente. Segundo Almeida (2004):

[...] como tudo que ocorre com a pessoa tem um lastro afetivo, e a afetividade tem em
sua base a emoção que é corpórea, concreta, visível, contagiosa, o professor pode ler o
seu aluno: o olhar, a tonicidade, o cansaço, a atenção, o interesse, são indicadores do
andamento do processo de ensino que está oferecendo. (ALMEIDA, 2004, p. 126).
33

Dessa forma, conhecer a realidade do educando, suas experiências e seus meios de


aprender, são fundamentais para que o professor possa desempenhar bem seu papel de
intercessor do conhecimento, e ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas
crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, têm o objetivo de ampliar o
universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e
consolidando novas aprendizagens.

Nesse sentido, os conhecimentos vão sendo construídos a partir das relações que são
estabelecidas entre os sujeitos, que vai além do carinho. O educador precisa praticar e inserir a
afetividade, buscando meios que direcione as crianças para o desenvolvimento das diversas
aptidões. Como lembra Freire (1996, p.155): “Preciso, agora, saber ou abrir-me à realidade
desses alunos com quem partilho a minha atividade pedagógica. Preciso tornar-me, se não
absolutamente íntimo de sua forma de estar sendo, no mínimo, menos estranho e distante dela.”

Com relação a influência a afetividade e a prática docente na sala de aula, o ensino


aprendizagem precisa ser compreendido como troca de experiências, regada de afeto entre
professor e estudante. Iniciado na Educação Infantil o processo de ensino aprendizagem, a
afetividade é necessária para também iniciar o processo de regras, valores e limites essenciais
para a constituição do indivíduo, consciente de seus direitos e deveres.

Enfatizando esse processo, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017)


apresenta na sua proposta que, “Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, organizar,
planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de
situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças.” Nessa ação acontece a
descoberta, o prazer de aprender, desenvolvendo assim ampliação do conhecimento que é
necessário para a formação plena e evolução da criança.

Além disso, é possível compreender que ensino e aprendizagem é um processo de


constante construção, em que a afetividade necessita está presente, pautando o trabalho
desenvolvido em sala de aula pelo docente, produzindo entusiasmos na subjetividade dos
estudantes. Sendo o professor o intercessor, precisa assumir comprometimento com o processo
de ensino/aprendizagem, possibilitando condições e estímulos que se adequem ao
desenvolvimento da criança, especificamente na Educação Infantil, em que o papel do professor
é de suma importância, desde a mediação do processo de aprendizagem da criança e a interação
em um ambiente propício ao desenvolvimento infantil e sua autonomia.
34

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a importância da afetividade na prática pedagógica dos docentes de um Centro


Municipal de Educação Infantil da Rede Municipal de Petrolina-PE (CMEI).

3.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS

• Descrever as práticas docentes da Educação Infantil, voltadas a afetividade;


• Identificar as formas de expressão da afetividade docente na Educação Infantil;
• Analisar os sentidos da afetividade na prática docente na Educação Infantil.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A trajetória metodológica deste estudo apresenta como se estruturou a pesquisa no que


se refere a abordagem, procedimentos, identificação dos sujeitos e do espaço, bem como as
etapas e instrumentos usados, de modo a melhor situar a análise dos dados coletados.

4.1 Desenho do estudo

O desenvolvimento deste estudo é de natureza qualitativa e interpretativa, considerando


o objeto de estudo, ou seja, as compreensões das práticas pedagógicas das docentes em relação
a afetividade na Educação Infantil. A pesquisa se caracteriza como descritiva e exploratória
(GIL, 2002), uma vez que visa descrever características da população ou fenômeno, analisando
aspectos da realidade dos pesquisados e suas vivências.

4.2 Localização do estudo

O estudo foi realizado no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Maria Teresa
Brennand de Souza Coelho, localizado em Petrolina – PE. O CMEI foi escolhido por atender
alunos de cinco bairros vizinhos próximos (Rio Corrente, Jardim Guararapes, Residencial
Brasil, Nova Petrolina e São Gonçalo), que atende em média 180 crianças, distribuídas em
turnos integral, matutino e vespertino, sendo as crianças com idade entre um e cinco anos de
idade, atendimento de creches (Maternal 1 e 2) e pré-escola 1 e 2. Importante informar que a
pesquisadora é lotada na referida instituição, caracterizando a escolha pelo critério de
conveniência.
35

4.3 Sujeitos e amostra

A população foi representada por quatro docentes do CMEI Maria Teresa Brennand de
Souza Coelho – Petrolina-PE, em exercício efetivo na Educação Infantil. Sendo escolhidos por
estarem lecionando na pré-escola, distribuídas nos turnos matutinos e vespertinos, e ao mesmo
tempo recém-chegadas na Educação Infantil.
Os docentes que aceitaram participar voluntariamente da pesquisa, assinaram o TCLE
(Termo de Consentimento Livre e Esclarecido). O estudo teve boa aceitação por parte dos
sujeitos, em que os dados coletados dão suporte e embasam este trabalho.

4.4 Instrumentos da pesquisa

A coleta e análise dos dados foi realizada em três fases. De agosto de 2022 a outubro de
2022. A primeira, aconteceu através da aplicação de questionário semiestruturado (APÊNDICE
01), contendo questões fechadas e abertas acerca do tema “Afetividade e prática docente na
Educação Infantil”, em que apresentou duas partes: sendo uma relacionada as informações
gerais sobre formação docente, sexo, idade, tempo de docência na Educação Infantil e turma
que leciona (questões fechadas); e a outra, pertinente a dimensão afetiva na prática docente
pessoal e da instituição que leciona (questões fechadas e abertas).

Na escolha do questionário semiestruturado (APÊNDICE 01), considerou-se que este


pode ser definido “como uma técnica de investigação composta por questões apresentadas por
escrito as pessoas, tendo por objetivo, o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos,
interesse, expectativas e situações vivenciadas” (GIL, 1999, p.128)

A segunda fase, foi a entrevista semiestruturada (APÊNDICE 02), individual e gravada.


Essa entrevista foi elaborada considerando as respostas obtidas do questionário. Do ponto de
vista da dinâmica da entrevista, procedeu-se via um jogo de perguntas e respostas, acrescidos
de questionamentos espontâneos e contextualizadas a partir da própria conversação, na fluidez
do desenvolvimento do diálogo (GIL, 2002).

Importante observar na construção do roteiro da entrevista, que foram estabelecidas


inicialmente cinco questões orientadoras para dar suporte. Posteriormente foram criadas cinco
perguntas relacionadas às questões, de modo que os entrevistados pudessem expressar suas
concepções, sentimentos e vivências. As entrevistas gravadas foram transcritas com anuência
dos entrevistados.
36

A última fase foi realizada através da observação não participante (APÊNDICE 03), na
inserção espontânea do cotidiano, vivências e comportamentos das práticas docentes voltadas
a afetividade na Educação Infantil. Observação dos momentos de interações dos docentes, nos
meses de setembro e outubro de 2022, com as crianças acerca do tema “Afetividade e práticas
docentes na Educação Infantil”, sem integração com o grupo observado, em que o pesquisador
“presencia os fatos, mas não participa dele, não se deixa envolver pelas situações, faz mais o
papel de espectador” (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p.47). Foram realizadas reflexões
relevantes da análise da interação dos participantes sobre a temática.

Foi criado um instrumento para a observação, contendo quatro tópicos para serem
observados, em que aconteceu a descrição dessas observações das vivências e comportamentos
da prática docente e expressão da afetividade.

4.5 Riscos e benefícios

Toda pesquisa com seres humanos pode envolver riscos e/ou desconforto. No entanto,
a presente pesquisa buscou as autorizações do responsável legal da instituição, onde foi
realizada a pesquisa, bem como autorização dos participantes, respeitando e compreendendo a
singularidade dos entrevistados, garantindo o sigilo das informações coletadas durante o
processo, buscando não oferecer riscos, informando aos participantes sobre a liberdade de ser
desligado da pesquisa, sem nenhum prejuízo. Para tanto, eles estavam cientes, através dos
documentos que lhes foram apresentados durante a pesquisa.

Os participantes foram previamente convidados e informados das/os conversas/diálogos


no formato presencial, através de visitas a instituição, mediante autorização prévia para a
realização da pesquisa, em que se oportunizou a interação de coleta de informações de dados,
sem oferecer riscos físicos ou morais mínimos.

A partir dessa pesquisa, foi lançado novos olhares para a percepção da afetividade da
prática docente na Educação Infantil, em que os professores estavam abertos e sensíveis a
ampliação dos conhecimentos favoráveis, com relação a influência da afetividade na
aprendizagem regada de afeto, em que tiveram a oportunidade de despertar para potencializar
uma prática pedagógica reflexiva e cheia de possibilidades de conhecimentos cognitivos,
emocionais e afetivos.
37

4.6 Considerações éticas

Os docentes convidados a participar da pesquisa, receberam todos os esclarecimentos


acerca do trabalho e cada etapa de desenvolvimento, tendo garantia de privacidade e
credibilidade das informações apresentadas. Ao concordarem em participar da pesquisa,
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE – APÊNDICE 04), em que
foram apresentados os documentos éticos, previamente informados através de visita presencial
a instituição, que foram lidos, fornecidas as informações e dado ciência.

O estudo adotou todas as determinações éticas, sendo aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade de Pernambuco, Recife – PE, Brasil. Foi submetido para análise
e obteve parecer aprovado com o número 5.539.308 em 21/07/2022.

4.7 Procedimentos de análise de dados

Após a liberação do parecer pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de


Pernambuco, a coleta de dados foi desenvolvida presencialmente, inicialmente aconteceu um
encontro, em julho de 2022, para apresentação da temática da pesquisa, dos documentos éticos
e fornecimento das informações pertinentes a mesma.

A análise dos dados se deu através das informações obtidas pelos três instrumentos:
questionário semiestruturado (APÊNDICE 01), entrevista (APÊNDICE 02) e observações
(APÊNDICE 03) dos momentos de interações no cotidiano das práticas docentes vivenciadas
na Educação Infantil, considerando aspectos da sala de aula e comportamentos voltados a
afetividade.

As três fases realizadas, foram classificadas como eixos, no decorrer da análise dos
dados, que foram intitulados como: Eixo 1 – Desenhando o perfil dos participantes, Eixo 2 –
Dialogando com os sujeitos da pesquisa, este dividido em quatro categorias, resultantes a partir
das questões realizadas na entrevista e o Eixo 3 – Atuação docente e suas vivências – dividido
também em quatro categorias, estruturadas de acordo com o diagrama da observação realizada.

A obtenção dos resultados e análise dos dados, dentro da abordagem qualitativa, para as
respostas livres, foram realizados via a Análise Categorial Temática (BARDIN, 1977), que é
definida como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por


procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
38

indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos


relativos às condições de produção/recepção [...] destas mensagens (BARDIN, 1977,
p.42).

Os materiais disponíveis foram organizados para análise, com leituras detalhadas,


fazendo os recortes, explorando o material e tratamento dos resultados obtidos das unidades de
registro, buscando aumentar e gerar conhecimentos que facilitem a compreensão e a
confiabilidade da análise dos dados. Feito isso, todas as informações foram sendo organizadas,
dando início ao processo de categorização dos dados.

Todas as fases foram cumpridas seguindo regras estabelecidas pelos documentos e


materiais elaborados, dando indícios para a formulação das categorias correspondentes, as quais
foram nomeadas, dentro dos eixos situados através das análises, sendo assim distribuídas:

Eixo 1 – Desenhando o perfil dos participantes

Eixo 2 - Dialogando com os sujeitos da pesquisa:


✓ Categoria 1 - Situações concretas do cotidiano escolar da sala de aula e interações com
os estudantes;
✓ Categoria 2 - Abordagem de conflitos entre os estudantes;
✓ Categoria 3 - Auxílio aos estudantes e planejamento das atividades escolares,
considerando aspectos afetivos;
✓ Categoria 4 - Afetividade e aprendizagem da criança.

Eixo 3 – Atuação docente e suas vivências:

✓ Categoria 1 – Comportamentos docentes;


✓ Categoria 2 – Expressões da afetividade;
✓ Categoria 3 – Execuções das atividades;
✓ Categoria 4 – Conflitos entre estudantes.

Assim que os questionários foram sendo respondidos, as entrevistas realizadas e transcritas,


bem como a conclusão das observações, os dados foram sendo analisados juntos as discussões
dos resultados, iniciando a formulação do produto da pesquisa, um guia de orientação, com
sugestões e dicas sobre situações práticas pedagógicas, que venham contribuir com a Educação
Infantil, no tocante a afetividade. Este será descrito de forma detalhada no final dessa
dissertação.
39

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O processo de discussão dos resultados desta pesquisa surgiu através das inquietações e
da curiosidade acerca da Afetividade e prática docente na Educação Infantil, buscando
compreender a importância da afetividade na prática pedagógica dos docentes, de um Centro
Municipal de Educação Infantil da Rede Municipal de Petrolina-PE (CMEI).

Lendo e relendo as informações dos questionários, fazendo a escuta das gravações de


cada entrevista e as transcrições, bem como a releitura das descrições das observações
realizadas e levando em consideração cada fase desenvolvida na coleta dos dados, considera-se
que todo esse processo foi essencial na construção e identificação dos eixos temáticos. O
primeiro eixo apresenta o perfil dos participantes, obtidos através do questionário
semiestruturado. No segundo eixo, a análise das entrevistas semiestruturadas, com nuances
importantes dessa etapa da pesquisa. No último eixo, é realizada análise e discussão das
observações.

De uma forma geral, fazendo a análise dos dados coletados e no cruzamento deles,
oriundos dos três instrumentos (questionário, entrevista e observações), os docentes não têm
deixado de pensar a afetividade na sua prática, mesmo que não tratem do assunto
continuamente, as demonstrações de afeto estão presentes nos diversos momentos do cotidiano
escolar, que foram relatados e descritos nesta pesquisa.

É fato que, nem todos os momentos há demonstração das expressões de afetividade,


mas dão indícios que, a melhor maneira de acontecer uma prática docente favorável, a Educação
Infantil, é o docente agir de forma afetiva em todos os momentos do cotidiano e rotina da
criança. Os docentes demonstraram a abertura para aperfeiçoarem a sua prática, indicando
posturas que evidenciam uma nova prática, a partir das vivências e análises dos instrumentos
usados, permitiram-se olhar e pensar no processo que estão inseridos, buscando alinhar as
necessidades de mudanças, na condução das crianças, tentando fazer novos caminhos e
consolidando as expressões afetivas.

5.1 Desenhando o perfil dos participantes

Seguindo critérios de elegibilidade, a amostra constituiu-se de quatro docentes, todos os


participantes são do sexo feminino, com média da faixa etária entre 31 e 51 anos. Em relação
ao nível de formação acadêmica, verificou-se que a maioria possui especialização (75%), todas
40

atuando no pré-escolar, com tempo médio de docência na Educação Infantil de um a dez anos,
sendo 50% atuando em média de um a cinco anos e 50% de seis a dez anos de docência. Pode-
se observar no quadro 01 a seguir, os detalhes dos aspectos sociodemográficos dos
participantes.

Quadro 1 - Aspectos sociodemográficos

Fonte: Elaborado pela autora

No quadro 02, considerando a formação que contemple a dimensão afetiva na prática


docente, foi questionado aos participantes se já tiveram alguma formação com relação a
afetividade, e o resultado obtido foi que 100% dos sujeitos responderam sim, afirmando já terem
participado de alguma formação em que a afetividade na prática docente foi contemplada.

Quadro 2 – Formação que contempla a dimensão afetiva

Fonte: Elaborado pela autora

Quando questionados sobre considerar a dimensão afetiva ser contemplada na prática


docente da escola que trabalha, numa escala de 0 a 5, sendo 0 a nota mínima e 5 a nota máxima,
três dos participantes avaliaram que consideram contemplar a dimensão afetiva com nota
máxima (5) e uma avaliou com nota (4), conforme pode ser visto no gráfico 1.
41

Gráfico 1 – Dimensão afetiva contemplada na prática docente

Fonte: Elaborado pela autora

Ainda sobre a dimensão afetiva, na prática docente de cada participante, responderam


considerando a escala de 0 a 5 (sendo 0 a nota mínima e 5 a máxima) que contemplam a
afetividade na prática docente, sendo que três participantes marcaram a máxima 5 e um, a nota
4, como mostra o gráfico 02 abaixo:

Gráfico 2 – Prática docente que contempla a dimensão afetiva

Fonte: Elaborado pela autora

Querendo conhecer sobre a prática docente fundamentada na dimensão afetiva, foi


apresentada uma questão, para que os participantes representassem por meio de três palavras
essa dimensão afetiva que embasa sua prática pedagógica. Pode-se observar, por meio da
nuvem de palavras a seguir:
42

Figura 1 – Palavras que representam a prática docente fundamentada na dimensão


afetiva

Fonte: Elaborado pela autora

Na figura 1, é possível perceber que a palavra AMOR se destaca, indicando que a


maioria dos participantes, colocam o amor como uma representação, que é necessária a prática
docente, fundamentando assim, a dimensão afetiva. Ao mesmo tempo, as demais palavras
expressadas para essa representação, trazem à tona, uma verdadeira dimensão do pensamento
docente, acerca da afetividade para um desenvolvimento amplo da criança.

Em relação aos momentos, com o tema afetividade para docentes na Educação Infantil,
realizados pela Secretaria de Educação Municipal, que oportunizem conversas e interações aos
entrevistados com essa temática, as respostas dadas, consideradas pelos participantes, em uma
escala de 0 a 5, apresentou da seguinte forma: das quatro, uma considera nota máxima 5(cinco),
estes momentos acontecem sim, duas professoras consideraram nota 4(quatro) e uma outra nota
mediana 3(três). Como exposto no gráfico 3 abaixo.

Gráfico 3 – Momentos com o tema afetividade para docentes na Educação Infantil

Fonte: Elaborado pela autora


43

Mesmo sendo apontado no quadro acima, que os momentos com tema afetividade
acontecem, considera-se que podem ser vivenciados com mais intensidade, haja vista a
importância, segundo os entrevistados, diante do que foi exposto até aqui, sobre a dimensão
afetiva na prática docente e considerando o que afirma Wallon (2007, p. 117): “os domínios
funcionais entre o que vai se distribuir o estudo das etapas que a criança percorre serão, por
tanto, os da afetividade, do ato motor, do conhecimento da pessoa”, influenciando nas vivências
e aprendizagens propostas por uma prática docente afetiva.
Um último questionamento feito, foi partindo do pressuposto de como os professores
da Educação Infantil podem trabalhar a afetividade de formas mais efetiva e para ilustrar esses
registros, apresento as falas das quatro participantes, que expõem suas opiniões acerca do que
pensam sobre:

“Na prática docente além de afeto diário (receber com alegria, amor), deve considerar
o olhar e a escuta para compreender as necessidades dos alunos no âmbito emocional e
cognitivo. (Participante 01)

“Tornando a afetividade como um princípio fundamental para ser vivido e vivenciando


no ambiente propício a aprendizagem infantil”. (Participante 02)

“A afetividade é o caminho que liga a criança à escola. Desenvolve-se por meio do


cuidado, resolução de conflitos e administração das emoções”. (Participante 03)

“Promovendo rodas de conversa, ouvindo os alunos e buscando ser carinhoso e


atencioso com seus alunos.” (Participante 04)

Podemos perceber nessas afirmações, a maneira diferente que cada docente expressa
sobre como trabalhar a afetividade efetivamente, propondo que as necessidades dos alunos
precisam ser consideradas, desde seu olhar até a escuta atenta, por meio de conversas e atenção,
ao que o aluno sinaliza no ambiente. Discorrem sobre a prática docente, que vai além do afeto
diário, compreendendo o aluno, tanto no emocional quanto no cognitivo, com o cuidado através
de resoluções de conflitos e buscando administrar suas emoções, em que a afetividade pode ser
vivenciada num ambiente propício a aprendizagem infantil.

A teoria walloniana tem como ponto basilar a integração dos conjuntos funcionais
(afetividade, cognição, motricidade e pessoa) e a integração ao organismo-meio. Possibilitando
com isso, o entendimento do indivíduo em sua totalidade. Valorizar o ambiente no qual o
indivíduo está inserido, influencia no desenvolvimento do processo. Enquanto para Freire, o
professor precisa colocar-se diante dos alunos, não pode passar despercebido, mas está atento
também aos silêncios e sorrisos, trazendo para o espaço da sala de aula, momentos e
possibilidades de aprendizagem.
44

5.2 Dialogando com os sujeitos da pesquisa

Este segundo eixo apresenta informações coletadas através das entrevistas


semiestruturadas, que aconteceram de forma presencial, obedecendo todos os aspetos éticos,
em que os docentes foram convidados a participar da pesquisa, recebendo os esclarecimentos
devidos, acerca do trabalho e cada etapa de desenvolvimento, tendo garantia de privacidade e
credibilidade das informações apresentadas.
Embora, tendo algumas dificuldades na realização das entrevistas, devido à demora para
responderem, por motivos de tempo disponível, por parte dos entrevistados, tudo ocorreu de
forma satisfatória, na obtenção da coleta das entrevistas, que foram gravadas e transcritas de
maneira integral, as quais foram fundamentais para o processo de análise dos dados, permitindo
que fossem captado as entonações de voz, expressões de sentimentos da fala e gestos dos
docentes, nas diversas situações expostas, enriquecendo as informações que foram repassadas
durante as entrevistas.
Buscando apresentar melhor e facilitar a compreensão das questões relatadas na
entrevista, que inicialmente foi pensada como um roteiro para entrevista, com questões
orientadoras e posteriormente, após melhor análise desse instrumento, aconteceu a mudança,
para formulação de cinco perguntas, relacionadas ao tema “Afetividade e prática docente na
Educação Infantil”, buscando considerar situações concretas do cotidiano escolar da sala de
aula e interações com os estudantes, como o docente aborda os conflitos entre os estudantes,
como auxilia nas atividades escolares e como planeja estas atividades, considerando os aspectos
afetivos e o que pensa sobre afetividade na aprendizagem da criança.
As quatro docentes participantes foram identificadas como participante 01, 02, 03 e 04,
para se manter o anonimato, durante a interpretação e interações dos dados da entrevista.

Buscando dispor melhor as ideias dos entrevistados e entender as especificidades


colocadas em cada fala, a análise e discussão foi dividida em quatro categorias:

5.2.1 Situações concretas do cotidiano escolar da sala de aula e interações com os


estudantes

Procurar conhecer algumas situações do cotidiano da sala de aula e interações com os


estudantes, a partir dos relatos dos docentes, impele-nos também, animar-se conhecer situações
atreladas a afetividade, que apontem e direcionem a relação na condução de momentos, que
permitam a transparência de informações, captando aspectos abordados pelos participantes.
45

No contexto aqui analisado, o cotidiano escolar, assume um sentido de acolhimento,


expressados por “logo na chegada”, “rotina”, “flexibilidade” e “boas-vindas”, que aparecem
nos relatos das entrevistas:
“(...) Fazer esta interação com ele, logo na chegada, logo ao dar as boas-vindas, para
sentir como ele chega, naquele momento ali, para dar início ao aprender, né, ao processo
de aprendizagem...” (Participante 01)

“mas as situações são vivenciadas numa rotina, temos uma rotina, juntamente com a
equipe da escola e esta situação que pode dizer é o brincar, é o sentir e o se expressar,
dentro de uma aprendizagem, de uma rotina escolar que a gente tem.” (Participante 02)

“(...) poder lidar com cada uma delas, crianças mais retraídas, crianças mais
extrovertidas, crianças mais, é, ali hiperativas, crianças de tudo quanto é jeito.”
(Participante 03)

“Ao chegar, receber com um gesto afetuoso, dando boas-vindas...” (Participante 04)

São colocações que perpassam por dimensões afetivas, em que os docentes descrevem
práticas que atentam para as coisas simples do cotidiano, mas que permitem expressar afeto,
demonstrando o que Freire (2015, p.138) diz sobre, “...Significa de fato, que afetividade não
me assusta, que não tenho medo de expressá-la.”, evidenciando que a atuação pedagógica está
sensível e precisa contribuir para o desenvolvimento cognitivo, sem deixar de lado o afetivo.

Posterior ao acolhimento, apresentado anteriormente, é abordado pelos entrevistados, a


interação que acontece por meio “de dar atenção”, “ver aí o brincar”, “crianças mais retraídas,
crianças mais extrovertidas” e “ouvindo a respeito das mesmas”, demonstrando no decorrer das
aulas, que a professora na sua prática, está sensível ao que a criança expressa e representa,
propiciando ao aprendiz confiança, carinho, segurança e por fim, tranquilidade, para que a sala
de aula seja lugar de interação e aprendizagem. Evidenciamos estas colocações nos relatos a
seguir:

“(...) pode ser uma ação concreta também, é interagir com ele, né, na maneira, ou dentro
da sala de aula ou fora, aí, na questão de ter esse olhar, até mesmo de dar um abraço,
de ouvir, né, de responder, de dar atenção, isso é uma forma também de demonstrar,
né, afetividade.” (Participante 01)

“As situações mais concretas que a gente pode ver aí é o brincar, ao consolidar na
resolução das tarefinhas, né, e ali a gente pode entender o que vai, esse conjunto de
rotina que vai gerando esta aprendizagem.” (Participante 02)

“(...) para poder lidar com cada uma delas, crianças mais retraídas, crianças mais
extrovertidas, crianças mais, é, ali hiperativas, crianças de tudo quanto é jeito.”
(Participante 03)

“(...) mostrar interesse pelas atividades que estão realizando, ouvindo a respeito das
mesmas.” (Participante 04)
46

Os benefícios pedagógicos que se podem alcançar para o processo de ensino


aprendizagem, a partir dessas interações vivenciadas nas práticas docentes relatadas, que
fortalecem o vínculo afetivo, e consequentemente proporciona a criança superar desafios,
mostra-nos que no espaço da sala de aula, os momentos afetivos de compreensão, de ter um
olhar atento, direcionar o brincar, constituir uma rotina, perceber os sentimentos e emoções da
criança e ouvi-las é a construção de um ambiente escolar agradável e ao mesmo tempo afetivo.

5.2.2 Abordagem de conflitos entre os estudantes

A explanação que se faz sobre conflito, aparece de forma bem conexas nos relatos dos
entrevistados, há uma relação na fala de ambos, em que para buscar entender a situação é
necessário a escuta, a conversa, o entendimento dos acontecimentos, o respeito, o que provocou
ou motivou a situação.
“(...) a gente ter esse olhar com ele e para com ele e para os outros, ele sentir que ele é
visto, né, que o professor escuta, que ele percebe como ele está, que dar atenção, né, e
sentir também que o professor estar ali atento, se ele tem conflito, né, com outro
estudante, chamar, conversar, através do diálogo, (...)”. (Participante 01)

“(...) colocando aí o respeito pelo outro, né, respeitar o espaço do outro, respeitar o
tempo do outro, respeitar seria uma forma de dizer assim, elevar a criança a ter assim,
a compreensão de convivência, para que eles entendam que o ambiente pertence a
todos, (...)”. (Participante 02)

“Primeiro saber a causa, a origem, o que que ocasionou esses conflitos, o que provocou,
(...)”. (Participante 03)

“Sempre buscando ouvir as duas partes, apaziguando, tentando primeiramente acalmá-


los, (...)”. (Participante 04)

A partir desses depoimentos, pode-se notar a maneira com que cada professora lida com
os conflitos entre os estudantes, buscando uma forma peculiar, pensando no aluno de forma que
entendam a necessidade de se expressar, mas de respeitar o espaço do outro, que as frustações
e desentendimentos, se fazem necessários para se ter o controle das suas emoções e que
afetividade também é expressão de raiva, stress, aborrecimentos e decepção, cabendo ao
docente mediar esse conflito, trabalhando a relação de controle e de comunicação, que se
encontram integrados nos relacionamentos e que emergem desse encontro.

Outro aspecto que também chama atenção, refere-se como o professor relata sua ação
diante dos conflitos apresentados no cotidiano e como agem em relação a resolução deles. Além
da preocupação em fazer o aluno pensar, em se colocar no lugar do outro, pensar sobre o que
fez, a importância da convivência, dos valores e da motivação para buscar resolver os conflitos,
demonstrando assim afeto elo que faz.
47

“(...) pensar sobre o que foi que ele fez com o outro, ou se ele está triste porque o outro
fez algo com ele, então ele perceber que ele tem que se colocar no lugar do outro, (...)”
(Participante 01)

“(...) e ali vão convivendo e a gente vai aprendendo a olhar os conflitos e trazendo a
eles a verdadeira importância do conviver e conviver bem, trazendo hábitos saudáveis,
de valores, (...)”. (Participante 02)

“(...) o que motivou aquele conflito, então fundamentado na causa, é que consigo a
resolução do conflito.” (Participante 03)

“(...) mostrando que não se pode agir com brigas, pois precisam conviver em
harmonia.” (Participante 04)

Estas relações estabelecidas e expostas, podem transformar a aprendizagem e o


desenvolvimento do aluno, sendo o professor motivador, que intermedia os conflitos, busca
resolvê-los, mobiliza as experiências vividas no cotidiano da sala de aula, vai determinando
assim a natureza afetiva da relação com os pares e amenizando os conflitos que possam surgir.
Fazendo com que o aluno entenda que os conflitos precisam existir, no entanto é preciso buscar
estratégias para resolvê-los.

5.2.3 Auxílio aos estudantes e planejamento das atividades escolares, considerando


aspectos afetivos

Nesta terceira categoria houve a junção de duas questões da entrevista, pois as duas tem
relação quanto as atividades escolares realizadas, sendo a primeira acerca do auxílio que é dado
aos estudantes e a outra quanto ao planejamento das atividades, considerando o aspecto afetivo.
O auxílio aos estudantes nas atividades escolares, foi apontado pelos professores como
situações que precisam ser percebidas e acompanhadas em sala de aula de forma a ter atenção
aos alunos “despercebidos”, buscando intervenções coletivas e/ou individuais, demonstração
de persistência e paciência para com eles, observação, auxílio e incentivo nesses momentos.
Como podemos perceber nos relatos a seguir:

“Ah, ele tem dificuldade ou então às vezes, o aluno passa despercebido, porque ele é
muito calado, então está sempre atento, ah, ele é quietinho, ele é calado, né, então deixa
ele quieto no canto dele.” (Participante 01)

“As atividades são acompanhadas, seja de forma coletiva ou individual, as intervenções


são feitas para aqueles que não conseguiram chegar ali, ao conhecimento pleno do
objetivo que a gente queria para aquela atividade, (...)”. (Participante 02)

“Tem alguns alunos que já são bem desenrolados, bem tranquilos e acho que isso,
possivelmente, já vem de casa, já traz essa bagagem de casa, e isso é muito bom, mas
existe os outros que tem uma dificuldade bem maior, (...) Paciência, persistência, calma,
tranquilidade pra a gente conseguir achar aí um caminho, norte, pra é, pra fazer com
que o aluno consiga aprender, (..)”. (Participante 03)
48

“Sempre observando os estudantes, auxiliando os que apresentam dificuldade, estando


próxima e incentivando a realizar as atividades.” (Participante 04)

A menções feitas anteriormente, faz uma desenho do papel do professor, que tem
representação fundamental para o desenvolvimento pleno e aprendizagem do estudante, estando
ele apto a oferecer e propor atividades de acordo com a dificuldade apresentada por cada aluno,
respeitando as individualidades, possibilitando o atendimento das necessidades e
desenvolvimento das potencialidades de cada um, sem que os alunos não tenham limitações ao
aprender, mas que produzam conhecimentos e tenham como canalizador a afetividade que
ampliam suas possíveis obtenção de sucesso e aprendizagem.

Quando perguntado a respeito dos planejamentos de atividades, considerando aspectos


afetivos, muitas considerações foram sendo feitas e confirmando a retratação e a importância
da afetividade no processo de ensino aprendizagem, pois colocam que é preciso estabelecer
confiança para conseguir um vínculo com a criança, pensar na criança e como ela apresenta
suas dificuldades, buscar um ambiente favorável, trazer atividades que contemplem os
diferentes níveis, para a ressignificação do aprender, conforme mencionados em relatos feitos.

A participante 01, explana na sua fala, que tem feito uso dos aspectos afetivos, quando
pensa nas dificuldades e tenta estratégias que gere e pense nos sentimentos da criança para
aceitar as regras, vencer as frustações, buscando colocar-se no lugar dele, oportunizando uma
aprendizagem mais leve.

“Então, eu vou pensar como meu aluno pode proceder naquela atividade, né, eu tenho
que me colocar usando o aspecto afetivo, mais uma vez, esse olhar, como é que eu
posso executar tal tarefa, como essa tarefa vai ser executada por aquele grupo que eu
tenho ali, né, heterogêneo, cada um pensando de uma forma, cada um com suas
dificuldades, então me colocar no lugar do aluno, como ele vai executar, como ele vai
pensar, como ele vai conseguir fazer, isso ai também é pensar de maneira afetiva, né,
pensar que sentimentos eu posso gerar, se o aluno não conseguir fazer, né, se ele tem
dificuldade em aceitar regras, se ele tem dificuldade com frustações, né, se ele tem
dificuldades cognitivas, ele não consegue, ele se frusta, ele vai ficar frustrado, isso aí
gera muito sentimento na criança, (...)”. (Participante 01)

Para a participante 02, as atividades são preparadas, pensando na turma de forma geral,
sem especificidades na dificuldade de cada aluno, mas segundo ela, favorecendo afetividade ao
acolher, dar atenção, trazendo para perto de si e desejando que a criança se desenvolva
plenamente.

“As atividades no momento da Educação Infantil, ela é feita e é produzida de forma


gerais, afetividade entre professor e aluno, entre aluno e aluno, para que eles se sintam
49

em um ambiente favorável, né, a essa aprendizagem, ao momento que ele tenha também
ali dentro daquele ambiente escolar, dentro de uma rotina, eles se sintam mesmo
importante, um serzinho ali que precisa realmente ser acolhido, ter atenção, né, que
precisa mesmo de dar esse afeto, de trazer ele para perto, de desejar que esse aluno
venha ter esse relacionamento afetivo com a gente, para que ele se desenvolva de forma
mais plena.” (Participante 02)

Ao observar a fala da participante 03, ela acredita que a afetividade é algo que se
estabelece através da confiança, que a partir daí, são criados vínculos e laços de confiança, que
uma das atividades que proporciona isso, é o brincar, e que através do brincar, pode-se explorar
e conquistar melhor a criança.

“(...) acho que através do brincar a gente consegue estabelecer um laço de confiança,
né, com a criança. a afetividade se dar por aí, primeiro confiança, né, tem que criar esse
vínculo, esse laço de confiança com a criança, então acho que primordial são as
atividades por meio do brincar, depois conquistada a confiança, a gente pode explorar
um pouco mais.” (Participante 03)

A participante 04, relata que realiza o planejamento das atividades pensando nas
dificuldades apresentadas tanto pela turma geral como nos alunos com dificuldades distintas,
pensando em contemplar a todos.’’’

“Buscando pensar na turma e nos alunos que apresentam dificuldades, a fim de levar
atividades que comtemplem a todos.” (Participante 04)

No geral, as docentes foram sinalizando que, no planejamento das atividades, precisam


considerar as dificuldades apresentadas pelos alunos, atribuindo essa consideração ao fato de
que, este cuidado seja uma demonstração de afeto. O planejamento das atividades que
consideram aspectos afetivos, também foi posto como pensar sobre que estas dificuldades
podem já serem geradas por frustações e sentimentos de não conseguir fazer o que é proposto,
trazendo à tona mais desafios para serem aperfeiçoados.

Os docentes propõem então, nos seus relatos, que é indispensável um ambiente


acolhedor, atencioso, que faça a criança sentir-se importante, onde as dificuldades sejam
superadas por meio do brincar, que vai estabelecendo confiança, conseguindo minimizar a
dificuldade e aprendendo de forma mais efetiva.

Partindo desses pressupostos de que os aspectos afetivos considerados ao planejar as


atividades, sejam perceber as dificuldades que os alunos apresentam e criar um ambiente
favorável para que o ensino aprendizagem aconteça, pois quando as dificuldades são superadas,
acontece tranquilidade para mudança e acomodação do desenvolvimento cognitivo e provocar
alegria, prazer e satisfação, tanto no professor quanto no aluno.
50

5.2.4 Afetividade e aprendizagem da criança

Com relação a afetividade e a aprendizagem que tem como foco principal o aluno, foram
relatados alguns aspectos sobre estar aberto a ajudar, criar laços, demonstrar afeto e interesse
em conquistar, e que vão fazendo com que a criança tenha vontade de aprender, conforme
podemos constatar a seguir:

“(...) a afetividade, ela, como diz né, o afeto, afeta, ele ajuda a criança a ter gosto pela
aprendizagem né, se ele percebe que o professor se dispõem a ajudar, né, então ele
percebe isso, que o professor está ali disposto, aberto a ajuda-lo, isso gera nele uma
emoção, ne, então ele vai ter a vontade de ir para escola, por que ele tem esse vínculo
com o professor, ele criou esse laço, né, ele sabe que o professor vai ter paciência com
ele, que está olhando por ele, que não vai desistir dele,(...)”. (Participante 01)

O apoio e a confiança que o docente demonstra para com o aluno, faz diferença no modo
como ele aprende, marca positivamente e vai apontando que o papel da afetividade é importante
na condução do desenvolvimento positivo e assertivo da criança. A afetividade para Wallon,
refere-se à capacidade que o indivíduo tem de ser afetado pelo mundo interior e exterior. Para
a participante 02, é impossível a realização de uma atividade sem a presença da afetividade:

“(...) a afetividade na aprendizagem da criança, acho que seria assim um fator


indispensável, é quase, eu acho assim, impossível, de você realizar uma atividade com
uma criança sem você ter esse momento, esse jeito, esse aspecto de afetividade né, em
tudo você tem que demonstrar interesse pelas coisas que estão acontecendo,
demonstrando dentro desse afeto ali, gerando a ele, a vontade de aprender e de se
envolver ali, no ambiente escolar.” (Participante 02)

A participante 03 deixa claro que, na Educação Infantil, há uma necessidade da


afetividade, que perpassa ao adulto, pois o elo que existe entre os dois é indispensável e
necessário, para ela, é a afetividade que faz todo o processo ser natural.

“O mundo infantil é afetivo, não tem pra onde, não só infantil, nós adultos também
somos, precisamos de afetividade, imagine as crianças, né, verdade. Então, assim,
afetividade, o que que eu penso sobre isso, é o elo entre a criança e o adulto, entre a
criança e a escola, entre a criança e a atividade, entre a criança e tudo, necessário, é
indispensável ter a afetividade para conquistar a criança, para criar essa, esse elo, né,
essa parceria com a criança, e isso acontece de forma bem natural, (...)” (Participante
03)

A participante 04 ver a afetividade como essencial para aprendizagem, como sendo um


instrumento com potencial de tocar a alma da criança, para Wallon (2007, p. 117) “os domínios
funcionais entre os quais vai se distribuir o estudo em etapas que a criança percorre serão,
portanto, os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa”, os três são fatores
orgânicos e sociais e correspondem a configurações diferentes de sua integração: nas emoções.
51

“Vejo afetividade como um ponto essencial para alcançar a aprendizagem dos alunos,
pois precisamos primeiro tocar a alma da criança.” (Participante 04)

A relação da afetividade e aprendizagem, traz à tona as emoções positivas de


experimentar, brincar, aprender algo novo e sentir-se importante, ir à escola e ser acolhido faz
com que a criança supere as dificuldades. Para ilustrar, traga este relato:

“Se ele não vai à escola, que a professora percebe a ausência dele e quando ele volta, a
professora, né, pergunta e diz que ficou triste porque ele faltou, então ele vai sentir esse
aconchego, isso é importante para aprendizagem, traz uma emoção positiva para a
criança. então, ele vai experimentar, né, essa emoção da escola, essa emoção de estar
ali brincando, de estar aprendendo, de estar vendo coisas novas, e vai ser muito
importante na construção dessa relação entre ele, o educador e o aluno, (...). Quando
ele tem isso na escola, tem afetividade que ajuda, que é um ambiente que ele se sente
amando, acolhido, que ele se sente feliz, isso vai gerar, né, a vontade de aprender, por
mais que ele tenha dificuldade, ele vai estar feliz em está ali.” (Participante 01)

Os benefícios pedagógicos que se podem obter para o ensino aprendizagem com o uso
de estratégias positivas, que proporcione confiança, aconchego, a construção de uma relação
entre os pares, docente e estudante, entre os próprios estudantes, assume uma realidade de
constância e fortalecimento de uma prática afetiva necessária. Segundo Freire (2015, p. 139),
“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca.
Ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.”. Daí é
possível dizer que a afetividade desempenha papel crucial no desenvolvimento e no processo
de ensino aprendizagem.

A partir das definições apresentadas nos relatos, pode-se perceber que os docentes têm
demonstrado posturas empáticas, na busca de facilitar a aprendizagem, sinalizando
características que motivam a criança, apontam estratégias de mediar situações que levam o
aluno a aprender de maneira afetiva e efetiva, segundo Almeida (2004, p.126), “[...] o professor
precisa criar condições afetivas para o aluno atingir a plena utilização do funcionamento
cognitivo, e vice-versa.”, com isso oportunizando mudanças diversas para a criança na
Educação Infantil, que sem um bom direcionamento, pode ocasionar resultados fracassados ou
inesperados.

5.3 Atuação docente e suas vivências

Este eixo aborda a apresentação e análise das observações não participante, que
ocorreram na instituição escolhida, em momentos distintos e dias diferentes, em momentos de
aula, recreio e aplicação de atividades, objetivando relacionar e cruzar dados relevantes que
52

ajudaram a complementar as análises apresentadas, nos relatos transcritos e na observação de


comportamentos, destacando reações e atitudes.

Os aspectos observados foram elencados em quatro categorias e trazem proeminentes


contribuições para este trabalho.

5.3.1 – Comportamentos docentes

Os aspectos observados nesta categoria, ocorreram em momentos distintos e permitiram


colher informações relacionadas ao comportamento dos docentes, trazendo significados que se
relacionam ou constatam com os relatos anteriores. Para ilustrar, apresentamos algumas
descrições das observações, que dão ênfase aos comportamentos das práticas docentes voltadas
a afetividade na Educação Infantil:

QUADRO 03– Afetividade e a relação com os comportamentos docentes

Participantes Descrições das observações realizadas


Ao receber os alunos no início da aula, ela abraça e fala de forma branda. A professora
conversa com as crianças acerca de como devem tratar uns aos outros.
Quando percebe que os alunos estão dispersos, chama-os e os ajuda auxiliando no
01 desenvolvimento da tarefa, as vezes vai até aquele aluno e tenta entender o porquê não
realiza a atividade ou dispersa fácil, tenta ajudar de forma mais próxima.
A professora recebe as crianças dando as boas-vindas, as crianças são acolhidas na porta,
onde tem uma placa com quatro figuras e elas escolhem a figura que deseja para aquele
02 dia – abraço, bater na mão, apertar a mão ou dançar. A professora quando chamada,
responde prontamente ou atende o aluno.
O aluno autista fica agitado e a professora busca acalmar.
A professora fala baixo com os alunos quando se dirige a eles. Demonstra calma ao falar
com as crianças na fila e na sala de aula. Os alunos dispersos, não são chamados para
03 prestarem atenção, brincam com outros objetos e não participam ativamente da aula.
Enquanto a professora interage com o aluno que é chamado a frente para recontar uma
história ouvida, os demais brincam em suas mesinhas.
A recepção de entrada(acolhida), foi feita através de imagens exposta na parede, logo na
entrada da sala e cada criança ao chegar aponta e realiza o que sugere a imagem (legal,
04 dancinha, coração com as mãos, entre outros.
Os alunos que se dispersaram foram sendo chamado pela professora, com voz baixa. Ela
orienta a fazer as atividades, auxiliando a professora na sala de aula, a fim de que ele
melhore o comportamento.
Fonte: Elaborado pela autora

Estes registros, demonstram interesse dos professores pelo que o aluno apresenta,
trazem estratégias possíveis de acolhimento, na tentativa de chamar a atenção da criança e
considerando a afetividade como marco para o desenvolvimento e conhecimento do aluno, na
busca de conhecê-lo melhor, identificando novos caminhos que auxiliem na construção do
conhecimento e equilíbrio nos momentos vividos na sala de aula. Por tanto, os momentos
53

observados das práticas docentes e naquele espaço, trazem uma reflexão proposta por Wallon
(2008):

O espaço não é primeiramente uma ordem entre as coisas, mas antes uma qualidade das
coisas em relação a nós mesmos e, nesta relação, é grande a parte que cabe à afetividade,
à pertença, à aproximação ou ao evitamento, à aproximação ou ao afastamento.
(WALLON, 2008, p. 206)

Caberia destacar aqui que o professor, em sua prática docente, sendo atento ao seu aluno,
acolhendo com carinho, escutando a criança e propondo momentos de tranquilidade no
cotidiano da sala de aula, em especial com a Educação Infantil, assume que a afetividade
desempenha papel crucial na prática desenvolvida e aplicada, relacionando-se e aproximando-
se da criança para fortalecer o relacionamento entre eles.

Dentre estes comportamentos, faz-se necessário criar espaço de escuta, ampliação de


comunicação, reflexão acerca dos comportamentos das crianças, dos conflitos exteriorizados,
para que se busque correção de forma eficiente. No ambiente da Educação Infantil, há muitos
desafios e para superá-los é necessário demonstração de confiança, percepção de alegria, tanto
na chegada como na saída da sala de aula, uma demonstração de afeto mútuo.

5.3.2 – Expressões da afetividade

Um outro ponto observado e tão importante quanto, foram as formas de expressões da


afetividade no cotidiano da prática docente na Educação Infantil, em vivências da sala de aula,
recreio, pátio e refeitório, em que se pode destacar a forma que conduziam as crianças, atendiam
seus chamados, percebiam e eram atenciosos aos acontecimentos, considerando o que faziam,
direcionando o aluno com afeto e compreensão. Podemos constatar nas descrições a seguir:

QUADRO 04 – Demonstração de cuidado e afeto, por meio disciplinar

Participantes Descrições das observações realizadas


A professora fica atenta ao que está acontecendo, chama a criança quando percebe que
está com comportamento que venha a atrapalhar o desenvolvimento ou aprendizagem. Na
ida para o recreio ou refeitório, a professora orienta que devem seguir em fila, comportados
01 e atentos, pede que todos comam e fala da importância de comer bem. Demonstra cuidado.
A professora direciona os alunos para o refeitório em fila, em silêncio, ajudando na entrega
dos lanches e incentiva-os a comer.
02 Quando os alunos se levantam ou vão até a cadeira do outro ou fazem barulho, a professora
chama com a voz alterada, mas retorna a explicar que sentem para realizar a atividade
proposta.
A professora direciona a fila com os alunos para o recreio com atenção, leva as crianças,
que pegam o lanche e seguem para sentar-se à mesa, se as crianças levantam a professora,
54

03 em voz baixa orienta que volte a sentar. Na sala de aula, orienta os alunos nas atividades,
direcionando como fazer, no entanto,
de vez em quando, se dispersam rápido e a professora continua a explicação sem chamar
para prestarem atenção.
Os alunos são conduzidos em fila para o pátio, após a refeição. Um dos alunos que não
quis atender à solicitação da professora, seguiu com ela para outro local, onde ela foi
04 arrumar o local da acolhida. Os demais alunos ficaram sob o cuidado da assistente da sala
e o aluno ajudou a professora. Ela o coloca de ajudante da turma, para que ele consiga se
envolver com as atividades, pois se comporta de forma que não quer obedecer aos
comandos.
Fonte: Elaborado pela autora

A demonstração de cuidado, as vezes disciplinar, em que o docente orienta e conduz os


discentes, há expressão de afetividade, e podem ocorrer de várias maneiras, os docentes
observados expressam tranquilidade, mas as vezes alteram a voz, na busca de chamar atenção
da criança para que participe do que é proposto na aula. Outros acontecimentos vão se dando,
de acordo com que o docente conduz a aula e envolve a turma para que a aula transcorra com a
participação de todos. As posturas revelam a condução e conhecimento dos alunos, mas também
expressam que os docentes, as vezes perdem o equilíbrio da situação, deixando o aluno à
vontade. Acerca dessa constatação, é possível ressaltar que o momento em que a afetividade é
mais aparente, o professor conduz melhor seu aluno, no entanto, há momentos em que o
professor notasse cansado, buscando contornar a circunstâncias de ansiedade e euforia, mas que
se destaca a necessidade de atender e refletir sobre afetividade.

5.3.3 - Execução das atividades

Buscando entender e observando como as professoras executam e planejam as


atividades considerando aspectos afetivos, como auxiliam as crianças nas atividades, buscou-
se descrever como acontecem esses momentos e como são direcionados, foi possível ter contato
com os planos de aula, visando perceber os objetivos e desenvolvimento ali expressados. As
descrições realizadas, mostraram o seguinte:

QUADRO 05 – Manifestações emocionais na execução das atividades

Participantes Descrições das observações realizadas


A professora faz atividade de sala no livro didático, explica de forma que todos ouçam,
mas sem alterar a voz, mostra o livro e ao perceber que algum aluno não está atento ou
prestando atenção, ela chama-o de forma calma ou vai até ele, para chamar sua atenção.
01 A atividade proposta é realizada com tranquilidade.

Os alunos estão realizando atividade no livro de recorte e colagem, sentados no chão. A


professora orienta e instiga as crianças sobre o que precisam encontrar para realizar a
02 atividade, vão procurar diversos tipos de pessoas para perceber as diferenças entre elas.
55

A professora orienta que os papeis picotados precisam ser jogados no lixo. A aula
acontece com tranquilidade.
A aula foi sobre recontar de forma resumida uma história ouvida e contada pela
professora. Inicia pedindo que todos tenham atenção e escutem o que o colega vai falar.
03 Chama uma criança para que faça o reconto, incentiva a turma a falar com calma, voz
baixa e incentivando a turma. No desenrolar da aula, algumas crianças não prestam
atenção, pois estão dispersos com objetos em suas mesas.
A atividade desenvolvida foi um jogo de bingo com os números de 1 a 20, as crianças
em dupla marcavam o número que era sorteado e pintavam com a cor preferida. Todos
04 os alunos estavam envolvidos coma atividade e a professora ao realizar o sorteio do
número chamava a atenção das crianças para que marcassem e fixassem os números.
Teria uma dupla ganhadora no final. A professora conduzia bem a atividade.
Fonte: Elaborado pela autora

A forma como o professor conduz e planeja as atividades, que serão propostas para os
alunos, precisa trazer embutido manifestações emocionais, são atividades distintas, que
precisam apontar estratégias, que façam pensar nas dificuldades que o aluno apresenta no
decorrer do processo do ano letivo e na realização dessas atividades. São situações vivenciadas
no âmbito da sala de aula que derivam do emocional e suas variações.

Considerando as manifestações expressadas no decorrer da realização dessas atividades,


é possível buscar entender e lidar com as dificuldades. A emoção segundo Wallon (1995,
p.140), “consiste essencialmente em sistema de atitudes que respondam a determinada espécie
de situação”, reduzindo assim, os efeitos da tensão e trazendo o controle da situação, que por
consequência trará um menor uso de recursos para o indivíduo aprender.

5.3.4 – Conflitos entre os estudantes

Procurando compreender as reações dos docentes frente aos conflitos que possam
acontecer entre os estudantes, foi observado como se dá a prática docente, em relação a estes
conflitos e como a afetividade é considerada nesses momentos, a partir dessas observações,
surgiram as seguintes observações

QUADRO 06 – Afetividade e a relação com os conflitos

Participantes Descrições das observações realizadas


A professora quando chamada pelos alunos, por estarem se desentendendo na brincadeira
que está sendo realizada, buscou apaziguar a discussão, conversando sobre o que
aconteceu e que todos precisam respeitar a opinião do outro, que todos precisam conversar
01 ao invés de discutir ou brigar. Levando as crianças a conversarem sobre que é melhor se
entender do que desentender.

No decorrer da aula, duas crianças iniciaram uma discussão, por conta das imagens que
estavam procurando e a professora fez uma indagação: Que confusão é essa aí? E as
02
56

crianças foram se dispersando para sentar-se em seus lugares, acabando com a conversa.
As vezes a professora exalta a voz, e as vezes ao falar chama-os de meu amor

Os alunos se levantam de vez em quando e vão para a cadeira dos outros, conversam,
discutem por causa dos objetos dispostos na mesa. As vezes as crianças dispersas não são
03 chamadas para sentar-se, a professora conversa com a criança que está fazendo o reconto,
mas de vez em quando a professora pede, em voz baixa, que façam silencio.
No decorrer do jogo, algumas crianças se desentendiam porque queriam pintar,
procuravam o número sorteado e se animavam quando saia o número que tinha em sua
04 cartela.
A professora buscando sempre acalmar os exaltados, orientando e conversando para que
se entendam, que as regras do jogo precisam ser seguidas e que apenas uma dupla pode
ganhar, buscou harmonizar a turma e que todos ficassem calmos.
Fonte: Elaborado pela autora

As relações que são estabelecidas no processo de ensino aprendizagem tendem


transformar o desenvolvimento do aluno, numa sala de aula e no cotidiano escolar surgem
conflitos diariamente, que são necessários para que as relações com os pares possam ser
fortalecidas e se compreender e aceitar as diferenças que existem entre as pessoas. Desde cedo,
já na Educação Infantil essa proposta precisa ser bem direcionada e trabalhada, através das
interações, das manifestações de incluir o outro, respeitando os momentos, tentando entender o
porquê daquele comportamento, conversando e demonstrando carinho e atenção, para que a
criança tenha maturidade de lidar com os conflitos, que porventura, venham fazer parte do seu
cotidiano.
Nas observações aqui descritas, os docentes demonstram que se faz necessário está
intervindo nesses momentos, mostrando as crianças meios para que as situações sejam
resolvidas, dando ênfase ao ouvir, ter atenção, disciplina, compreensão da sua vez e da vez do
outro. Mesmo em alguns momentos, o docente tendo a demonstração de estresse e nervosismo
ao se dirigir ou falar com o aluno, mas buscam fazer momentos de reflexões, para que a sua
prática diante dos conflitos, seja sensível a mudanças e com possibilidades que cedam lugar a
tranquilidade, melhoria de humor, calma e concomitantemente trazendo vivencias de práticas
docentes decisivas ao desenvolvimento da criança.

Com relação aos objetivos propostos, foram alcançados com êxito, junto aos resultados,
pois ao analisar a importância da afetividade na prática docente na Educação Infantil, por meio
dos instrumentos de coleta, foi possível compreender que há interesse e manifestação, acerca
da afetividade em sala de aula, dos docentes e que revela haver melhor aprendizagem quando a
afetividade é constante e expressada no processo de ensino e aprendizagem. Ao descrever as
práticas voltadas a afetividade, percebeu-se que os docentes, conduzem as crianças com
afetividade através da atenção, zelo, olhar compreensivo. Identifica e expressa a afetividade por
meio do diálogo, auxiliando e planejando suas aulas, considerando as emoções expressadas,
57

diferentes níveis de aprendizagem, oferecendo um ambiente favorável, acolhedor e


aconchegante, e ainda fazendo análise da sua prática pedagógica, em que parte de necessidade
da criança, percebendo seus comportamentos, medos e anseios, conduzindo os conflitos com
compreensão para que sejam superados.
58

6 – CONSIDERÇÕES FINAIS

Essa dissertação teve como objetivo analisar a importância da afetividade na prática


pedagógica dos docentes no Centro Municipal de Educação Infantil de Petrolina- PE, buscando
descrever práticas docentes voltadas para a afetividade, identificando formas de expressão e ao
mesmo tempo, analisando os sentidos dessa afetividade na prática docente na Educação Infantil.

O estudo traz considerações pertinentes acerca de práticas docentes entrelaçadas com a


afetividade e que possibilitam a influência na aprendizagem da criança, ampliando a
compreensão dos professores para maiores possibilidades no processo de ensino e
aprendizagem. A partir das revisões, com base na fundamentação teórica, que nortearam a
pesquisa, com reflexões pertinentes a conceitos sobre o papel das emoções e da prática
educativa, alinhados a uma aprendizagem afetiva e significativa.

Durante o percurso da pesquisa, muitas foram as reflexões e indagações feitas,


observadas e analisadas, com as respostas obtidas e questionadas. As inquietações foram sendo
respondidas e ainda podem ser abertas outras discussões para futuras pesquisas. Tais como:
Afetividade influencia na aprendizagem da educação Infantil? Como o docente pode promover
afetividade com seus alunos? Como se dar a relação afetiva entre docente e aluno na Educação
Infantil?

A experiência com a pesquisa, despertou vários olhares acerca de vivências e


acontecimentos de sala de aula, com relação a afetividade e a necessidade de momentos
afetivos, com relação ao que trazem imbuídos nas suas vivências, seus anseios, bem como as
dificuldades vividas, expressadas e compartilhadas no cotidiano. Revelou-se ainda, um enorme
interesse dos docentes, em trabalhar o tema afetividade em sala de aula no dia a dia da Educação
Infantil.

O processo da pesquisa não é fácil, muitos são os desafios encontrados, sendo a pesquisa
de suma importância, pois revela situações reais existentes e nos apontam caminhos para irmos
em busca de soluções, que minimizem as dificuldades reveladas, fazendo com que envolvidos
ou não, tenham novos olhares e busquem mudanças.

Sobre afetividade, tema mais que necessário, as informações foram sendo constadas,
como interesse e atenção dos docentes pelo tema afetividade, considerando que se faz
necessário ampliar o foco dessa temática, levando esse tipo de discussão para formações
59

realizadas pela Secretaria de Educação Municipal, planejamentos pedagógicos e direcionar a


prática afetiva, com intuito de fazer a criança ter pleno desenvolvimento e aprendizagem de
forma mais ampla e prazerosa.

O tema afetividade é bem vasto e necessário atualmente, com várias possibilidades de


estudos. Sugere que novas pesquisas sejam realizadas e que apontem outras direções com visões
docentes sobre o tema, e que venham a contribuir, de forma ampla, para mais práticas docentes
afetivas e efetivas.
60

7 – PRODUTO DIDÁTICO

Durante a realização da pesquisa e diante das discussões vivenciadas, percebe-se o que


é pertinente elencar o assunto acerca da afetividade para uma prática docente na Educação
Infantil que venha contribuir de forma efetiva e integral. Para tanto, como produto, apresento
ao Programa de Pós-graduação em Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares
(PPGFPPI) UPE, um guia de orientações, que tem como principal missão, contribuir com
professores da Educação Infantil e na sua formação, acerca da afetividade, com finalidade de
orientar, levantar questionamentos, repensar e analisar sua prática, no que tange a afetividade,
visando refletir e contribuir na interação com as crianças na sua prática pedagógica diária.

O material foi elaborado, visando a orientação pedagógica, no tocante a uma prática


docente mais afetiva, e dispõem de dicas e imagens bem interessantes, com o objetivo fomentar
conteúdo que possa auxiliar, desenvolver e interagir nas práticas pedagógicas de professores da
Educação Infantil, com intuito de contribuir para uma prática afetiva e com a utilidade de guia
e ferramenta, na elaboração do plano de desenvolvimento individual e coletivo, bem como
execução de estratégias e intervenções focadas nas emoções afetivas, sentimentos, acolhimento,
pertencimento, fortalecendo vínculos e potencializando a aprendizagem e desenvolvimento da
criança, com ênfase na afetividade.

O guia de orientação “Afetividade na Educação Infantil, instrumento para a prática


docente”, será disponibilizado por meio de link e QR CODE, ficando acessível a todos os
professores, que tenham interesse em refletir sua prática docente, em relação a essa temática,
subsidiando assim seu trabalho pedagógico e fazendo uso das dicas propostas.
61

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; MAHONEY, Abigail Alvarenga. Henri Wallon: Psicologia
e Educação. 7ª ed. São Paulo: Loyola, 2004, p. 126.

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; MAHONEY, Abigail Alvarenga. A constituição da pessoa


na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

ALMEIDA, Laurindo Ramalho de; Ser professor: um diálogo com Henri Wallon. In:
MAHONEY, A. A., ALMEIDA, L. R. (Orgs.). A constituição da pessoa na proposta de Henri
Wallon. São Paulo, Loyola, 2004, p. 126. Ver abnt

BARDIN L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental.


Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017.

CUNHA, Antônio Eugênio. Afeto e aprendizagem, uma relação de amorosidade e saber na


prática pedagógica. Rio de Janeiro: Wak, p. 63, 2008.

CARVALHO, Rodrigo Saballa de. O imperativo do afeto na educação infantil: a ordem do


discurso de pedagogas em formação. Educação e Pesquisa: Revista da Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo, 2014-03-01, Vol.40 (1), p.231-246

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 38ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 68, 2004.

FREIRE, J. B. (1989/2003). Educação de corpo inteiro. Teoria e prática de Educação Física.


São Paulo, Scipione.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa / Paulo


Freire – 51ª ed.- Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, 2015.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.


Petrópolis, R.J.: Vozes, 2003.

GERHARDT, Tatiana Engel, RAMOS, Ieda Cristiana Alves, RIQUINHO, Deise Lisboa,
SANTOS, Daniel Labernarde. Estrutura do projeto de pesquisa. Rio Grande do Sul, p.74
2009.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, p. 128,
1999.
62

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2009.

MELLO, Suely Amaral de. A escola de Vygotsky. In CARRARA, K. Introdução à Psicologia


da Educação. São Paulo: Avercamp, 2004.

RODRIGUES, Silvia A.; GARMS, Gilza M. Z. O lugar da afetividade no ambiente de


aprendizagem: desafio da prática docente. RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos
em Educação, Araraquara, Brasil - e-ISSN: 1982-5587, 2006

WALLON, Henry. Do ato ao pensamento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

WALLON, Henry. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WALLON, Henry. O desenvolvimento psicológico da criança. Lisboa, Edições 70, 1995.

WALLON, Henry. Psicologia e Educação da Criança. Trad.: Ana Rabaca e Calado Trindade.
Lisboa: Veja 1979.

WALLON, H. Psicologia da Educação e da Infância. Lisboa, Portugal: Editorial Estampa, p.


165-166, 1975.

WALLON, H. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole, 1986.


63

APÊNDICES

APÊNDICE 01

QUESTIONÁRIO
Pesquisador: Elizângela Alves Miranda Atanázio
Orientador: Profº. Dr. Marcelo Silva de Souza Ribeiro
Dissertação: Afetividade e prática docente na Educação Infantil

Perfil dos participantes da pesquisa Nº: __________


(PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO)

1 – Qual seu nível de formação?


( ) Graduação ( ) Lato sensu (especialização) ( ) Stricto sensu (mestrado/ doutorado)
2 - Sexo?
( ) Feminino ( ) Masculino

3 – Idade? _____________

4 – Tempo de docência na Educação Infantil?


( ) 1 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) mais de 10 anos

5 - Qual turma leciona, atualmente, na Educação Infantil?


( ) Berçário 1 ou 2 ( ) Maternal 1 ou 2 ( ) Pré-escolar – Pré1 ou Pré2
6 – Você teve alguma formação que tivesse contemplado a dimensão afetiva na
prática docente?

( ) Sim ( ) Não

7 – Você considera que a dimensão afetiva é contemplada na prática docente da


escola que você trabalha? Numa escala de 0 a 5 (sendo 0 a nota mínima e 5 a nota
máxima), como você pontua:

0( )1( )2( )3( )4( )5( )

8 – Você considera que sua prática docente contempla a dimensão afetiva?


Numa escala de 0 a 5 (sendo 0 a nota mínima e 5 a nota máxima), como você
pontua:

0( )1( )2( )3( )4( )5( )

9 – Escreva três palavras que represente a prática docente fundamentada na


dimensão afetiva:
1-
64

2-
3-
10 – A Secretaria de Educação do Município oportuniza momentos com o tema
afetividade para docentes na Educação Infantil? Numa escala de 0 a 5 (sendo 0 a
nota mínima e 5 a nota máxima), como você pontua:

0( )1( )2( )3( )4( )5( )

11 – Como os professores da Educação Infantil podem trabalhar a afetividade de


forma mais efetiva?
____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________
65

APÊNDICE 02 – ENTREVISTA

ROTEIRO PARA ENTREVISTA


QUESTOES ORIENTADORAS

• Aspectos importantes da afetividade que permeiam a prática docente na Educação


Infantil.

• Importância e contribuições afetivas na relação professor/aluno na Educação Infantil.

• A relação de afetividade no processo de ensino aprendizagem na Educação Infantil.

• Afetividade como fator de qualidade da prática docente na Educação Infantil.

• Interações afetivas e a prática docente na Educação Infantil.

1 – Relate situações concretas do cotidiano escolar da sala de aula e interações com os


estudantes:

2- Como você aborda os conflitos entre os estudantes?

3- Como auxilia os estudantes nas atividades escolares?

4 - Como planeja as atividades, considerando os aspectos afetivos?

5 – O que você pensa sobre afetividade na aprendizagem da criança?


66

APÊNDICE 03 - OBSERVAÇÕES

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS


ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO

Pesquisador: Elizângela Alves Miranda Atanázio


Orientador: Profº. Dr. Marcelo Silva de Souza Ribeiro
Dissertação: Afetividade e prática docente na Educação Infantil

Participante N°
Data: Horário – Início: Término:

Diagrama da observação
O que observar? Descrição da observação

Comportamentos da prática docente


voltadas a afetividade na Educação Infantil

Formas de expressão da afetividade no


cotidiano da prática docente na Educação
Infantil em vivencias da sala de aula, recreio,
pátio e refeitório.

Observar como são executadas as atividades


planejadas, considerando os aspectos
afetivos e como os estudantes são auxiliados
nessas atividades.

Observar como é a prática docente em


relação a conflitos entre os estudantes e
como a afetividade é levada em
consideração nesses momentos.
67

APÊNDICE 04

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


(Elaborado de acordo com a Resolução 466/2012-CNS/MS)

Convidamos o (a) Sr (a) para participar como voluntário (a) da pesquisa Afetividade e
práticas docentes na Educação Infantil que está sob a responsabilidade da pesquisadora
Elizângela Alves Miranda Atanázio, orientada pelo professor Drº. Marcelo Silva de Souza
Ribeiro, tendo como objetivo compreender a afetividade e práticas pedagógicas dos docentes
de um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) da Rede Municipal de Petrolina-PE.

Para realização deste trabalho utilizaremos questionário (Apêndice 01) e entrevista


(Apêndice 02) semiestruturados, a serem aplicados de forma presencial, obedecendo as normas
de segurança sanitária, uma vez que os cuidados em um contexto de controle da pandemia
(COVID 19) ainda se fazem necessários. Dessa forma, os encontros acontecerão após a
formalização dos processos de liberação e esclarecimentos.

Será mantido em anonimato, sob sigilo absoluto durante e após o término do estudo, os
dados que identifiquem os sujeitos participantes da pesquisa, fazendo uso apenas, para
divulgação, os dados inerentes ao desenvolvimento do estudo. Informamos que após o término
da pesquisa, serão destruídos todo e qualquer tipo de mídia, como fotos, gravações, entrevistas,
questionários etc., que possa vir identificá-lo, não restando nada que possa comprometer o
anonimato de sua participação agora e futuramente.

Os riscos desta pesquisa para os participantes são mínimos, que podem surgir durante a
pesquisa como receios, ansiedade e/ou medo em responder o questionário ou durante a
entrevista, mas poderá informar ao pesquisador, para que sejam tomadas as devidas
providencias e esclarecimentos. Para minimizar alguns aspectos, quanto a entrevista, será
realizada de forma individual, em local reservado, respeitando a autonomia e particularidades
de cada participante, permitindo interrupções quando necessário ou quando solicitado
privacidade e sigilo das informações.

Os benefícios esperados com o resultado da pesquisa, através do processo de discussão


sobre afetividade e prática docente na educação infantil, inclui a reflexão sobre o tema,
possibilitando mudanças nas práxis pedagógicas, visando abertura e sensibilização acerca de
conhecimentos, com relação a influência da afetividade, para uma aprendizagem regada de
afeto e cheia de possíveis conhecimentos cognitivos, emocionais e afetivos.
68

Todas as informações desta pesquisa serão confidenciais e serão divulgadas apenas em


eventos ou publicações cientificas, não havendo identificação dos voluntários, a não ser entre
os responsáveis pelo estudo, sendo assegurado o sigilo sobre a sua participação. Os dados
coletados nesta pesquisa, gravações, fotos, questionários, entrevistas etc., ficarão armazenados
em arquivo, sob responsabilidade do pesquisador, pelo período de cinco anos.

O (a) Senhor (a) terá os seguintes direitos: a garantia de esclarecimento e respostas a


qualquer pergunta, a liberdade de abandonar a pesquisa a qualquer momento sem prejuízo para
si. Caso haja gastos, eles serão absorvidos pelo pesquisador. Não lhe será pago ou cobrado para
participar desta pesquisa, pois a aceitação é voluntária.

Em caso de dúvidas e esclarecimentos. Pode procurar a pesquisadora Elizângela Alves


Miranda Atanázio que reside na rua da Tamara, bairro Rio Corrente, Petrolina PE, por meio dos
seguintes contatos: telefone (87) 988160873 e email: alveseliz@outlook.com, ou seu orientador
Marcelo Silva Souza Ribeiro, telefone (74) 988193538 e email: mribeiro27@gmail.com.

Apenas quando todos os esclarecimentos forem dados e você concorde com a realização
do estudo, pedimos que rubrique e assine as páginas ao final deste documento que está em duas
vias. Uma via lhe será entregue e a outra ficará como pesquisador.

Você estará livre para decidir o consentimento em qualquer fase da pesquisa, também
sem nenhuma penalidade.

Em caso de dúvidas relacionadas aos aspetos éticos deste estudo, você poderá consultar
o Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos na Universidade de Pernambuco,
localizada à Avenida Agamenon Magalhães, S/N, Santo Amaro, Recife-PE, telefone
(81)3183373 5 ou ainda através do email – comitê.etica@upe.br.

Eu, _____________________________________________________________, declaro, que


após ter esclarecido minhas dúvidas com o pesquisador, concordo em participar do estudo
Afetividade e prática docente na educação infantil, como voluntário, bem como autorizo a
divulgação e publicação de toda informação por mim transmitida, exceto dados pessoais, em
publicações e eventos científicos. Desta forma, assino este termo, juntamente com pesquisador,
em duas vias de igual teor, ficando uma via sob o meu poder e outra em poder do pesquisador.

Petrolina, ____/____/_____
69

___________________________________________________
Assinatura do participante da pesquisa

____________________________________________________
Nome do pesquisador que aplica o TCLE
70

APÊNDICE 05

TERMO DE CONFIDENCIALIDADE
(Elaborado de acordo com a Resolução Nº 466/2012-CNS/MS)

Eu, Elizângela Alves Miranda Atanázio, pesquisadora pelo projeto Afetividade e práticas
docentes da Educação Infantil e o pesquisador responsável Prof. Dr. Marcelo Silva de Souza
Ribeiro, estabelecemos prover procedimentos que assegurem a confidencialidade e a
privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização dos participantes da pesquisa,
garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades,
inclusive em termos da autoestima, de prestígio e/ou de aspectos econômicos financeiros e que
o acesso a estes dados ou em outra base de dados será utilizado somente para o projeto ao qual
está vinculado.

Petrolina, _____ de _____________ de 20____

__________________________________________________
Elizângela Alves Miranda Atanázio

__________________________________________________
Marcelo Silva de Souza Ribeiro
71

APÊNDICE 06

CARTA DE ANUÊNCIA

Você também pode gostar