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Faltam páginas 146, 147, 274, 275, e as 326 e 327 estão ilegíveis.
INDEX
estante de psicologia
BOOKS
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA - Stone e Church
LIBERDADE PARA APRENDER - Cari Rogers
LUDOTERAPIA - Virgínia M a e Axline
GROUPS
INTERLIVROS DE MINAS GERAIS LTDA.
Caixa Postal 1843 - Tel. 22-3268
Belo Horizonte - Minas Gerais
A DINÂMICA INTERIOR
DA INFÂNCIA
INDEX LUDOTERAPIA
BOOKS INTRODUÇÃO:
Carl R. Rogers
GROUPS
CAPA:
INDEX
Cláudio Martins
BOOKS
Copyright by Virginia M a e Axline
GROUPS
Direitos de tradução em lingua portuguesa:
EDITORA DO PROFESSOR IND. E COM. LTDA.
INDEX
BOOKS à memória de meu pa<
ROY G. AXLINI
GROUPS
INDEX
BOOKS
GROUPS
INDEX
Muitas pessoas interessadas em Psiçoterapia Centrada
na Criança se queixam de não encontrar livros que abordem o as
sunto de m aneira bem completa, e que sejam escritos em portu
guês.
Este livro de V irginia M ae Axline, que leva o título em
sua edição brasileira de L U D O T E R A P IA, vem preencher tal va
zio. Trata-se de um texto bastante completo, escrito num a lingua
gem simples e direta.
BOOKS
O leitor poderá encontrar, nele, orientação para pro
blemas bem variados, que vão desde as características da sala de
brinquedos, onde se desenvolve a terapia, até o estudo do proces
so que se desenrola na criança que vive a experiência dessa terapia.
Por isso mesmo, o livro de V irgin ia M . Axline já se
tornou um clássico, servindo de ponto de partida para o estudo e
desenvolvimento de muitos terapeutas, inclusive de outras corren
tes de Psicologia.
GROUPS
P ara o leitor que deseja saber a essência da abordagem
contida nesse livro, eu diria que a autora descreve uma terapia
caracterizada por uma profunda aceitação da criança, sejam quais
forem os sentimentos e necessidades por ela apresentados. Aliado
a isso, está presente também um grande respeito — misto de fé
e confiança — para com a capacidade da criança de se desenvol
ver por si mesma, sem uma a ju d a direta. —
É interessante notar que, partindo da sua própi'ia expe
riência clínica, a autora relaciona com muita objetividade os prin
cípios básicos da Psiçoterapia Centrada na Criança. E, ao fazê-lo,
ela se antecipa às formulações mais precisas de Cari R . Rogers
V II
INDEX
Tenho certeza que, a cada uma delas, os ensinamentos
contidos nesse livro trarão novas perspectivas, alargando os hori
zontes e facilitando a tarefa de proporcionar às nossas crianças o
melhor que elas possam obter e alcançar, em termos de am adure
cimento e realizações pessoais.
BOOKS
HELOÍSA DE RESENDE PIRES MIRANDA
Psicóloga do Instituto dé Aconselhamento
e Psicoterapia — INACOP
GROUPS
V III
PREFÁCIO
BOOKS
a autora acha-se em débito para com ele por havê-la encorajado
a explorar m ais profundamente as possibilidades da técnica não-
diretiva e a publicar os resultados do trabalho experimental que
foi realizado sob sua supervisão.
A autora deseja expressar aqui sua gratidão e reco
nhecimento ao D r . Rogers, um a vez que foi devido à sua leitura
paciente do manuscrito e às suas críticas construtivas que este
livro surgiu como uma apresentação das implicações do proces
so não-diretivo na ludoterapia e no campo da educação.
GROUPS
A autora estende ainda seu reconhecimento aos m é
dicos, pais, diretores e funcionários das escolas, cuja cooperação
tornou possível a participação das crianças cujos casos são re
latados aqui.
Finalmente, a autora deseja expressar sua gratidão
às crianças, que aceitaram a experiência terapêutica como um
desafio, e dela se aproveitaram tão plenamente.
IX
6/5/2015 INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
INDEX
BOOKS
GROUPS
INTRODUÇÃO
INDEX
Virginia Mae Axline escreveu um livro penetrante e útil sobre as
possibilidades terapêuticas dos jogos e atividades de grupo. Este livro
destina-se principalmente a professores e orientadores escolares; entre
tanto, psicólogos, psiquiatras, terapeutas que trabalham com grupos ou
casos individuais, terão muito a ganhar com um estudo profundo dos
princípios e técnicas que ela defende.
BOOKS
São vários os níveis em que este livro pode ser analisado. Super
ficialmente, é o relato de como um professor veio a atuar como terapeu
ta com o intuito de libertar as forças terapêuticas que existem em cada
pessoa. Conta como, através de ludoterapia e terapia de grupobem ori
entadas, jovens deformados e desajustados tornam-se capazes de olhar
honestamente para si próprios, de se aceitarem e de elaborarem um ajus
tamento construtivo à difícil realidade na qual vivem. Mostra como bone
cas, fantoches, mamadeiras de brinquedo, revólveres, massa dé modela
crescimento. GROUPS
gem, tintas e água podem tornar-se participantes ativos nesse drama do
INDEX
representam um desafio para todos nós.
BOOKS
ó, não obstante, um livro profundo. Fará o leitor meditar seriamente, le
vantando perguntas perturbadoras e graves. Por que nossa educação é t
tão embrutecedora e cega, se nossas crianças são tão ricas? Por que a
humanidade teme tanto a espontaneidade, se a atitude espontânea con- \
duz tão rapidamente ao crescimento responsável? Como se pode ajudar í
professores e pais a perceberem os dotes de personalidade que existem j
em cada criança? Por que nos falta confiança no futuro, se forças sociais <
intensas e construtivas podem ser liberadas no indivíduo através da aoei- J
tação de alguns poucos princípios básicos? Estes são alguns dos itens que
o leitor atento se verá levado a considerar.
GROUPS
Alguns lerão este livro e dirão: “ Não pode ser verdade. As crianças
não são assim. Crianças más não têm dentro de si as forças positivas
que são apontadas aqui. É muito bom para ser verdade!” A estes céticos
posso apenas responder que os resultados descritos neste livro realmen
te ocorrem quando os princípios aqui expostos são fielmente seguidos
Posso afiançar, não apenas que Virgínia Mae Axline obteve tais resul
tados, mas que muitos outros, mesmo sem tanta tolerância natural e sem
tanta compreensão intuitiva, podem também alcançá-los. Sugiro também
o teste final e conclusivo — que o nosso cético tente ele mesmo colocar
em prática estes princípios e observe atentamente os resultados. Mes-
C ar i R. R o g e r s
Universidade de Chicago
INDEX
BOOKS
GROUPS
X III
INDEX
BOOKS *■
GROUPS
INDEX
“ É BR IG Á , B R IG A BR IG A, - O D IA IN T E IR O ”
BOOKS
do-se de sua prioridade de professora, para apresentar a queixa ao di
retor. ' •
GROUPS
mo queria, ficaria lendo o tempo todo. Não aceitava críticas. Tratava
hostilmente as outras crianças, queixando-se de que elas "amolavam-no” .
seu livro fora da carteira, num gesto de desprezo e raiva, e disse: “Eu
faço o que eu quero! Eles começaram a briga. Eles me atacaram em tur
ma. Detesto todo o bando. Tenho ódio mortal deles e vou me vingar.
Pro diabo com eles todos.” Seus olhos pretos ardiam. Sua voz tremia.
Sim, ele até chorou — ele que era tão duro — e cenas como essa eram
tão perturbadoras para a turma e deixavam a professora tão nervosa
que ela estava toda trêmula e a ponto de chorar! Não agüentaria isso mui
to tempo. Não agüentaria mesmo.
Então, depois que ela terminou sua queixa, Tom foi convocado pa
ra o santuário do diretor.
INDEX
“Ela contou-me que você foi desrespeitoso com ia bandeira ameri
cana , ”
“Ela disse que você foi desrespeitoso na sala de aula, atirou seu li
vro no chão e xingou.”
“Eu não aguento mais ficar neste lugar.” Tona gxita e uma vez mais
BOOKS
seus olhos encheram-se de lágrimas. “Todo mundo me amola e mente a
meu -respeito e . .. ”
'? “ Chega! Estou ficando bastante cansado com esse trabalho todo que
temos" cóm você. Todo dia trazem você ao gabinete. Todo dia apresentam
queixa de você por mau comportamento. É briga, briga, briga — o dia in
teiro. Palavras não parecem lhe fazsr nenhum bem. Pois talvez isso faça!”
O diretor psga na palmatória e bate, c ansada e desesperançadamente,
mas de maneira eficaz, onde pensa que ela fará melhor efeito.
GROUPS
Tom e sua professora voltam para a sala de aula. O diretor conti-
sua tarefa de ser diretor. A tarde, a professora comunica que Tom es
tá ausente. O diretor telefona para a casa dele. Sua mãe não sabe on
de ele está. Pensava que ele tivesse voltado para a escola. Paz três dias
que ele não vai em casa nem à escola.
“ Q U E R D IZE R Q U E V O C Ê E S T Á IN D O P A R A C A S A ? ”
INDEX
"Não me jíingue”, grita raivosamente a primeira criança.
Ema se volta para os meninos que a atormentam.
“Eu cuspo n’ocês, viu? E o faz.
BOOKS
Uma porta do alojamento se abre e sai outra das diretoras. As duas
mulheres- conversam por uns minutos, em seguida a primeira toma a ma
linha de Ema e a chama.
“Ema. Ema, querida. Sua mãe telefonou. Ela não poderá vir para
este fim de semana.”
Ema vira-se para a diretora como se tivesse levado um choque. Seus
olhos verdes parecem se incendiar. Ela olha fixamente para a diretora.
GROUPS
“Venha, Ema. Tire sua roupa nova.”
As outras crianças gritam com alegria.
“Ah! Ah! Espsrta! Quer dizer que você está indo prá casa, né?”
“ Crianças! Crianças!” gritam as duas senhoras.
Ema vira se e com a rapidez de um gatinho corre através dos cam
pos até chegar a um lugar isolado. Atira-se no chão, e ali fica, tensa e si
lenciosa. A diretora a encontra lá, finalmente, e a leva carinhosamente de
volta.
Isso tudo vem acontecendo há muito, muito tempo. A mãe promete
vir e levar Ema. Ela desaponta a criança e nunca cumpre sua promessa.
Depois destes acontecimentos, Ema não consegue comer, não dor
me, não consegue nem mesmo chorar. Adoece e vai para a enfermaria.
Quando se recupera — o que se dá logo — e volta para junto das
outras crianças, está raivosa, mesquinha e insociável. Ela, também, é uma
criança-problema.
“ ESSE M ENINO N Ã O P R E C IS A D E R EM ÉD IO ”
Timmy e Bobby não tinham o chão firme sob seus pés desde que
seus pais se separaram e as crianças foram postas numa casa adotiva.
Quando sua mãe veio levá-lo para casa, para uma pequena visita,
Timmy relutou em ir, mas ela insistiu. Timmy estava tendo problemas
INDEX
de apetite e não conseguia reter o que comia. Não parecia natural para
um menino de oito anos estar sem apetite e ser tão infantil. Chorava com
facilidade, era difícil o relacionamento com ele, brigava com Bobby, seu
irmão mais novo. Parecia tenso e nervoso.
BOOKS
nha mãe e minha mãe não gosta dè meu pai e talvez ele case outra vez e
mamãe disse que nós quase nãõ vamos ver ele,1 porque ela disse que não
ia deixar ele ficar comigo nem com Bobby e ele disse que ia mostrar pra
ela!"
GROUPS
“Bobby e eu estamos morando e m .............. .. . agora”, disse Timmy.
Ele estava gritando com o médico. “Nós moramos com mamãe R. Nós
gostamos de lá!”
“ O senhor pode me dar uma receita ou qualquer outra coisa?”, disse
a mãe de Timmy. “Ele não dorme bem à noite. Vomita quase tudo que
come. A mulher que toma conta dele diz que ele está nervoso e compor
tando-se violentamente. .
“Vou lhe dar uma receita”, responde o me'dico, “mas esse menino
não precisa de remédio.”
Tom, Ema, Timmy e Bobby são descritos todos eles como “ crianças-
problema.” São crianças tensas, infelizes e completamente desajustadas,
que às vezes acham suas vidas dificeis dema.s de suportar. Aqueles que estão
interessados no ajustamento pessoal de tais crianças, olham-nas com preo
INDEX
cupação autêntica. As forças ambientais são desfavoráveis, quase nenhuma
ajuda pode ser esperada dos pais ou outras pessoas responsáveis por elas.
O que é que pode ser feito, se é que há alguma coisa que se pode fazer,
para ajudá-las a se ajudarem?
Há um método de ajudar tais crianças a vencer suas dificuldades —
um método que foi bem sucedido com Tom, Ema, Timmy e Bobby e com
muitas outras crianças como elas. Este método é chamado ludoterapia.
A finalidade deste livro é explicar exatamente o que é a ludoterapia
e apresentar a estrutura da teoria da personalidade sobre a qual ela é ba
BOOKS
seada; descrever detalhadamente o processo da ludoterapia e os
que dele participam; apresentar os princípios fundamentais para
que ela seja conduzida com suoesso; relatar casos de nossos
arquivos que mostram sua eficácia na ajuda às assim chamadas crian
ças problema, auxiliando-as a construir seu ajustamento pessoal, e final
mente, apontar as implicações da ludoterapia na educação.
GROUPS
INDEX
BOOKS
GROUPS
2. LUDOTERAPIA
U M M É T O D O D E A J U D A R A S C R IA N Ç A S A SE A J U D A R E M
INDEX
A ludoterapia é baseada no fato de que o jogo é o meio natural de
auto-expressão da criança. É uma oportunidade dada à criança de se li
bertar de seus sentimentos e problemas através do brinquedo, da mesma
forma que, em certas formas de terapia para adultos, o indivíduo resolve
suas dificuldades falando.
BOOKS
No entanto, antes de prosseguir com a descrição real da ludoterapia,
devemos formular o ponto de vista de cada indivíduo, observando os po
tenciais de cada um; isto é, a teoria da estrutura da personalidade, sobre
a qual ela está baseada.
Há muitas fontes de informação a respeito da estrutura básica da
personalidade do indivíduo, porque este é um dos mais intrigantes, senão
desconcertantes aspectos do ser humano. Muitas teorias da personalidade
foram desenvolvidas, abandonadas, re-examínadas, alteradas e estudadas
GROUPS
de novo. Tentativas foram feitas para “ testar”, “prever” traços e explicar
a estrutura da personalidade. No entanto, todo o assunto ainda está em
aberto, e as teorias que foram desenvolvidas até agora não parecem in
teiramente adequadas para explicar satisfatoriamente tudo o que foi obser
vado a respeito da dinâmica interior do indivíduo.
Por isso, para organizar um quadto de referências dentro do qual
A T E O R IA D A E S T R U T U R A D A P E R S O N A L ID A D E SO B R E A
Q U A L SE B A S E IA A L U D O T E R A P IA N Ã O -D IR E T IV A
Parece haver uma força poderosa dentro de cada indivíduo que luta
continuamente para uma completa auto-realização. Esta força pode ser ca
racterizada como uma corrida para a maturidade, independência e auto dire
ção. Tal corrida vai inexoravelmente alcançar a consumação, mas necessita
de bom “terreno” para que se desenvolva uma estrutura bem equilibrada.
INDEX
Como uma planta precisa de sol, chuva e terreno rico e bom para atingir
seu crescimento máximo, assim também o índivíduo, para atingir a satis
fação direta desse impulso, de; crescimento, necessita de permissividade pa
ra ser ele mesmo; da completa aceitação de si — tanto por ele mesmo
quanto pelos outros — e atingir a dignidade, direito nato de todo ser hu
mano.
Crescimento é um processo de mudança em espiral — relativo e
dinâmico. Experiências mudam a perspectiva e o foco do indivíduo. Tu
do está constantemente mudando, desenvolvendo-se, intercambiando-se, e
BOOKS
assumindo vários graus de importância para o indivíduo à luz da reor
ganização e integração de suas atitudes, pensamentos e sentimentos.
O impacto das forças da vida, a interação dos indivíduos e a pró
pria natureza do ser humano põem em pauta essa integração constante
mente mutável que se processa dentro do indivíduo. Tudo é relativo, e o
padrão é uma espécie de coisa cambiável, reorganizável — como o de
senho que se vê num calidoscópio, um tubo pelo qual se òlha, através
de um buraquinho, para pedacinhos de vidro coloridos de forma variada;
quando se gira o tubo, o desenho se desmancha e reorganiza-se de ma
GROUPS
neira bastante diferente. Quando as diversas partes do desenho se tocam,
formam uma nova configuração. Não importa de que maneira se gire o tu
bo, o desenho mantém seu equilíbrio, estando a diferença no próprio de
senho que, às vezes, é compacto e indica força e, às vezes, espalha-se e é
aparentemente frágil, e não muito encorpado. Há sempre ritmo e harmo
nia no desenho. Cada modelo é diferente do outro e a diferença é cau
sada pela maneira pela qual a luz o atravessa e pela firmeza da mão que
segura o calidoscópio, assim como pelas posições intercambiáveis dos
pedaços de vidro colorido.
r~ Assim, ao que parece, é a personalidade. O organismo vivo tem
I dentro de si os “pedaços de vidro colorido” e a personalidade é estrutu-
/rada pela organização desses “pedaços” .
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INDEX
trado .
BOOKS
Por que Ema espera, espera sempre, apesar das contínuas desilu
sões e desapontamentos? O que alimenta sua fé e a anima após cada ex
periência chocante? Seria o acúmulo dentro dela de “sabedoria” e “ ex
periência”, mais uma crescente consciência de sua capacidade de enfren
tar essa situação? Estará ela ganhando confiança em seu poder de supor
tar desapontamentos e manter-se nos próprios pés? Estará construindo
urna aceitação de sua mãe, que lhe possibilite continuar encontrando-se
com ela cada vez que a chame, através de forte fé na humanidade?
Uma criança geralmente perdoa depressa e esquece as experiên
GROUPS
cias negativas. A menos que as condições sejam extremamente ruins, ela
aceita a vida como a encontra, tanto quanto às pessoas com quem vive.
Manifesta, por todas as maneiras, uma avidez, uma curiosidade, um gran
de amor pela vida que a excita e encanta nos seus mais simples praze-
res. Normalmente, uma criança gosta de crescer e lutar por isso cons
tantemente — algumas vezes, mesmo, ultrapassando-se em sua avidez. É
ao mesmo tempo numilde e orgulhosa, corajosa e temerosa, dominadora
e submissa, curiosa e satisfeita, ávida e indiferente. Ama e odeia, luta e
íaz a paz, fica encantadoramente feliz e desesperadamente triste. Por quêV
Alguns psicólogos podem explicar essas reações como exemplos de res
postas a estímulos dados. A autora prefere explicá-las como reações de
uma criança que está crescendo, crescendo, crescendo em experiência,
crescendo em compreensão, crescendo na aceitação de si mesma e do seu
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INDEX
“ respeito peio indivíduo” e “ a dignidade que é um direito nato do homem” .
De fato, inclinamo-nos a admirar o “tipo de comportamento desa
justado” porque parece mais complexo, mais engenhoso e rnais seletivo
do que aquele que é baseado na satisfação direta das necessidades.
A personalidade parece desafiar a classificação, a estereotipia e os
compartimentos estanques. Um indivíduo que é rígido e temeroso em
uma determinada situação, ou com uma determinada pessoa, freqüente-
mente reage de maneira muito diferente sob outras circunstâncias e em
outros relacionamentos. O comportamento do indivíduo parece ser sem
BOOKS
pre causado por um objetivo: pela completa auto-realização Quan
do esse objetivo é bloqueado por pressões exteriores, a sua bus-.,
ca não pára, mas continua com seu “momentum” intensificado
por causa da força geradora de tensões, que é criada pelas frustrações.
Quando um indivíduo encontra uma barreira que toma mais difícil
■■t-para ele conseguir a completa realização de si mesmo, é formada uma área
de resistência, atrito e tensão. O anseio pela auto realização continua e o
compoxtamento do indivíduo demonstra que ele está satisfazendo sua as
piração interior através de luta exterior para estabelecer seu conceito
próprio no mundo da realidade, ou que ele o está satisfazendo de forma
GROUPS
artificiosa, confinandoo em seu mundo interior, onde pode construí-lo
com menor esforço. Quanto mais se volta para o interior, mais perigoso ^
se torna; e quanto mais ele se separa do mundo da realidade, mais difícil
é ajudá-lo.
V
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INDEX
to — parecem ser uma prova das tentativas interiores do indivíduo de
aproximar-se de uma realização completa do conceito de si próprio. Mas
essa realização é alcançada de maneira “distorcida” . O comportamento
do indivíduo não está de acordo com o conceito interior de si mesmo que
ele criou em sua tentativa de alcançar a completa auto-realização. Quan
to mais separados estão o comportamento e o conceito, maior é o grau ^
de desajustamento. Quando o comportamento e o conceito se equivalem,
e este, que se constrói dentro do indivíduo, encontra expressão exterior
adequada, então se diz que o indivíduo é ajustado. Não há mais um fo
co distorcido. Não há mais conflito interior.
BOOKS
Por exemplo, Ema quer ser um indivíduo respeitado e reconhe
cido como alguém de importância. Quer sentir que é uma pessoa ama
da, útil e capaz. Seu meio ambiente coloca a numa situação em que lhe
são negadas as condições necessárias para demonstrar exteriormente seus
anseios interiores para afirmar-se a si mesma ou à sua personalidade
consciente. Por isso, tenta adquirir isto de maneira tortuosa. Ela men
te, luta e se recolhe ao mundo de seus sonhos, onde pode realizar seu
auto-conceito.
O
GROUPS
mesmo acontece com Tom, Timmy e Bobtay. Parece que estas”)
crianças — como qualquer outra — precisam tér o sentimento de auto-;
estima. Esse sentimento é algumas vezes criado na criança por amor e se-j
gurança e uma consciência de que pertence a alguém; mas, esses fatores
parecem ser provas, para a criança, de que está sendo aceita como j
um indivíduo de valor, em vez de apenas satisfazer a sua necessidade de
amor e de segurança. As crianças, cujos casos são descritos nesse livro, I
não possuem, em sua maioria relacionamentos que lhes forneçam amor, se- 1
gurança e o sentimento de pertencerem a alguém. No entanto, através do \
processo terapêutico, adquiriram o necessário sentimento de valor pessoal, \
o sentimento de serem capazes de dirigir a si mesmas, uma consciência \
crescente de que tinham dentro de si a capacidade de se manterem sobre -J
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T E R A P IA N Ã O -D IR E T IV A
INDEX
1 problemas satisfatoriamente, mas também esse impulso de crescimento
que faz o comportamento maduro mais satisfatório do que o comporta
mento imaturo.
Esse tipo de terapia começa no ponto em que o indivíduo está e
aí baseia seu processo, permitindo mudanças de minuto a minuto du-
( rante o contato terapêutico; a velocidade da reorganização dep_enda~.das
experiências, atitudes, pensamentos e sentimentos que provocam o “ in-
sight”, o qual é um pré-requisito para uma terapia bem sucetUd^.
BOOKS
í A terapia não-diretiva permite ao indivíduo ser ele mesmo, acei-
tar-se completamente, sem avaliação ou pressão para mudança: reconhe
ce e esclarece as atitudes emocionais expressas pela reflexão do que o
cliente expressou; é por esse processo de terapia que se ofereoe ao IH-
divíduo a oportunidade de ser ele mesmo, de aprender __a_se conhecer, de
traçar seu próprio curso abertamente e às claras — de rodar o calidos-
cópio, por assim dizer, de maneira que ele forme um desenho mais sa
tisfatório para sua vida.
f Quando alguém considera o problema de Tom, Ema, Timmy e
! GROUPS
Bobby e as provas evidentes de que essas crianças estão desenvolvendo
personalidades “ deformadas”, esse alguém é desafiado a fazer algo "para
ajudar a cada uma delas a se entender, a se libertar de suas tensões e
frustrações e a se conscientizar das poderosas forças que tem dentro de
si e que estão lutando continuamente para seu crescimento, maturidade
e realização.
L U D O T E R A P IA
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14 INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
INDEX
gestões, estimula-a ou intromete-se em seu mundo particular, subitamen
te ela sente que pode abrir suas asas, pode olhar diretamente para den
tro de si mesma, pois é aceita completamente. Pode pôr à prova suas
idéias; pode expressar-se completamente, pois esse é seu mundo e não
tem que competir mais com outras forças, tais como a autoridade adul
ta, rivais contemporâneos ou situações onde ela é um penhor humano
no jogo entre pais contendores, ou onde é o alvo das frustrações e agres
sões de outras pessoas. Ela é um indivíduo dentro do seu próprio direi
to. É tratada com dignidade e respeito. Pode dizer qualquer coisa que
BOOKS
sinta da maneira que quiser — e é aceita completamente. Pode brincar
com os brinquedos do modo que gostar — e é aceita completamente. Po
de odiar e amar e ser tão indiferente quanto uma estátua — e ainda é
aceita completamente. Pode ser rápida como um furacão ou lenta como
uma tartaruga — e não é nem contida nem apressada.
fi uma experiência única para a criança descobrir de repente que
as sugestões, ordens, recriminações, restrições, críticas, desaprovações, aju
das e intrusões dos adultos desapareceram . Tudo isso é substituído pe-
la aceitação completa e pela situação permissiva que lhe possibilita ser
GROUPS
ela mesma.
Não é de se estranhar que a criança, durante seu primeiro contato
terapêutico, freqüentemente demonstre espanto. O que vem a ser isso?
Fica desconfiada e curiosa. Durante toda a sua vida, sempre houve al
guém para ajudá-la a viver. É possível que houvesse até quem tivesse
determinado viver a sua vida por ela. De repente, essa interferência de
saparece, e ela não vive mais à sombra de alguém que a obscureça. Vê-
se, de repente, à luz do sol e as únicas sombras são as que ela própria
quer lançar.
fi um desafio. E algo profundamente enraizado na criança respon
de a esse desafio claramente sentido para "ser” — para exercitar esse po
der de vida dentro de si mesma, dirigi-lo, torná-lo mais útil, decisivo e in
dividual.
INDEX
cionalmente expressas, de tal maneira que a ajude a compreender-se me
lhor. Ela respeita a criança, sua capacidade de manter-se sobre seus pró
prios pés e de tomar-se um indivíduo mais maduro, independente, se lhe
é dada uma oportunidade para isso.
BOOKS
sim a terapeuta dá-lhe a coragem para aprofundar-se no seu mundo in
terior e de lá trazer o seu eu verdadeiro.
k Para a criança, a terapia é realmente um desafio a este impulso
interior que está constantemente lutando pela realização. Um desafio que
nunca foi ignorado na experiência da autora com crianças. A velocidade
com que elas utilizam essa oportunidade varia de pessoa para pessoa,
mas o fato de que essa variação nos graus de crescimento vem a ocorrer
durante a experiência de ludoterapia, já foi demonstrado muitas vezes.
Para a terapeuta, é uma oportunidade de testar a hipótese de que,
GROUPS
se lhe é dada uma chance, a criança pode e realmente torna-se madura,
mais positiva em suas atitudes, e mais construtiva na maneira pela qual
expressa esse impulso interior.
A autora acredita que é essa mesma força interior para a auto rea
lização, maturidade e independência que cria também as condições para
o que chamamos desajustamento, que parece ser ou uma determinação
agressiva da parte da criança para ser ela mesma, seja de que modo for,
ou uma grande resistência ao bloqueio de sua completa auto-expressão. Por
exemplo, quando Tom é repreendido por seus pais, professores, amigos,
porque sua atitude e comportamento tornaram-no inaceitável para eles,
então ele teima em conservar-se assim, embora eles o ataquem. Lutará
contra eles. Picará emburrado. Há de desafiá-los. Fingirá que cuspiu na
INDEX
suas próprias escolhas, de assumir responsabilidades pelo que faz, muito
mais do que lhe é usualmente permitido.
BOOKS
guntou à terapeuta: “Você tem de fazer isso? Ou você gosta de fazer is
so?” E acrescentou: “ Eu não saberia como fazê-lo” . Ronny perguntou:
“Que quer dizer com isso? É só brincar, e pronto. Só brincar.” E Owen
concordou com Ronny: "Claro que sim.” Mas Herby continuou a dis
cutir: “Quero dizer que não saberia fazer como ela faz. Nem sei bem o
que ela faz. Ela parece não fazer nada. Só que, de repente, estou livre.
Dentro de mim, estou livre.” (Abre largamente os braços) “Sou Herby,
Frankenstein e Tojo, e um diabo.” (Ri e b a te no peito) “ Sou um gran
de gigante e um herói. Sou maravilhoso e terrível. Sou bobo e esperta
lhão. Sou duas, quatro, seis, oito, dez pessoas ao mesmo tempo, e luto
e mato.”
GROUPS
Terapeuta: “Você é várias pessoas numa só”
Ronny: “E você fede também.”
Herby (lançando um olhar a Ronny): “ Se eu fedo, você fede tam
bém.”
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6/5/2015 INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
INDEX
gunda ou na terceira pessoa. Quando queria fazer alguma coisa, como
tirar seu casaco, por exemplo, ele diria: “Você vai tirar seu casaco”, ao
invés de “Vou tirar meu casaco.” Ou "Você vai pintar”, em vez de “Vou
pintar.” Gradativamente, durante as sessões de terapia, Billy tomou-se “eu”
e, no fim de uma sessão, disse: “Eu achei a areia interessante hoje.” Du
rante o sexto contato, finalmente, entrou na caixa de areia, sentou-se e
correu os dedos pela areia branca e limpa, e disse com uma nota de en
cantamento na voz: “Hoje, eu entrei na caixa de areia. Aos poucos eu
entrei na areia.”
BOOKS
Era bem verdade. Semana após semana, fora chegando cada vez
mais perto da areia, até que, como dissera: “Hoje, eu entrei na caixa de
areia.”
GROUPS
re a coragem de seguir em frente e de se tomar um indivíduo mais ma
duro e independente.
Desde que o elemento de completa aceitação da criança parece ser
de tão vital importância, vale a pena um estudo mais profundo. Aceita
ção de quê? A resposta parece ser — aceitação da criança e a firme cren
ça de que esta seja capaz de auto-determinação — respeito por sua ca
pacidade de tomar se um ser humano pensante, independente e constru
tivo.
INDEX
dependência deste modo. A criança mimada, que se recusa a aprender a j
ler na escola, parece, à primeira vista, estar lutando por independência e j
maturidade. Este poderia ser o caminho mais eficaz que descobriu para \
manter-se no controle da situação, e é por isso tuna satisfação para ela, i ■
já que isso expressa seu poder de dirigir-se e de individualizar-se. Esta V
é uma hipótese que traz controvérsia e é apresentada apenas como vima f
interpretação de observações primárias feitas em relatórios de ludotera- j
pia: o crescimento interior do indivíduo ocorre algumas vezes, num es- \
paço de tempo inacreditavelmente pequeno, mas está sempre presente, |
seja em grau maior ou menor. —
BOOKS
_J Muitos casos comprovam que a única necessidade do indivíduo é
viver sem amarras, ser libertado e poder expandir-se completamente, sem
se desgastar numa luta frustrante, para que seu impulso interior possa ser
^satisfeito. Isso não significa que ele tenha se preocupado tanto consigo
mesmo, que o resto do mundo cesse de existir para ele. Significa que ele
aspira à liberdade de realizar naturalmente esse impulso interior, sem que
seja necessário fazer disso o objetivo central de sua vida; e, ainda, cana
lizar todas as suas energias para uma luta contra barreiras que impedem
sua maturidade e que tornam sua atenção voltada para o interior de si
mesmo.
GROUPS
Quando esse impulso interior é satisfeito natural e constantemen
te — desde que crescimento é um processo contínuo, tanto quanto a vi
da — isso é excelente. O indivíduo adquire maturidade física e precisa
adquirir maturidade psicológica, para equilibrar a balança.
A criança que sabe correr, anda mais depressa do que a que só sa
be engatinhar. A que aprendeu a falar pode comunicar-se de maneira
19
Çmuito mais eficaz do que a que apenas sabe balbuciar. Com a maturi-
\dade, vem o crescimento do indivíduo para abarcar o mundo, na medida
~*jem que lhe é possível incorporá-lo ao seu esquema de vida. E é assim
< durante a vida inteira. A criança psicologicamente livre pode obter mul
to mais, de uma maneira construtiva e criadora, do que outra que gasta
todas as suas energias numa batalha tensa e frustrante para se libertar e
atingir o seu status como indivíduo.
Ela será um indivíduo. Se não o conseguir por um meio legítimo,
procurá-lo-á através de ações substitutas. É assim que a criança tem
acessos de mau-humor, faz pirraças, fica emburrada, sonha acordada, bri
ga e tenta chocar os outros com seu comportamento. Os professores di
zem muitas vezes, quando tentam “manobrar” uma dessas exibições: “Dê
em-lhe alguma responsabilidade dentro da sala!” — e têm usado outros
INDEX
artifícios semelhantes, tentando vir de encontro à necessidade da criança
de ser reconhecida como uma pessoa de valor. Similarmente, durante a
ludoterapia, dá-se à criança a possibilidade de realizar esse poder que tem,
dentro de si, de tornar-se ela mesma.
BOOKS
i^o terapeuta não deve dirigir o brinquedo de maneira algumaj Ele coloca,
nas mãos da criança o que lhe pertence — nesse caso, os brinquedos, e o
seu uso não-dirigido. Quando ela brinca livremente e sem ser dirigida, es
tá expressando a sua personalidade. Está experimentando um período de
pensamento e ação independentes. Está liberando os sentimentos e atitudes
que desde há algum tempo vêm lutando para sair em campo aberto.
GROUPS
emergiram dela com sinais visíveis de atitudes mais maduras, e mesmo
•s assim, nunca chegaram a tomar consciência de que isso era mais do que
l um período de brinquedo livre.
20
INDEX
pia o seu passado, elimina a possibilidade de que ele tenha crescido nesse
meio tempo, e, conseqüentemente, o passado não tem mais o mesmo sen
tido que tivera anteriormente. Perguntas de sondagem são também elimi
nadas pela mesma razão. O indivíduo selecionará as coisas que, para ele,
são mais importantes, quando estiver pronto para fazê-lo. Quando o tersH
peuta não-diretivo diz que a terapia está centrada no cliente, realmente ]
quer dizer isso, porque, para ele, o cliente é a fonte de poder vivo que di-1
rige o crescimento de dentro para fora.
BOOKS
to é feito entre o terapeuta e a criança, o que permite à última revelar
seu verdadeiro eu e, — conseguindo a sua aceitação — e através dessa acei
tação, tendo crescido sua auto-confiança — ela é mais capaz de estender
as fronteiras da sua personalidade.
A criança mora num mundo todo seu e poucos são os adultos que a
compreendem realmente. A vida moderna é tão agitada e opressora, que
fica difícil, para a criança, estabelecer com os adultos o relacionamento
íntimo e delicado que é necessário à compreensão do que se passa em seu
interior. Muitas pessoas tentam explorar a sua personalidade e, assim,
GROUPS
ela defende a sua identidade. Mantém-se de lado, divertindo-se com coi
sas que para ela são muito mais interessantes e importantes.
Inclinada atentamente sobre uma coisa qualquer, a criança satis- j
faz sua insaciável curiosidade e seus interesses sensoriais. O adulto 1
acha graça ou a critica, quando ela anuncia, tendo na voz a emoção de \ ^
uma verdadeira descoberta: “ Olha, essa areia é áspera, grossa e não tem
gosto de nada. Gosto de nada é assim?” Ou: “Essa tinta de dedo está suan
do — suando como lama vermelha ou lama verde — êta laminha suada!”
Ou a observação: “ Gente indo do trabalho pra casa, do trabalho pra casa,
do trabalho pra casa. Indo pro leste quando vão do trabalho pra casa —
Indo jantar. Amanhã vão voltar de novo. Vão voltar de novo. Vão voltar
de novo pro oeste. Virão pro oeste de manhãzinha e voltarão pro traba
lho.” Ou, no caso do menininho de cinco anos que está olhando pela ja-
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INDEX
é do tamanho da igreja.”
Há ritmo, poesia e agudeza nessa observação. Os adultos estão às
vezes tão apressados, que não têm tempo para apreciar as crianças. O
menininho de cinco anos que fez essa observação, três meses antes fora
classificado como “estranho, lento, incapaz de comunicação com os ou
tros.”
Nossa cultura impõe a dependência na criança — mas ela continua
a crescer independente em seu mundo interior. Na hora da terapia — uma
BOOKS
vez que a criança tenha adquirido confiança no terapeuta e o tenha acei
tado tanto quanto ele a aceitou — passa a compartilhar com ele seu mun
do interior e, através dessa participação, alargam os horizontes de seus
mundos.
T E R A P IA N Ã O -D IR E T IV A EM G R U PO
GROUPS
pêutica não-diretiva acrescida dos elementos da avaliação simultânea do
comportamento e das reações das personalidades umas sobre as outras.
A experiência em grupo insere na terapia um elemento bastante realista,
porque a criança convive com outras crianças, tendo, portanto, que con
siderar as reações delas e desenvolver um respeito aos sentimentos de
cada uma. Entretanto, o grupo que participa da terapia não-diretiva não
é como um “ clube”, um "grupo recreativo” ou “grupo educacional”; nem
é considerado como substituto para uma "situação familiar.”
É óbvio que em casos onde os problemas das crianças são centra
lizados em torno do ajustamento social, a terapia em grupo -pode ser me
lhor sucedida que o tratamento individual. Por outro lado, em casos on
de os problemas giram em tomo de uma dificuldade emocional, profun-
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S E M E L H A N Ç A S COM O A C O N S E L H A M E N T O N Ã O -D IR E T IV O
INDEX
Os princípios da ludoterapia não-diretiva, que são discutidos neste
livro, são baseados na técnica de aconselhamento não-diretivo, a qual foi
desenvolvida pelo Dr. Cari R. Rogers, e é explicada detalhadamente no -àF
seu livro Counseling and Psychotherapy (1)
O aconselhamento não-diretivo é, em verdade, mais que uma técnica.
É uma filosofia das potencialidades humanas que realça a capacidade in
terior de cada indivíduo se dirigir. É uma experiência que envolve
duas pessoas e que dá unidade de propósito àquela que está procurando
BOOKS
ajuda — tomar consciência da maneira mais completa possível do concei
to que tem de si mesma, emergir num todo integrado sem conceitos con
flitantes entre o “eu” e o “mim”, ou seja, entre o auto-conceito interior e o
comportamento exterior.
Considerando-se a ênfase fundamentalmente localizada na partici
pação ativa do indivíduo nesta experiência evolutiva, o termo “não-dire
tivo” parece não ser adequado. Enquanto esse termo descreve acurada
mente o papel do conselheiro o qual é mantido por suficiente auto-disci-
plina para freiar qualquer impulso que possa tirar a responsabilidade do
GROUPS
cliente, é certamente inadequado quando se refere ao papel do cliente.
Ao invés deste, o termo “terapia auto-diretiva" parece dar uma descrição
mais honesta e acurada.
O relacionamento estabelecido entre o conselheiro e o cliente, neste
tipo de terapia, é um resultado das atitudes básicas do terapeuta, as quais
lhe tornam possível aceitar, sem reservas, os direitos inalienáveis do in
divíduo se auto-dirigir. O conselheiro não põe ou tira estas atitudes como
um paletó; elas são parte integrante de sua personalidade.
Baseada nestas atitudes do terapeuta, a estrutura da terapia auto-c
retiva abrange: completa aceitação do cliente como ele é e permissividac
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para que este use a hora de aconselhamento da maneira que achar apro
priada. Ele é quem indica o caminho que a entrevista deve seguir. Sele
ciona o que lhe é importante. Assume a responsabilidade de tomar de
cisões. Faz as interpretações. E supera seu problema na atmosfera de
mútuo respeito que caracteriza este relacionamento. Traça o seu curso
de ação — um curso positivo que corresponde ao seu impulso interno em
^direção à maturidade.
Embora tenhamos enfatizado bastante a parte do cliente, o conse
lheiro não é um agente passivo nesta experiência. De certa forma ele é o
desencadeador da reação, que habilita o cliente a discernir suas atitudes
emocionais e, pela avaliação intelectual delas, o faz aceitá-las ou não na
reorlentação de seus pontos de vista.
INDEX
preensão de seu cliente, a qual o sensibiliza para as atitudes emocionais que
vão sendo expressas por ele. Através de clarificações acuradas e seletivas
dessas atitudes expressas, o terapeuta as isola áa torrente de emoções, de
forma que o cliente possa identificá-las e conhecê-las pelo que são: e,
conseqüentemente, constrói um consistente código de valores, que lhe
dá força e estabilidade para manter um honesto relacionamento com os
jDutroa.
BOOKS
que “ele", não o terapeuta, é o fator determinante de seu comportamento.
No cálido e amigável relacionamento que o conselheiro estabelece,
o cliente é capacitado a se enfrentar honestamente, a sentir-se seguro
neste relacionamento genuinamente cooperativo e a experimentar uma
absoluta conjunção neste esforço de obter um completo auto-conheci-
mento e auto aceitação. Como resultado de um bem sucedido aconselha
mento não-diretivo, o cliente parece adquirir uma sólida filosofia de vi
da, a qual é resumida nos seguintes termos: ele ganha respeito por si
mesmo como um indivíduo de valor, aprende a aceitar-se, concede a si
GROUPS
mesmo a permissividade para utilizar todas as suas capacidades, assume
responsabilidades por si mesmo. Além disso aplica esta filosofia no seu re
lacionamento com os outros — já que ele tem o verdadeiro respeito e
aceitação deles como são, e acredita em suas capacidades, ele acaba por
lhes conceder permissividade para utilizarem-se delas, deixando-os assumir
suas próprias responsabilidades e tomar suas próprias decisões.
Quando as técnicas não-diretivas ou auto-diretivas são aplicadas ao
tratamento de crianças, seus resultados são grandemente significativos.
Se uma criancinha rejeitada, insegura, sem amor, sem sucesso, sem qual
quer sentimento de posse, encontra este desafio para realizar plenamente
os seus mais íntímos potenciais, pode opor-se às ignominiosas humilha
INDEX
Se isto parece ser um meio de oferecer hospitalidade emociona-j
para as crianças atribuladas e confusas, então parece muito justo que seja
tentado.
Agora que já tivemos uma introdução geral à ludoterapia, antes que
nos dediquemos a um estudo mais detalhado da situação terapêutica e
dos princípios que governam sua conduta, voltemos a um caso atual pa
ra ver como a ludoterapia não-diretiva funciona. Vamos ao caso de Tom.
aquela criança-problema que encontramos no capítulo 1.
BOOKS
COMO F U N C IO N A A L U D O T E R A P IA ?
O CASO DE TOM
GROUPS
Passara a maior parte de sua vida com a avó materna, mas, dois
anos antes de ter sido levado à ludoterapia, sua mãe o havia trazido para
morar com ela, o padrasto e a meia-irmã. Tom não se deu bem com eles.
Nem com as outras crianças na escola, porque nunca lhe haviam permi
tido brincar com outras crianças atá aquela idade, tendo, portanto, pro
blemas de ajustamento à vida em comum.
Nesse caso o leitor notará como o menino rápida e nitidamente ex
primiu seus problemas, principalmente através do uso de fantoches co
mo meio de expressão. É interessante notar como as atuações dos fanto
ches representaram seus relacionamentos. O pai e o diretor da escola re
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PRIMEIRO CONTATO
INDEX
dade. Eu não conseguia entender o que minha mãe estava falando. Ela
me disse que você ia me ajudar com meus problemas, mas eu não tenho
nenhum problema.
Terapeuta: Você acha que não tem nenhum problema, mas sua curio
sidade faz você querer examinar isto.
Tom: Oh! Sim! Eu sou curioso, sempre meto meu nariz em tudo.
Achei que deveria vir e ver.
Terapeuta: Você gostaria de ver como é o aconselhamento.
BOOKS
Tom: Aconselhamento. Esta é a palavra que eu não conseguia lem
brar. Ah! Eu não tenho problema nenhum. (Pausa.) Exceto que... B em ...
Hummm... Meu pai... Padrasto realmente... Eu não posso ficar mo
rando com ele e nem ele comigo, e, quando ele está em casa e eu também,
há problemas, problemas, problemas. Eu faço muito barulho. Eu estou
atrapalhando. Só sei que nós não podemos ficar juntos. A única hora
em que eu consigo aguentar minha casa é quando ele não está.
Terapeuta: Você e seu pai não conseguem ficar juntos.
GROUPS
Tom: meu padrasto
Terapeuta: Seu padrasío.
Tom: Mas eu não tenho nenhum problema.
Terapeuta: Você acha que o fato de você e seu padrasto não pode
rem ficar juntos não seja um problema.
Tom: Não, isso mesmo. Todos os meninos me perseguem. Eles não
gostam de mim. (Pausa.) Acho que nada tenho a dizer. Mamãe disse que
eu ia falar sobre meus problemas, mas eu não tenho nenhum.
Terapeuta: Vamos esquecer o que sua mãe disse. Vamos falar sobre
qualquer coisa que você queira, ou não conversar sobre coisa alguma, se
você prefere.
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INDEX
como esta.
Tom: Nem porque eu brigo às vezes. Eu só... mas eu nãò tenho
nenhum problema.
Terapeuta: Você não gosta de admitir que tem problema.
Tom (rindo): Depende do tamanho dele. Eu tenho coisas maiores
que problemas. Meu pai adotivo. Nossa professora substituta, caramba,
ela é danada. E ninguém gosta de mim. Não sei por quê. Eu acho que não
existe nenhuma pessoa que não tenha problemas.
BOOKS
Terapeuta: Você acredita que todo mundo tem problemas e que na
verdade você não é diferente ãe ninguém.
Tom: Somente eu é que tenho que admitir que tenho problemas.
Mas os outros não.
Terapeuta: Você está pronto para começar a admitir que tem pro
blemas.
Tom: Minha vida não é nenhum piquenique.
Terapeuta: Você não é muito feliz.
GROUPS
Tom: Alguém vai ficar sabendo o que eu digo? Mamãe ou alguém
mais? Você está escrevendo o que eu estou desabafando?
Terapeuta: Estou tomando algumas notas. Mas a qualquer pessoa,
jamais será dito qualquer coisa que você disser aqui.
Tom (num suspiro profundo): Você sabe que isto é uma situação
bastante estranha. Você está escrevendo tudo?
Terapeuta: Só um pouco. Somente para minha própria orientação.
T-an: Está bem. (Longa pausa.)
Tom: As professoras não importam com o que acontece. Ninguém
toma conhecimento do que está se passando com o “ cara” e, agora, aqui,
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INDEX
Terapeuta: Se você não tem nada a dizer, então não tem que dizer
nada. (Pausa.) Se você quiser voltar na próxima quinta-feira, eu estarei
aqui. Se não quiser também, eu gostaria que me dissesse isso ha próxima
quinta-feira às três horas.
Tom: Sim. Tá certo.
Terapeuta: Se você quiser ir embora agora, você pode ir. Se quiser
ficar mais, também pode. Você pode usar este tempo do modo que você
quiser.
BOOKS
Tom: Sim. (Tirando o paletó e o chapéu.) Eu não estou com pressa.
Terapeuta: Você acha que pode ficar um pouco mais.
Tom: Sim. Eu quero dar uma olhada nisso por aqui. Você não im
porta, né?
Terapeuta: Olhe o que quiser.
Tom (olhando tado o que há na sala): Eu aposto que as criancinhas
gostam é de pintar.
GROUPS
Terapeuta: Você acha isto?
Tom: Eu também gosto. Mas só na minha sala de aula... Digo...
Sóque na minha sala de aula... Olha, se eu já tive algum problema, é
esta professora substituta. Eu te garanto que se ela te desse uma caixa
de bombons, você morreria de indigestão.
Terapeuta: Você não gosta da substituta.
Tom: Ainda bem que você entendeu. (Examina a argila.) Isto se
ria divertido também. (Peja um fantoche.) Eu poderia fazer um punhado
de poças engraçadas só com as embrulhadas em que me meto. Minha au
tobiografia dá pra chorar.
28
INDEX
Tom (brincando com várfos fantoches): Tenho certeza que consigo
fazer um desses.
Terapeuta: Você acha que é capaz de fabricar fantoches. (Ele con
tinua a brincar com eles.) Seu tempo por hoje acabou-se, Tom.
Tom: Bem, até logo. Volto amanhã.
Desde o início Tom usou os fantoches durante a maior parte de seu
tempo na sala de brinquedos. Ele dramatizou seus problemas familiares
e externou seus sentimentos agressivos dirigidos ao pai, irmã e escola.
BOOKS
TRECHO DO SEGUNDO CONTATO
GROUPS
Tom dirige esta fala inicial à terapeuta. Durante a “peça” ele ma
nipula todos os fantoches e muda completamente ssu lom de voz, cada
vez que um psrsonagem diferente fala.
Pai (num horrível tom de voz): “Ronny, saia da cama” .
Ronny (sonolento): “ Não quero.”
Pai: “ Você me ouviu? Você sai da cama ou e u ...”
R-oany: “Ou eu ... o quê?”
Pai: "Ou eu subo aí e te faço sair.”
2J.)
INDEX
Eu vou... Bem, eu vou... ” (O pai espanca Ronny.)
Ronny: “Ai, ai. Você é desgraçado, homem miserável.”
Pai: “Agora você faz o que eu disse.”
Ronny: “Eu vou fugir de casa. Eu vou.” (O fantoche é lançado ao
chão.)
Pai: “Por que seu cachorrinho? Eu vou atrás de você.” (O pai de
saparece;) O palhaço encontra Ronny )
BOOKS
Palhaço: “Alô. Aonde você está indo? Eu sou Dopey, o Palhaço” .
Ronny: “Eu sou Ronny, o Menino Mau. E tou fugindo de casa.”
Palhaço: "Oh! Venha comigo. Vamos achar alguma coisa engreçada
para fazer.” (Uma bonequinha-fantoche vem no lugar do palhaço A me-
nininha está gritando.)
Menina: “Eu quero minha mamãe. Eu perdi minha mamãe.”
Ronny: "Vai embora. Eu não gosto de pirralhos.”
GROUPS
Menina: "Eu perdi minha mamãe.”
Ronny: “Isto é mesmo mal! Isto é uma calamidade.”
nha grita mais alto que antes.) “Aonde você mora?”
(A menuii-
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INDEX
Ronny: “ Ronny.”
Pai: “ Ronny de quê?"
Ronny: "Roony Gooseberry.”
Pai: “ Você é um espertalhão.”
Ronny: “Eu sou um espertalhão? Eu odeio a mim mesmo por ser
um espertalhão.”
BOOKS
Pai: “ Escute!”
Ronny “Escuta você”
Pai: “Porque eu vou te matar.”
Ronny: “ Vamos ver se vai mesmo.” (O pai e Ronny se engalfinham.
Ronny bate no pai e este pede clemência.)
GROUPS
Ronny: “ Está precisando de mim, Pai?”
Pai: “Você vai pegar aquele menino. Ele me bateu.” (O pai sai de
'cena. Outro menino-fantoche aparece no lugar do pai.)
Ronny (para o garoto): “Eu vou te passar uma esfrega. Você bateu
no meu pai.” (Dá-Ee uma luta terrível. Ronny vence.) “ Isto é de cansar
qualquer um.”
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INDEX
Tom: Agora são cachorros-quentes. A gente nãoconsegue às vezes
controlar o espetáculo. (Tom desaparece de novo )
Ronny: “Eu vou para casa. Seria melhor não ir. Meu pai, ele vai
me matar. Eu vou entrar às escondidas no meu quarto.”
BOOKS
ro de verdade.” (Ronny bate no palhaço.) “Oh, você me deu um soco no
nariz. Meu lindo nariz.” (grita)
Ronny: "Isto é muito engraçado.” (Ronny desaparece.)
(Nos bastidores, sons de correntes e afogamentos.)
Ronny: “Tocou a sirene da escola. Eu só quero saber se eu vou.”
Pai: “ Ronny!”
(Tom reaparece.)
GROUPS
Tom: Este fantoche agora vai ser o diretor da escola.
Ronny: “Sim, Senhor!”
Dire'or: “Hein? Com o que você adoeieu? Você tirou aquelas ma
çãs do meu pomar?”
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Diretor: “Não. ”
Ronny: “Então não permito que me acuse.”
Diretor: “Eu vou dar uma surra em você.”
Ronny: “Vai?”
Diretor: “Por que você não vai para casa?”
INDEX
Tom: Pora! (Os fantoches desaparecem.)
(Fora de cena, Tom grita e geme.)
Voz fora de cena: “ Oh! Eu caí no lago. Oh! Socorro! Socorro! So
corro!"
BOOKS
Tom (reaparecendo novamente ): Ah! ele caiu direto lá em baixo.
GROUPS
Ronny: “Você de novo?” (Derrubara com um soco e bate-lhe.)
Menina (gritando): “Espera pra eu contar pro meu pai procê vê
uma coisa!”
t
!
INDEX
meus pais. Eu chateio eles só pelo prazer de fazer isto.
Terapeuta: Você chateia-os...
Tom (iníerrompentío): Sabe o quê? Eu acho que fui passado pra
trás. Morei com minha avó durante muito tempo. Não sou acostumado
com meu padrasto. Nem ele é acostumado comigo. Nós nunca concor
damos. Quando digo que é seis, ele diz que é meia-dúzia. As vezes penso
que se tivesse ficado com meu padrasto desde o começo... não sei.
Terapeuta: Você acha que as coisas entre você e seu padrasto fi
caram mal porque você não morou com eles desde o começo.
BOOKS
Tom: Vovó me estragou. Ela sempre me deixava fazer o que eu
queria. Eu cresci muito egoísta.
Terapeuta: Você pensa que isto te fez ficar egoísta: fazer sempre
o que queria.
Tom: Certo. (Ele consertou o carrinho.) Aqui, toma. Tá conserta
do. Vamos ver daqui pra frente. Tá firme agora. (Carrega-o até a mesa
de trabalhos e ajusta-o com o martelo.) Sabe, eu tenho pensado. Você
acha que o teatrinho foi muito pesado para os menininhos outro dia?
GROUPS
Terapeuta: Que é que você quer dizer?
Tom: Quando o pai foi jogado no despenhadeiro e morreu. Pare
ciam estar gostando muito quando Ronny jògou o pai dele lá em baixo.
Mas, mais tarde, fiquei matutando sobre aquilo.
Terapeuta: Você acha que foi um pouco forte.
Tom: Bem, eu não haveria de querer que eles voltassem para casa
e fizessem o mesmo com os pais deles.
Terapeuta: Você acha que eles poderiam tentar fazer o mesmo que
Ronny íez?
Tom: Mas o que mais me surpreendeu... Bem, eu psnsei que era
o único que se sentia assim a respeito do pai, porque o meu é padrasto.
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Mas os deles são pais de verdade e eles pareciam contentes com sua mor
te.
Tom: É, sei lá. Sabe, quando voltei para o meu quarto aquele dia,
escrevi uma carta para o meu pai. Pro meu pai de verdada. Ele está na
marinha. Eu contei pra mamãe. Ela falou que não achava que ele qui
sesse saber de mim, mas eu nãõ acreditei nela, não. Não acho que ele
tenha outro filho. Acho que ela só estava falando da boca pra fora.
Terapeuta: Você ficou perturbado quando sua mãe disse que não
achava que seu próprio pal quisesse saber de você.
Tom: Eu não acredito nela. Acho que ela só está falando da bóca
pra fora. (Longa pausa Conserta um brinquedo ) Sabe? Eu sempre tinha
um mapa, mas perdi ele.
Terapeata: Perdeu?
BOOKS
Tom: Eles me tomaram ele. Me expulsaram da estação. Aqueles
sujos serventes me devem cinco dólares. Veja você, eu estava só um pou
co atrasado e deixei escapar alguns fregueses e perdi meu mapa. Mas eu
não me importo.
a torcer.
GROUPS
da vida, mas por mais que eu me importe, não digo para não dar o braço
Terapeuta: Você não quer que os outros saibam como realmente vo
cê se sente com as coisas.
Tom: Sim. Eu não quero dar a eles nada que possam tirar vanta
gem sobre mim.
35
Terapeuta: Hum?
Tom: Eu disse que é desse jeito que o mundo vai.
Terapeuta: De que jeito?
INDEX
to.) Agora vou guardar estas ferramentas. (Sai da sala para guardar as
ferramentas que usou. Retoma.) Nós vamos encontrar de novo amanhã.
Será que tem importância eu trazer alguns menininhos comigo?
Terapeuta: Você acharia melhor se trouxesse alguns de seus ami
gos com você?
Tom: Bem, eu não digo que vá trazer alguns amigos. Digamos al
guns dos cabeçudos lá da minha sala.
Terapeuta: Você não tem certeza de ter amigos. Bem, se você qui
BOOKS
ser trazer alguns dos cabeçudos lá da sua sala, não há problema. Tente
fazer um grupo de, no máximo, seis meninos.
Tom: Pode ser três meninos e três meninas?
GROUPS
Terapeuta: Está certo. Traga-os da próxima vez, se quiser.
Tom: Não. Pelo menos não parece. Mas os menininhos vêm para
perto de mim no pãtio, conversam comigo e parecem ficar alegres ao
me ver. Eles parecem gostar do meu teatro de fantoches, também.
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INDEX
de crianças de seis anos e impressíonara-se com suas manifestações de
prazer. Evidentemente ele presumiu que elas identificavam o pai de Ron-
ny com seus próprios pais. Tom aponta, assim, um dos valores da expe
riência em grupo, quando diz ter se surpreendido ao descobrir que ou
tras crianças, aparentemente com menos razão para fazê-lo, reagiram tão
favoravelmente à surra do pai. Sentir que seu problema não era o único
parecia dissipar sentimentos de culpa e aliviar o peso deste problema.
O fato de partilhá-lo com outras pessoas traz em si algum valor terapêu
tico .
BOOKS
A simpatia que os meninos jie seis anos de idade demonstraram*^
por Tom construiu sua auto-estima, tornando o mais obj etivõ~nã~ãcèita- \
çãõ de ssus problemas. O que~cõntou a respeito de sua tentativa de rea
tar relações com seu pai verdadeiro (após a representação da cena com
o boneco-pai), bem como a reação de sua mãe (segundo ele), poderia ser
uma possível causa do seu comportamento. É também significativo seu l
pedido de trazer alguns amigos ( “Eu não digo que vá trazer amigos. Di- í
gamos alguns dos cabeçudos lá da sala.” ) Tom tinha sido até então uma
criança solitária, disposta a continuar vivendo sozinha. Ter desejado a (
J
GROUPS
companhia de outras crianças indica uma modificação positiva no seu es-
tado de espirito.
No dia seguinte, ele trouxe consigo quase toda a turma de seis anos
de idade. Todos queriam participar do grupo. Como tinha que escolher
somente ssis crianças, escolheu três meninos e três meninas. Também
dá o que pensar seu critério na seleção dos meninos: um por sua boa influ
ência; outro, por ser pior do que ele.
Deixar a crianca escolher seu próprio grupo, ao invés de fazê-lo pa- àr~
ra ela, é uma atitude valiosa. Estando a terapia centralizada na criança,
o grupo escolhido por Tom tem mais valor do que se a terapeuta o es
colhesse para ele, pois isto daria a impressão de que há uma criança em
tratamento e as outras são chamadas para divertila. (Ainda que, a prin
cipio, isto seja verdade.) No caso de Tom a terapeuta sentiu que uma
experiência em grupo era o que ele precisava, mais que qualquer outra
coisa. E, como ele a pediu, passou a ser a coisa mais importante.
As crianças convidadas por Tom passaram a olhá-lo com novo inte
resse e ele tornou-se uma delas. Poi mais significativo, no modo de pen
sar da terapeuta, tal escolha ter sido feita pelo próprio Tom. Natural
mente, como decorrência de todos estes aspectos, Tom conseguiu a liber
tação de seus sentimentos, através de seus brinquedos e conversas.
Tom: Isto vai ser uma espécie de clube pra gente. Nós vamos ser
atores de fantoches.
INDEX
jean: Eu nunca brinquei com argila.
Tom: D.? A., você toma conta das meninas. Eu cuido dos meninos.
(Eles riem.)
BOOKS
você fala o que a gente tem que fazer.
GROUPS
Tom: Eu diria que gosto sim.
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INDEX
sertar. Só tava meio preso. Eu não resisti à tentação. Qualquer um po
de ver que ela é um pirralho. (R i.)
BOOKS
Tom: Sim. (Conserta o boneco.) Eu não seria capaz de ficar aqui
muito mais tempo. Vou tomar um sorvete agora.
Joe: A noite passada quase que ele foi morto. Um cara lá em baixo
quase atropelou Tom. Ele fez isto de propósito.
Terapeuta: Você acha que ele tentou atropelá-lo com o carro?
Tom: Sim. Mas foi culpa minha.
GROUPS
Joe: Sua culpa! Por que, se hoje mesmo, lá em cima, você disse que
a culpa foi dele? E agora você d iz...
3?
INDEX
Tommy: É de D.? A ... e não seu.
Tom: É meu em parte, porque eu uso ele. Eu faço o teatrinho
aqui, eu sou os fantoches e eies são eu.
Tommy: Oh!
(Longa pausa.)
Tom: Eu não vim aqui brincar com os fantoches nem hoje, nem
ontem.
BOOKS
Tommy: Por que não?
Tom: Oh! Eu não tinha nada para encenar com eles. Veja você, eu
Isó vou falando de improviso, só o que se está passando comigo, na hora.
JNão tenho plano, nem engano, nem ensaio. Aí é que está o bom do ne-
(gócio. É só você pegar o fantoche e ir falando.
Joe: Como?
Tom: Você se deixa vagar e se transforma no fantoche.
GROUPS
Tommy: Faz pra gente.
4Ü
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exatamente disto. Quanto mais briga e pancadaria tiver, mais eles gos
tam.”
(A boneca-menina aparece. Sua voz é suave e doce.)
Menina: “Alô. Eu quero minha..."
Ronny: “Você quer sua mamãe, Mas sabe o que você vai arranjar
em lugar dela? Bem, isto!”
(Uma terrível briga, da qual Ronny sai vitorioso.)
Tom: Bem, meu tempo acabou agora. Eu tenho que ir embora ago
ra, ou então não vou poder pegar o t.em. Eu quero fazer isto bem feito.
Terapeuta: Você quer realmente fazer isto bem feito e quer seguir
INDEX
as regras.
Tom: Ató logo. Eu verei você amanhã e, especialmente, na pró
xima quinta-feira.
(Tom sai; os. outros meninos ficam brincando com a argila na me
sa em que estão as meninas. Começam a modelar cabeças.)
Martha: Ele já não está mais tão chato na escola.
Jean: É mesmo.
BOOKS
Theda: Sim, é verdade, ele anda cantarolando o dia inteiro.
Tommy: Ele deixa a professora lòuca. Quando ela perguntou pa
ra ele o que lhe estava acontecendo, ele disse que estava feliz, que estava
contente por ser quinta-feira, e perguntou se havia lei que proibisse ser
feliz. (As crianças riram .) Tom é assim. Sempre diz o que pensa.
“ Joe: Ele é que arranja suas próprias confusões.
Theda: £i. Ele sabe disto também.
GROUPS
Joe: Ele é sabido demais. Aquilo é que foi gozeira.
41
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í mente aceitas, não é necessariamente uma indicação de ajustamento. À
\terapia em grupo geralmente revela estes fatores, e crianças tímidas, que
Jbuscam uma auto-afirmação, quase sempre conseguem uma oportunidade
/de auto-esttmar-se, por comparação com outros membros do grupo, algo
l^que sempre as ajuda.
INDEX
E interessante que Tom diferencie entre a situação da sala de au
la é a da sala de terapia: “Aqui eu sou honesto”, diz ele. E quando exa
mina com franqueza seu comportamento, acrescenta: "Eu realmente cau
so a maior parte dos meus problemas.”
r" Que é a terapia, senão um exame e reexame de cada um, num esfor-
Iço de reorganizar seus valores e, através de uma honesta introspecção, adqui-
/rir “insight” dos modos de satisfação dirigidos para uma completa auto-
( realização e aquisição de força e coragem para ser ele mesmo?
BOOKS
SEGUNDO CONTATO EM GRUPO
GROUPS
Tom: É bom saber como é o negócio comigo.
42
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quela diaba velha rabujenta e ela me acusou. Será que agora eu pareço
com vento também?
Jean: Ela não falou que foi você.
Tom: Ela olhou primeiro para jnim, depois é que olhou para o vento.
Tommy: Ela olhou para o vento.
Martha: Mas às vezes você faz mesmo alguma coisa desse tipo.
Tom: Sempre eu é que sou repreendido mas, pelo que.eu vi, tinha
lá muito mais gente que deveria ter passado o dia.de castigo comigo.
(Para a terapeuta.) Você sabia? Ontem, tive que passar a tarde inteira
de castigo. Isto lá é educação, eu te pergunto? Perdi meu trabalho: todo.
Joe: Ela te esqueceu.
INDEX
Tom: Ah! Quer dizer que ela então me esqueceu? Tá bom .Eu não
m e importo. Só olhei para a janela e pensei.
Martha: Não sei pçr quê... se você não gosta de ser repreendido,
por que você vive fazendo coisa errada?
BOOKS
dade. Tom, Saco-de-Pancadas. (Ri, parece encantado com a atenção dis
pensada à sua rebeldia.)
Joe: Quando qualquer pessoa sai da sala, Tom diz que ela vai tomar
seu banhozinho de sol.
Martha: Ele não liga pra nada.
Tom: A única coisa que ms incomoda é levar castigo por agir com
educação.
GROUPS
Terapeuta: Você realmente não gostou de ser castigado, ainda mais
tendo agido com educação.
Tom: Sim. (Silêncio. As crianças trabalham com o amianto.) Sabe
de uma coisa? Este negócio fede igual carniça.
Jean: Sei lá. Eu nunca cheirei carniça.
43
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Tom: Vou fazer um Hitler. Assim a gente pode pegar uma briga com
ele e bater nele.
Martha: Oh! não! Não faz Hitler não! Faz coisas bacanas e depois
deixa elas brigarem.
INDEX
Martha: Mas eu nãq acho___
Tom: Eu sei o que você acha. Eu vou fazer um Hitler e depois des
truí-lo.
Martha: Então faz, tá? Faz seu velfio Hitler. Mas eu não vou fazer
não.
(Silêncio.)
Tom: Olha a boca dele. É toda quadradinha. Este cara não ri nunca.
BOOKS
Jean: É lógico que não. Ele é um cara detestável.
Martha: Deixa eu furar os olhos dele. (Vaza os olhos de Hitler com
seu lápis.)
GROUPS
Theda (zombando): Aí, viu?
INDEX
lada. Tom golpeia a cabeça de Jean; obviamente não a machuca, mas ela
grita.)
Jean: Este é que é seu problema. Você é muito desgraçado.
Tom: Sim, eu sou. Eu estava só brincando e sei disso.
Jean: É isso sim. Você não brinca delicadamente. Você é tão ruim
que sempre tem que machucar alguém.
Tom: Eu não te machuquei. Você não caiu desmaiada, caiu?
Jean: Você é desgraçado. Ê por isso que você arranja todos os seus
BOOKS
problemas. Você é o cara mais desgraçado que eu já vi.
Tom: Bem, até que é interessante saber o que é que causa todos os
meus problemas. Mas, francamente, eu sempre digo que gente como você
é que causa meus problemas. Você veio brincar e logo que acontsceu uma
coisinha, vooê começou a grasnar. De que é que você consegue brincar,
se tem medo da própria sombra?
(Je.an bate na cabeça de Tom com seu cassetete de argila.)
Tom (gozando): Oh! sua coisa ruim! Isto é que te causa todos os
GROUPS
seus problemas. Você me machucou. (A menina sorri para ele. Tom sorri
e joga fora a cabeça de H itler.) Venha todo mundo, todo mundo pode.
Quem quer bater em Hitler?
CO grupo ataca a cabeça de Hitler e em pouco tempo ela é reduzida
a migalhas. Quando a terapeuta anuncia o término do tempo, as crian
ças deixam os brinquedos. Tom, ao sair, diz à terapeuta: “Bem, até lo
go. Depois nos encontramos.”
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INDEX
Terapeuta: Você faz as coisas que às vezes ferem os outros e eles
não entendem que você não quer feri-los.
Tom: Sim. (Longo silêncio. Afunda o queixo entre as mãos.) Eu te
nho que dar um jeito nisto.
Terapeuta: Você acha que deverá dar um jeito nisto.
Tom: Sim. Eu vou ter que pensar bem sobre isto. (Levanta-se e pe
ga um fantoche.) Que farei, Ronny?
BOOKS
Tom: Você está muito duro; me diz o que fazer.
Tom (Derruba o fantoche na mesa.) Não serve. Ele é tão mau como
eu. De fato ele sou eu.
Terapeuta: Ele representa um aspecto seu. Você acha que deveria
dar um jeito nisto, mas ele quer que seu modo de conseguir as coisas seja
através de briga.
GROUPS
Tom: Sim. Bem. Eu tenho que ir agora. (Levanta-se.) Até logo.
46
briga entre os fantoches foi "de acordo com as regras.” Seguem-se mos
tras disto:
Ronny: “Esta vai ser uma luta limpa.”
Palhaço: “Sim. Nós queremos que esta seja legal.”
Ronny (Sons de luta.): “É uma luta de boxe. Será de acordo com as
regras.” (O palhaço Toge.) “Desista de fugir.” (Luta.) “Agora escuta: eu
estou cansado disto!”
Palhaço: Olha. Eu vou te esmagar!
Ronny: Oh! Meu nariz! Meu lindo nariz! Meu lindo narigão. Agora
eu não vou poder meter ele nos negócios dos outros. Eu não te falei que
a luta ia ser limpa?!” (Lu ta.) Isto é uma luta de boxe. Isto tem que se
guir as regras.
INDEX
E agora, um trecho dos últimos contatos:
Ronny: “Eu me sinto como se estivesse brigando com alguém.”
BOOKS
Palhaço: “Você gosta de mim?”
Ronny: “Então lute, mas lute bem, lute limpo, seguindo as regras.”
GROUPS
Tom (levantando-se com os fantoches): Pronto, gente. A luta aca
bou. Agora dêem-se as mãos. (Os fantoches são levados a cumprimentar-
se. ) Está bem. De acordo com as regras.
S U M A R I O
47
INDEX
O último encontro em grupo foi todo gasto com a apresentação de
outra peça de fantoches, que não foi nada mais que uma diversão. Os
fantoches cantaram, dançaram, e Tom fazia o fundo musical com um tam
bor e outros instrumentos rítmicos. Ele resolveu seu problema de ajus
tamento . De acordo com uma avaliação feita seis meses mais tarde, ele
se tornara bem ajustado e líder em sua sala de aula.
O tratamento recebido por ele foi uma combinação de contatos in
dividuais e em grupo. A terapeuta notou que um tipo de contato suple
BOOKS
mentava o outro e que a terapia tivera maior sucesso por causa do con
tato em grupo. Tom jamais tinha sido aceito como membro de um gru
po. Ao término da terapia ele havia encontrado seu lugar no grupo, en
tendera-se melhor; tomara-se um líder. Embora ele ainda tenha dificul
dades ocasionais, parece ter conseguido a auto-compreensão necessária
para manter seu status em relação aos colegas e para superar a necessi
dade de manter um comportamento defensivo, anti-social.
GROUPS
A LUDOTERAPIA NÃO-DIRETIVA
BOOKSSITUAÇÃO E PARTICIPANTES
GROUPS
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INDEX
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BOOKS
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3. A SALA DE BRINQUEDOS/E
BOOKS Ainda que seja desejável ter uma sala mobiliada e isolada para a
ludoterapia, tal coisa não é indispensável. Algumas das sessões terapêu
ticas descritas neste livro tiveram lugar em uma sala de ludoterapia es
pecialmente equipada; outras numa sala de aulas de um grupo escolar;
outras, num canto não usado de um berçário, a terapeuta trazendo em
uma maleta o material para cada sessão. Isto é salientado para indicar
as vastas possibilidades de serem utilizadas técnicas de ludoterapia com
pequeno orçamento e falta de lugar apropriado.
GROUPS
Se há dinheiro e espaço disponíveis para mobiliar uma sala de lu
doterapia, as seguintes sugestões são oferecidas: a sala deveria ser, se
possível, totalmente à prova de som. Possuiria uma pia com água cor
rente quente e fria; as janelas seriam protegidas por grade ou tela. O
chão e o teto seriam protegidos por materiais facilmente laváveis, que
resistam a água, argila, tinta e pancadas fortes. Se a sala puder ser pro
vida de gravador de som e aparelhagem ótica que permita serem feitas
observações sem que as crianças notem que estão sendo obseirvadas,
tanto melhor. Mas este equipamento somente poderia ser usado para es
tudo e treino de novos terapeutas. A autora não defende a idéia de que
os pais observem os contatos terapêuticos ou escutem as gravações do
que foi dito durante as sessões.
INDEX
têm sido usados com sucesso, mas não constituem o melhor tipo de ma
terial que permite expansões da criança. Brinquedos mecânicos não são
sugeridos porque não permitem criatividade lúdica.
BOOKS
facilmente trazidos pelo terapeuta em uma maleta.
GROUPS
veis. Famílias de bonecas, bastante satisfatórias, podem ser feitas com
escovinhas de limpar frascos, vestindo a escova com lã para fazer o cor
po, fixando-a com fita adesiva. As cabeças podem ser feitas de pompons
de lã, desses que são usados em roupas. Seriam a mãe, o pai, a irmã, o
irmão, o bebê, e os avós, o que forneceria à criança todos os símbolos
familiares possíveis. Os fantoches podem ser feitos também de roupas
velhas, com cabeças feitas de lã e cabelos de algodão. Entre os fantoches
seriam Incluídos, também, todos os símbolos familiares possíveis.
Uma grande caixa de areia serve como lugar ideal para instalar a
casa e a família de bonecas, os soldadinhos, animais, carros e aviões.
Além do mais, é a areia um excelente lugar para as crianças agressivas
brincarem, pois oferece bastante segurança. As bonecas e outros brin-
quedos podem ser enterrados nela. Pode servir como “neve”, “ água”, “ ce
mitério” ou “bombas” . Coaduna-se com a mais fantasiosa imaginação. Se
a caixa de areia é escavada 110 assoalho e tem apenas uma pequena cer
ca, é mais acessível às crianças de todos os tamanhos do que o seria uma
caixa com paredes altas.
Se a sala é suficientemente grande, seria bom possuir um “palco"
construído num dos cantos, com uma altura de cerca de vinte centíme
tros. Este seria equipado com uma mobília doméstica tamanho mirim,
que atenderia também aos mesmos padrões de durabilidade, oferecendo
às crianças a vantagem de terem uma casa de brinquedo do tamanho de
las e, ao mesmo tempo, um palco para dramatizações. Tal elevação não
INDEX
é absolutamente necessária, mas tem o efeito de colocar à parte a casinha
e também parece inspirar representações teatrais de maior conteúdo emo
cional. As possibilidades de psicodrama são bastante valiosas como meio
de terapia e merecem melhores estudos.
BOOKS
mente, esperando sua conduta não-diretiva. Alguns terapeutas preferem
usar um mínimo de materiais e têm observado interessantes resultados
com objetos selecionados por eles, para as crianças.
GROUPS
da casa de um dos clientes, não deverá ser deixada assim para o próximo.
As tintas e a argila seriam guardadas limpas e higienizadas. Se as tintas
coloridas estão misturadas, deverão ser limpas e novamente preparadas.
As mamadeiras seriam mantidas esterilizadas. Todas as pinturas e tra
balhos em argila deveriam ser removidos da sala de brinquedos no fim
de cada sessão, de forma que a sala fique sempre livre de possíveis su
gestões no uso dos materiais.
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INDEX
BOOKS
GROUPS
4. A CRIANÇA
INDEX
À sala de ludoterapia, com sua profusão de brinquedos e materiais
lúdicos, chega uma criança, à qual se dispensa toda a atenção. Que espé
cie de criança será aquela e como veio parar aqui? Tom, Ema, Timmy e
Bobby são exemplos de crianças como ela. Estão na sala de ludoterapia
porque alguns adultos que tinham que lidar com elas acham-nas “ crianças-
problema.” Neste capitulo, descreveremos mais profundamente estas cri
anças e falaremos sobre os vários tipos de problema que elas apresentam.
Tom, Ema, Timmy, Bobby e todas as outras são crianças reais, mer
BOOKS
gulhadas em adversidades o dia inteiro, pouco favorecidas, infelizes, que
não tiveram nem mesmo a mais ínfima migalha de amor,} segurança e fe
licidade devidos a toda criança. Estão lutando para se situarem num m u »
do hostil. Empenham-se em obter algo valioso a seus próprios olhos. Têm
coragem, perseverança e firmeza, mas são crianças-problema.
Tom briga, briga, briga o dia inteiro. Ema inferniza as pessoas que
seriam suas amigas. Timmy e Bobby chegam a adoecer por causa de suas
tensões íntimas. Onde quer que estejam, entram em dissonância com o
meio. Alienam-se e marginalizam-se, em decorrência de suas próprias po
GROUPS
sições defensivas. Têm problemas e não sabem exatamente como resol
vê-los. Aliviam-se de algumas de suas tensões, descarregando-as através
de oeu comportamento agressivo, mas isto só faz criar-lhes outros proble
mas. É a má orientação na consecução de suas íntimas auto-realizaçõe a '
que parece causar-lhes desajustamentos. É preciso que haja uma canal
zação de seus esforços, no sentido de um comportamento mais construti
vo. Estes são exemplos de crianças-pròblema, freqüentemente encaminha
das à ludoterapia por pais, professores, fiscais, médicos ou outro qual
quer responsável. As agressivas, perturbadoras, barulhentas são as mais
facilmente identificadas como crianças-protlsma, porque estão constante-
mente criando novas dificuldades, não somente para elas próprias, mas
também para os que têm contato mais prolongado e íntimo com elas.
Existem outras crianças — justamente as mais desesperadamente
necessitadas de auxílio — que perante seu mundo difícil e hostil, vivem
fragilmente, retraídas, apartadas do calor humano; e, porque são quietas e
não provocam distúrbios, são deixadas sozinhas. Mas essas crianças tí- '
midas necessitam da terapia e dos benefícios que ela possa lhes propor
cionar.
São crianças que parecem recusar-se a crescer e se apegam às ma
neiras infantis. Nervosas, roem as unhas, têm pssadelos, urinam na cama,
têm tiques nervosos, recusam-se a comer, e manifestam outros tipos de
comportamento que indicam ansiedade e tumultos internos. A ludotera-1
INDEX
pia oferece a essas crianças uma oportunidade de resolver seus problemas, y
aprender a conhecê-los, aceitá-los como são e amadurecer através da ex- j
periência terapêutica.
Também as crianças com defeitos físicos beneficiam-se da experi
ência terapêutica, no caso do problema físico dar origem a ansiedade, dis
túrbios e conflitos emocionais. Neste livro cita-se o caso de um menino
cego que foi bastante auxiliado. Há também o caso de Ernest, um garoto
com defeito físico, cuja recuperação foi bloqueada por um distúrbio emo
cional, que ele foi capaz de superar. Há casos de crianças espásticas que
BOOKS
são ajudadas pela ludoterapia. Estas crianças têm em seu íntimo os mes
mos desejos e sentimentos de uma criança normal. Muitas vezes, o de
feito físico frustra e bloqueia de tal forma que gera tensões quase insu
portáveis para a criança. Não é raro encontrarmos crianças acometidas
de males físicos e de suas conseqüências, vivendo em uma casa em que
não recebem compreensão e onde não são valorizadas como merecem.
Recusar-se a encarar esses problemas não os resolve. Tudo o que puder
ser feito por essas crianças deve ser feito. Alguns médicos estão inteira
mente dispostos a trabalhar cooperativamente com a ludoterapia, tentan
do dar à criança toda a ajuda necessária a propiciar-lhe um máximo de
ajustamento.
GROUPS
Em geral, a ludoterapia fornece ao psicólogo e à professora uma
técnica de entendimento e ajuda àquelas crianças, tão freqüentemente ta
xadas de crianças-problema, e mesmo àquelas que apresentam problemas
de comportamento, deficiências de pronúncia e até problemas somáticos,
quando são encaminhadas pelo médico.
Os problemas de comportamento incluem todos os tipos que podem
constituir desajustamento: desde os muito reprimidos e tímidos até os
de muita agressividade e inibição.
Os problemas com os estudos escolares freqüentemente coexistem
com conflitos emocionais e tensões. As sessões de ludoterapia têm-se de-
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INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
INDEX
Problemas com a leitura também demonstram uma melhora, quan”
do a terapia suplementa ou, em certos casos, substitui a instrução nor
mal. Em muitos casos, a criança que não lê é uma criança com distúrbios
emocionais. De outras vezes, o distúrbio é tão pequeno que não é cons-
derado como um sério elemento nos problemas de incapacidade para a j
leitura e a ludoterapia já tem revelado casos de tensões, medos, ansieda-J
des, que foram superados, depois que se obteve estabilização.
Há grande necessidade de maiores estudos em todas as áreas men
cionadas. A evidência dos casos que têm respondido muito bem a esse
BOOKS
tratamento aponta para onde devem ser dirigidos os estudos mais inten
sivos, a fim de que tais áreas sejam estudadas mais completa e cientifi
camente. Até as presentes notas, o campo da terapia não-diretiva é rela
tivamente novo. Um território virgem para quem se interesse em estu
dá-lo. As implicações são enormes e parece valioso prosseguir.
Não há nenhuma justificativa em esperar até que a criança esteja
seriamente desajustada para que se tente ministrar-lhe alguma ajuda. Pa
rece haver uma certa higiene mental preventiva nas experiências de lu
doterapia. E a criança, mesmo que não esteja seriamente desajustada, di
GROUPS
verte-se muito com a experiência. Isto para ela é uma brincadeira. O
fato da própria criança se dirigir, fazendo o que quer, remove qualquer,
vestígio de medo da situação terapêutica, desde o primeiro contato.
As crianças desconhecem o fato de constituírem problema. Pelo ]
menos o terapeuta, de forma nenhuma, deixa isto transparecer. Tom sa- /
be que é infeliz, cheio de defesas e sozinho contra o mundo. Ema não
consegue entender o vazio que sente em seu coração, por causa da rejei
ção que recebe. Timmy e Bobby sentem que o mundo fugiu sob seus
pés. Todas as quatro são crianças solitárias contra um mundo insensível
e inamistoso e freqüentemente fazem sua posição piorar com seu com
portamento indesejado. Estão presas a um círculo vicioso, que pode ser
quebrado apenas pela realização de suas próprias habilidades de agirem
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INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
Por outro lado, quando uma criança está triste e deprimida, sua
Í
INDEX
imagem perde o brilho, seus movimentos são lentos e pesados, seus olhos
refletem a infelicidade em que está mergulhada. É infeliz da cabeça aos
p *.
BOOKS
de completa auto-realização.
GROUPS
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5. O TERAPEUTA
BOOKS
daquilo que a criança está dizendo ou fazendo. São necessários uma com-
preensão e um genuino interesse pela criança. O terapeuta deve ser sem
pre permissivo e aceitador. Estas atitudes são baseadas numa filosofia
do relacionamento humano que salienta a importância do indivíduo
como capaz e digno de confiança ao assumir a responsabilidade so
bre si mesmo. Conseqüentemente, o terapeuta respeita a criança.
Trata-a com honestidade e sinceridade. Não há nem irritação nem exces
so de doçura em suas atitudes ao lidar com ela. É franco e sente-se à
vontade na presença da criança. —■
GROUPS
O terapeuta não manda na criança, não a apressa nem, por impa
ciência, toma atitudes precipitadas que a façam perceber qualquer falta
de confiança em sua capacidade de ser responsável por si mesmâ. Nun
ca ri dela. Ei com ela, às vezes; mas dela, nunca!
Tem uma paciência especial e um estado de espírito que relaxa a
criança, coloca-a à vontade, e a encoraja a compartilhar com ele seu
mundo interior.
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INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
mente a hora da criança e mantém-se total observância ao princípio de
que aquilo que ela diz ou faz é estritamente confidencial.
O terapeuta deve gostar de crianças e conhecê-las realmente. É
interessante que tenha algumas experiências pessoais com crianças fora
da situação terapêutica, para que ele as conheça e entenda como são real
mente, em seu mundo fora do consultório.
A idade e a aparência física parecem ser sem importância. Nem
mesmo o sexo do terapeuta parece influir. Terapeutas de ambososse
xos têm tido bastante sucesso nesse trabalho. O importante parece ser a
atitude básica para com a criança e a consciência de sua profissão.
As crianças são extremamente sensíveis à sinceridade dos adultos.
INDEX
trabalho.
BOOKS
mas sua atitude em relação à criança é sempre de respeito e aceitação
O terapeuta não poderá simular estas atitudes. Elas deverão ser
parte integrante de sua personalidade. Nunca, antes dele ter compreen
dido a significação do que é a completa aceitação de outra pessoa, e de
ter suficiente entendimento das implicações deste termo, será capaz de
ser tão permissivo a ponto de possibilitar à criança ser ela mesma, poder
expressar-se plenamente, e será capaz de aceitá-la sem julgamentos ante
cipados. Embora a atitude não-diretiva do terapeuta pareça ser de passi
vidade, isto está muito longe da verdade. Não há disciplina mais sereva
GROUPS
do que a de manter a atitude de completa aceitação, de abster-se de fazer
qualquer insinuação ou orientação ao brinquedo da criança. ~PermaneT|
cer aíerta para apreender e réflêtir~profundamente sobre os sentimentos
revelados pelo cliente em seu brinquedo ou em sua conversa requer uma 1
completa participação durante todo o tempo que dura a sessão de ludo-j
terapia.
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tar-se amigavelmente adulto e digno, trazendo à sala de terapia algo mais
que sua presença, lápis e papel. É necessário, para o sucesso da terapia,
que a criança confie no terapeuta. É preciso conter-se para evitar os
extremos no relacionamento. Mostrar excessivo afeto, muito aconchego
pode facilmente extinguir a terapia e criar novos problemas para a cri-y
ança. O amparo de uma atitude protetora é justamente algo de que aj
criança precisa se afastar antes que esteja “ liberta".
O terapeuta não está pronto para levar a criança à sala de terapia,
enquanto não tiver desenvolvido sua auto-disciplina, auto-contenção e um
profundo respeito pela personalidade da criança. E não há disciplina <3
tão severa quanto a que exige que a cada indivíduo sejam dados o direito
\ e a oportunidade de sustentar-se sobre seus próprios pés e tomar suas
--t7i próprias decisões.
INDEX
compromissos para com ela com toda a pontualidade com que os aten
deria ao tratar com adultos; só falha aos compromissos no caso disso ser
absolutamente necessário; não encerra os contatos antes de considerar os
sentimentos da criança, e sem informá-la disso com antecedência, de modo
que ela não se sinta rejeitada.
O terapeuta não deve se envolver emocionalmente com a criança
pois, quando isso acontece, a terapia desvirtua-se, e a criança não se be
neficia nestas complicadas circunstâncias. O envolvimento emocional nor
malmente é eliminado, se o terapeuta assimilou os princípios e atitudes
BOOKS
básicas, se já tem a visão dos limites que existirão, e se já sabe o que
fará se a criança adotar algum comportamento imprevisível (o que mui
tas vezes ocorre). Com suficiente auto-confiança por parte do terapeuta^
pouco provável que ele se embarace, caso o cliente se tome uma cria- 1
tura provocadora e cheia de recursos, e tente envolvê-lo com sutis arti- I
manhas, é necessário que haja serenidade, sensibilidade e desembaraço l
por parte do terapeuta, para levar adiante a terapia. Se ele se sente en-j
tediado e sonolento durante os contatos terapêuticos, então será melhor )
^que não lide com crianças. .J
GROUPS
Uma vez que o terapeuta julgue valioso anotar as atividades e con
versas que ocorrem na sala, deverá ter à mão os materiais necessários pa
ra isto. O terapeuta descobrirá se uma avaliação crítica das notas feitas
em cada sessão vai melhorar sua habilidade em manejar os vários pro
blemas que ocorrem na sala de ludoterapia, desenvolvendo sua compre
ensão a respeito do comportamento da criança e tornando-o mais sus
cetível aos sentimentos e atitudes que ela expressa. Estas notas, e todas
as outras observações feitas durante a sessão de ludoterapia deverão ser
mantidas em sigilo, pois são confidenciais. E, quando for necessário dis
cuti-las por razões profissionais, isso deverá ser feito de modo a enco
brir os nomes o suficiente para não prejudicar quem quer que seja.
INDEX
BOOKS
GROUPS
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6. UM PARTICIPANTE INDIRETO:
OS PAIS (OU PAIS ADOTIVOS)
INDEX Basta-nos apenas um passar de olhos pelos casos relatados neste livro
para entender a parte extremamente importante que os pais — ou os pais
substitutos, ou amas — têm no curso do processo terapêutico.
BOOKS
ajuda terapêutica ou aconselhamento, não é necessário que isto aconteça
para assegurar o sucesso da ludoterapia.
O leitor notará que muitos dos casos deste livro são de crianças que
estavam em situações em que não hãvia um mínimo de “insight” por parte
dos adultos que visasse a melhorar seus problemas. Em pouquíssimos ca
sos os adultos receberam algum tratamento, mas ainda assim as crianças
se tornaram aptas a se fortalecerem intimamente o bastante para resisti
rem a condições muito penosas, como se parecesse que o “insight” e a auto-
compreensão obtidos por estas crianças desse origem a modos mais ade
GROUPS
quados de lider com a situação. E, à medida que as tensões cessassem, isto,
por sua vez, provocaria uma certa rnudança nos adultos. Isso é o mesmo
que ocorre com a explanação das reações dinâmicas que estão constante
mente mudando, à luz de novas experiências. Se a criança toma-se madura
e Responsável, também os adultos se irritam menos e sentem menos neces
sidade de entrar em choque com ela.
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Neste caso, como em todos os outros, nem os pais de Tom nem seus
professores, tiveram qualquer informação sobre o que ele estivera fazendo
INDEX
durante as sessões de ludoterapia. Os pais sabiam que ele estava recebendo
alguma ajuda, mas a terapeuta nunca os encontrou, ou manteve com eles
qualquer contato. Isto indica que não há nenhuma necessidade de terapia
simultânea em tais casos. Entretanto, ela não é sem valor. Tivessem a mãe
ou o pai de Tom vindo para o aconselhamento, seria possível ter havido
sucesso mais rapidamente, e os próprios pais teriam conseguido uma com
preensão que iria além de seus problemas com Tom, recebendo ajuda para
eles mesmos.
/' Isto também parece ser verdade quando é efetuado de outra maneira.
BOOKS
Se os pais recebem ajuda terapêutica e a criança não, freqüentemente a
compreensão deles é suficiente para ativar uma melhora no relacionamento
com a criança, resultando disto uma mudança positiva nas reações desta. Y
\ Daí, pode-se concluir como seria mais simples e eficiente a terapia de país
í e filhos levada a efeito simultaneamente.
O caso de Ema é também interessante, nesse ponto. A mãe não era
acessível à terapia, nem quis assumir qualquer responsabilidade de partici
pação no relacionamento. A terapeuta não teve nenhum contato com a mãe.
Dessa forma, nada foi feito para facilitar a situação. As diretoras da insti
GROUPS
tuição tinham decidido pôr fim ao procedimento absurdo da mãe quando
esta criou um verdadeiro distúrbio íntimo na criança, por não cumprir suas
promessas, mas isso só foi feito após a terapia estar completamente bem
sucedida. Entretanto, Ema conseguiu adaptar se ao comportamento de sua
mãe, mesmo com as dificuldades e dissabores que este lhe trouxe. A tera
peuta também não teve contato com a professora de Ema e, mesmo assim,
um relato de sua situação escolar mostrava considerável progresso em suas
atitudes e em seu comportamento na escola, indicando ter ela obtido um
ajustamento satisfatório.
" O caso de Timmy e Bobby é outro exemplo de situação análoga. De
fato, muitas das crianças citadas neste livro são vítimas de negligência pa-
64
INDEX
ajuda terapêutica para crianças com deficiências mentais.
Existem poucos indícios nos relatos deste livro que indiquem terem
os pais, ou pais adotivos, cooperado voluntariamente. Algumas vezes isto
tem sido de pouca valia. Parece que a única espécie de sugestões que são
seguidas são aquelas com as quais os pais, eventualmente, concordam.
BOOKS
acrescenta mais um argumento importante no tratamento da criança-proble-
\ma e indica com bastante clareza que os impulsos interiores da criança, no
I sentido da cura, são realmente poderosos.
GROUPS
OS PRINCÍPIOS DA
BOOKS
LUDOTERAPIA NÃO-DIRETIVA
GROUPS
7. o s OITO princípios b á s ic o s
INDEX
Os princípios básicos que guiam o terapeuta em todos os seus conta
tos não-diretivps são muito simples, mas grandiosos em suas possibilidades,
quando seguidos com sinceridade, segurança e inteligência.
Os princípios são os seguintes:
BOOKS
2. O terapeuta aceita a criança exatamente como ela é.
GROUPS
ça em resolver seus próprios problemas, dando-lhe oportunidade
para isto. A responsabilidade de escolher e de fazer mudanças
é deixada à criança.
INDEX
A palavra estruturação é usada neste caso para representar o desen-
( volvimento do relacionamento, de acordo com os princípios básicos ante-
) riormente citados, de forma que a criança entenda a natureza dos contatos
’ I terapêuticos e fiqúe apta a usufruir deles plenamente. A estruturação não
/ é uma coisa casual, mas um modò cuidadosamente planejado para condu
zir a criança a um meio de auto-expressão, que traga o entendimento de
seus sentimentos e o valioso auto-conhecimento. Não é uma explanação so
mente verbal, mas um estabelecimento concreto de um relacionamento.
\'
BOOKS
O relacionamento que é criado entre terapeuta è cliente é fator deci
sivo para o fracasso ou sucesso da terapia. Este não é um relacionamento
fácil de ser obtido. O terapeuta deve demonstrar úm empenho sincero em
entender a criança e constantemente controlar as suas respostas que possam
ser contrárias aos princípios básicos. Deve, ainda, avaliar seu trabalho em
cada caso, de forma que ele, também, evolua em seu entendimento da dinâ
mica do comportamento humano.
GROUPS
8. ESTABELECENDO O "HAPPORT"
INDEX
O terapeuta deve desenvolver um amistoso e cálido relacio
namento com a criança, de form a que logo se estabeleça o “rap-
port”.
Uma terapeuta encontra a criança pela primeira vez. Ela está come-,
çando o contato inicial. A estruturação começou. O que deve fazer? Um
sorriso é usualmente tuna indicação de calor e amizade. As primeiras palar,
vras de saudação estabeleceriam o "rapport". Então, a terapeuta iria até a
BOOKS
criança e, sorrindo lhe diria ‘‘Boa tarde, Johnny. Estou feliz em ver você.
Você gosta daquele Mickey ali em cima da mesa?” Neste momento, Johnny
corresponderia ao sorriso e diria: "Sim, ele é engraçado.” Ele poderia ter
dito isto, mas o próprio fato de ter sido encaminhado à ludoterapia, indica
que ele não vai agir “de acordo com as regras” . Ele poderia muito provavel
mente ter voltado as costas para a terapeuta. E então? A busca do enten
dimento mútuo por parte dela não deve desvanecer tão facilmente. “ Você
gostaria de vir para a sala de brinquedos comigo e ver todos os brinquedos
bonitos que estão lá?” “ N ão.” “ Ora, venha Johnny, lá você vai encontrar tin
GROUPS
tas, argila e soldadinhos. Você gosta de soldadinhos não é mesmo?” “Não.
Eu não quero ir!” diz Johnny.
A terapeuta deve, então, fazer uma pausa. De fato, ela deveria ter in
terrompido talvez até antes. Baseada em qual dos princípios básicos ela
tenta convenoer Johnny? Tenta estabelecer um relacionamento cálido e ami
gável, sacrificando, porém, alguns dos outros princípios básicos. Ela não
está aceitando Johnny como ele é.Não está refletindo seus sentimentos. Ele
disse que não queria ir ver os brinquedos com ela. Aparentemente, esta te
rapeuta ainda não começou a permitir que a criança assuma sua responsa
bilidade em fazer escolhas. “ Muitas crianças vêm aqui e gostam da nossa
sala de brinquedos,” ela diz, persistente. “Nós temos uma casa de brinque
71
INDEX
timentos? Você está furioso porque eu o carreguei e trouxe até aqui. Vo
cê não gosta de ser tratado desta form a.” Assim ela seria introduzida na
sala de brinquedos. Entretanto, nem todas as terapeutas são “ amazonas”
e nem todas as crianças são “pesos-leves” .
Talvez fosse melhor levar o menino para a sala de brinquedos por suas
próprias forças. Ela deveria dizer: “Alô Johnny. Eu estou feliz por ver você.
Você gosta do Mickey, em cima da mesa?” Johnny vira-lhe as costas. “Oh.
você não gosta de conversar comigo. Você não me conhece.” A terapeuta deve
observar seu tom de voz. Ele não deve soar como uma reprovação. Mas,
BOOKS
ela não pode esquecer a mãe. Esta deveria estar dizendo: "Johnny, olhe para
a moça quando ela fala com você.” Johnny diria choramingando: “Eu não
quero. Eu quero ir para casa.” Então a terapeuta diria: “Você não quer na
da comigo. Você quer voltar para casa. A sala de brinquedos está logo ali,
caso você queira vê-la antes de se decidir ir para casa.” Ela se encaminharia
para lá. A mãe a seguiria. Johnny iria, relutante. Então a terapeuta pode
ria ter uma inspiração. “A senhora tem que ir falar com o senhor X ..., não
é D ...? ” “Sim, eu tenho.” “Bem”, diria a terapeuta, “ se Johnny não quiser
ficar na sala comigo e brincar, ele pode ficar aguardando a senhora na sala
GROUPS
de espera.” “É Johnny”, diria a mãe, “você prefere ficar na sala de espera?
Eu volto dentro de uma hora.” “Eu quero ir com a senhora” diria Johnny,
choroso. “Você não pode ir com ela, Johnny. Ela tem que conversar em
particular com o senhor X. Você fica na sala de espera ou na sala de brin
quedos. Você é quem sabe.” Mais um pouco de choro e Johnny entra na
sala de brinquedos. Metade da batalha está ganha.
A terapeuta deve estar pronta para o caso da mãe não ser coopera-
dora, mas sim daquelas que tomam seu Johnny dependente. Esta quererá
entrar na sala de brinquedos com ele. O que deverá a terapeuta fazer neste
caso? Levará a mãe consigo pensando que, a menos que faça esta concessão,
os contatos terapêuticos jamais se realizarão? Ela dirá: “ Só as crianças são
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admitidas na sala de brinquedos, Johnny.. Sua mãe ficará esperando por
você. Ela não vai embora deixando-o aqui.” Mas Johnny chora. "Johnny
não quer largar da mamãe”, diz a terapeuta. “Ele está com medo de ir so
zinho para a sala de brinquedos.” A mãe acorre, incentivando. E Johnny
se esgueira para a sala de brinquedos. A porta é fechada. A mãe espera fora.
INDEX
nos, pode conseguir algum “ insight” se a terapeuta conduzir habilmente
a situação. Johnny pode demonstrar sua completa dependência em relação
à mãe, por seus constantes pedidos de que ela lhe faça isto ou aquilo. A
terapeuta, alerta às atitudes e sentimentos, pode aproveitar-se de alguns de
les. “Johnny quer que a mamãe lhe mostre como brincar com a boneca.”
“ Johnny quer que a mamãe lhe diga o que fazer agora.” Ela pode até mes
mo chegar a refletir alguns dos sentimentos da mãe. Talvez ela esteja, vo
luntariamente, conduzindo Johnny. “Não faça isto, Johnny. Brinque desse
modo.” A terapeuta deve ajudar a mãe a obter algum “insight” dizendo-lhe:
“Você acha que Johnny não pode fazer isto por si mesmo. Você gosta de
BOOKS
dizer a ele tudo o que tem que fazer.’’ Entretanto, .uma tentativa,.assim
não é indicada aos terapeutas inexperientes.
É interessante notar que a maioria das crianças entra prontamente
na sala de brinquedos. Isto torna-se uma fonte de grande satisfação para
elas. Não há um sério problema no estabelecimento de um cálido e ami
gável relacionamento com a criança que vai espontaneamente com a tera
peuta.
15 bom lembrar que a terapeuta pode, desapercebidamente, influir de
GROUPS
maneira sutil no relacionamento, num esforço para obter um bom entendi
mento. Por exemplo, dizendo a um cliente cooperador: “ Oh, que belo garoto
você é! Você quer vir para a sala de brinquedos? Lá tem argila, tinta, e mui
tos brinquedos.” üma vez dentro da sala, talvez ele comece a pintar e diga
à terapeuta: “ Eu não pinto muito bem ." E ela responde: “Qual nada, eu
acho que está um desenho ótimo! E vocô o fez sozinho. E você não acha que
ele está assim tão bom , ” Finalmente ela reflete a atitude expressa pela crian
ça, mas este procedimento é bastante diminuído em seu valor, pelo tempo
que ela gasta em rodeios, o que não deveria ser feito.
E ainda há o caso de dois irmãos, um de quatro e outro de cinco
anos, que estavam tendo sessão de ludoterapia. Um deles estava pintando
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e, acidentalmente, espirrou tinta. Pegando um pano, ele limpou tudo, A
terapeuta disse: “Bobby é cuidadoso. Ele limpou tudo que sujou.” Daí en
tão, o contato passou a ser uma verdadeira exibição de quão cuidadosos
eram ambos, e os comentários eram sempre: "Olha, eu estou sendo cuida
doso, viu? Estou sendo cuidadoso." Não intencionalmente, a terapeuta agiu
diretivamente quanto ao comportamento das crianças. Elogios feitos àsl
ações praticadas na sala não são condizentes com a terapia.
Uma terapeuta ainda sem muita experiência examinou o caso de Oscar,
um menino de seis anos. Ele foi trazido por sua mãe. O pai tinha sido as
sassinado quando Oscar contava doÍ3 anos de idade. .No dia em que o pai
foi morto, ele caiu doente com um sério caso de sarampo. A mãe sofreu
um abalo nervoso e ficou hospitalizada durante três meses. Finalmente,
quando ela recobrou a saúde o suficiente para poder voltar á seu emprego
de secretária particular, trouxe Oscar de volta à casa e contratou uma ama
INDEX
para cuidar dele. Esta não foi satisfatória e muitas outras se sucederam
em pequenos intervalos de tempo.
Oscar não tinha o menor sentimento de segurança. Algumas destas em:
pregadas o maltratavam. Tomou-se uma das crianças mais desajustadas
que se possa imaginar. Era agressivo, hostil, negativista, inseguro, depen
dente e petulante. Era o protótipo de sentimentos conflituosos. Sua mãe,
vacilante e nenrosa, levou-o à psicóloga. Eis um trecho do contato inicial.
Mãe: Este é Oscar. Só Deus sabe o que a senhora pode fazer por ele.
Mas ei-lo.
BOOKS
Terapeuta: Você gostaria de vir à sala de brinquedos comigo?
Oscar: NAO! (grita)
Mãe (gritando também): Oscar! Seja polido. Pare com esta falta de
educação.
Oscar (mais alto que antes): Não! Não! Não!
Mãe: Bem, você está insistindo. Por que você acha que eu o trouxe
aqui? Para passear?
GROUPS
Oscar (choramingando): Eu não quero!
A terapeuta inexperiente se pergunta: “ E agora? Adulá-lo?” Nós te
mos lindos brinquedos na sala. Você é um lindo garoto. Vem comigo que
eu te mostrarei o. que temos lá para brincar.” Isto não é aceitar o menino,
exatamente como ele é. Ele não quer entrar. Ela deveria dizer, num tom.
de tristeza: “ Sua mãe te trouxe aqui e agora você não quer entrar na sala!”
Esta é uma reflexão dos sentimentos mas também, está transmitindo uma.
certa condenação. Fica implícito. "Ora, você é um garoto ingrato e indeli
cado!” Sê a terapeuta quer somente refletir seus ssntimentos, o que deve
ria ela dizer? “Você não quer vir comigo.” A terapsuta tenta isto.
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Terapeuta: Você não quer vir comigo.
Oscar: NAÓ! (Faz caretas para a terapeuta e cerra os punhos. ) Cala
a boca!
Mãe: Se você não for, vou deixar você aqui parâ sempre:
Oscar (Colocando-se à mãe e soluçando.): Não me deixe. (Soluça
histericamente.)
Terapeuta: Oscar está amedrontado porque sua mãe ameaçou deixá-lo
aqui!
Este é um reconhecimento do sentimento de Oscar, porém, inclui
uma condenação à mãe, que subitamente se inflama.
Mãe: Bem, eu tentei fazer alguma coisa; Deus é testemunha, Oscar,
que se você não calar a boca e for com a senhorita eu vou deixar você.
INDEX
Ou dar você para os outros!
Oscar: A senhora me espera? (Com voz queixosa.) A senhora esta
rá aqui quando eu voltar?
Mãe: Claro que eu estarei, se você se comportar.
Oscar (deixando seu agarramento desesperado à blusa da mãe e
transferindo-o para a blusa da terapeuta): A senhora espera?
Terapeuta: Você quer que sua mãe prometa que vai esperá-lo.
BOOKS
Oscar: A senhora promete?
Mãe: Eu prometo!
Terapeuta: Você não quer que eu feche a porta. Você tem medo de
GROUPS
ficar comigo se nós fecharmos a porta.
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e, acidentalmente, espirrou tinta. Pegando um pano, ele limpou tudo, À
terapeuta disse: “Bobby é cuidadoso. Ele limpou tudo que sujou.” Daí en
tão, o contato passou a ser uma verdadeira exibição de quão cuidadosos
eram ambos, e os comentários eram sempre: “ Olha, eu estou sendo cuida
doso, viu? Estou sendo cuidadoso.” Não intencionalmente, a terapeuta agiu
diretivamente quanto ao comportamento dag crianças. Elogios feitos àsl
ações praticadas na sala não são condizentes com a terapia.
Uma terapeuta ainda sem muita experiência examinou o caso de Oscar,
um menino de seis anos. Ele foi trazido por sua mãe. O pai tinha sido as
sassinado quando Oscar contava doÍ3 anos de idade. No dia em que o pai
foi morto, ele caiu doente com um sério caso de sarampo. A mãe sofreu
um abalo nervoso e ficou hospitalizada durante três meses. Finalmente,
quando ela recobrou a saúde o suficiente para poder voltar á seu emprego
de secretária particular, trouxe Oscar de volta à casa e contratou uma ama
INDEX
para cuidar dele. Esta não foi satisfatória e muitas outras se sucedèram
em pequenos intervalos de tempo.
Oscar não tinha o menor sentimento de segurança. Algumas destas em
pregadas o maltratavam. Tomou-se uma das crianças mais desajustadas
que se possa imaginar. Era agressivo, hostil, negativista, inseguro, depen
dente e petulante. Era o protótipo de sentimentos conflituosos. Sua mãe,
vacilante e nenrosa, levou-o à psicóloga. Eis um trecho do contato inicial.
Mãe: Este é Oscar. Só Deus sabe o que a senhora pode fazer por ele.
Mas ei-lo.
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Terapeuta: Você gostaria de vir à sala de brinquedos comigo?
Oscar: NAO! (grita)
Mãe (gritando também): Oscar! Seja polido. Pare com esta falta de
educação.
Oscar (mais alto que antes): Não! Não! Não!
Mãe: Bem, você está insistindo. Por que você acha que eu o trouxe
aqui? Para passear?
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Oscar (choramingando): Eu não quero!
A terapeuta inexperiente se pergunta: “E agora? Adulá-lo?” Nós te--
mos lindos brinquedos na sala. Você é um lindo garoto. Vem comigo que
eu te mostrarei o. que temos lá para brincar.” Isto não é aceitar o menino,
exatamente como ele é. Ele não quer entrar. Ela deveria dizer, num tom.
de tristeza: “ Sua mãe te trouxe aqui e agora você não quer entrar na sala!”
Esta é uma reflexão dos sentimentos mas também está transmitindo uma.
certa condenação. Fica implícito. “ Ora, você é um garoto ingrato e indeli
cado!” Sè a terapeuta quer somente refletir seus ssntimentos, o que deve
ria, ela dizer? “Você não quer vir comigo.” A terapauta tenta isto.
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Terapeuta: Você não quer vir comigo.
Oscar: NÃO! (Faz caretas para a terapeuta e cerra os punhos!) Cala
a boca!
Mãe: Se você não for, vou deixar você aqui pará sempre.
Oscar (Colocando-se à mãe e soluçando.): Não me deixe. (Soluça
histericamente.)
Terapeuta: Oscar está amedrontado porque sua mãe amea;ou déixá-lo
aqui!
Este é um reconhecimento do sentimento de Oscar, porém, inclui
uma condenação à mãe, que subitamente se inflama.
Mãe: Bem, eu tentei fazer alguma coisa; Deus é testemunha, Oscar,
que se você não calar a boca e for com a senhorita eu vou deixar você.
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Ou dar você para os outros!
Oscar: A senhora me espera? (Com voz queixosa.) A senhora esta
rá aqui quando eu voltar?
Mãe: Claro que eu estarei, se você se comportar.
Oscar (deixando seu agarramento desesperado à blusa da mãe e
transferindo-o para a blusa da terapeuta): A senhora espera?
Terapeuta: Você quer que sua mãe prometa que vai esperá-lo.
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Oscar: A senhora promete?
Mãe: Eu prometo!
Terapeuta: Você não quer que eu feche a porta. Você tem medo de
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ficar comigo se nós fecharmos a porta.
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INDEX
“Você pode brincar com todos os brinquedos que tem aqui, mas não po
de quebrá-los”, ou “As outras crianças usam estes brinquedos também,
por isso você não pode quebrá-los”, não estaria respondendo ao senti
mento expresso. E cairia na armadilha de responder apenas ao que a
criança diz e não ao que ela realmente sente.
BOOKS
Terapeuta: Você ainda está se sentindo valente.
Oscar: Eu vou... (De repente r i.) Eu vou... (Perambula pela sala
e pega o telefone de brinquedo.) O que é isto?
Este é outro desafio à terapeuta. Ela dirá “Você quer saber o que
é isto?” ou “ Isto é um telefone” . Parece mais vantajoso ao progresso des
ta sessão responder simplesmente à pergunta e não a seu verdadeiro sen
tido.
Terapeuta: Isto é um telefone de brinquedo.
GROUPS
Oscar: Eu vou estourar ele também.
Terapeuta: Você quer quebrar o telefone também.
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!
INDEX
te, palavra por palavra, ao telefone.
Oscar: Quê? Você quer saber se aqui nós temos uma casinhà de
bonecas? (Virando-se para a terapeuta.) Aqui tem?
(A casa de bonecas está eai completa evidência a li.)
Terapeuta: Nós temos uma casa de bonecas.
Oscar: Nós temos soldadinhos de brinquedo?
BOOKS
(Diz isso à terapeuta, que responde: “ Temos soldadinhos de brin
quedo.” )
Oscar prossegue nesta lista de todos os brinquedos que estão na
sala. A terapeuta responde a toda pergunta que lhe é dirigida. O que
Oscar está tentando fazer? É lógico que ele sabe a resposta das pergun
tas. Então, por que continua a perguntar? De que modo mais ele pode
ria estabelecer o contato com a terapeuta? Parece qúe é isso que ele es
tá tentando fazer. Após as perguntas sobre' os objetos à vista, diz ao te
lefone: “Quer saber se vou beijar a moça?” E para a terapeuta: “Vou té
GROUPS
beijar, moça?”
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pensava em fechá-la? Deveria ela nada dizer à criança e esperar que al
guém, ao ser incomodado pelo barulho viesse e pedisse para parar com
aquilo? Neste caso particular ninguém foi incomodado, e não se tornou
necessário fechar a porta. Entretanto, se alguém tivesse vindo, teria si
do necessário à terapeuta informar a Oscar que o barulho estava incomo
dando os outros e que, ou a porta deveria ser fechada, ou o barulho in
terrompido, permitindo a ele fazer a escolha e ficando alerta para refle
tir todos os sentimentos expressos até então. Isto contribuiria com uma
dose de realidade, o que criaria uma limitação à permissividade da situa
ção de-terapia. Na semana seguinte, Oscar,. voluntariamente, fechou a
porta, logo ao entrar na sala de brinquedos com a terapeuta. Não tives
se ele feito isto, a terapeuta deveria esperar que ele decidisse por si mes
mo. Sugerir isto teria sido uma tentativa de acelerar as coisas, o que não
se justifica. O espontâneo fechamento da porta pode indicar um certo
progresso no estabelecimento de relações. Isto parece ser uma atitu
INDEX
de de confiança na terapeuta, tanto quanto uma indicação de evolução,
por parte de Oscar, em relação à nova independência e capacidade de de
cidir.
BOOKS
reagem de maneiras diferentes em situações semelhantes — parece ser
vantajosa no desenvolvimento do contáto. Uma criânça um pouco mais
desenvolta entusiasma a turma. A criança tímida tem a vantagem de pôr
à prova a segurança da nova situação, observando alguém que lhe abra
o caminho. O desenvolvimento da auto-expressão parece ser alcançado
mais rapidamente, em algumas crianças, nas sessões em grupo. Além dis
so, uma criança pode se valer da presença das demais, caso as coisas es
tejam muito penosas para ela.
Os primeiros minutos na sala de brinquedos, usualmente, parecem
GROUPS
ser constrangedores para as crianças. Esta é uma nova experiência e elas
reagem de várias maneiras, proporcionalmente ao medo sentido; com lá
grimas e até com crises próximas da histeria, aventurando-se em atividades
exploratórias.
O terapeuta precisa ser prudente para evitar se concentrar numa
criança, em detrimentro das outras. Deve fazer um esforço para integrar
no grupo todas as crianças tímidas, mesmo que elas estejam apenas à
espera de um sorriso amigável.
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INDEX
BOOKS
GROUPS
79
INDEX
BOOKS
GROUPS
9. ACEITANDO A CRIANÇA
COMPLETAMENTE
INDEX
A completa aceitação da criança é evidenciada pela atitude do te
rapeuta, que mantém um relacionamento calmo, firme e amigável com
ela. Cuida em nunca mostrar-se impaciente. Evita críticas ou reprimen
das diretas ou implícitas, assim como evita elogiá-la por atos ou pala
vras. Tudo isso exige vigilância de sua parte. Há diversas armadilhas
nas quais pode cair um terapeuta descuidado. A criança é um ser muito
sensível e percebe sempre quando é rèjeitada, ainda que de uma forma
velada, por parte do terapeuta.
BOOKS
Quando alguém se detém para considerar que a criança foi trazida j
à clínica porque seus pais querem modificá-la, pode concluir (e acerta-/
damente, ao que parece) que os pais estão rejeitando uma parte da cri-\ *
ança, se não a rejeitam totalmente. Portanto, aceitação completa parece
ser de importância primária para o bom resultado da terapia. De quê
maneira pode a criança adquirir a coragem de exprimir seus verdadeiros
sentimentos, se não é totalmente aceita pelo terapeuta? Como pode evitar
o sentimento de culpa resultante das coisas que faz, se não se sente acei
ta, a despeito do que possa dizer ou fazer? A aceitação não implica na a-
GROUPS
provação do que ela esteja fazendo, nunca seria demais insistir. A apro
vação de certos sentimentos negativos que a criança pode exprimir se-j
ria mais um obstáculo do que um auxílio.
Jean foi trazida à clínica por sua mãe. Jean é uma menina de doze
anos, impossível de ser controlada. Não respeita sua mãe, briga com os
lrmãozinhos menores, não quer contato com os outros meninos ná esco
la. Depois das apresentações, Jean vai para a sala de brinquedos com
INDEX
papo?” “N ão.” A terapeuta bate com o lápis em seu bloquinho de ano
tações, tamborila com os dedos impacientemente, olha para Jean com um
ar de aborrecimento. O silêncio- é enlouquecedor. Há entre as duas uma
batalha silenciosa, da qual Jean está plenamente consciente.
A terapeuta, depois de um longo silêncio, pergunta: "Jean, você sa
be por que é que está aqui?” Jean olha para ela. "Sua mãe te.trouxe aqui
para que nós te ajudássemos.nos problemas que você tem.” Jean olha
para o outro lado. “ Não tenho problema nenhum” , diz friamente. “ Pois
bem, esta hora você poderá usar do jeito que quiser”, replica a terapeu
BOOKS
ta. Jean está amuada. A terapeuta está bem próxima de ficar amuada
também. Passam-se vários minutos. Então:
Terapeuta: Você foi à escola hoje?
Jean: Pui.
Terapeuta: Correu tudo bem?
Jean: Sim. (Mais Silêncio.)
Terapeuta: Sabe, Jean, estou aqui para te ajudar e quero que você
GROUPS
me considere sua amiga. Bem que você poderia me contar o que está te
amolando.
Jean (suspirando): Não tem nada me amolando!
Não Kã mais dúvidas; a terapia está bloqueada. O relacionamento
ainda não foi estabelecido. Jean tem a aguda consciência de que aqui,
também, não é aceita e se ressente muito da tentativa de sua mãe de mu
dá-la, o bastante para que isso a faça resistir até o fim. Em tais circuns
tâncias, que deve fazer a terapeuta?
Às vezes esta pensa que é possível inspirar o desejo de atividade,
se pegar na argila e começar a enrolá-la de maneira convidativa, fazendo.
83
INDEX
palavra “problema”, o que Jean nega ter. Mas a terapeuta não aceita sua
negação. E lhe diz que gostaria de ouvir a respeito do que a preocupa.
Diz lhe que aquela hora pode ser usada da maneira que bem entender.
A primeira reação de Jean é usá-la para calar-se e resistir. A terapeuta
inexperiente tenta de novo, perguntando-lhe se foi à escola. E, de modo
ainda insistente e inoportuno: “ Quero que você me considere sua amiga.”
De nada adiantou, pois a terapeuta não estava sendo consistente, não a
estava aceitando, nem estava tendo uma atitude terapêutica.
BOOKS
participar de maneira mais sutil implica, da mesma forma, numa não-acei-
tação. Se a menina está lutando por aceitação fora da clínica, por que
deveria continuar a fazê-lo aqui dentro? Se é óbvio que ela não quer brin
car nem conversar, por que não ser compreensiva e permissiva a ponto
de deixar que ela simplesmente fique ali em silêncio? Depois de explicar
a situação claramente, mostrando-lhe que ela pode brincar com qualquer
coisa dentro da sala, ou usar aquela hora da forma que deseje, a terapeu
ta compreensiva prosseguiria o jogo assim como foi determinado pela
criança e se o silêncio fosse a ordem do dia, ela o observaria. Seria bom
GROUPS
que se incluísse, na explicação preliminar, que a menina, ali, tem o privi
légio de brincar ou não, de conversar ou não, como quiser; e depois que a
criança tenha feito a sua escolha, o papel da terapeuta é esperar por ela.
Se a terapeuta achar que deve fazer alguma coisa, que se ocupe rabiscan
do notas ou fazendo caricaturas; mas deve estar alerta, para perceber
qualquer sentimento expresso pela menina. Um suspiro profundo, um
olhar pela janela, podem ser usados por ela — "É chato ficar sentada
aqui comigo. Talvez você preferisse estar lá fora.” Diante dessa compre
ensão, Jean relaxaria um pouco. Mas se permanecesse insensível, a tera
peuta deveria continuar aceitando a da mesma forma.
Isto coloca-nos uma questão: quanto tsmpo deve a criança perma-
INDEX
vos, o terapeuta deve ficar alerta para também aceitar esses sentimentos.
i O silêncio, numa hora dessas, pode ser um instrumento usado pela cri-
/ança, indicando desaprovação e falta de aceitação. O tom da voz, a ex-
I pressão facial, até os gestos usados pelo terapauta aumentam ou dimi-
jn u em o grau de aceitação que se está dando à situação.
BOOKS
ança não sinta que está sendo comparada ou posta em contraste com
outro membro do grupo. Tal sentimento pode ser despertado de forma
espontânea, se o elemento de elogio ou crítica, direto ou indireto, é in
troduzido pelas respostas do terapeuta. Uma afirmativa do tipo “ Johnny
sabe o que fazer, estão vendo, já está todo ocupado” poderia muito facil
mente ser tomada como uma crítica por outros membros do grupo, se
por acaso estiverem gozando do encanto de uns poucos minutos de in
dolência, enquanto silenciosamente avaliam a situação. Ou quando a cri
ança enrola uma bola de argila, parecendo que não sabe o que fazer de
GROUPS
la, uma pergunta do tipo “Não está sabendo o que fazer, Bill?” surge co
mo uma crítica à atividade indecisa da criança. Parece que os estímulos
mais valiosos do ponto de vista terapêutico são reflexos de sentimentos
e atitudes expressos mais do que estímulos com um conteúdo determi
nado. O tom de voz e a maneira imparcial psla qual esses estímulos são
distribuídos contribuem muito para eliminar o sentimento, por parte da
criança, de que está sendo criticada pelo terapeuta.
Parece claro que o sentimento de completa aceitação pelo terapeu
ta estabelece-se mais facilmente nos contatos terapêuticos-individuais, do
que nos contatos de grupo, porque o elemento de comparação ou de crí
tica implícita não entram na situação.
84
BOOKS
po que passa na sala de brinquedos, é tornada possível pela permissivi
dade estabelecida pelo terapeuta. Numa certa medida, isso depende de
uma expressão verbal da permissividade por parte do terapeuta, mas vai
bem mais longe que isso. Quando a criança e o terapeuta entram na sa
la de brinquedo, este díz: “Pode brincar com tudo isso aqui do jeito que
quiser, durante uma hora.” Se a criança for tímida, ou tiver experiên
cias anteriores tão inexpressivas que não saiba como usar o material,
alguns terapeutas sentem que é uma boa medida demorar-se mais apon
tando e explicando o modo de usálos, na primeira vez que vão à sala.
“ As tintas nesta caixa foram feitas para pintar quadros. Aqui está o pa
GROUPS
pel, ali os tubos de tinta. Nes'a jarra tem argila. Você pode trabalhar
com ela e fazer um monte de coisas bonitas. Isso aqui é pintura de de
dos. Molhe o papel assim, ponha um pouquinho da tinta em cima dele
e espalhe-a com as mãos. Aqui estão os fantoches. Ponha-os na mão as
sim. Pode falar como se fossem elss — dizer tudo o que você quer que
eles digam. Aqui é a casinha de bonecas. Este é o pai e esta é a mãe, es
te é o filhinho. Agora pode brincar com tudo o que quiser, do jeito que
quiser. Você vai ter uma hora só para você."
Durante a primeira hora a criança explora o material e fica muito
atenta à atitude do terapeuta. Por isso é que só palavras não são o bas
tante . A permissividade estabelece-se também pe’a atitude do terapeuta
85
'em relação à criança, pela sua expressão facial, pelo seu tom de voz e
—t? I seus gestos.
INDEX
—P escolha de usar ou não usar o material, de acordo com os desejos da ci
ança.
BOOKS
companhe. Isso parece mais uma técnica de auxílio, que nada tem a ver
com a terapia não-diretiva. A criança continua a depender do terapeuta
e será mais um bloqueio a romper mais tarde, durante as sessões poste
riores. Aí então, a mudança de técnica poderá causar confusão na crian
ça, deixá-la ressentida e, conseqüentemente, provocar um afastamento
da participação ativa. Parece que a absoluta permissividade, construída
sobre absoluta ausência de sugestões, é mais produtiva para a terapia.
Se o terapeuta diz: “Pode brincar como quiser” , e a criança não parece
querer brincar, a melhor solução é deixá-la ali sentada, sem nada fazer. -
GROUPS
Se o terapeuta se mostrar amigável para com a criança e aceitar seu si
lêncio e indolência, está fazendo-lhe ver que realmente pensava no que
disse e que ela realmente pode fazer como quiser. A criança vai tomando
consciência de sua responsabilidade para escolher. Governa-se a si mes
ma. É ela quem decidirá o curso da ação que seguirá. Aqui não há nin-
guém para dizer-lhe o que deva fazer. Há segurança no relacionamento,
mas não ajuda. Às vezes leva-se um certo tempo, até que a criança acei
te esse sentimento de auto-suficiência. Ela própria pode procurar algo
que a ajude a ganhar independência e capacidade de auto-dirigir-se, mas
a interferência do terapeuta só retarda o processo de caminhar para a
obtenção disto.
INDEX
cípio, elas encaram ceticamente essa atitude permissiva. Testam-na. A
criança que fica sentada sem nada dizer pode estar testando o terapeu
ta, para ver se ele realmente tenciona fazer o que lhe disse. Uma vez
mais, essa indolência pode ser uma resistência passiva, contra a mudan
ça que alguém parece querer lhe impor. A criança resiste a todos os es
forços para mudá-la. Se a falta de participação, durante a hora de tera
pia, exprime seu ressentimento contra as pressões exteriores, é melhor
permitir-lhe que mostre esse ressentimento daquela maneira.
BOOKS
Continua em todos os encontros com a criança. É algo delicado de
nanejar. Requer do terapeuta uma constante atenção para que se
itenha uma atmosfera permissiva. Há muitas coisas que podem per
turbar o sentimento de permíssividade — às vezes, sem que o terapeuta
tenha a menor intenção de fazê-lo. Não se deve tentar güiar, de forma !
alguma, a conversa ou os atos da criança. Isso qúér dizer que nenhun «í"
pergunta, tencionando esquadrinhar sua vida íntima, deve lhe ser feit;
Por exemplo, May, de cinco anos de idade, que foi trazida à clínica
GROUPS
por causa de uma experiência traumatizante no hospital, está brincando
com a família de bonecas. Pega na bonequinha, deita-a em seu carrinho
de bebê e empurra-a pelo assoalho. A terapeuta, pensando captar a ex
periência crucial, pergunta: “A menininha está indo para o hospital? “Es
tá”, diz a criança. “Está com medo?" “Está.” “E o que acontece?” Aí,
a criança, virando-lhe as costas, vai para a janela e pergunta: “Ainda fal
ta muito tempo? A hora ainda não acabou?” É assim que ela afasta a per
gunta indiscreta. A criança ainda não está pronta para explorar a expe
riência que, para ela, foi tão perturbadora. Não foi aceita como ela é.
Não lhe permitiram abrir aquela porta no exato momento em que se sen
tisse com forças para enfrentar o que está por trás dela.
87
INDEX
tipo de atividade ou para criar um sentimento dé culpa. Da mesma for
ma que a reprovação ou a crítica negativa. A atmosfera deve ser neutra.
BOOKS
ela ficou tão desencorajada que sujou-o todo de preto? Ou está sentida
com o terapeuta, por não ter apreciado a sua obra de arte como devia?
Ou é uma reação da criança contra a sua falta de aceitação? Se o tera
peuta acompanhar a criança, conseguirá que ela revele seus verdadeiros
sentimentos, de maneira reconhecível. O que não deve é pôr-se à sua
frente, ou tentar ler na situação algo que nela não existe.
GROUPS
Quando esta se sente tão firmemente aceita pelo terapeuta a ponto de
poder bater na boneca-mãe, ou enterrar o bebê na areia, ou deitar-se no
chão e tomar mamadeira, embora já tenha nove ou dez anos, quando ela
\pode fazer todo isso sem um sentimento de culpa ou de ridículo, é aí que
lo terapeuta conseguiu fazê-la sentir sua permissividadej A criança está
livre para exprimir seus sentimentos. Dá vazão a seus impulsos mais a-
gressivos e destruidores. Grita, urra, espalha areia pela sala toda, joga
água no chão. Libertando-se de suas tensões, toma-se emocionalmente re
laxada. É assim que são estabe’ecidos os alicerces para um comporta
mento construtivo. Ela se livrou de seus antigos sentimentos; está pron
ta para experimentar os novos. A experiência traz à criança uma visão
interior de seu comportamento. Ela se entende melhor. Ganha confiança
88
INDEX
no boneco-pai, talvez Jean ganhe a coragem necessária para bater no be
bê (se é isso o que sente). Uma criança que tenha sido sempre muito
inibida em suas ações e que tenha medo de confusão ou sujeira pode sen
tir-se tentada a brincar com a pintura de dedo, que parece dar tanto
prazer a seus colegas. As crianças notam como o terapeuta aceita pron
tamente as expressões de cada membro do grupo e essa liberdade de ex
pressão parece ser contagiante. ■
BOOKS
GROUPS
89
INDEX
BOOKS
GROUPS
INDEX
O terapeuta fica em alerta para reconhecer os sentimen
tos que a criança está exprimindo e os reflete de maneira tal que
possibilite, a ela, obter uma visão interior do seu comportamen
to.
BOOKS
“ Uma boneca”, responde o terapeuta. Aponta para as tintas: “E isso?" “Tin
ta. As crianças pintam naquela tela, se têm vontade disso.” “Que é isso?” e
assim por diante. Alguns terapeutas, tentando captar sentimentos, têm res
pondido: “ Tente imaginar o que é isso” , mas parece que esse tipo de res
posta retarda mais a terapia do que a ajuda a prosseguir, g aconselhável
responder a perguntas objetivas de maneira direta, o que permite à crianca
ir adiante, partindo daquele ponto. Na maioria das vezes, não passa de uma
tentativa da criança de fazer relaç5es ccm o tarapsuta. Que mais têm eles
em comum, a respeito do que possam falar? No entanto, o térapeuta d evei
ficar atento aos sentimentos que a criança está expressando, seja por meio
GROUPS
de conversação direta, seja através do brinquedo, que é a maneira natural
dela demonstrar seus sentimentos.
Reconhesimento e interpretação de sentimentos são duas coisas in
—
INDEX
I Diz pra sua mãe que está com medo, mas ela o obriga a sair de qualquer j
\ jeito e ele se enterra na areia.” A criança está falando do “menino”, e a te- j
rapeuta fala também do “menino” . Parece estar lhe devolvendo exatamente }
as suas palavras. Se tivesse dito: "Você está com medo e sua mãe não liga j
pra seus medos; e isso lhe deixa ainda mais apavorado”, estaria pondo-se à l
frente da criança e interpretando suas observações. Talvez a interpretação f
seja correta, mas há o perigo de colocar alguma coisa para a criança, antes J
que ela esteja pronta para isso. Quando ela diz: “Estou com medo também.
E às vezes choro, mas mamãe me obriga a fazer isto de qualquer jeito”, aí
BOOKS
sim, está pronta para a resposta direta: "Você está com medo”, etc. En
quanto sentir que é necessário usar a boneca como intermediário, a tera- l
^pauta deve usá-la também. /
GROUPS
permissividade para que mudasse do que fora estabelecido nos contatos de
aconselhamento para o que seria nos de ludoterapia. Ele pôde escolher seu
meio de expressão. Seus sentimentos lhe foram devolvidos com clareza su
ficiente para que lhe fosse possível obter uma visão interior, de forma a po
der evoluir da negação de que tivesse problemas para a compreensão de que
todo mundo pode tê-los, inclusive ele. A situação permissiva que lhe deu
o direito de ficar ou ir-se embora, de falar ou calar-se, parece tê-lo relaxado
e lhe assegurado de que aquela hora era realmente sua, de que poderia usá-la
como bem entendesse. É interessante notar que, na última parte do con
tato, uma vez mais ele voltou à sua afirmativa original de que nada tinha
a dizer, e quando isso foi reconhecido e a terapeuta lhe ofereceu a possibili
92
INDEX
Um dia, Jack foi em casa fazer uma visita. Há muito tempo que a
planejava. Queria pegar seus brinquedos. Há cinco semanas antes dessa
visita à sua casa que freqüentava as sessões de ludoterapia. No primeiro
dia, depois que voltou, Jack entrou na sala com um sorriso.
BOOKS
Jack: Porque acharam que isso ia me fazer ficar triste: ver os dois e
depois ter de ficar lá sozinho. Foi o que meu pai disse. E eles me levaram
pra fazer um piquenique, tomamos sorvete, chupamos bala, passeamos de
barco. Disse pro papai que queria levar meus brinquedos. Perguntei pelo
meu revólver. E fomos passear no campo também. (Durante todo o tem
po em que Jack esteve contando a sua história, pintava uma mancha ver
de bem limpa, cercada de tinta preta. No final, todo o papel estava cober
to de preto.) Pois é, fui lá em casa. Mas não peguei meus brinquedos. E
meu irmão tinha quebrado meu revólver. E olha que ele tem brinquedo
GROUPS
pra burro. Brinca o tempo todo. Ele fica lá.
Terapeuta: Você foi à sua casa, mas ficou desapontado com a visita.
(Essa observação é uma interpretação — ela está tirando uma conclusão do
que lhe foi dito por Jack.) Você não conseguiu os brinquedos que foi pro
curar e seu irmão quebrou o seu revólver.
93
INDEX
e cuspi-la no chão.)
Terapeuta: Você está muito zangado com seu pai e seu irmão. Você
gostaria de cuspir na cara deles, porque não te trataram bem.
Jack: Eles quebraram meu revólver. (Foi até a pia, tornou a encher
a mamadeira e voltou a cuspir em seu pai e seu irm ão.) Lá em casa tem um
tapete novo. Olhe. Vou cuspir no tapete e molhar ele todo. Vou estragá-lo.;
E no temo novo de meu irmão também. Vou cuspir no temo dele e estragar
ele todo.
BOOKS
Terapeuta: Você vai estragar o tapete novo e o temo novo, e, com
isso, acertará as contas com seu pai e seu irmão.
Jack (violentamente): Odeio meu pai! Odeio meu irmão!
Terapeuta: Você odeia seu pai. Você odeia seu irmão.
(Jack, de repente, senta-se, muito calmo. Sua voz amansou e ele pôs
de novo o bico na mamadeira. Começou a mamar.)
Jack: Quando lui lá em casa, não sabia quanto tempo ia ficar. Não
levei roupa que chegasse. Fiquei mais tempo do que eu pensava. Eu nunca
GROUPS
sei de nada. Eles nunca me contam nada.
Terapeuta: Você nunca sabe o que esperar deles. Não pode fazer pla
nos para suas visitas, pois nunca lhe dizem quanto tempo você pode ficar.
Por isso é que você nunca tem roupa que chegue.
Jack (pegou no boneco-pai e bateu com sua cabeça na mesa.): Toma!
Isso é pra você! Toma, toma!
Terapeuta: Você está batendo nele.
INDEX
Terapeuta: Ele te roubou coisas que você acha que são suas.
Jack (pega uma bola de argila): Posso ficar com essa argila pra mim?
Terapeuta: Você gostaria de ficar com ela pra você, mas não posso
dá-la. Ele pertence a essa sala, sabe? Pode Usá-la quando vier aqui, mas
não pode levá-la pra fora daqui.
BOOKS
querem levar alguma coisa daqui. Se deixássemos, não haveria mais nada
pra vocês brincarem, quando viessem aqui.
Terapeuta: Não.
GROUPS
(Jack tirou de sua calça um enorme alfinete de segurança. Sua calça,
que era uns quatro números maior, quase caiu. Ele tentou alargar o orifi-
cio do bico com o alfinete. Depois olhou para suas calças com desgosto
evidente.)
95
isso significaria muito para você. Você queria pegar seus próprios brinque
dos e seu revólver, mas não conseguiu. Agora quer que eu te dê essa argila,
mas isso eu não posso fazer, porque ela tem de ficar aqui. (Isso decidida
mente, foi interpretação da parte da terapeuta, e não é muito boa coisa pra
ser incluída nesse estágio da terapia, pois vai muito além do simples pedido
de argila feito pela criança.)
Jack (triste): Ninguém me dá nada. (Isso é um reflexo do que a te
rapeuta disse.)
Terapeuta: Isso te faz infeliz. (Isso se baseou no tom de voz e na
expressão facial do garoto.)
Jack: Mas se você desse tudo, aí a gente não podia mais voltar aqui.
(Tirou a argila do bolso e botou-a na mesa.) Quer dizer, poder vir, a gente
podia, mas não ia ter mais nada com que brincar.
Terapeuta: Certo.
INDEX
Jack: Devolvi a argila, viu? Olha aqui o pedaço que eu tirei.
Terapeuta: Você queria a argila e a tirou, mas não ficou com ela.
Quer que eu veja que a devolveu.
Jack (revira os bclsos): Tá vendo? Davolvi. (Tentou botar o alfinete
de volta na calça, mas não conseguiu. Enfiou o alfinete com força e se es
petou. Praguejou.)
Terapeuta: Você está tendo problemas com esse alfinete?
BOOKS
Jack: Não consigo enfiar.
Terapeuta: Quer que eu te ajude?
Jack: Quero. Quem me dera eles me dessem umas roupas que servis
sem em mim.
GROUPS
Fiz uma bela sujeira hoje, hein?
Terapeuta: Você acha que fez uma bela sujeira. (Jack limpou a sala.)
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A P L IC A Ç Ã O À T E R A P IA D E G R U P O
INDEX
para entender a maneira de brincar das crianças, perceberá quando é que
elas estão tentando apenas chamar sua atenção. Sua resposta deve refletir
esse desejo de atenção que está por trás da atividade. No exemplo seguinte,
a terapeuta não considerou esse aspecto.
Delbert: Vou pintar um quadro pra minha mãe.
Terapeuta: Você quer fazer alguma coisa pra sua mãe.
Jenny: Vou pintar um quadro, também.
Terapeuta: Você também quer pintar, como Delbert.
BOOKS
Delbert: Isso ó pra mamãe.
Terapeuta: Vooê quer fazer algo para sua mãe.
Jenny: Isso é pra mamãe... pra minha mãe... pra minha m ãe...
Terapeuta: Você também quer fazer alguma coisa para sua mãe.
Delbert: Isso é um tanque pra minha mãe.
Jenny: Isso é um tanque maior ainda pra minha mãe.
Delbert: O meu vai ser do tamanho do papel. O tanque grandão da
mamãe.
GROUPS
Jenny: O meu ainda vai ser maior que esse papel. Vou colar um no
outro e vou dar pra mamãe o maior tanque do mundo.
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INDEX
Billy: Você não vai fazer elas pararem? Não vai bater nelas?
Terapeuta: Você acha que eu devia fazer elas pararem 6 talvez bater
nelas.
BOOKS
Terapeuta: Você está muito zangada e quer machucar Evelyn pra
valer.
GROUPS
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INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
INDEX
O terapeuta mantém um profundo respeito pela capacida
de da criança de solucionar seus próprios problemas, se uma opor
tunidade lhe for dada. A responsabilidade de fazer escolhas, ou
de estabelecer mudanças, pertence à criança.
BOOKS
te, deve vir do interior do indivíduo, como resultado de um “insiglit” que
ele adquiriu. Quando o terapeuta coloca nas mãos da criança, a responsa
bilidade de mudar ou não mudar, é nela que está centralizando a terapia.^/
Mudança em seu comportamento não quer então dizer conformismo de al
gum tipo de pressão, pois o conformismo a certos padrões estabelecidos
não é um sinal de ajustamento. O terapauta tenta fazer com que a crianca
compreenda aue é responsável por si mesma. Não se aplica pressão alguma
para levá-la a isso. É uma parte da estrutura terapêutica. Começa coní*T
cõisaspequênas — coisas materiais, na sala de brinquedos — e o seu campo !
GROUPS
de ação vai aumentando através do relacionamento. É dada à criança uma 1
possibilidade de conquistar seu equilíbrio. Ela adquire auto-confiança e \
auto-respeito. Constrói sua auto estima. Essa hora é toda sua. Está por sua J
própria conta. Quer brincar? E, em caso afirmativo, com quê? Ela équem
faz a escolha, e seja lá o que escolher, o terapeuta estará de acordo. Quer
simplesmente ficar sentada ali? Para o terapeuta não fará a mínima dife
rença. Ele permanece amistoso, relaxado e interessado. Não a segura. Ele
a compreende. A criança pode perceber isso palas observações que ele faz.
Parece saber exatamente o que a criança está sentindo, o que faz com que
esta o procure. Ela pode escolher o brinquedo com o qual vai brincar. O
terapeuta nunca faz objeções às coisas em que ela paga.
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INDEX
para a terapeuta para ver como ela vai encarar isso.)
Terapeuta: Você quer. tomar a mamadeira. (Ele chupa o bico com
mais força.)
BUI: Eu sou um bebê. (Fala com voz de bebê.)
Terapeuta: Agora você é um bebê.
Bill: Ti bom! (Falando errado, como um bebê.)
Terapeuta: Às vezes é bom ser um bebê.
BOOKS
(Bill deita-se no chão, balbuciando e tomando a mamadeira. Que im
portância tem os seus oito anos? Agora ele é um bebê. A terapeuta não dá
mostras de se aborrecer com seu brinquedo de bebezinho. Durante vinte
minutos ele se faz de bebê, pois sabe que a terapeuta o acompanhará du
rante todo o tempo que lhe aprouver brincar assim. Vive a experiência
relaxado, seguro em seu relacionamento. Não há diferença se ele é um bebê
chorão ou um jovem selvagem sedento de sangue; aceitam-no inteiramente.
Depois que satisfaz seu desejo de mamar e de ser um bebê, ele tira o bico
da mamadeira e bebe o resto da água.)
GROUPS
Bill: Está vendo, estou bebendo cerveja agora, feito papai.
Terapeuta: Agora você já não é mais bebê. Você cresceu. (Isso tam
bém é interpretação.)
Bill: Pois é. (Deixa de lado a mamadeira. Ele fez sua escolha. E
mais divertido ser um adulto do que um bebê.)
(Bill empunha um revólver e prepara os soldadinhos para a batalha.
Começam suas agressões. Mata um, depois o outro. Divisões inteiras são
ceifadas. Ele urra como um assassino sanguinário. A terapeuta continua a
refletir seus sentimentos.)
100
Bill (gritando): Seus filhos da mãe, por que não fazem o que eu digo?
Vou matar vocês. Vou matar vocês todos. (E ele o fa z.)
Terapeuta: Não fizeram o que você mandou e você os matou.
Bill: Esse tanque vai esmagar a única cabana que ficoú. Mas olha,
esse cara vai dar o fora. Esse sou eu, e vou dar o fora daqui.
Terapeuta: O tanque arrebenta a cabana, mas você se livra. Nada
acontece com você.
Bill: Ele dá o fora. Puxa, ele está morrendo de medo! Olha como ele
treme. Acha que eles vão matá-lo.
Terapeuta: Ele está com medo.
Bill: Aí o inimigo vem atrás dele e quase dá cabo dele, mas aí ele dá
uma reviravolta e dá no pá.
INDEX
Terapeuta: Quase que o pegaram, mas ela ainda teve tempo de se
safar.
Bill (gritando): Ele grita “ MAMAE!”
Terapeuta: Ele chama a mãe porque está com medo.
Bill: E quando ela aparece, ele mata ela.
Terapeuta: Ele mata a mãe quando ela aparece.
Bill: É. Ela não queria fazer o que ele disse a ela.
Terapeuta: Ele a matou porque ela não fazia o que ele queria.
BOOKS
Bill: É, mas depois ele leva ela pro hospital e ela fica boa de novo.
Terapeuta: Ele a faz ficar boa de novo.
Bill: Aí foram pro cinema e vimos "O Pirata Vermelho Ataca Outra
V ez.” Você já viu “O Pirata Vermelho Ataca Outra Vez?”
Terapeuta: A mãe e o menino foram ver "O Pirata Vermelho”, depois
que a batalha acabou.
Bill: Você já viu esse filme?
GROUPS
Terapeuta: Não.
Bill: Puxa, é bacana! Há um menino no meu quarto que tem um cin
turão de Pirata Vermelho. Legal!
Terapeuta: Você gosta dos filmes e dos cinturões do Pirata Vermelho.
Bill: Você ouve os programas do Pirata Vermelho no rádio?
Terapeuta: Infelizmente não.
Bill: É bacana. Basta mandar dez caixas de cereal Hunchy Crunchy e
dez centavos, para ganhar um cinturão daqueles. Vou mandar assim que
puder.
Terapeuta: Você também quer ganhar um cinturão.
ioi
INDEX
Jerry foi a criança mais tímida e desajustada que jamais deu entrada
numa sala de ludoterapia. Tinha quatro anos, era mentalmente retardado,
e seu crescimento físico estava atrasado. Não falava, sua coordenação mo
tora era muito pobre, e não parecia possuir a menor auto-direção. Trouxe
ram-no à sala de terapia por causa de seus medos irracionais, por seus pro
blemas de alimentação, e porque sua mãe achava que, em resultado dessa ex
periência, ele aprenderia a falar.
Quando a terapeuta viu Jerry pela primeira vez, deparou com um su-
BOOKS
jeitinho chorão, inseguro e assustado, que não percebia nada do que se
passava à sua volta. Balbuciava e andava em círculos, quando a terapeu
ta tomou-o pela mão e levou-o para a sala. A mãe de Jerry combinara con
versar com outra psicóloga que a ajudaria em seus problemas.
A terapeuta levou Jerry para a sala, cheia de apreensão. Que é que
uma criaturinha daquelas poderia fazer na sala de terapia? Esse caso ilustra
o poder do indivíduo para amadurecer, se lhe for dada uma oportunidade.
As notas tomadas pela terapeuta revelam interessante desenvolvimento.
PRIMEIRO CONTATO
GROUPS
Jerry olhou para os brinquedos à sua volta, na sala. Depois, começou
a pegar nos brinquedos, dar-lhes uma olhadela e deixá-los cair no chão de
novo. Grunhiu, murmurou, mas nada disse de inteligível. Pegou no cami
nhão do exército, deu um sorrisinho e jogou-o no chão. Levantou a caixa
com a família de bonecas, pegou-as uma por uma e foi jogando-as no chão.
Depois foi até a caixa de cubos e repetiu sua atividade, jogando-os a esmo,
sem nem olhar para que lado caíam. Durante essa brincadeira, grunhia e
murmurava baixinho. Seus movimentos eram nervosos, apressados, desco
ordenados. As coisas caíam-lhe das mãos e ele não fazia qualquer esforço
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INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
para segurá-las. Depois pegou no martelo e começou a dar marteladas na
mesa, mas não conseguia controlá-lo. Depois de um período de marteladas,
pagou os talheres de brinquedo e atirou-os através da sala. Por fim, todos
os objetos existentes na sala tinham sido jogados ao chão. Jerry pegou no
trenzinho e começou a empurra lo pela sala.
Durante essa brincadeira, toda vez que ele ria, a terapeuta dizia: “Jer
ry gosta de fazer isso”, ou "Jerry acha isso engraçado.” Ocasionalmente, ele
agarrava um caminhãozinho de brinquedo ou uma boneca e grunhia para
a terapeuta. Ela dizia o nome do objeto que ele estava segurando. Jerry
parecia encontrar grande satisfação nisso. Começou a centralizar sua aten
ção nesse tipo de atividade. Pegava no brinquedo, estendia-o para a tera
peuta, esta dizia-lhe o seu nome, depois do que ele o deixava cair de volta
ao chão, para ir pegar uma outra coisa.
INDEX
Depois de um momento, começou a preferir o caminhão por mais
tempo. A terapeuta continuou a repetir o nome dos brinquedos, especial
mente “ caminhão”, que ele segurava com mais freqüência. Até que, en
fim, Jerry disse “ caminhão”, ao segurá-lo. A maior parte do tempo man
tinha os olhos fechados e tateava por entre os brinquedos, em vez de
tentar realmente brincar com eles.
BOOKS
tendo os caminhões um no outro.” Aí éle começou a berrar. Batia os
caminhões um no outro, cada vez com mais força, berrando alguma coi
sa que soava como: “ Caminhão quebrou!”
GROUPS
ra, depois voltou a pegar o caminhão. O carro de bombeiros voltou com
todo seu barulho e de novo ele reagiu como fizera antes. Novamente a
terapeuta lhe disse: “Jerry está com medo do barulho.”
Então Jerry segurou a mão da terapeuta e tentou transmitir-lhe
alguma mensagem. Disse-lhe, enfaticamente: “Faz! Faz!” “Você quer que
eu faça alguma coisa”, disse-lhe a terapsuta. Jerry puxou-a com mais for
ça e repstiu “Faz!" Parecia compreender o que a terapeuta lhe dizia. Fi
nalmente, quando a terapeuta se levantou, ele a levou até a caixa de brin
quedos que estava no chão e, pegando sua mão, colosava-a na caixa de
brinquedos. E então, punha um brinquedo na mão dela para, depois, diri-
103
6/5/2015 INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
gila até sua própria mão. Finalmente a terapeuta compreendeu que Jer
ry queria que ela lhe entregasse os brinquedos. A terapeuta o fèz, dando-
lhe de cada vez um brinquedo, que ele prontamente jogava no chão. Ele
ainda se agarrou à mão da terapauta, como se quisesse que ela fizesse
alguma coisa. Esta começou a dizer o nome dos brinquedos, à medida
que os estendia a Jerry e era isso realmente o que ele queria. Começou a
sorrir, depois a tagarelar, rir e gritar. Ocasionalmente berrava “cami
nhão!". Depois ajoelhou-se no chão, coberto de brinquedos espalhados, e
empurrou-os pela sala, rindo e gritando.
INDEX
SEGUNDO CONTATO (dois dias depois)
Jerry pareceu mais tímido durante essa sessão, do que durante a pri
meira. De cada vez que um bonde passava pela rua, ele choramingava e
dava demonstrações de medo. Quando o horário acabou, a sua mãe con
tou que, ao vir para a clínica, ele andara c’e bonde pala primeira vez e ti
vera tanto medo, que ela pensara que seria obrigada a descer. Contudo,
ela insistira e, embora ele chorasse e gritasse durante todo o trajeto para
a clinica, ficaram no bonde.
BOOKS
Durante toda a hora de terapia, Jerry continuou a se libertar de
seus medos. Pegou nos bichinhos de madeira e nas bonecas e atirou-os
longe. Acidentalmente, um deles fi:ou de pá ao cair. Jerry olhou para
ele e riu. A terapeuta lhe disse: “ Jerry gosta de colocar o bichinho de
pé.” Depois de levantá-los, derrubava-os de novo. Brincou com as bonecas
e os bichinhos dessa maneira, durante uns dez minutos, depois voltou à
sua velha brincadeira de jogar tudo pelo chão. Gastou a maior parte do
tempo fazendo isso. Depois pegou o trapo de limpar pincéis, enfiou-o na
vasilha de água para pintura de dedo e passou uns cinco minutos espre
mendo a água no chão.
GROUPS
Cada vez que um bonde passava, ele choramingava e gritava e, de
cada vez, a terapeuta dizia: “Jerry está com medo do barulho.” No fim
da hora, quando o bonde passou, ele foi até a janela, mas não chorou.
Só tentou olhar para fora. "Bonde” , disse-lhe a terapeuta, e ele repetiu:
"onde, onde” .
a subir nela. Ele atirou longe punhados de areia, por três minutos, de
pois tentou sair da caixa. Choramingou, pedindo que a terapeuta o levan
tasse, e esta disse: “Jerry quer sair da caixa de areia.” Ele tentou fazê-
lo sozinho e ela deu-lhe o mínimo possível de assistência.
Foi até a caixa de brinquedos e começou a tirá-los de lá. Olhava
para a terapeuta e grunhia. Ela sorriu para el3 e lhe disse: “Jerry quer
tirar os brinquedos da caixa." Ele deu as costas à terapeuta e olhou pa
ra dentro da caixa. Tirou dali o caminhão, estendeu-o para a terapeuta e
disse: "Caminhão.”
Depois fez a mesma coisa com uma vaquinha de madeira; parecia
estar querendo que ela lhe dissesse o seu nome. Voltavam à rotina. En
tão ele escolheu, deliberadamente, a vaca, o caminhão, e o boneco e es
tendeu os um a um para a terapeuta, que lhes dava nomes; ele então repe
INDEX
tia: "Caminhão.” “Vaca." “Menino.” Depois ele atravessou a sala com eles
e foi até a caixa de areia; entrou nela sozinho, ficou jogando areia fora
durante uns cinco minutos, depois saiu de lá de dentro sem ajuda.
Quando os bondes passavam, ele sempre ia até a janela, olhava pa
ra fora e choramingava, e de cada vez a tarapeuta refletia seu medo do
barulho. Ele foi até onde estava a boneca, pegou nela, embalou-a um pou
co, depois deixou-a cair.
Subiu no banco e apontou para o vidro de pintura de dedo, com tin
ta azul. A terapeuta o abriu e derramou um pouco de tinta azul em ciina
BOOKS
do papel. Jerry inclinou-se e olhou para ela. “Está vendo?”, disse a tera
peuta, mostrando-lhe como espalhar a tinta. Ele começou a chorar. “Jer
ry não gosta disso." E realmente ele não gostava, e desceu da mesa. Mais
tarde ele voltaria a olhá-la e, levando a terapeuta até a mesa, tomaria sua
mão e a enfiaria na tinta, para logo largá-la, bem depressa. Depois jogou
ims cubos no chão, pegou a boneca maior e a mamadeira e começou a
dar-lhe de mamar. Jogou a boneca no chão, pôs a mamadeira no berço e
tentou olhar pela janela. Depois pegou no caminhão e começou a empur
rá-lo pelo chão.
QUARTO CONTATO
GROUPS
Jerry entrou sozinho na caixa de areia. Encontrou um caminhãozi-
nho dentro da caixa e gastou dez minutos enchendo-o e esvaziando-o. De
pois, saiu da caixa sozinho, foi até a janela, olhou para fora, pegou uns sol
dadinhos e voltou para a caixa. A areia entrou em seus sapatos e ele co
meçou a chorar. A terapeuta tirou-lhe os sapatos e meias.
Cada vez que um bonde passava, Jerry levantava a cabeça, mas já
não apresentava sinais de medo e, a cada vez, a tsrapeuta lhe repetia a
palavra: “bonde” e ele balançava a cabeça. Lá pela metade da hora, ele
repetiu: "bonde”, quando um deles passou.
105
Brincou na caixa por mais dez minutos, depois saiu dela e foi pro
curar os pratos de brinquedo. Levou uma xicara e uma colher para a cai
xa e ficou brincando de encher a xícara e esvaziá-la com a colher. De
pois ficou subitamente alegre, e jogava grandes punhados de areia longe,
rindo e gritando.
INDEX
do: "Caminhão!” e “ Bang, Bang!”, rindo. Quando a campainha tocou anun
ciando o final da hora, ele teve um estremecimento. Depois riu.
A terapeuta pôs suas meias e sapatos para ele, e Jerry voltou à sa
la do espera.
QUINTO CONTATO
BOOKS
na caixa de areia e brincou com os pratinhos e caminhões por meia-ho-
ra. Depois saiu de lá, pegou a boneca, enrolou-a num cobertor e ficou
com ela no colo por uns dez minutos; depois disto colocou-a carinhosa
mente no berço e voltou para a caixa, onde ficou brincando por uns vin
te minutos. Durante esse brinquedo, sempre que ele psgavanum objeto di
ferente a terapeuta dizia: “Agora Jerry está brincando com o patinho”,
ou “Agora Jerry está brincando com o cavalinho.” Jerry fez um esforço
para repetir os nomes e conseguiu dizer: "pato” e “ vaca” .
üma vez, durante esse contato, quando um bonde passou ele olhou
GROUPS
para a terapeuta e disse: “bonde." Nem uma vez deu mostras de ter medo.
SEXTO CONTATO
Não pareceu nem uma vez notar o barulho dos bondes, ou qualquer
outro barulho. No final da hora, sentou se no chão e calçou-se sem aju
da. Precisou de um certo auxílio para pôr os sapatos, mas esforçou-se por
fazê-lo sozinho.
SÉTIMO CONTATO
INDEX
ajuda e, no final, pôs as meias sem dificuldades, mas para calçar os sa
patos ainda foi preciso ajudá-lo um pouco.
OITAVO CONTATO
BOOKS
em vez de cadarços. Conseguia manejá-los sozinho. Subiu na caixa de a-
reia e começou a brincar com os brinquedos que tinha eleito como seus
favoritos — os bichinhos, os pratos, os caminhões. Ficou ali até o fim da
hora, rindo a maior parte do tempo. Um carro de bombeiros passou du
rante esse período, mas ele nem notou. Na hora de ir embora, calçou-se
sem dificuldade. Não conseguia fazer passar o elástico, mas o resto ele
fazia facilmente.
Esse foi o último contato que a terapeuta teve com Jerry. Ela sen
tiu que ele poderia ser ajudado por contatos mais freqüentes, e não deu o
GROUPS
caso por acabado, mas devido ao fechamento da clínica, não foi possível
vê-lo de novo. Foi a clínica quem deu um fim aos contatos, e não a mãe
Ambos foram encaminhados a uma nova clínica, onde continuaram o seu
tratamento.
107
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mente dito em casa, pois sua mãe não tinha meios de saber com que brin
quedos ele se distraía e que palavras teria dito, durante a hora de lu-
doterapia. Ficou muito contente, quando ele começou a tentar a calçar-se
e descalçar-se sozinho. Disse que ele estava comendo melhor, e interessa
va-se mais pelas coisas que o cercavam. Disse que a maior mudança nele
era o aumento de sua atenção e capacidade de concentração. Seus brin
quedos tinham agora um certo objetivo, e duravam horas, enquanto que,
antes, ele nada mais fazia, senão pegá-los e deixá-los cair novamente.
É claro que a atitude da mãe deve ser levada em consideração,
quando se tenta dar conta das transformações que se operaram em Jer-
ry. Cada vez que ele se encontrava na sala, a mãe visitava um psicólogo,
para uma consulta não-diretiva. Com isso, ganhou uma certa visão dos pro
blemas de seu relacionamento com o filho, o que influenciou suas atitu
des e gestos para com ele. Comentou, uma certa vez, que agora Jerry era
INDEX
muito mais difícil de manejar, pois parecia estar desenvolvendo uma ma
neira própria de pensar, mas sabia que isso era para bem, e recebia a mu
dança de braços abertos.
Examinando esse caso, o leitor pode perguntar o que aconteceu a
srry, para trazer tanta mudança? Terá sido porque, na sala de terapia,
e experimentou, pela primeira vez na vida, um sentimento de indepen-
ãncia e de auto-suficiência? Será porque nessa experiência ele foi leva-
5 a agir por sua própria conta, e ganhou com isso uma auto-confiança
10 lhe permitiu ir mais adiante? Terá tido um “insight” de seu valor
BOOKS
imo indivíduo atuante?
32 interessante notar a maneira pela qual ele explorou o material
-sto à sua disposição, e como, finalmente, centralizou sua atenção nuns
/ poucos escolhidos, embora todos os outros tivessem estado à sua vista,
durante todos os contatos. Isso é a prova de que até Jerry podia fazer
escolha por si próprio, se lhe dessem uma oportunidade para isso, tanto
quanto dar início a mudanças em seu próprio comportamento. Aparente-
m<>nte nr-Vioi, sua independência muito mais satisfatória do que a depen-
anterior. Deve ter experimentado um sentimento de segu-
GROUPS
ilacionamento, que lhe permitiu dominar seus medos e an-
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BOOKS
GROUPS
10 »
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INDEX
BOOKS
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INDEX
O terapeuta não tenta dirigir os atos ou a conversa da crian
ça, de maneira alguma. É ela quem o faz. O terapeuta a acompa
nha.
BOOKS
Não critica o que ela faz, para que ela não se sinta desencorajada e de
sajustada. Se pede ajuda, ele a dá. Se pedir indicações sobre a maneira
de usar o material, ele as fornece.
INDEX
sido dito que podiam escolher, descobrir que, a menos que sua escolha
coincidisse com a dos adultos, ela seria nula e vazia. Como resultado de
vários tipos de experiências diferentes, as crianças a princípio mantêm-
se receosas das conseqüências da permissividade na sessão de terapia.1
Isso pode ser notado quando a criança conta sua hora de terapia a um
amigo: — “Juro que você nunca viu nada igual. Você pode fazer tudo o
que quiser, mesmo! Parece mentira, mas é verdade!”
A hora da terapia não é apenas uma outra hora de recreio, ou ho
ra social, ou experiência escolar. É a hora da criança. O terapeuta não
BOOKS
é um companheiro de brincadeira, não é um professor, não é um subs
tituto da mãe ou do pai: é uma pessoa única aos olhos da criança. É o
palco onde pode pôr à prova sua personalidade. É a pessoa que segura o
espelho onde ela se verá. O terapeuta guarda para si suas opiniões, seus
entimentos e sua orientação. Quando se considera que a criança está na
sala de terapia para ter contato consigo mesma, percebe-se que as opi
niões e desejos do terapeuta não são benvindos. A criança é bloqueada
pela intromissão da personalidade do terapeuta, no brinquedo. Conse- j
qüentemente, este deve manter-se de fora. a criança_quem indica o
GROUPS
caminho. ÇMerapeuta a acompanha.
Isto é ilustrado no trecho seguinte. Richard, de nove anos, está
num jardim de infância particular. Indicaram ludotsrapia para ele, por
que é um sonhador, porque faz xixi na cama e fala feito bebê. Testes de
inteligência provaram que a sua era mediana, e apesar disso, seus tra
balhos escolares eram um fracasso. Esse trecho é da quarta sessão.
Mostra de que maneira a criança usa a terapia, quando lhe permitem
íazê-lo, e toma clara a diferença entre o papel do terapeuta e o do adul
to típico com o qual ela está acostumada.
Richard veio para a sala, sentou-se à mesa e começou a pintar
manchas coloridas. Usava tinta vermelha e alaranjada. Sorria para a
terapeuta.
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INDEX
eu passe pro quinto ano, mas eu disse pra ele que não quero. Gosto de
tomar bomba.
Terapeuta: Você gosta de tomar bomba.
Richard: Escrevi para minha mãe; disse pra ela que vou pra casa no
meu aniversário. Disse pra ela que ia fazer cinco anos e que queria cin
co velinhas no meu bolo.
Terapeuta: Você quer fazer cinco anos nesse seu aniversário.
Richard: O aniversário do papai é no mSs que vem. Ele vai pro exér
cito. No mês passado ele veio me ver. Sabe o que ele me perguntou?
BOOKS
Se eu queria um irmãozinho ou uma irmãzinha. Eu disse que não me
importava. Acho que eles vão arranjar um. (Nesse ponto, ele pinta lis
tras pretas sobre as bolhas vermelhas e alaranjadas.)
Terapeuta: Você disse a seus pais que não se importava se eles ar
ranjassem outro bebê.
Richard: É, foi o que eu disse.
Terapeuta: Foi isso o que você disse, mas na realidade você se im
porta.
GROUPS
Richard: Sabe, meu pai e minha mãe não são mais meus pais. Eles
se divorciaram e papai casou-se de novo. (Suspira fundo e fecha a caixa
de tintas com um baque forte. Vai até a estante e pega a mamadeira.)
Richard: Sou um bebezinho.
Terapeuta: Bem que você poderia ser o nenenzinho deles. (Interpreta
ção.)
Richard vai pegar o tabuleiro de xadrez e o traz para a mesa, sentan
do-se em frente à terapeuta.
Richard: Joga comigo.
(Coloca as peças do tabuleiro e começam a jogar, mas é Richard quem
diz à terapeuta que peças mexer e para onde.)
Terapeuta: Você quer me dizer o que devo fazer neste jogo.
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INDEX
Terapeuta: Seja quem for, não resta dúvida que é poderoso.
Richard: Pode fazer tudo. (De repente pára de brincar, reorganiza
as peças como se fosse jogar normalmente, depois coloca um rei verme
lho do lado do tabuleiro em que está a terapeuta, no canto esquerdo da
última carreira.) Esse aqui é o menininho viu? Está sozinho. Sua mãe
mandou ele embora. Não teve outro jeito, sabe? Não tinha lugar pra ele
e ela tinha de trabalhar. (Está muito nervoso. Move rapidamente os de
dos por cima do tabuleiro e toca levemente as peças.)
Terapeuta: A mãe mandou o menininho embora.
BOOKS
Richard: Esse é o pai do menino. Esse é o avô dele. Essa aqui é
a outra mãe, que se casou com o pai. Essa é a tia. E essa (a peça no can
to oposto a todas as outras) é a mãe dele. Agora esse pessoal — (Move-os,
colocando-os entre a mãe e o menino.) — esse pessoal não vai deixar que
ele chegue perto dela, e essa outra mãe também não vai deixar que o pai
venha pra perto dele, e o menino grita: “ Socorro! Socorro!” Aí os solda
dos escutam, vêm correndo, lutam com o pai. A mãe corre pra lá. O pai
corre pra cá. A outra mãe só fica olhando. A í... (Richard joga longe a
peça que representa o pai. Esta rola pjlo chão.) Não, não!(Ele está mui
GROUPS
to excitado, aos berros.) A mãe está chegando mais perto. A outra mãe
avança pra ela. Elas lutam. (Mistura as pedras e atira-as para fora do ta
buleiro, fazendo-as rolar em todas as direções.) Mãe! Mamãezinha! (Ri
chard chora. Depois levanta-se e enxuga os olhos.)
Terapeuta: Você quer estar com sua mãe. O pai e a mãe querem
ambos ajudar o menino, mas a outra mãe não deixa que eles cheguem
perto.
Richard (concorda com a cabeça): É isso. (Vai para a janela e dá
as costas à terapeuta.)
Terapeuta: Isso te faz ficar muito infeliz.
Richard: Vou estar com minha mãe no dia de meu aniversário.
Terapeuta: Você vai gostar disso.
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INDEX
Terapeuta: Se ele quiser, pode vir.
Richard: ótimo. Vou mandar o Ned.
BOOKS
brir a identidade do gigante. A terapeuta deixou que o próprio Richard ►
se dirigisse, e acompanhou-o o melhor que pôde. Não lha ofereceu suai
simpatia nem sua ajuda. Deixou seus próprios sentimentos inteiramente I
fora da situação. —'
GROUPS
anças do grupo pode tentar dirigir as aç5es e conversas das outras, mas
essa direção não tem o mesmo sentido da exercida pelo terapeuta. Este,
em tal circunstância, deve prestar muita atenção às suas respostas, de for
ma que não transmitam à criança dominadora nem o mais leve poder de
direção.
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ança, é melhor não correr esse risco. Esse princípio impõe restrições ao
terapeuta. Não é fácil deixar que a criança dirija ela mesma o brinquedo,
quando parece que ela está bem próxima do centro do problema e, no
èntantó, vê-se que ela gira em tomo dele. A experiência ensina que não se
pode apressar a terapia.
INDEX
BOOKS
GROUPS
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INDEXO
SER APRESSADA
BOOKS
está pronta para exprimir seus sentimentos em presença do terapeuta,
ela o fará. Não se pode forçá-la a fazê-lo às pressas. Uma tentativa des-_
se tipo obriga-a a retroceder. Muito freqüentemente as crianças passam
por um período de brinquedo aparentemente sem significado, durante a
hora de terapia. Tal período exige paciência e compreensão por parte
do terapeuta. Algumas crianças chegam muito vagarosamente àquilo que
o terapeuta consideraria como uso terapêutico da hora. No entanto, até
chegarem aí, elas vão reunindo condições de se expressarem. Se o tera
peuta deixá-las em paz, deixá-las demorar o quanto quiserem, será larga
GROUPS
mente recompensado por seu comedimento.
A criança vive num mundo extremamente agitado. As coisas passam
por ela com espantosa velocidade. Fazem-na correr para cá e para lá.
Ela é lenta por natureza. Esse mundo é muito grande e ela precisa de tem
po para tomá-lo nas mãos. Todo mundo conhece aquele tipo de adulto que
nunca deixa as crianças fazerem as coisas sozinhas, porque — como ele
diz — "elas iam levar a vida toda” . Por exemplo, a exasperação muito co
mum demonstrada por alguns adultos, quando uma criança não consegue
abotoar o casaco “às pressas”, ou amarrar os sapatos "às pressas” — pois,
na verdade, não há muita coisa que elas consigam fazer, assim, “ às pressas”.
Os adultos, então, vêm correndo e fazem tudo para elas multiplicando assim
as tensões e frustrações.
INDEX
____ ) Se o terapeuta pensa que a criança tem um problema e quer atacá-lo
fo rn a is depressa possível, deve lembrar-se de que o que ele sente não é
/importante. Se a criança tem um problema, ela o trará para fora apenas
quando estiver pronta. O problema de desajustamento é tão complexo,
que não ss pode simplesmente traçar um círculo em torno de uma expe
riência individual e dizer: "É isso!” A personalidade da criança é um meca
nismo tão complexo que é difícil, se não for impossível, isolar um dos ele
mentos que a fazem assim e dizer: “É isto que está causando todos esses
problemas.” O terapeuta não conhece a criança tão bem quanto ela própria
BOOKS
se conhece. Não pode expressar os verdadeiros sentimentos da criança tão
exatamente quanto ela própria pode expressálos. Ele pode ser capaz de
refletir os sentimentos expressos. Pode ser capaz de, em certos casos, qua
se adivinhar. Mas não pode pretender conhecer todos os sentimentos da
criança.
GROUPS
-A
crianças se movem lentamente como tartarugas. Que ele se lembre de que
a criança está vivendo em um dinâmico mundo de relacionamentos huma
nos. As condições que criaram o desajustamento ainda podem estar ope
rando. A criança talvez não seja capaz de combater as outras forças que a
^tolhem em seu crescimento psicológico.
O terapeuta deve tentar ver as coisas do ponto de vista da criança,
deve tentar desenvolver uma empatia para com ela. Deve ter sempre em
mente o princípio de que a mudança não pode ocorrer sem a participação
do indivíduo, e de que as mudanças que realmente valem a pena vêm de
dentro para fora. Deve lembrar-se de que o crescimento é um processo
gradativo.
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INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
Já foi dito algumas vezes que a experiência de grupo parece acelerar a
terapia. No entanto, o terapsuta não deve acelera la. O emprego de uma
técnica que force a criança é perigosa e de resultado duvidoso. Pode ser
que não cause mal algum à terapia, mas pode ser também que provoque
um retrocesso ou uma destruição do “rapport".
INDEX
BOOKS
GROUPS
INDEX
('
(
I
(
BOOKS
(
I
GROUPS
(
INDEX
O terapeuta estabelece apenas aqueles limites necessário
para que se situe a terapia no mundo da realidade, e para que a
criança tome consciência de sua responsabilidade no relaciona-
I mento
i - ■
I
Os limites estabelecidos nos relacionamentos da terapia não-diretiva
são, naturalmente, muitò poucos, mas muito importantes. Parece essencial
para uma terapia mais profunda que a maioria dos limites~si restrinja às
BOOKS
coisas materiais, tais como evitar que se destrua irremediavelmente o mate
rial de brinquedo, que se danifique a sala, ou que se ataque o terapeuta.
Também os limites de senso-comum, que visam a proteção da criança de
vem ser incluídos. Parece haver pouco, ou nenhum valor, numa hora de
terapia gasta com uma criança que se dependura numa janela alta, ou se
ocupa com alguma coisa perigosa para ela. Se ela deve sair da sala de terapia
com uma sensação de segurança e de respeito pelo terapeuta, deve ser tra
tada de maneira tal, enquanto estiver na sala, que esses sentimentos pos
sam ser estruturados. Isso não significa que o terapeuta deva tomar-se
GROUPS
um apoio ou uma proteção. Significa, isso sim, que ele está convencido
de que, para ter efeito, a hora de terapia não deve estar tão desvinculada
da vida quotidiana, a ponto de que o que nela acontece não possa ir além
da sala de terapia. O terapeuta deve ter sempre em mente que a terapia"
bem sucedida liberta sentimentos que trazem o desenvolvimento de "insi-
ghts”, que acabarão por trazer uma auto-direção mais positiva. -----
,121
INDEX
O elemento tempo é o limite mais óbvio. O encontro está fixado.
À duração do contato de ludoterapia está determinada e é mantida. Se a
sessão está marcada para o horário de dez às onze, e a criança chega às
dez e meia, é às onze que ela termina. Certas circunstâncias, no entanto,
podem alterar até essa determinação de tempo — se as circunstâncias do
atraso, por exemplo, foram inevitáveis. A criança, cu o adulto que a traz, de-
vem perceber que o limite detem po é muito real- Não é aconselhável prolon-
t gar o tempo, a pedido da criança. Eventualmente, ela virá a perceber os
pl limites de tempo, e uma aceitação consciente disso pode ser muito útil.
BOOKS
O material da sala é o meio através do qual a criança expressa seus
sentimentos. Há vários tipos de material à sua disposição. Se ela se sente
agressiva, há brinquedos com os quais pode dar vazão a seus instintos.
Seus sentimentos são reconhecidos e o terapeuta tenta canalizar as ações
em direção ao material mais adequado.
GROUPS
la com ele, derrubar os brinquedos, mas não pode jogá-lo pela janela.” Se
ele se enfureoe porque o terapeuta tenta intjrferir em algo que queria fa
zer, esse sentimento deve ser-lhe imediatamente devolvido: “Você está zan
gado porque não o deixei fazer isso.” Se a criança encara o terapeuta com
ar furioso e parece querer jogar-lhe o cubo no rosto, há outro sentimento
a tornar reconhecido: “Você está furioso comigo, porque só te deixei jogar
o cubo no chão, onde ele não há de fe.ir ninguém, e não vai estragar na
da.” O terapeuta está ajudando o menino a enfrentar seu problema de de
sajustamento, em face de um mundo realista. Fora da clínica, ele encon
trará obstáculos, assim que tentar dar vazão a seus initintos destruidores
— e sem que haja o reflexo de seus sentimentos. Parece mais útil para a
122
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J criança que se a faça enfrentar os limites que lhe serão impostos pelos re-
; lacionamentos humanos, do que deixá-la dar livre curso aos seus impulsos
Ldgstrutivos.
INDEX
E quanto à criança que infringe o limite? Suponhamos que apontê~)
com um cubo para a janela e, embora seu sentimento seja reconhecido e j
lhe digam que não o faça, ela o atire. Usualmente, o reconhecimento é su- j
ficiente para impedir que se jogue o cubo; mas suponhamos que, dessa j
vez, não o seja. O terapeuta deve estar alerta para a possibilidade de j
que a criança não deixe o cubo de lado. Deveria tentar impedir que o j
cubo fosse atirado, sem se lançar numa luta corporal com a criança. Mas
se o cubo fosse jogado pela janela, o que fazer? Passar
criança? Expulsá-la da sala de brinquedos? Ou agir como __ ___ __ ,
BOOKS
portasse? Tal situação seria um real desafio para o terapeuta. Ele não ;
poderia, nem mesmo temporariamente, deixar de lado seus princípios bá- /
sicos, e rejeitar a criança porque esta o desobedeceu. Continuaria ali, j
refletindo os sentimentos da criança: "Era importante para você jogá-lo \
de qualquer jeito. Queria me mostrar que podia fazê-lo” . --—/
Já foi dito que o material na sala deve ser o mais sólido possível. \
Certas coisas, entretanto são quebráveis. As mamadeiras e os vidros de j
tinta podem ser quebrados — e quase sempre o são — às vezes por aciden- \
te, e às vezes, deliberadamente. Quando forem quebrados por acidente, o te- \
GROUPS
rapeuta deve retirar os cacos do caminho, como msdida de segurança, da. J
maneira mais rápida e eficiente que puder, reconhscendo o fato de qus~
foi um acidente .O que deve fazer o terapeuta quando a criança quebra al
guma coisa de propósito? Reconhecer o sentimento que provocou a ação,
remover os cacos, se estes estiverem no meio do caminho, e continuar o
contato sem substituir o objeto quebrado? Parece que tal comportamento
mostraria à criança a sua responsabilidade pelos seus atos. O terapeuta
deve prestar muita atenção à sua atitude e às respostas que dá, nesse mo
mento, para que não se crie na criança um sentimento de culpa. Se sua
aceitação da criança for verdadeira, esta não se sentirá culpada, mesmo que
tenha infringido um dos limites.
123
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INDEX
zendo, de ganhar uma compreensão de si mesma que lhe permita auto-
controlar-se. Através dessa viva experiência na sala de brinquedos, ela
descobre a si mesma como uma pessoa, assim como novos caminhos
que lhe permitam ajustar-se ao relacionamento humano, de maneira sau
dável e realista.
É necessário que de uma forma ou de outra, esta experiência es
teja vinculada à realidade. De que melhor maneira fazê-lo, senão esta--
belecendo os limites que provêm do bom-senso? É importante que, de
pois de se ter estabelecido os limites, eles sejam seguidos à risca. C orf'
BOOKS
'sistência dentro da sala de terapia é ião importante quanto a consis
tência no relacionamento diário. Esse elemento de consistência é que
[transmite à criança um sentimento de segurança. A consistência de
mostrada pelo terapeuta é que dá à criança a certeza de ser aceita. A
|consistência na permissividade com que é encarada a situação é que de
termina a profundidade até onde pode ir a criança na expressão de seus
sentimentos. —
GROUPS
perar até que surja a necessidade de uma elucidação desse gênero? Al
guns terapeutas acham que isso deve ser feito assim que a criança en
tra na sala pela primeira vez, de modo que ela não se sinta frustrada
ou traída, quando se deparar com um desses limites. Outros pensam que
a expressão verbal dos limites poderia parecer um desafio e chamar a
atenção da criança para as atitudes que eles implicam. Sentem, também,
que isso talvez impedisse certas crianças de manifestar seus sentimen
tos negativos ou violentos, com medo de, com isso, desagradar ao tera
peuta.
INDEX
poderá mais voltar, até a semana seguinte. A menos que isso seja feito,
a criança pode muito facilmente transformar a hora de terapia num en-
tra-esai interminável. Feito isto, a criança percebe que não pode fugir
de sua responsabilidade de enfrentar o problema, a menos que prefira sa
crificar o que resta de sua hora de contato terapêutico. Se quiser fazer
assim, é porque realmente sente a necessidade de sa safar desta vez —
ainda não está pronta para a terapia. Há exceções para isso, que o te-
Tapeuta deve encarar de maneira inteligente e realista. Um terapeuta sen
sível será capaz de diferenciar entre esse tipo de comportamento e üma
BOOKS
necessidade real da criança de deixar a sala — por exemplo, para ver
se sua mãe ainda está lá, — ou para esconder suas angústias.
__J Deve-se tomar cuidado para não confundir os limites com formas I
de pressão. A terapia não-diretiva não dessja exercer pressões para pro
vocar mudanças na criança. Toda mudança digna de nota vem de den
tro para fora. Por isso, o terapeuta evita usar de um limite para focali
zar um problema. Por exemplo, uma criança que tenha problemas de ali
mentação não recebe, como condição para vir à sala, a ordem de comer.
GROUPS
À criança antisocial não se diz que deve b.i.icar com as outras crianças,
ao ingressar num grupo. Esses não são limit’ s honestos. Não passam de
chantagens impostas a uma criança que já está sob o impacto de pressões
excessivas e, por serem chantagens, não são dignas de ocupar um lu
gar na terapia auto-diretiva. É a criança quem escolhe se vai ou não fa
lar. O problema é dela e não do terapeuta.
125
INDEX
/7a o grupo se forem manejados indevidamente. Assim como podem tor
nar-se uma ajuda eficaz e positiva, sempre que forem introduzidos no
brinquedo de maneira sincera e natural. —J
BOOKS
pensam que esse tipo de agressividade é atividade valiosa, desde que o
terapeuta consiga mantê-la sob controle, e observar se está sempre pre
sente o espírito de esportividade. Outros acreditam que há mais prejuí
zo do que benefício em ataques físicos, e que isso tende a envolver o
terapeuta num papel que exigirá dele uma tomada de posição de autori
dade e julgamento, o que, vez por outra, poderia parecer parcialidade
para com certo membro — ou membros — do grupo. É opinião da auto
ra que a exclusão das agressões físicas poderia ser um dos limites da te
rapia de grupo, mas que a introdução deste limite não ocorra até o mo^
mento em que o terapeuta perceba que o ataque está iminente .Um tapi-
GROUPS
nha ou um murro de leve podem ser aceitos sem problemas pela crian
ça que os recebe e a introdução de uma “frase limitadora” por parte da )
terapeuta poderia, quando tal ato ocorresse, desviar a atividade do gru- /
po para canais indesejáveis. E se isso, no entanto, acontecer, as atitudes
negativas devem ser manejadas pelo terapeuta. Por exemplo, se uma cri
ança esbofeteia uma outra de leve porque esta está fazendo alguma coi
sa que a aborrece, o terapeuta deve dizer: “Você não gosta do que Jim
está fazendo e chegou até a bater nele.” Se dissesse, no momento desse
primeiro incidente: “Mas não pode bater nele, enquanto estiverem aqui
na sala de brinquedos” poderia parecer às outras crianças e ao Jim, que
ele estava sendo protegido. O grupo poderia dividir-se em facções pró e
126
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INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
contra Jim e estaria lançado às crianças um desafio para que descobris
sem até onde poderiam ir. Se o limite não fosse mencionado até um se
gundo incidente desse tipo, ele seria bem mais aceitável para o grupo. O
terapeuta teria de tomar o cuidado de incluir todas as crianças que se
tivessem esbofeteado, se achasse necessário falar a respeito. Por exem
plo: “Primeiro Jim bateu em Bob, depois foi Bob quem bateu em Jim,
porque um não gostava do que o outro estava fazendo. De agora em diante, /
vamos deixar os tapas e murros de lado. Tentem resolver suas divergências V
de algum outro modo” . O tom de voz é muito importante em tais casos.
Não deve trazer em si nenhuma crítica ou desaprovação. Deve haver a
mesma aceitação das duas crianças. Deve ser uma informação calma e
firme, que apresente o limite de tal maneira, que ele se transforme numa j
parte construtiva da terapia.
INDEX
BOOKS
GROUPS
INDEX I
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f
f
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IMPLICAÇÕES NA EDÜCACÃO
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BOOKS
Uma professora cuja mente seja assaltada por ansiedade, medos ê~~j
frustrações, não pode ènsinar satisfatoriamente. Uma criança cuja vida
emocional esteja em conflito e confusão não pode ser um aluno satisfató
rio. Se a escola pode contar com um programa terapêutico, incluindo ao 4"
mesmo tempo a possibilidade de consulta para os adultos e consulta e ludo-
terapia para as crianças, está equipada, então, para atender quem procura i
sua ajuda. ______
Já foram assinalados progressos feitos pslas escolas na desenvolvi
mento de técnicas para resolver problemas na área da saúde mental. Vá
GROUPS
rios volumes já foram escritos sobre seleç?.o de professores, organização
e reorganização de currículo e programas de higiene mental. Repetidamen
te, enfatiza-se a velha verdade de que mais vale prevenir do que remediar.
Procurando as madidas profiláticas necessárias para prevenir sérios desa
justamentos por parte dos alunos, as escolas incorporaram em seus pro
gramas alguns desenvolvimentos bastante admiráveis.
A educação progressista coloca uma ênfase toda especial na aceitação
da criança como ela é, e no encorajamento da auto-expressão. Os progra
mas progressistas já foram experimentados o suficiente para que se tomas
se possível, aos estudantes, avaliar os seus resultados. Essa avaliação in
dica que, apesar da educação progressista ter muitas vantagens sobre a as
sim chamada educação tradicional, algo tem faltado a ambas, no que diz
respeito à obtenção de saúde mental para todos os alunos.
131
6/5/2015 INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
INDEX
práticas educacionais, são enormes.
BOOKS
’ fi numa atmosfera assim tensa e rígida que nervos jovens explodem e ge
ram-se tempestades emocionais.
Quando May, uma jovem alta, mais velha que sua turma, desengon
çada e suja, vestida de farrapos e embaraçada entra na sala, a professora
estará tratando melhor de sua saúde mental se lhe endereçar o mesmo
sorriso que destina à filha do diretor da comissão educacional da escola,
em vez de òlhá-la de alto a baixo e, ofensivamente, psrguntar-lhe por que
não se lava. No último caso, May sentirá uma gelada repulsa. Não será ca
paz de manter qualquer tipo de contato com sua professora. A professora"
GROUPS
rque procura estabelecer uma boa saúde mental, cria amizade e calor huma- j
^no em relação a todos e a cada um de seus alunos.
A professora aceitará cada criança exatamente como ela é. É prática
comum aceitar o fato de Johnn^ ser canhoto, ou Marlene estrábica. E nin
guém espera que Jimmy, o coxinho, corra junto com os outros meninos.
Essas diferenças físicas são suficientemente óbvias para fazer com que se
dê à criança uma especial consideração. Mas o que fazer do adoles
cente cuja timidez é torturante, e que, ainda assim é "obrigado a falar dian
te de seus colègas, para não levar bomba”? Ou o menino de 1'' grau, ima
turo, que é iniciado nos primeiros exercícios de leitura, só porque cronolo
gicamente tem seis anos? Talvez ele, intelectualmente, tenha essa idade, mas
e se for emocionalmente infantil? Ou o menino de oito anós cujas relações
familiares foram tão frustrantes, e que foi privado por tanto tempo de senti
mento de segurança ou de sucesso, que sua agressividade toma, na escola,
uma forma visível e ativa e ele grita: “Detesto a escola! Detesto você! De
testo todo mundo I” A professora deveria aceitá-la como um indivíduo dinâ
mico, que está reagindo compreensivamente contra uma situação ruim, e
dizer-lhe: “Às vezes você sente que nos detesta a todos — a escola, eu, todo
mundo.” Ou deveria atirar sua autoridade contra sua rebeldia, dizendo-lhe:
“ Não diga mais nem uma palavra!”
A professora deve estabelecer um sentimento de permissividade em
seu relacionamento, de modo que a criança se sinta livre para exprimir seus
sentimentos e para ser ela mesma. Numa situação terapêutica, a criança
■exprime completamente seus sentimentos. Numa situação de sala de aula,
INDEX
devem, necessariamente, haver limites impostos à expressão completa de
sentimentos. É nessa área que os educadores progressistas- conseguiram suas
maiores conquistas sobre a educação tradicional. Educadores progressistas
reconheceram o valor da libertação dos sentimentos da criança de alguma
forma tangível — pintura, escultura em argila, escrita criadora, músiòa,
dança, teatro, e dramatização improvisada — todos esses meios são empre
gados como liberadores dos sentimentos da criança. Foi nesse ponto, tam
bém, que muitas falsas concepções de educação progressista surgiram. A
expressão pejorativa: “Deixe os coitadinhos se exprimirem livremente”,
tornou-se um lema insultuoso para pessoas que não dispunham •dé capa
BOOKS
cidade para compreender o desenvolvimento da criança, e para apreciar
o valor da auto-expressão.
GROUPS
aula, caso a professora tenha uma compreensão de seus alunos e um “ insight”
do comportamento humano. Se o relacionamento terapêutico foi estabelecido
entre aluno e professora, muitas crianças podem receber ajuda para ga
nhar um valioso “ insight” de seus problemas, antes que eles se tornem tão
graves que venham ocasionar sérios desajustamentos.
No grupo adolescente, os sentimentos estão muito à flor da pele.,
Muitas vezes, é a professora de português* quem goza de posição privilegia
da dentro da escola, pois sua matéria se presta mais facilmènte à auto-ex
pressão. Por exemplo, Ângela, uma menina de dezesseis anos, entregou uma
vez um exercício auto-biográfico que serviu muito para ajudá-la. Naquela
*K . T : In g lê s n o o r ig in a l.
:133
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aula, tinha-se tomado um hábito, para as crianças, escrever suas auto-biogra-
íias colocando uma ênfase toda especial no que pensavam e sentiam. Pe
diu-se aos pais que não ajudassem às criangas de modo que esses trabalhos
fossem o resultado obtido estritamente de seu esforço. Foram tomadas pro
vidências para que essas redações fossem feitas durante o período de aula,
de modo que os pais não pudessem influenciar de forma alguma os ma
nuscritos. Várias semanas foram empregadas na preparação dos exercícios.
Dessa maneira, os alunos tiveram a oportunidade de escrever sob diversos
estados de espírito. Ficou bem claro que tudo o que fosse escrito seria
mantido confidencial, sob total responsabilidade da professora encarrega
da. Angela libertou seus mais íntimos pensamentos nessa composição. Ela
escreveu uma parte assim:
INDEX
papai gosta de mim. Eu adoro meu pai. Sempre que p o s s o , Saio com ele.
Isso deixa minha mãe danada da vida. Ela tem ciúmes de mim. Acho que
tem mesmo. Às vezes, ela é muito cruel comigo, às vezes até me bate. Às
vezes acho que detesto minha mãe. Ela não me deixa crescer. Controla
minhas roupas. Quer o tempo todo saber o que estou fazendo. Me examina
como se eu fosse uma criminosa. Se não fosse por papai, eu já teria fugi
do de casa."
BOOKS
extremamente reservada, cuja mãe, muito atraente, era bastante ativa em
todas as organizações estudantis da escola — Ângela, cuja vida parecia
tão ideal e feliz, e que tinha tudo o que o dinheiro pode comprar — Angela,
que era a menina mais bem vestida em toda a sala. Nunca tinha se inte
ressado por rapazes. Parecia amadurecer lentamente.
GROUPS
uma-mãe-tão-boazinha”, ela percebeu seus sentimentos e refletiu-os para
ela: “Você é muito infeliz, Angela, e não acredita que sua mãe goste tan
to de você quanto de seu irmão — não é assim?” Angela, sendo aceita
assim como era, deu vazão a mais alguns de seus sentimentos, e a pro
fessora a acompanhou, acreditando que assim conseguiria ajudá-la a ter
algum “insight” de seus sentimentos e de suas atitudes, sendo capaz de
trabalhar s e i« problemas de modo a encontrar uma solução construtiva.
134
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um instrumento acadêmico que, na verdade, ensinava às crianças a se
conhecerem.
Na turma de primeiro grau, Charlene, linda menina que uma mãe
ambiciosa forçou até quase o limite máximo, agita as mãos freneticamen
te, quando a professora fala: “H oje vamos escrever sobre alguma das
coisas que nos fazem ficar zangados. Quem quer ditar uma estória agora?”
E enquanto as outras crianças continuam a ser crianças, desenhan
do, pintando, modelando em argila, brincando na areia, ou com brin
quedos, ou com qualquer outra coisa que tenham escolhido, Charlene di
ta sua história com uma expressão cada vez mais carregada no rosto:
“Meu irmão me deixa louca. Está sempre me batendo. E Eleonor
também. Pico maluca quando tenho de jogar pétalas de flores no chão,
em casamentos. Gosto de carregar flores, não de jogá-las no chão. Papai
INDEX
sempre me mete medo com seus chinelos, se não fizer tudo o que todo
mundo me manda fazer! Meu irmão maior me mete medo também. Me
bate na cara. E, uma vez, John me bateu tanto que desmaiei. E há tra
balho demais pra fazer. Pico tão cansada. Outra coisa que me deixa bi
ruta: não consigo escrever até 300. Só até 200, e mamãe está sempre me
fazendo escrever, quando estou em casa. Não posso sair para brincar en
quanto não tiver escrito até 300. E 300 o quê? Nunca sei. E a leitura
é tão difícil e tão odiosa... Sou tão pequena que nem consigo chegar até
a pia e tomar água; tenho sempre de psdir a alguém que me dê água.
BOOKS
Minha mãe, também, está sempre me dando comida, como nos dias em
que ela faz talharim, e me obriga a comer. Quando ela me aguarra e me
enfia o talharim pela garganta abaixo, até me arrependo de ter nascido!”
GROUPS
terrível que ele lhe fez. “Até John te bateu, uma vez”, diz a professora.
Então, Charlene se queixa de seu trabalho escolar, refletindo nisso a
pressão que sua mãe ambiciosa exerce sobre ela. Durante todo o ditado,
a professora aceita as reações de Charlene, e reflete os sentimentos ex
pressos. É uma válvula de escape para suas tensões. Tendo-lhe sido da
da uma oportunidade de trazer a campo aberto seus sentimentos, há me
nos possibilidade de que eles se acumulem e se tomem tão afastados da
realidade que causem sérios bloqueios. Charlene não seria considerada
uma criança desajustada; mas as tensões, pressões, sentimentos reprimi
dos, poderiam ser um fator contribuinte para o desajustamento. Trata
mento profilático tem um valor todo especial.
INDEX
Aí eles me mandam ir pra cama. Aí eu fico brincando com um troço
qualquer que deixei escondido debaixo da cama e eles dizem: “Olha só,
ele está muito satisfeito lá”, e papai diz: “Pois entãó levante-se” , e eu te
nho de me levantar. Ontem fiz Joey ficar uma fera. Ele estava com uma
garrafa d’água na mão, batendo com ela no chão, e eu disse pra ele: “ Ba
ta com mais força, Joey”, e aí ele fez assim até que quebrou a garrafa.
E ele chorou. Depois pegou uma garrafa de anil, eu fui lá fora, peguei a-
reia e dei pra ele, dizendo: "Põe aí dentro, Joey”, . e ele fez, e eu con
tinuei dizendo: "Mais, mais um pouco!” até que ele ficou todo sujo de
BOOKS
. ' anil, e eu morri de rir por ele. ser tão bobo e sempre me deixar fazer
essas brincadeiras com ele, e ele chorou e mamãe gritou comigo, me ba-
a teu e deu mais anil pro Joey e aí é que eu fiquei doido mesmo. Ela disse
x f que eu estava tirando vantagem de Joey, e eu respondi que ele é que
\ -não passava de um bobão, e ela me fez entrar e me pôs sentado de cas-
0 j tigo numa cadeira, e eu fiquei furioso e chorei, porque ela trata o Joey
melhor do que a mim.”
^ ® Devolver a John a reflexão de que ele era infeliz, porque sua mãe
v 0. dava mais atenção a seu irmãozinho do que a ele, pode ajudá-lo mais
tf do que dizer que ele realmente estava tirando vantagem de seu irmão
, -oh
^ Sd fln
e bobo. CSeu
GROUPS
zinho de dois anos. Enquanto John vai se libertando de seus sentimen-
j tos, seus olhos brilham. Sorri enquanto conta de que maneira fez Joey
rosto ftrto
n ii nAefrt fica sério quando oa nrnfi3cer»i»o
Pfírin mmn/írv professora 1lhe
V»e» rdiz
iir r que
n ele
ua â dese
la Haca.
/ jaria que sua mãe lhe dedicasse tanta atenção quanto a que dá ao outro.
E depois de pensar um pouquinho, acrescenta: “Fui filho único durante
muito tempo”, e há um tom magoado em sua voz que demonstra o quan
to sentiu com a chegada de seu irmãozinho.
A estória de Jimmy é breve:
“Adultos me enjoam. Estão sempre batendo na gente. Ê isso que
ela faz comigo. Fazem a gente ir pra cama cedo antes que escureça. Ma
mãe não me deixa brincar no quintal, porque plantou grama, por isso
136
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1
I
INDEX
teriais da sala de aula. Em vez de mandar que as crianças copiem “ gato-,
rato-patò-fato-sapato” pode enconrajálas a escrever suas próprias histórias
e a exprimirem seus próprios sentimentos. Enfatiza-se, novamente,
a reflexão, dos sentimentos expressos, e a completa aceitação de cada sen
timento que a criança expresse. Há valor na catarse — no transbordamen-
to de sentimentos; mas a adição da reflexão dos sentimentos e da acei
tação dos mesmos é o elemento que ajuda a esclarecê-los e a desenvol-,
ver "insigts".
Uma menina do segundo grau, cuja mãe tinha abandonado a famí
BOOKS
lia escreveu:
"Gosto de minha mãe. Amo minha mãe. Mamãe é muito bonita.
Mamãe é má. Papai diz que mamãe é má. Mas eu amo minha mãe.”
Mike, de sete anos, recalcado, escreve:
“Minha mãe gosta de meu irmão. Minha mãe não gosta de m im .”
Meu pai gosta de meu irmão. Meu pai não gosta de mim. Todo mundo
gosta de meu irmão. Todo mundo não gosta de mim. Eu detesto todo mun
do também.”
GROUPS
Nesse caso, o “irmão” é uma coisinha
chechas, com dois anos de idade.
loura, de covinhas nas bo
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Tia Flora quer que eu vá à escola. Todo mundo quer que eu vá à escola.
Eles têm um novo neném lá em casa.”
s A professora pode ajudar essas crianças reconhecendo os sentimen
tos que estão expressando e devolvendo-os a elas. Isso realmente as au
xilia a adquirir um “insight” e maior compreensão de si mesmas. Traz
.os sentimentos a campo aberto. Ajuda a prevenir um acúmulo de senti
mentos oprimidos.
Materiais artísticos são também adaptáveis a esse tipo de experiên
cia. Charlie, uma “ criança-problema” de oito anos, faz um caixão de argi
la, com um homenzinho dentro. “Vou pôr tampa nelé, também. Vou fe
char bem fechadinho, ele não vai conseguir nem respirar.” A professora
comenta: “Você não gosta dele. Você vai .colocáJo na caixa e fechá-lo tão
INDEX
firme que ele não vai poder. respirar.” . Charlie dá uma olhadela para a
professora. Aperta ainda rnais.a tampa. “Estava caindo de bêbado ontem
à noite, e me bateu com a correia dele. Olha!” Mostra uma marca azulada
na perna. “ Você está se vingando porque ele te bateu, ontem à noite.”
"É sim, vou dar um jeito nele.” E, realmente, Charlie “ acertou as contas"
com o pai.
Henry fez um desenho gozado. Tinha a forma de um homem, mas
o rosto e a cauda de um porco. Mostrou-o à professora, quando está pas
sou por ele: “Este é um homem mau, Ele disss que eu como feito um
BOOKS
porco. Pois olhe pra ele. Ele também é um porco.” Henry se vinga de
um insulto que alguém lhe fizera.
Em vez de desenhar quarenta paisagens idênticas, ou cenouras e
margaridas, as crianças devem ser livres para fazerem seus próprios de
senhos, exprimindo suas próprias idéias e sentimentos. Mesmo a criança
que se limita a ficar sentada, em completa passividade, recebe mais ajuda
da professora que comenta: “ Você está tendo um trabalhão para imaginar
alguma coisa para desenhar”, do que quando lhe dizem bruscamente: “Det
senhe um coelho.” Ou “Venha cá, deixe-me comejar o desenho para você,”
GROUPS
e esboçam o princípio de um quadro, para a criança que parece não ter
iniciativa, e que nunca a desenvolverá, se não lhe permitirem erguer-se so
bre seus próprios pés e iniciar suas próprias atividades. Atividades impostas
não desenvolvem a iniciativa de ninguém.
Para ilustrar mais claramente a maneira pela qual a criança usa os
materiais artísticos para catarse, e para demonstrar de que maneira a
criança evolui de sentimentos negativos e destrutivos para outros, positi
vos e construtivos, relata-se a experiência de Ernest com a pintura. (Er-
nest é uma criança-problema de seis anos, cujo caso será relatado no capí
tulo 23. O incidente ocorreu no período de livre-escolha,.)
Uma vez Ernest pintou quatro grandes quadros, rápida e dramati
camente. O primeiro era uma montanha verde e púrpura. “Olhe”, disse
138
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Ernest à professora, que estava ali por perto. “32 uma montanha. Ninguém
vai perto dela.”
INDEX
fogo e sangue.”
Ernest estendeu seu desenho para a professora, e fez outro de um
aeroplano fazendo um vôo rasante sobre uma montanha. Acrescentou mais
alguma coisa à pintura.
“O que é isso?” perguntaram Ronny e Tommy. Não houve resposta.
“É uma sirena, aposto”, disse Ronny.
"Não é”, replicou Ernest.
“Então o que é?”, perguntou Ronny.
BOOKS
“É um sinal do inimigo. Um sinal japonês.”
“ Não é não”, replicou Ronny.
"Sei o que estou dizendo, disse Ernest. São inimigos. São todos mêus
inimigos.” E uma vez mais manchou o avião de vermelho.
"De quem é esse avião?” perguntou Tommy.
“ Eu estou lá, disse Ernest. Meus inimigos estão todos tentando me
ferir. Estão atirando fogo em m im .” Estendeu mais esse quadro para a
professora.
GROUPS
"Seus inimigos estão tentando te ferir”, disse a professora.
“Eles estão me ferindo”, disse Ernest, todo sério.
Começou imediatamente um terceiro desenho.
“Isso é outra montanha. Me ajude aqui, Tommy. Faça o que estou
fazendo. Você também, Rommy.” Os meninos pegaram nos pincéis e imi
taram Ernest. Pintaram outra montanha, usando primeiro tinta branca,
depois continuando com verde, púrpura, alaranjado, vermelho, marrom e,
finalmente, preto. Ernest. pintou de novo o avião e o manchoü com tinta
vermelha. Os meninos fizeram barulho de avião e canhão. O quadro tór-
nou-se uma mancha só. A tinta era aplicada com gestos largos e livres.
Gritavam e riam muito. De repente, Ernest gritou: "Olhem só, explodiu o
, 130
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mundo todo. Explodiu o mundo e todo mundo que estava nele. E o avião
tá pegando fogo.” A professora, de pé ao lado deles, reconheceu os senti
mentos agressivos. Quando o desenho acabou, ele o estendeu à .professora,
e pegou noutra enorme folha de papel. Gritou: “Vamos fazer outra mon
tanha.’*
“Uma montanha grande e alta”, disse Tommy.
“Vem Bill, vem Bobby, Anna. Vocês querem me ajudar?” Todos o
fizeram, pintando segundo as instruções de Emest. Um observador dessa
experiência não poderia deixar de reparar nas reações intensas das crian
ças a essa experiência. Tinha grande significado para todas elas. O que
significava para cada uma, é um assunto a ser pensado, mas é inegável que
tinha um conteúdo específico para cada participante.
“ Não é uma montanha alta?”, comentou Emest. “Alta, muito alta.
INDEX
Sabe o que vai ser?”
“Uma montanha muito alta”, disse a professora.
“ Branca, depois verde, depois púrpura e vermelha. Olha Anna, ver
melha, depois alaranjada, e amarela e azul. Oh, olha, está ficando preta”,
exclamou Emest com um encanto evidente.
“As cores, quando são misturadas assim, ficam pretas”, disse a pro
fessora.
BOOKS
“É fumaça”, disse Emest. “E está escuro. Mas olhe o aeroplano.
Está pegando fogo. É o inimigo, está vendo? Acabei com eles, viu? Já não
há mais inimigos! E olhe pra montanha."
“Você explodiu a montanha também?”, perguntou Tommy.
GROUPS
Emest parecia alegre, feliz. Esse último desenho tinha mais forma
e nitidez que os outros.
140
Parecia que Emest tinha, no dia anterior, alguma coisa que o per-,
turbava. Conseguira uma certa libertação, e parecia ter alcançado um certo
sentimento de segurança e relaxamento .Os dessnhos eram ilustrações grá
ficas dos sentimentos das crianças, indo do caos e do turbilhão até a orde
nação e uma atitude mais positiva.
Até uma lição primária de aritmética pode dar expressão á alguns
desejos ou sentimentos secretos da criança. Elas podem construir seus
próprios problemas, em estórias que lançam mão de um crescente sentido
do número.
“Tenho vinte e nove balas”, diz Joe. “Azuis, vermelhas e amarelas.
Dou uma bala, com quantas fico?”
"Seu egoísta”, interrompe Jack, "você só dá uma e fica com vinte e
oito?”
INDEX
“ Bem” , diz Joe, na defensiva, “ talvez eu dê algumas a Jimmy.”
“Comigo não seria assim”, diz Cari. “ Tenho dez docinhos. Fico com
um e dou os outros todos. Quantos dou?”
"Nove”, dizem os meninos, em coro. “Eu gosto de você, Cari. Você
é meu amigo.”
“Eu tenho trezentas balas”, diz Joe, “ e fico com todas elas” .
"Joe é um porquinho”, diz Jack.
“ Não sou porquinho coisa nenhuma. Quando vocês já não tiverem
BOOKS
bala nenhuma, ainda terei as minhas.”
“Jack acha que é egoísmo guardar todas as balas para si, mesmo”,
diz a professora, “ mas Joe acha que, se guardá-las todas para si, poderá co
mê-las quando quiser.”
“Um dia ele acaba perdendo o saquinho inteiro” , diz Cari. "Se ficar
brincando com elas aqui na escola, ainda acabam tirando elas dele.”
Nisso não há apenas aritmética. Na realidade, pode-se até dizer que
não há aritmética alguma. Ponham-se as combinações em cartões, diriam
GROUPS
alguns, e deixem as tolices de lado. Mas a própria natureza da criança re
clama contra procedimento tão estúpido. Não é possível separar o apren
dizado da vida. A criança é um ser dinâmico e cheio de força. Não deve
ser colocado numa redoma. Dêem-lhe a oportunidade de agir como um
indivíduo. Dêem-lhe liberdade, responsabilidade e sentimento de que pode
ter sucesso. -
Um currículo escolar digno de ocupar o seu lugar em nosso sistema
educacional prevê uma oportunidade de enriquecimento da vida da crian
ça, para muito além dos simples requisitos acadêmicos. A verdadeira edu
cação não dá as costas às mais críticas necessidades do indivíduo. Um
professor é mais do que um informador e um testador de conhecimentos
:141
INDEX
juntos, e que levam a esse estado, desejado de higiene mental, que é o fun
damento necessário para o crescimento. _J
A responsabilidade para fazer opções e estabelecer mudanças deve
ser da criança, tão freqüentemente quanto isso seja possível. Numa situa
ção terapêutica, esse é um princípio básico. Numa situação de sala de atila,
tal princípio é possível e desejável, mas, por causa das limitações ineren
tes à situação escolar, ele precisa ser modificado.
BOOKS
rapêuticos são indispensáveis, se o objetivo do professor é levar adiante
o processo educativo, até mesmo através da punição, em vez de usar o cas
tigo como um simples ato de retribuição. Se as regras do comportamento
esperado numa sala de aula são determinadas de maneira clara e lógica,
e dá-se à criança a oportunidade de agir dentro da sala de aula como um
indivíduo inteligente, esse tipo de tratamento toma-se uma técnica, atra
vés da qual a criança pode desenvolver a confiança em si própria, a segu
rança e a iniciativa. Que professora nunca teve, uma vez ou outra, de lidar
com aquele tipo de aluno, cuja agressividade cria um problema que exige
GROUPS
ação imediata? Nenhuma professora inteligente deixar-sa-á ficar indolente
mente, observando as crianças se baterem e se empurrarem, ou se compor
tarem de maneira semenhante, sem tentar fazer algo para impedi-las. “Bobby
está duro de roer hoje. Acha que se usar força, pode passar para a ponta
da fila. Mas as nossas regras, Bobby, dizem que você tem de esperar por
sua vez, ou então sair da fila", diz a professora. E Bobby então faz sua
escolha. Ou obedece a regra ou sai da fila. Essa atitude não é nova; somou-
se a ela um elemento: a professora está refletindo para ele as atitudes que
ele exprime. Talvez esta reflexão tenha fronteiras próximas às da interpre
tação, mas como é bastante óbvio, pode-se arrissá-la. Se a professora não
tiver razão, Bobby a corrigirá, talvez com uma observação do tipo: “Mas
142
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INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
ele tirou meu chapéu e escondeu debaixo do casaco." E aí a professora in
sistirá, com o comentário: “ Quer dizer que você está tentando ajustar con
tas com B ill.” E talvez Bill e Bobby estejam ambos no fim da fila. Colo
car-se ali não foi a escolha direta dós meninos, mas a regra da escola é
uma limitação que eles encontraram na realidade. Ou mantiveram a regra,
ou sofreram as conseqüências. A professora tentou trazer à situação vim
"insight” de seu comportamento.
INDEX
ma e volta a empregar palavras. Isso já foi demonstrado tanto em gru
pos de terapia, quanto em situações escolares reais. Por isso, parece que I
foi a observação a responsável por não se dar a pancada, e não a presen- !
ça da professora como um símbolo de autoridade, porque numa situação j
de terapia de grupo, em momento algum o terapeuta torna-se um símbolo \
de autoridade. Qualquer pessoa que conheça realmente as crianças, temTj
consciência do fato que uma luta deixada para depois pela voz da autori
dade, geralmente é terminada quando os participantes estiverem longe de
quem a impediu. "~
BOOKS
Quando um professor respeita a dignidade da criança, tenha ela seis
ou dezesseis anos, e trata-a com compreensão, delicadeza e ajuda construti
va, está desenvolvendo nela uma capacidade de procurar dentro de si mes
ma as respostas para seus problemas, e de tomar-se responsável por si
mesma, como um indivíduo independente e na posse de seus direitos.
f Possivelmente, a maior contribuição que os educadores podem fazer
geração mais jovem, é o tipo de orientação que coloca a ênfase sobre a
\auto-iniciativa, e que transmite aos jovens, através de exemplos vivos, o en-
/sinamento de que cada indivíduo é responsável por si mesmo. Em última
GROUPS
janálise, é a capacidade de pensar construtiva e independentemente, que as-
/sinala o homem educado. O crescimento é um processo gradativo, que não
^pode ser imposto por forças que venham de fora.
()
A coisa mais importante é o relacionamento existente entre a profes
sora e seus alunos. Suas respostas devem vir de encontro às reais neces
sidades da criança, e não apenas às suas necessidades puramente materiais
— ler, escrever, contar, etc.
Parece fácil. Uma professora que goste de experimentar fica tentada
a fazê-lo. O primeiro dia de aula chega, e entra pela sala a dentro o bando
de garotos, que estão começando naquele dia seu curso escolar; e, nesse
143
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INDEX BOOKS GROUPS 6/5/2015
“Venha dar uma olhada nesse livro de imagens. Está vendo, Mary e
INDEX
Johnny estão olhando os desenhos coloridos. Venha. Você também não
está com vontade de dar uma olhadinha neles?” Depois, chamando a mãe
num canto: “Preferimos que as mães não fiquem aqui, quando vêm tra
zer as crianças. Apenas para evitar esse tipo de coisa, sabe?” A mãe se
levanta e tenta deixar seu filho. Este urra. A professora dá-lhe as costas,
com reprovação bastante evidente.
BOOKS
escola, pare com essa choradeira. Se não parar num minuto, terá de vol
tar já para casa!” Oliver seria um idiota se não redobrasse a sua chora
deira. A mãe leva o culpado de volta para casa e, à noite, diz a seu ma
rido: "Quase chorei de vergonha. Todos os outros meninos estavam lá.
E Oliver agiu como se fosse um bobo. Acha que devíamos levá-lo á um psi
cólogo?” Ela, sim, é que talvez devesse consultar um.
Suponhamos que a mãe de Oliver leve-o ainda a uma outra escola.
A professora, nessa escola, vai tentar uma maneira simples de lidar com
esse problema. Oliver ainda é o mesmo chorão; sua mãe também, ainda
GROUPS
é a mesma. Lá vêm eles. A professora cumprimenta-os, convida a mãe pa
ra entrar cordialmente. Oliver agarra-se a ela. “Você está com medo de
que sua mãe vá embora e te deixe, mas ela vai ficar aqui até que você
mesmo queira que ela vá." A mãe de Oliver fica ruborizada: “Ele é tão cri
ança”, diz em tom de desculpa. “Algumas crianças têm medo, quando co-.
meçam a vir à escola, tí uma experiência tão diferente para elas” , diz a
professora. "Sim, espero que sim.” A mãe percebe que as outras crianças
já estão brincando e se adaptando à situação. Não pode evitar de pensar
na razão pela qual elas se arranjam melhor do que o seu Oliver. Nesse
meio tempo Oliver já reencontrou a sua segurança; está sendo aceito exa
tamente como ó. Essa mulher estranha acertou em cheio quando disse
que ele estava com medo. Há outras crianças ali adiante, brincando com
toquinhos. Talvez ele pudesse... Olha para um lado, para o outro, com
medo de que alguém esteja por perto para pressioná-lo, mas ninguém o
aborrece. Assim que Oliver começa a aproximar-se do grupo, a mãe per
gunta à professora: “Posso ir saindo agora?” “A senhora pergunta se pode
ria sair, agora que ele não está olhando.” reflete a professora. “ Ele pode
aprontar um berreiro danado”, diz a mãe, “mas a senhora quer que eu o
faça?” “Faça como achar que deve. Quanto a mim, se a senhora quiser
ficar, seja benvida, ou se achar que já está pronta para ir embora, pode
fazê-lo.”
INDEX
Trazem resultados inacreditáveis. Convidam-se os professores a experi
mentá-los, se já não o tiverem feito muitas e muitas vezes.
BOOKS
"Mas Pete estava solidificando nosso relacionamento. Estava me di
zendo as coisas mais horrorosas que podia, a seu respeito. Daqui a pouco
já será capaz de evoluir para modos de pensar mais positivos.”
“Você gosta que uma criança te diga exatamente o que pensa?”, dis
se a professora cética, com uma nota mais do que irônica na voz.
GROUPS
"Você conhece aquele burrinho teimoso chamado Jacob, que é aluno
da minha turma? Bem, quando ele entrou na sala hoje de manhã, peguei-o
pelo ombro e disse-lhe: “ Olha aqui, Jacob, diga me exatamente o que pen
sa de m im .” Jacob olhou para mim da mesma maneira inexpressiva de
sempre, " á sério. Pode dizer o que quiser, que não farei nada com você.”
jacob grunhiu um pouco, depois disse:
"Eu penso que você é biruta se acha que vou lhe dizer tudo o que
penso de você.”
E a professora de Jacob, rindo animadamente, disse: "Nada mau,
para uma primeira tentativa, não é?”
145
INDEX
bom lugar. Ele seria bem tratado. Lá os meninos são bem alimentados,
andam sempre limpinhos.”
“Você teria a certeza de que ele estaria sendo bem tratado.”
“E depois ele não teria de ficar rodando de um lado para outro.
Poderia ficar sempre com uma mesma pessoa, tempo bastante para se co
nhecerem bem” .
“Você acha que ficar com uma só pessoa poderia ajudá-lo”, refle
tiu a professora.
BOOKS
“ Sim, mas eu teria muitas saudades dele. Ele tem tanto medo de
gente nova e de lugares novos. Éle havia d e ...” — e sua voz silenciou-se
aos poucos.
“Você acha que teria saudades dele e que se lembraria do medo que
ele tinha de gente e lugares novos.”
“É sim. Meu Deus, eu acabo mudando para S ..., se o ponho lã.
Hei de mostrar a meu patrão. Ele não pode fazer isso comigo. Ficarei
perto o bastante no caso de Robert precisar de mim, ou ficar doente, ou
coisa parecida.”
GROUPS
“Você acertará as contas com o patrão. Caso ele a faça perder Ro
bert, você o fará perder uma boa estenógrafa.”
"É sim, ainda posso conseguir uma dúzia de empregos, pois tenho
um treinamento de primeira. Mas como isso me fere! Já não sou mais
tão jovem. Estou com trinta e dois anos, e tenho um monte de respon
sabilidades . ”
"Isso a fere muito. Você sente que eles lhe devem -alguma coisa,
pelos anos de bons serviços que lhes prestou, agora que está mais velha
e tem tantas responsabilidades.”
148
INDEX
e logo agora que ele está melhorando tanto.”
“Você tem visto boas melhoras nele”, disse a professora.
“ Se tenho! Você não”
“Ele está bem melhor na escola.”
“Não seria direito colocá-lo num colégio interno. Ainda mais ago
ra que ele está fazendo tanto esforço. Ele precisa de mim, precisa de um
lar.”
“Você acha que não seria justo mandá-lo para o colégio interno»
BOOKS
logo agora que ele está melhorando tanto. E acha que ele precisa de sua
presença. Acha que ele estaria melhor com você.”
"fi sim .” E mostrando um pacote que tinha nas mãos: "Está vendo
isso? E um coelho. Uma das garotas lá do escritório me trouxe ele de
presente. As outras moças disseram que o gato do escritório tinha sumi
do. Então eu não sei. Talvez seja o gato que esteja aqui dentro!" Ela
riu, e depois de mais alguma conversa sem importância e agradecimen
tos, foi-se embora.
Alguns dias mais tarde, durante o intervalo do meio-dia, a mãe vol
g o.”
GROUPS
tou à escola toda sorridente.
“Vim aqui para lhe dizer que consegui reaver o meu antigo empre
14<>
INDEX
sentimentos e atitudes e conseguiu um “insight” considerável do comporta
mento de Robert. continuando à procura de métodos mais construtivos
em seus cuidados com ele. Fez questão de transmitir-lhe o sentimento de
segurança de que ele precisava.
Esse tipo de ajuda parece ser mais valiosa do que as respostas
jusuais da professora cuja política seja ditatorial, ou seja de completa
concordância. Há tuna grande diferença entre concordar completamente
e refletir cuidadosamente os sentimentos expressos pelo cliente. —
BOOKS
GROUPS
150
BOOKS
midade de seu mundo pedagógico, estão também bastante aptos a carica
turar as outras pessoas — e assim o têm feito por anos e anos.) Mas há
uma razão para a predominância de um problema bastante real de fraca
saúde mental entre os professores. Isso já foi atribuído a uma série de
razões — aulas longas demais, horários muito pesados, trabalho extra,
pressões da direção e dos cobradores dos impostos.*
Embora todos esses fatores sejam irritantes, agravantes e esfran
galhem com os nervos de uma pessoa, não parecem ser capazes de cau
sar todo o mal que se lhe atribui. Parece muito provável que as causas
GROUPS
do desajustamento dos professores sejam as mesmas do desajustamento
de qualquer pessoa. Se é verdade que cada indivíduo tem dentro de si
forças básicas que o impelem à auto-realização, é bem possível que as
circunstâncias que bloqueiam estas forças sejam a causa do desajusta
mento .
Talvez o professor dominador e sarcástico, que tem a reputação de
ser uma fera, esteja tentando estabelecer sua auto-estima e sua auto-rea
lização, às custas de seus alunos, porque não pode conseguir satisfação di
151
INDEX
proceder, tanto dentro quanto fora da sala de aula, o que deve fazer de
suas horas de folga, que igreja deve freqüentar, em quem deve votar, que
jornal deve ler, que tipo de roupa deve usar, com que cor pintar as unhas
com que cosméticos se maquiar.
BOOKS
gam-nas de trabalhar no ônibus escolar ou exigem que fiquem um tempo
enorme, depois de terminado o período de aulas, esperando pela partida
do último ônibus,. Mandam-nas montar peças teatrais, o que as obriga a
batalhar horas seguidas com ensaios, preparação de guarda-roupa, venda
de ingressos e, eventualmente, até com a produção.
GROUPS
e disciplina em suas salas de aula.
152
muito a fazer e pouco tempo disponível, não há necessariamente uma cor
relação entre a fraca saúde mental e um programa sobrecarregado. Há
escolas em que não existe todo esse trabalho-extra e, mesmo assim, uma
atmosfera pesada faz com que os professores se smtam miseráveis, infeli
zes e desajustados.
Às vezes os professores trazem consigo seus problemas — problemas
que se criaram e se desenvolveram fora do contexto escolar; mas alguns
deles parecem ter sido criados pela situação escolar, e o objetivo da auto
ra é tentar iluminar um pouco as causas que para isso concorreram e ofe
recer algumas sugestões construtivas para sua prevenção e correção.
As professoras podem executar tarefas e carregar fardos bastante ;
pesados — aulas longas, tempo integral, trabalho extraordinário — e fazê- i
lo bem, se o moral da escola for bom e se são tratados como seres bu
manos a quem é dada a permissividade para se expressarem, utilizarem
INDEX
suas capacidades ao máximo, para participarem da organização da escola
como membro contribuinte, e funcionarem como um ser pensante, digno
de atenção e de confiança. Se lhes 6 dada a liberdade de escolher o que
dirão e farão, tanto dentro quanto fora da sala de axila, seus deveres para
com seus alunos serão executados de maneira muito mais adequada. Se ,
não se confia que a professora seja capaz de usar um bom discernimento
naquilo que ela diz e faz, quando lhe é dada a permissividade para ser ela,
não se deve empregá-la como professora. Se é dada aos professores a li
berdade para realizar o conceito que têm de si mesmos, todos colherão
BOOKS
qomo recompensa uma contribuição estimulante e enriquecedora destes j
homens e mulheres que escolheram viver e trabalhar com jovens . ^
GROUPS
crático. Ninguém no sistema escolar detém em suas mãos todas as respos
tas. É planejando e trabalhando juntos que se chega a uma completa rea
lização. Chegou-se a isso pela experiência do trabalho em conjunto, pelo
bem-comum. Esses sentimentos vêm de dentro para fora e não foram ar
bitrariamente superpostos do exterior. Liberdade e responsabilidade são
equilibradas numa verdadeira democracia e a liberdade de um intelecto
espontâneo e criativo pode fazer muito mais pela construção de escolas,
de modo que estas possam constituir-se em verdadeiras extensões de uma
democracia dinâmica e funcional.
153
"Sim”, isto está certo, “ o procedimento democrático na administra
ção escolar é desejável e estamos fazendo todo o possível para consegui-
lo .” E numa reunião de professores, o que acontece? As professoras parti
cipam ativamente do planejamento? Expõem seus objetivos e os critérios
para sua avaliação? Oferece se-lhes a permissão de externarem seus verda
deiros sentimentos a respeito das condições de trabalho de que dispõem,
e esses sentimentos são aceitos imparcialmente? Uma reunião de professo
res é realmente um lugar para o arejamento cooperativo de idéias? Ou,
como é normal nesses casos, é um lugar onde as professoras ficam sen
tadas, em aborrecido silêncio, pensando em outra coisa, enquanto o dire
tor lê o boletim n*. 1, o n?. 2, o n?. 3, o n'\ 4 o n”. 5 e assim por diante,
até que a reunião termine?
Quando, para “modernizar” os programas escolares, aplica-se uma
INDEX
pressão, e é assim em muitas escolas, aumentam-se as tensões e frustra
ções. Examinemos os “ treinamentos por simulação” que são muito co
muns. A própria natureza desses treinamentos usualmente bloqueia qual
quer progresso desejado. A impressão que se tem de uma reunião dessê
tipo é a de que esses professores não passam de um grupo de fósseis, que
devem ser pressionados feito loucos: Mude! Mude! Mude! Eles ouvem
isso, até ficarem mortos' de cansaço. Em áreas mais esclarecidas chama-
se a isso “ transição” . “A escola está em transição. Por que você não es
tá?” As professoras se apavoram. Seu sentimento de segurança se desva
BOOKS
nece. Seu sentimento de auto-estima desaparece. E, muito possivelmen
te, sentir-seão como se ninguém gostasse delas. Esquemas e teorias lhes
são enfiados pela garganta abaixo, e ainda acham estranho que elas os re
jeitem.
Aqui, também, a aceitação de seus sentimento tal qual eles são, o
reconhecimento desses sentimentos e a reflexão do que pensam e sentem,
ajudam-nas a reter seu auto-respeito, e as possilibidades de crescimento,
mudança e auto-direção em formas mais positivas, aumentam à medida
que elas desenvolvem “insight” .
GROUPS
Como conseguir isso? Já se mencionou antes que o diretor está
numa posição estratégica para ajudar os professores a trabalhar através
de seus sentimentos. Suponhamos que uma organização escolar decida
empregar um novo método de ensino de leitura. O superintendente pode
tomar a decisão, autoritariamente, e ordenar sua execução. As professoras
rebeldes podem ser punidas de diversas maneiras: sendo transferidas pa
ra uma escola ou uma turma menos desejáveis, sendo atacadas com sar
casmos e palavrinhas ofensivas, ou recebendo “coerções que as obriguem
a cooperar” . Se o novo tipo de ensinamento lhes for imposto, é certo que
lutarão contra ele palmo a palmo. Um superintendente ou diretor inteli
gente perceberá que o ensino forçado é totalmente ineficaz. O bom ensi
154
no é o resultado do trabalho de uma professora entusiasta e sinceramen
te interessada. E essas atitudes não são adquiridas através de força.
Suponhamos que o superintendente ache que o novo método merê-1
ça a tentativa. Suponhamos que esperasse melhores esforços de suas pro- !
fessoras para sua realização. Parece útil, então, que ele discuta com elas, j
franca e honestamente, pedindo sua cooperação na organização do progra- j
ma, no seu prosseguimento e na avaliação de sua eficácia. Se lhes permi- |
te que participem ativamente, que ponham algo de pessoal no trabalho, |
que sintam a responsabilidade que acompanha sua liberdade para desen- j
volvê-lo, seu entusiasmo e interesse serão totais. E se uma professora não
concorda com a intrusão desse novo elemento, o superintendente não de
ve rejeitá-la por ter discordado, ou pela expressão de sentimentos negati
vos, mas aceitá-la, dar-lhe uma oportunidade de expressar seus sentimen
tos mais livremente e, se ele for capaz de refletir adequadamente as ati- j
tudes negativas reveladas, poderá assim ajudá-la a conseguir uma com- j
INDEX
preensão satisfatória e maior satisfação na sua posição. ___
A possibilidade da terapia em grupo para professores necessita me
lhor investigação. Poderia ser feita convocando um líder que teria prá
tica suficiente para refletir as emoções reveladas pelos membros do gru
po. Um líder que não expressaria sentimento pessoal algum, agindo como
uma pessoa neutra que estivesse presente a cada encontro.
Durante estas sessões os membros do grupo deveriam sentir-se li
vres para expressar seus sentimentos completa e abertamente, para que
BOOKS
pudessem examiná-los, objetivá-los e ganhar alguma compreensão sobre
a causa dos seus problemas. O encontro ofereceria uma oportunidade pa
ra ser divulgada qualquer irritação que pudesse existir entre os professo
res ou entre um professor e o diretor, qualquer opinião ou sentimento em
relação à direção — em suma, qualquer coisa que algum membro do grupo
quisesse revelar. O sucesso de cada encontro dependeria da integridade
de seus membros, para que cada um deles pudesse sentir que nada do que
ele dissesse seria usado contra ele. Tal condição só é possível de existir
nas escolas onde os diretores são grandes e honestos o bastante para en
carar seus problemas corretamente; num lugar onde eles aceitem o indi
GROUPS
víduo como ele é, respeitem-no e lhe permitam dirigir-se por si mesmo.
Se esta espécie de relacionamento fosse estabelecida nas escolas,
seria possível predizer, como resultado, um melhor padrão de saúde men
tal dos professores, nestes lugares em que eles são pouco mais que uma
pedra de xadrez movida de acordo com o capricho dos diretores.
Um diretor tem uma obrigação para com os seus professores. Os
professores têm uma obrigação para com os seus diretores. A obrigação
será cumprida mais efetivamente se houver respeito mútuo e união de seus
esforços, se eles concederem uma hospitalidade intelectual e emocional uns
para com os outros e se lutarem por um mesmo fim.
155
INDEX
BOOKS
Quinta Paite
GROUPS
INDEX
BOOKS
GROUPS
19. TRECHOS DE NOTAS SOBRE
TERAPIA INDIVIDUAL
INDEX
Conforme já assinalamos anteriormente, o brinquedo é o meio natu
ral de expressão dos sentimentos da criança. Estas revelam em seu mun
do de brinquedos os pensamentos e sentimentos que existem em seus rela
cionamentos com as outras pessoas. As palavras são coisas inadequadas e\
de difícil uso para elas. Têm sentimentos que não conseguem expressar I
por palavras, mas os brinquedos são algo que podem usar adequadamente^
BOOKS
blemas da criança.
GROUPS
A S D E F E S A S D E D IC K IE C O N T R A O M U N D O
159
DlcMe: Eu disse vamos. Você faz alguma coisa, também.
Terapeuta: O que que você quer que eu faça?
Bickie (franzindo a testa e coçando a cabeça): Quero que você faça
um gato. Você esconde ele atrás de uma pedra bem grande.
Terapeuta (começando a fazer o gato e a pedra onde escondê-lo): Vo
cê gosta de me mandar.
Diclde: Você faz o que eu digo. (A terapeuta e Dickie modelam as fi
guras. Dickie faz um coelho e uma p'lha de pedras para escondê-lo.) Ago
ra vem para fora e luta. (A terapeuta encaminha seu gato em direção ao
coelho. Ele imediatamente põe seu coelho sobre o gato e amassa-o). Ago
ra! Foi o fim do velho gatão. Faça outro gato.
Terapeuta (fazendo outro gato): Você destruiu o meu primeiro gato
INDEX
e agora quer que eu faça outro.
Dickie: Sim. (Ò outro gato feito pela terapeuta tem o mesmo fim que
o primeiro.) Faça outro e dessa vez você joga ele em cima do meu coelho.
(A terapeuta procede deste modo, mas assim que vai jogá-lo sobre o coelho,
Dickie arranca a cabeça do gato e também o que sobrou entre os dedos da
terapeuta.)
Terapeuta: Você gosta de levar a melhor sobre meu gato.
Dickie: É lógico que sim. Eu gosto de brigar.
Terapeuta: Você gosta de brigar, também.
BOOKS
Dickie: É claro que sim. E gosto de levar a melhor nas brigas, tam
bém. Faça uma cobra agora.
Terapeuta: Você quer que eu faça uma cobra. (Ela faz uma e Dickie
outra. Ele levanta-se, pega a cobra feita pela terapeuta, mede seu compri
mento. Então, muito deliberadamente faz a sua maior que a dela.)
Terapeuta: Você quer que sua cobra seja maior do que a minha.
Dickie: Sim. E vou arrancar a cabeça da sua cobra. Aqui. Escondie
ela atrás desta pedra. A minha está escondida atrás desta pedra. (Dickie
mantém sua cobra protegida atrás de uma pilha de pedras.)
GROUPS
Terapeuta: Você gosta de que sua cobra fique bem protegida.
Dickie: Desta vez vou deixar sua cobra matar a minha. Vem. Siiii
Siii...... Shiiii...... (As cobras vão se emparelhando, mas logo que a da te
rapeuta está pronta para avançar sobre a de Dickie, ele joga sobre ela uma
grande bola de argila e, com a mão, acaba de amassá-la. Ri-se divertido.)
Eu te enganei! Te fiz de boba.
Terapeuta: Você gosta quando consegue me enganar e levar a melhor
sobro mim.
Dickie: É lógico. Agora vê se consegue me enganar. Tenta de verdade
ver se consegue.
Terapeuta: Você quer que eu tente te enganar.
160
Dickie: È isto mesmo. Vê se você consegue.
Terapeuta: Você não acha que eu consiga.
Wckie: Não. Não acho que você vai conseguir, mas tenta. (A tera
peuta e Dickie manobram as cobras de argila. A da terapeuta avança na
de Dickie e corta-lhe a cabeça. Dickie salta da mesa e grita para a tera
peuta.) Olha o que você fez! Olha o que você fez com a minha cobra!
Terapeuta: Você disse que era para eu tentar enganar você e quando
eu fiz você não gostou.
Dickie: Não, eu não gostei disso não. Agora prega a cabeça da minha
cobra novamente. Presta os primeiros socorros a ela.
Terapeuta: Você quer que eu a cole, uma vez que fui eu que arran
INDEX
quei a cabeça dela.
Dickie: Eu quero que você faça o que eu digo.
Terapeuta: Você gosta de me mandar.
Dickie (subitamente rindo): Engraçado. Realmente não me importo
com estas porcarias destas cobras de argila. Só estou brincando. (Espera
até que a terapeuta acabe de colar a cobra e então pega-a pelo rabo e faz
delai uma bola. Vai à prateleira, pega os soldadinhos e empreende uma ou
tra batalha, desta vez de costas para a terapeuta.)
BOOKS
Terapeuta: Você está fazendo uma batalha.
Dickie: Por que você não fica quieta?
Terapeuta: Você quer que eu pare de falar quando você manda.
Dickie: Sim. Por que você não pára? (A terapeuta cala-se. Didde
observa-a com atenção, muito contente por ter obtido silêncio.) Posso
voltar outra vez?
Terapeuta: Sim, se você quiser.
Dickie: Eu só estava brincando com você. Você disse que eu podia
GROUPS
brincar do jeito que eu quisesse.
Terapeuta: Sim, foi isto que eu disse. Você pode, sim.
Dickie: Posso dizer para você qualquer coisa que quiser também?
Terapeuta: Sim.
Dickie: Mesmo se eu quiser xingar, eu posso?
Terapeuta: Se você quiser, pode.
Dickie (rindo às gargalhadas): Quando posso vir aqui outra vez?’
Todo dia?
Terapeuta: Pode vir toda quarta-feira nesta mesma hora.
Dickie: Você é gente grande e eu posso dizer a você o que quiser. (R i.)
161
f
i
i
t
Terapeuta: Você acha engraçado dizer qualquer coisa que sinta, para
mim, que sou gente grande.
Dickie: Sim. (R i ironicamente.) Cala a boca Dona X . .. (Dona X é
a zeladora da instituição.). Cala a boca Dona X . ..
Terapeuta: Às vezes você gostaria de dizer à Dona X . .. que calasse
a boca. ,
\ 1
Dickie: Cala a boca, Sr. M ... (o superintendente do orfanato). Cala
essa bocona danada.
Terapeuta: Às vezes você tem vontade de dizer ao Sr. M. para fechar
“a bocona danada” .
Dickie: Eu gostaria, mas não tenho coragem.
Terapeuta: Você gostaria de dizer-lhe isto, mas não tem coragem.
INDEX
Dickie (sentando de frente para a terapeuta): Sabe?
Terapeuta: Hum?
Dickie: Eu quero engatinhar pelo chão e beber minha mamadeira.
Terapeuta: Você quer agir exatamente como um bebê. Bem, vá em
frente. (Como Dickie hesitasse.) Você não sabe se deve ou não.
(Dickie pega a mamadeira, assenta-se defronte à terapeuta, fecha os
olhos e bebe; escorrega para o chão e deita, sugando a mamadeira com os
olhos fechados.)
BOOKS
Dickie: Eu bebezinho.
Terapeuta: Você gosta de ser um bebezinho.
Dickie: Ummhumm... (Permanece na chão mamando, o resto do
tempo.)
COMENTÁRIOS
GROUPS
turo”, na opinião da zeladora do orfanato. Tinha choro fácil e tempera
mento irritável. Era enurético também.
162
tindo-se só e inseguro, refugiou-se em um comportamento imaturo, ocasio
nalmente expandindo-se através de um temperamento facilmente irritável,
sempre que qualquer coisa o perturbava.
É interessante notar a maneira pela qual Dickie usou seu primeiro
contato. Parecia estar expressando sua hostilidade contra a autoridade
opressiva da instituição. Escolheu um material moldável, que poderia ma
nejar facilmente, controlando seu tamanho e durabilidade. Usou a tera
peuta de uma maneira inusitada, trazendo-a para brincar com ele, como
o símbolo da autoridade adulta, que ele poderia usar para expressar seus
sentimentos, o que não teria coragem de fazer em relação ao controle adul
to a que estava atualmente submetido. £5 interessante notar como ele pas
sa de autoritário e ditador para um necessitado e inseguro bebê.
INDEX
Uma vez que este foi o primeiro contato de Dickie, ele ainda não
estava certo sobre o grau de permissividade e de aceitação com que poderia
contar. Isto é mais ou menos indicado através da sua frase “ Estava só brin
cando” e, posteriormente, depois de perguntar se poderia “até xingar” quis
saber se poderia voltar outra vez. Quase no fim de seu horário, parece
aproximar-se bastante do seu problema, quando “ pede” ao superintenden
te “para calar essa bocona danada” . A resposta da terapeuta neste ponto
parece ser muito forte para Dickie e então ele se esconde atrás da seguran
ça de um mundo onde ele era um bebê. O impacto da repetição exata de
BOOKS
suas palavras parece ter sido um choque muito forte para ele. Süa conduta
bebendo na mamadeira foi relaxada, descuidada e livre como a de um bebê.
O comportamento imaturo de Dickie pode muito bem ser sua defesa contra
um mundo difícil demais para ele.
A resposta da terapeuta parece também ter sido inadequada, quando
Dickie mencionou a mamadeira pela primeira vez. Teria sido melhor que
ela tivesse refletido seus sentimentos de querer agir como um bebê, ao in
vés de dizer “ vá em frente" o que constituiu um encorajamento e um su
porte consideráveis. A decisão ativa poderia ter sido deixada inteiramente
GROUPS
para ele.
S H IE L A A L IS A OS C A B E L O S D E S U A R IV A L
163
Terapeuta: Você desenhou tudo de um relógio.
Shiela: Agora olha aqui. (Inclina-se sobre o papel e desenha uma
cabeça com cabelos longos, ruivos e ondulados.) Escreva aqui em baixo
para mim: Dona B ... (a zeladora) disse: "Eu não quero lavar esse horrí
vel cabelo.” (Shiela ri enquanto a terapeuta escreve a frase.)
Terapeuta: A zeladora não gosta de seu cabelo. Ela não gosta de ter
do lavá-lo. ■■
Shiela ( pegando o lápis preto e riscando o cabelo): Olha como ele é
sujo. Dona B ... disse: “ Não quero lavar esse cabelo ruivo feio e sujo"
Esse tipo de cabelo deve ser ruivo. Seus olhos são azuis, né? Shirley tem
cabelos ruivos e olhos azuis. Ela é bonita também. Ela é feliz. Mas eu vou
fazer ela chorar. Vou fazer ela chorar três vezes.
INDEX
Terapeuta: Shirley tem belos cabelos ruivos e olhos azuis e é feliz, mas
você vai fazer ela chorar três vezes.
Shiela: Sim. Fica olhando. (Desenha mais duas cabeças.) Olha estas
lágrimas, não são grandes? (Joga água sobre o desenho.)
Terapeuta: Você está mesmo fazendo-a chorar. Você decidiu isso e
ela agora não está feliz.
Shiela: Agora eu vou desmanchar os cachos do cabelo dela. Viu?
(Desenha cabelos muito lisos sobre os cachos.)
BOOKS
Terapeuta: Você quer que ela tenha cabelos lisos.
Shiela: É claro que eu quero. Eles agora estão lisos, tá vendo? Olha
agora. (Pega o lápis vermelho e desenha compridas linhas vermelhas pelo
rosto.) Eu arranhei a cara dela. Agora quando a mãe vier buscar ela, não
vai saber quem ela é.
Terapeuta: Você não gosta de que a mãe de Shirley venha vê-la. Vo
cê arrancou os cachos de seu cabelo para que sua mãe não a reconheça.
Shiela (amargamente): A noite passada a mãe dela veio visitar ela,
GROUPS
trouxe um pacote de doces para ela e Shirley não me deu nenhum.
Terapeuta: Shirley não te deu nenhum doce e você não gostou disso.
Por isso quer deixá-la em apuros.
Shiela (rindo): Olha aqui! (Desenha uma bola marrom no cabelo de
Shirley.) Um chicletes no cabelo dela! (Shiela está completamente feliz
com isto.)
Terapeuta: Você pôs chicletes no cabelo dela. Você está destruindo os
cachos ruivos dela.
Shiela: Eles agora já não estão bonitos, né?
Terapeuta: Eles não estão bonitos.
Shiela (rindo feliz): Agora escreve “chora bebê, chora, enxuga os
164
olhos, aponta para leste, aponta para oeste, aponta para quem você gosta
mais” e depois escreva aqui, como se fosse Shirley que está dizendo, escreva
"Eu gosto mais é da Shiela!” (A terapeuta faa coma ela pediú.)
Terapeuta: Você realmente quer que Shirley goste de você.
Shiela (suspirando): Sim! (Ela pega a mamadeira e mama contente.)
COMENTÁRIOS
INDEX
pai estava na Marinha, longe demais para vir vê-la. Shiela nunca recebera
nada diretamente do pai, embora a diretóra da instituição tivesse dito que
ele mandava dinheiro para que ela comprasse “tudo de extraordinário que
a criança quisesse” .
BOOKS
do pai. Lá todos gostavam de Shirley. Ela era meiga, quieta e bem com
portada, com inclinações a ser estudiosa e introspectiva. Por outro lado,
Shiela era uma criança muito pouco atraente, com cabelos lisos,, de um
preto desagradável, e de olhos castanhos. Tinha inteligência acima” da
média, mas não se saía bem nos estudos devido a seu comportamento pro
blemático .
Seu brinquedo favorito na sala de ludoterapia era a mamadeira.
Sempre que entrava, agarrava a mamadeira e sugava-a intermitentemente
GROUPS
durante todo o tempò da terapia.
165
O H O M E M D E A R G IL A
CASO DE JOANN — SEIS ANOS DE IDADE — TRECHO DO QUARTO
CONTATO
INDEX
Terapeuta: O homem com a bengala.
Joann: Sim. (Começa a perfurá-lo todo.)
Terapeuta: Você está enchendo de buracos o homem de argila.
Joann: Facada! Facada! Facada!
Terapeuta: Você o está esfaqueando.
Joann (com voz sumida): Ai! Você me machucou. (Muda a vo z.) Não
me importo. Eu quero machucar você.
Terapeuta: O homem de argila está chorando porque você o está ma
BOOKS
chucando.
Joann (interrompendo): Eu quero machucar ele.
Terapeuta: Você quer machucá-lo.
Joann (enfática): Eu não gosto dele.
Terapeuta: Você não gosta dele.
Joann: Eu não gosto dele. Eu o odeio. Olha, este buraco atravessa
ele dum lado a outro. Vai do peito dele até as costas.
Terapeuta: Ele tem um buraco atravessando-o todo. Você o castigou.
GROUPS
Joann: Sim. Vou tirar a cabeça dele também.
Terapeuta: Você vai tirar a cabeça dele.
Joann: Eu sei. Eu vou pôr ele no fundo da jarra e vou pôr argila
por cima dele até ele ficar sufocado.
(Ela o parte em pedacinhos, amassa-o com o polegar, cuidadosamen
te, põe as peças no fundo do jarro e cabre tudo com o resto da argila.)
Terapeuta: Você o picou em padacinhos e o enterrou no fundo da
jarra.
(Joann concorda e sorri para a terapsuta. Vai até as' bonecas, finge
dar-lhes de mamar, carrega-as ternamente nos braços, coloca-as na cama,
arranja a mesa e brinca de casinha muito quietamente.)
166
Este é um exemplo do comportamento de Joann dentro da sala de te
rapia. Sempre ela faz o homem de argila, desmonta o, livra-se dele e então
põe-se a brincar com as bonequinhas. Isto continuou até a sétima sessão,
quando então parou de fazê-lo. Às vezes brincava com argila, mas fazia
gatos, pratinhos ou velas. Era muito afeiçoada às bonecas e continuou
com este brinquedo mais tempo.
COMENTÁRIOS
INDEX
seu círculo familiar. Entretanto, seu brinquedo parecia indicar que existia
em função de algum homem. Na hora em que brincava, a identidade dele
não parecia importante. Joann jamais deu-lhe um nome. A terapeuta não
tentou obter sua identidade, pois parecia importante a Joann escondê-lo
atrás de um anonimato. Finalmente parou de modelá-lo. Mostrava consi
derável progresso em suas atitudes e comportamento.
BOOKS
que ele é aleijado e usa uma bengala. Joann age como se tivesse medo
dele.” Isto pareoeu ser uma explicação para o caso do homem da bengala.
À intromissão desse homem no lar de Joann parece ter sido a razão de
tão terrível tratamento que ele sempre recebeu de suas mãos.
P R E P A R A Ç Ã O D E E R N E S T P A R A A H O S P IT A L IZ A Ç Ã O
O CASO DE ERNEST — SETE ANOS DE IDADE — PRIMEIRO RETORNO
AOS CONTATOS TERAPÊUTICOS
GROUPS
Emest, então na sala de brinquedos, dá uma rápida olhada neles.
Ernest: Oh! Tintas! (Olha o jarro com argila. Pega o telefone, move-o
sobre a mesa, pega as bonecas e o berço e os traz para a casinha de bone
cas.) Oh! que casinha bacana! Vou arrumar ela. (Assim o faz, dizendo o
nome de tudo que pega. Põe as duas meninas na cama e atira a mãe e o
pai na caixa de blocos de madeira. Põe o resto das crianças na caixa. Pega
os blocos de madeira e cerca a casa, deixando apenas uma pequena aber
tura entre eles.) Esta é a porta dos fundos. A gente pode vir aqui, ir até
a geladeira e pegar uma laranja ou qualquer coisa de comer e sair nova
mente, tá vendo?
Terapeuta: Tem comida nessa casa.
Emest: Sim. (Pega o telefone.) Alô. Está certo. Vou pegar o bebê
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neste momento. Até logo. Vou pintar um quadro com a palavra “fechado”
e vou pôr ele na casa para ninguém ir lá incomodar. Olha, a casa está toda
fechada. Ninguém pode ir lá.
Terapeuta: A casa está toda fechada.
Emest: Seria melhor escorar as portas (Vai até a casa e atulha o ca
minho das portas. Pinta uma casa sem janelas e sem portas. Faz um fun
do inteiramente azul. Vai até os soldadinhos e retira-lhes as armas. Põe
um revólver em cada porta.) Vou pôr este revólver aqui, porque qualquer
um que tente entrar aqui vai ser morto, viu?
Terapeuta: Você não quer que ninguém mais entre na casa. Eles até
mesmo serão mortos se tentarem entrar.
Ernest: Bang! Bang! (Faz um “ guarda-civil” correr pelo chão e subir
no braço da terapeuta, rindo durante todo o tempo. Volta à mesa de pin
tura. Pinta outra casa sem janelas nem portas.) Vem cá. Escreve “ FE
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CHADA” aqui em cima. (Aponta para o telhado da casa.) Pinta com este
pincel. (Tinta verde ) Faz bem grande. Agora escreve “Esta é minha casa.
Ela é bacana, não é? Até logo. Fechada” (A terapeuta escreve.) Eu gosta
ria de ter mais tintas em casa: Cor do exército. Então, quando eu pintas
se jipes e outras coisas, eu poderia fazer da cor certa. Às vezes eu misturo
preto e verde, mas não fica muito bom. Olha, eu pus azul em cima do meu
nome, mas ele ainda está aparecendo. (Volta à casinha.) Agora vocês dei
tem aí e vão dormir. (Põe um bonequinho na cam a.) Agora tá vindo al
guém. Vou dar um tiro nele. Bang! Bang! Bang! (Corre, pega o martelo
BOOKS
e a bigorna e bate com toda força. ) Meu braço fica cansado com isto. Ain
da vou dar mais três marteladas. Vê? (Martela mais um pouco. Tira da
caixa os soldadinhos, algumas espingardas e botes.) Vou tirar todos os bo
tes e espingardas. (Im ita o barulho de uma espingarda.) Ele vai ver que
“destroyer” é este. Viu? acabou com ele. Viu?
Terapeuta: Ele destruiu o bote.
Ernest (pegando pap?l e lápis de cor): Sabe o que isto vai ser?
Terapeuta: Não.
Ernest: Adivinha.
Terapeuta: Um avião?
GROUPS
Ernest: Não. Não é um avião. Isto vai ser vermelho — exatamente
vermelho. Você errou. (Ri.)
Terapeuta: Você está satisfeito porque não consegui adivinhar.
Emest: Eu tinha bolhas no calcanhar- Não tenho calo nenhum. Por
que você não tem fantoches aqui?
Terapeuta: Você gostaria que tivesse fantoches?
Emest: Sim. Como lá na escola.
Terapeuta (apontando os fantoches na prateleira): Olha lá.
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Emest: Este é Doony, o Palhaço. Ele vai te comer.
Terapeuta: Ele vai me comer.
Ernest: Que vergonha, Doony. Mordendo ela. (Lançando Doony na
caixa.) Pica aí!
Terapeuta: Você acha que Doony devia ficar envergonhado por mor
der tuna amiga sua?
Ernest: Sim, e logó uma boa amiga! (Pega uma mamadeira e colo-
ca-a nos lábios da b o n e c a bebê.) Bebe isto, nenê. Tá ouvindo? Você vai
beber isto nem que seja à força..
Terapeuta: Você vai forçar o bebê a comer.
Ernest: Ah! Vê? O bebê comerá!
Terapeuta: O bebê comerá.
(Ernest ri. De repente, lança-sé sobre a ambulância de brinquedo.
INDEX
Imita o som da sirene. Empurra a ambulância até a caixa, pega a bonequi-
nha e esconde-a sob a boneca maior na caixa de blocos.)
. Emest: Ela está no hospital. Aonde é o hospital? (Olha em volta.)
Ah! Aqui debaixo desta mesa. (Sirenes novamente. Empurra a ambulância
para debaixo da mesa.) Agora ela está no hospital. (Levanta-se, pega o
telefone. ) Eu vou fingir que estou falando com você. Você responde a con
versa. Alô.
Terapeuta: Alô.
Emest: Como vai?
BOOKS
Terapeuta: Bem, e você?
Emest: Quando é que eu posso voltar aqui novamente?
Terapeuta: Você quer voltar.
Emest: Eu quero voltar. Quando é que posso? Posso vir na próxi
ma terça-feira?
Terapeuta: Você gostaria de vir na próxima semana.
Emest: Quero voltar. Gosto daqui. Quando é que eu posso vir?
Terapeuta: Tão logo você saia do hospital.
GROUPS
Emest: Mesmo se eu sair amanhã?
Terapeuta: Mesmo se você sair amanhã.
Emest: Então eu vou sair amanhã.
Terapeuta: Você vai tentar sair amanhã, para vir aqui novamente
antes de ir para casa.
Ernest (pegando a boneca-bebê): Vem cá, nenê. Tá na hora de to
mar o remedinho. Agora já tá de noite. Cobre e vai dormir. (Carrega-a
para um canto.) Agora ela está na cama. Está dormindo. (Pega o fantoche
palhacinho e o faz estender a mão para a terapeuta, num cumprimento.)'
Até logo D ...
16$
Terapeuta: Ele está se despedindo de mim.
Emest: Sim.
Terapeuta: Até logo.
Emest: Até logo. (Joga o palhacinho na caixa. Pega o boneco-pai.)
O pai vai dar umas marteladas. (Malha a bigorna.) Olha ele esmigalhando
estas coisas aqui. Agora a menininha tá de volta do hospital. Agora ela
tá boa. A casa está aberta outra vez. (Remove os blocos que estavam cer
cando a casa.) Tá vendo? Tá vendo? Tá tudo bem agora.
Terapeuta: Ela foi para o hospital e já está de vòlta. E agora está
tudo bem.
(Emest coloca uma boneca na mesa da sala de jantar e outra na mesa
da cozinha).
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Emest: Ela vai ter que comer na cozinha, porque é má.
Terapeuta: Por que ela é má?
Emest: Porque ela desperdiça tudo que eles dão para ela comer.
Olha. (Emest joga a boneca no chão.) Ela caiu e quebrou o pescoço. Isto
é o. fim dela. Vou enterrar ela. (Enterra-a na caixa de blocos.)
Terapeuta: Este é o fim da menininha que desperdiçava a comida
que lhe davam.
Emest: Sim. Ela morreu. Agora vou trocar tudo de lugar na casa.
Aqui vai ser a cozinha. Eu vou mudar o piano pra lá. A lâmpada. Esta ca
BOOKS
deira. (Pega o reloginho de brinquedo.) Que horas está marcando?
Terapeuta: Oito e vinte.
(Emest troca a mobília do quarto de dormir para a cozinha, a da
cozinha para a sala, a do quarto para sala de jantar, a do quarto de dor
mir para o andar de cima. De fato, arranja de novo, completamente, a
mobília.)
Emest (pegando uma outra bonequinha): Ela quebrou a perna. A
ambulância vai vir buscá-la. (Barulho de sirene. A ambulância chega; tam
GROUPS
bém esta bonequinha é jogada na caixa.) Ela voltou para o hospital de
novo.
Terapeuta: Ela está sempre tendo que voltar para o hospital.
Emest: Sim.
Terapeuta: Ela gosta de voltar para lá?
Emest: Sim. (Então, repentinamente.) Não.
Terapeuta: Ela gosta e não gosta do hospital.
Emest: Ela está com medo.
Terapeuta: Ela está com medo de ir para o hospital.
Emest (pegando a boneca-bebê): Ela vai dançar. (Joga a boneca pa-
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ra cima.) Olha, ela tá com medo. Ela foi. (Joga-a na caixa de blocos.)
Terapeuta: Ela está com medo também.
Ernest (indo até a argila e trazendo um pouco dela): Vou fazer um
negócio. Vou fazer um burrinho. (Assenta-se e começa a trabalhar com ar
gila .) Vou fazer uma cara, o corpo, e o rabo. (Canta, enquanto trabalha.)
Vou pregar ele neste papel. (Pega o revólver.) Bang! Bang! (Pega a casa
de bonecas. C ôn oío par cônodo, a casa vai sendo destruída. Grita.) To
d o mundo morreu! (Revolve a casa.) Tá tudo destruído. (Levanta a casa,
■vira-a de cabeça para baixo e sacode a .) Este é o fim da casa.
Terapeuta: Todo mundo morreu. Tudo foi destruído. Este é o fim
da casa. Você quis destruí-la e destruiu.
Ernest (empurrando as peças desmontadas para o outro lado da.
sala.): Eu quebrei isso tudo. (Risadas.)
INDEX
Terapeuta: Isto faz você sentir-se bem — ter destruído tudo.
Ernest: É sim. (Pega a boneca grande e levada até perto da terapeu
ta, onde a deixa.) Aqui. Você dá de comer a ela. Você é que é a mãe.
Terapeuta: Você gostaria de que eu fosse a mãe.
Ernest: Eu é que vou dar de comer a ela. (Pega a mamadeira e se
gura-a perto da boca da boneca. Então, coloca-a de novo no berço. Falan
do para a boneca.) Agora, bebê, você vai dormir. Oh! Você molhou sua
cama. Oh! (Excitadamente.) Leve o bebê para o médico. Ele está doen
te.
BOOKS
Terapeuta: O que aconteceu com ele?
Ernest: Ele está com uma ferida na garganta. O bebê está doente.
Pobre bebezinho doente!
Terapeuta: Você sente pena do bebê porque ele está doente. (E r
nest tenta p ô r o bebê atrás da caixa de bloccs.) Você quer livrar-se do be.
bô doente.
Ernest (fingindo ser o bebê, lá de trás da caixa): Eu queria! Está
vendo? (Tira os soldadinhos e move-os sobre a casa, que arrumou.) Os
soldados vão tomar a casa, está vendo? (Brinca com os soldadinhos e ca
GROUPS
valinhos. Derruba os soldados, os cavalos e a casa. Traz um cavalinho
em direção à terapeuta. Arruma novamente a casa e pega os soldadinhos.)
Terapeuta: Restam cinco minutos, Ernest.
Ernest (pagando o fantoche e trazenio-o para a terapeuta): Eu vim
dizer até-logo. (Veste o fantoche em sua m ão.) Ai! Ele me mordeu.
(R i. ) Quando é que eu posso voltar?
Terapeuta: Você pode voltar quando sair do hospital, antes de ir
para casa.
Ernest (retomou ao seu quadro. Cobre o sinal “ FECHADO” com
tinta amarela ): Eu quero usar o vermelho. (Pinta toda a casa de verme
lh o .) Olha! Sangue! Sangue!
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Terapeuta: Isto parece sangue.
Ernest: Sim.
Terapeuta: Nosso tempo terminou.
Emest: Agora nós vamos almoçar e depois eu vou para o hospital
(Suspirou.)
Terapeuta: Você está com medo de ir para o hospital?
Emest: Eu não tenho medo. Eu só não quero ir. Mas depois que
eu voltar nós vamos tomar um refrigerante, antes de eu ir para casa, não
vamos?
Terapeuta: Voce não tem medo. Você só não quer ir. Sim. Nós
tomaremos um refrigerante.
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COMENTÁRIOS
BOOKS
mente, o que já fazia há meses. Entretanto, ainda era necessário subme-
ter-se periodicamente a uma dilatação na garganta. Era para uma destas
dilatações que Emest estava indo para o hospital. Como conseqüência
da operação, sua garganta apresentava visível hemorragia. A operação
precedente tinha-lhe trazido complicações desagradáveis e por isto Emest
sofria desta vez de uma ansiedade muito maior que a usual. (1)
As brincadeiras de Emest revelavam seu problema de alimentação,
indo para o hospital, ficando doente, morrendo, destruição geral, despedi
das da terapeuta e dando vazão à sua agressividade através de marteladas.
GROUPS
Sua maneira de brincar segue um padrão. O bebê, o alimento, a casa fe
chada, os revólveres, as marteladas, o hospital. Ele expressa sua agressL
vidade e seu medo através destas brincadeira. Ao fim da hora, como con
clusão, alega que não tem medo de ir para o hospital; apenas não quer ir.
É interessante saber que a reação emocional de Emest a esta hospitaliza
ção foi maior do que qualquer uma das anteriores. No dia seguinte, saiu
do hospital e voltou com um grupo de garotos para o contato terapêuti
co que havia psdido antes de ir para casa. (2)
172
Por certo, este contato evidencia que a vida emocional de uma cri
ança é, freqüentemente, a base de sua brincadeiras e, através delas, en
contra alívio para suas tensões.
S Y L V IA CO NTRO LA O F A N T A S M A
INDEX
circulares. Desta vez, Sylvia misturou o azul e o verde, pintando com as
mãos.
Sylvia: Água! Água! São ondas grandes!
Terapeuta: Você fez as ondas e a água.
Sylvia (imita um barulho de ondas): Shiiii.
Terapeuta: As ondas fazem barulhos engraçados.
Sylvia: Me dá o preto. Me dá o preto. (A terapeuta dá-lhe um pou
co de tinta preta.)
BOOKS
Sylvia (mudando a voz dramaticamente): Aí vem o fantasma.
Terapeuta: O fantasma está vindo.
Sylvia (fazendo uma figura preta no meio do papel): Uuuuuuh!
Terapeuta: O fantasma vem. "Uuuuuuh!” Está no meio da água.
Sylvia (rindo para a terapeuta): Eu gosto disso.
Terapeuta: Você gosta de fazer isto. Você gosta de pintar com os de
dos.
Sylvia: Olha! Olha! Eu sou o fantasma que mora debaixo d’água.
Tá vendo?
GROUPS
Terapeuta: Aquele é o fantasma que mora debaixo d’água.
Sylvia: Eu sou o fantasma que voa na janela aberta, à noite.
Terapeuta: Você é o fantasma que voa na janela aberta, à noite.
Sylvia: Isto me assusta.
Terapeuta: Seu fantasma te dá medo.
Sylvia: Sim. (Enfia as mãos na água azul e verde.) Vai embora!
Vai embora.
Terapeuta: Você está mandando o fantasma embora.
173
Sylvia: Uuuuuuuh! (Ri para a terapeuta.)
Terapeuta: O fantasma está dizendo “Uuuuuuuh!”
Sylvia: O fantasma está indo embora.
Terapeuta: O fantasma está indo embora agora.
Sylvia: Acha ele.
Terapeuta (examinando o papel): O fantasma não está lá.
Sylvia (assentindo enfaticamente com a cabeça): O fantasma não es
tá lá. (Uma vez mais enfia os dedos diretamente na tinta e faz borrões cir
culares. Sai da mesa.) Agora eu vou brincar na areia.
COMENTÁRIOS
INDEX
Sylvia foi recomendada à ludoterapia por causa de seus medos e
ansiedades, que resultaram de uma experiência traumática, quando, sem
qualquer explicação ou preparação por parte de seus pais, foi levada a
um hospital para uma pequena cirurgia. Como manifestação de sua ten
são, ela arrancou os cabelos até ficar quase que totalmente calva.
O contato que descrevemos foi assistido por uma terapeuta subs
tituta, por causa de doença da terapeuta que regularmente a assistia. De
acordo com as notas, o fantasma constituía a m aior parte de suas brin
BOOKS
cadeiras. Ele não tinha nome. Talvez constituísse justamente o medo in
definível que ela estava revelando. Nesta altura da terapia, Sylvia tinha
superado a maioria de seus medos e ansiedades e perdera a mania de pu
xar os cabelos. Através de sua brincadeira, Sylvia revelou e destruiu seu
fantasma. Tintas que se usam com os dedos, escolhidas por ela mesma,
pareceram ser o meio mais perfeito para ela revelar esse visitante fan
tasmagórico.
J E A N E OS B A N H E IR O S
GROUPS
O CASO DE JEAN — QUATRO ANOS DE IDADE — PRIMEIRO CONTATO
174
•Terapeuta: Apesar de você ter prometido, você não está completa
mente certa de que quer ficar comigo. Você está, talvez, com um pouqui
nho de medo.
Jean (sussurrando para a terapeuta): É que talvez a senhora não
tenha banheiro.
Terapeuta: Há um logo ali, à direita da sala de brinquedos. Você
gostaria de vê-lo?
Jean: Sim. (A terapeuta mcstra-o a ela)
Jean (assentindo para a terapeuta): Tá certo, mamãe, eu vou ficar.
(A mãe vai. Jean olha em volta da sala de brinquedos.) Oh! Deixa eu
ver! Que vou fazer? Que vou fazer? Tintas. Mas talvez elas me sujem.
Terapeuta: Você tem medo de que elas caiam no seu vestido. Há
INDEX
um avental aqui.
Jean: Então vou pintar. Me ajuda a vestir ele. Me dá a tinta preta.
(Ela começa a pintar com a tinta preta. A tinta escorrega no papel.) Oht
Ela tem caldo! Viu? Oh! (Ela está nitidamente Impressionada com a tin
ta que escorre.)
Terapeuta: Você não gosta de que ela escorra.
Jean: Não. (Deixa a tinta preta de lado e pede a branca. Quando es
ta escorre, abandona as tintas.) Me ajuda a tirar o avental. Espera! Que
BOOKS
quê é isto?
Terapeuta: São tintas de pintar com os dedos.
Jean: Elas escorrem?
Terapeuta: Não, a não ser que você queira que elas escorram. (A
terapeuta mostra-lhe como usar esse tipo de tinta.)
Jean: Me dá um pouco daquela ali. (Apontaa tinta preta.) Pr
Um punhadão. (Então, sem tocá-la, empurra a mesa pra trás.) Não! Não!
Isto é muita porcaria! (Não toca nas tintas. Afasta se da mesa.) Tira meu
avental. (A terapeuta tira-o.) Uma casinha de bonecas e uma família de
GROUPS
bonecas. (Vai para a caixa de areia onde estão colocadas a casinha e a
família de bonecas; inclina-se em direção à caixa, mas não consegue brin
car, pois é pequena demais.)
Terapeuta: Você gostaria de entrar na caixa de areia, Jean? Assim,
poderia alcançar a casinha mais facilmente.
Jean (rindo): Tá certo. (A terapeuta coloca-a dentro da caixa de ar
reia. Quando seus pés tocam a areia, ela pula.) Não! Não! Não! Me tira
daqui de novo. Não quero ficar aqui. Vai entrar areia no meu sapato.
Terapeuta: Você quer que eu tire seus sapatos e suas meias?
Jean: Não! Não! Não! (A terapeuta retira-a da caixa e coloca-a no
chão.)
175
Terapeuta: Você prefere ficar aqiíi fora do que ter que tirar as
meias e os sapatos, ou entrar na areia com seus sapatos.
Jean (brincando com as bonecas e a casa): Onde está a menina? Es
ta é a menina. Esta é a menina. Ela está com a mãe dela. Ela está com
a mãe dela. (Jean fala constantemente e repete tudo o que fala.) Vem
agora e vai para a cama, queridinha... Eles vão para a cama... para a
cama... para a cama... Eu não posso entender isto. Esta é a mesa da
cozinha... da cozinha... da cozinha. A menina maior vai para a escola
toda manhã... toda manhã... toda manhã. Tem um relógio para a ca
ma dela... para a cama dela. Eu estou indo me assentar à mesa... à me
sa... à mesa. Esta é mãe. Este é o papai. O papai. O papai. (Para a te.
rapeuta.) Estou ouvindo alguns meninos. Onde é que eles estão?
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Terapeuta: Estão brincando lá fora.
Jean: Oh! Vai para a cama. Vai para a cama. Ela está lendo na cama.
Esta é a m ãe... a m ãe... Este é o p a i... o p a i... Eles estão lendo na ca
m a... na cama. Cedo... Cedo... Estão indo cedo para a cama...
para a cama... Cedo. Cedo. Aonde é que é a casa deles? Casa. Casa. Eu
vou pôr eles na casa. Vão morar nesse andar... Neste andar. Você acha
que tem quartos que dê para todos eles neste andar?
Terapeuta: Você se preocupa em saber se há quartos suficientes para
todos eles.
BOOKS
Jean: Sim. Sim. Tem um quarto para cada um deles dormir.
Terapeuta: Eles vão mesmo dormir neles.
Jean: Olha. Olha. Olha! Eles ainda estão lendo. Se eu tirar estas coi
sas daqui, vai ter mais quartos. Eles não vão ler mais. Vão pra cama. Vão
para a cama. Onde está minha mamãe?
Terapeuta: Você quer saber onde que sua mãe está. Ela foi fazer uma
coisa e volta quando você terminar aqui.
Jean: Onde é o banheiro?
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Terapeuta: Na sala aqui perto.
Jean: Vamos lá ver. (A terapeuta leva a. Ela olha-o diz: “ Vamos vol
tar agora.” Retornam à sala de brinquedos.) Aqui tem um banheiro tam
bém. Eu vou pôr os negócios do banheiro no quarto da menina.
Terapeuta: Você vai pôr os negócios do banheiro no quarto da menina.
Jean: Sim, é esta menininha. Ela tem quatro anos. Ela dorme no ba
nheiro... no banheiro... no banheiro...
Terapeuta: A menininha de quatro anos dorme no banheiro.
Jean: Eu também tenho quatro anos.
T e r a p e u t a : Você tem quatro anos. Logo, a mesma idade da menininha
que dorme no banheiro.
176
Jean: Sim. Aqui tem outro banheiro. Ele está perto dela também. E
o pai e a mãe estão indo para a cama. Para a cama. Eles têm um quarto ba
cana. Vê? Eles têm um quarto bacana.
Terapeuta: O pai e a mãe estão indo para a cama. Eles têm um quar
to bonito.
Jean: Eles têm uma geladeira no quarto também. Uma geladeira.
Uma geladeira. (Põe a geladeira no quarto dos pais.) As crianças dormem
no quarto ao lado. E podem ir direto para este quarto se quiserem e se
precisarem do pai ou da mãe.
Terapeuta: O pai e a mãe estão perto, se precisarem deles.
Jean: Estão dormindo agora. Dormindo. Dormindo. (Vira-se e sorri
para a terapeuta.) Vou tirar o sapato e a meia agora e vou entrar na caixa
INDEX
de areia.
Terapeuta: Você agora quer entrar na caixa de areia e brincar.
(Jean tira os sapatos e as meias e a terapeuta ajuda-a a entrar na
caixa.)
Jean: Quero uma geladeira no quarto das crianças.
Terapeuta: Você quer que as crianças tenham uma geladeira no quar
to também.
BOOKS
Jean: Tem outro banheiro aqui?
Terapeuta: Tem outro banheiro aqui.
Jean: Tem um banheiro na sala de visitas. Tem um banheiro na co
zinha. Tem um banheiro na sala de jantar. (Ela arruma a casa de novo. Não
há a mínima organização nos quartos. A mobília está colocada ao acaso.
Há banheiros em todos os cômodos da casa.)
Terapeuta: Há um banheiro em cada cômodo da casa.
Jean: O pai tem que acordar cedo... cedo... cedo. Ele está aqui na
GROUPS
sala de visitas. Devia ter livros para ler. Lâmpadas também. Um rádio. A
mãe está dormindo. Isto é a banheira. Eu vou pôr a banheira na sala de vi
sitas. Alguém podia querer tomar um banho... tomar um banho... Esta
é a pia. A água está caindo. Vou pôr isto na cozinha. Isto é a cozinha...
a cozinha.
Terapeuta: Há banheiros por toda a casa.
Jean: A mãe levanta-se da cama e senta numa cadeira, toma café, vai ao
banheiro e depois volta para a cama. O pai tomou café e foi pro banheiro.
A mãe volta pra cama. Ela conta pro pai que tinha levantado, tomado café,
e tinha ido ao banheiro também e ele diz: “Bom! Bom! Bom!” Bom! (Põe
todas as bonecas na cama outra vez. Então sai da caixa de areia, com a aju
da da terapeuta.) Tenho mesmo que ir ao banheiro, desta vez.
177
(A terapeuta leva-a ao banheiro. Voltam à sala.)
Jean: Agora vou brincar com o telefone.
Terapeuta: Você quer brincar com outras coisas agora.
Jean (ao telefone): Alô. Eu quero um negócio, agora. Um sanduíche
e um pouco de geléia. Hum? Não. Sim. Como está você? Bem. Oh! Não!
Bem. Meus meninos estão na cama. O pai também, eu acho. Oh, eu não sei.
Jean está... Nós temos agora um novo bebê. Nós já temos ele há três me
ses. Porque sim. Quando vocês vêm cá? De tarde? (Pega a boneca. Ela está
molhada. Volta-se de repente em direção à terapeuta.) Oh! aconteceu algu
ma coisa! Ela tem barriga. Ela foi ao banheiro. Vergonha. Vergonha. (Ri.)
Eu não tenho deste tipo de boneca. Meu Deus, olha, ela vai ao banheiro!
Terapeuta: O bebê vai ao banheiro também.
INDEX
Jean (indo até a prateleira e pegando timidamente uma mamadeira):
Os bebês mamam numa garrafa assim.
Terapeuta: Os bebês mamam numa garrafa assim;
Jean (rindo): Eu vou beber também.
Terapeuta: Você vai beber na mamadeira, também.
Jean: Os bebês mamam na mamadeira e eu também vou fazer isso.
(Ri, suga a mamadeira.)
Acaba-se o tempo. A mãe está lá fora esperando por ela. Jean calça
BOOKS
os sapatos e as meias por si mesma e sai rindo. Ao encontrar sua mãe fora
da sala, Ieva.a lá dsntro e mostra-lhe com que brincou. A mãe nota os vá
rios banheiros nos quartos.
Mãe: Você é que pôs aquelas peças de banheiro lá?
Jean: Sim.
Mãe (para a terapeuta): Esta é que é a coisa mais engraçada. Toda
vez que ela brinca com blocos de armar ou com sua casinha de bonecas,
quer pôr banheiros em todos os quartos. Mas eu tento impedi-la de fazer
GROUPS
isto em casa. Não me canso de dizer-lhe que não é bonito e que se ela fizer
isto em casa tem que parar de brincar.
Jean (alegremente).' Eu mamei na mamadeira também.
Mãe (olhando completamente abismada): O quê? Uma mamadeira!
Jean: Sim. Aqui eu posso.
COMENTÁRIOS
Jean foi trazida à clínica por causa de seus medos e ansiedades de ser
levada embora de sua casa ou de ser deixada pala mãe. Esta foi a segunda
visita de Jean à clínica. Na primeira vez, a terapsuta aplicou lhe um “ Stan-
ford-Binet” (L ). No início do teste a mãe ficou na sala junto com a criança.
178
Quando Jean já estava na metade dq teste, a mãe perguntou-lhe se poderia
sair e ficar na sala de espera até que o teste terminasse, lendo uns livros
que ela vira lá. Jean permitiu, que sua mãe a deixasse. A mãe disse que esta
era a primeira vez que Jean tinha^ ficado sozinha com uma pessoa estranha.
Jean terminou o teste, revelando um QI 138. Voltou à clínica três vezes de
pois disto. No final do teroeiro contato, a mãe disse que Jean mostrava mui
to progresso e que não pensava sér necessário trazê-la novamente'. Dissé que
Jean agora saía e brincava com as outras crianças da vizinhança é pérmá.
necia longe da mãe muito tempo. Disse também que se certificaram de que
ela estava realmente “ curada” quando, uma tarde, ela foi, sozinha,, jantar
na casa de um vizinho. Noutra tarde, ela foi para a casa de outro .vizinho
lazer a sesta. De acordo com o relatório da mãe, Jean adquirira a mania
de banheiros em tenra idade.
INDEX
Jean contou à terapeuta, durante seu segundo contato, que Sua mãe
tinha-lhe permitido tomar leite na mamadeira de seu irmãozinho e que ti
nha-lhe prometido uma “bonequinha-que-fazpipi” para o Natal.
Durante os segundo e terceiro contatos, ela passou a maior parte do
tempo brincando com bonecas.
A repetição de palavras e fráses em sua conversa desapareceu durante
a última parte do primeiro contato e quase não era notada no último con
tato . Sua mãe contou que ela repetia as próprias palavras quando iestava
perturbada cóm qualquer coisa. Progredira neste ponto também, fòra da
BOOKS
clinica.
E D IT H E X P R E S S A SE U S P E N S A M E N T O S E D E SE JO S
GROUPS
necas. Esta é a Judy e esta outra aqui é a Nancy. “Alô Edith.” Aonde está
Edith? Ah! Esta aqui vai ser eu. Não é’ bonitinha?
Terapeuta: As bonecas são as meninas aqui do orfanato. E você é a
mais bonita daqui.
Edith: Sim. Menino, como sou bonita!
Terapeuta: Você é bonita.
Edith: E esta aqui é Ann. Ann é uma grande fofoqueira. Eu não gosto
dela. (Arranca a cabeçi de Ann.) Oh! Olha o que aconteceu com Ann. Sua
cabeça saiu,
Terapeuta: Você não gosta de Ann porque ela é fofoqueira e, por isso,
arrancou-lhe a cabeça.
ÍÍ79
Edith: Ela é uma pessoa mesquinha. Assenta logo atrás de mim lá na
escola, e me atrapalha o tempo todo, me põe confusa, está sempre me acu
sando e acaba a professora me pondo de castigo assentada na frente da sala.
Uma vez eu disse que a professora era fedorenta, Ann contou pra ela e a pro
fessora bateu em mim.
Terapeuta: Você acha que Ann lho causou uma porção de problemas
na escola.
Edith: Ela faz a mesma coisa aqui no orfanato. (Brinca com as bone
cas. De repente, ilumina-se com uma idéia.) Este é um dia de inspeção. Vêm
aqui um homem e uma mulher procurando uma menininha para adotar.
“ Crianças! Crianças! Fiquem em seus lugares. Está todo mundo aqui? Este
homem e esta mulher querem adotar uma garotinha. Eles querem uma ga
rotinha de cabelos louros e olhos azuis.”
Terapeuta: Eles querem uma menina que se pareça com Edith.
INDEX
Edith (rindo): Fica só observando. “ Crianças, rápido! A senhora quer
ver vocês todas! Onde está Mary?" “Mary fugiu.” “ Onde está Jean?” (Ela ar
ranca a perna de Jean.) “Jean está aleijada. Não pode vir. Ela só tem uma
perna.” “Aonde está Betty?” (Pega um lápis e fura os olhos de Beth.) “Beth
não tem olhos. Não pode ver.” “Aonde está Jim?” “Ele afogou-se quando foi
nadar h oje.” Então a mulher olha em volta e vê esta menininha. “Olha,
quem é aquela linda menininha lá?” ‘‘Aquela é Edith.” Alô, garotinha.
Você ó uma boa menininha?” “Sim.” “Você é boazinha na escola.” “ Sim.
sou.” “Você gostaria de ir viver comigo na minha casa, bem longe daqui?”
BOOKS
(Ela empurra as bonecas para longe dela. Atravessa a sala de brinquedos
e pega a mamadeira. Assenta-se defronte à terapeuta.)
Terapeuta: Você gostaria de que alguém adotasse você. Você gostaria
de ir embora para longe daqui.
Edith: Sim. (Suspira.) Os cachorros e os coelhos tomam banho na
água?
Terapeuta: Os cachorros sim.
Edith: Eu li uma estória uma vez, sobre um cavalo que atolou na la
ma. Você acha que eles lavaram ele?
GROUPS
Terapeuta: Eu suponho que sim.
Edith (bebendo na mamadeira): Os professores estão sempre zangando
com os alunos. Eu odeio a escola.
Terapeuta: Você não gosta de ir à escola porque acha que os profes
sores são maus para você.
Edith: Não gosto de nada na escola. Você não tem que ir à escola tem?
Você é que é de sorte. É lógico que sou mais de sorte do que os que estão:
no primeiro ano e que agora é que estão começando; Eles ainda têm que
fazer dois anos mais do que eu. (Pega uma outro boneca.) Esta é Sara. Ela
180
é lá do alojamento das meninas também. Ela é que é a favorita. Ela é que
pode lamber todas as panelas.
Terapeuta: Você não gosta que haja uma favorita que está sempre fa
zendo as coisas melhores.
Edith (arranca a cabeça de Sara): Eu quero ser a favorita.
Terapeuta: Você gostaria de ser a favorita.
Edith: Eu deveria ser a favorita. Estou aqui há máis tempó que as
outras. Nem me lembro de outro lugar, só daqui.
Terapeuta: Você está aqui há mais tempo que as outras. Você acha
que tem mais direito de ser a favorita.
Edith: (sugando a mamadeira): Eu gostaria de ser um bebezinho.
Terapeuta: Você gostaria de ser um bebezinho.
Edith: Ou uma mulher grande como você.:
INDEX
Terapeuta: Um bebezinho ou uma mulher grande como eu, mas não
uma menininha de oito anos.
Edith: Sim. (Longo silêncio. Ela suga a mamadeira com os olhos fe
chados.) Você me dá uma dessas para eu levar para a cama comigo esta
noite?
Terapeuta: Você gostaria de ter uma mamadeira para levar para a ca
ma com você, mas não posso dar uma a você, Edith.
Edith: Oh! Eu só possp beber nela aqui, né?
BOOKS
Terapeuta: Sim, aqui você pode brincar de bebê o quanto quiser.
Edith (vái até a prateleira, pega o chocalho, desce para o chão e en
gatinha): Da da da da da mamãeee... (Deita.se no chão, fecha os olhos e
mama até a hora terminar. Então levanta-se, põe a mamadeira na prate
leira, sorri para a terapeuta, diz até logo e sai alegremente.)
COMENTÁRIOS
GROUPS
de afeto e segurança, coisas que não obtinha na instituição.
Este trecho das brincadeiras da criança revela pensamentos ambicio
sos. Edith vivia na constante esperança dé que, algum dia, alguém viesse à
instituição adotá-la. (Incidentalmente, três meses após este contato, alguém
adotou-a.)
Neste caso, como em muitos outros, o uso da mamadeira parece
constituir uma fuga, por parte da criança, que regressa à segurança do
mundo infantil. A mamadeira parece exercer fascínio sobre tpdas. as cri
anças, mais que quaisquer outros objetos da sala de terapia.
181
CONCLUSÕES
Í
anças extravasam seus sentimentos muito recalcados, quando experimen
tam a permissividade da hora da terapia. Naturalmente, nem todos os mo.
mentos dentro da sala de brinquedos são impregnados de sentimentos pro
fundos, mas estes sempre se revelam à medida que á terapia vai progre
dindo.
INDEX
sejam interpretadas pela terapeuta, mas ela não pode interpretá-las ou ge
neralizá-las para a criança. Ela chega até a criança com os sentimentos
que esta expressa, tal como são expressos. No caso de.Joann, eritretanto, a
terapeuta parece ir além da criança quando diz: "Lá vem aquele homem
de novo.” Uma observação assim poderia ter tolhido Joaan. Por sorte, nes
te caso, isto não aconteceu.
BOOKS
tade, no seu pequeno mundo de brinquedos. Podia fazê-lo e destruí-lo de
pois.
Shiela não poderia ter expressado seu ciúme e seu desejo de ser que
rida, tão vivamente, sem lápis de cor e papel. Necessitava revelar esses
sentimentos de ciúme, abertamente, num lugar onde pudesse vê-los às cla
ras. Precisou alisar os cabelos ruivos de sua rival, riscá-los todos de preto,
pregar-lhes chicletes e até fazê-la chorar . Por que Shirley poderia
ser feliz, se Shiela não o era? Shiela cuidou disso. Molhou-a! Molhou-a! E
molhou-a!
GROUPS
Algumas vezes a terapeuta tentou saber que espécie de "bicho.papão”
está atormentando a criança. “ Eu sou o fantasma que mora embaixo d’á-,
gua”, diz Sylvia, "Eu sou o fantasma que voa da janela aberta de noite."
Mergulha a mão nas tintas de pintura digital. Tão logo a tinta escorre pe
lo papel, a forma fantasmagórica espalhà-se pela pintura. Com as tintas
de pintura digital, Sylvia pôde mostrár como aqueles fantasmas apareci
am em todas as coisas e, uma vez escolhido o símbolo, pôde apagá-los de
voz. -':
INDEX
terapeuta deve apreender os valores de cada contato, tendo em vista o an
tecedente. As necessidades das crianças não são as mesmas. O que é valioso
para uma, pode ser prejudicial para outra. São necessárias flexibilidade,
adaptabilidade e sensibilidade.
O caso de Ernest revela uma criança agitada com emoções e confli
tos. Ele os supera todos até o fim e assim pode, ao término, dizer hones
tamente que não tem medo.
Edith usou um meio que representava destruição. Não existem limi
tações sobre as bonecas de papel. Elas podem ser despedaçadas e, na ver
BOOKS
dade, freqüentemente o são. Muitas vezes, desenhos de bebês, mães, pais,
escolas, médicos, casas, animais, etc. são preparados de antemão e é permi
tido às crianças rasgá-los, se este é o desejo delas. A expressão e a liberta
ção de sentimentos são canalizados para os objetos com os quais elas brin
cam.
GROUPS
183
INDEX
BOOKS
GROUPS
2 0 . TRECHOS DE REGISTROS DE
TERAPIA EM GRUPO
INDEX
S H A R O N Q U E R T U D O Q U E E S T E J A COM J A N E
Sharon — de cinco anos de idade — quer tudo que esteja com Jane,
só para tomar dela. Jane pega uma boneca, Sharon tenta tomá-la.
Terapeuta: Sharon quer tomar a boneca de Jane. (Sharon concorda;
é exatamente isto que qner. Jane entretanto aferra-se à boneca. Sharon en
furece-se e dá puxSes na boneca.)
Terapeuta: Sharon está com raiva porque Jane não quer dar-lhe a
BOOKS
boneca.
Sharon (gritando furiosamente): Me dá esta boneca! Me dá a bone
ca!
Terapeuta: Sharon está com muita raiva. Pensa que se gritar pode
obtê-la por este modo.
Sharon (puxando de novo a boneca e gritando): Vou quebrar ela!
Terapeuta: Você vai quebrá-la, se não puder ficar com ela.
Sharon: Vou mesmo. (Sua raiva, porém, está amainando. Ela então,
GROUPS
já mais calma, começa a afastar-se de Jane e da boneca.)
Jane (com voz convincente): Pode ficar com ela agora. (Sharon pe
ga a boneca, Jane vai para as tintas de pintura digital. Sharon solta a bo.
neca e vai atrás de Jane.)
Terapeuta: Jane deu-lhe a boneca, mas você agora não a quer mais.
Jane foi pintar, e então você quer pintar também.
O leitor notará que a reflexão que a terapeuta faz dos sentimentos
expressos é preferível à colocação de um limite, quando Sharon ameaça
quebrar a boneca.
S A R A H E E D N A D IZ E M A D E U S
INDEX
tos. Não é comum que membros de um grupo brinquem juntos do modo
como estas duas meninas brincaram, mas, nessa ocasião, elas estavam “ di
zendo adeus” uma à outra.
BOOKS
então, quando nada acontecia, caía em prantos. Chegou mesmo a “ adoecer”
algumas vezes, acabando por tomar se uma “ criança-problema” . A mãe tor
nava a visitá-la, fazia as mesmas promessas e tudo continuava na mesma; e
assim, Sarah nunca duvidava da sinceridade de sua mãe. Sempre acredita
va e esperava ir embora a cada vez que a mãe lhe prometia isto. É desne
cessário lembrar que Sarah constituía uma “ criança-problema” .
GROUPS
Sarah em relação ao possível desajustamento.
186
Terapeuta (quando Sarah a beijou): Você quer que eu saiba que vo
cê gosta de mim.
Sarah (assentindo): Eu vou casar com você quando crescer.
Edna: Uma mulher pode casar com outra?
Sarah: Você trouxe as mamadeiras?
Edna (persistente): Uma mulher pode casar com outra? Heim? Pode?
Terapsuta: Você quer saber alguma coisa sobre quem casa. Um ho
mem e uma mulher podem se casar. Duas mulheres não podem.
Edna: Nem mesmo se uma delas se vestir de homem?
Terapeuta: Nem mesmo se uma delas se vestir de homem.
Edna: Ah! Então eu não vou querer casar não. Eu tenho medo de
homem.
INDEX
Terapeuta: Você tem medo de homem.
Edna: Sim. Vamos brincar com as bonecas. (Ela e Sarah sentam-se
no chão e começam a brincar com as bonecas.)
Sarah: Esse menino e essa menina vão casar. (Coloca-os juntos. Põe
a mãe e o pai juntos. Tira a roupa do pai. Edna dá-lhe o pai e Sarah des
pe-o.) Olha! Ele é de pau. Ah! O pai de pau. Olha, Edna. Eles já têm um
hebê!
Edna: Põe eles na cama.
BOOKS
Sarah (colocando o pai e a mãe na cama. Coloca o bebê na caminha
e segura a mamadeira em seus lábios.): Pobrezinho! Não tem nada para
comer!
Edna: Dá pro bebezinho um negócio de comer. (Mantém a mamadei-
Ta em ssus lábios ) Agora você vai ficar com a vovó.(Põe o bebezinho num
ônibus e empurra-o em volta da sala.)
Terapeuta: O neném foi embora.
Sarah: Sim.
(Pararam de brincar com as bonecas e Sarah pegou uma das bonecas
GROUPS
grandes. Segurou-a durante pouco tempo. Colo:ou-a de lado e num impul
so dirigiu-se para as bonecas de papel. Edna senta-se à toa no chão. Após
longo silêncio levanta se, vai até a caixa de brinquedos e pega uma másca
ra negra. Segura.a longe dela.)
Edna: Eu tenho medo. Olha! Eu tenho medo disso.
Terapeuta: Você tem medo da máscara negra.
Edna: Eu tenho medo d e ...
Terapeuta: Você tem medo de...?
Edna: Alguma coisa. Eu não sei. (Sacode os ombros.)
Terapeuta: Você não sabe do que tem medo.
(Edna retoma as bonecas e recomeça a brincar. Sarah junta-se a
ela.)
Sarah: O bebezinho vai embora outra vez. Aqui vem a mãe correndo.
Onde está o bebê? Onde está o bebê? O bebê está indo embora! (Fala isto
muito dramaticamente. Depois muda o tom de vo z.) O bebê, eu esqueci o
bebê. Deixei ele na cidade. (R i.) Na realidade joguei ele fora.
Edna (com voz agitada): Você jogou o bebê fora? Você é má! (Bate
na boneca m ãs.) Como é que você pode ser tão desgraçada? Jogou o bebê
fora! (Pega a boneca em seu colo e beija-a. Sarah joga o pai no chão.) Por
que fez isto?
Sarah: O pai é mau...
Terapeuta: O pai é mau?
Sarah: Não gosto do pai.
INDEX
Terapeuta: Você não gosta do pai.
Sarah: Não. Não gosto. (Entrega-o a Edna.)
Edna: Não quero ele não. Não gosto dele também não. Joga ele fo
ra! (Joga-o atrás de Sarah.)
Terapeuta: Edna também não gosta do pai.
Edna: Vou tirar o bebê do meio dessa gente. Eles não gostam dele.
(Pega-o, juntamente com sua cama, e coloca-o do outro lado da sala. Bebe-
toda a água da mamadeira.) Gosto de mamar. Gosto de ser um bebê.
BOOKS
Terapeuta: Você gostaria de ser um bebê.
Edna: Sim. Eu gostaria.
Sarah: Eu também. (Bebe na mamadeira, sem o bico.) Gosto de be
ber sem ele. Eu gosto disto aqui. Não vou querer brincar fora daqui. Olha.
Edna, estou bebendo cerveja.
Edna: Oh! Você tá? (R i.)
Sarah: Vou para casa.
Terapeuta: Você vai?
Sarah: Sim, amanhã.
GROUPS
Edna: Para ficar para sempre.
Sarah: Minha mãe vai perguntar hoje ao juiz se posso ir.
Edna: Vou ficar sozinha.
Sarah: Chorei domingo o dia inteiro.
Terapeuta: Você chorou? Você sentiu-se infeliz.
Sarah: Sim. Eu queria ir para casa. Queria ir embora.
Edna: Você é boba de chorar. Eu queria poder ir pra casa.
Terapeuta: Você gostaria de ir para casa também.
188
Edna (para a terapeuta): Sim. Mas você é boazinha. Quando você
lo r, aí então vou querer ir. Deixa eu ir morar com você.
Terapeuta: Você gostaria de ir morar comigo.
Edna: Sim. Posso ir?
Terapjuta: Infelizmente não é possível.
INDEX
Edna: Nem eu.
Sarah: Onde está o bebezinho? (Olha em direção ao bebê.)
Terapeuta: Você se preocupa em saber onde está o bebê.
Sarah: Sim. Onde é que ele foi?
Terapeuta: Você quer achar o bebê.
Edna: Oh! O bebê foi embora? Pobrezinho! (Corre, toma-o nos bra
ços e beija o .) Eu adoro você, nenenzinho. Vou tomar conta de você. Vou
BOOKS
deixar você vir morar comigo.
Terapeuta: Você gosta do bebezinho e deixaria que ele fosse morar
com você, se pudesse.
Edna: Mas não pode. (Suspira.) Você não pode nem me adotar?
Terapeuta: Sei què isto te entristece muito, mas não posso nem ao
:menos ta adotar.
Edna: Eu sei. Você disse que não podia.
Terapeuta: Éu disse que não podia. Eu sei que você gostaria muito
GROUPS
de ir morar comigo ou então com sua mãe, mas...
Edna: Eu não tenho mãe nenhuma. Nunca tive. Nem pai.
Terapeuta: Você nunca teve pai nem mãe.
Sarah (levanta-se com determinação e exclama): Vou embora pra
casa! Vou embora pra casa!
Edna (caindo em prantos): Não vou ficar aqui! Quero ir embora tam-
t>ém.
Terapeuta: Edna está muito infeliz porque você vai para casa e ela
■vai ter que ficar aqui. (Sarah abraça Edna e lhe psde para não chorar.)
Sarah não gosta de ver Edna chorar. Isto faz com que ela fique triste tam
189
bém. (Sarah começa a chorar também.) Vocês estão tão tristes que estão
ambas chorando.
(As meninas choram. Sarah e Edna se beijam e choram ainda por
uns momentos. Sarah tira sua fita do cabelo e dá para Edna. Esta enxuga
as lágrimas, vai até a terapeuta, pede-lhe para pôr a fita em seus cabelos.
Esta o faz. Edna assenta-se à mesa de pintura e começa a pintar a esmo.
Sarah senta.se defronte dela.)
Sarah: Vou fazer a mesma coisa que você. Vamos brincar.
Edna: Tá. (Pinta o papel de preto. Sarah pinta da mesma maneira.
Edna empurra sua cadeira para trás e espirra tinta em Sarah.)
Sarah (com raiva): Olha o que você fez com meu vestido limpo!
INDEX
Edna: Não me importo. Não me importo. (Empurra a mesa, delibe
radamente, na direção de Sarah. Esta joga-lhe o resto da água suja de tin
ta. O tempo termina, porém, isto não é anunciado. Edna pega seu pincel e
avança como se fosse esfaquear Sarah.) Vou te sujar.
Terapeuta: Agora você quer sujar os outros porque alguma água suja
foi espirrada acidentalmente em você. (Edna solta o pincel, atira-se à tera
peuta e chora amargamente.) Vovê está muito triste porque vocês duas bri
garam.
Edna: Eu sujei o vestido limpinho dela.
BOOKS
Terapeuta: Você se sente mal porque, sem querer, sujou de tinta o
vestido dela.
Edna: Não queria fazer isto.
Sarah: Você não queria fazer isto, queridinha. Não se sinta tão mal.
(Uma vez mais elas se abraçaram e se beijaram.)
Terapeuta: Agora vocês são amigas novamente.
(As meninas ficaram ali sorrindo uma para a outra, entre lágrimas.
Edna pega a mamadeira e mama. Sarah assenta-se e olha para ela. Ao ve
GROUPS
rem que o tempo tinha se acabado, saíram de braços dados.)
COMENTÁRIOS
190
do a Edna levar a boneca para fora da sala de brinquedos e a terapeuta
esperava, assim, chamar atenção para os elementos que deveriam limitar
suas ações. Se o conseguiu ou não, é duvidoso; se foi bom que procedesse
assim, também o é. Edna tentou despertar pena na terapeuta, dizendo que
ela nunca tivera pai nem mãe, ou talvez isto vá além duma rejeição de
seus pais. A sentença, pronunciada emocionalmente por Sarah, de que ia
embora, levou Edna ao clímax de seus sentimentos.
A terapeuta imagina que o motivo das lágrimas de Sarah tenha sido
representado pelos muitos desapontamentos que tivera.
Uma indicação do conteúdo emocional deste contato está na rapidez j
com que as crianças mudaram de um grau de carinho para violenta raiva.
Estas flutuações emocionais não teriam sido possíveis se as meninas não
tivessem vindo espontaneamente. O leitor verá o novo ímpeto dado à lu- I /t-
INDEX
doterapia através do efeito recíproco da personalidade de uma criança l
para outra. A terapeuta não anunciou o final do tempo por motivos óbvios.
Teria sido prejudicial para ambas as crianças separá-las no ápice da briga,
sem dar-lhes tempo de restaurar a harmonia. É interessante a volta de Edna
à mamadeira depois da briga.
R IC H A R D , J A C K E P H I L I P E N C O R A J A M -SE M U T U A M E N T E
BOOKS
as crianças, na situação de grupo, ganham coragem para fazer coisas que
ordinariamente relutam em fazer.
Richard, Jack e Philip estão entre oito e nove anos de idade. São da
rhesma escola, estão na mesma série e são bons amigos. A terapeuta viu-os
individualmente por várias semanas antes que eles próprios solicitassem
o contato em grupo. Seus problemas são semelhantes — enurese noturna,
negativismo, inadaptação escolar. Richard chegou primeiro. Enquanto es-
Iperava pelo3 outros, pagou o jogo de damas e pediu à terapeuta que jo
gasse uma partida com ele. Ela o fez. Durante o jogo, Richard falouJhe
da escola e dos brinquedos do recreio; parecia muito calmo e relaxado.
GROUPS
Depois chegou Jack e assentou-se à mesa.
Jack: Onde está a mamadeira? (Procura e pega uma.)
Richard: Me dá uma. (Jack estende-lhe uma.)
Jack: Anda logo com esse jogo. (O jogo terminou tão rapidamente
qnanto possível.)
Jack (assenta-se defronte à terapeuta e empurra Richard da cadeira):
Me deixa jogar.
Terapeuta: Você quer jogar uma partida de damas como Richard fez.
Jack (rindo): Sim, eu também. Joga rápido comigo uma partida.
Terapeuta: Você quer que eu jogue com você.
Jack: Quero. Vamos. (Arruma as pedras.)
191
Richard: Ele quer que você jogue com ele só porque você jogou co
migo.
Jack: É sim. Você queria jogar com ela, não queria?
Richard: E por isto você quer fazer a mesma coisa.
Jack: Eu gosto de fazer a mesma coisa que você. Sou ciumento. (R i.)
Richard: Você tem ciúmes. Tá certo. (R i.) Eu também tenho.
(A tsrapeuta joga uma partida com Jack e encurta-a o máximo pos
sível. Richard e Jack, durante o jogo, fizeram comentários sobre um certo
acorítóoimsnto. A terapsuta não pôde tomar notas por causa do jogo de
damas, mas, certamente, fez uma acurada avaliação dos motivos de um
e de outro. Finalmente, lá pelo meio da partida, Richard foi para o chão
e começou a engatinhar.)
INDEX
Richard: Eu é bebê. (Falando como um bebê.)
(Jack levanta-se, deixa o jogo por acabar, desce ao chão, engatinha
atrás de Richard e mama. Philip chegou, pegou uma mamadeira também.
Os três meninos passaram o resto do tempo engatinhando no chão, falando
como bebês e finalmente começaram a jogar água uns nos outros. Riram muito
e passaram uma hora divertida. Ao término do tempo, Richard despediu-se
da terapeuta e saiu. Philip e Jáck entornaram no chão o resto da águá de
suas mamadeiras e correram. Jack voltou, pegou o pano de chão, limpou a
água e foi embora todo risonho.)
BOOKS
COMENTÁRIOS
GROUPS
pécie de material para servir como meio de expressão infantil. Este con
tato, entretanto, mostra as possibilidades que até mssmo este tipo de brin
quedo pode ter, quando a permissividade e a liberdade no relacionamento
terapêutico são estabelecidas. Uma das desvantageis desse jogo, quando
usado na terapia em grupo, é a possibilidade da terapeuta ficar presa ao jogo
com um indivíduo somente e, conseqüentemente, centralizar a terapia em
apenas uma criança no grupo.
21. REGISTRO COMPLETO E AVALIAÇÃO
INDEX
DE UMA TERAPIA EM GRUPO
BOOKS
tatos, com a duração de uma hora cada um. Avisou.se aos garotos, antes
da primeira sessão, que eles poderiam vir uma hora por semana, durante
um período de oito semanas. Era necessário que a terapeuta íosse buscar
e levar os garotos em casa, em ssu carro, por causa da distância da casa'
à clínica e também por suas idades e condições físicas.
GROUPS
cego, tinha nove. Ernest foi um membro temporário do grupo. Tinha tido
ludoterapia com esta terapeuta o ano inteiro. No dia anterior a este con
tato, tinha se submetido a uma dilatação da garganta, no hospital. Estava
esperando que sua mãe viesse à cidade buscálo para levá-lo para casa e,
antes que ela viesse, havia pedido um encontro a mais com a terapeuta.
( 1 ).
Timmy e Bobby eram descritos pela mãe adotiva como “brigões, ba
rulhentos, desobedientes, chorões, enuréticos, mal-humorados e sempre
mal-dispostos. Tinham sido deixados na casa adotiva seis meses antes
193
desses contatos, devido à separação de seus pais. A mãe morava numa pe
quena cidade, cerca de cinquenta milhas distante do lugar onde os garotos
estavam "hospedados” e os vinha visitar a intervalos muito irregulares. O
pai nunca viera vê-los.
Saul tinha sete anos. De acordo com a mãe adotiva era “ quieto, pen
sativo e dado a crises de mau-humor.” Contou também que ela não pensava
que ele estivesse lá “ para sempre” e que ele era “insuportável e irrespon
sável e parecia não entender o que lhe mandavam fazer. ” A mãe de Saul es.
tava no hospital público para doentes mentais. Seu pai morava numa ci
dade a mais ou menos cem milhas de distância da casa adotiva, mas visi
tava Saul pelo menos uma vez por mês e levou-o para passar as férias com
os avós. Era pequeno para sua idade, muito magro e pálido. Nunca brin
cava com as outras crianças da casa. Sentava-se durante muito tempo com
a cabeça entre as mãos e, sempre que as outras crianças vinham incomodá-
INDEX
lo, chorava ou cuspia nelas. Tinha passado de um lar adotivo para outro
durante vários anos.
Buddy não tinha conhecido os pais. Era uma criança rejeitada, que
morara em lares adotivos durante toda a sua vida. No inverno, morou nu
ma escola pública para cegos. Foi descrito como “barulhento o bastante
para enlouquecer qualquer um, incapaz de dizer qualquer coisa, a não ser
berrando a plenos pulmões.” Parecia bastante feliz, mas continuamente
irritava as outras crianças, deixando-as nervosíssimas, porque dava, subi
BOOKS
tamente, berros altíssimos. Sua quase cegueira fazia-o desajeitado e esta
va sempre derrubando coisas, tropeçando e quebrando os brinquedos dos
outros, deixando tudo cair, sendo um verdadeiro perigo quando perto dos
bebezinhos. A mãe adotiva repetiu diversas vezes, durante a entrevista:
“ Não há ninguém que aguente Buddy. Ê pior do que uma bomba, explo
dindo a toda hora.”
GROUPS
nas. O que se segue é um relato completo das oito ssssões terapêuticas.
PRIMEIRO CONTATO
.194
Buddy: Oh, menino! Revólveres! Onde está o revólver? Menino, eu
vou dar um tiro nesse... (Timmy dá o revólver a Buddy. Buddy faz um
barulho de metralhadora.)
Ernest: Eu vou pintar um quadro. (Vai até a mesa de pintar e pinta
um pedaço de papjl de amarelo, verde e azul.) Este é um arco-íris. Tem
alguma coisa preta no arco-íris?
Saul: Um arco-íris preto! Sim. Põe preto nele.
Ernest: Eu não acho que tem preto nele não.
Saul: Olha esses negócios aqui! (Ele tem nas mãos uma caixa de sol
dadinhos e bichinhos.)
Buddy (apalpando a mobília): Eu vou brincar com isto, seja lá o que
íor.
Terap3Uta: Você não consegue dizer o que é isto.
INDEX
Buddy: Eu posso adivinhar.
Timmy (que estava reorganizando a casa de bonecas): Estou arran
jando o lugar, Buddy.
Buddy (psgando a geladeira): Aqui está uma barra de sabão. (Os ou
tros riem, Buddy ri também.) Sei o que estou dizendo. Isto aqui é uma
barra de sabão.
Timmy: Eu vou arrumar esta casa.
Saul: Eu vou ... (Senta-se no chão, enfia a cabeça entre os braços.
Os outros apenas o olham e voltam a seus brinquedos.)
BOOKS
Bobby: Eu vou pegar todos estes caminhões e vou brincar com eles.
(Buddy se encaminhara para a caixa de blocos de armar e começara
a apalpá-los, tentando identificá los. Ernest ainda está pintando seu arco-
íris. Buddy pega uma comprida tábua e fica dançando com ela. Esbarra
em Timmy que está arrumando a casa.)
Timmy: Não faz isto, Buddy. Você me esbarrou.
Buddy (rindo): Eu te esbarrei? Aquilo era você, Timmy?
Timmy: Aquilo era eu sim.
GROUPS
(Buddy joga a tábua de volta na caixa. Bobby enfileirou todos os
tanques de guerra. Saul pega o canhão de brinquedo e atira ao acaso.)
Ernest (psgando a boneca-bebê): Eu sou mãe deste bebê. Ninguém
toque nele.
Buddy (esbarrando nele acidental nente, pegando outra boneca e co.
meçando a apalpá-la): E.te é um bebê também. É um bebê grandão.
Bobby (tendo enfileirado os tanques, começa a esbarrar a ambulân
cia neles, gritando): Bang! Acidente! Acidente! Alguém machucou aqui.
Timmy (pegando um revólver): Vou dar um tiro em você, Bobby.
Bobby: Eu atropslo você com a minha ambulância.
195
Timmy: Bang! Bang!
(Timmy abandona o revólver e volta a brincar com a casinha de bo
necas. Buddy e Saul começam a colorir. Timmy deixa a casa e começa a
pintar. Bobby dá uma olhada na argila, mas retoma aos tanques de guer
ra. Pega o revólver e atira em seu irmão Tim m y.) ,
Terapeuta: Você atirou até em Timmy. (Bobby sorri e continua com
estanques.)
Timmy: De que cor é uma casa? Com o que é que uma casa parece?
(Volta-se para a terapeuta.) Com o que é que minha casa parece? De que
cor ela é? Digo minha casa de verdade.
Terapeuta: Você não consegue lembrar com o que é que a sua pró
pria casa se parece.
Timmy: Não, você sabe?
Terapeuta: A casa de Mamãe R. é cinzenta.
Ernest: A casa de Mamãe R. é suja. (Faz uma careta.)
INDEX
Terapeuta: Você não gosta de que a casa seja suja.
Ernest: É uma bagunça.
Terapeuta: Você não gosta de que ela seja uma bagunça.
Ernest (pega a boneca-bebê novamente, pega a mamadeira e mama):
Olha, companheiros! (Os meninos param o que estão fazendo e voltam-se
para olhar Ernest, pasmados.) A gente pode fazsr isto aqui. Vocês podem
brincaT de bebê aqui. Podem brincar de qualquer coisa que quiserem aqui.
Agora vou brincar de bebê.
BOOKS
Terapeuta: Às vezes, você gosta de brincar de bebê.
Ernest (indo até o martelo, dá umas marteladas nas beiradas da
caixa de blocos. Pega a ambulância e empurra-a impetuosamente; observa
Saul, que tinha achado a caixa de bonecas. Saul pega a boneca-pai): Este
é o pai. (Saul joga-o de volta à caixa.)
Terapeuta: Você não gosta do pai. (Isso é adiantar-sa muito a Saul.
É também muito interpretativo para merecer confiança. “Você não quer
a boneca-pai” teria sido uma resposta melhor. Entretanto, ela foi aceita
por Saul.)
GROUPS
Saul (concordando): Não. Onde está a mãe?
Ernest: Olha aqui a mãe.
Saul (abraçando a boneca-mãe): Pobre mãe! (Suspira profundamente
e põe a boneca-mãe em uma cadeira, na casinha de bonecas.)
Terapeuta: Você gosta da mãe mas se sents triste com ela. (Isto
também é muito interpretativo.) (Saul põe a cabeça entre as mãos.) Isto
faz você esconder seu rosto.
(Isto ó interpretativo, provavelmente devido ao fato da mão adotiva
193
ter relatado a freqüência desta atitude em Saul. A terapeuta está tentando
explicar isto a Saul. É umâ violação dos princípios básicos .“Você se sente
como se escondesse seu rosto”, teria sido a resposta mais objetiva, mais
útil e aceitável.)
Bobby (pegando uma mamadeira e dando-a a Em est): Tá aqui a ma
madeira.
Emest (pega-a, mama,- chora como um bebezinho, mama como um
bebê; então arranca o bico e torna a beber): Vou beber assim. É mais in
teressante. Não sou um bebê.
Terapeuta: É mais interessante agir como se você fosse gente gran
de do que agir como um bebê.
Emest: Às vezes.
Terapeuta: Às vezes.
(Bobby, Saul, Timmy e Emest começam a desenhar com os lápis de
cor. Buddy encontra as tintas e está hesitante com as jarras.)
INDEX
Buddy: Isto aqui é tinta? Posso pintar? Nunca pintei. Vou pintar.
Terapeuta (ajeitando o papel para ele): Agora você pode pintar.
(Buddy ri divertido, pinta grandes listas no papel, começando com à pri
meira jarra de tinta à esquerda e indo de jarra em jarra.)
Buddy: Eu estou pintando.
Timmy (para Buddy e a terapeuta): A casa que eu pintei era preta
e vermelha. Quando secar, vou pôr janelas e portas pretas nela. (Pega o
martelo e os pregos e martela com toda a força, então èngatinha até a casa
BOOKS
de bonecas novamente.) Vou brincar com a casinha novamente. (Engati
nha, pega uma mamadeira, engatinha em direção à terapeuta e entrega-
lhe a mamadeira.) Aqui. Põe o bico nela pra mim. (A terapeuta o fa z .)
(Timmy engatinha de volta à casinha de bonecas, segurando a mama
deira, e começa a brincar com a casa. Saul começa a desenhar uma casa.
Ele faz a casa toda preta. Acaba pegando uma mamadeira também.)
Saul: Quero ser um bebê.
Terapeuta: Você gostaria de ser um bebê. (Saul suga a mamadeira.)
GROUPS
Buddy (acaba seu desenho e depois, apalpando o caminho até o canto
da sala, vai até onde está o martelo): Eu quero o martelo. Onde está ele?
(Timmy entrega-o a Buddy e empurra a prancheta para » frente dele.)
Timmy: Cuidado para não martelar os dedos.
Buddy: Não tem perigo, não. (Ri e começa a martelar.)
(Se a terapeuta tivesse observado neste ponto: “Timmy não quer que
você machuque seus dedos” talvez os outros meninos adotassem uma ati
tude protetora para com Buddy, procurando parecer simpáticos à terapeu
ta .)
197
Tlmmy (agora na mesa de argila): Vou fazer uma tartaruga.
Ernest: Seria bom se a gente pudesse levar estas coisas pra casa.
(Emest era familiarizado com as limitações sobre remoção de mate
rial da sala de brinquedos. É digno de nota como parece estar estruturan
do a sessão de ludoterapia para os outros meninos. Primeiro demonstrou o
uso das mamadeiras. Agora parece estar pedindo à terapeuta que explique
uma das limitações para o grupo. Entretanto, dessa vez, a terapeuta não
interpreta.)
Terapeuta: Você gostaria de levá-los para casa mas todos os brinque,
dos têm que ficar aqui porque as outras crianças os usam também.
Emest: Se a gente levar eles não vai sôbrar nenhum pra elas.
Terapeuta: Não vai sobrar nenhum pra elas.
Emest (martela a prancheta, fazendo manha): Eu quero levá-los pra
INDEX
casa.
Terapeuta: Você ainda quer levá-los pra casa embora saiba que não
pode. Isto faz você ficar com raiva.
Emest: Eu vou quebrá-los.
Terapeuta: Você ainda gostaria de quebrálos porque não pode levá-
los para casa.
Timmy: É contra as regras quebrar as coisas. Nós podemos voltar
aqui toda semana, de qualquer modo, mas não haveria nada pra brincar,
BOOKS
se a gente quebrasse os brinquedos.
(Talvez fosse por isso que Emest tivesse ameaçado quebrar os brin
quedos. Ele sabia que aquela era sua última sessão de terapia.)
Emest (encara a terapeuta, depois sorri): Está bem. Nós vamos fa
zer uma brincadeira aqui hoje, tá?
Bobby e Timmy: Tá!
(Ernest peja uma metralhadora. Timmy pega a outra metralhadora
e Bobby pega o revólver. Fazem barulho de tiros. )
lha. GROUPS
Emest: Limpem a sala. Guardem os lápis. Nós vamos ter uma bata
198
e constrói com os blocos uma parede em volta deles.)
Buddy: Eu fiz uma bandeira. Uma bandeira vermelha!
TLmmy (pegando a mamadeira outra vez): Olha aqui, Bobby. Você
agora brinca comigo. Você vai ser o pai.
Bobby: Eu sou o bebê.
Timmy: Você vai ser o pai.
Bobby: Se eu for brincar eu vou ser o bebê.
Timmy: Tá bem. Vá pra cama.
Bobby: Onde está a cama?
Tiinniy: Aqui no chão.
Bobby: Que inferno! Está bem. (Ele deita no chão. Timmy lhe dá
a mamadeira para beber. A ájpia espirra em Bobby e ele xinga Tim m y.)
INDEX
Bobby: Você me molhou! (Timmy apanha a boneca-bebê, enrola-a no
cobertor.)
Ernest (com o canhão): Agora eu vou atirar em D. X . .. (Ele ri e fin
ge atirar na terapeuta.)
Terapeuta: Você gostaria de atirar em mim.
Tinimy: Vou brincar com o palhaço e vou fazer o bebê rir — ou pe
lo menos parar de chorar.
Terapeuta: Você não gosta que o bebê chore.
BOOKS
Ernest (para a terapeuta): Bang! Bang!
Saul (apontando para os soldados): Eles não podem sair.
Terapeuta: Eles estão presos.
Ernest (atirando na terapeuta): Bang! Bang!
Terapeuta: Você não gosta que eu converse com os outros meninos.
(Esta foi uma interpretação, baseada nas atitudes de Ernest, mas
mesmo assim uma interpretação.)
Ernest: Não. Bang! Bang! (Atira em cada garoto.) Bang! Bang!
Bang!
GROUPS
Terapeuta: Você quer atirar em todos nós.
Ernest: Eu vou levar este revólver para casa e atirar em mamãe R.
também.
Terapeuta: Você quer atirar em Mamãe R., também.
Ernest: Pode ter a certeza de que vou fazer isto, e também em Bob
by, Saul, Timmy e Buddy. Bang! Bang! Bang! Bang!
Buddy (lambuzando tudo com a tinta): Atire em mim também.
Ernest: Eu atirei em você.
199
Terapeuta: Só fâltam cinco mtóutos, meninos.
Emest: Bang! Bang! Bang!
Terapeuta: Você quer atirar em todo mundo.
Emest: Crianças, limpem esta sala.
Terapeuta: Você gosta de mandar neles.
Ernest: Bang! Bang!
Timmy (agarrando um revólver): Bang!
Bobby (pegando um revólver e apontando para os garotos): Peguei
vocês todos!
(Os garotos soltam seus revólveres e levantam as mãos — todos, ex
ceto Emest. Este pega uma pequena metralhadora e fixa-a no trinco da
porta.)
Emest: Ninguém mais pode entrar aqui agora. Se entrar, dou tiro.
INDEX
Terapeuta: Você não quer que ninguém mais venha aqui, quando vo
cê for para casa.
(Novamente a terapeuta adianta-se a Ernest e interpreta.)
Emest: Não. Vou atirar neles se entrarem aqui.
Bobby: Vamos fingir que somos japoneses. Pronto. Já! Manda fogo!
(Sons de tiroteio.)
Saul: Quero limpar a sala. (Saul e Bobby começam a ajuntar os brin
quedos. Timmy ainda está na casinha de bonecas. Buddy ainda está pin
BOOKS
tando .)
Bobby: Todo mundo vai limpar isso aqui.
Emest (olhando para o corredor): Se aquele homem chegar aqui de
novo e olhar, dou um tiro nele. (O homem volta e Emest abre fogo.)
Bobby (pegando a mamadeira): Semana que vem, quero beber uma
garrafa cheia d'água. Semana que vem vou ser um bebezinho.
Timmy: Semana que vem, vou ser um bebê também.
Saul (olhando para a casa de bonecas): Onde está a mãe?
Timmy: Está aqui. (Joga a boneca-mãe para Saul. Este a põe numa
GROUPS
cadeira da casa de bonecas.)
Saul: Você pode ficar aqui, mãe.
Terapeuta: Você quer que a mãe esteja bem confortável.
Ernest: Não. Eu não me importo com o que aconteça a ela.
Terapeuta: Você está com raiva de sua mãe.
(Interpretando novamente, a terapeuta vai além do sentimento ex
presso .)
Ernest: Eu vou... estou indo pra casa... cedo.
Terapsuta: E você não quer ir.
(A terapeuta certamente não estava refletindo o sentimento com esta
200
resposta. Estava completando a frase para ele, indo além do que a criança
expressava.) •
; Ernest: Não. Sim. Lá tem cavalo, vaca e meu cachorrinho.
Terapeuta: Você não quer ir embora daqui, mas quer ir para casa, vi
ver na fazenda e ter todos esses animais para cuidar.
Ernest: Sim. (Olha-a fixamente.) Lá deve ser melhor do que aqui.
Terapeuta: Deve ser bem mais interessante.
O tempo terminou, a terapeuta levou o grupo de volta para a casa
adotiva.
COMENTÁRIOS
INDEX
nest, seis a Saul, três a Timmy e Buddy, enquanto Bobby recebeu somen.
te uma resposta. Esta é uma distribuição muito desigual. Muitas das res
postas da terapeuta, no primeiro contato, são interpretativas e adiantam-se
aos sentimentos que os garotos expressam. O comportamento de Saul na
sala de ludoterapia é interessante, quando comparado com o comportamen
to relatado por sua mãe adotiva. Não há relutância alguma de sua parte,
na sala de brinquedos. Saul também não coloca resistência aos outros
membros do grupo. ,
O comportamento de Buddy é também interessante. O fato de se co
BOOKS
locar um garoto com deficiência física, num grupo que não apresentava de
ficiência semelhante, foi feito. em caráter experimental. Isto não pareceu
ter qualquer influência negativa. Buddy parece ter ficado encantado ao ser
aceito como um membro do grupo. Seu prazer em pintar é evidente. Ele
foi o único garoto que não mamou na mamadeira.
Timmy e Bobby eram irmãos, e isso suscita uma pergunta: seria re
comendável ter irmãos ou irmãs num mesmo grupo? O primeiro contato
dá a entender que há uma rivalidade entre eles. Essa rivalidade poderia
ser resolvida numa terapia de grupo?
GROUPS
Ernest monopolizou a hora da sessão de terapia. Seu comportamen
to parece ter sido o resultado de um sentimento de ciúme, o qual se reve
lou porque ele tinha que dividir a terapeuta e porque esta era sua última
sessão, e ele sabia que os outros garotos viriam ali por mais oito semanas.
Entretanto, Ernest pareceu capaz de aceitar isto e o fato parece não tê.lo
perturbado muito.
Uma análise das atividades lúdicas mostra que os garotos apresen
taram reações contra suas casas e seus pais, desejo de serem bebês e agres
sividade em suas brincadeiras. O fato de que os garotos desenhavam e co
loriam casas de preto indica seus sentimentos em relação às mesmas. Em
201
bora isso seja apenas uma especulação por parte da terapeuta, um estudo
dos trabalhos artísticos feitos pelas crianças durante as sessões de ludote-
rapia parece sustentar a teoria de que as cores usadas por elas em seus
desenhos e pinturas têm um significado. Até agora, entretanto, não há da
dos suficientes que comprovem a teoria.
SEGUNDO CONTATO
INDEX
Saul: Sim. Eu sou o bebê (Para Tim m y.) Você vai ser a mãe.
Bobby: Eu sou bebê também.
Timmy: Tá. Eu vou ser a mãe.
Saul e Bobby (chorando como bebezinhos): Quero minha mamadei
ra. Quero minha mamadeira.
Timmy (estendendo as mamadeiras para Bobby e Saul): Aqui, ne
ném. Um linda mamadeira.
(Saul e Boby deitam no chão, balbuciando e agindo como bebês.
BOOKS
Timmy permanece à mesa, espreme a água da mamadeira numa xícara e
bebe.)
Bobby (pegando a família de bonecas): Vou brincar com isto e ma
mar também.
(Timmy pede à terapeuta para colocar o bico em uma garrafa para
ele. Ela o fa z.)
Timmy (deitando-se no chão e mamando): Vou ser um bebê.
Terapeuta: Você gostaria de ser bebê novamente.
GROUPS
Bobby: Olha. (Para a terapeuta.) Ele é um bebê de oito anos de ida
de. Eu sou um bebê de sete anos. (Timmy e Bobby ficam no chão, perfei
tamente relaxados, mamando.)
Saul (gritando no telefone de brinquedo): Vou telefonar para o pa
pai. Alô! Alô! Alô! Hum, ninguém responde.
Terapeuta: Seu papai não responde a você.
Saul (tristemente): Não. Ele nunca me responde. Já tem uns vinte
anos que não vejo ele.
Terapeuta: Você gostaria de ver seu papai.
Saul: E minha mãe. Pobre mamãe. Ela está no hospital há quinze
anos.
202
Terapeuta: Você sente falta de sua mãe também.
Saul (rolando e agarrando a mamadeira, grita): Mamãe! Mamãe!
Quero minha mamãe.
Terapeuta: Você quer sua mamãe. Você sente íalta dela.
Saul: Ela está doente. Está num hospital.
Terapeuta: Você fica preocupado porque ela está doente no hospital.
Buddy (repantinamente, num tom de voz muito alto): Você sabe de
uma coisa? Nós fizemos tanto barulho ontem, que ela botou esparadrapo
na boca da gente.
Timmy (vindo até a terapeuta): Sim. Veja a marca. (Mostra à tera
peuta a marca vermelha em seus lábios, feita pela retirada do esparadra
p o .) .
INDEX
Terapeuta: Vocês não gostaram de que ela pusesse esparadrapo em
suas bocas, por causa do barulho que fizeram.
(O leitor notará a ausência de qualquer pergunta para determinar
quem é "ela” .)
Buddy: Não!
Saul: Nós podemos fazer barulho aqui e ninguém vai tampar a boca
da gente.
Terapeuta: Vocês podem fazer todo o barulho que quiserem aqui, e
BOOKS
ninguém vai tampar a boca de vocês. (A seguir, os quatro gritam a plenos
pulmões, enquanto observam a terapeuta.)
Timmy (desconfiado): Você não é surda, é?
Terapeuta: Você quer saber se eu sou surda, porque não interrompi
o barulho de vocês. Não, eu não sou surda.
(Observação: infelizmente, ninguém mais era surdo nesse edifício! Os
meninos gritaram juntos outra vez e ficaram satisfeitos com os resulta
dos.)
INDEX
Buddy: Eu sou o pai. (Escorrega a mão pelo braço de Timmy e perce
be a xícara que este tem nas mãos.) Quê que você está fazsndo?
Timmy: Pondo água nas xícaras.
Buddy: Me dá uma xícara. (Timmy dá-lhe uma xícara: Buddy despe
ja água nela ssm deixar cair nada fora. Ri encantado.) Eu consigo fazer is.
to também.
Terapeuta: Você gosta de ser capaz de fazer o que Timmy faz.
Timmy: Eu quero pintar. (Timmy pinta, Saul e Bobby assentam-se e
BOOKS
amassam argila.)
Bobby: Eu quero mais água.
Terapeuta: Você gostaria de ter mais água, mas nós não podemos ar
ranjar agora. Tem uma garrafa cheia para cada um de vocês em cada sessão,
mas não mais.
Timmy: Nós só podemos ter uma garrafa cada um.
(Timmy aceita a limitação.)
Buddy: A gente devia ter mais água aqui, para tornar a encher as gar
rafas .
GROUPS
Terapeuta: Você gostaria de que tivéssemos mais água. Mas ssrã so
mente uma garrafa para cada um de cada vez.
Bobby: Eu quero mais água.
Terapsuta: Você gostaria de que as coisas fossem como você quer.
(Bobby esguicha água na terapsuta.) Você está um pouco enraivecido, por
que não pode ter as coisas como quer. É por isso que me jogou água. Jo
gue a água no chão ou em você mesmo, mas não em nós.
Bobby (fita a terapeuta, ri, vai à mesa de argila): Tá. Eu vou fazer
uma tartaruga pra mim.
20 '
Buddy (dando uma gargalhada alta): Uma tartaruga precisa de água
também.
(Bobby faz uma tartaruga de argila. Timmy pinta uma estranhíssi
ma figura, grande, sombria, com pedaços azuis e listas imitando uma gra
ma verde.)
Timmy: Ólha. Isto aqui é um troço voando no ar com um barbante
nele. Está saindo lá de trás do mato. Ninguém sabe o que é isto. ( Timmy
pinta primeiro em azul claro, depois passa tinta púrpura por cima. Pinta
algumas formas estranhas de branco, até em cima do desenho. Saul obser-
va-o.)
Saul: Isto deve ser uma nuvem.
Buddy: Eu não teria medo de quebrar nada aqui. Devia estar com
medo, mas não estou.
Timmy: Isto não é uma nuvem.
INDEX
Saul: Se é branco, é nuvem. Nada no céu é branco a não ser nuvens.
Buddy (cantando a plenos pulmões): Eu quero um sanduíche.
Todos cantando: Eu quero um sanduíche! Quero um sanduíche!
Buddy (gritando): Eu quero a cabeça de Bobby. (Vai até ele, corre
seus dedos sobre suas faces. Bobby arrepia. Buddy, delicadamente, tampa
os olhos de Bobby.) Quero os olhos de Bobby.
Terapeuta: Você gostaria de ter os olhos como os de Bobby.
Buddy (cantando alto): Bobby no oceano.
BOOKS
Bobby no mar.
Bobby quebrou o litro de leite
E jogou a culpa em mim.
Mamãe contou pro papai,
Papai contou pra mamãe,
Bobby lambeu tudo.
Ra, ra, ra, ra, ra!
205
Buddy (rindo forçidamente): Aqui.
Terapeuta: Você não tem medo, aqui.
Saul: Nós achamos um cachorrinho ontem. Mamãe R. falou que a
gente podia ficar com ele, se ninguém procurasse ele.
(Buddy bate com a caixa de lápis de cor em Bobby. Este ignora o
fato, Vai até o berço, pega a boneca e abraça-a ternamente. Buddy tenta
tomar a boneca de Bobby e este foge. Buddy pega a caixa de lápis de cor
que estava na mão de Bobby. Bobby larga a boneca no chão e tenta, à for
ça, reaver os lápis. Buddy deixa-os escapar e volta à mesa de pintura.)
Buddy: Onde está o vermelho? Me mostra o vermelho. (Timmy, que
estava estirado no chão, desenhando um avião, levanta-se e dá 2 tinta ver
melha a Buddy. Buddy espalha a tinta vermelha no papel.) Vou desenhar
esta casa. Vou pendurar isto na parede. Nunca pintei antes. (Ri às garga
lhadas .)
INDEX
Terapiuta: Você gosta de pintar e de fazer as coisas que os outros
meninos fazem. Isto faz você feliz.
(Saul está no chão, desenhando um avião e Bobby está brincando de
casinha. Buddy pisa no desenho de Timmy e rasga o .)
Tlmmy: Fora, Buddy. Você rasgou meu desenho.
(Buddy ri. Senta-se no chão e pega a caixa com os tanques de guer_
ra. É estranho como ele já sabe onde está cada uma das coisas e pode achá-
las a seu modo, sem esbarrar em quase nada. Senta-se por lá, apalpa os
BOOKS
carros, empurra-os com violência. Bobby e Timmy brincam com a casinha
de bonecas. Saul, Timmy e Bobby mantêm as mamadeiras com eles duran
te todo o tempo, poupando um pouco de água. Buddy, tateando, aproxima-
se de Bobby e Tim m y.)
Buddy: Me dá um pouco da mobília. (Pega a caixa de mobília, vai
tirando as peças, apalpando cada uma e perguntando: “ O que é Isso?” “ Isso
é uma mesa?” Parece encantada, quando Bobby, Timmy ou a terapeuta di
zem que sim. Então, volta às peças dizendo: “ Isso é uma cadeira.” “ Isso ê
uma mesa” . )
çada. )
GROUPS
Terapeuta: Você fica alegre quando sabe o nome das coisas, sem que
Buddy: Nem sempre eles têm que me talar. (Dá uma risadinha for
20 j
Não me dá tanto assim não. Já tenho bastante. É muito e não vou saber o
quê que já tem aqui.
Terapsuta: Se você tem muitas coisas, não consegue lembrar do que
já tem.
Timmy: Vou brincar sozinho. Não vou brincar com mais ninguém.
Terapeuta: Você quer brincar sozinho agora.
(Timmy constrói uma torre com os blocos. Saul acabou de fazer o seu
desenho. Agora, espirra água no mesmo com a mamadeira.)
Saul: Tá chovendo. O céu tá chorando.
(Bobby havia arrumado a casinha de bonecas. Buddy tinha mexido
num dos quartos e derrubado á mobília.)
Bobby: Oh, Buddy!
Buddy (rindo): Bem, conserta ela de novo. (Bobby engatinha afastan
INDEX
do-se da casinha de bonecas e deixa-se ficar no chão, mamando como um be-
bezinho.)
Bobby: Tem tanto brinquedo aqui, que nem sei com quê que eu vou
brincar.
Terapeuta: Você sempre tem problemas na hora de suas decisões.
Bobby: Quantos minutos mais?
Terapeuta: Mais cinco minutos.
Bobby: Vou fazer tanto barulho aqui, que todo mundo vai pensar que
BOOKS
a cidade inteira tá pegando fogo. (Pega o martelo e a bigorna e bate com to
das as suas forças. Saul e Timmy estavam fazendo uma terrível batalha de
soldadinhos, gritando, berrando, imitando barulho de metralhadora. Buddy
abre a boca ao máximo e urra.)
Terapeuta: Você quer fazer agora todo o barulho que pode.
Bobby (tirando o bico da mamadeira e acercando-se da terapeuta):
Por favor, põe isto de novo pra mim?
Buddy (martelando no canto da bigorna): Bang! Bang! Bang!
Bobby (para Buddy): Você tá martelando no lugar errado.
GROUPS
Buddy: Não me importo. É do barulho que eu gosto.
(Timmy ajunta duas cadeiras para fazer uma cama, deita-se nela e
mama. Bobby construiu uma cama com os blocos grandes de armar e dei
ta-se nela como um bebezinho. Buddy pega a boneca-bebê, abraça-a, beija-a
e a p5e de novo na cama. Bobby engatinha pelo chão, pega o cobertor das
bonecas, estende-o no chão e deita por cima.)
Timmy: Mamãe! Mamãe! Eu quero minha mamãe.
Bobby: Eu não sou a mamãe. Sou um bebezinho também. Doutor,
Doutor! Eu estou doente! Oh!
Buddy (imediatamente assumindo a posiçSo do médico): Pronto. A
207
qui estou eu. (Pega um pedacinho de argila.) Aqui está o remédio. (Ele o
dá a Bobby.)
Bobby (gemenCo): Quero minha mamãe.
Terapeuta: Bobby quer sua mamãe também.
(Buddy pega a jarra de argila e vai andando com ela na cabeça, por
entre o desarrumado quarto de brinquedos.)
Terapeuta (não podia ajudar nesta situação): Tome cuidado!
Buddy (gritando e rindo às gargalhadas): Você tem medo de que eu
caia com isto.
Terapeuta (brandamente): Tenho medo de que você caia com isto.
Buddy: Eu não tenho medo.
Terapeuta: Você não tem medo, mas eu tenho.
INDEX
(Buddy ri alto, mais alto do que antes. Põe a jarra na beirada da mesa.
Timmy aproxima-se dele e empurra a jarra para o meio da mesa, para evitar
qualquer coisa.)
Bobby: O tempo terminou.
Terapeuta (falando baixo): Sim. O tempo terminou.
COMENTÁRIOS
BOOKS
quatro garotos. Novamente Timmy, Saul e Bobby continuaram a brincar de
bebê. Buddy não se associou a eles, também durante este contato.
Buddy tem uma tendência a assumir atitudes mais adultas. É o único
que se oferece para ser o médico, ou anuncia que vai ser o pai.
Durante este contato, os garotos testam as limitações. Buddy e Bobby
têm maior dificuldade para aceitá.las, do que Timmy e Saul. Quando Buddy
anuncia que não tem medo de jogar tinta ou quebrar qualquer coisa na sa
la, a terapeuta sabiamente escapa da armadilha de repetir as limitações. Em
lugar disso, ela reflete os sentimentos de Buddy, dizendo que ele não tinha
medo de fazer qualquer coisa aqui. Os garotos já estão compreendendo
GROUPS
que a situação ali é diferente. No primeiro contato, Ernest mostrou.lhes is
to, quando disse: “Você> podem fazer tudo aqui. Vocês aqui podem brinca”
de bebê. Vocês podem brincar de qualquer coisa que quiserem.” Desta vez.
fazem a observação: “ Podemos fazer barulho aqui, que ninguém vai nos
tampar a boca. ” Buddy sente a permissividade da situação e, ainda assi~~
argumenta contra as poucas limitaçõss. “Deveríamos ter mais água aqui, pa
ra podermos tornar a encher as mamadeiras” , e "Uma tartaruga precisa de
áe;ua também” , ameaçando quebrar as limitações. A terapeuta crê que, re-^
nhecendo os sentimentos dos meninos, ajuda-os a atender às limitações
mais do que se ficasse apenas numa repetição defensiva das mesmas, o que
poderia ser tomado como um desafio.
Outro elemento desse contato que dá o que pensar, é a preocupação
208
dos garotos uns com os outros. A proprietária da casa adotiva disse que ha
via constante atrito e briga entre eles; disse que Buddy mexia com os ner
vos dos outros garotos e irritava-os continuamente. Na sala de brinquedos
há uma extraordinária ausência de conflitos. Eles respeitam muito o defeito
físico de Buddy e o ajudam a encontrar os objetos que pede. Ele entra nas
brincadeiras dos outros garotos e estes o aceitam como um dos seus. Na
sala de brinquedos, Saul também age contrariamente ao que foi dito dele.
Participa das brincadeiras, associa se cooperativamente aos outros meninos,
expressa-se livremente.
Um dos fatores mais intrincados do caso de Saul é a atitude expressa
sobre seu pai. O pai de Saul, ao que se sabe, está sempre em contato com
ele. De acordo com as notas sobre Saul, eram boas as relações entre pai e
INDEX
filho. Isso vem demonstrar um possível engano de interpretação. Durante
o primeiro contato, Saul atirou o boneco-pai na caixa de bonecas; a terapeu
ta comentou: “Você não gosta do pai” e Saul, aparentemente, aceitou isto.
Os sentimentos expressos por Saul em relação à sua mãe são estranhos, con
siderando o fato de que ele não a via há quatro anos. Durante os primeiros
três anos de sua vida, a mãe já não estava bem de saúde, era dada a convul
sões e mutismo, num comportamento bastante peculiar. Antes que ela tives
se sido internada no hospital, tentara matá-lo com um facão, mas fora impe
dida pelo seu marido. Apesar desse passado, Saul chorava por sua mãe e
parecia pensar muito nela.
BOOKS
Outro ponto alto deste contato é o desejo expresso por Buddy pelos
olhos de Bobby. A isto seguiram-se imediatamente suas declarações agressi
vas, um ataque de brincadeira a Bobby, o afetuoso tratamento dispensado à
boneca e, finalmente, sua pintura e a frase: “ Vou levar isto para casa. Vou
pendurar isto na parede. Nunca pintei antes.” E, além disso, ssu visível pra
zer em estar sendo capaz de fazer as mesmas coisas que os outros meninos
faziam. Incidentalmente, a mãe adotiva não parmitira aos meninos colocar
nas paredes de seus quartos nenhuma das pinturas que fizeram. A pintura
de Buddy era bastante reveladora.
GROUPS
Ao final do contato, a terapeuta pergunta se se os freqüentes ataques
de vômito que eram habituais a Bobby e Timmy poderiam ser causados pela
falta de sua mãe. Bobby chora: “ Eu sou um bebê também. Doutor, doutor!
Eu estou doente. Oh!” e mais tarde: "Quero minha mamãe.”
O episódio que concluiu esta sessão demonstra o que pode acontecer,
quando a terapeuta deixa de lado sua conduta como terapeuta e torna-se a-
penas uma pessoa comum. Ela quase perde o controle da situação, quando
grita: "Tenha cuidado!” Buddy, habilmente, reflete os sentimentos expressos
por ela. A advertência feita e a evidente falta de confiança da terapeuta ne
le, servem-lhe como um desafio. Foi uma sorte que tudo isto ocorresse no
final da sessão. A intervenção calada e útil de Timmy, ajudando Buddy a
colocar a jarra em lugar seguro, foi mais valiosa do que a explosão da tera
peuta. Mas terapeutas são humanos, também.
209
TERCEIRO CONTATO
INDEX
nha ido lá visitá-lo uns momentos antes que a terapeuta chegasse.
Quando o grupo entrou na sala de brinquedos, os garotos, com exceçãn
de Buddy, precipitaram-se em direção às mamadeiras e começaram a ma
mar . Charles pegou o telefone.
Charles: Vou telefonar para minha mãe. Ela trabalha n a ... Eu quero
falar com ela.
Terapeuta: Você gostaria de falar com sua mãe.
Charles: Alô, mamãe. Sou um bebê, mamãe. (Bebe na mamadeira.)
Estou tomando minha mamadeira agora. Seria melhor a senhora vir para
BOOKS
casa.
Terapeuta: Você quer que sua mãe volte para casa e cuide do bebê de
la.
(Timmy pega as bonequinhas de madeira e fica brincando com elas.
Bobby está pintando uma casa marrom. Buddy está apalpando as novas
mesas, bancos e cavaletes que tinham sido acrescentados à mobília da sala
após a última visita deles. Bobby pusera sua mamadeira na prateleira do
calavete. Buddy, ao apalpar o cavalete, derruba a mamadeira de Bobby e
esta quebra-ss, espalhando cacos de vidro e água por todo o chão. Um bom
GROUPS
pedaço de conversação foi perdido neste ponto, enquanto a terapeuta pega
va os cacos de vidro e enxugava a água. O rosto de Bobby contraiu-se como
se ele fosse chorar.)
Timmy: Agora Bobby vai chorar.
Terapeuta: Você acha que Bobby vai chorar porque a mamadeira de
le quebrou.
Bobby: Não, não vou chorar . (Aspira pelo nariz, impedindo que as Iá_
grimas caiam.)
Terapeuta: Você tem vontade de chorar, porém, não vai fazê-lo.
Timmy: Pobre Bobby. Picou sem sua mamadeira. Vou dar um jeito
210
nisso. Vou te ajudar.
Terapeuta: Você quer ajudar Bobby.
(Tímmy puxa os bancos e faz uma cama. Deita Bobby nela, segura a
mamadeira em seus lábios, envolve-o em seus braços, trata-o como se fosse
um bebezinho.)
Terapeuta (para Bobby): Você gosta de ser um bebê. (Bobby concor
da com um aceno e fecha os olhos. Timmy cobre-o com o cobertor de bebê.
Então, subitamente, com um brilho maldoso nos olhos, Timmy tira o bico da
mamadeira e joga água no rosto de Bobby. Este grita e Tüsamy r i.)
Bobby: Você é mau para mim.
Terapeuta (para Bobby): Você acha que foi maldade enganar você na
brincadeira.
Timmy (ainda rindo): Os bebês têm que tomar banho também. Eu só
INDEX
dei um banho nele.
Bobby (enxugando o rosto com o cobertor): Não foi só eu, não. Mo
lhou o cobertor também.
Buddy: Tem uma mesa nova aqui agora. E isto é um banco.
Terapeuta: Você descobriu quais são as coisas novas aqui.
Buddy (pulando e gritando): Eu gosto! Eu gosto! Eu gosto!
Terapeuta: Você gosta disto aqui.
BOOKS
(Buddy tenta dar um pouco de água a Bobby, numa das pequenas xíca
ras. Bobby começa a brincar de bebê novamente. Deita-se no banco e deixa
Buddy levantar sua cabeça e pôr a xícara em ssus lábios. Buddy, acidental
mente, espirra água no pescoço de Bobby. Este empurra Buddy rudemente
e ele esbarra no cavalete. Buddy vai até o canto da sala, pega uma bonequi-
nha preta, coloca-a dobrada sobre seus joelhos, deitada de costas, e bate-lhe
com uma varinha.)
Buddy: Este é Bobby. Estou surrando ele.
Terapeuta: Você gostaria de castigar Bobby, porque ele empurrou vo
GROUPS
cê.
Buddy: Sim. (Dá-lhe mais umas palmadas e deixa-a de lado Vai até
a janela, p^ga sua mamadeira, entorna a água numa bacia e, com a ajuda de
Saul, mergulha nela um submarino de brinquedo.)
Buddy (para a terapeuta): Quero mais água.
Terapeuta: Você gostaria de ter mais água, mas não pode arranjar
mais hoje.
Buddy: Eu sei onde é que posso arranjar mais.
Terapeuta: Você sabe onde poderia arranjar mais, porém, da última
vez, dissemos que só haveria uma garrafa para cada um.
Buddy (gritando): Eu quero mais água!
211
Terapeuta: Você pensa que se gritar bem alto poderá obtê-la. '
Buddy: Não tenho medo de ir lá fora e pegar mais.
Terapeuta: Você não tem medo d e .....
Buddy (muito naturalmente): Mas não vou.
Terapeuta: Mas você não vai.
Saul: Vou brincar de guerra.
Bobby <pulando do banco): Eu também vou!
Buddy (derruba outra mamadeira no chão — porém esta não se que
bra.) Oh! Oh! Quebrei outra!
Terapeuta: Você acha que quebrou outra mamadeira.
INDEX
Buddy: Quebrei?
Terapeuta: Não. (Longa pausa.)
Buddy: Estou alegre de não ter quebrado.
Terapeuta: Você está alegre por não ter quebrado outra.
(Timmy e Charles enchem a casa de bonecas com a família de bone-
quinhas de madeira. Subitamente, tiram todas elas para fora.)
Timmy: Uma tempestade veio e jogou todo mundo para fora da casa.
Terapeuta: Uma tempestade arruinou a casa.
BOOKS
í Timmy (para Charles): Vamos arrumar tudo de novo. Me arranja to
dos os enfeites. Não vão ficar todos num quarto. Eu gosto da casa toda ar
rumada e limpa.
í Charles: Vou te ajudar. (Ambos os garotos arrumam a casa muito
bem.)
(Buddy levanta-se e vai para a mesa, apalpando. Nota que há várias
j coisas sobre a mesa, inclusive mamadeiras.)
, Buddy (resmungando): Tem coisas no caminho. (Para a terapeuta):
GROUPS
Tira isto de perto de mim. (A terapeuta o fa z.) Tá tudo longe agora?
Terapeuta: Sim. Não há nada na mesa agora.
! Buddy (resmungando): Eu não quero quebrá-las.
( Terapeuta: Você não gosta de quebrar as coisas, quando esbarra nelas
acidentalmente.
Buddy (rindo): Às vezes não enxergo elas.
Terapeuta: Às vezes você não as enxerga e elas caem. Você não quer
que pensem que faz isto sempre.
! Buddy (começando a desenhar símbolos desconexos e estranhas): Es
tou desenhando.
Terapeuta: Você gosta de desenhar.
Buddy: Posso desenhar aqui. (Canta a “Ponte de Londres”- Bobby es-
212
tá desenhando, com lápis de cor, no cavalete, aviões lançando bombas. Char
les ainda está brincando com Timmy na casinha de bonecas, arramando cui
dadosamente quarto por quarto. Saul está desenhando animais de madeira.
Está perfeitamente relaxado, conversando com Charles e Timmy sobre seu
desenho, os animais e a mobília.) O que você está fazendo, Bobby? (Buddy
está na mesa e Bobby no cavalete.)
Bobby: Estou desenhando.
Buddy: O que que você está desenhando?
Bobby: Um comboio.
Buddy: O quê que eu estou colorindo?
Terapeuta: O que você está fazendo, Buddy?
Buddy: Não sei. Eu não posso ver o que é.
INDEX
Terapeuta: O que você quer que isto seja?
Buddy (sacode cs ombros): Sei lá. Eu só estou pondo uns rabiscos
aqui. Posso levar isso pra casa e pendurar na parede do meu quarto?
Terapeuta: Sim. Você gostaria de pendurar o quadro que fez.
Buddy (rindo): Oh! Sim! Oh! Sim! Eu gostaria.
(Embora todos os meninos tenham olhado para o quadro de Buddy,
não foi feita observação alguma, seja de elogio ou crítica. As cores usadas
por ele foram o preto e o vermelho. Os rabiscos eram pequenos e quadra
BOOKS
dos.) '
Buddy: Da próxima vez, vou desenhar também.
Terapeuta: É bom vir aqui e desenhar.
Timmy (referindo-se ao quadro de Buddy): Sabe, essas coisas podiam
ser parafusos e porcas.
Buddy (rindo): Ou um esquilo também.
Timmy: Sim. (Volta à casa e empurra cs tanques de guerra em dire
GROUPS
ção a ela.) Aqui vem um comboio. Aqui tem duas msnininhas vindo para
casa. O pai está com elas. Vamos fingir que vai cair urna tempestade quan
do está todo mundo em casa. (Este todo mundo são a mãe, a avó, Mamãe
B. e o s meninos.) A tempestade é forte demais e vem de repente. (Ele sopra
a casa e Charles o ajuda.) O pai está voltando pra lá agora. (Lança o pai de
volta à casa. Fala rapidamente.) Está todo mundo na casa agora e a tem
pestade está ficando cada vez mais forte. (Balança a casa com força.)
Terapeuta: Aquela tempastade terrível está vindo em direção à casa.
Timmy (bate palmas): Vamos fingir que a casa está pegando fogo. E
o fogo está danado de forte. (Enfia suas mãos em cada cômodo e violenta
mente retira fora a mobília.) Queimou todo mundo e a mobília também.
Queimou eles todos — o pai e a mãe...
213
Saul (que tinha vindo engatinhando e observava a destruição): Nãoí
A mãe não!
Thnmy (olhando-o ferozmente): Sim! A mãe!
Saul (quase chorando): A mãe não!
Terapeuta: Não a mãe de Saul. A mãe de Timmy.
Bobby: Minha mãe também.
Terap?.uta: Ê a mãe de Bobby, mas não a de Saul. (Saul pega a feone.
ca-mãe.)
Timmy (gritando): Você vai se queimar, Saul! Vai se queimar!
Saul (soluçando): Não me importo!
Terapeuta: Saul salvou sua mãe. Ela está salva agora.
INDEX
Timmy: Vem gato. Você pode se salvar. (Timmy salva um gatinho de
brinquedo.)
Charles: O fogo está apagando agora.
Timmy: Não está não! Não está não.
Terapeuta: Charles quer que o fogo se apague, mas Timmy não quer.
(Timjtny pega a casa, vira-a de cabeça para baixo,sacode-a elarga-a.)
Bobby: Foi só o bombeiro que se salvou?
Charles: Pobre homem! Estava bêbado, também. (Charles ajeita uma
BOOKS
das camas e p5e nela uma bonequinha de madeira.) Olha! O homem está em
pá em cima da cama. Ele está com medo do rato.
Terapeuta: O homem está com medo do rato e por isso subiu em cima
de alguma coisa.
Charles: Todo mundo está com medo de alguma coisa. (Charles põe
todos os bonecos de madeira em cima de alguma coisa — mesas, cadeiras,
guarda-roupas, geladeiras, etc.)
Terapeuta: Eles estão todos tentando fugir de coisas de que têm medo.
GROUPS
Bobby (abraçando e beijando a boneaa-bebê): Sou uma mulherzinha
porque eu gosto da boneca-befcê.
Terapeuta: Você gosta de bebês e acha que talvez seja uma mulherzi
nha por causa disso.
Bobby: Eu queria ainda ser um bebê.
Terapeuta: Você ainda queria ser um bebê.
Timmy: Você pode ser um befcê quando vier aqui. Foi isto que nós fa
lamos com Mamãe R. Gostamos de vir aqui porque podemos ter dois anos
de idade de novo.
Terapeuta: Vocês gostam de vir aqui e brincar de bebês. ,
Bobby: Gosto daqui. Gostaria de ficar aqui para sempre. (Vai até o
cavalete, pega um lápis amarelo, colore o quadro todo dessa cor, atrapalha-
se um pouco com as tachinhas de fixar o papel e pede ajuda à terapeuta Es.
sa o ajuda. Este fala, referindo-se à sua pintura.) Nuvens, está vendo? O sol
brilhando e as montanhas.
(Reina absoluto silêncio por cinco minutos.)
Bobby (que terminara o desenho nesse momento): Podia tirar o papel
daqui sem ninguém me ajudar, mas não quero estragar ele. Você tira ele
pra mim?
Terapeuta (retirando para ele o papel): Você não quer estragar o qua
dro bonito.
Bobby: Quero levar ele para o meu quarto. Vou levar ele pra casa.
(Charles ainda está mamando. Pega o martelo e a bigorna e martela
a esmo. Saul pede a Charles para desenhar-lhe umas “bombas” em seu avião.
INDEX
Charles atende-o-prontamente e volta à bigorna, ainda:com a mamadeira.)
Charles: Vou construir uma casa só para mim.
Terapeuta: Você quer construir uma casa só para você.
Timmy (para Chailüs): De que modo você quer ser bebê novamente?
Charles: Vou deitar no chão e dormir.
Terapeuta: Você gostaria de brincar igualzinho a um bebê e até mes
mo dormir.
Charles (deitando-se no chão e mamando): Vou dormir para sempre.
BOOKS
Terapeuta: Você quer dormir para sempre.
(A calma torna a reinar no ambiente. Timmy desenha aviões. Buddy,
na mesa, continua a fazer seus rabiscos no papel.)
Timmy: Isso é bacana.
Charles (levanta-se de repente e pega o revólver): Quero dar um tiro
em alguém.
Terapeuta: Você gostaria de dar um tiro em alguém.
Charles: Quero atirar em alguém
GROUPS
Saul: Em quem você quer atirar?
Charles: Em quem me faz ir para casa.
Terapeuta: Você não quer ir para casa.
(Silêncio. O sino toca. )
Terapeuta: Mais cinco minutos.
(O grupo ignora a observação. Buddy pega outra folha de papel e co
meça a apalpar os lápis de cor.)
Charles: Você não tem mais tempo.
Buddy: Claro que tenho. Mais cinco minutos.
Charles (pagando um papel para ele mesmo): Então vou desenhar tam
215
bém. (Mas não o fa z.)
Buddy: Onde está o preto? Eu quero o preto. Esse desenho vai ser
preto. (Faz rabiscos desconexos no papel. Segura os lápis de cor bem pró
ximos aos olhos, tentando determinar-lhes a cor. Chega os lápis tão perto dos
olhos que chega quase a furá-los.)
Timmy: Espero que a mamãe ainda esteja lá quando eu voltar.
Terapeuta: Você quer que sua mãe esteja lá quando você voltar.
Bobby: Sim. Ela chegou lá um pouquinho antes de você e queria que
a gente ficasse lá, mas nós dissemos que queríamos vir pra cá.
Terapeuta: Vocês acharam que seria melhor vir aqui do que ficar em
casa com a mãe de vocês.
(Bobby destrói a casa que Saul tinha consertado.)
INDEX
Buddy: Eu queria ir ao dentista.
Terapeuta: Você queria ir ao dentista? (Mais duvidando do que reco
nhecendo o sentimento.)
Buddy: Sim. Tenho dor de dentes bem no meio da noite e acordo com
isso. Poderia me livrar destas dores se fosse ao dentista.
Terapeuta: O dentista ajudaria você.
Buddy: Sim ...
Terapeuta: Bem, o tempo terminou, meninos.
BOOKS
(Eles saem da sala de brinquedos, lentos e relutantes. A terapeuta le
va-os para casa.)
COMENTÁRIOS
GROUPS
brinquedo. Depois que terminou, houve uma calma excepcional em suas
brincadeiras. A voz de Buddy era baixa e calma. Os gritos e os berros habi
tuais diminuíram. Certamente, esta parte da ludotsrapia ilustra a profundi
dade dos sentimentos que crianças como estas, carentes de amor e de segu
rança, são capazes de expressar. Timmy salvou o gato, mas não a mãe e o
pai que o haviam abandonado. A brincadeira das crianças foi tão real, que
Saul foi dramaticamente advertido de que, se tentasse tirar sua mãe do fo
go, queimar-se.ia.
Saul estava firmemente determinado a salvar sua mãe e tão pertur
bado emocionalmente que chegou até a chorar. Charles, não estando ainda
pronto para encarar tais sentimentos, tentou dar por terminada a brincadei
ra. Parece também significativo o fato dos dois irmãos terem deixado a mãe
216
para virem à sala de brinquedos com a terapeuta.
A punição que Buddy inflingiu a Bobby depois deste tê-lo empurrado
contra o cavalete mostra como as brincadeiras, algumas vezes, ajudam as
crianças a sublimarem seus sentimentos, dando vazão a eles e aliviando-os,
Buddy surrou Bobby por éste tê-lo empurrado, porém usou a boneca como
símbolo. Bubby mais vima vez tenta infringir os limites. A autora sente que,
se a terapeuta tivesse aberto mão desse limite, Buddy teria continuado a
buscar coisas que tinham sido proibidas. O fato de serem mantidos os pou
cos limites estabelecidos, antes que se desenvolva a terapia, parece auxiliar
o processo terapêutico.
Neste contato, outra vez, os garotos demonstram que entendem a sala
de brinquedos como um lugar diferente. Aqui eles podem ter dois anos da
INDEX
idade. As necessidades e problemas destas crianças diferem grandemente
mas, mesmo assim, são capazes de receber ajuda através de uma experiên
cia terapêutica em grupo.
QUARTO CONTATO
BOOKS
mãe, a qual não via há cinco anos e meio. As notas deste contato estão in
completas por causa da participação da terapeuta nas atividades de pintura
de dedo dos meninos. Foi necessário que ela os ajudasse a montar o papel
e à remover as gotas e espirros cuidadosamente, e levasse para fora os de
senhos para secar.
GROUPS
quererem ser bebês. Buddy não mamou na mamadeira. Segurava-a e sorria
de modo afetado. Saul desta vez não viera com o grupo. Seu pai tirara-o da
casa adotiva e saíra da cidade com o menino. Logo os garotos descobriram
a tinta de pintar com os dedos.
Timmy: Deixa eu! Deixa eu! Olha a tinta de dedo!
Terapeuta: Você já trabalhou com isso antes.
Timmy (ssntando-se à mesa e pegando as tintas): Eu gosto! Eu gosto!
Terapeuta: Você gosta de usar essas tintas.
Timmy: Sim.
A terapeuta ajudou Timmy a começar a pintura deu-lhe o avental, a
bacia de água e alguns trapos. Os outros meninos ficaram em volta, comen
tando sobre a pintura, querendo aventais e aguardando a vez deles. Mama
217
vam o tempo todo. A terapeuta ajudou Timmy a tirar as tintas, a amarrar
o avental e refletiu os sentimentos expressos pelos outros garotos, que espe
ravam por sua oportunidade de experimentar, também, a nova tinta. Esta
vam muito ansiosos. Finalmente, Timmy, selecionando o amarelo e o preto
sem um momento de hesitação, com as mãos cheias de tinta, espalhava-as
livremente pelo papel com gestos expansivos, gritando o tempo todo. Ter
minou a pintura com movimentos rotativos, firmando o papel com o coto
velo. Enquanto isso acontecia, Bobby e Charles jogavam água um no outro.
Buddy estava quisto, em frente à terapeuta, perguntando sempre: “ Você vai
escrever o que vou falar? Quero escrever uma carta para mamãe!” A tera
peuta respondeu, dizendo que Buddy queria escrever uma carta para sua
mãe e precisaria de sua ajuda. Disse-lhe que dentro de alguns instantes o
ajudaria. Logo que Timmy acabou sua pintura, foi a vez de Charles. Este
pintou cuidadosamente, tendo o seu desenho uma forma definida.
INDEX
Charles: Isto vai ser uma bandeira. Uma bandeira com estrelas.
Terapeuta: Você quer uma figura de uma bandoira. (Várias vezes re
petiu o mesmo tema, apagando e tornando a fa zer.)
(Timmy correu para a casinha de bonecas, agarrou.3, virou-a de cabe
ça para baixo e lançou-a contra a parede.)
Timmy: Fogo! Fogo! Tá queimando a casa toda! Estragou tudo!
Terapeuta: Você quer destruir a casa.
Bobby: Eu também! Eu também! Fogo! Fogo!
BOOKS
Terapeuta: Bobby também quer destruir a casa.
Timmy (pegando a boneca-mãe, suspandendo sua saia, exibindo para
os outros e rindo): Olha!
Terapeuta: Você acha engraçado levantar a saia da mãe.
Timmy (para a terapeuta): Eu vou até tirar a saia dela.
Terapsuta: Você não está com medo de tirar a saia dela.
Timmy (tirando a roupa da boneca): Olhe! Olhe!! Engraçado. Ela vai
ficar sem nada.
GROUPS
Terapeuta: Você tirou todas as roupas da mãe.
Timmy (batendo na boneca): Vou bater nela. Vou quebrar ela em pe
dacinhos!
Terapeuta: Você vai quebrá-la em pedacinhos.
Timmy (tentando parti-la eo meio): Vou desmontar ela toda. Vou dei
xar ela em pedaços!
Terapauta: Você quer destruir a mãe.
Timmy: Ela vai ver. Vou ensinar ela pra sempre.
Terapeuta: Você vai ensinar a mãe para sempre.
Timmy (puxando os braças removíveis da boneca): Tá vendo? Tirei
218
os braços dela.
Terapeuta; Você tirou os braços dela.
Timmy (jogando a boneca no chão): Vou mostrar pra ela o quê que
é bom. Vou ensinar pra ela.
Terapeuta: Você vai ensinar-lhe.
Bobby (tornando a pegá-la e jogando-a novamente ao chão): Isto há
de mostrar pra ela o quê que é desgraça.
Terapeuta: Você quer mostrar-lhe o que é desgraça.
Bobby (pisando sobre a cabeça da boneca): Vou arrancar os miolos
dela! ( Chuta-a para um canto.)
Terapeuta: Você arrancou-lhe os miolos.
Timmy (olhando ferozments em volta, à procura de algo): Onde está
o homem? Onde está o pai? Vou tirar a roupa dele. Vou dar nele uma surra.
INDEX
Bobby: Onde está o pai? Nós queremos o pai.
Terapeuta: Vocês querem que aqui haja um pai, para que vocês pos
sam bater nele.
Timmy: Eu arrancaria os miolos dele.
Terapeuta: Você arrancaria os miolos dele.
Bobby: E desmontava ele todo.
Terapeuta: E vocês o desmontariam todo.
BOOKS
Bobby: Ele é um desgraçado, um homem desgraçado!
Terapeuta: O pai é desgraçado, um homem desgraçado.
Timmy (pintando de vermelho a mamadeira): Olha! Sangue! Vou be
ber o sangue dele (Bebe na mamadeira.) Bebi o sangue dele.
Terapeuta: Você bebeu mesmo o sangue dele. (Timmy vai até o canto
e pisa na boneca-mãe.) Você bebeu o sangue do pai e agora pisa na mãe.
Timmy (rindo às gargalhadas, p?ga o marte’o e a bigorna e martela
com toda a força que tzm . ): Eu sou um sujeito valentão.
GROUPS
Terapeuta: Você é um sujeito valentão e está martelando com toda
força.
Timmy (martela com mais força do que nunca. Chegou a partir a bi
gorna ao meio e ficou tentando esmigalhar uma das partes.): Tá vendo? Que
brei ela.
Terapeuta: Você martelou-a com tanta força que a quebrou.
Timmy (desafiante): E estou alegre com o que fiz!
Terapeuta: Você está alegre por íêla quebrado.
Timmy (dando um chute no pé da mesa): Vou quebrar a outra.
Terapeuta: Você ainda quer quebrar a outra.
219
/
INDEX
Buddy: “Querida mamãe. Como vai você? Eu estou bem. Quero o meu
dinheiro do banco. Quero meu xilofone. Tenho cinco meninos para brincar
comigo. Tem muitas coisas bacanas aqui na casa da Mamãe. E. Quero
meu patinete, aquele do banquinho pra sentar. Quero minha bicicleta. Que
ro ir para casa e ver você um sábado destes. Temos carros, bicicletas e pa-
tinetes em casa. A senhora C. vai me dar um teminho de marinheiro ”
Buddy
(A terapeuta atendeu a Buddy da melhor maneira que pôde, dividindo
BOOKS
a atenção entre Timmy e a carta. Timmy estava pintando com tinta verme
lha, gritando e resmungando durante todo o tampo. As respostas da tera
peuta incluíram reconhecimento dos desejos de Buddy de possuir ssus brin
quedos e seu dinheiro e de ir para casa ver sua mãe. Quando este terminou
de ditar a carta, o tempo tinha.se esgotado e a terapeuta anunciou-o, dizen
do que era o final da sessão. Quando o grupo saiu para o corredor, Timmy
engatinhava, como um bebê.)
Terapeuta (para Timmy): Você é um bebê.
Timmy: Eu bebezinho.
GROUPS
(Foi engatinhando por todo o corredor e escadas, atravessou a rua
até chegar onde estava estacionado o carro da terapeuta. Esta levou-os até
a exposição de quadros, mas o teatro já tinha fechado e a terapeuta levou os
para casa. Quando viram que a exposição estava fechada, permaneceram cal
mos. Chegando à casa de Mamãe R., a terapeuta parou o carro e os meni
nos ficaram dentro dele, relutantes em descer.)
Terapeuta: Vocês não querem descer do carro.
Meninos: Não. Leva a gente de volta. Queremos ficar lá o dia inteiro.
Terapeuta: Vocês querem que eu os leve de volta, mas não posso. Ou
tras crianças usarão a sala de brinquedos nesta tarde.
(Ainda pirmaneceram no carro. Finalmente Timmy desceu.)
Timmy: Vem, gente! Vamos fazer um inferno! (A terapeuta acredita que
220
eles Iam mesmo fazê-lo. Bobby e Charles seguem Timiay. Buddy retraiu-se.)
Buddy (para a terapeuta): Até logo. Põe minha carta no correio, tá?
Não sei o endereço.
Terapeuta: Você quer entrar e pedir a Mamãe R . o endereço?
Buddy: Ela não está aqui. Saiu. Por isto é que íamos na exposição.
Não tem ninguém aqui. (Mesmo Buddy ia “ ver a exposição”, cego como
era .)
Terapeuta: Mando a carta na semana que vem.
Buddy (com uma expressão preocupada): Sim. Sim. Não podemos es
quecer. Até logo.
COMENTÁRIOS
BOOKS
livremente com os dedos. Sua mão direita fazia círculos, a esquerda movia-
se normalmente para cima e para baixo. Movia os dedos da mão esquerda e
a palma da direita.
Bobby utilizou as tintas de cores marrom, vermelha e azul. Fez vários
desenhos, sobrepôs as tintas em finas camadas, comprimindo-as com os de
dos. Rabiscou o último desenho com as unhas, fazendo linhas verticais e
horizontais, fungando como um gato enquanto trabalhava.
O comportamento de Timmy nesta sessão parece ilustrar o ponto de
vista de que a terapia em grupo pode ser — e é — tão proveitosa para o in
GROUPS
divíduo no grupo, quanto o é na sessão individual. Os garotos deste grupo
parecem ter mais problemas pessoais de que de comportamento anti-social.
A maneira pela qual brincam juntos e se ajudam mutuamente ilustra este
fato. A fraqueza das respostas da terapeuta, na situação grupai, é demons
trada neste contato. Durante a primeira parte da sessão, sua atividade resu
miu-se apenas em responder. Os garotos aceitaram a terapeuta tão comple
tamente quanto ela a eles. Revelam o completo sentimento permissivo, pre
sente em tal situação.
QUINTO CONTATO
221
gente pediu pra ela. Disse que se você deixa é porque deve ser bom. Deixou
a gente até beber leite nelas!”
Ao chegarem à sala de brinquedos, gritaram pelas mamadeiras e
Charles, Timmy e Bobby pegaram-nas logo.
Buddy não mostrou qualquer interesse por elas. Disse que queria usar
as tintas de dedo, assentou-se à mesa e começou a trabalhar. Os outros três
meninos deram vivas à caixa de areia e aos fantoches que tinham sido adi
cionados à sala de brinquedos, desde a sua última sessão. A terapeuta expli
cou-lhes a manipulação dos fantoches e logo Timmy pegou um, foi para trás
do palco e o colocou em cena.-
Timmy (falando p?lo fantoche): “ Olha aqui! Sou um doido! Sou um
velho palhaço doido. Vou explodir o mundo se você não prestar atenção em
m im .” (Continua falando, m?s é atrapilhado pelo barulho dos outros meni
nos que estão “ atacando” a caixa de areia.)
INDEX
Bobby (jogando areia na casa de bonecas): Olha esta casa velha! Vou
encher ela de gelo e neve. Vou congelar o povo.
Charles (atirando também areia na casa): Vamos soterrar este povo
todo. Não vai sobrar casa nenhuma. Olha isto. (Despeja as mãos cheias de
areia nas bonecas-mãe e pai, soterrando-ss completamente.)
Bobby: Estão enterrados na neve. Vão ficar durinhos de tão gelados.
E não me importo com isto.
Terapeuta: Os adultos vão ficar congelados, mas você não se importa.
BOOKS
Bobby (engatinhando na areia e sentando nela): Vou ficar aqui e fa
zer um negócio pra mim. Vou fazer minha fazenda.
Terapeuta: Você quer construir uma fazenda só sua.
Timmy (engatinhando, aproxima-se da caixa de areia): Vou fazer um
negócio pra mim também.
(Charles e Buddy vêm até a caixa de areia. Buddy passa as mãos pela
areia e não parece ficar muito satisfeito com ela. Volta ao cavalete e come
ça a desenhar com os lápis de cor e a tinta.)
Timmy: Vem, gente! Vamos arrumar a casa e o exército e depois fa
zer uma guerra.
GROUPS
(Timmy e Charles põem o mobília da casa atrás dela por uns instantes,
mas logo Charles joga uma mão cheia de areia no quarto de dormir. Timmy
faz a mesma coisa. Segue-se uma terrível guerra de areia com gritos e
vaias.)
Timmy: Tá nevando! Tá nevando!
(Todos os garotos, exceto Bobby, deixaram de lado a mamadeira.
Bobby pega três delas e leva-as para a caixa de areia com ele. A terapeuta
avisa lhe para não deixar cair água na areia, porque isto a estragaria. Bobby
diz um “ Tá bem” e toma-se cuidadoso. Durante todo o tempo da terapia,
222
Bobby fica bebendo água nas quatro mamadeiras, tirando o bico e “bebendo
como refrigerante”, segundo ele.)
Charles: Tá nevando. Todos os quartos estão ficando cheios de neve.
O povo tá ficando enterrado aqui.
Terapeuta: A neve está enterrando algumas pessoas.
Charles: Já tinha duas pessoas enterradas, agora tem quatro.
Timmy: Agora tem seis. Este negócio está matando todo mundo.
Terapeuta: Não vai sobrar ninguém.
Timmy: O pai está aqui. Ele vai gelar até morrer. Ele tá morrendo.
Terapeuta: O pai está morrendo.
Charles: Caíram na armadilha. Tá vendo? Não conseguem sair. (Pega
a boneca-filha e joga-a em cima da caixa de areia. Destrói parcialmente a
casa, vira a de lado e joga-lhe mais areia, violentamente.) Tira essa coisa da
INDEX
qui! Nada de casa! Nada de casa! Nada de casa! (Joga a casinha para fora da
caixa de areia e coloca-a do outro lado da sala.)
Terapauta: Você não quer a casa ali.
Bobby: Aqui não tem lugar para mães e pais não. Não há lugar pra
mais ninguém. Aqui é só pra nós!
Terapeuta: Você não quer mães ou pais e ninguém mais, a não ser vo
cês mesmos, aqui.
Timmy (gritando): Este é o nosso inundo.
BOOKS
Terapeuta: Este mundo é só de vocês.
(Buddy pergunta à terapeuta se pode ir lá fora beber água. Esta per
gunta-lhe se ele pode esperar até o tempo terminar. Buddy concorda sorri
dente e continua pintando.)
Timmy: Vou pagar uns blocos e fazer uma fazenda pra nós.
Bobby: Como é que você vai fazer isto? Vamos fazer as coisas de que
nós gostamos.
Terapauta: Vocês vão fazer as coisas do jeito que vocês querem que
elas sejam agora.
GROUPS
(Bobby faz uma garagem para os carros. Divide os animais.)
Charles: Só quero animais no meu mundo. Não quero pesSoa nenhu
ma. Só animais e um menininho, que é o fazendeiro.
Terapeuta: Você só quer animais no seu mundo. Só animais e o meni
ninho, que é o fazendeiro.
Charles (tirando a mobília): E nada de mobília. Nada de cadeiras, na
da de camas.
Terapeuta: Você não quer nenhuma mobília também.
Bobby: Por que você jogou fora o pai?
223
Charles: Não gosto dele. Joguei ele fora.
Terapeuta: Charles jogou fora o pai, porque não gosta dele.
Charles: Ele também não gosta de mim.
Terapeuta: Ele não gosta de você, então você não gosta dele.
Buddy: Quero levar uns brinquedos destes pra casa.
Terapeuta: Você gostaria de levar, mas não pode. Eles tên), que ser
deixados aqui.
Bobby: Eu gostaria de levar uns também.
Charles jogando fora alguns brinquedos): Nada de tanques de guer
ra! Nada de revólveres! Nada de brigas em meu mundo.
Terapeuta: Nada de brigas, de tanques de guerra e de revólveres em
seu inundo.
INDEX
Charles: Quem quer a mãe? (Joga a boneca-mãe para Tim m y.)
Timmy: Eu não. (Joga-a de volta para Charles.)
Charles: Pica com ela assim mesmo. (Joga-a de novo para Timmy.)
Timmy: Eu não quero a mãe! (Joga-a de novo para Charles.)
Terapeuta: Nem Charles nem Timmy querem a mãe.
Bobby: Nem eu.
Terapsuta: Nenhum de vocês quer a mãe.
Buddy (do cavalete): Nem eu.
BOOKS
Terapeuta: Nem Buddy também.
E-obby: Quebra ela. Mata ela. Dá um jeito de se livrar dela.
Terapeuta: Você quer dar um jeito de se livrar dela.
(Charles joga a boneca-mãe do outro lado da sala. Ele, Bobby e Tim
my constróem celeiros e silos com os blocos, na caixa de areia. Buddy está
no cavalete, pintando.)
Timmy (pegando um tanque): Não queremos isto. Sabe por quê?
Bobby: Não. Talvez ele esteja sobrando.
GROUPS
Terapeuta: Você não quer tanques lá.
Charles (colozando os animais no topo do silo): Eles estão com medo,
por isto estão aqui em cima.
Terapeuta: Eles saíram do caminho porque estão com medo.
Bobby (após ter construído uma garagem com os blocos): Olha, vou
tirar o carro da garagem. Vou atropelar o pai!
Timmy: ótimo!
Terapeuta: Você ficou livre do pai.
Timmy (para Charles, referindo-se à divisão de áreas na caixa de areia
221
—cada menino está construindo “o seu mundo” . ): Por que eu e Bobby não po
demos ir aí visitar você?
Charles: Pode sim.
(Timmy martela estacas para usá-las ha construção de blocos.)
Bobby: Onde está a casa grande?
Terapeuta: Aqui fora.
Bobby: Tá. Deixa ela aí. Eu só queria saber.
Terapeuta: Você só sentiu falta dela, não é?
Bobby: Sim.
Buddy (vindo assentar-s3 ao lado da terapeuta): Quero pôr mais algu
ma coisa na minha carta. Escreve: “Quero tinta.” Não sei quê mais. Es
creve isto na carta.
Terapeuta: Você gostaria de ter tintas para você próprio.
INDEX
Buddy: Sim. Não sei quê mais que eu digo.
Terapeuta: Você acha que esqueci que você estava aqui, não? (Inter
pretação.)
Buddy: Sim. (R i.)
Timmy: Faz uma porteira, Charles. Nós queremos ir visitar você.
Charles: Vocês não podem vir aqui. Estão espantando meus animais.
Jogo meu urso selvagem em cima de vocês. G rrrr... (Expulsa Timmy de sua
parte como ursinho, rosnando.)
BOOKS
Terapeuta: Charles não quer vocês lá.
Timmy: Ele não é um cabritinho, tão pouco. Ele na verdade tem um
urso selvagem. Sai da areia, Bobby, para a gente fazer mais quartos. (Ele
sal e limpa a areia que estava espalhada no chão, com um pano limpo e se
co. Bobby diz “não” e Timmy insiste. Bobby sai.)
Bobby: Charles, não põe o urso atrás de mim, não.
Charles: Esse urso é que me protege.
(Soa a campainha.)
GROUPS
Bobby: Quanto tempo falta?
Terapeuta: Mais dez minutos.
Timmy: Vamos fingir que os alemães estão aqui. Vamos fingir que es
tão jogando bombas pra todo lado.
(Começa a atirar areia e blocos em volta da caixa de areia.)
Bobby: Não! Não! Não faz isto não!
(Timmy continua a destruir o que construiu e também as coisas que
os meninos fizeram. Bobby torna a protestar.)
Tcrapsuta: Bobby não quer que você destrua o que ele construiu.
225
(Esta resposta não encontra aceitação por parte de Timmy, nem 6
permissiva. Foi um reflexo do que Bobby dissera, porém dirigido a Timmy
e mais parecia uma intervenção da terapeuta. Foi uma resposta infeliz. A
reação de Timmy foi inevitável.)
Timmy: Você não pode mandar nos alemães. (Continua a bombardear
o lugar.)
Terapeuta: Você não se importa com o que Bobby sente com isto. Vai
fazer assim mesmo. (Esta respcsta soou muito como reprovação para que
pudesso auxiliar.)
Timmy: Sim. (Continua a bombardear.)
(Bobby rapidamente abandona a caixa de areia, vai para um canto da
sala, enfia a cabeça entre os braços, como se estivesse chorando. Levanta-sie
subitamente — nenhum sinal de lágrima — e vai para o teatrinho de fanto
ches. Põe um fantoche na frente da cortina e o faz falar.)
INDEX
Bobby (falando pelo fantoche): “ Não gosto de você, vou te matar,
Timmy. Você sempre tem que fazer dessa maneira. Nunca sei o que tenho
que fazer. Nunca sei o que vou fazer. Oh! Socorro! Socorro! Socorro! Bem,
aqui vou eu outra vez. Oh, meu Deus! Nem sei o que vou fazer agora.” (Jo
ga fora o fantoche e sobe na caixa de areia de novo. Joga os blocos grandes
em volta, a esmo. Pega uma mamadeira.) Roubei a mamadeira de alguém.
Terapeuta: Você está mesmo sentido com Timmy. (A mamadeira rou
bada tinha sido a de Timmy.)
Bobby: Sim. Esta é a de Timmy. Bebe um pouco, Charles. (Charles
BOOKS
bebe.) Esta é a mamadeira de Timmy.
Terapeuta: Você quer que ele saiba que você pegou sua mamadeira.
Timmy (voltando a si e gritando): Ei! Você aí!
Bobby (dando a Timmy a mamadeira): Olha o seu jeito! Olha o seu
jeito! Por favor, controle.se! (Timmy pega a mamadeira e sorri para Bobby,
que tem um fantoche nas mãos novamente.) Não sei o que fazer.
Timmy: Te amasso os miolos. (Bobby fica emudecido.)
Terapeuta: Você certamente não gosta do modo como Timmy te tra
ta às vezes.
Bobby: Não!
Timmy: Bem!
GROUPS
Bobby: Da próxima vez vou fazer um teatrinho. Um dos bonecos vai
ser Timmy e vou bater nele.
Terapeuta: Você pode bater no fantoche e acha muito bom quando es
tá fazendo isto.
Eobby: Sim. Timmy dá muita patada e é muito valentão.
Terspsuta: Timmy é forte demais para você, então você se vinga dele
no teatrinho.
228
Timmy (rindo): Tá certo, Bobby. Vou brincar com você. Vou brincar
na areia também.
(O tempo se acaba. A terapeuta leva os meninos para casa.)
COMENTÁRIOS
INDEX
que os três meninos na caixa de areia foram capazes de dividi-la e brincar
juntos sem conflitos durante a maior parte do tempo.
SEXTO CONTATO
BOOKS
a caixa de areia, tombou a casinha de bonecas e levantou.a com a ajuda de
Charles.
Bobby: Tira esta porcaria daqui. Nós não queremos nenhuma casa.
Charles: Não. Nada de casa. Nada de pessoas. (Bobby sobe na caixa
de areia e começa a alinhar soldadinhos para uma batalha. Charles pega os
fantoches e vai para trás do pal:o.)
Charles (com o fantoche palhaço): Oh! Sr. Palhaço! Alô. Como vai
você? Alguém deu um punhado de tiros na minha casa ontem de noite. On
de está o seu bull-dog? Ele rasgou minha calça. B em ... Chega por hoje.
GROUPS
Terapeuta: Você acha que os fantoches já falaram o bastante por hoje.
Charles: Sim. (Vai para a caixa de areia e coaaeça a ajeitar as coisas
par lá .) Agora eu vou brincar na areia.
Buddy (pega a boneca e o bercinho, coloca-os em cima de sua cabeça
e anda desse modo ao redor da sala.) Eu vou levar o bsbê para passear.
(Coloca-os sobre o cavalete.) Vou pintar com a pintura de dedo. Vermelho.
Me dá o vermelho. (A terapeuta auxília-o a dispor o papel e lhe dá a tinta
vermelha. Buddy trabalha com ambas as mãos, riscando para cima e para
baixo, salpica tinta pelo papel; ri, enquanto trabalha.)
Terapeuta: É engraçado mexer com a pintura de dedos, não é?
227
Buddy: É bacana lambuzar.
Terapeuta: É bacana lambuzar.
Buddy: Eu não tenho medo de me sujar todo! Eu não tenho medo.
Terapeuta: Você não tem medo de fazer uma grandè bagunça aqui.
(Era exatamente isto o que ele estava fazendo.)
Buddy: É por isto que gosto de vir aqui. Vooê não é uma dessas pes
soas que só sabem falar “ NÃO” .
. Terapeuta: Você gosta de vir aqui porque eu dsixo você fazer muita
coisa que você quer fazer.
Buddy: Sim. Agora quero brincar com argila.
Terapeuta: Eu vou tirar seu quadro daqui, para que você não esbarre
nele. (A terapeuta déixa a sala com a pintura. Buddy, em sua ausência, ten
ta chegar à argila por seus próprios meios, mas não consegue destampar &
INDEX
jarra.)
Buddy: A tampa tá escorregando.
Terapeuta: A tinta que está em suas mãos é que faz com que ela es
corregue.
Buddy: Talvez fosse melhor eu lavar a mão?
Terapeuta: Assim ela não escorregaria.
Buddy: Então tenho que lavar elas.
Terapeuta: Você acha que é isso que você tem que fazer.
BOOKS
Buddy: Mas você não disse para eu ir lavar.
Terapeuta: Você acha que eu deveria falar para você ir lavar?
Buddy: Eu não acho que você deveria. É que a maioria das pessoas
faz isto.
Terapeuta: A maioria das pessoas adultas faria isso para você. Pare
ce estranho que eu não faça o mesmo.
Buddy: Você é uma pessoa interessante. (Lava as mãos na bacia e en
tão começa a trabalhar com a argila. Bate com a espátula de madeira em
GROUPS
cima da mesa de tampo de vidro.)
Terapeuta: Isso em cima da mesa é vidro, Buddy. Se você bater for
te assim, ele quebra.
Buddy: Tá certo. Vou bater no banco, então.
Terapeuta: No banco você pode bater com a força que quiser. (Bud
dy, então, martela com fo rçi sobre o banco.)
Charles (coloca blocos nas extremidades da caixa de areia. No meio,
um grande bloco): Aqui, uma vez, foi uma sepultura. Um rei — ou uma pes
soa importante. A neve está caindo nela. Aqui é o cemitério. Tá vendo?
Isto é a neve — fria neve — caindo, caindo, caindo. (Deixa a areia cair aos
22u
pouquinhos sobre os blòcos.)
Terapeuta: A neve está caindo nas sepulturas.
Bobby: Um de nossos homens foi morto. Aqui, Charles, enterra ele.
Põe a tampa em cima dele também. (Charles o faz e balança a cabeça tris
temente .)
Charles: Agora vou começar a bombardear esse cemitério.
Bobby: Isso é um campo de prisão... e um ... (Não se lembra da
palavra e olha para a terapeuta pedindo ajuda.) Como é que é, como cha
ma? Eles torturam as pessoas e depois põem elas em fila e dão tiros nelas.
Como é que chama? Não é campo de patrulha... é um tipo de campo...
Terapeuta: Um campo de concentração?
Bobby: Sim. Timmy está aqui.
Terapeuta: Oh! Timmy está no campo de concentração.
INDEX
Bobby: Sim. (Charles começa a bombardear o cemitério com os blo
cos.) Vamos enterrar a gente mesmo aqui? A gente se enterra todo, menos
o rosto.
Charles: Tá. Vamos. (Eles entsrram os soldadinhos desse modo.
Bobby toma alguns bloccs de Charles.) Não, Bobby, não pega esse não.
Bobby: Sim. Vamos dividir o lugar.
Charles: Tá certo. Vou pegar mais blocos. (Ele o fa z.) Meu cemité
rio. Como a neve vai cair nele! (Joga areia nos blocos.)
BOOKS
Bobby (para a terapeuta): Vou tirar o bico dela. (Procede assim e es
tende as outras duas mamadeiras para a terapeuta.) Aqui, eu não quero
nunca mais ser um bebê. (Joga as mamadeiras fo ra .) Onde estão os patos?
Terapeuta: Você não quer mais ser um bebê.
Bobby: Não. É melhor ser grande.
Terapeuta: É muito melhor ser gente grande.
Bobby: Sim.
Charles: Veja as bombas caindo no meu cemitério.
rado no cemitério?
GROUPS
Terapeuta: Sim. As bombas estão bombardeando-o. Quem está enter
229
Charles: Não senhor. Eu não estou morto lá em baixo. (Ele esconde
a cabeça entre os tK ço s e olha fixamente os túmulos. Soluça e chora.)
Terapeuta: Você se sente muito triste.
Charles: Sim. Eu estava pensando. Estas pessoas estão todas mortas
e não podem se defender. E estão sendo bombardeadas.
Terapeuta: Isso não parece muito certo.
Charles: Isso é uma guerra para você.
Terapeuta: Sim.
(Charles continua fitando o cemitério e subitamente começa com um
violento bombardeio com os blocos maiores, berrando como um doido.)
(Bobby também começa uma guerra no seu canto. Buddy está mode
lando um menino numa bicicleta — um notável trabalho. Ao terminá-lo co
INDEX
meça a colorir um desenho.)
Buddy (para a terapeuta): Isto vai ser para você.
Terapeuta: Você quer fazer um quadro para mim.
Buddy: Sim.
(Bobby, de repente, sai da caixa de areia. Pega um fantoche e vai pa
ra o palco e começa o teatrinho de fantoches.)
Bobby: Aqui estou eu, gente. Alô!
Charles: Oh! Cale-se!
BOOKS
Bobby: “Eu sou o sr. palhaço. Como é que estão vocês aí de fora?"
(Vem para a frente do palco, joga o fantoche ao chão e espalha um pouco
de tinta vermelha em todo o pipel que estava no cavalete. Para a terapeu
ta .) Lá. É assim que eu me sinto. Todo bagunçado.
Terapeuta: Você se sente completamente confuso com alguma coisa.
Charles: Como um cego, não é?
Bobby: Sim. Como um cego. Aqui. Tira isso daqui! Joga isso foral
Meu Deus! Oh! Deus! Oh! Deus! (A terapeuta joga fora a pintura.)
GROUPS
Charles: Eu sou tão infeliz.
Terap:uta: Você é infeliz?
Charles: Sim. (Violjntamente joga os blosos e grita.)
Terapeuta: Dar uns gritos assim e jogar uns blocos ajuda você.
Bobby (desenhando um avião jogando bombas): Que país você está
bombardeando?
Charles: Japão. Aqui é He-Ho. Mas está disfarçado de Tio Sam. Povo
engraçado, tá vendo?
(Buddy entra na caixa de areia. Joga os blocos violentamente e ber
ra. Bobby vai para a mesa de pintura, pega a tinta de deio e faz vários de
senhos. Primeiro um todo vermelho. Um ssgundo azul, um terceiro todo
230
marrom. Rabisca-os com as unhas cuspindo e avançando como um gato,
mas conversando com a terapeuta sobre as cores de modo normal.)
Buddy (ainda jogando os blocos): Eu vou mostrar pra todo mundo
que eu não tenho medo.
Terapeuta: Você não quer que a gente pense que você tem medo de
alguma coisa.
(Buddy, maliciosamente, lança os maiores blocos contra a caixa de
areia.)
Charles: Não joga estes não. Você vai quebrar a caixa.
Buddy: Eu não tenho medo!
Terapeuta: Você não tem medo, Buddy. Use os menorzinhos, os gran
des poderiam machucar alguém.
INDEX
Buddy: Tá. (Joga os menores contra o teto e eles caem barulhenta
mente ao redor de toda a sala. Charles — que usa óculos — olha um poúco
amedrontado.)
Charles: Toma cuidado agora, Buddy.
Buddy: Eu não sou medroso. (Joga as mãos cheias de blocos para
cima.)
Terapeuta: Você pode quebrar os óculos de Charles, Buddy. Por fa
vor, não jogue mais nenhum bloco.
BOOKS
Buddy: Eu não sou um medroso.
Terapeuta: Nós sabemos que você não é medroso. Este não é o caso.
É que isto pode machucar alguém aqui.
Buddy: Eu não sou um medroso. (Parando, porém, de jogar os blo
cos.)
Charles (gritando para Buddy): Como é que é? Você quer machucar
alguém aqui?
Buddy (responde gritando): Não, eu não quero machucar ninguém.
GROUPS
Charles (gritando para Buddy): Bem ... então...
Buddy (gritando): B em ... é você mesmo então. (Tenta tomar os blo
cos de Charles. Os dois têm uma briga. Os dois estão agora de pé na caixa
de areia. Charles pega os melhores brinquedos que estavam com Buddy, o
qual assenta-se, paga um cachorro de celulóide, um bloco e bate com ele no
cachorro.) Eu vou matar você, Charles. Este é vocâ, tá vendo? Eu estou
batendo em você.
Terapeuta: Quando você não pode bater em Charles, bater no brin
quedo ajuda você .
Buddy (pegando uma mão cheia de areia): Eu sou mau! Eu sou mau!
Terapeuta: Você é mau de verdade.
231
. Buddy (rindo): Só agora.
Terapeuta: Você se modifica bem depresa.
Charles (dá a Buddy 05 blocos que este queria tomar e sai da caixa
de areia. Pega o bonecopai, deita-o de joelhos e usa-o para o teatrinho de
fantoches, segurando-o pelos pés.): Eu sou o único homém da cidade. Pu
xa! Como estou preocupado. Uma coisa quase me matou. Já vem vindo al
guém. Eu estou ouvindo os passos dele. Oh! Oh! (Suspira.) Oh! (Vai até
a caixa de areia, enche as mãos e deixa-a escoar par entre seus dedos.)
Terapeuta: Você está preocupado com alguma coisa.
Charles (de mau-humor): Eu sou sozinho no mundo. Só eu e meu ce
mitério. (Começi a arrumar novamente os túmulos.)
Terapeuta: O tempo acabou por hoje, meninos. (Nenhum sinal de que
eles tivessem ouvido.) Vocês gostariam de ficar, mas o nosso tempo aca
INDEX
bou.
Buddy (pulando da caixa de areia com o maior bloco equilibrado,
ameaçadoramente e.n sua cabeça): Olha!
Terapeuta: Não, Buddy. Eu sei que você se sente assim porque não
quer ir para casa. Vem cá, agora.
Charles: Você nunca mais ia poder voltar aqui sè jogasse isso.
Buddy: Eu não estou com medo de jogar, não!
Terapeuta: Buddy quer que a gente fique certo de que ele não tèm
BOOKS
medo de fazer qualquer coisa.
(A terapeuta, Charles e Bobby saem da sala de brinquedos. Bobby
entra no lavatório.)
Buddy (chamando a terapeuta): Agora que já não tem ninguém aqui
a não ser eu, eu posso jogar isto?
Terapauta: Jogue-o na caixa de areia, mas cuidado com os dedos.
(Buddy ri, joga-o delicadamente a um canto e sai da caixa de areia.)
Terapeuta: Foi interessante jogá-lo.
GROUPS
Buddy: Você não quis que eu machucasse meus dedos.
Terapeuta: Não, não quis.
Bobby: Timmy me disse: “Eu aposto que você vai querer ir pra casa
hoje.” Mas eu disse: "Hoje é o dia da gente ir na Universidade. Eu aposto
que você prefere ir pra lá .” Ele então disse: "S im .” Então ele falou pra ma
mãe que ele não queria ir com ela, mas aí ela fez ele ir, e eu ri dele.
Terapeuta: Timmy pensou que você ia se sentir mal porque você não
iria para casa e acabou Timmy se dando mal porque não pôde vir aqui.
Bobby: Sim. Eu até adoeci e vomitei tudo que comi, até mesmo água.
Mas nem isto adiantou. Ela não quèria mesmo me levar.
232
Terapeuta: Mesmo você ficando doente de verdade,, isto não ifez com
que sua mãe concordasse em levá-lo também.
■Bobby: Não. Ela é uma mulher desgraçada.
Bobby estava bastante passivo durante todo o caminho de casa. No
vamente todos eles ficaram assentados no carro, silenciosamente, recusaii;
do-se a descer. Buddy, brincando, disse: “Leva a gente de volta, por favor.
Nós vamos ficar lá o dia inteiro. ” A terapeuta reconheceu seus desejos de
voltar e de ficar assentados ali também. De repente, saíram todos do carro.
Buddy: Você não obriga a gente a fazer nada, né?
Terapeuta: Isto é difícil de acreditar, não é?
(Eles correm para casa.)
COMENTÁRIOS
INDEX
Neste contato Buddy faz considerações sobre a atitude da terapeuta
e conclui que ela é uma pessoa “interessante” . Este registro contém umá
ilustração da dificuldade de Buddy em fazer uma escolha — neste caso, la
var as mãos — mas a decisão é deixada para ele.
Bobby também mostra seus sentimentos, até mesmo os relativos ao
irmão, pondo.o num campo de concentração. Buddy canalisa seu comporta
mento para tuna forma aceitável, batendo no cachorro, erri vez de o fazer
em Charles, quando teve raiva dele.
BOOKS
O comportamento de Charles é interessante. De acordo com sua his
tória, o pai morrera subitamente há dois anos e seu lar desmoronara. A
mãe tivera que ir trabalhar e Charles foi colocado na casa adotiva .Ao fim
do oitavo contato. Mamãe R . disse à terapeuta que “ ele sofrera uma infeliz
experiência com um homem degenerado”, exatamsnts no dia anterior ao
que ele passara a integrar o grupo de ludoterapia. Isto pode ser a causa de
alguns dos seus medos expressos de modo vago.
A interação dos membros do grupo é evidente neste sexto contato.
Os meninos fazem as próprias escolhas de brincar juntos ou ir em busca
de outros meios de expressão individual.
GROUPS
Bobby escolheu este dia para dar a mamadeira à terapeuta e dizer:
“ Tira isto daqui! Eu não quero mais ser um bebê!” Mais tarde ele conta que
vomitou tudo que comeu e até adoeceu e mesmo assim ela não quis levá-lo.
Levando em consideração o fato de que tanto ele quanto Timmy tinham fre
qüentes ataques de vômito, a terapeuta ponderou se este fato não podia ser
a explicação para tal comportamento.
A maneira como a terapeuta manejou os limites é digna de nota. Ela
tentou incluir o reconhecimento dos sentimentos mas, a firme manutenção
dos limites também estava present3. Os limitss específicos não foram in
troduzidos até haver necessidade deles.
233
SÉTIMO CONTATO
INDEX
Quando eles chegaram à sala de brinquedos todos se lançaram às ma
madeiras. Mas Charles foi o único que psrmaneceu com uma. Os outros
meninos quase que imediatamente se descartaram delas. A casinha de bo.
necas tinha sido tirada da caixa de areia, antes que os meninos chegassem.
Ela estava na sala, disponível, para o caso deles quererem brincar com ela.
Timmy, Bobby e Charles entraram na caixa de areia e começaram a brin
car com os animais e pessoas da fazenda, mais propriamente separando os
brinquedos para cada um, do que brincando com eles. Bobby entregou a
boneca-mãe a Timmy.
Bobby; Toma, Timmy. Tira a roupa dela. (Timmy o fa z.)
BOOKS
Timmy (para a terapeuta): Olha uma mulher nua.
Terapeuta: A mulher está nua.
Buddy (no chão, tirando a roupa da boneca-bebê): Olha! As roupas
do bebê estão sendo tiradas!
Terapeuta: Você quer despir o betê.
Timmy (batendo na mãe com os punhos): Essa é a mãe. Vou bater
firmo nela.
GROUPS
Terapeuta: Você quer espancar a mãe firme e duramente.
Timmy: Eu vou esmagar ela.
Terapeuta: Você gostaria de esmagar a mãe.
Bobby: Eu também. Mata ela, Timmy.
Terspauta: Tanto Bobby quanto Timmy querem machucar a mãe.
Bobby: B em ... ela machuca a gente.
Terapeuta: Você gostaria de fazer o mesmo. (Timniy pega um dos
grandes bí-ocos de madeira e com cie martela vigorosament» a boneca-mãe.)
Você está fazendo o mesmo.
234
Timmy: (rindo para a terapeuta): É lógico que eu estou.
Bobby: Deixa eu! Deixa eu! (Martela também.)
Terapeuta: Você está fazendo o mesmo também.
Charles: Deixa eu fazer uma vez também. (Faz isto todo contente.
Bate na boneca com malícia.)
Terapeuta: Você está fazendo o mesmo também.
Timmy: Vamos fazer uma batalha.
Bobby: Não! Não vamos não!
Timmy: Vamos sim. Vamos. Por Charles.
Bobby: Não.
Terapeuta: Timmy quer fazer uma batalha e Bobby não quer fazer uma
batalha.
INDEX
Timmy: Nós somos americanos.
Bobby: Sim. Nós somos.
Timmy: Nós somos?
Buddy (tendo despido a boneca, tateando): Ainda tem um negócio
pra tirar?
Terapeuta: Sim.
Buddy (acidentalmente, arranca o pé da boneca): Quê que é isso?
(Pergunta logo que percebe o pedaço quebrado.)
BOOKS
Terapeuta: É só o pé quebrado.
Buddy: Eu quebrei? (R i.) Eu não sabia. Eu não queria quebrar.
Terapeuta: Foi um acidente.
Buddy: Dá pra consertar ele?
Terapeuta: Sim. Ele pode ser recolocado.
Buddy: Tá. Eu vou consertar ele.
Timmy (com a boneca-mãe na caixa de areia): Olha! Olha! Eu não
tenho roupa nenhuma para usar. Senhor Papai. Onde estão minhas rou
GROUPS
pas? (Trocando a voz.) Você perdeu elas. (Com voz feminina novamente,)
Eu perdi elas? (Voz do pai.) Você perdeu elas todas.
Charles: Você comeu elas.
Timmy (tirando com um puxão o braço da boneca-mãe): Olha! Pelo
amor de Deus! (Para a terapeuta.) A gente pode xingar e dizer palavrão
aqui? (Sem esperar resposta.) Desgraça de Deus! O quê que aconteceu com
você? Você está sem braço. Você não tem coração; Você é uma... Toda
vez que a gente vem aqui acontece alguma coisa com você.
Terapeuta: Sempre acontece alguma coisa com a mãe na sala de brin
quedos. . ,
Timmy; Sim. Isto é bom para éla. Ela é uma cabeça de porco, egoís
ta.
Terapeuta: A mãe é uma cabeça de porco e egoísta. O que acontece
aqui com ela é exatamente o que ela está precisando.
Timmy: Sim. Vamos fazer uma batalha.
Bobby: Eu não quero batalha.
Timmy: Sim. Vai ter uma batalha e vai >ter neve.
Bobby: Não! Não vai ter neve nenhuma.
Thnmy: Sim! Sim! Sim! Vai ter neve e o quê que tem?
Bobby: Então tá. Um pouquinho de neve. (Timmy enche as mãos de
areia e joga-a em Bobby, o qual pagaJhe com a mesma moeda. Finalmente,
um pouco de areia cai nos olhos de Bobby. Este protesta.): Eu não vou
brincar mais com você.
INDEX
Timmy: Você não vai brincar na areia. Tá certo. (Ele atira mais
areia em Bobby.)
Bobby: Deus que te leve para o inferno! Você quer mandar em tudo!
Por isto é que eu não vou brincar.
Terapeuta: Bobby não gosta de brincar com Timmy quando ele fica
muito mandão. (Bobby sai da caixa de areia.)
Timmy: Vê lá se eu me importo! (Grita.) Vê lá se eu me importo!
Terapeuta: Timmy quer que Bobby pense que ele não se importa.
BOOKS
Buddy: Eu quero tirar a roupa do nenenzinho.
Terapeuta: Você quer tirar as roupas do neném.
Charles: Ele tira as roupas de todos os bebês que lhe caem nas mãos.
(Timmy e Charles empreendem uma batalha com os soldadinhos.
Charles joga areia em Timmy e ataca o canhão deste e dois soldados. Tim
my ataca todos os soldados de Charles.)
Charles: Eu não fiz deste jeito com você.
Timmy: Quando alguém me faz alguma coisa eu faço umas dez vezes
pior com ele.
GROUPS
Charles: Isto é uma brincadeira direita. (Para a terapeuta.) Não é?
Terapeuta: Charles não acha direito Timmy fazer dez vezes pior o que
lhe fazem, mas Timmy acha que está certo.
Timmy: Você pode ficar certo que o negócio comigo é assim. Ele não
tem é coragem bastante para defender sua terra!
Charles: Coragem, é? ,
Timmy (gritando): isto. Foi isto mesmo que eu disse. Se você ti
vesse coragem não me deixaria abusar de você.
Charles: O que você quer é comprar confusão, né?
Timmy: Não foi isto que eu disse. Eu disse que você não tem cora
gem bastante.
Charles: É a mesma coisa. Eu vou mostrar minha coragem para vo
cê!
Timmy: Tá! Então mostra!
Buddy: Ele não tem coragem bastante! Não tem coragem bastante!
Coragem! Coragem! (Termina com uma gargalhada.)
Bobby (gritando também a plenos pulmões): Coragem! Coragem!
(Buddy pega dois grandes blocos, atira-os juntos e ri. De repente
todos os garotos começam a rir. A tempestade abrandou se.)
Bobby (pegando as tintas de pintar com os dedos): Eu gosto de fazer
é isto. Espalhar, lambuzar, lambuzar. Eu gosto disso. Dessa vez eu não
INDEX
vou contar para vocês o que eu vou fazer, Vocês vão ter que adivinhar.
(Para Buddy.) Pode ficar com a minha mamadeira. Eu não quero ela mais
não. (Limpa-se, depois da pintura de dedo. Vai para a caixa de areia e fin
ge que vai sujá-la. Timmy grita com ele e recebe um grito em resposta.
Bobby começa a colorir um avião que termina com rabiscos. Volta a outro
papel e desenha outro avião, desta vez, asseadamente.) Isto é um avião.
Charles: Menino! Ele está bacana!
Terapeuta: Charles gosta do seu desenho.
BOOKS
Charles: Sim.
Timmy: Charles desenhou uma igreja bacana na aula de desenho hoje.
Terapeuta: Você acha que Charles fez um desenho bonito, também.
Buddy (fazendo uma montagem com os blocos): Olha isto!
Timmy: Sim
Bobby: Tá bacana, Buddy.
Terapeuta: Bobby gosta do que Buddy está fazendo.
GROUPS
Buddy (parece encantado; r i.): O que você está fazendo, Timmy?
Timmy: Eu tô brincando na areia.
Buddy: Você está fazendo alguma coisa bacana?
Timmy: Claro que estou!
Terapeuta: Vocês conseguem fazer algumas coisas de que os outros
gostam.
Charles e Timmy: Sim. (Eles parecem surpresos. Há calma por algum
tempo. Charles e Timmy começam a jogar areia novamente. A terapeuta
sugere a eles que tenham cuidado com a frágil mobília de brinquedo.)
237
Timmy: Tá. (Tira a mobília e então volta-se para a terapeuta.) Só
nas guerras de verdade é que as mobílias, as casas e as pessoas são bom
bardeadas e não dá tempo de você salvar elas das bombas.
Terapeuta: Na guerra real, mobílias, casas e pessoas são bombardea
das. Mas aqui nós não podemos refazer as coisas quebradas pela guerra,
portanto eu peço a vocês para não quebrá-las.
Timmy: É difícil comprar uma mobília nova também.
Terapeuta: Sim, é. Você ficou ressentido com meu pedido de não
quebrar a mobília.
Timmy: Lógico. Eu gosto de quebrar as coisas.
Terapeuta: Você gosta de quebrar as coisas e não quer que eu im
peça você.
Timmy: Você disse que nós só podemos vir aqui mais uma vez. En
tão, por que não quebrar tudo?
INDEX
Terapeuta: Vocês acham que, se não podem vir mais, vocês devem
quebrar tudo.
Timmy: Assim ninguém mais pode vir.
Terapeuta: Você acha que se vocês quebrassem tudo ninguém mais
poderia vir. Você não quer que ninguém mais venha, já que vocês não
podem.
Timmy: Se nós não podemos, porque alguém mais poderia?
Terapeuta: Não parece certo que outros possam, se vocês não podem.
BOOKS
Buddy (pega o martelo de madeira, bate com ele no banco e aciden
talmente quebra uma mamadeira): Que foi isto?
Terapeuta: Você quebrou uma mamadeira.
Buddy (rindo). Eu não queria fazer isto.
Timmy: Vê o que eu digo? Sempre, sempre ele não quis fazer! Ele me
põe doente. (Parece muito agitado.)
Terapeuta: Isto põe você doente — os acidentes que Buddy provoca
porque ele não pode enxergar.
Timmy: Sim! Sim!
238
Terapeuta: Você gostaria de livrar-se de todo mundo aqui. Todos nós
tolhemos você algumas vezes. (Esta última observação não deveria ter sido
incluída. É pura interpretação, sem qualquer razão de ser.)
Timmy (pegando o outro revólver): Tá certo Bobby. Bang! Isto aca-;
ba com você.
Bobby (vindo para a frente do palco de fantoches): Tá certo. Você
quer livrar-se de mim, não quer? (Grita de r^pents e dá início a um pan
demônio. Todos os meninos destroem tanta quanto, legitimamente, eles po
dem — jogam areia por toda a sala — atiram os objetos pequenos que lhes
caem nas mãos.)
Timmy (enchendo a mão de areia e olhando para a terapeuta com os
olhos brilhando): Isto vai direto no seu cabelo.
Terapeuta: Você gostaria de jogar isto em mim porque... (A terapeu
ta pára deliberadamente para ver se ele termina a frase. Ele o fa z.)
INDEX
Timmy: Porque você não quer que a gente volte.
Terapeuta: Porque eu não posso permitir que vocês voltem, você gos
taria de jogar isto em mim.
Timmy (r i e deixa a areia escoar entre seus dedos. Ajoelha-se na cai
xa de areia, ao lado da terapeuta e diz numa voz gentil.): Como é que você
sempre sabe porque que eu faço as coisas?
Terapeuta: Você acha que eu entendo você muito bem.
Timmy: Você realmente entende. Você deve ser mágica.
BOOKS
Bobby (gritando): Eu quero matar alguém. O ladrão vem me matar.
(Ele pula na mesa, abre a janelinha que dá para outro quarto. Todos os ou
tros garotos pulam e olham.) É só um quarto vazio.
Buddy (gritando): Eu não tenho medo de ninguém aqui. Olhem, eu
vou mostrar a vocês como um chefe ataca. (Ele joga um grande bloco con
tra a parede.)
Charles: Quantos minutos ainda tem?
Terapeuta: Cinco minutos.
GROUPS
(Eles gritam e berram. Buddy martela o bloco contra a parede. Logo
depois, ele atira o bloco na caixa de areia. Charles começa a desenhar. Tim
my pinta com os dedos. Bobby pega os fantoches e maneja-os quietamente.
Charles pega papel de desenho e começa a gritar como um jornaleiro.)
Charles: Nazistas! Nazistas! Leiam tudo sobre o massacre dos nazis
tas. Extra! Extra!
Timmy: Extra! Extra! Arrancaram os miolos de Hitler.
(Buddy grita como Tarzan e os outros o seguem.)
Terapeuta: Gritar desse modo, ajuda, às vezes.
239
Buddy: Hum?
Timmy: Não escutei você.
Terapeuta (repetindo num tom mais alto): Algumas vezes vocês gos
tam de gritar.
Buddy (para a terapeuta): Algumas vezes você gosta de gritar tam
bém, né? (Todos riem, incluindo a terapeuta.)
(Timmy vai sobre Bobby e suja-o de tinta preta Este sai com raiva.)
Bobby: Você é vim cachorro sujo. Pôs tinta preta em mim, não pôs?
(Mergulha seus dedos na tinta azul e a põe na ponta do nariz de Tim m y.)
Terapeuta: Você se vingou de Timmy, então.
Timmy: É, mas eu não importo. (Os sinos tocam e quando o grupo
sai, Timmy pinta suas mãos e braços com tinta marrom. Para a terapeuta)
Tome essa pequena casa preta, por favor. E obrigado, por esse tempo ma
ravilhoso. (Charles e Bobby também agradecem à terapeuta.)
INDEX
Terapeuta: Vocês realmente tiveram um bom dia hoje.
Buddy: Hoje e todos os dias!
(A terapeuta leva-os para casa.)
COMENTÁRIOS
BOOKS
aos outros.
Foi muito revelador ouvir Timmy falar sobre as razões de sua doen
ça. Durante sua visita à casa, feita na semana anterior, a mãe e o pai de Tim
my discutiram sobre o divórcio em sua presença. Houve aparentemente uma
cena emocional entre os pais, a qual Timmy relatou a Bobby quando retor
nou. Ambos os garotos estavam muito confusos com a sua insegura posi
ção. A reação deles durante a sessão de ludoterapia, porque esta seria a pe
núltima vez que eles iriam lá, é típica. Estavam relutando em terminar es
tes períodos de brinquedo, que lhes eram agradáveis.
GROUPS
A admiração de Timmy por ter entendido o que sentia nas sessões te
rapêuticas, mostra o esforço que ele fez para conseguir esse entendimento.
OITAVO CONTATO
Considerando que este era o último contato, fato já sabido pelos me
ninos, eles utilizaram-no extravasando-se muito rapidamente. Quandos eles
entraram na sala de brinquedos, pegaram as mamadeiras, mas não as usa
24Q
ram para beber. Charles e Timmy entraram na caixa de areia. Buddy disse
que queria pintar com os dedos uma vez mais. Pediu a tinta azul e fez uma
bonita figura, pintando com movimentos livres e rítmicos. Bobby esvaziou
todas as mamadeiras dentro da areia e pôs as garrafas na prateleira.
Bobby: Eu vou fazer um submarino boiar.
Charles: Olha! Está nevando. (Deixa a areia escoar entre os dedos.)
Timmy: Por que que as nossas fazendas não podem ficar aqui? Char
les, deixa essa aqui ser sua fazenda. Esse lado é meu.
Buddy: Eu gosto dessa espécie de pintura. Rodar. Rodar. Subir e des
cer. Aterrisar. Descendo, descendo. (Cantarola.)
Terapeuta: É interessante pintar com os dedos.
Buddy: É alguma coisa que eu posso fazer.
Terapeuta: É bom trabalhar com alguma coisa que você possa real
mente manejar.
INDEX
Buddy: Sim. Esse tom de azul é bonito?
Terapeuta: Sim, é um bonito tom de azul.
(Os outros garotos estão todos na caixa de areia, brincando juntos
muito agradavelmente, falando uns com os outros. “ Esse é o meu melhor
cavalo.” “Essa vaca aqui me dá muito leite.” “ Quando a sua fazenda estiver
pronta, eu vou visitar você.” )
Buddy: Quando eu terminar aqui, vou dançar e gritar. Hoje, eu vou
fazer todas as coisas de que eu gosto mais.
Bobby: Dizer adeus à sala de brinquedos — essa agradável sala de
BOOKS
brinquedos — essa maravilhosa sala de brinquedos. Dizer adeus, dizer
adeus.
Terapeuta: Você está realmente triste porque esta é a última vez.
Bobby: Muito triste.
Timmy: Adeus, sala de brinquedos, adeus areia, adeus tintas. (Para a
terapeuta) Adeus, minha amiga.
Terapeuta: Você quer dizer adeus a tudo aqui.
Charles: A neve está caindo — a fria neve. Olha Timmy, pega estes sol
GROUPS
dadinhos. Vamos dividi-los.
Timmy (rindo): Meio a meio ou de dez em dez?
Charles: Como que você quer?
Timmy: De dez em dez. Mas, aqui, toma esses seis e eu ,fico com seis.
Eu receio que vá começar uma outra guerra.
Charles: É, parece. Olha, você combate do lado de lá.
Timmy: Vou arrumar os meus.
Bobby (avançando sobre o exército de Tinuny, atirando areia nos sol
241
dadinhos e gritando): Ataque surpresa! Ataque surpresa!
Timmy: Sai agora. Por que você não pode me deixar sozinho?
Bobby: Por que que eu não posso deixar você sozinho? Porque eu sou
Saul — o mais poderoso gigante de todo o mundo. (Um outro ataque sur
presa — desta vez cai areia nos olhos de Tim m y.)
Timmy (gritando para Bobby): Quando eu fico com raiva você sabe o
que acontece.
Bobby (imitando Buddy): Eu não tenho medo de ninguém nesta sala.
Timmy (rindo): É melhor não esquecer que eu também não tenho me
do de ninguém nesta sala.
Buddy: Eu não tenho medo de ninguém nesta sala. (Ele terminara a
sua pintura. Pega agora o martelo e bate na bigorna até que ela quebre.)
INDEX
Charles: Eu vou fazer minha própria guerra. (E fa z.)
(Buddy pega a boneca bebê, enche a xícara com água da bacia e dá à
boneca. Timmy chega e toma a boneca de Buddy.)
Timmy: Olha, Buddy, você dá comida p’ro bebê. Isto entra na boca
dele Apalpe. (Ele pega a mão de Buddy e coloca seu dedo na boca da bone
ca.) Apalpe. (Buddy o faz.) Agora apalpe as calças dela. (Buddy o faz e
cai na gargalhada.)
Timmy: Ela faz xixi nas calças.
Buddy: Ela bebe e faz xixi nas calças!
BOOKS
Timmy: Eu sei onde isso sai. Sai aqui do traseiro dela.
Buddy: Eu queria poder levar isso para casa, mas não posso. Agora
vou pintar.
(Timmy despeja a água na boneca. A água escorre. De repente, ele a
atira na sala e chuta-a para debaixo da caixa de areia.)
Timmy: Eu vou matá-la. Bebês! Bebês! Bebês! Eu odeio as coisas mo
lhadas e barulhentas. Esse aqui eu vou matar.
Terapeuta: Os bebês aborrecem você. Você pode livrar-se desse aqui.
GROUPS
Timmy: Sim. Viu? Eu chutei ele.
Buddy: Eu não tenho medo de pintar nada aqui nesta sala.
Terapeuta: Você quer que nós todos fiquemos certos que você não tem
medo.
Buddy: Não é por ter medo que eu não faço isso. (A terapeuta deveria
ter refletido essa observação de Buddy.)
Charles: Essa é a mãe, não é? (Ele está com a boneca-mãe. Tira suas
roupas e arranca os braços.)
Terapeuta: Aquela é a mãe.
242
• Charles: Agora olha isso. (E le começa a despejar areia na mãe e en
quanto faz isso, tagarela incoerentemente.)
(Bobby enterra os soldadinhos na áreia. Timmy está pintando . Buddy
molha o pincel numa cor errada. Timmy diz a ele o que ele fez,.tomaTlhe o
pincel, lava-o e o coloca no jarro correto.)
Charles (falando com voz de bebê): Alguma coisa está acontecendo
com a mãe outra vez. Tá vendo?
Terapeuta: Ela está sendo enterrada na areia.
Charles: Sim. Quando eu puder eu vou pegar ela.
Terapeuta: Você vai prender a mãe.
(Bobby despeja areia na cabeça de Charles.)
Charles: Bobby, pára com isso.
Bobby: Diga “por favor".
INDEX
Charles: Por favor!
Bobby: Tá certo! (Ele pega os pratos de brinquedo, arruma-os num
círculo ao redor dele na areia, diz que é um piquenique, e fala para si pró
prio das boas comidas, dos bonitos pratos e do agradável piquenique. Char
les continua a derramar areia na m ãe.)
Charles (imitando a voz da m ãe):‘ Socorro! Socorro! Está entrando
areia dentro de mim.
Bobby: Está coberta por 115 noites. Socorro! Assassinato!.
BOOKS
Charles: Socorro! Socorro!
Buddy: Socorro! Socorro!
Bobby: O grande lobo mau vai pegar a gente.
(Silêncio. Charles enterra a mãe. Bobby e Timmy ajudam-no. Eles
usam uma pequena pá e muito quieta e seriamente enterram a mãe. Bobby
enche uma pequena cesta com areia, segura e despeja a areia em camadas
finas no túmulo da m ãe.)
Bobby (murmurando): Neve, neve, cai e enterra a mãe.
GROUPS
Charles: Ela cobre o túmulo da mãe como um cobertor. Ela cái no tú
mulo do meu pai no inverno (Para a terapeuta.) Meu pai está morto, sabe.
Terapeuta: Sim. Seu pai está morto, e a nevè cai sobre seu túmúlo no
inverno — como um cobertor.
Charles: Ele está em Minnesota, sabe.
Terapeuta: Ele está em Minnesota, longe daqui.
Charles: Ele está morto e eu sinto falta dele. (Suspiros.)
Terapeuta: Você sente muita falta de seu pai. ■,
(Timmy e Bobby estão assustados na areia, olhando fixamente para
243
Charles. Então, mais uma vez, os três começam a jogar finas camadas de
areia na boneca-mãe.)
Timmy: Tem muita neve no túmulo de seu pai.
Charles (impetuosamente): Este é o túmulo de minha mãe.
Bobby: Oh! Esta é a mãe? (Joga areia no túmulo.)
Buddy (do cavalete): Eu aposto que vocês não sabem o que é isto.
Terapeuta: Quer contar para nós?
Buddy: Eu não sei o que é isto, mas eu gostaria que fosse um barco.
Terapeuta: Então é a figura de um barco.
Buddy: Você pode ficar com ele para você.
Terapeuta: Você vai dá-lo para mim.
Buddy: Sim. (Ele levara todas as outras pintaras para casa.)
INDEX
(Timmy sai da caixa de areia e começa a pintar. Acidentalmente en
torna a tinta branca.)
Timmy: Olha! Olha! Oh, eu derramei a tinta branca! Onde está o pa
no? Eu vou limpar tudo.
Buddy: Bate nele! Bate nele!
Terapeuta: Você gostaria de bater nele porque ele derramou a tinta.
Buddy: Sim. Bate nele.
Timmy (depois de limpar): Olha. Melhorou um pouco.
BOOKS
(Buddy vai até Timmy, ajuda-o a limpar, mas adianta pouco.
Timmy: Deixa eu colorir mais.
Charles: Colore.
Bobby: Mais tinta de dedo. Mais. Isto é engraçado.
Timmy: Não é bacana fazer isto? Sujar, lambuzar e gritar?
Terapeuta: Você gosta de fazer isto — sujar, lambuzar e gritar.
Timmy: Todo mundo gosta, não é? As crianças gostam, não é?
tar. GROUPS
Terapeuta: Você acha que todo mundo gosta de lambuzar, sujar e gri
244
quase terminando. A terapeuta anuncia que faltam só cinco minutos mais.
Charles e Timmy começam a limpar a sala. Timmy pára de repente.)
Timmy: Eu vou esperar por você na sala de espera. Eu não quero
limpar. Aqui a gente não tem que fazer o que a gente não quer, e não que-
l o limpar.
Terapeuta: Você prefere esperar lá fora que ajudar. Vai, então. (Tim-
my sai.)
Bobby: Eu não quero ajudar também.
Terapeuta: Você não tem que ajudar se você não quiser.
Charles (continuando a ajudar): Eu vou arrumar essas coisas direito.
<Ele tira as coisas da caixa de areia. Buddy continua a “ajudar” . ) Toma cui
dado, Buddy. Deixa eu segurar essas coisas para você. Nós não queremos
tirar esse túmulo daí.
INDEX
Terapeuta: Charles quer que o túmulo fique lá. (Bobby vai até o lava
tório. Finalmente a terapeuta diz que o tempo terminou. Buddy dá um ter
rível grito antes de deixar a sala e então ri hilariantemente.)
Terapeuta: O último grito, não é?
Buddy: Sim. Aqui.
Charles (dando uma volta na porta, olhando a caixa de areia e murmu
rando): Bem, nós finalmente enterramos a mãe, né?
BOOKS
Terapeuta: Sim, Vocês ficaram livres da mãe.
A terapeuta levou-os para casa. Ela parou lá para uma conversa com
a mãe adotiva, a qual disse que Timmy e Bobby tinham progredido muito
desde que tinham ido para a sala de brinquedos, até a visita de Timmy à
sua casa durante á qual òs pais tinham discutido o divórcio em sua presen
ça. Ela disse que desde então ele gritava e berrava tanto que ela “ quase per
dia a cabeça.” “Buddy também é um selvagem comigo”, disse ela. Ele gri
tava e berrava tanto e estava sempre derrubando coisas, que ela não conse
guia manter se perto dele. Charles “era o melhor, uma criança doce, mas
GROUPS
muito triste” . Disse que sua mãe nunca se importara com ele,embora mo
rassem na mesma cidade. De fato, ela disse que nenhum destes pais tinha
alguma preocupação com as crianças. Elas eram todas crianças desampara
das.
Duas semanas mais tarde, a terapeuta passou para ver as crianças e
a mãe adotiva. A mãe adotiva contou então que houvera um grande progres
so no comportamento das crianças, mesmo no de Buddy. Disse que os me
ninos brincavam juntos sem muitas brigas — faziam lutas entre os soldadi
nhos, mas não brigavam entre si. Disse que tanto Bobby como Timmy não
haviam tido ataque de vômito nessas duas semanas. Charles parecia mais
maduro, não chorava mais, e parecia muito feliz com os outros meninos.
245
Durante o oitavo contato,, o leitor deve ter notado como as crianças
aceitaram o fato de ser aquela a última vez que elas viriam à sala de brin
quedos. Há evidentes demonstrações de “insights” pelos meninos através,
da experiência terapêutica. Por exemplo, as “dez vezes” de Timmy tornar
ram-se “meio-a mèio” . O senso de humor permanece nas crianças e elas imi
tam os comportamentos característicos umas das outras quando suas ten
sões"começam a crescer.
O fato de Charles ter discutido sobre a morte de seu pai, quando en
cenava o enterro de sua mãe, dá o que pensar. Bobby e Charles conseguiram,
um ajustamento mútuo, o que é demonstrado quando Charles dia a Bobby:
“Pára com isso”, e Bobby respeita seu desejo. A reação de Timmy com os
bebês pode ser entendida se observarmos que os seis bebês que moram em.
sua casa adotiva prendem muito a atenção de Mamãe R . .. Timmy observa
que todas as crianças gostam de sujar, lambuzar e gritar. A última encena
ção dos garotos na sala de brinquedos demonstra a liberdade que encon
INDEX
tram nesta experiência para fazer tudo aquilo que lhes agrada. Dois deles
não quiseram limpar a sala. Buddy dá um grito final.
Í BOOKS
COMENTÁRIOS
' Um estudo deste grupo levanta a questão sobre a duração dos contg.
tos. Quando deveriam eles ser terminados? Deveria ser um período de tem
po arbitrário, determinado no princípio? Deveriam estes meninos ter sido
submetidos a um maior número de contatos, ou só aqueles lhes bastaram?
A opinião da autora é de que o limite do tempo deveria ser artitrariamente
estabelecido no início dos contatos, com a possibilidade de extensão dos
mesmos, se isso fosse necessário, para as crianças. Desta forma, as crian
GROUPS
ças e a terapeuta teriam o tempo mínimo necessário para executar um pla-
po possível de trabalho.
Neste grupo, Saul saiu depois do terceiro contato. Certamente, ele es
tava necessitando de mais sessões de ludoterapia e, se tivesse permanecido
durante as oito semanas, os resultados teriam sido mais satisfatórios. Quan
to aos outros meninos, se a situação tivesse permitido, deveriam ter ganho
uma extensão de mais cinco semanas. No final desse tempo, uma avaliação
do comportamento das crianças determinaria se seria necessário estender oi
tempo por mais cinco semanas.
248
Ter um tempo limite definido, estabelecido no começo dos contatos,
oferece a vantagem posterior de preparar a criança para a não-continuidade
dos encontros. Parece imprudente para a terapauta terminar estes encon-
tos sem uma preparação adequada.
INDEX
a pressão dos pais venha a afetar a criança e a terapeuta.
BOOKS
lidava com o grupo de meninos da casa adotiva, desejou sempre saber em
que auxiliaria se os contatos de grupo fossem suplementados por contatos
individuais. Nos casos em que tal procedimento foi tentado, como será re
latado no capítulo seguinte, os resultados foram compensadores. Usualmen
te, os contatos individuais, a pedido da criança, terminam antes da experiên
cia em grupo. Este pedido indica por si mesmo o progresso da criança, que
voluntariamente deixa a experiência individual e procura satisfação na ex
periência de grupo. Tudo isto, entretanto, está baseado num limitado núme
ro de casos. É necessária uma pesquisa mais intensa para verificar a teoria.
GROUPS
Um outro problema, que se originou da experiência em grupo por nós
relatada, é a seleção dos membros do grupo. Qual seria o critério satisfa
tório para esta seleção? É prudente ter ambos os sexos no grupo, ou é mais
satisfatória a separação dos meninos e meninas? É aconselhável incluir ir
mãos e irmãs no mesmo grupo? A distribuição pela idade deveria ser cuida
dosamente controlada? Experiências de grupo indicam que não há regras
rígidas para governar este ponto. Grupos bem sucedidos têm incluído am
bos os sexos, irmãos e grande variação de idades. A terapeuta, que constan
temente avalia o comportamento dos grupos, é capaz de reconhecer qual
247
quer íator que seja prejudicial a um grupo particular e íazer o ajustamento
necessário, ou formando outro grupo, tomando cuidado com o fator preju
dicial, ou transferindo o indivíduo não-adaptado para um grupo mais apro
priado. A inclusão de irmãos é necessária algumas vezes para ajudar a cri
ança, face a um problema de ajustamento uma com a outra. Entretanto, se
uma criança é a “protegida” da família, e a outra a rejeitada, seria inadequa
do tê-las num mesmo grupo, porque favoreceria a oportunidade de mexeri
cos com a outra, fora da sala de terapia. Em conclusão, a inteligência e o
bom senso da terapeuta são fatores importantes na organização inicial do
grupo.
INDEX
amigável nas mesmas. O fato de lhes ter permitido beber leite nas mama
deiras, em casa, indica o seu desejo de ajudar os meninos. É também inte
ressante notar que, depois que ela aceitou o desejo deles de se comportarem
como bebês, eles logo perderam o interesse de continuar a brincadeira de
bebê na sala de terapia. Um exame detalhado revelou que, depois de poucos
dias de brincadeira de bebê em casa, os meninos a abandonaram, como não
sendo mais necessária. Mamãe R. deu a eles liberdade para se expressarem
por si mesmos; aceitou-os como eles eram. E, embora o barulho que faziam
"mexesse com seus nervos” , seu simpático entendimento de que eles eram
BOOKS
"crianças rejeitadas”, ajudou-a a estender a eles o calor e amizade, que eram
a expressão natural desta mulher. Isto leva a conclusão de que os princípios
básicos, um pouco modificados, são aplicados a qualquer situação que esteja
centralizada no relacionamento adulto-criança.
GROUPS
248
22. COMBINAÇÃO DA TERAPIA
INDIVIDUAL E DE GRUPO
INDEX
Resultados de um bem limitado número de pesquisas indicam quê as
possibilidades de um programa terapêutico combinado, que inclua simulta
neamente sessões individuais e em grupo são bastante importantes para fu
turas investigações. Durante o curso de tal programa, a criança tem a van- ^
tagem de poder se utilizar da sessão terapêutica para explorar seus senti
mentos enquanto está sozinha, de não sofrer o interrelacionamento dinâmico
dos outros membros do grupo. Tem, também, a oportunidade de experimen
tar o mesmo tratamento no relacionamento com as outras crianças.
BOOKS
A experiência de grupo revela problemas de ajustamento, o que não é
possível de ocorrer numa experiência individual, já que esta foca
liza o tratamento mais nitidamente sobre o indivíduo e elimina o pos
sível estímulo para as atividades que a criança recebe na situação em grupo.
GROUPS
rapeuta mais rapidamente do que seria possível com um tratamento em que
fosse incluído apenas um tipo de terapia.
249
criança nas sessões individuais, mas quando ela solicitou isto espontanea
mente à terapeuta, esta atendeiua.
O CASO DE EMA
INDEX
retas para elas, irritava.se quando repreendida, atormentava as outras crian
ças e vivia acusando-as pelas costas. Não era uma criança atraente. Seu ca
belo liso, cinzento, caía-lhe no olho. Tinha olhos verdes e hostis. Tinha o na
riz sempre franzido e a boca num trejeito amargo e irônico. Estava sempre
na defensiva e resistia às tentativas de amizade que lhe fossem dirigidas.
BOOKS
quatorze anos. Aquelas que estavam em idade escolar, iam de ônibus à es
cola, que ficava a seis milhas de distância.
GROUPS
tenderia também a quatro meninos nas mesmas condições. Uma vez por se
mana, a terapeuta reunia um grupo de meninos de seis anos de idade para
contar estórias. Esta "hora de estórias” era também aberta às crianças que
estavam se submetendo à terapia de grupo, caso elas se interessassem em
vir e elas compareceram a todas as reuniões.
A "sala de terapia” era numa parte do jardim de infância que não es.
tava sendo usada naquela época, onde havia água corrente e um banheiro
anexo.
250
talhadas das experiências de cada criança. O presente relatório é centrali
zado em tomo das experiências de Ema durante as sessões de ludoterapia,
que ocorreram no período de férias de verão.
INDEX
lhe que ela poderia vir durante quarenta e cincD minutos toda terça-feira
para brincar, se ela desejasse. Foi-lhe explicado também que ela poderia
utilizar os brinquedos da maneira que quisesse. As limitações foram men
cionadas nesse 1? contato: ela deveria permanecer dentro da área que havia
sido delimitada por cadeiras; não poderia danificar as paredes ou a mobí
lia e nem levar os brinquedos para fora da sala. Por outro lado, ela poderia
fazer ou dizer qualquer coisa que quisesse, enquanto estivesse dentro da sa
la com a terapeuta, e esta não contaria a ninguém o que ela fizesse ou dis
sesse .
BOOKS
Ema olhou fixamente a terapeuta, sorriu seu sorriso dé pouco caso e
encaminhou se para o papel de desenho, pegou uma folha e os lápis, trou
xe-os para a mesa na qual a terapeuta estava sentada. Sentou-se diante dela
e começou a desenhar. Parecia müito tensa e estava bastante silenciosa. Não
pronunciou nenhuma palavra e nem sequer lançou um olhar à terapeuta an
tes de terminar o desenho. Então olhou-a rapidamente e continuou com
seu olhar distante.
Ema: Esta é minha casa. É aqui que eu moro, na Rua Blank n? 7, com
meu pai, minha mãe e minha irmã. Eu tenho uma irmã mais velha que eu.
251
(Ema continuou recortando vestidos. Parecia completamente absorta
nesta tarefa.)
Terapeuta: Você gosta de brincar com as bonecas de papel.
Ema (fazendo uma careta para a terapsuta): Não. Nem tanto.
Terapeuta: Você prefere brincar com alguma outra coisa?
Ema: Eu prefiro colorir, mas você não tem um livro de figuras para
colorir.
Terapeuta: Você gostaria que eu tivesse um livro para você colorir „
Ema: Sim.
(Ema continuou a recortar vestidos para cada uma das bonecas de
papel, com exceção do pai. Pegou o boneco-pai e olhou-o fixamente. Rapida
mente empilhou os recortes numa pilha bem feita e deixou-os de lado. Vol
tou ao banco onde estavam os brinquedos e olhou os. De repente, voltou se
INDEX
e fitou a terapeuta.)
Ema (explosivamente): Posso beber? (Apontou para a mamadeira.)
Terapeuta: Você pode fazer o que quiser com os brinquedos.
(Ema pegou a mamadeira e bebeu, de costas voltadas à terapeuta. Pe
gou o chocalho e balançou-o. Em seguida brincou silenciosamente com os
soldadinhos nos cavalos. Mantinha as costas voltadas para a terapeuta, o
tempo todo, de modo que esta não pudesse ver o que ela estava fazendo com
os soldadinhos, mas parecia ser uma espécie de batalha silenciosa entre os
dois soldadinhos. Primeiro um e depois o outro, foram derrubados. Murmu
BOOKS
rava algo que a terapeuta não conseguia entender. Parecia muito desconcer
tada em relação a alguma coisa. Franziu a testa, lançou um olhar à terapeu
ta, pegou novamente a mamadeira e bebeu, permanecendo neste jogo: olhava
a terapeuta e bebia.)
Terapeuta: Você gosta de beber na mamadeira.
(Ema imediatamente largou a mamadeira de lado. Pegou o revólver,
tirou o do coldre, murmurou “ Bang” e colocou-o atrás de si. Tirou o trenzi-
nho da caixa, colocou-o junto ao revólver. Empurrou-o cerca de duas polega
das através do banco e subitamente recolocou-o na caixa. Ainda mantendo
do banco.) GROUPS
as costas para a terapeuta, permaneceu ali deslizando a mão pela beirada
COMENTÁRIOS
O desenho feito por Ema durante sua primeira entrevista foi um de
senho convencional, constituído de uma casinha quadrada e marrom com
três janelas e uma porta. Havia cortinas azuis, vermelhas e grenás nas ja
nelas. Uma árvore do lado da casa. Um pedaço de céu azul no topo do de
INDEX
senho, um sol azul sorrindo com raios amarelos que iam até o canto esquer
do da figura. Cinco andorinhas voando no céu. Isto é mencionado em de
talhes porque, com o passar do tempo, os trabalhos artísticos de Ema tòr-
naramse cada vez mais expressivos. O primeiro desenho parecia um tipo
formal de pintura. Também parece significativo o fato de que ela tenha ofe
recido voluntariamente a informação de que morava naquela casa, com seus
pais e sua irmã, embora estivesse no orfanato há quase três anos. Alérii
disso faz parte de sua história o fato de que sua mãe continuamente escreve
para as crianças e conta-lhes que vai tirá las do orfanato, A mãe tem telefo
nado diversas vezes e lhes dito para manterem suas coisas arrumadas
BOOKS
que ela passará lá para levá-las embora. As crianças ficam prontas esperan
do-a e ela não aparece.
A assistente social tomou providências para suspender esta prática,
mas não tinha sido bem sucedida até então. Ocasionalmente a mãe
chega para uma breve visita mas ela raramente leva eis crianças para fora
com ela.
As primeiras respostas que a terapeuta obteve foram muito pobres;
Ema já tinha expressado o âmago de seu problema: um lar desfeito. A te-
Tapeuta responde com uma pergunta que tira o centro do interesse da pró
GROUPS
pria Ema e coloca-o na sua irmã. Naturalmente, Ema retraise. Quando ela
brinca com as bonecas de papel e contradiz a terapeuta em sua sugestão de
que ela gosta de brincar com aquilo, a inexperiente terapeuta tenta superar
a dificuldade com a pergunta: “ Com o que mais você prefere brincar?” Ema
Tesponde citando um objeto que não existe na sala. Teria sido melhor, em
cada uma dessas ocasiões, que a terapeuta tivesse ido além com a criança.
A escolha de bonecas de papel- para serem recortadas, como material
de ludoterapia, pode parecer ssm va’or, porém nsste caso mostrou ser de
grande valia como material introdutório. A ordem em que ela recprta as
bonecas é importante. O fato de que recorte roupas para todos, exceto para
o pai pode ser importante também. Pelo menos, assim pareceu, tendo em
vista as sessões seguintes, nas quais ela brincou novamente com a família
do bonecas.
As respostas da terapeuta parecem um pouco pobres, nesta entrevista*
mas era um caso em que a terapeuta ainda não estava certa sobre o que
dizer e pensou assim que o silêncio era o melhor caminho a seguir. Voltan
do à entrevista, parece que a terapeuta poderia ter reconhecido o desejo de
Ema beber na mamadeira quando esta disse “Posso beber?” do que genera
lizar a permissividade da situação. Quando Ema ressentiu-se do comentário
da terapeuta sobre o fato dela gostar de beber na mamadeira, ela poderia
ter notado seu ressentimento. Ainda outra vez, quando Ema, muito discre
tamente, “ atirou” nela, por causa de sua intrusão, a terapeuta também po
deria ter reconhecido seu desejo de atirar nela. Poderia também ter reco
nhecido o desejo de voltar da criança em vez de somente enfatizar a permis
sividade da situação.
INDEX
SEGUNDO CONTATO — PRIMEIRO CONTATO EM GRUPO
BOOKS
fanato. Os quatro meninos eram enuréticos.
Os componentes do grupo eram: Shirley-Ann, com sete anos e quatro
meses; Edna, de sete anos e seis meses; Sharon de sete anos; Tommy, de se
te anos e cinco meses; Jack, com sete anos e sete meses; Philip, com sete
anos e três meses; Dick, de oito anos e cinco meses; e Ema.
(As quatro meninas entraram primeiro na sala. Deram gritos e risa
dinhas chamando a atenção "Olha o que eu vejo!” “Eu quero a mamadeira!”,
“Máscaras!”, “Eu quero ser um fantasma!”, “Eu não quero que ninguém sai
ba quem éque eu sou” . Estas observações foram feitas tão rapidamente que
GROUPS
a terapeuta não pôde identificar quem as tinha feito. Sharon pegou a ma
madeira e o chocalho. Sentou-se na cadeira ao lado da terapeuta, bebeu na
mamadeira e agitou o chocalho.)
Sharon: Eu bebezinho!
(Ema sentoiuse longe da terapeuta e começou a desenhar.)
Shirley-Ann: Eu vou ser um befcê. (Colocara uma máscara de bebê e
pegara uma mamadeira.) Dada-da_da-da-da.
(Ema, que estava bastante inibida durante o primeiro contato indivi
dual, parecia muito mais livre com o grupo. Ela também pegara uma ma-
254
madeira e estava bebendo nela, mas desta vez ela o fazia encarando a tera
peuta.)
; Sharon: D. X . falou que os meninos vinham hoje também.
Edna: Oh! Tomara que não. Eu tenho medo de meninos.
(As quatro meninas sentaram-se na mesinha. Começaram a brincar,
mas não o faziam juntas. Cada qual seguia seu próprio interesse. Ema de.
senhava. Sharon e Shirley-Ann brincavam de bebê, mas não juntas. Elas be
biam nas mamadeiras. Sharon engatinhava pelo chão. Edna pegara as bo
necas de papel e olhava-as. Neste momento os meninos entraram na sala.
Tommy correu direto para as máscaras, selecionou uma de menina e colo-
coua.)
Tommy: Eu quero ser uma menina.
Jack: Eu sou um fantasma negro, estão vendo? Eu sou um negro.
Philip: Eu quero ser uma menina também. As meninas conseguem tu
do.
INDEX
(Ele colocou uma outra máscara feminina. Jack pegou o revólver ain
da usando a máscara negra. Os meninos e meninas ignoravam-se mutua
mente. Eles falavam sobre irem nadar, sobre a piscina e sobre a viagem de
ônibus. A terapeuta estava incluída na conversa deles. Contavam-lhe suas
aventuras.)
Jack: Eu sou um negro. Eu quero atirar em vocês. Quero matar vo
cês todos.
(De repente Jack largou o coldre e o revólver. Dick pegou-os e come
BOOKS
çou a atirar nas outras crianças. Philip e Tommy pegaram a boneca-bebê e
começaram a disputá-la de uma maneira brincalhona. Tommy tomou-a de
Philip e abraçava e beijava a boneca, procedendo exatamente como uma me
nina com uma boneca, embora Tommy não seja um tipo efeminado. De re
pente, Tommy tornou-se muito agressivo.)
Tommy: Eu quero chupar o bico da mamadeira. (Shirley-Ann estava
com uma nas mãos.)
Sharon: Tommy agora é uma menina.
Tommy: Tá tudo certo comigo, Eu agora quero ser uma menina.
GROUPS
Dick: Dá a mamadeira pra mim.
(Philip acidentalmente entornou um pouco de água no chão e de re
pente o grupo inteiro estava com a atenção voltada para aquele incidente.)
Dick: Agora vai ser o diabo, não vai?
Terapeuta: Você está com medo de que aconteça alguma coisa por
causa da água entornada no chão.
Dick: Você tá danada de certa. Eu sei disso.
Terapeuta: Aqui não haverá problema para vocês por causa disso.
255
(Edna pusera o coldre e o revólver e, pegandó-o, começou a atirar em
todos os meninos. Permanecera alheia à terapeuta enquanto fazia isto.)
Terapeuta (pára Edna): Você gostaria que os meninos não estivesem
aqui.
Edna: Eu tenho medo de meninos.
Terapeuta: Você tem medo de meninos.
Edna: Sim. (Ela olhava amedrontada embora os meninos nem sequer
lançassem um olhar em sua direção, não a incomodando de modo algum.
Deixou de lado o revólver e tomou-se tão esquiva quanto podia à terapeuta.)
i Terapeuta (para Edna): Você gosta de se esquivar de mim. Você tem
medo dos meninos.
Edna: Sim. (Murmurando.) Eles são uns brutos. Sempre batem nas
meninas.
INDEX
(Dick sentou se na cadeira de balanço e ficou balançando e chupando
o bico da mamadeira.)
Dick: Mamãe! Mamãe! (Sharon correu para ele.)
Sharon: Que que você quer, queridinho?
Dick (imitando uma criancinha): Nina eu, mamãe. Me faz dormir.
(Sharon delicalamente embala a cadeira.) Eu estou dormindo agora.
Tommy: Eu vou ser um menino chorão. (Pôs a máscara de uma cara
chorona.) Olha, eu sou um menino que está chorando. (Estirou-se no chão
BOOKS
e fiaou choranío como um bele ) Uá uá uá uá üá. Eu quero minha mãeeee.
Dick: Eu sou um metiininho pequenininho. Uaaaaaa!
Sharon: Eu quero escrever uma carta para o meu papai e quero uma
mamadeira. (£1* também passou a imitar o choro de bebê.)
(Ema bebia numa das mamadeiras enquanto desenhava. Dick deu
a sua mamadeira para Tommy.)
Dick: Aqui, betê.
Tommy: Dadada-da.
deiras. GROUPS
Dick (à terapeuta): No começo eu tinha medo de mamar nas mama
258
Tommy: Eu não estava com medo. Eu não tenho medo de nada. Eu
não tenho medo de fazer nada. Eu não tenho medo de dizer nada.
Dick: Põe um “aqui” nisso.
Tommy (rindo): Está certo, então. Aqui.
Terapeuta: Vocês não estão com medo de fazer ou dizer qualquer coi
sa aqui; podem então fazer o que quiserem; às vezes, coisas más, coisas que
não podem fazer por causa das regras, das outras crianças e coisas assim.
Dick: Você não é mais um bebezinho, moça.
Shirley-Ann: Eu tinha medo de fazer tudo que eu queria, na primeira
vez que eu vim aqui.
Sharon: Eu tinha também.
Edna: Eu ainda estou.(As outras crianças riram-se dela.)
Sharon: Por que você está com medo, Edna? Ela (a terapeuta) não vai
INDEX
fazer nada com você por causa de coisa alguma que você fizer aqui.
Edna: Eu ainda estou com medo.
Terapeuta: Você quer sentir.se um pouco mais segura antes de fazer
as coisas que quer fazer.
Edna (para a terapsuta): Você é boazinha. Algum dia, talvez, eu ...
(Ela não terminou a frase. Adiantou-se e muito timidamente tocou na mão
dr. terapeuta.)
Dick: Eu nunca vi ninguém como você, na minha vida inteira. Você
BOOKS
não se importa com coisa nenhuma que a gente faça ou fale. O resto todo
do pessoal vive dizendo “pára com isso, cala a boca” .
Terapeuta: Vocês sentem que nem sempre vocês podem fazer e falar
o que querem.
Dick: Sim, é isso. Tem muita gente rabujenta no mundo.
Edna: Traz para mim oito mamadeiras na próxima vez, tá?
(Ema terminou o seu desenho. Era o desenho de uma mesa marrom
com uma fruteira púrpura em cima. Havia seis frutas na fruteira.)
GROUPS
Ema (levantando-se e avarçando sobre Tommy): Me dá esta mama
deira. (Ela psrssgue-o e este foge rindo e gritando.)
Sharon: Quando a gente voltar sem ninguém mandar, a gente vai fa
zer tudo o que quiser. Vamos brincar com o que quisermos, vamos mamar
nas mamadeiras todo o tempo que a gente quiser.
Terapeuta: Você acha que é bom vocês virem sem ninguém mandar e
fazerem exatamente o que querem fazer.
Sharon: Sim.
Dick: Muitas vezes é isso que acontece. Quando a gente está sozinho a
gente pode fazer coisas que não pode fazer quando tem gente perto. (Come
257
çou a jogar água no chão. Ema agarrou Tommy e ficou rindo.)
Ema: Vou te beijar. É isso que eu vou fazer. Então, que você vai fa
zer?
(Tommy escapuliu dela è recuperou a mamadeira. Ema voltou para a
mesa. Edna, Sharon e Shirley-Ann começaram a brincar com as bonecas de
papel. Sharon terminara a carta do pai. Mostrou a à terapeuta, dobrou-a e
colocou a no bolso. Ela havia escrito apenas: Querido papai. De Sharon.)
Terapeuta (para Sharon): Você gostaria de escrever uma carta para o
seu papai. Eu te ajudarei se você quiser.
Sharon: Eu não consigo pensar nada para dizer. Só querido papai.
(Ema levantou-se da mesa novamente e foi até o banco. Pegou o cho
calho. Logo que passou por Tommy beijou-o e este deu-lhe um tapa. Ela
INDEX
balançava o chocalho e bebia na mamadeira. Voltou à mesa e sentou-se.
Escondeu o rosto com as mãos, ocultando-o das outras crianças, porém
manteve a mamadeira nos lábios. As outras crianças haviam formado gru-
pinhos. Os meninos começaram a brincar com os soldadinhos e as meninas
com as bonecas de papel. Ema mantinha-se à parte, ainda tampando o rosto
com as mãos. As outras meninas, então, convidaram na para brincar com
elas. Ema pegou uma boneca que as outras já tinham recortado e voltou à
mesa trazendo-a consigo.)
Ema (como se falasse à boneca): Eu vou embora e nunca mais voú
BOOKS
voltar.
(Engatinhou por sób a mesa, ficou lá mamando. Depois saiu engati
nhando, sorriu francamente à terapeuta, despediu-se muito à vontade e saiu
com o grupo.)
COMENTÁRIOS
GROUPS
Os sentimentos expressos por estas crianças na experiência em grupo
revelam que, mesmo no caso de um grupo numeroso, a terapia obtém resul
tados. A ineficiência deste contato, no caso, não deve ser atribuída às rea
ções das crianças naquela situação de brinquedo livre, mas às respostas ina
dequadas da terapeuta.
Particularmente em duas ocasiões, as respostas da terapeuta são bas
tante ineficientes. Uma vez ela vai bastante além do sentimento expresso
quando diz “regras, outras crianças e coisas assim” . Timmy estava se ga
bando. A intrusão da voz de autoridade foi desnecessária e poderia ter inter
rompido a livre expressão de sentimentos. A outra resposta-ineficiente foi
no comentário da carta de Sharon. Aposição tomada pelà terapeuta, ao
propor ajudá-la a escrever outra carta, traz implícita uma crítica.
258
Além destas respostas inadequadas, a terapeuta-manteve silêncio ,em
ocasiões nas quais deveria ter dado uma resposta. Um exemplo de tal si
tuação é quando Tommy expressou seu desejo de ser uma menina.
A maneira pela qual as crianças imitavam-se umas às outras nos brin
quedos é interessante. Logo que uma teve a coragem de fingir.se de bebezi-
nho, tendo encontrado visível prazer nisto, as outras tentaram a mesma ex
periência. Isto parece acelerar o processo terapêutico. Parece romper as
barreiras de reserva que as crianças, individualmente, podem ter. A honesti
dade de expressão é também contagiante. A terapeuta tem menos tempo
para responder a cada uma na situação de grupo, mas as próprias crianças
têm condições de fazê-lo em seus contatos umas com as outras. O brinque
do entre Sharon e Dick parece ser uma resposta dramatizada do sentimen
to. A participação de Ema mostra nitidamente sua maneira de se relacionar
INDEX
com as outras crianças.
BOOKS
ber assim também.
Terapeuta: Algumas vezes você gosta de beber com o bico e outras ve
zes sem ele.
Ema: Sim.
(Começou a brincar com a família de bonecas. Colocou a mamadeira
sobre a mesa, ao alcance da mão, e olhou para as bonecas. Colocou a mãe
e a filha mais velha na mesa, o pai e os meninos no chão. A boneca-mãe foi
levada para perto do fogão. Seus lábios moviam-se silenciosamente. Final
mente ela olhou para a terapeuta.)
GROUPS
Ema: Mamãe está cozinhando bacon.
Terapeuta: Sua mamãe está preparando uma refeição.
Ema: Olha! (Sorri para a terapeuta. Coloca a mãe na mesa novamen
te. ) Durante quanto tempo eu posso vir aqui?
Terapeuta: Eu virei toda semana neste verão. Você pode vir quantas
vezes quiser em seu dia. Eu vou guardar esta hora, todas as quartas-feiras
para você. Se você quiser vir, você pode.
Ema: E nas sextas-feiras com o grupo. Não esqueça isso.
(Ema tira toda a roupa da boneca-filha e a coloca na cama. A boneca-
mãe veio e abraçou e beijou o filhinho. Depois recolocou-a na mesa. Tirou
as calças do boneco-pai e o pôs na cama com a menina. Em seguida colocou
259
a boneca-mãe na cama. Tirou violentamente a menina da cama, arrastou-a
pelos cabelos por cima das roupas, surrou-lhe e vestiu-a novamente. Vestiu
o boneeo-pai e o pôs à mesa, juntamente com a boneca-mãe. Dispôs todas
as outras bonecas assentadas à mesa em frente ao pai e à mãe. Moveu o pai,
a mãe e a mesa onde estavam assentados para longe das crianças. Colocou
o bebê e o cachorro numa cadeira em frente às crianças. Trouxe novamen
te o pai. Este beijou todas as crianças, despedindo.se, ignorou a mãe e fi
nalmente foi colocado assentado na cama. O bebê foi colocado no colo da
mãe e esta posta sentada em frente às crianças. O pai foi tirado da cama,
tocou o cachorro e foi posto na cama novamente. O cachorro rosnou para
a mãe e foi colocado sobre uma cadeira. Ema pegou a mamadeira e bebeu
nela sem o bico. Fitou dura e longamente as bonecas. Levantou-se da mesa,
foi até o banco dos brinquedos, voltou trazendo papel de desenho e lápis de
INDEX
cor e veio sentar-se ao lado da terapeuta. Começou a desenhar.)
Ema: Isto vai ser igreja. (Desenhou em silêncio durante alguma tem
p o .) Eu não sei como fazer as janelas da igreja.
Terapeuta: Você quer desenhar as janelas da igreja, mas não sabe co
mo fazer.
Ema: Sim. Você me ajuda?
Terapeuta: Às vezes as janelas de igrejas têm desenhos coloridos, às
vezes são feitas só com vidros de diferentes cores.
BOOKS
Ema: Eu vou fazer colorido. São maiores que muitas janelas, não são?
Terapeuta: Sim.
(Ema desenhou as janelas e ficou mirando intensamente o desenho.
Terminoü-o e deu-o à terapeuta.)
Ema: Aqui, para você.
(Deixou de lado os lápis e voltou a prestar atenção nas bonecas. Riu
um pouco, levantou-se da mesa e foi até os soldadinhos e armou uma bata
lha entre eles. Nesta altura ela voltou à mesa e sorriu seu risinho para a
GROUPS
terapeuta.)
Ema: Eu vou voltar, vou voltar, vou voltar quanto quiser.
Terapeuta: Você gosta de vir aqui.
Ema: Sim. (Despediu-se e saiu.)
COMENTÁRIOS
O desenho feito por Ema foi uma igrela marrom, com uma porta pre
ta na qual desenhou uma cruz branca e o seu nome. As janelas foram c
cadas no alto e eram de diferentes cores. Os sinos eram de um vermelho
brilhante, com barras de severas listas negras. A chaminé também era ver
melha e brilhante com os tijolos rigidamente separados. No topo do dese
nho estavam impressas as letras A B C E F D X Y em cores brilhantes.
260
Nós apenas podemos fazer conjeturas sobre o significado da igreja .para
Ema. Tendo em mente que o orfanato é uma instituição religiosa onde a
instrução religiosa é intensamente ministrada, nós poderíamos supor que is
to indicava um sentimento de culpa da parta de Ema, desde que o desenho
fo i seguido pela brincadeira dela com as bonecas, a qual parecia ser uma
perturbado jogo sexual. Suas maneiras durante este brinquedo eram tensas
e agitadas. A mãe representava uma pessoa dominante e perigosa. A bone-
ca-filha foi punida por causa de suas ações com o boneco-pai. Ninguém gos
tava da mãe. Até mesmo o cachorro rosnou para e!a. A terapeuta não ver.
balizou nenhuma das ações que tinham sido tão intensamente “dramatiza
das” por Ema, porque isto podia interromper a seqüência do jogo. Ema dis
sera à terapeuta que observasse e esta fez exatamente isto. Possivelmente
ela poderia ter eliminado algum sentimento de culpa se reconhecesse alguns
INDEX
dos sentimentos expressos.
Numa entrevista posterior, Ema brincou de novo com a família de bo
necas de uma forma semelhante a esta, mas desta vez ela verbalizou o seu
jogo. Talvez a terapeuta tenha sido cautelosa demais por abster-se de co
mentários sobre esta experiência, mas ela sentiu que a verbalização dos sen
timentos expressos pela criança neste brinquedo silencioso seria prematura.
BOOKS
(As quatro meninas vieram juntas. Os meninos não apareceram. Edna
e Sharon pegaram as mamadeiras. Edna começou a desenhar. Shirley-
Ann assentou-se atrás da terapeuta e dèsenhou a esmo. Pegou então um sol
dado e uma enfermeira e colocou-os sobre o papel, traçando assim suas si
lhuetas. Ema pegou a mamadeira de Edna e bebeu nela. Edna não disse na
da e continuou seu desenho.)
Shirley-Ann (para Ema): Você sempre pega as coisas dos outros.
Ema: E daí? O que que você tem com isso?
Shirley-Ann: Nas minhas coisas você não pega.
GROUPS
Ema: Ah! É? Eu vou te acusar. Vou contar o que você fez.
Shirley-Ann: Ema sempre acusa os outros. Sempre. Sempre. Vai cor
rendo o conta.
Ema: É lógico que eu conto. Eu acuso todo mundo.
Sharon (pondo a máscara preta): Eu gosto de usar máscara. Eu vou
pôr uma preta agora.
(Ema devolveu a mamadeira a Edna. Ssntou-se à mesa, pegou o bo-
nequinho-pai e ficou segurando-o.)
Ema (para Edna com voz levemente cantada): Por favor, me dá a ma
madeira?
(Edna estende a para ela. Ema pega a garrafa, retira o bico e bebe
261
desse modo. Deu um sorriso zombeteiro. Shirley-Ann tinha apanhado a ar
gila. Depois de decorridos uns vinte minutos elas ficaram, finalmente, jun
tas; assentaram-se no chão para brincar com a argila. Sharon deixou uma
das mamadeiras cair ao chão e esta quebrou-se. Ela quase começa a chorar.)
Shirley-Ann (consolando-a): Não chore. Ela não vai zangar com você.
(A terapeuta tranqüilizou Sharon, depois recolheu os cacos de vidro.)
Shirley-Ann: Está certo chorar se você pensa que vai ser punida, mas
quando você sabe que não vai ser, então pra que chorar?
(Sharon sorriu com este inteligente pensamento.)
Sharon: Eu não tenho que pedir desculpas? ,
Terapeuta: Não, você não tem que pedir desculpas, Sharon. Você nem
sempre gosta de ter que pedir desculpas pelas coisas que você faz.
Sharon: Não, mas eu estou realmente sentida de ter quebrado a ma
INDEX
madeira. Estou mesmo.
Terapeuta: Você está realmente sentida com isto.
Sharon: Sim.
(As outras meninas não trabalhavam muito bem com a argila. Passa
ram a maior parte do tempo fazendo comentários sobre a ida até a piscina,
o que ia ocorrer naquela tarde. Elas apenas amassavam a argila sem mo
delar nada. Entretanto, Ema fez alguma coisa. Estava de costas para as ou
tras ocultando o que fazia. Finalmente Shirley-Ann veio até à terapeuta e
perguntou-lhe muito decididamente se ela estava enviando alguma coisa pa
BOOKS
ra a China para ajudar o povo de lá que estava morrendo de fome, e não
tinha roupas para vestir.)
Terapeuta: Você está preocupada com as criancinhas da China.
Shirley-Ann: Oh! Sim. Elas estão morrendo de fome. Estão morrendo
porque não têm comida. Nós aprendemos isso na escola dominical. De vez
em quando eu choro de noite por causa disso. Eu me sinto tão triste. (Ela
estava como se fosse chorar novamente.)
Ema (olhando por sobre os ombros e com um sorriso maldoso): Man
da sobra de comida cuspida pra eles.
Blank.
GROUPS
Shirley-Ann (horrorizada): Oh! Não! Não diga uma coisa dessas, Ema
Ema (imitando-a): Ema. Ema Blank. Bem, isto é o que Ema Blank
pensa sobre eles. Eu poderia falar isto para a professora?
Terapeuta: Você quer dizer isto aqui porque sabe que não pode dizê.
lo para a professora.
Ema: Sim. Ela me mataria e me mandaria para lá para eles me co
merem. (R i.)
Shirley-Ann: Ela não faria isto, mas deveria. Você é odiosa, Ema Blank
Ninguém gosta de você! (Ema imediatamente tenta tomar a mamadeira de
Edna à força. Segue-se uma briga.)
262
Edna: Pega aquela outra lá. A minha não.
Ema: Pega a outra você. Eu quero é a sua.
Edna: Eu peguei esta primeiro. Você não quis esta. Aquela lá é a sua.
Terapeuta: Ema quer a sua porque ela está com raiva depois do que
Shirley-Ann disse dela.
Ema: É claro que estou. Eu estou com raiva de vocês o tempo todo.
Estou com raiva de vocês todos.
Shirley-Ann: De qualquer modo, tem outra mamadeira ali. Pega aque
la lá. (Ema voltou à argila.)
Terapeuta: Ema queria a mamadeira que estava com Edna — não uma
qualquer. (Ema levantou os olhos e sorriu.)
Ema (indicando a terapeuta): Eu não brigo com ela.
INDEX
Shirley-Ann: Não. É claro que não. Você ainda não está tão doida.
Ema: Eu não estou com medo. (Longa pausa.)
Sharon: O que que você está fazendo? (Ema esconde o que estava fa
zendo .)
Ema: Na certa você quer saber. Pois bem. Você não vai ver.
(O tempo terminara e as meninas foram embora. Nenhuma menção
foi feita por nenhuma delas ao fato dos meninos não terem aparecido. Ema
veio até à terapeuta e mostrou-lhe a figura de um homem que ela acabara
de fazer.)
BOOKS
Ema (sorrindo ironicamente): Vê? Ele tá sem roupa nenhuma.
Terapeuta: O homem não tem roupa nenhuma. (Ema enrolou o ho
mem de argila formando uma bola e ajuntou-a no papel com o resto da ar
gila.)
Ema: Ninguém mais vai ver ele agora. Elas não precisam saber o quê
é que eu fiz.
Terapeuta: Você não quer que elas saibam o quê que você fez.
Ema (rindo): Eu odeio elas até às tripas.
GROUPS
Terapeuta: Você as odeia até às tripas.
(Ema riu alto. As outras meninas disseram adeus e foram embora.
Ema despediu-se animadamente e deixou a sala vaiando e rindo.)
COMENTÁRIOS
263
membros do grupo, de tal mòdo que certos, indivíduos tenham “ insight’'.
Ema pareceu reconhecer o fato de que, quando ela se relaciona com as ou
tras meninas de maneira cortês, ela obtém muito mais vantagens do que
quando apela para a força. A medida' que o tempo passou isto tomou-se
mais èvidente. Finalmente ela parou de tentar Conseguir tudo através da
força. Ela revela, inteiramente, neste contato, sua hostilidade para com as
outras crianças, para com os adultos, como os professores da: escola domi
nical, e para com o mundo em geral, incluindo aqueles que estão sofrendo.
Sua maldade é o resultado de anos de frustrante carência. Ela também ex
pressa bastante mais livremente seu interesse em sexo. A terapeuta poderia
ter sido mais perspicaz para apreender os sentimentos expressos, em vez de
ser meramente repetitiva.
INDEX
te foi manejada de modo mais satisfatório pela terapeuta. Ema, aos poucos,
vai explorando as possibilidades do uso das boas maneiras ao invés da força,
na obtenção de seus intentos.
BOOKS
uma vez nós temos o homem nu que já apareceu em três ou quatro conta
tos . Ema parece gostar de cada minuto da entrevista. Não mostra qualquer
sinal de tensão. Gosta muito desta chance de ser “ ela mesma” .
misturados.
GROUPS
ta vermelha escorreu, ela fez uma careta.) Olha! Preto e vermelho ficaram
264
\
• - i Ema: Era uma vez três ursinhos que eram fedorentos. Eles fizeram
sopa — sopa de feijão de novo — puseram muita pimenta nela e foram pas
sear. Lá longe vinha Cachos de Ouro. Ela era uma ladra porca. Ela chegou,
rebentou a fechadura e tomou a sopa e quando os ursos voltaram e encon
traram ela fizeram sopa com ela e ficou muito melhor que a de feijão. (Ema
ri deliciada. Ela subitamente levantou o desenho e a tinta escorreu toda de
novo.)
Ema: Oh! Praga! (Olhon rapidamente para a terapeuta.)
Terapeuta: Você pensou que eu te repreenderia por isto, não pensou?
Ema: E você não vai? (A terapeuta nãó disse nada. Ema riu alto, irô
nica.) Bem, eu pensei mesmo que você não ia fazer. (Parecia encantada.-
Continua pintando.) Praga! Praga! Maldição de Deus!
Terapeuta: Você gosta de praguejar. (Ema concorda e pragueja ain-
INDEX
da mais.)
Ema: Eu posso ir lá na torneira mudar essa água de tinta?
Terapeuta: Se você quiser.
(Ema mudou a água e começou outra pintura. Sorria, enquanto pin
tava seu nome em vermelho. Então pintou: B b a R R a em verde; em azul
pintou PATTY 515; pintou LAB em laranja; USA em amarelo seguido por
um “V” da mesma cor.)
Ema: Que que você pensa disto agora?
Terapeuta: Hummm.
BOOKS
Ema: Sabe que que é isto tudo?
Terapeuta: Você quer me contar tudo? (Ema fez que simvigorosa
mente com a cabeça. >
Ema (apontando para o verde): São só letras. Não significam nada.
Patty é minha irmã. Ela tem oito anos. (Muito cuidadosamente pôs a pin
tura na mesa para secar. Esta não escorreu Em outro papel ela pinta em
vermelho E B P B . ) P.B. é para minha irmã Patty. (Pintou uma casa ver
de, uma árvore verde e um gramado verde.) Olha! Se eu não ponho muita
água no pincel ele não escorre. (Sorriu largamente.)
265
(Ema começa a íazer um terceiro quadro. Era o desenho de uma
bandeira.)
Ema: Esta pintura é pará mim.
Terapeuta: Você quer ficar com ela.
Ema: Sim. Adivinhe o que é isto.
Terapeuta: Isto parece uma bandeira.
Ema: E é. (Ela estava feliz com o fato da terapeuta ter entendido o
que ela tinha desenhado. Seu desenho estava multo bem feito em vermelho,
branco e azul. As estrelas eram douradas.) Esta bandeira é para o meu pa
pai. Ele está no exército.
(Ela pintou um avião em cima da bandeira e, exatamente quando pin
tava este avião, passou um em vôo rasante sobre o edifício. Voava tão baixo
que as crianças lá fora começaram a gritar “Vai cair!” “ Vai cair!” “Está
INDEX
caindo!” As diretoras correram para fora e começaram a gritar. O aviao
tomou a passar em vôo rasante sobre o lugar ainda umas três vezes. Al
guns dos bebês começaram a chorar. Ema pintava imperturbavelmente, ain
da sorrindo um pouco para ela mesma. Virou o papel para a terapeuta e
disse: “Escreva avião, aqui.” A terapeuta o fez. Ema então abandonou as
tintas, esvaziou a água e voltou para perto da terapeuta.)
Ema: Vem jogar comigo.
Terapeuta: Você quer que eu jogue uma partida de damas com você.
Ema: Sim. Me ensina. As meninas estúpidas lá do alojamento não-
BOOKS
me deixam jogar com elas porque eu não sei.
Terapeuta: Você pensa que se aprendesse a jogar alguns dos jogos das
outras meninas, poderia se dar melhor com elas.
Ema: Sim.
(A terapeuta explicou-lhe o jogo. Ela aprendeu rapidamente.)
Ema: Agora nós vamos jogar outra partida e você me deixa vencer.
Terapeuta: Você quer estar certa de que vai vencer este jogo.
Ema: Sim. (Ela e a terapeuta jogaram uma partida e Ema venceu
GROUPS
desta vez.) Nós ainda temos tempo para jogar outra partida?
Terapeuta: Sim, haverá tempo para mais uma.
(O jogo prosseguiu sem mais comentários até que Ema percebeu que
estava perdendo a partida.)
Ema: Será que você vai ficar zangada se perder desta vez?
Terapeuta: Você acha que eu não gostaria que você ganhasse todas as
partidas.
Ema: Você não gostaria, não?
Terapeuta: Eu não me importaria. Você quer vencer desta vez, tam-
266
bém, não quer?
Ema: Sim. Vocè me deixa vencer esta também. (A terapeuta delibe
radamente colocou suas pedras de forma a que ela viesse a ganhar.) Agora
mostre.me como que eu posso trapacear para vencer sempre.
Terapeuta: Você quer saber como trapacear para vencer sempre, to
das as vezes que jogar damas.
Ema: Sim. É Isto mesmo que eu disse.
Terapeuta: Quando nós começamos este jogo, você disse que queria
aprender para jogar com as outras meninas. Elas não jogariam com você
se você trapaceasse.
Ema: Elas não precisam saber que eu estou trapaceando.
Terapeuta: Você quer vencer de qualquer modo e para isto quer
aprender como trapacear e acha que elas não descobririam. Mas elas des
INDEX
cobririam sim.
(Ema levantou-se a caminhou até o banco para pegar a mamadeira.
Bebeu nela e olhou para a terapeuta com uma expressão de maLhumor e
raiva na face.)
Ema: Eu vou jogar isto no chão e quebrar.
Terapeuta: Você quer quebrar a mamadeira porque eu não vou ensi
nar a você como trapacear. (Ema balançou a cabeça afirmativamente. Pa
recia muito tensa. Com um puxão, arrancou o bico e bebeu a água.)
BOOKS
Ema: Eu vou jogar isto no chão e quebrar.
Terapeuta: Você vai jogar isto no chão e quebrar porque eu não vou
íazer o que você me pediu. (De repente, Ema riu e colocou a garrafa no
banco. )
Ema: Como é que eu posso continuar a ficar com raiva se você não fi
ca também?
Terapeuta: Você quer que eu fique com raiva também?
Ema: Não! Não! De verdade. Eu não quero não. Além do mais se eu
quebrasse esta mamadeira você poderia não me deixar mais usar ela.
GROUPS
Terapeuta: Você não poderia usar uma mamadeira quebrada.
Ema: Não. Minha hora acabou, não é?
Terapeuta: Sim. Você só tem três minutos de resto.
Ema: Não se pode fazer muito com três minutos.
Terapeuta: Não. Não se pode fazer muito em três minutos.
Ema: Você não está zangada comigo não, tá?
Terapeuta: Não. Eu não estou zangada com você. Você pensa que eu
possa estar, mas eu não estou.
Ema: Eu vou levar este quadro. Você pode guardar este aqui da nos
2(57
sa casa. Eu não quero nem ver ela perto de mim. Eu não gostaria de ir lá.
Nem mesmo se você me pagasse eu iria. Até-logo.
(Ema saiu rapidamente, levou a pintura da bandeira e aquela com as
letras pintadas, mas deixou a pintura da casa.)
COMENTÁRIOS:
INDEX
partida. Ema parecia também ter tomado responsabilidade por ela mesma
quando relatou seu próprio comportamento: “ Eu estou conversando mais
agora”, e quando ela observou a quebra da mamadeira, " . . . se eu quebrasse
esta mamadeira você poderia não me deixar usar ela mais.”
BOOKS
prova do que acontece quando a terapeuta desvia-se dos sensatos princípios
1 ?
a> da terapia e retoma à usual maneira moralista e sutilmente dissuasiva do
desejo de trapacear. I mediatamente Ema reage de sua maneira "normal”
,^ tomando-se antagônica e mal-humorada. Tivesse sido permitido a Ema ser
\ responsável por suas próprias atitudes, isto não teria acontecido. A terapêü-
j ta poderia ter dito, quando solicitada a ensinar-lhe a trapacear: "Você real-
| mente gostaria de aprender a trapacear^ não gostaria? Mas êu~não vou en-
I siná-la como.” Esta resposta teria certas limitações que a terapeuta não po-
! deria prever, mas não a revelaria atenta ao controle dos sentimentos da cri-
GROUPS
^ança e ao seu comportamento exterior.
268
Ema já estava mais à vontade nas entrevistas posteriores. É interes
sante notar como ela retomou à mamadeira quando foi bloqueada pela fal
ta de jeito da terapeuta, no episódio da trapaça no jogo.
INDEX
Terapeuta: Ema e Sharon não querem usar os bicos, mas Shirley-Ann
quer.
ShirleyAnn: Eu sou o único bebê aqui.
Terapeuta: Você quer ser o único bebê aqui.
Sharon: Nenê! Nenê!
Ema: Nenezinho sujo e fedorento.
(Sharon, Edna e Ema sentaram na mesma mesa e começaram a pin
tar. Shirley-Ann sentou-se afastada da terapeuta e bebeu de uma garrafa.)
BOOKS
Edna: Foi difícil esperar você chegar hoje.
Ema: Sharon porca e suja. Tá com a sua água toda suja. Eu fico
com a minha água limpa.
Sharon: Ouviram ela? Ema está se gabando de novo. Ela falou que as
minhas tintas são sujas e as dela são limpas.
Edna (para Sharon): Nós somos bagunceiras. Ema é a única pintora
cuidadosa. Nós somos bagunceiras e porcalhonas. (Ela sacudiu o pincel e
jogou água de pintura em Sharon.)
Sharon: Pára com isso. Moça, olha! Ela tá jogando água em mim.
GROUPS
Shirley-Ann: Até que isto é bom pra você.
Edna: Veja como esta água de pintura muda de cor. Crianças são ba
gunceiras mesmo.
Ema: Só se a gente deixar. Comigo não acontece isto. Eu sou a pinto
ra mais cuidadosa do mundo inteiro. Não sou porca, não sou um pirralho
fedorento. Eu sou melhor que todo mundo. (As outras a vaiaram.)
Edna: Escutem a velha metida Ema.
Ema (com um sorriso de superioridade): Edna, use o vermelho sem
esperdiçar muito. Não há razão para gastá-lo.
269
Sharon: Você realmente gosta de mandar.
Ema: É isto mesmo. Outra coisa. Eu vou matar os japoneses esta
noite.
(Shirley-Ann deixou de lado a mamadeira.)
Ema: Você está largando a mamadeira, Shirley?
Shirley-Ann: Sim.
(Sharon levantou-se e começou a dançar.)
Ema: Senta aqui e pinta, menina, antes que eu te dê uma "cocada".
Sharon: Eu não consigo sentar. Estou com formiga no corpo.
Ema: Oh! Eu vou pintar no chão. E é muito bom saber que depois
eu não vou ter que limpar ele. Mas eu vou limpá-lo.
Terapeuta: Você não gosta que lhe digam para limpar depois do seu
INDEX
trabalho.
Sharon: Porque se D. S. dissesse a ela para fazer isto ela teria
um ataque. Ema é muito raivosa.
Ema: A senhora não acha que eu sou raivosa.
Terapeuta: Ema está completamente certa de que eu não acho que ela
é raivosa.
Edna (para Ema): Eu vou pintar exatamente isto que você está pin
tando.
BOOKS
Ema: Vá em frente. Seja uma boba se você quer.
Sharon: Oh! Ema. Veja como você fala. Você não devia falar assim.
Ema: A senhora disse que eu poderia falar do jeito que eu quisesse
quando eu estivesse aqui.
Terapeuta: Ema quer ver se realmente penso assim. Ela quer tentar
isto.
Sharon: Olha. Edna ainda tem um pouco de água no vidro.
Ema: Ela não é uma porcalhona como nós.
GROUPS
(Shirley.Ann olhou para o desenho de Ema.)
Shirley-Ann: Que é isto?
Ema: É o desenho de uma grande porcaria. É isso.
Shirley-Ann: Uma grande porcaria?
Ema: Sim. Realmente é o desenho de uma grande porcaria. É um
banheiro, vê? E alguém já usou ele.
Sharon (começando a p'.ntar e usando a água da mamadeira para a
pintura): Você pinta cada coisa esquisita! (Ema chegou se a Sharon.)
Ema: Deixa eu usar um pouco de sua água de pintar? Aquelas meni
nas pegaram a minha, tá vendo? (Como Ema tivesse mergulhado o pincel na
270
água, após a permissão de Sharon, esta ficou alaranjada.)
Sharon: Oh! Veja! Laranjada! Eu vou beber a laranjada. (Agarrou a
garrafa.)
Edna (indo buscar ájua, chamou Ema do lavatório): É melhor você
vir aqui para me ajudar, Ema. Eu não posso fazer o que estou tentando fa
zer.
Ema: Oh! Inferno! Pede pro diabo!
Shirley-Ann: Oh, Ema! (As meninas riram.)
Terapeuta: Ema gosta muito de escandalizar as outras meninas com
suas palavras.
Sharon (para Shlrley-Ann): Olha! Sua velha porca. Você está gastan
do o verde todo. Sabe que nós estamos rindo é de você? Você é a própria
porcalhona!
INDEX
(Ema espirrou tinta; rapidamente pegou a toalha do lavatório e lim
pou tudo.)
Ema: D. S. faria o inferno, se soubesse. Olha esta toalha aqui! Ah!
Ah! Ah!
Terapeuta: Você acha que D. S. não gostaria de ver a toalha toda su.
ja de tinta.
Ema: Querida senhora. Ela morrerá quando vir isto — eu espero.
(A terapeuta decidiu levar a toalha para casa e lavá-la antes de reco
BOOKS
locá-la no cabide. Ema levantou-se de um salto e começou a desfilar em
volta da mesa, cantando sua versão de "Avante soldados de Cristo!” )
Ema: “Avante soldados de Cristo!
Marchando para a guerra, guerra, guerra
Se ela soubesse o que eu fiz
menino! Faria um inferno!”
(As outras meninas riram-se às gargalhadas.)
Ema (Imitando D. S .): Oh! Minha toalha! Minha toalha! Quem jogou
GROUPS
tinta na minha toalha? Vou dar uma surra nela! Vou matá-la! Minha toalha!
Minha toalha! (As crianças aplaudiram e riram da encenação de Ema. Esta
ria-se mas, subitamente, ficou séria.) Parem com este riso idiota agora, me
ninas! Olhem seus modos! (Novamente as meninas vaiaram. Ema sentou-se
em frente à terapeuta, rindo.)
Ema: Por que a sra. não vem para aqui e fica?
Edna: Por favor, faça isso.
Terapeuta: Vocês acham que seria bom que eu morasse aqui com vo
cês.
Shirley-Ann: A sra. vem?
271
Ema: Não. Ela não vera. Quem é que ficaria aqui se não fosse obri
gado? (Fitou as outras maliciosamente.)
Terapeuta (para Ema): Você não gosta deste lugar.
Ema: Eu odeio este lugar.
Shirley-Ann: É um bom lugar.
Ema: Bah! É um lugar destestável.
Terapeuta: Shirley-Ann pensa que é um bom lugar, mas Ema pensa,
que é um lugar detestável.
Edna (sussurrando): Eu também o odeio.
Terapeuta: Você não quer dizer alto o que você pensa.
Edna: Não. Alguém poderia contar.
INDEX
Terapeuta: Você tem medo que se alguém contar o que você sente, vocé
possa ter problemas. ,
Ema: Eu não tenho medo. Eu conto pra eles. Eu grito isto bem alto.
Eu digo que odeio vocês. Odeio este velho lugar. Eu odeio vocês todos.
Edna (manifestando grande admiração): Ela faz isto sim. Ela não
tem medo.
Terapeuta: Ema não tem medo de dizer bem alto o que ela pensa.
Ema: Eu não tenho medo.
Edna: Mas ela está sempre de castigo por causa disso.
BOOKS
Ema: Eu não m e importo.
Terapeuta: Você não se importa se você fica de castigo. Você diz o
que pensa de qualquer maneira.
Shirley-Ann: É um bom lugar.
Ema: É um bom lugar porque na certa você é protegida. Mas eu não
sou protegida.
Terapeuta: Você acha que seria um bom lugar para alguma de vocês,
mas não para você especialmente.
GROUPS
Ema: Eu não odeio todo mundo.
Terapeuta: Oh! Há alguém de quem você gosta.
Ema: Eu gosto de você. Gosto de Edna e de Sharon.
Terapeuta: Você realmente gosta de algumas de nós.
Ema: Sim.
Edna (espantada): Você gosta de mim?
Ema: Eu ainda gosto de você.
Terapeuta: Nosso tempo acabou, por hoje.
Ema: Vamos! Depressa! Ajudem a limpar isto aqui! Vamos guardar
272
os brinquedos.
(As meninas apressadamente limparam a sala e guardaram os brin
quedos .)
Ema (para a terapeuta): Olha aqui meu último desenho. É uma ca
deia e eu estou presa nela.
Terapeuta: Oh, você se pôs na cadeia.
Ema: Você pode ficar com ele. E com este outro também. Minha
grande porcaria e eu.
(As meninas saíram juntas.)
COMENTÁRIOS
INDEX
rias vezes, tomando-se finalmente, compatíveis. É muito interessante notar
a completa mudança dos intensos sentimentos negativos de Ema, após ela
tê-los expressado, em relação ao orfanato e a todos de lá. Ser capaz
de declarar voluntariamente que gosta de alguém, é, na certa, um sinal de
progresso no que diz respeito a Ema. Ela se põe “no centro do palco” e ga
nha a admiração das outras meninas pelas suas observações ousadas e ve
nenosas expressões. Este contato parece ilustrar um dos valores da terapia
em grupo. Em um contato individual Ema não teria experimentado a rea
ção provocada nas outras meninas pelas suas declarações. Parece muito
BOOKS
provável que Ema tenha sido capaz de aliar-se com as outras meninas após
estas terem expressado suas aprovações e acordos em relação a seus senti
mentos para com o orfanato. A exclusão de Shirley-Ann do grupo de pessoas
que Ema diz gostar serve de base para esta consideração.
GROUPS
Ema parece ter obtido considerável “insight” sobre o seu comporta
mento, nesta entrevista. A terapeuta também já está mais à vontade com
as meninas. Agora ela tornou.se a “ sra” para elas. Nas entrevistas anterio
res ela era uma pessoa sem nenhuma identidade. Nas que se sucedem, seu
nome vai sendo mudado, à medida que vai sendo estruturado um relaciona
mento entre ela e as meninas, o que é mais ou menos ilustrado pelo modo
como elas a chamam.
273
Terapeuta: Você só tem cinco minutos de resto.
Ema: Eu quero jogar dama e desenhar. Eu quero fazer as duas coi
sas ao mesmo tempo. Eu não sei o que eu prefiro fazer.
Terapeata: fi um pouco difícil decidir.se.
Ema: Sim. Eu vou desenhar. É mais rápido.
Terapeuta: Desenhar não gasta tanto tempo quanto jogar.
Ema: Olha isto!(Ela desenha um grande “U S” e preenche o “XJ” com
lápis preto.) Eu posso levar isto aqui para lá comigo?
Terapeuta: Se você quiser, pode.
Ema: E eu posso vir amanhã com o grupo, não posso?
Terapeuta: Sim.
Ema: Sabe? Eu preferiria vir com o grupo todas as vezes. Eu acho
INDEX
que é melhor, ter o grupo duas vezes por semana em vez de uma sozinha.
Pode?
Terapeuta: Você pensa que seria melhor se nós tivéssemos encontro
junto com o grupo em vez de sozinhas como agora.
Ema: É isto mesmo. Eu estou sozinha a qualquer hora. Aqui eu te
nho alguém para brincar comigo.
Terapeuta: Você realmente gosta disso porque aqui as outras brincam
com você e você gosta mais disso do que de ficar sozinha.
Ema: Você quer saber realmente de uma coisa? Minha mãe ainda vem
BOOKS
me buscar um dia destes e vai me levar para ver a banda e os bichos, bi
chos grandes e bravos. E ela vai ver se traz o meu padrasto. Talvez ele ve
nha e talvez os leões e tigres devorem ele. Vai ter macacos também.
Terapeuta: Você acha que talvez sua mãe venha ver você esta semana
Isto seria realmente uma comemoração.
Ema: Sim. Uma banda de musica também.
Terapeuta: Com uma banda de música, animais selvagens e todas as
coisas.
GROUPS
Ema: Eu sou realmente uma grande mentirosa. (Riu encantada.) Ela
me disse que viria. Talvez ela venha. Eu acho que ela virá. Entretanto ela
não virá.
Terapeuta: Ela disse a você que viria, mas você não está certa de que
ela realmente venha.
Ema (escondendo o rosto com as mãos): Você é minha protetora.
Terapeuta: Você quer que eu seja sua protetora.
Ema (sussurrando): Toda minha. De mais ninguém.
Terapeuta: Você quer que eu pertença somente a você.
278
Ema (levantando-se e fechando a caixa de lápis): Eu voltarei amanhã.
Acho que já passou da hora.
Terapeuta: Sim, o tempo terminou por hoje.
Ema: Até logo, querida senhora.
(Ema sorriu muito triste à terapeuta e deslizou em direção à porta.
Subitamente, fez-lhe uma careta e, saltitando, foi embora.)
COMENTÁRIOS
INDEX
lizações não a satisfazem completamente. Depois de afirmar que gosta de
chegar atrasada para as refeições e que é uma “comilona” , admite que tais l
observações são de alguém “ espsrto e insolente” . Pode.se imaginar a rea- j
ção de Ema se estas acusações fossem feitas psla terapeuta. Elas teriam a- \
penas servido para canalizar-lhe as reações negativas. Achando-se aceita in- f
condicionalmente ela chega até a dizer: “Eu sou o pirralho mais desprezível i
daqui desta porcaria.” “ Eu brigo, minto e faço intriga.” Então ela tenta
se explicar à terapeuta, começando pelo medo sentido durante as manobras I
do avião sobre o galpão, de como suas ações simulam seu sentimentos e co-J
BOOKS
mo suas atitudes reais são diferentes do seu comportamento externo.
Quando Ema sugere que gosta mais de vir com as outras meninas e
brincar com elas, parece estar bastante consciente de suas necessidades. O
aspecto estranho desse pedido foi que cada uma das meninas fez o mesmo
pedido durante os seus contatos individuais nessa mesma semana. Não se
sabe se as meninas combinaram antes pedir isto à terapeuta. Esta, entre
tanto, concordou em ver as meninas em grupo, duas vezes por semana. Por
tanto, este foi o último contato individual de Ema.
GROUPS
A referência de Ema à esperada visita de sua mãe, certamente aponta
os confusos e conflituosos sentimentos que a idéia da visita da mãe lhe pro
voca. A criança parece estar buscando um apoio digno de confiança quando
passa a chamar a terapeuta de um modo particular. Entretanto ela não con
segue ficar arrependida e comportada muito tempo. Rapidamente ela se ar.
ma com suas defesas: faz caretas, dá risos forçados e daixa de ser ela mes
ma.
277
pouta chegou. Logo que entrou, elas gritaram e fizeram grande alarido.)
Sharon: Puxa! Pensei que você não viesse mais. Entra. Entra.
(Foram até o carro, pegaram a maleta com os brinquedos e abriram-
na. Cada uma pegou logo uma mamadeira.)
Ema: Venha! Vamos ser bebês. Eu vou mamar.
Outras: Eu vou mamar também. Sou bebê.
(Todos elas mamaram e agiram como bebês. Shirley-Ann foi para a
argila. Edna, Sharon e Ema começaram a desenhar.)
Sharon: Onde está o vidro de tinta?
Edna: Tá quebrado. Shirlejy-Ann quebrou ele.
Sharon (para Shirley-Ann): Você quebrou?
Shirley-Ann: Sim. Mas eu não pude evitar. Não foi? Eu realmente não
INDEX
pude evitar. Não foi? Não foi?
Terapeuta: Não. Você não pensou em quebrá-lo.
Shirley-Ann: Eu fiquei muito sentida com isto, não foi?
Terapeuta: Você ficou muito sentida com isto.
Sharon: Uma vez eu quebrei uma mamadeira e quase chorei.
Ema (zombando): Rá, rá, ráj
Sharon: Eu realmente quase chorei, não foi?
Terapeuta: Sim. Você quase chorou.
BOOKS
Shirley-Ann (para a terapeuta): Um dia você deixou uma cair e que
brar e nós não nos sentimos tão mal assim.
Terapeuta: Vocês não sentiram tão mal quando eu quebrei uma tam
bém.
ShirleyAnn: Sim. De vez em quando todo mundo quebra alguma coi
sa.
Ema ( arremedando): De vez em quando todo mundo quebra alguma
coisa.
GROUPS
Sharon (defensivamente): É sim.
Ema (para a terapeuta): Você gosta da gente, mamãe?
Terapeuta: Você quer saber se eu gosto de vocês, hem?
Ema: Bem, você gosta?
Terapeuta: Sim.
Sharon: Nós gostamos dela como de uma mãe, não gostamos?
Shirley-Ann: Eu vou...........
Sharon: Eu vou casar com meu papai.
278
Shirley-Ann: Oh! Você não pode íazer Isto.
Ema: Eu vou casar com um homem de cera, vou derretê-lo e picá-lo
em pedacinhos.
Sharon: Oh! Ema!
Edna: Eu vou casar com Jesus.
Ema: Estas meninas falam cada coisa. Pois eu vou casar com todo
mundo. Não vou deixar sobrar ninguém para vocês.
Edna: Você vai casar com todo mundo? Mesmo com ele? (Apontando
para o pavimento de baixo.)
Ema: Mesmo com ele.
(As três meninas pintavam em silêncio. Shirley-Ann fazia tiras de ar
gila e imprensava-as na mesa.)
INDEX
Sharon: Mary disse para eu levar para ela um pouco de papel. Nós
não podemos levar, podemos?
Terapeuta: Não. Vocês podem usar o papel aqui, mas não podem levá-
lo para fora. Não temos papel bastante para isto.(Sharon estava fazendo
uma sujeira com seu desenho.)
Shirley-Ann: melhor você ficar aqui comigo, Sharon. Eu não vou
te pôr tão nervosa.
Sharon: Olha estas pinturas. Estão todas lambuzadas.
Shirley-Ann: Bem, você sujou elas.
BOOKS
Ema: Parem de falar tanta besteira. Vocês incomodam minha ma
mãe.
Sharon: Ela não é sua mamãe.
Ema (gritando): Ela é minha mamãe. Vocês estão enciumadas por
que ela não é mamãe de vocês e sim a minha mamãe.
Shirley-Ann: Ela é minha namorada.
Ema: Eu gosto mais dela do que de minha mãe de verdade. Minha!
mãe de verdade não presta. Eu tenho um padrasto que também não presta.
GROUPS
Quando eu tiver dez anos e minha irmã estiver mais velha também, minha
mãe vai para o exército.
Sharon: Ela vai? Minha mamãe trabalha duro.
Ema: De qualquer modo minha mãe vai para o exército e eu espero
que ela tome uns tiros por lá. Bang! Bang! Bang!
(Nesse momento houve uma repentina e violenta discussão sobre a
água de pintar. Sharon e Edna alternadamente chamavam pela terapeuta:
"Olha, Srta!” Olha o que ela está fazendo! Ela fez isto.")
Ema(imítando-as): Olha! Olha! (Após a discussão, a água de pintura
estava derramada.)
279
Edna (gritando para Ema): Pegue um trapo e limpe isto tudo, sua
grando burra.
Ema (conciliatória): Controle.se! Não fique nessa nervosia toda,
Edna. Você é biruta.
(Neste ponto a terapeuta não conseguiu anotar a maior parte, da con
versa das meninas, mas percebeu que era sobre um brinquedo que elas iam
fazer no alojamento das meninas.)
Ema: Ninguém gostará de você, Edna, se você não se comportar me
lhor.
Edna (aproximando-se da terapeuta): Mamãe gosta de Edna, não gos
ta?
Terapeuta: Você quer que elas saibam que eu gosto de você.
Edna: Você é minha mamãe.
INDEX
(Voltou para a mesa e misturou as tintas. Então começou a dese
nhar.)
Sharon: Eu quero dar-lhe alguma coisa mamãe.
Ema: Eu quero dar a você alguma coisa também.
Edna: Elas sabem que não podem, não é?
Terapeuta: Elas querem que eu saiba que elas gostariam de me dar
qualquer coisa.
Edna: Eu vou dar a você a minha pintura. Olha! Ela tá bacana!
BOOKS
(Ema pinta uma casa vermelha e recorta-a.)
Sharon: Ela tá gastando o vermelho todo. Agora eu não vou poder
terminar meu quadro. Edna acabou de pegar o vermelho.
Edna: Ele estava jogado por aí.
Sharon: Agora eu não vou poder terminar meu quadro.
Edna: Eu não me importo com isto.
Sharon: Vou te acusar para D. N.
280
Sharon: Bem ...
Ema ( ridicularizando): Meninas boazinhas compartilham suas coisas.
Só os porcos é que comem o dia inteiro. Só os porcos é que comem qual
quer porcaria, menos Sharon.
Sharon; Eu não! Eu não! Eu vou te acusar.
Ema: Agora você vai me acusar. Outra vez você vai me acusar. Quan
tas vezes hoje você vai me acusar?
Sharon (excitadamente): Você só sabe incomodar a gente!
Ema: Oh! Eu incomodo todo mundo. Minha querida criança, descul
pe! (Ela disse isto sarcasticamente. Durante algum tempo as meninas ficaram
pintando era silêncio. Ema empurrou a caixa de tintas, gozando.) To
me um pouco da tinta vermelha, Sharon. (Esta olha para ela desconfia
da, mas mesmo assim mergulha o seu pincel na tinta vermelha que Ema lhe
INDEX
oferece.)
Ema (rindo zombeteiramente): Oh! Querida! Eu sou tão boazdnha!
Olha, mamãe! Eu reparti com ela a tinta. (As outras garotas riem .)
Terapeuta: Ema compartilhou sua tinta vermelha como faria uma me
nina boazinha. (Ema estende a caixa de tintas para Sharon.)
Ema: Toma todas Sharon. Meu pincel também.
Edna (para Ema): Na certa que você vai querer ficar com o meu.
Sharon (para Edna): Aqui! Toma o meu.
BOOKS
(Elas continuaram oferecendo os seus objetos, brincando de compar
tilhar suas coisas. Logo estavam todas rindo. Quando o tempo acabou, Ema
saiu de mãos dadas com Edna e Sharon.)
COMENTÁRIOS
GROUPS
pia. A criança exige evidência de afeto por parte da terapeuta. Seria muito
melhor que esta apenas continuasse a refletir para a criança os sentimentos
que ela estava expressando — seu desejo ds que ela dissesse que gostava
dela, sua vontade de pertencer a alguém, etc. Isto é especialmente verdadei
ro para crianças que são tão carentes emocionalmente como estas. Por ou
tro lado, parece de pouco, ou nenhum valor tcrapâutico o fato c.V- reforçar
estes vínculos emocionais, os quais somente poderão criar outros proble
mas quando eles, também, forem destruídos.
Ema, nesta entrevista, age como um crítico, e, com seu sarcasmo pro
tetor, torna-se uma apaziguadora, o que é certamente, um novo “jogo” para
281
ela. O contágio de suas ações e a imediata diminuição das tensões são bas
tante notáveis.
INDEX
Edna: Eu é um bebezinho e engatinho no chão.
Terapeuta: Vocês gostam de ser bebês.
Meninas: Sim!
(As crianças agacharam-se e começaram a engatinhar, balbuciando
como bebês.)
Ema: Será que é só eu que quero pintar? Eu quero pintar um banhei
ro.
Terapeuta: Você quer pintar um banheiro.
BOOKS
Ema: Sim. Um banheiro usado.
Terapeuta: Você quer pintar um banheiro que foi usado por alguém.
Ema: Sim. Mas eu quero...
(Foi até o tabuleiro de damas e catou as pedras. Sharon e Edna ti
nham começado a jogar assentadas no chão. Quando Ema chutou as pedras
e estas espalharam-se por todo o chão, seguiu se violenta discussão. As
duas meninas não estavam com tanta raiva de Ema por ter atrapalhado o
jogo, quanto estavam uma da outra, acusando se mutuamente de trapaça.)
282
Terapeuta: Você quer mè dizer alguma coisa sobre ele?
Ema: É sobre uma menininha que foi passear e quando foi passando
perto da casa de um homem mau ele correu e pegou ela e pegou um macha
do e cortou ela em pedacinhos. Isso é a sangue dela. 'Então o sol nasceu e
o homem foi procurar outra menininha. Estas marcas pretas são as marcas
do pé dele quando ele estava caçando. Ele tinha um facão deste tamanho.
<Ela indicou um facão de cerca de setenta centímetros.)
Terapeuta: O homem era muito cruel, não era? Então quer dizer que
ele pegou a menininha e picou-a em muitos pedaços.
Ema: Sim. Ele entornou o sangue dela nele.
Terapeuta: Isto é o sangue dela entornando nele?
Ema: Por favor! Você não vai ser minha mamãe? Você podia me ti
rar daqui.
INDEX
Terapeuta: Você queí: que eu seja sua mamãe, não quer? E você seria
muito feliz se fosse embora daqui.
Ema: Sim. Você vai fazer isto?
Terapeuta: Eu sei que você quer que eu o faça. Mas para mim, é im
possível fazer isto. Eu posso vir aqui e ver você nos dias marcados. Mas
não posso levá-la embora.
Ema: Eu não pensei que você podia. Mas eu quero tanto ir embora!
Eu odeio isto aqui! (Pegou a tinta preta e lambuzou todo o papel. Chamou
BOOKS
Edna. Esta velo até ela.)
Ema: Me arranja um pouquinho de água limpa, Edna.
Edna: Tá. Mas você tem que vir comigo também.
(As duas meninas entraram no lavatório, fecharam a porta e ficaram
por lá algum tempo. Finalmente abriram a porta e voltaram.)
Ema: Edna fez um troço horrível, lá!
Terapeuta: Você pensa que ela fez algo horrível, lá.
Ema: Sim. Ela foi ao banheiro e quando acabou ela olhou a privada.
usado.
GROUPS
Terapeuta: Você acha que foi errado olhar a privada depois dela tê-la
Ema: Oh! Sim! D. S. disse isso. Nós sempre tentamos olhar, mas
se ela está perto, ela diz que é pecado.
Terapeuta: Mesmo ela dizendo que é pecado vocês ainda querem .ver.
Ema: Nós vamos para o inferno.
Terapeuta: Vocês pensam que vão mesmo para o inferno por fazerem
isto.
Ema: É o que ela diz
283
Terapeuta: "Ê. isto que ela fala com vocês.
Ema: Sim.
(Ela sentou-se em frente à terapeuta. Subitamente foi à estante e pe
gou um livro de gravuras que a terapeuta comprara para ler para as crian
ças mais jovens do orfanato. Voltou-se a sentar em frente da terapeuta e
olhou o livro.)
Ema: Escreve: "Havia uma velhinha que morava num sapato.”
Terapeuta: Você quer que eu escreva isto para você?
Ema: Sim. (A terapeuta o fa z.)
(A diretora vinha saindo e afugentou os meninos de perto da janela.)
Shirley-Ann: Que bom! Bem feito! Eles foram embora!
Ema: Fiquem quietas. (Continuava a ler o livro.)
INDEX
(Shirley-Ann começou a pintar; espalhou a tinta vermelha ao redor
do papel. Edna pintava.)
Edna: Você vai trazer alguma coisa para nós na outra vez que vier?
Terapeuta: Você gostaria que eu desse a vocês alguma coisa.
Edna: Você vai daT? Na próxima vez que vier.
Terapeuta: Eu trarei alguma coisa na última vez que vier.
Shirley-Ann: ótimo! Que será?
Terapeuta: O que vocês gostariam que fosse?
BOOKS
Edna e Sharon: Mamadeiras!
Shirley-Ann: Por favor! Traga mamadeiras para a gente! Então quan
do a gente comportar igual befcê D. X . pode fazer a gente mamar. Eu ia
falar pra todo mundo que não gosto de mamar, mas eu gosto. Eu ia ficar
mamando e chorando.
Terapeuta: Vocês gostariam de ter uma mamadeira, então.
Meninas: Sim.
(Pegaram novamente as mamadeiras e brincaram com elas até o fim
GROUPS
da sessão, engatinhando pelo chão e fingindo chorar.)
Edna: Seja minha mamãe.
Terapeuta: Vocês gostariam de ter uma mamãe só sua, não é?
Ema: Olha, mamãe. Está vendo que mancha bacana da Ema? Veja
Ema mamando!
Edna: Olha para mim.
Sharon: Minha mamãe é muito bonita. Ela é ruiva.
Shirley-Ann: Olha para mim. Olha para mim!
Terapeuta: Vocês todas querem que eu olhe para vocês.
Edna: Mamãe, olha! Você é minha mamãe.
(As crianças pararam com o choro e passaram o resto do tempo pro
clamando que a terapeuta era mãe delas. Esta refletiu suas emoções. As
quatro meninas saíram juntas, gritando alegremente.)
COMENTÁRIOS
INDEX
se. O pedido de mamadeiras neste estágio da terapia indica as atitudes pra.
dominantes em que estão mergulhadas as crianças.
BOOKS
nas para aumentar-lhes o interesse sobre estes fatos. Tornando- o proibido,
provocam, em conseqüência, o fa.to de tomálo muito mais atraente. Mesmo
o medo do inferno não é suficiente para diminuir-lhes a curiosidade.
GROUPS
Edna: Não esquece não, hem? Da última vez você prometeu trazer al
guma coisa pra nós na última vez que você viesse. Eu quero uma mamadei
ra assim.
Terapeuta: Não vou me esquecer. Você gostaria de ter uma mamadei
ra. (As outras apoiaram as palavras de Edna.)
Shirley-Ann: Sabe de uma coisa? A Ema agora tá tão boa como nunca
estevo antes.
Sharon: Sim. Ela já não briga mais com a gente e nem faz intriga.
Edna: Nós gostamos de Ema agora. (Ema enrubesceu e sorriu para a
terapeuta. Edna e Sharon puseram-se a pintar.)
Ema (zombando): Oh, eu sou tão delicada quanto posso ser.
Terapeuta: Parece que todo mundo acha que você está agindo melhor»
E m a , . .............
Ema: Eu tento ser boa,
Terapeuta: Você realmente está tentando ser uma boa menina.
(Acidentalmente Sharon espirrou água na pintura de Edna.)
Sharon: Oh! Edna. Desculpe. Eu não pude evitar.
Edna: Ihhh! Caiu no meu vestido! Eu vou enxugar ele.
Ema (pegando üm pedaço de pano limpo e secando a água): Eu vou
te ajudar!
Sharon: Ele vai sécar antes da gente Voltar.
Ema: Seria melhor você ir lá pra fora e sentar no sol.
Edna: Bem, vamos sentar no chão e pintar.
INDEX
(As quatro meninas sentaram.se no chão e começaram a pintar. Shir-
ley-Ann desenhou um rato. Sharon desenhou uma casa e Edna uma estra
nha figura.)
Edna: Esta á D. X. ,
Ema: Oh! Deixa eu jógár água nelà.
Edna: Tá! Joga mesmo! Mas cuidado pra não cair em mim! (As duas
meninas começaram a jogar água em D . X .)
Terapeuta: Vocês estão molhando D. X.
BOOKS
Edna: Agora eü vou dár uma surra nela. (Bate com o pincel no dese
nho. )
Ema: Deixa eu jogar estas porcarias do banheiro nela.
Terapeuta: Vocês a estão fazendo ficar realmente suja.
Ema: Desta vez ela vai ficar porca também.
(Sharon e Shirley-Ann vieram e contribuíram, com os seus gênios des
trutivos, nesta atividade. Logo "D. X . ” foi reduzida a um lixo amarron-
zado. Ema completou a destruição furando o papel com o pincel.)
, Terapeuta: Vocês acabaram mesmo com ela.
GROUPS
Ema: Com esta ela vai aprender!
Edna: Quanto tempo falta?
Terapeuta: Dez minutos.
(As meninas pegaram novos pedaços de papal e recomeçaram a pin
tar. Ema acidentalmente sujou sua pintura.)
Ema (desgostosa): Oh! Olha! Estraguei ela! Não ficou nem um pouco
bonita. Eu sujei-a e não gosto de sujar coisas.
Edna: Você nunca gosta de sujar as coisas, não é?
Ema: Não, você gosta?
Edna: Eu não ligo. Eu não importo de jeito, nenhum. Uma Edna de-
sordeira e porcalhona é o que eu sou. , . .. r
Ema: Edna desordeira e trapalhona e Shirley-Ann desordeira e trapa-
lhona.
Shirley-Ann: Eu não faço desordem,nem sujeira, faço Srta.? Eu vou ...
Ema: Você vai contar para D. N. Meu Deus! Que que eu faço?
Você vai contar e eu vou morrer!
Shirley-Ann: B em ...
Edna: Nós vamos fazer um teatrinho no alojamento das meninas. Vo
cê gostaria de assistir? Pode ser na semana que vem?
Terapeuta: Sim. Eu gostaria de assisti-lo.
Edna: Nós já combinamos e D. N. deixou. Ela não sabe quê que
vai ser ainda.
INDEX
Ema: Eu também estou nessa.
Edna: Ema representa muito bem.
Ema: Oh! Eu sou a estrela.
Terapeuta: Você tem tido boa atuação neste teatrinho. Isto te agrada.
Ema: Pode contar com isto. Vai ser um teatrinho bacana. Nós combi
namos ele para a semana que vem.
Edna: (para a terapeuta): O quê que você está escrevendo?
Terapeuta: Coisas que eu preciso lembrar.
BOOKS
Edna (olhando as notas): São só rabiscos.
Terapeuta: São só rascunhos.
Edna: Para mim parecem rabiscos. Tem uma palavra e uma outra/
Eu não consigo ler isto tudo. Tem meu nome.
Terapeuta: Nosso tempo acabou, r oí isto que eu escrevi aqui.
Edna: Vamos limpar aqui e colocar ós brinquedos no lugar.
Ema: Eu vou ajudar.
(As meninas limparam a área dé brincar e guardaram os brinquedos.)
COMENTÁRIOS
GROUPS
Esta foi a primeira vez que as meninas realmente exerceram juntas
uma atividade. O ponto alto deste contato é a voluntária aprovação da me
lhoria do comportamento de Ema. Esta aceitação pelas outras, com o sen
timento de ser capaz de fazer alguma coisa- com elas, impressionou-a muito.
As meninas mostraram sinal de admiração por suas habilidades.
O ataque que o grupo fez à figura da professora que podia punir Ed
na trouxe à superfície muitas emoções violentas. As meninas todas traba
lharam limpando a área de brincar. Estes acontecimentos parecem indicar
287
progresso para todas as crianças.
INDEX
A sala estava em total confusão porque as crianças menores haviam estado
lá na tarde anterior e os brinquedos estavam jogados pelo chão na mais com
pleta desordem: móveis tombados, jogos espalhados, brinquedos quebrados
etc. As meninas ficaram completamente perturbadas, mas, sem esperar por
sugestão, começaram a arrumar e abriram um espaço no centro da sala.
Determinaram então a área do palco e colocaram cadeiras para a audiência.
O que se segue é um relato do que aconteceu.
Ema abriu o espetáculo com uma canção e dança havaianas. Em se
guida, SMrley-Ann cantou “Lá vamos nós” . N o meio da canção, Ema gritou:
— “Você esqueceu............ ” Originou-se uma discussão entre Ema e Sha-
BOOKS
ron. A terapeuta não pôde apreender a razão da discussão, entretanto, esta
cresceu até que chegasse a ser ouvida por toda a platéia.)
Sharon (gritando): Seria melhor calar a boca! Você quer estragar tu
do?
Ema (gritando também): Eu quero estragar a brincadeira? O quê vo
cê pensa que está fazendo? Você quer é mandar em todo mundo.
Sharon: Claro que eu quero mandar em todo mundo! Vê se fica com
a bocona fechada!
GROUPS
Ema: Nós não combinamos que ela ia cumprimentar a platéia antes
de cantar porque ela sempre esquecia de cumprimentar depois de cantar?
Sharon: Está certo! Mas nós nSo combinamos que você ia abrir a bo
cona enquanto ela estivesse cantando.
(Shirley-Ann finalmente terminou de cantar. Edna foi para o palco
e cantou “Seja sincero comigo” . Sharon e Ema repentinamente pararam de
brigar, mas logo que Edna terminou de cantar recomeçaram a briga.)
Sharon: É melhor que você seja a primeira.
Ema: Você quer é que eu seja a primeira.
Sharon: É. É você que vai ser a primeira, menina.
Ema: Você sabe que eu posso largar isto tudo de lado.
Sharon: Eu estou indo te acusar!
288
Ema: Você está indo me acusar. Cinco ou seis vezes por dia você fa
la que vai me acusar. Bem, vai e conta!
(Houve um súbito silêncio e Sharon decidiu subir ao palco.)
Sharon: Então tá certo. Eu vou ser a primeira.
(Ela começou a entoar “Na marinha” . Quando estava no meio da can
ção Ema começou a cantar “ Eu estou trabalhando na estrada de.Ferro” .'
Edna e Shirley-Ann conversaram uma com a outra durante todo o tempo
da canção mas a terapeuta não conseguiu ouvi-las porque as duas cantoras
estavam, cada uma, querendo cantar mais alto que a outra. O auditório
parecia verdadeiramente encantado com a “performance” das garotas, inclu
indo a própria terapeuta.
Finalmente Sharon terminou e levou Edna até o lavatório com ela.
INDEX
Sharon olhou para a assistência e gritou: “Agora ninguém pode olhar aqui.”
Ema imediatamente foi até lá, escancarou a porta e disse: Hum! Que fedor!
Mas entrou assim mesmo. Shirley-Ann entrou também. Começaram uma
violenta discussão que podia ser ouvida no auditório:
“Eu quero ser o assassino!”
“ Você sempre quer ficar com a melhor parte!”
“ Eu não quero ser a vovó!”
“Você tem que ser a vovó! Como que a gente pode fazer sem ninguém
para ser a vovó?”
BOOKS
“Tá certo, então eu vou ser a vovó.” (Voz de Em a.) "Mas essa vovó
é um assassino.”
Nesta hora a audiência já estava sabendo qual era a estória. De re
pente a porta foi violentamente aberta e as atrizes saíram em avalanche.)
Sharon (a caminho do “palco” ): Alguém foi assassinado nesta peça.
Edna: Oh! Não! Não conta para eles!
Sharon: Bem ... (Ela começou a cantar o “ Hino dos Aviadores” e a
audiência começou a rir. )
GROUPS
Sharon (parando de cantar e gritando para os meninos): Vocês estão
rindo, né? É melhor não rirem quando nós matarmos!
Edna: Se você falar outra vez nós te pomos para fora da peça! Agora
já está quase começando.
(As meninas ajuntaram-se em volta da mesa no palco e pareceu que a
peça ia finalmente começando, mas Edna voltou novamente e cantou “ Cri
anças, vocês gostariam de ir” .)
Sharon: Vamos contar para vocês quem é que nós somos.
Edna: Está bem. Eu sou Betty. Eu sou uma das irmãs.
Sharon: Meu nome é Minnie. Eu sou uma das irmãs.
Shirley-Ann: Quem eu sou? Qual é o meu nome? (Falara baixinho pa
ra as outras e então, após uma longa conferência.) Eu sou uma das irmãs.
289
Eu não tenho nome.
Ema: Eu sou a vovó.
Shirley-Ann (pegando uma vara sem ponta): Isto é para você esfa-j
quear a gente.
Sharon (encarando Shirley-Ann): Não se atreva a contar novamente
ou eu vou te dar uma facada de verdade!
Edna (dando a volta por trás e dando uma palmada em cada uma das
meninas): Vão dormir. Tão ouvindo? Vão dormir! (Ema começou a engati
nhar em volta delas.)
Sharon: Que barulho é este?
Ema (com voz fantasmagórica): É só sua imaginação.
Sharon: Eu estou cheirando os pés da vovó.
INDEX
(Edna caiu sobre Shirley-Ann e esfaqueou-a. Ema foi engatinhando
para a cama.)
Ema (dando gritos): Por Deus! Uma de minhas crianças foi assassi
nada!
Sharon: E você não é criança? (Levantou-se.) Agora nós vamos dan
çar.
(Todas as quatro puseram-se a dançar. Edna esgueirou-se pelas costas
de Shirley-Ann e esfaqueou-a. Shirley-Ann caiu ao chão.)
BOOKS
Edna: Eu estou no sexto andar, estou no sétimo, agora eu estou na
porta. Ah! Te peguei. (Esfaqueou Sharon. Ema escondeu-se atrás de uma
cadeira. Edna persegue-a até esfaqueá-la. (Então voltou novamente contra
Sharon que havia se recuperado rapidamente.)
Sharon: Não era você que ia me matar.
Edna: Não tem importância. Eu te mato assim mesmo.
Sharon: Então eu vou ser o assassino da próxima vez.
(As "atrizes” todas estavam esfaqueadas e jaziam em poses dramáti
cas. Edna sentou se à mesa e simulou fumar um cigarro. Levantou-se, lim
GROUPS
pou a mão no vestido e sorriu.)
Edna: Sangue! Caiu um pouco em mim!
Sharon: Acabou o teatro.
(O auditório aplaudiu entusiasticamente. As atrizes reuniram-se para
planejar um segundo espetáculo. Em poucos segundos, este começou.)
Edna: Vai lá na loja e compre fígado. (Sharon saiu do palco e voltou
com um pacots.) Aonde você comprou este fígado?
Sharon: Na loja.
(Este jogo de perguntas e respostas foi repetido com intensidade cres
290
cente até atingir um clímax.)
Edna: Aonde você comprou este fígaao!
Sharon: Já que você quer saber mesmo, eu tirei ele na sepultura do
vovô.
(Deu-se um pandemônio. Edna gritava, apertava o coração, arrancava
os cabelos. Neste momento Ema entrou curvada, vacilando e tremendo.)
Ema (com voz trêmula): Me devolve meu fígado! Eu vou te persse-
guir!
Sharon (pegando uma cadeira): Um passo mais, vovô, e eu te arrebento
os miolos.
Ema: Eu não posso viver sem meu fígado! (Caiu ao chão e expirou
dramaticamente.)
INDEX
(Este foi o fim da dramatização das garotas, que havia sido previa
mente censurada).
COMENTÁRIOS
BOOKS
bastante evidente. A cooperação entre as crianças durante a limpeza da sa
la de brinquedos e da montagem do palco foi digna de nota. A rivalidade
pela “melhor parte” parece ser uma compensação para suas condições de
vida, que são de grande privação.
GROUPS
(As meninas chegaram e começaram a pintar. Antes de começar, en
tretanto, espalharam jornais velhos no assoalho a fim de mantê-lo limpo.
Assentaram-se juntas ao chão. Pareciam muito calmas e sem tensões. Fala
ram calmamente entre elas sobre as cores das tintas e sobre fatos corriquei
ros. Freqüentemente chamavam a terapeuta: “ Olha mamãe! Que cor boni
t a .” Após uns quinze minutos nesta atividade em grupo, Shirley-Ann deixou
o grupo e pegou as bonecas de papel. Brincou com elas em cima da mesa.
Houve uma violenta discussão entre Edna e Sharon sobre quem havia su
jado a água de pintura.)
Ema: Deixa eu fazer uma mágica para vocês. Ema, a mágica, vai ajei
tar as coisas para vocês.
291
(Ema então pegou a água suja de tinta, foi até o lavatório e jogou-a
fora, encheu a vasilha com água limpa e trouxe-a de volta para elas. As ou
tras duas riram para Em a.)
Edna: Eu não quero que você vá embora, mamãe.
Terapeuta: Você gostaria que isto não terminasse.
Edna: Sim. Logo aquela porcaria daquela escola vai começar de novo.
Ema: Eu odeio a escola.
Sharon: Eu odeio aquela professora velha caolha e chata. Ela é caolha.
Ema: Uma macaca caolha.
Edna: É “não faz isso, não faz aquilo, pára de falar” .
Sharon: Oh! Olha o quadro de Ema! Não é bacana?
Edna: Menino! Ela pinta mesmo bem! É uma artista de verdade.
INDEX
Ema (rindo francamente): Vocês acharam isto mesmo?
Sharon: Eu gostaria de pintar assim também.
Ema: Você quer este, Sharon?
Sharon: Sim. ótimo! Obrigada! (Aceitou contente a pintura.)
Edna: Você pinta um pra mim também, Ema?
Ema: Oh! Acho que sim. Que você quer que eu pinte?
Edna: Não sei... Pinta qualquer coisa. (Ema pinta para ela uma casa.
O quadro para Sharon foi um vaso de flores. As meninas estavam bastante
BOOKS
contentes com as pinturas.)
Edna: Eu vou te dar uma das minhas bonecas de papel se você quiser,
Ema. Eu tenho um punhado. Você quer?
Ema: Se você quiser me dar, eu quero.
Shirley-Ann: Eu te dou minha laranja se você pintar alguma coisa para
mim também.
Ema: Quê que você quer?
Shirley-Ann: Qualquer coisa.
GROUPS
(Ema pintou-lhe um avião. Sorriu durante todo o tempo em que pin
tava. Usou só cores brilhantes neste quadro: azul, amarelo, vermelho, verde
o alaranjado.)
Edna: Quê que você vai trazer para a gente, mamãe?
Terapeuta: O que vocês querem que eu traga para vocês?
Shirley-Ann: Mamadeiras!
Edna: Ou então fita para o cabelo. Eu gostaria de uma fita cor-de-
rosa.
Sharon: Eu quero um passador azul como o da Jennie. São dois pas
sarinhos azuis.
292
Ema: Quando vai ser a última vez que você vem aqui?
Terapeuta: Nós temos mais dois encontros ainda.
Edna: Eu vou chorar quando você for embora.
Terapeuta: Você não gostaria que eu fosse.
Sharon: Eu vou chorar também. Eu adoro você, mamãe.
Edna: Enia, o quê que você quer que ela traga para você?
Ema: Qualquer coisa.
Edna: Ah! Pede alguma coisa a ela.
Ema (enrubecida): Oh! Eu gostaria de um pentinho e de um perfu
me. Meu pente não tem mais nem um dente.
Terapeuta: Edna quer uma fita rosa, Sharon um passador com dois
INDEX
passarinhos azuis, Ema um perfume e um pente e Shirley-Ann uma mama
deira.
Shirley-Ann: Ou talvez eu prefira um pacote de papel de desenho.
Terapeuta: Você acha que prefere o papel de desenho à mamadeira?
Shirley-Ann: Eu falo com certeza para você na semana que vem.
Ema: Aqui está seu quadro, Shirley-Ann.
Shirley-Ann: Muito obrigada, Ema. Ele é muito bonito.
Ema: Eu gosto deste quadro que você pintou, Edna.
BOOKS
Edna: Você gostou? Mas olha como eu-borrei ele!
Ema: Sim, mas este psdaço aqui não está borrado, não.
Terapeuta: Ema viu algo bonito na sua pintura, também.
Ema: Nós vamos limpar estas tintas do chão para você.
Edna: Vamos.
Sharon: Eu vou jogar água limpa para você.
(As garotas começaram a limpar as caixas de tinta.)
Ema: Minha mãe vem hoje me levar embora daqui.
GROUPS
Terapeuta: Ela vem?
Ema: Ela vem hoje. Eu já arrumei minhas coisas todas.
Edna: Oh, Ema! Nós vamos sentir a sua falta.
Ema: Mas eu vou voltar. Vou só passar o fim-desemana.
Terapeuta: Isto faz você ficar muito feliz, não?
Ema: Sim. Minha irmã e eu. Ela vai levar nós duas.
(As meninas continuaram a limpar as tintas e colocar em ordem os
brinquedos na caixa e na mala. Quando o tempo acabou elas foram embora
juntas, Ema excessivamente bem-humorada.)
293
COMENTÁRIOS
INDEX
indica um amadurecimento por parte das meninas. Elas não mais quererá
ou necessitam de símbolos infantis. Pedem presentes mais maduros. Shirley-
Ann ainda não está completamente pronta para decidir-se.
f' Ema uma vez mais preparou-se para a visita de sua mãe e, outra vez
mais, ela não veio. Ema ficou tão desapontada que atirou-se sob uma árvo-
re num canto do jardim e chorou até ficar doente. Ficou febril, sentiu náu
seas e foi mandada para a enfermaria por dois dias. A professora contou
que o médico dissera que isto acontecera porque a criança ficara tão desa.
{^pontada com a falta da mãe, que chegou a adoecer.
BOOKS
DÉCIMO TERCEIRO CONTATO — NONO CONTATO EM GRUPO
GROUPS
Edna: Vou contar para D. A.
Ema (vaiando): Ela não está aqui.
Edna: Bem. Quando ela voltar eu conto.
Ema: Você gosta de fazer intriga.
Edna: B em ... (Ema voltou atrás e deu o varal a Edna.)
Ema: Toma. Eu vou procurar outra coisa para fazer.
Terapeuta: Ema pensa que pode procurar outra coisa para fazer e de
cidiu deixar o varal para você.
Edna: Eu não ia contar de verdade, não. Você pode ficar brincando
comigo.
Terapeuta: Edna realmente não queria fazer isto quando disse que
iria fazer.
Ema: Você sabe que minha mãe não veio me buscar no último fim-de-
semana?
Terapeuta: Ela desapontou você novamente.
Ema: Eu odeio minha mãe. t
Terapeuta: Você odeia sua mãe por isto'. ;
Shirley-Ann: Você hão deve falar assim. É pecado odiar as pessoas. .
Ema (mais determinada que nunca): Eu odeio, odeio, odeio minha
mãe!
Terapeuta: Ema sente que odeia sua mãe porque está muito desapon
INDEX
tada.
Ema: Eu fiquei doente quando eles disseram que ela não tinha vindo.
Eu vomitei. Não podia comer nada. Eles me puseram no hospital durante
dois dias. ;
Terapeuta: Você sentiu-se tão mal por sua mãé não ter vindo que isto
te fez adoecer.
Edna: Ela não falou com ninguém todo esse tempo.
. Terapeuta: Ela ressentiu-se muito disto.
BOOKS
Shirley-Ann: Minha mãe não faria isto comigo.
Ema: Eu queria morrer. Eu tentei morrer.
Terapeuta: Você não queria nem mesmo viver. Você sentiu-se indis
posta com tudo.
Sharon: Eu vou pintar um quadro muito bonito e vou colar isto aqui
e isto aqui. Oh! Pare de falar sobre aquela mãe de vocês, Ema.
Terapeuta: Você não gosta de ouvir isto.
Edna: Eu vou brincar com a família de bonecas.
GROUPS
(Ema sentou-se à mesa é pegou um livro de humorismo que trouxera
com ela. Ela afastou-se do grupo e ficou olhando o livro. Edna assentou-se
no chão, tirou as roupinhas das bonecas e pendurou-as no varal.)
Edna: Olha as calças dela. (As outras meninas riram. Ema aparente
mente não deu importância.) Ela é uma menininha e molha as calças. Vem
cá, gente, visitar minha casinha.
Sharon: Nós vamos terminar os quadros primeiro. Ela (a terapeuta)
não vem cá muitas vezes mais e nós temos que terminar isto agora.
Edna: Venham então quando vocês puderem.
Sharon (para a terapeuta): Você diz pra pessoa com quem trabalha
que você tem que voltar aqui mais vezes.
295
BB^ESàÊ^^isss5ai»$$»Be»e«iaE*aB
INDEX
vocês vão para casa. Parem de chorar. (Gritos.) Oh! Eu esqueci do nenê.
Preciso lavar o cabelo dele também! (Derramou água na cabeça das bone
cas.) Parem de rir! Parem com este riso bobo! (Ela bateu no boneco.) Está
me ouvindo? Você é um horrível bebê. Pare com esse riso. Segura este bo
neco. (Ela esíerideu o boneco para a terapeuta e perguntou-lhe se ela pode
ria lavar as roupas realmente ou se teria só que fingir que lavava. A tera
peuta sugeriu que ela deveria fingir que lavava porque elas não secariam lo
go. Edna voltou às bonecas.) Você quer ser boazinha? Então não chore.
Por que você está chorando?
Ema: Ela chora porque ela gosta de chorar.
BOOKS
Edna: Você não vai para casa. O grande e bom pai. Você precisa é
de uma sova. Você vai se meter em confusão. Eu vou bater em você. Você
é uma coisa ruim. Lembre.se do que eu disse. (Ela pegou o bebê.) Pobre
bebê! Eu vou ficar sem te ver durante muito, muito tempo. (Entrega o be
bê a Shar-on.) Toma conta do bebê Edna. Essa é a mamãe. Onde é que eu
pus aquelas roupas? Você é má, uma horrível mulher. (Ela bate na boneca-
mãe.) Olha este menino. Todas suas roupas soltaram-se. Cada um de vocês
tem sido tão desobediente que só podem ficar na cama. (Ela pendurou as
roupas no varal.) Eu nunca vi gente assim.
GROUPS
Ema: Eu espero que minha mãe não minta para mim outra vez.
Terapeuta: Você espera que ela não desaponte você novamente.
Ema: Sim. Ela fez isto comigo. Ela disse que vinha esta sexta-feira
com certeza, e que eu ia para casa.
Sharon: Minha mãe sempre me desaponta. Eu quero ir para casa e
ficar lá.
Ema: Eu quero ir para casa também.
Edna: Eu vou para casa em dezembro.
Ema: Ninguém gosta da gente.
Terapeuta: Vocês todas gostariam de ir para casa.
(Edna foi ao lavatório.)
296
Shirley-Ann (para a terapsuta): Vocô manda alguma coisa para a Chi
na?
Ema (violentamente): Quem é que se importa com a China? Deixa eles
morrer de fome!
Edna (voltando com nma colherada de água): óleo de ricino para
elas. Uma colher por dia porque elas comeram maçãs verdes.
Sharon (para a terapsuta): Eu aposto que você vai dizer que não.
Que pode brincar aqui mas não pode levar. Mas eu quero ficar com estas
tintas e estas tesouras.
Ema: Só porque a gente não pode ficar com eles, não quer dizer que
a gente não queira eles.
INDEX
(Edna começou a pintar — borrões pretos e vermelhos de forma inde
finida.)
Terapeuta: Mesmo que vocês não possam ter certas coisas, ainda as
sim vocês as desejam, às vezes.
(Edna começou a pintar.)
Terapeuta: Só faltam cinco minutos.
Ema: Eu faço depressa. Eu vou levar este comigo para o alojamento.
BOOKS
Sharon: Para quê?
Ema: Eu quero dar ele para mamãe quando ela visr sexta-feira.
Sharon (para a terapeuta): A próxima semana vai ser sua última vez
aqui, não é?
Terapeuta: Sim.
Sharon: Então é quando você vai trazer alguma coisa para mim.
Terapeuta: Sim.
GROUPS
Edna: Eu quero uma fita cor.de-rosa.
Sharon: Eu quero uma pulseira.
Shirley-Ann: Eu quero uma caixa de lápis — uma caixa grande com
todas as diferentes cores.
Ema: Eu quero um perfume e um pente.
(Sharon foi para um canto da sala, olhou para a tsrapeuta com um
trejeito amuado nos lábios.)
Sharon: Eu não quero que você não volte mais.
Shirley-Ann: Nem eu!
Edna: Isto me deixa triste.
(Sharon foi até às bonecas e ficou chutando a boneca-mãe em volta
297
da sala! Edna veio e pegou o bebê. De repente Ema levantou-se e ajuntou
a família de bonecas. Assentou-se no chão e começou a brincar com elas.
Começou a falar. As palavras vinham numa torrente. Falava num colo
rido dialeto.)
Ema: Eu sim, mãe. Tira a roupa. Pode ficar nua. Você não é o pa
trão aqui. Vou te pôr numa torta de lama. Seu cabelo tá imundo. Ainda
vou arrancar esse seu vestido. Um dia destes ainda arranco a sua cabeça.
Sou feita de borracha. Tire a sua... (Levantou a boneca.) Tão vendo? Pe-
ladinha. (As outras meninas riram, rodearam-na e a olhavam brincar.) Meus
alfinetes tão acabando. Puxa! Essa minha velha é tão engraçada! Lá vão
suas roupas sua boboca! (Tira as roupas da menina.) Oh! Você é uma me
nina má. Eu declaro, você também vai ficar pelada. Pai, você deve ficar
pelado, também.
INDEX
Edna: Oh! O pai ficou pelado.
Sharon: Ela está fazendo todo mundo na sua família tirar a roupa. 3Ê
uma família gozada!
Ema: Papai, tira a calça. Que nojento que você é! (Ela torceu e torceu
a cabeça do pai) Oh, papai, seu corpo está soltando. Papai, levante sua ca
beça.
Edna: Fique com sua bocona fechada!
Ema: Eu não consigo tirar esta danada desta camisa. (Ema estende
BOOKS
a boneca para a terapeuta): Tira pra mim — ou me mostre como a tirar! (A
terapeuta o fa z .) Agora o pai está nu. Ele é um sem-vergonha.
Sharon: Oh! Ema! Eu odeio ouvir isto! (Ema sorriu-lhe afetadamen
te. Tirou as roupas da boneca-filha.)
Ema: Outra toda nua.
(De repente a sala ficou muito quieta.)
Sharon: Puxa! Como tá quieto!
Ema (para a terapeuta): Quero um pente. O meu pente tem um pu
GROUPS
nhado de dentes a menos. Minha mãe tinha que comprar um novo pra mim,
mas não comprou. Ela é velha e grisalha e muito feia. E preguiçosa. (Pe
gou o boneco grande.) Tira suas calças, menino.
Terapeuta: Agora todos estão sem roupas.
Ema: Nus. Gente má e pslada.
Terapeuta: Você acha que eles são gente má.
Ema (soltando-se das bonecas): Agora vai ter uma briga.
Edna: N ão. Desenha um quadro para sua mãe.
Ema: Não. Eu não quero dar nada para ela. (Tentou-tomar a cola
de Edna e esta gritou. Ema retraiu-se e esperou sua vez.) Aonde está a te
soura?
298 /
Edna: Você não pode ficar com ela. (Sacudiu a tesoura para Ema>)
Ema: Menina linda. (Salpicou tinta vermelha no papel. Estende« *
mão e tirou o lápis que estava nas mãos de Edna. Esta saltou furiosa so&f*
«la . Ema devolveu-lhe o lápis.) Desculpe Edna, me perdoa. (Sorriu-lhe,)
Edna: Se você me pedir ele eu te dou.
Ema: Eu realmente não quero ele. Eu quero que você brinque
go,
Edna: O quê?
Ema: Da outra vez nós todos vamos fazer um longo passeio. Nós
mos lhe mostrar a fazenda.
Sharon: Oh! Sim. Vamos D ___?
INDEX
Ema: Nós vamos lhe mostrar do outro lado da cerca.
Edna: E lhe mostrar o milharal.
Sharon: E o curral.
Shirley-Ann: Nós vamos te mostrar a casa mal-assombrada que teni 14
atrás do milharal.
Ema: £5. O diabo mora lá.
Todas as meninas juntas: Você vai? Nós podemos ir? Vamos?
Terapeuta: Se vocês quiserem, nós vamos.
BOOKS
Ema: Vamos chamar os meninos também.
Edna: Tá certo.
Terapeuta: Então nós vamos planejar um longo passeio para a sen'«*
na que vem, se não chover.
Ema: Não vai chover. Eu não vou deixar.
Terapeuta: Você pensa que pode mandar na chuva.
Ema: Eu consigo mandar ha chuva.
Terapeuta: Bem, nosso tempo terminou agora.
GROUPS
Meninas: Até logo D .... Nós vamos te chamar para o passeio. Vtt-
mos te mostrar o lugar.
(Saíram correndo e quando passaram pelos garotos que esperuviU"
a hora de entrar, contaramJhes seus planos.)
COMENTÁRIOS
Ema revelou certos sentimentos amargos sobre sua mãe e até moai'H)
fez a conexão entre a sua doença e o seu desapontamento, o que indica.UlM
certo “ínsight” . A cena com as bonecas feita por Ema e Edna dramatiza os
sentimentos recalcados em ambas. A capacidade de Ema em perdoar sua
mãe, e mesmo de dar-lhe u m presente, evidencia o fato de que a criança pre
cisa somente de uma chance, e que ela seria capaz de um ajustamento sa
tisfatório. Edna é mais vingativa. Dá óleo de rícino aos adultos e pune-os
pelo desprezo que eles lhe dão.
INDEX
seria o último, indica que elas cresceram muito em adaptação e ajustamen
to social. Havia orgulho nas suas vozes quando falaram sobre os lugares
que mostrariam à terapeuta durante o passeio. Elas já consideram os ele
mentos positivos do lugar, que era a casa delas. A inclusão dos meninos no
passeio também parece indicar progresso. Era uma experiência que elas
queriam compartilhar com eles.
BOOKS
embrulhada em papel fantasia. Exclamaram todas ao mesmo tempo que a cai
xinha era para a terapeuta. Insistiram que ela abrisse imediatamente. Den
tro da caixa havia um pedacinho de veludo vermelho, um amuleto, um pe
daço de giz azul, um frasquinho vazio e um pedaço de fita branca. Eram,
obviamente, os tesouros das meninas, que elas tinham decidido, entre elas,
ofertar à terapeuta. Elas aceitaram seus presentes muito quietamente. A-
gradeoeram-lhe e perguntaram se poderiam ir no carro, para o passeio. Pa
recia ser falta de consideração com os meninos não fazer o mesmo com
eles. Os meninos não haviam pedido presente algum. Entretanto, a terapeu
ta trouxe alguns presentes pára os quatro, para evitár algúm possível senti
GROUPS
mento de terem-sido desprezados, quando descobrissem que as meninas ti
nham ganho presentes. A terapeuta notara, certa vez, que as crianças osten
tavam seus presentes entre si, sempre que havia oportunidade para isto.
3Õ0
tão calmamente que ele não fugiu amedrontado. Colheram algumas flores
do campo pelo caminho e as ofertaram à terapeuta. Então chegaram à cer
ca. Os meninos ajudaram as meninas a ultrapassá-la. Havia muita conside
ração entre eles.
COMENTÁRIOS
INDEX
AVALIAÇÃO IMEDIATA DA EXPERIÊNCIA TERAPÊUTICA
BOOKS
outra vez tinha falhado no seu compromisso. A reação de Ema ao desapon
tamento desta vez foi completamente diferente de suas reações habituais.
Não chorou nem “ adoeceu” . Muito calmamente trouxe sua maleta de volta
ao seu quarto e disse à diretora: “Pro inferno com minha mãe. Ela é uma
sem-vergonha.” A diretora disse à terapeuta: “Eu tive que me conter com
todas as minhas forças para não dizer — Isto é o que ela é .” Depois disto,
quando a mãe telefonou para o Orfanato, querendo falar com a menina, a
diretora recusou-se a chamá-la e explicou-lhe que as diretoras do orfanato
decidiram que não mais sujeitariam a menina àquela sucessão de decep
GROUPS
ções. Informaram à mãe que se ela quisesse falar com a filha que fosse até
lá, que elas não mais mandariam a menina preparar suas coisas antes que a
mãe estivesse no pátio pronta para sair.
301
í
INDEX
í
BOOKS
í
GROUPS
I
23. UMA PROFESSORA - TERAPEUTA AJUDA
INDEX
UMA CRIANÇA DEFEITUOSA
BOOKS
de aula encontra-se pelo menos um caso-problema. Embora o cnso de Er-
nest seja complicado, demonstra o grande valor que tem o p ro c e d im e n to te
rapêutico na sala de aula ou, pelo menos, é valioso para referência, e m ca
sos especiais, para a professora que entende dever ensinar à crlftOÇa como
viver consigo mesma e não só a escrever, ler e desenhar.
Uma vez que o material é detalhado e complexo, parece mttfs impor
tante dar um pequeno resumo do processo através do qual Ernesfc viveu du
rante os sete meses em que se passou este caso. Isto não prejudica o anda
mento do caso, mas fornece um padrão de referência, o qual o leitor é li
GROUPS
vre de abandonar quando se dedicar a estudar o detalhado material. Tal
resumo é apresentado nos dois parágrafos seguintes.
Emest ó um menino enjeitado de seis anos, com uma constrição na
garganta, tímido, infantil e anti-social. Nos contatos terapêuticos com uma
professora compreensiva revela necessidade do afeto de sua mCte 6 toma a
iniciativa de explorar as possibilidades de ir viver com ela. Jí rejeitado
por sua mãe, e torna-se violentamente agressivo, v o ltan d o -se con
tudo, para a professora-terapeuta em busca de apoio emocional. Gradati-
vamente, vai assimilando seu desapontamento, passa a considerai' sua famí-
303
lia adotiva como se fosse realmente sua, chegando mesmo a aceitar o fato
de que sua professora não seria uma substituta de sua mãe.
INDEX
Com esta introdução, eis o caso, assim como foi registrado pela
professora que agiu como terapeuta. É publicado apenas no interesse de
ser breve e resguardar as identidades nele envolvidas.
BOOKS
do. Sua mãe voltou para casa, numa cidadezinha, cerca de seis milhas de
distância de D ..___ .. Ele permaneceu no Hospital por três anos. Duran
te este tempo sua mãe só veio vê-lo duas vezes. Vendo-a apenas uma vez
por ano, Emest esqueceu-a e na última visita da mãe, não a reconheceu.
Foi submetido a uma série de operações e dilatações na garganta. Neste
setembro ele fora dado como “ cirurgicamente curado” . Entretanto, ainda
sè recusava a comer e era necessário continuar a alimentá-lo através de
uma sonda inserida diretamente em seu estômago.
Quando Emest entrou para a escola, havia somente quatro semanas que
GROUPS
dèixara ò hospital. Não sabia vestir-se sozinho. Era enurético. Nunca tivera
relacionamentos com outras criançás. Ficou numa pensão com uma mu
lher de meia-idade mUito dominadora. A criança e a mãe adotiva não se
deram muito beni. Ele se recusava a comer qualquer coisa. Chegava até a
se recusar a beber áijua. A mãe adotiva sentiu que ele era üm “ mau negó
cio” para ela. Os médicos também pensaram que o problema éra inteira
mente psicológico,
30?
tos fascinaram todas as crianças e elas, por isto, beberam litros de água nos
primeiros dias. Ernest, que estava atrás da professora observanao as outras
crianças disse: “ Isto parece engraçado” . A professora respondeu ao seu evi
dente desejo de beber também, como os outros. Este breve contato foi mais
ou menos assim:*
INDEX
ria de fazê-lo.
E.: Eu gostaria de tentar.
T .: Você quer tentar isto.
E .: Eu costumava beber num destes quando estava no Hospital. A-
gora eu não consigo.
X.: Você recorda como aquilo era bom. (Ernest ri e vai para o bebe
douro .)
E .: É capaz de eu não conseguir reter à água.
BOOKS
T .: Você acha que é capaz de não conseguir reter a água, mas quer
tentar assim mesmo. (Ernest assentiu com a cabeça. Girou o botão e pulou
para trás.)
E.: Sai água demais.. .
T .: Parece que é muita água para você.
E .: Eu vou me afogar. (Bebeu um gole, olhou para a terapeuta e sor
riu francamente.): Enguli!
T .: Sim. Enguliu. (Ele bebe novamente. )
E.:
GROUPS
Eu enguli! (Parecia completamente feliz. )
Emest, por sua vez, mostra uma boa disposição em ser corajoso ao
invés de ser medroso, o que é uma característica de impulso em direção ao
crescimento. Isso porque ele está certo de que a professora o aceita em
ambas as suas atitudes contraditórias de tentar beber.)
Ele voltou para a sala de aula e contou para todas as outras crianças:
“Eu bebi um gole!” Elas aceitaram o fato com o entusiasmo próprio de cri
anças de cinco anos. Elas não sabiam que Ernest era "diferente” . Somente
sabiam qu;.- ele ficara muito orgulhoso por ter bebido, e se vangloriaram de
ter bebido também. Ernest bebeu umas quinhentas vezes aquele dia — ou
pelo menos coisa parecida. A partir disto já não tinha mais problema em
INDEX
beber água na escola, nem de retê-la. Entretanto ainda se recusava a beber
em casa.
Dois dias mais tarde ele viu uma bela maçã vermelha na mesa da pro
fessora. Esta pareceu-lhe apetitosa. O exercício de andar até a escola e ain
da as outras inúmeras atividades escolares foram aumentanto o seu apeti
te. As outras crianças costumavam comer frutas, como laranjas, maçãs e
peras, no recreio, e Ernest começou a gostar da idéia de comer como elas.
.Na tarde deste segundo dia ele se aproximou furtivamente da professora e
BOOKS
disse: ‘‘Se você repartir comigo sua maçã depois da aula, eu te ajudo a co
mer ela." A professora imediatamente reconheceu o seu desejo de comer a
maçã e aceitou o convite de reparti-la com ele. Depois da aula, ela partiu
a maçã ao meio e deu-lhe uma parte. Emest comeu-a. Parte dela ele cuspiu,
mas boa parte foi retida, dando-lhe a satisfação de comê-la.
308
E.: Eu quero tentar. (Deu uma mordida na maçã.) Você come aque
la parte.
(Este desejo de resolver seu problema é um bom prognóstico. Muitas
vezes o paciente mostra claramente, no primeiro ou no segundo contato, se
tem ou não motivação suficiente para superar suas dificuldades.)
T .: Você quer que eu coma esta parte enquanto você come a sua.
(Ernest assentiu com a cabeça e assim a professora comeu a sua par
te. Ernest sorriu para a professora. Seus olhòs brilhavam.)
E .: Esta maçã está muito, muito, muito gostosa.
T .: Você acha esta maçã muito, muito boa.
(Ernest consentiu sinceramente, mas a verdade é que a maçã, como
a maioria das maçãs muito bonitas, estava seca como serragem e sem o mí
INDEX
nimo sabor. Ocasionalmente ele cuspia um pedaço, mas, às vezes,ele real
mente engulia-os. Falou sobre os jogos que tinham feito naqueledia e so
bre uma pintura sua. Então ele bombardeou a professora com perguntas.)
E .: Diga, qual é o seu Q .I.?
X.: Meu Q .I.? Você quer saber quanto é o meu Q .I.?
E.; Sim. Eu queria saber.
T .: Como é que eu posso saber para você?
E .: Pede a alguma pessoa para fazer um teste com você.
BOOKS
I.: Você sabe quanto é o seu?
E.: Oh! Sim! É cento e dezenove! Uns homens lá no hospital medi
ram ele. As enfermeiras me disseram que era cento e dezenove.Isto é bom.
As enfermeiras disseram que eu devia me orgulhar disto.
T .: Elas sabiam quanto era o delas?
E.: Acho que não. Elas não sabiam quanto era o aelas. E o de D. S.
(a mãe adotiva) é horrível.
X.: Você pensa que o de sua mãe adotiva é horrível. Por quê?
GROUPS
E.: B em ... eu perguntei para ela qual era o dela a primeira vez que
eu fui lá. Ela disse que não sabia. Eu lhe disse: “Calcule” . Ela achava que
o dela era cem. Eu disse para ela que o meu era cento e dezenove.E já que
o meu era maior que o dela, eu não liguei mais para ela. Eu era mais es
perto do que ela.
T.: Você se acha mais esperto que ela.
E. (generosamente): Espero que o seu seja mais ou menos cento e
dezenove. -i 1’ '■
(Esta é a primeira evidência da atitude positiva e afetiva dirigida à
terapeuta. O hábil manejo deste relacionamente, enquanto se aprofunda,
constitui um dos pontos mais interessantes dos contatos terapêuticos.)
307
T .: Você acha que eu sou tão inteligente quanto você?
E .: Eu realmente acho.
(Enquanto isso a maçã foi comida, apesar da conversa do Q .I. — ou
por causa dela. Então a professora levou-o para casa.)
INDEX
de evidente hostilidade em relação ao menino e disse que ele se recusava a
comer por causa dela. Ela falou: "Eu disse a ele outro dia: “eu sei que você
pensa que me magoa quando não come. Mas eu não me importo. Você pode
ficar sempre com uma estúpida sonda no estômago, se você quiser. Isto não
me magoa de jeito nenhum. Ele só me olhou interrogativamente e pergun
tou se era isto mesmo que eu pensava e eu disse: “Eu não ligo para o que
você faz!” Acho que isto o pertubou. fia mesma coisa com o negócio de uri
nar na cama. Eu tenho certeza de que ele fez isto só para me enlouquecer*
Eu dissa isso a ele também. Ele também não é coisa que preste, não! Mente
BOOKS
e furta e é danado de teimoso! Eu parei de dar comida pra ele quando o mé
dico me disse que não havia nenhum motivo verdadeiro para que ele não co
messe Ele recusou comida até desmaiar de fome. Então eu comecei a dar
comida para ele. Já não sei mais o que fazer com ele! Mas se ele come com
a senhora por que é que não pode comer comigo?!*
GROUPS
fim! Além do mais, pipoca! Eu não teria deixado ele fazer isto! Imagina se
ele tivesse se sufocado! Meu Deus! Q que é que a senhora teria feito?” A
professora contou-lhe que a enfermeira do menino explicara-lhe no hospir
tal que eles estavam interessados em fazê-lo comer e que o risco de que ele
se sufocasse não seria maior do que com qualquer outra criança; além disso
seria melhor para ele tentar comer, não tendo importância se ele retivesse
* t. ink*i*cssantc nolnr qtir h mfie adotiva tamb.hu tiiih « algu m a com preensão das atitu
des que ca racteriza va m ó comportamento de E m est. N áo p o d ia aceitá-Jas, entretanto.
Consequentem ente a situação ia de m al a p io r. Para Orientação das p rofessoras em situa
ções idênticas € a din âm ica disso, vejam -se os com entários .fe ito « no. desen rolar desse caso.
308
ou não a comida. D.S. não gostou muito do assunto, no entanto aceitou as
ousadas iniciativas da professora, com comentários azedos, porém. "Bem,
isto há de ser o fim da senhora!” Outros pequenos detalhes foram discuti
dos a fim de aclarar a situação. Quando a professora estava de saída, Er-
nest veio até o alpendre e chamou-a: “Eu quero que você me leve embora
com você. Eu não gosto daqui!” Tudo aquilo não ajudou nada na situação
do menino na casa adotiva.
INDEX
foi transferido para uma outra casa. O fiscal veio à Escola e comunicou a
Ernest sua mudança. E assim, havia outro ajustamento para ser consegui
do pelo menino. Os contatos de terapia individual passaram a ser feitos
após as aulas. Tão logo foi possível, sentimentos e atitudes expressos na es
cola. foram leconhecidos e aceitos.
29 DE SETEMBRO
BOOKS
lar. O contato do dia seguinte foi após as aulas e por sua própria solicita
ção. Ele estava muito perturbado com a repentina mudança’para a nova car
sa. Sua nova mãe adotiva tinha mais de sessenta anos. Seu marido setenta.
Tinham outro filho adotivo que contava quinze anos. D.R. era uma exce
lente cozinheira, com prática de serviços de pensão. Falava macio, tinha um
sério problema cardíaco e era extremamente religiosa. Parecia ter simpati
zado bastante com Ernest, logo ao vê-lo. Disse: “Se eu não puder ajudá-lo
não ficarei com ele. Pedirei então para o receberem em outra casa. Estou
mais interessada no seu bem-estar do que no dinheiro da pensão. Eu não o
prejudicarei e tenho certeza de que Ernest ssrá bem tratado. Eu não sei o
GROUPS
que a senhora pensa disto; mas acredito que Deus há de ajudá-lo se nós re
zarmos por ele fervorosamente. ”
30S
papel, uma banca de serviço de oficina, martelos, pregos, lápis de cor, fan
tasias de cow-boy, revólveres, soldados, aviõezinhos, blocos de armar, cole
ção de bonecas, mobília e ainda outros jogos e brinquedos.
E.: Eu quero escrever uma carta para minha mãe. Como a senhora
sabe, ela mora longe daqui, lá em ... É muito longe. Você escreve o que eu
vou dizer.
T .: Você quer escrever uma carta para sua mãe verdadeira.
E.: Sim. Diga: “Querida mamãe” .
(A professora escreve num pedaço de papel que ele lhe havia dado.
INDEX
É bom lembrar que Ernest não vê sua mãe há quase um ano. Tinha-a visto
somente quatro vezes em três anos e, da última vez que a vira, não a reco
nhecera.)
E.: Agora diz: "Eu vou indo muito bem.” Eu realmente estou indo
muito bem, não estou?
T .: Você quer melhorar para então poder voltar para casa.
E .: Sim. Quando eu melhorar eu vou voltar pra casa, pra minha
tn ãe de verdade.
BOOKS
T .: Você quer melhorar para então voltar para casa.
E.: É. Conta pra ela... (pausa) Escreve: “Eu comi vagem a noite
passada. Comi costeletas de porco e purê de batàta. Tomei um copo de lei
te. Essa manhã eu tomei mingau e suco de laranja e dois pedaços de torra
da.” Você está escrevendo isso tudo?
(Essa foi a primeira refeição que ele fez. De acordo com sua mãe ado
tiva, ele não reteve quase nada no estômago.)
T.: Estou escrevendo tudo isso.
E.: “Hoje eu tomei sopa de cenoura com cebola. Comi um pedaço
GROUPS
de torrada e um pedaço de bolo.” (Para a terapeuta.) Engoli quase tudo!
T ,: Uma parte do que você comeu você não vomitou e está feliz com
isto. Você queria engolir o alimento.
E. (concordando): Sim. Algum dia eu conseguirei.
T . .: Algum dia você conseguirá.
E.: Eu quero pôr mais coisa na carta. Escreve: “Eu mudei a noite
passada para a casa de D. R .” Foi mesmo. D. R. é uma senhora muito sim
pática. Ela não é como D. S. Eu g-osto de D. R. Pelo menos eu acho que
gosto.
T .: Você mudou a noite passada e você quer gostar de sua nova mãe.
E .: Só que ela não é minha mãe. Eu chamo ela de Vovó R. Eu te
nho um vovô e um irmão agora. Um irmão chamado... Eu não consigo
lembrar o nome dele agora, mas ele é muito bonzinho.
T .: Você tem uma nova família e eles são pessoas simpáticas.
E .: Escreve: “Como vão minhas irmãs?” Eu tenho duas irmãs em
casa.
T .: Você tem duas irmãs em casa.
E .: Escreve: “Como vai passando meu cachorrinho? Eu espero que
ele esteja bem. Espero poder voltar para casa algum dia.” (Para a terapeu
ta.) Eu gostaria muito de poder ir para casa.
T .: Você quer ir para casa. Ter mudado para uma casa nova ontem
te fez pensar sobre sua própria casa. Você não sabe como as coisas vão
INDEX
correr neste novo lar e por isto deseja ir para a sua própria casa.
E. (assentindo com a cabeça): É claro que eu quero. Meus porqui
nhos e meu cachorrinho estão lá. Eu quero ver meus porquinhos.
T .: Você gostaria de ver seu cachorrinho e seus porquinhos.
E .: Sim. Escreve: “Doutor P. está de férias agora. Com muito amor
para vovô e para a senhora, Emest."
(Emest aconchegou-se nos braços da professora.)
T .: Você sente dificuldades na sua própria casa. Você ainda não co
BOOKS
nhece ninguém lá.
(Esta é uma excelente clarificação das atitudes que Emest tinha ex
pressado por frases e ações, como por exemplo: “Eu gosto de D. R. Ou pe
lo menos eu acho que gosto.” Isto lhe traz um reconhecimento de suas pró
prias atitudes.
Note-se que nos primeiros contatos, as reflexões feitas pela terapeuta
em relação às atitudes da criança dão-se num nível superficial, tal como
o reconhecimento do seu desejo de beber, ao lado do medo de fazê-lo. Isto
acontece invariavelmente no começo da terapia, mas como estas atitudes su
GROUPS
perficiais são aceitas e reconhecidas, a criança torna-se mais livre para tra
zer à tona suas atitudes mais dinâmicas e profundas. A terapeuta deve
manter-se alerta para compreender, acompanhar e clarificar estas atitudes
mais íntimas como elas são expressas.)
E .: Eu só vi eles ontem. Eu nunca os tinha visto antes.
T .: 15 claro. Eu posso entender como você se sente. É tudo muito
estranho.
E .: Você vai para casa comigo à noite para conhecer D. R.?
T .: Você quer que eu conheça D. R. também.
E .: Você vai? (A professora concorda em ir com ele.)
(Nesta entrevista, a terapeuta começa a adotar uma posição maternal
311
e protetora, em vez de manter estritamente a conduta não-diretiva que tive
ra até este ponto. Acompanhando-o amigavelmente de volta para casa, ofe
recendo-lhe guloseimas, tranqüilizando-o naquela manhã sobre sua nová
mãe adotiva, a terapeuta está claramente dizendo: " Eu vou te ajudar”, em
j vez de continuar a dizer: " Eu vou ajudar você a se ajudar." Há uma certa
^diversidade de opiniões quanto a esta ser a melhor técnica. Emest, como
vimos, foi muito acostumado com demonstrações de afeição por parte das
/ pessoas do hospital e, conseqüentemente, espera isto da professora, de ma
neira semelhante ao comportamento dos adultos, ao qual foi acostumado. É
verdade também que as professoras dos primeiros anos escolares são ne
cessariamente consideradas pelas crianças como substitutas das mães, às
(
quais se voltam constantemente, em busca de aprovação e proteção. Conse
qüentemente, pode-se pensar que a atitude protetora da professora-terapeu-
INDEX
ta seja apenas natural e normal. Já a dependência que é criada com isto pre
( cisará ser cuidadosamente manejada, como veremos. Talvez a terapia tives
se prosseguido mais satisfatoriamente, também neste caso, se a criança ti
vesse sido ajudada a assumir suas próprias atitudes, em vez de transferir
( sua responsabilidade para outra pessoa. A terapeuta poderia ter reconheci
do as necessidades do menino com frases como: “Você gostaria que eu ficas
se com você quando vai para a casa destas pessoas desconhecidas.” E se ele
insistisse com a professora para que fosse para casa com ele, ela poderia
responder, de modo compreensivo: “ Eu não vou para casa com você hoje,
mas amanhã eu fico aqui e você pode me contar tudo sobre o que se pas
BOOKS
sou lá .”
Muito pouco — quase nada — ele conseguiu engolir, embora tenha gos
GROUPS
tado muito e falado que era bom comer. A professora refletiu seus comen
tários. Ela encontrou D. R. e conversou com ela cerca de uma hora, depois
que esta afastou Emest, mandando-o brincar lá fora. Sua enfermeira soli
citou que ele fosse à clínica para pesá-lo e examiná-lo.
312
Ele não conseguia comer nada neste dia. Parecia muito perturbado
com todas as coisas e estava indiferente com os outros garotos.
INDEX
houvera na sala de aulas, e que era uma carta a colegas ausentes. Quando
a professora enviou a carta de Emest, incluiu uma dela própria.
"Cara D .F ......... :
Emest entrou na escola e está no primeiro ano. Ele queria escrever
uma carta. Eu a escrevi exatamente como ele a ditou. Esta vai anexa. Ele
é um garotinho muito agradável, caprichoso em seus trabalhos escolares e
tem modos bastante educados.
Se a senhora responder sua carta, ele a receberá no endereço seguin
BOOKS
te: ..........,.. (foi dado o endereço da escola).
Emest mudou-se para uma outra casa a noite passada. Parece estar
gostando de lá. Está começando a tentar comer.
Todas as crianças gostam dele. É um bom menino e tem uma perso
nalidade marcante.
Refere-se à senhora várias vezes. Uma carta da senhora significaria
muito para ele.
Sinceramente,
A professora de Em est."
6 DE OUTUBRO GROUPS
Emest recebeu uma resposta de sua mãe no dia quatro. Ele ficou
depois da aula. A professora aplicou-lhe um Stanford-Binet (Forma L ). Ele
imediatamente reconheceu os testes como de “Q .I., embora não fossem da
mesma espécie” que tinha feito antes. Estava muito ansioso em ser testado
e perguntou à professora se ela não achava que seu Q.I. seria bom. Esta as
segurou-lhe que ela pensava que ele seria bom. Por estranha coincidência,ele
confirmou a marca de 119, a mesma que ele tão animadamente falara. Após
terminar este teste, a professora comunicou-lhe que tinha uma surpresa para
ele. Durante o teste ele estava relaxado, mas quando a professora lhe entre:
313
gou a carta, dizendo que era de sua mãe, ele ficou completamente pertur
bado.
E.: Eu sei disto. Eu sei que minha mãe escreveu para mim. D. E.
contou-me.
(D. R. não sabia nada sobre isto, portanto não podia ter contado a
ele.)
T .: Você está tão alegre que não sabe o que fazer.
E.: Leia.
(Subiu no colo da terapeuta e esta leu a carta para ele. Quando Er-
nest ficava perturbado emocionalmente e tenso, ele cospia muito muco, e
várias vezes durante a leitura da carta ele cuspiu no recipiente preparado
para isto.)
T. (lendo): "Querido filhinho” .
INDEX
E .: Este sou eu! Eu sou o querido filhinho!
T .: Você está contente por ela tê-lo chamado de querido filhinho.
E .: Eu sou o filhinho dela. É porque eu sou um menininho que ela
me chama de querido filhinho. (Desce do colo da professora e cospe.)
T .: Você está excitado por escutar sua mãe e por isto você cospe.
E .: Lê de novo! Desde o começo!
T. (lendo): “Querido filhinho. Estas linhas são para responder a
sua carta, dizendo-lhe do prazer que tive em óuvir de você a notícia de que
BOOKS
você está indo tão bem.”
E.: Eu estou indo bem, não estou? Esta carta é da mamãe para mim.
T .: Você acha que está indo bem. Está feliz em ouvir isto de sua
mão.
E .: Quando eu estiver melhor eu vou para casa. Tenho uns porqui
nhos. Tenho uma vaca também. E um vovô.
T .: Você gostaria de ir para casa e quando você melhorar você po
derá ir para casa.
decidindo-se a arriscar.)
T .:
GROUPS
(Ernest cuspiu novamente. A terapeuta pensa se deveria continuar
com a leitura da carta, uma vez que ele estava tão perturbado. Mas acabou
314
E.: Eu tenho duas irmãs também. Mas eu não conheço elas não.
Quantos anos que elas têm?
T: Eu não sei. Você gostaria de saber mais sobre elas, não?
E.: Eu sou o único menino. Eu não tenho irmãos.
T .: Você é o único filho.
E. (sorrindo): Ünico menino! (Confirmou com a cabeça solenemen
te e puxou a manga do vestido da professora.) Vamcs, continua. Lê mais!
T. (lendo): “Seu cachorrinho também está bom e seus porquinhos
agora são grandes.”
E. (rindo): Agora eu tenho porcos grandes! Meu cachorrinho era
lindo. Bonito cachorrinho. Marronzinho!
T. (lendo): “Nós agora demos uma vaca para sua irmã mais velha
que já vai para a escola. Ela está no terceiro ano. Estou contente por você
INDEX
estar estudando, queridinho... ”
E .: Ela me chama de queridinho!
(O grau de privação afetiva que esta criança sofreu aparece claramen
te em suas respostas durante a leitura da carta. É esta extrema privação,
que poderia ser interpretada por alguns como justificativa para a posição
protetora assumida pela terapeuta. A menos que a terapeuta esteja pronta
para ser uma mãe substituta, com tudo aquilo em que isto implica em ter
mos de contínuo cuidado, a atitude protetora, ao ter que ser abandonada,
causará problemas graves.)
BOOKS
T .: Ela chamou você de queridinho. Você gostou disso.
E. (tornando a abraçar a professora e fechando os olhos): Eu te
nho alguns porquinhos e uma vaca.
T .: S agradável saber que você tem algumas coisas na sua própria
casa.
E .: Eu vou tirar leite da vaca quando eu for para casa. Que mais
que ela diz?
T. (lendo): “Estou contente por você estar estudando, queridinho,
GROUPS
por ser um bom menino, indo para a escola aprender. Você não imagina
como foi bom para sua avd saber que você está indo bem, que você é bom e
aprende a comer e, assim, um dia pode vir para casa.”
E.: Eu vou aprender a comer. Aí então eu vou para casa ver meus
porcos o a vaca.
T .: Você quer aprender a comer para então ir para casa ver os por
cos o a vaca.
E.: Eu vou encontrar eles já grandões! Da que cor que elessão?
T .: Ela não disse. De que cor que você acha que eles são?
315
E .: Não sei. (Rí .) Azuis é qué não são!
T .: Não. Azuis não.
E .: Serão pretos?
T .: Sim. Existem porcòs pretos.
E .: Então são pretos. (Durante esta conversa ele ficou bastante cal
mo. Murmurando.) Que mais que ela disse?
T. (lendo): " ... seja bom e aprenda a comer, de modo que você
possa vír pra casa conosco, queridinho. Eu achei a sua cartinha muito agra
dável e foi ótimo ouvir você falar que está bem e que está comendo tão
bem. Estou alegre por poder dizer a você que vou vê-lo tão logo possa.
Com muito amor da mamãe, um adeus para Ernest.”
E. (ainda muito calmo): Sim. Ela vem mesmo me ver. Ela disse
quo vem.
INDEX
T.: Você está alegre por ela ter dito que viria vê-lo.
(Quando a professora acabou dè ler a carta, Ernest estava completa
mente calmo. Ela rapidamente copiou a carta e incluiu-a em suas notas.)
E.: Quê que você está fazendo? Você está respondendo a carta?
. T .: Não. Eu estou copiando para quando você for respondê-la, eu
possa lê-la outrà vez para você, se você quiser. Você pode levar sua carta
para casa e mostrá-la a D. R. — se quiser.
E.: Eu posso levar ela para casa? (Surpreso.)
BOOKS
T .: Sim. Se você quiser, pode.
E .: Eu.quero. Agora vamos tomar sorvete.
11 DE OUTUBRO
(Durante esta sessão depois da aula, Ernest modelou uma bola de ar
gila durante algum tempo. De repente acercou-se da terapeuta.)
E .: Vamos escrever uma carta para minha mãe.
GROUPS
T .: Você gosta dè receber cartas de sua mãe.
E.: Minha mãe é magrinha,
T .: Tg?
E .: Sim. Magra como um palito.
(É interessante notar a maneira positiva pela qual ele se refere à sua
casa. Na realidade ele nada sabe sobre ela ou sobre seus parentes.)
E.: Pronto? Vamos? Diz: “Querida mamãe. Eu quero tirar leite da
vaca quando eu for para casa,. Eu espero que você tire muito leite da vaca.
Eu quero matar meu porco quando for para casa.” (Para a terapeuta.) Eu
quero isto mesmo. Eu vou pegar uma faca afiada e voü cortar a garganta
á !6
dele. (Pegou uma régua e deu um golpe na mesa.) Eu vou matar o porção!
(Grita e toma-se muito agressivo.)
(Esta é a primeira vez que Ernest expressou uma atitude agressiva
que parece ser dirigida à sua casa. A resposta da terapeuta foi bastante ina
dequada em relação à profundidade e à força do desejo de destruição exi
bido: “Você realmente gostaria de cortar a garganta dele.” Indicaria mais
aceitação e o conduziria a mais outras manifestações de atitude profundas.)
T .: Você quer matar o porco quando chegar em casa.
E. (assentindo com a cabeça, bate na mesa e grita. De repente dei
xa a régua de lado.): Diz: “Quantos anos minha irmãzinha tem agora? Como
você está indo no seu trabalho? Espero que vovô possa logo trazer você pa
ra me visitar.” (Para a professora.) Talvez ele venha também!
T .: Você quer muito ver sua mãe.
INDEX
E.: “Traz um jogo pra mim quando você vier me visitar.”
T .: Você quer que sua mãe traga alguma coisa para você.
E.: Sim. Um jogo qualquer. Eu não tenho nenhum.
T .: Você quer que sua mãe dê alguma coisa a você.
E.: Diz para ela: "Eu tenho bebido refresco de chocolate áqui na es
cola.” (Ditando rapidamente.) “ Comi bolo também. Eu quero que você ve
nha e me veja estudando. Com muito amor para você, vovô e vovó, Ernest.”
(Deu a yolta à mesa e pegou uma caixa de bonecas. Dispôs a m o b í
BOOKS
lia das bonecas e começou a brincar com elas.’ A mãe estava fazendo jan
tar, no fogão. Ela chamou os filhos. Vieram o menino e a menina. Ernest
começou a falar representando cada uma das bonecas.)
Menino: De que é que nós vamos brincar?
Menina: Vamos brincar de passar anel. (Fez as bonecas brincar des
ta form a. Chegou o boneco-irmão.)
Menino-irmão: Vamos brincar de “Ponte de Londres” .
(O brinquedo é muito limitado e formal. O boneco-pai chegou em
casa.)
GROUPS
Pai: Quê que você fez hoje?
Menino: Eu trabalhei muito. Eu assei um bolo.
Pai: Ele ficou bom?
Menino: Sim.
Pai: Onde é que ele está?
Menino: Em cima do fogão. (O “ Pai” vai até o fogão.) Ainda tem
bolo? Hummmm hummm. Bom. Agora vai brincar lá fora. (A mãe pega
a boneca irmã e sai com ela.)
(De repente Ernest jogou uma caixa sobre as bonecas, aprisionan
31 ?
do-as nela.)
E. (gritando): O gigante pegou vocês! Ele vai comer vocês todas.
(Finge ser um gigante e simula comêlas.)
X.: O gigante vai comer a mãe e a irmãzinha.
(Melhor teria sido responder: “Você gostaria de ser o gigante e co
mê-las.” Considerando-se o fato de que Emest tenha exibido forte desejo
de ver sua mãe e era notável sua afeição por ela, é facilmente perceptível
a ambivalência destes sentimentos. Ele é claramente hostil à sua família
que o abandonou e ao mesmo tempo desejoso de viver com eles.)
E .: Presta atenção!
(O boneco-pai mandou que o outro irmão e a outra irmã fossem
para fora. O mesmo aconteceu com eles.) O pai chama: “Emest!”
INDEX
E. (para a professora): Ele está se escondendo. Ele não quer ir lá
atender o pai.
X.: O menino não quer atender o chamado do pai.
E. (suspira): Mas ele tem que atender. Ele é bonzinho. (Muda a
voz para um tom doce.) Pronto, papai?
Pai: Vai ver o que houve com a sua família.
E.: Eu não sei. Eu acho que o gigante comeu ela.
Pai: Oh! O gigante! Meu Deus!
BOOKS
(O “pai” corre para fora e é preso e comido pela caixa de brinquedos.)
E .: Você também, menininho! (O outro garoto, identificado com Er-
nest, é também preso, comido e jogado dentro da caixa, violentamente.,
Emest abandona as bonecas e volta-se para a terapeuta.)
(Parece inteiramente provável que o motivo para esta simbólica
auto-punição e auto-destruição seja conseqüência do não-entendimento
perfeito de suas atitudes agressivas. Portanto, vê-se que a terapeuta não
as aceitou e as explicou convenientemente a ele. Se a hostilidade de Ernest
em relação a sua família tivesse sido evidentemente aceita, é improvável
GROUPS
que ele punisse a si próprio no brinquedo.)
E. (para a terapeuta): Você acha que ainda tem um pouco da soda
que eu bebi dentro de mim?
X.: Você acha que talvez ainda tenha um pouco de soda dentro de
você.
E.: É sim. Eu tenho cada época horrível. Eu não sou capaz de en
golir a comida. Ontem só o café da manhã e o almoço que eu consegui.
Jantar não. Hoje nem o almoço, nem o café da manhã (Pausa.)
X.: Isto desencoraja você. (Pausa.) Você quer me contar esta histó-
da soda?
(Esta ó uma ótima prática de uma conduta não-diretiva que ajuda o
$18
garoto a se libertar de seus sentimentos sobre seu defeito físico. Aqueles
que não estão acostumados à terapia nãodiretiva notarão, com alguma sur
presa, que essa foi a primeira pergunta feita à criança pela terapeuta. E,
porém, uma pergunta generalizada que só enfatiza a permissividade do rela
cionamento. Não há investigação alguma nesta situação, simplesmente
porque a investigação não conduz a nada. A maioria dos terapeutas tende
a sobrecarregar a criança com perguntas, o que a leva apenas a criar defe
sas.) -—
E .: Eu pensei que fosse leite. Estava num copo, ao lado do corre
dor. Veja, eu pensei que era leite, e bom, e bebi. Eu acho que ainda tenho
um pouco dela dentro de mim.
T .: Você pensou que fosse leite e bebeu e fez mal a você. Agora
acha que ainda tem um pouco dentro de você, porque você ainda está
INDEX
doente.
E .: É sim. Ê isto que eu penso. (Pausa. Emesi acercou-se da pro
fessora, infeliz, completamente abatido.)
T .: O quê que o médico disse?
E .: Ele falou que eu não tenho mais nada. Disse que eu posso
engolir e eu engulo mas às vezes não fica.
T .: Algumas vezes o alimento não fica.
E .: É, mas às vezes fica.
BOOKS
T .: Algumas vezes não fica e isto não lhe agrada. As vezes fica e
isto te deixa feliz.
E .: Sim. Nós vamos na-'sorveteria hoje de noite?
T .: Você quer ir na sorveteria.
E .: Sim.
T .: Você acha que vai conseguir engolir?
E.: Eu penso que sim.
(Foram à sorveteria e Emest tomou o sorvete. Tomou todo, sem vo.
GROUPS
mitar nada. A terapeuta esteve bastante atenta a este fato.)
T .: Você falou que pensava que não iria vomitar e isto aconteceu.
E. (olhou-a interrogativamente e concordou com a cabeça, rindo.
Muito confidencialmente.): Eu falei para você que ia conseguir.
18 DE OUTUBRO /
319
garganta se fere e dói muito depois do tratamento. O médico falou qus
possivelmente ele. teria que se submeter a este tratamento até os quinze
anos. A professora foi alertada com antecedência para o problema que
ele teria de enfrentar. Normalmente era ela quem lhe comunicava as noti
cias. Desta vez a enfermeira também contou-lhs. A próxima entrevista foi
arranjada de tal forma que precedesse de um dia o seu tratamento no hos
pital. A terapeuta pensava se Ernést usaria ou não o tempo de terapia para
externar este problema. Ele o fez.
E . ( encammhando-ss para a mesa de pintura e começando a pintar bo
lhas vermelhas num papel): Eu vou para o hospital amanhã, para dilatar a
garganta. ..
T .: Você vai para o hospital amanhã.
INDEX
E.: Garanto que você vai sentir minha falta.
T .: Você sabe que eu vou sentir sua falta.
E.: Sim, você vai. (Bate no papel com o pincel e espalha a tinta.):
Vai doer! Vai doer! Vai doer!
T.: Você acha que vai doer a dilatação da garganta.
E .: Às vezes sai sangue. Olha! (Aponta para o papel, pintado de ver
melho.): Ensanguentado! Igual à minha garganta!
(Não há dúvida quanto a facilidade e a objetividade com que as
crianças fazem uso dos símbolos para revelaT seus sentimentos na ludotera-
BOOKS
pia. A maneira pela qual Ernest usa a tinta vermelha para simbolizar os
seus medos e a dramatização com as bonecas para dar vazão a suas hostt
lidades é tão clara que dispensa comentários.)
T .: Você acha que a sua garganta vai ficar ensanguentada como isto?
E.: Sim. (Deixa de lado o pincel, rasga o papel.) Vou jogar fora!
Quero me ver livre disto.
T.: Você quer ficar livre do sangue no papel.
E.: Sim. (Enfiou com força o papel na cesta de lixo, e pisou por
GROUPS
cima. Pegou uma boneca de papel e esmurrou-a.) Menino mau. Vou te
bater. (Pegou um martelo e martelou a cabeça da boneca. Ela ficou toda
estragada.) Vou machucar a cabeça dela. Vou partir ela no meio. Vou
tirar o sangue dela! (Audaciosamente.)
T .: Você vai tirar sangue na cabeça da boneca.
E. (pegando um revólver): Vou dar um tiro nela. Bang! Bang! Ago
ra eu acertei ela! (Apontando para a- terapeuta.): Bang! Bang! Vou atirar
em você também. Não é de vsrdade, não. É só de mentira. (Acercou-se da
terapeuta e deu-lhe um tapinha na m ão.)
T .: Você se sente como se estivesse atirando em alguém.
E:” (gritando estridentemente): Eu não quero ir para o hospital.
■ T .: Você não quer ir para o hospital. Mas como você tem que ir,
você sente vontade de atirar nos outros. É natural que você se sinta assim.
(Muito freqüentemente as crianças problema, e até mesmo adultos,
sentem uma profunda agressividade contra o mundo, o qual tratou-os tão
cruelmente. Não é surpresa que Ernest, abandonado pela família, freqüente
mente submetido a operações, enfrentando ainda outros exames, sinta-se
tão destrutivo. A resposta da terapeuta neste ponto é excelente. Esta res
posta, provavelmente, poderia ser classificada como interpretação de atitu
des já expressas e, conseqüentemente, poder ser aceita pela criança. É bom
notar que trazer à tona tão claramente tais atitudes, e mostrar uma real acei
tação das mesmas, elimina a necessidade delas serem expressas. Á criança
pode, quase que imediatamente, deixar de ser destrutiva, já que estas atitu
des, agora, são entendidas e aceitas.)
INDEX
E (sorrindo): Bang! Bang! Bang! (Péga o martelo e malha nà bigor
na.) ■
T.: Malhar a bigorna faz você se sentir melhor.
■E. (deixa cair o martelo e chuta-o através da sala. Vem sentar-se ao
lado da terapeuta, coloca as mãos em seu colo.): Agora eu estou cansado.
Vamos passear.
T.: Você quer sair para dar um passeio?
(Eles saem para passear. Ernest fala sobre o hospital. Compram al
BOOKS
guns doces mas ele não os come.)
E.: Eu vou guardar para mais tarde. Eu acho que agora não con
sigo.
T.: Você vai esperar até logo mais, porque você pensa que mais tar
de conseguirá e então vai comê-los.
20 DE OUTUBRO
Ernest esteve ausente apenas um dia. Este contato foi com a intenção
GROUPS
de saber de sua reação à experiência no hospital, se é que houve alguma.
Ernest passou a maior parte deste contato martelando a bigorna e o bebê.
Ria durante todo o tempo.
E.: Éu sou duro de verdade! O médico ficou espantado quando eu
falei para ele que eu estava comendo qualquer coisa e tudo que eu comia
ficava.
T.: Você está bastante feliz com isto.
E.: Sim. O médico disse: “Ah! Isto é história” e eu disse: “ Não!
Não!” E não doeu nem um pouquinho.
T.: O médico ficou alegre também e não doeu nem um pouquinho.
E.: Eu contei a ele que eu comi e retive tudo o que comi porque eu
321
gosto de fazer isto na escola — eu gosto dos meus colegas — eu gosto da
minha professora. Eu gosto de onde eu estou morando agora. (Ri. Pega
as bonecas e as faz dançar em cima da mesa. Canta.) Eu gosto! Eu gosto!
Eu gosto!
( “Eu retive tudo porque eu gosto de fazer isto na escola.” Ernest
tem um bom entendimento dos fundamentos da msdicina psicossomática.
Através deste contato, a satisfação que a criança obteve através de um
ajustamento maduro e corajoso é da maior evidência possível. Não é aci
dentalmente que nesta situação sua canção tenha sido positiva e cheia de
afeto. É também evidente seu afeto pela terapeuta, tanto quanto sua insis
tência para que este sentimento seja recíproco.)
E. (Sai e vai até o corredor beber água. A terapeuta vai com ele.
Há outra professora lá. Ela conversa com ele. Ele responde-lhe amigavel
mente.): Eu vou ficar aqui de noite. D. A. e eu vamos brincar.
INDEX
Outra professora (caçoando com ele): Você vai ficar com ela? Por
quê? Ela ó má!
E. (enfurece-se imediatamente e bate com a cabeça na outra profes
sora, socandoa com os punhos): Não ouse dizer isto. Eu gosto dela! Ela
gosta de mim. (A outra professora sorri e sai. Eles voltam à sala. Emest
pega o revólver.): Eu vou dar um tiro nela. Bang! Bang! Bang!
T .: Você quer atirar nela porque ela disse que eu era má.
E .: Sim. (Corre em volta da sala, finge dar uns tiros, cai sobre uma
cadeira, ri, volta à mesa, assenta-se, joga o revólver para trás, nem olha on
BOOKS
de ele cai, mergulha os dedos na tinta, lambuza o papel.) Eu sou um por-
calhão.
T .: Você gosta de fazer bagunça com a tinta.
(Ernest continua a lambuzar o papel com as mãos. Finalmente vem
atd h terapeuta.)
E .: Eu vou lavar minhas mãos agora. (Sai e lava as mãos. Volta.)
Eu devo mandar outra carta para minha mãe, não devo?
T .: Você quer mandar outra carta, não é?
E .: Sim. Pode amanhã?
GROUPS
T .: Você espera poder enviar-lhe amanhã.
E .: Sim. (Senta-se à mesa, abaixa a cabeça e, sorrindo maliciosamen
te, observa a terapeuta.)
T ,: É hora de ir embora.
E .: Eu quero um sorvete.
(Saem e compram um sorvete. Ele o come todo sem cuspir.)
21 DE OUTUBRO
322
tarde. Não havia visitas para Emest. Durante a tarde as outras crianças
perguntaram-lhe se sua mãe estava lá. Ele replicou: “ Não. Não está.”
Usou a roupa de cow-boy durante toda a tarde, com o coldre e o revólver.
(A terapeuta tinha uma vestimenta de cow-boy do tamanho de Ernest, no
armário. Ernest a tinha encontrado e passado a usá-la durante todo o tem
po que ficava na escola, a partir de 11 de outubro. Esta vestimenta Ioga
tornou-se um indicador de seus. sentimentos. Quando se sentia tenso e des
norteado, tomava-se mais agressivo, vestia-a e brincava de um selvagem
cow-boy, no recreio.) Ao saírem os visitantes ele atirou em todos. A tera
peuta respondeu a isto da seguinte forma: “Você gostaria de atirar nas ou
tras mães porque a sua não está aqui.” Ernest concordou. Quando as ou
tras crianças conversaram sobre suas mães e lhe perguntaram a respeito da
sua, ele apontou a professora e disse: ‘‘Ela é minha mãe. ” As outras crian
ças disseram: “Ela é?” Ernest concordou. “ Sim, então minha mãe está
INDEX
aqui, tão vendo?” Quando os pais dos alunos saíram ele permaneceu para
a sessão terapêutica.
(Emest pegou a mamadeira, encheu-a d’água, mamou nela, gritou
como um bebezinho, tornou-se frágil e com atitudes de bebê.)
T .: Você gosta de brincar de bebê.
E.: Sim. (Estiron-se em duas cadeiras qué ele dispusera em forma
de cama.) O bebê vai dormir.
T .: Psiu. O bebê vai dormir.
E. (fechando os olhos e m a mando. Senta-se.): Olha! Eu estou ma
BOOKS
mando igual a um bebezinho.
T .: As vezes é bom brincar de ser bebê. (Emest finge chorar de
novo.)
(A visita dos outros pais — visível evidência de sua própria privação
— faz Emest expressar todos os seus desejos infantis, os quais são satisfa
toriamente reconhecidos pela terapeuta. Uma resposta mais profunda e
levemente mais interpretativa sobre este ponto poderia ter sido mais pro
veitosa. Por exemplo: “Ver todas as outras crianças com suas mães, faz
você se sentir como um bebê com sua mãe.” )
GROUPS
(Tendo expressado simbolicamente suas atitudes infantis, ele se ex
pressa como se dependesse da terapeuta, solicitando sua atenção e prote
ção. Ela continua com sua atitude protetora, dando-lhe a atenção que ele
necessita e usando a força do relacionamento para trazer-lhe maior maturi
dade no modo de alimentar-se.) ,
(Ernest levanta.se, pega uma boneca e finge comê-la. De repente,
joga-a na sala, deixa de lado a mamadeira e põe-se a olhar para fora.
Chove um pouco.)
E.: Você vai ter que me levar de carro para casa porque está cho
vendo lá fora.
323
T .: Você não quer se molhar.
E .: Se eu me molhar, eu vou ficar doente, e então ficarei triste.
T .: Você não gostaria de adoecer.
E.: Eu teria que ficar em casa, não poderia vir àescola, e eu não
quero isto. Eu quero vir para a escola.
T .: Talvez você queira dar uma voltinha de carro comigo.
E .: É lógico que eu quero. (Dá um risinho e eles vão até o carro.)
T .: Eu gostaria de dar um sorvete a você, mas, como você está no
çarro não vai poder cuspi-lo. Então...
E .: Mas eu não vou ter que cuspir.
T .: Como é que você sabe que não vai ter que cuspir?
E .: Eu sinto que não vou cuspir.
INDEX
T .: O que você faria?
E .: Eu enguliria e veria que não ia cuspir. Isto é importante para
mim, você sabe.
T .: Isto é importante para você, Ernest.
(Eles compram o sorvete, ele o come e não cospe. A terapeuta leva-o
para casa, dando, propositadamente, uma longa volta. Quando Ernest desce
do carro, diz: “Você vê? Enguli tudo. Eu posso decidir que vai ficar, e fica.” )
Neste ponto a terapia estaria quase completa, se não fosse pela inter
BOOKS
rupção gradativa do relacionamento protetor, além das complicações fami
liares que se seguiram.
A partir deste contato tudo o que ele comeu ele enguliu, e não rece
beu mais alimentos suplementares por três semanas — até que foi para
sua casa no dia de Ação de Graças.
27 DE OUTUBRO
GROUPS
do almoço, para que a terapeuta lhe lesse a carta. Não fez interrupção al
guma durante a leitura da mesma, nem deu mostras de perturbação emocio
nal. O contato teve duração menor que os outros. Eis a carta:
“Queridinho,
Estou respondendo sua carta que recebi outro dia e estou contente
em ouvir de você que está indo bem na escola, e que você está desenhando,
e pode tirar leite da vaca quando vier aqui, e ajudar a matar algum anir
mal quando vier. Nós temos muitas galinhas para você cuidar e sua irmã.
zinha está com quatro anos e a mais velha com oito. Ela vai à escola todo
dia, está no terceiro ano. Sua avó disse que está bem e esperando que
você volte para casa. Ernest, seja um bom menino e vá sempre à escola
324
e sua mãe vai aí te ver logo que for possível. Você tem uma ótima pro
fessora. 32 bom que ela escreva para você. Seja um bom menino. Eu vou
te ver no dia de Ação de Graças. Não posso pensar em nada até nos en
contrarmos. Até logo.
Com muito amor de sua mãe."
E. (entusiasmado com a notícia de ir para casa no dia de Ação de
Graças): Ela vai me levar no dia de Ação de Graças! Eu vou para casa!
T.: Você quer ir para casa?
E.: Eu quero matar as galinhas. Eu quero depenar elas. Eu quero
cortar as cabeças delas. Pôr as tripas delas para fora.
T .: Você quer realmente matar aquelas galinhas.
(A carta de sua mãe trouxe à tona tanto seus desejos infantis, como os
mais profundos sentimentos de hostilidade. O que ele disse por último
INDEX
foi dito sem a coragem de revelar exatamente o que ele sentia. Uma res
posta melhor da terapeuta nesta hora teria sido: “ Você quer ir para casa
e quer matar coisas por lá .” A resposta dada deve tê-lo impedido de ex
pressar sua hostilidade mais abertamente.)
E.: Eu quero escrever uma carta para minha mãe. Eu vou matar
todas as galinhas dela. Eu quero mamar. (Pegando a mamadeira.) Está
vendo? Eu sou um bebê. (Chora feito um bebezinho.) Olha quanto eu pos
so beber.
T .: Você gostaria de ser um bebê.
BOOKS
E.: Vamos responder a carta. (Ele começa a ditar.)
“Querida mamãe,
Eu quero matar uma galinha quando eu for para casa e dar comida
para os porcos. Eu estou feliz de saber que minha irmãzinha tem quatro
anos. Eu quero limpar a galinha quando for para casa. Isto vai ser diver
tido. Eu quero arrumar a casa.’'
T .: Você quer mesmo ajudar a sua mãe quando você for para casa
e quer que ela saiba disto.
E. (continuando a ditar): “Estou feliz de saber que minha irmasi
GROUPS
nha está no terceiro ano. Por que ela, de vez em quando, não escreve
uma carta para mim? Diga a vovó que eu espero que ela venha me visitar
também. Espero que a senhora possa jantar comigo no dia de Ação de
Graças. No dia de Natal espero que Papai Noel me traga um trenó. Espe
ro que a família toda possa vir no dia de Natal e jantar comigo também.”
T .: Você quer estar com sua família. Você quer conhecê-los.
E. (ditando): “Eu faço bem os trabalhos da escola. Eu entendo
o que a minha professora fala. Eu tenho um namorado. Ele se chama
Robert. Ele tem quinze anos. Eu tenho uma namorada também. Ela se
chama D .............. (Sua professara de catecismo na escola dominical.) Ela
325
c c ijn nu acuda fin ar. l i xts teaxu. ’ tftae^treaà: ïroœTeieatî taû ta c is ris ci sbxt aÖ
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quí» r d » 2trio. Ui etero; m rix o ixt cesí t V:ih.'
I i :fl» lorlab toa et 11 s c ï ít crt axa Hide « 3 E, (rm ferï i tb'-u, ï i f i i 1 cafe le jra : aa 'mrii Oi
p n narâ e ars ín l i Enst.’ TEfes ses ïlt a il) it).): :j(jd Bb œi Ct:rti x d û
DtÄ-ä Wse eaœ tono. i’lita cs fiejs.] D .ib »1 ítltto !
INDEX
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ôte, Œfa±E 0 t ii e aslea í i$ i leslt bes ie t i ftrt cai s i
Bi cisn c ï «te lie r a 13.
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çuxo :al rto 'i) Vi=n ta;e f^ te ta n fe ,
iC remMæclo c» stieab i Vn .is Â*jçôe>naa ‘ii
an Jjetó’ so irjeuaslE dset^rias e E»bta x dtïsts s
S i xtt sei: Vm-lo p» 3D.s jsijâotfe Grats 3 S a jnd' cco itu Its s^esites peto asasja t abtn 3 »nlir its xs.
cbutn dî te roraa p 0exmo s tee a esm.i. Dees) sta«, (Litte rei cpdarH-e t c ï Elapr»ptia i ceje ce r a i i i i
sam p i í i le já f arm* sVt ci3 et tii tm :i acte 1 : POTS AneEçctfc:! iq p aiï! Kafe e js| t aqaiiií!
ÓE ist i «et et laide « eati, pn disiptr t aseèce :e B at (Sefese x t» . |ua e mû 1 » peps, ffft ® 1er;» ejt'jte pu a
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len 3case p.n fisir e atárx-le; aaœ patu Be stau ad- cujiï;; 21] '1 1 1 ïfe îerrerpùa! S n ^ K n » at x ia
tá 3Lera» üïj a rû rkx pi'i i soí. '0. ató0 mçHl»
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a ra .ib jr; a ç i 3iirpeerfa. >ata I bçeti rei ífaícis
e cise: “ïo, n iù a far Mo. Bi r& çacispr." E É a t S* T. l'oè i;:«:ei; _ra rru ta ra eiiu e itls eiù,
o i Isa srt fiaci 511D mwd á 2ià±i tsolu Œto «'ttidi Is« itiç i’ an r rr.pfe iccii.ecrrt> il
q-« p^ese m â;ln# ncdode i * «sitO tirs; aamerci- .Mes m : emç; esfi eoBia*. ïJ>c;e aids q< s rUiicÿt
latî tiabt ie ;anc >.pui s-da >co^esî:. Bb; t:±sn wted» itiia;m d<me £te, mií atteíra b ict aio :i;ipi uni)-
d ie aiti iiB fci iiiiio oiÉtJ asuaietaaaiL âpata la. inilee "ces <;cce a -is î sal)ila Oibid nb 3ii3S3 spl
d î e n « seil'ios, ùira £trfescc 113 » te esra e tue it f a ) fckee 1» ja!» tälta tia» bt*e, 1eteduis?i< ce ;en-
cztm pj£, 3te. .i îMe30]ii,à cran 3rEt oittn.oiii. ijr 1> i i r t î gltraS3 » cnçeítcert» S o íb rid íriw c T r.e iá ro d
im iï.
vo;ci.» jm t jMîSclm ) aæl. lecmei c !r. :iwl 2toidiiGROUPS
0a.e urpeae; 0 ttsral e i n i ci IM %
325
T .: Você pensa que D.R. e eu só tomamos conta de você porque
é este o nosso serviço e isto faz você sentir-se muito infeliz. Você quer
que nós tomemos conta de você porque você nos pertence e porque nós
gostamos de você.
(Emest encheu a mão de pregos e jogou-os pala sala. Depois chu
tou a caixa. Repentinamente aninhou-se no colo da terapeuta e chorou tão
amargamente quanto podia.)
T .: Desabafe, Ernest. Você está desapontado com a viagem à sua
casa.
(Novamente o esclarecimento dos sentimentos profundos causa o rela
xamento da criança.)
E. (chorando mais forte do que nunca; então, soluçando): Você
INDEX
gosta de mim?
T.: Sim, eu gosto de você, Emest.
(A terapeuta está agora admitindo abertamente seu papel de pro
tetora Seu risco será evidente mais tarde. É um verdadeiro problema
saber se, mesmo nesse momento de profundo desencorajamento por parte
da criança, uma simples reflexão de seus sentimentos não teria sido pre
ferível. A resposta poderia ter sido: “Você está com medo de que sua mãe
I não goste de você e agora quer saber se eu gosto de você.” A terapeuta
\ tenta tranqüilizá-lo, mas a tranquilidade sempre esgota-se por completa fal
BOOKS
ta de eficiência. Os problemas de dúvida e insegurança estão dentro da
criança e não podem ser resolvidos pela terapeuta.)
^ E.: D.R. falou que não gosta mais de mim. Falou que eu não vou
poder continuar morando com ela se eu continuar assim.
T .: Você acha que ela não gosta de você e não quer que você con
tinuo morando lá.
E. (assentindo com a cabeça, vigorosamente. Tenta limpar as lá
grimas.): Você me contou uma mentira.
T .: Eu contei uma mentira? Qual foi ela?
E.:
T .:
E.:
GROUPS
Você me disse que era errado brincar com fósforos.
Bem, isto não é seguro, e como não é seguro é errado fazer.
Mamãe falou que é mentira.
T .: Diga mais sobre isto.
E. (subindo no colo da terapeuta): Sabe o que eu fiz quando eu fui
parr. casa?
T .: Não. O que foi que você fez?
E .: Eu brinquei com fósforos. Eu até fum ei. Eu -acendi o cigarro
da minha mãe pra ela. Foi isso que eu fiz o dia todo. E eu aprendi como
cuspir na lareira sem ficar queimado e nós comemos carne de porco o
328
*
tempo todo e eu não sabia que era tão difícil de mastigar. D.R. cozinha
melhor e eu fiquei descalço. Só em casa, você sabe. Vovó nem podia me
ouvir e minhas irmãs não puderam brincar comigo. Mamãe foi embora e
me deixou e eu voltei sozinho no ônibus. D.R. me levou no ônibus e eu..,
eu... eu ... (De repente, entusiasma-se.) Você devia ter visto meus porcos.
Você sabe chamar um porco?
T .: Eu não sei chamar porco.
E. (rindo): Eu tenho porcos e você não tem nenhum.
T .: Você tem alguma coisa que eu não tenho.
E. (batendo palmas alegremente): Eu tenho meus próprios porcos.
Um dia eu vou matá-los e espalhar suas tripas todas naquele lugar danado.
(R i novamente.)
INDEX
T .: Isto faz você se sentir muito bem.
(O erro mais freqüente da terapeuta neste caso é sua falha em reco
nhecer os sentimentos agressivos tão bem quanto fez no reconhecimento
de outras atitudes negativas, igualmente expressas pela criança. O reconhe
cimento aqui é muito fraco. Alguma resposta como: "Você gostaria de
matá-los bem” poderia ter sido melhor. Note-se também como as atitudes
hostis da criança estão sempre associadas no brinquedo.)
E. (pega a mamadeira e fica mastigando o bico): Olha, bebê de novo!
Bebê com fome!
BOOKS
T. (pegando um tablete de chocolate): Bebê quer um doce?
E. (pega o chocolate e deixa-o de lado. Olha-o desesperado. Sus-
sura.): Eu não posso comer nunca mais. Tudo volta. (As lágrimas rolam
por suas faces.)
T .: Isto faz você ficar muito infeliz, porque não consegue reter na
da que come.
E. (de repente mostra se deprimido, o que é certamente incomum pa
ra uma criança tão nova, e derrama uma torrente de p a la v r a s . Algumas
GROUPS
delas foram perdidas, e não compreendidas. O principal do que disse fo i):
Eu não me importo com o que me acontece. Eu não importo se eu nunca
mais comer novamente. Eu não importo se eu morrer. Eu quero morrer;
Eu espero que eu morra. (Começou a chorar de novo.) Você é a única
pessoa que eu tenho. Eu quero ir para casa com você. Eu quero morar
com você. Eu quero morrer. Eu odeio D. R. Ela é um a’mulher mesqui
nha. Eu odeio ela. (E assim continuou falando, com o rosto no colo da
terapeuta.) Se eu comer eu vou ter que ir para cása e eu não quero ir
para casa.
T .: Você não quer ir para casa e por isso você não está comendo,
(Quando ele, chorando, diz: “ Eu quero ir morar com você”, está exi
gindo, com a lógica direta da criança, que a terapeuta cumpra realmente
329
com a posição de mãe protetora que tomou. Se ela gosta dele, ela deveria
estar querendo levá-lo para viver com ela.
Nesta profunda expressão de todas as suas atitudes desesperadas,
ele revela o mais significativo “insight” que já havia mostrado até agora.
Após a desilusão sofrida com a estadia em casa, ele se apega a seus sinto
mas e incapacidades para tentar manter a pequena segurança que ainda
lho resta.)
(Finalmente a tempestade abrandou se. A terapeuta afirmouJhe que
gostava dele, que D.R. também o amava, e que ela não tinha querido dizer
exatamente aquilo quando disse que não o queria ver nunca mais. Quando
Emest repetiu: “Eu posso vir morar com você?" ela explicou-lhe que ela
não tinha um lar, que ela podia estar com ele depois da escola, mas tentou
INDEX
mostrar-lhe que ele vivia junto dela cinco horas por dia, na escola. Então,
sendo ingênua, anti-científica e sentimental, nesse caso, ela ofereceu-se para
levá-lo até a cidade qualquer dia para ver Papai Noel. Ele imediatamente
iluminou-se, sorriu e disse que ia pedir a Papai Noel para trazer-lhe um
revólver de verdade. Pulou no chão e ajuntou os pregos. A terapeuta levou-o
para casa.)
(O risco de uma conduta protetora é que a terapeuta não pode aten
der a tais exigências. Tendo-lhe assegurado que o amava, ela (muito natu
ralmente) não está querendo viver todas as implicações do papel de mãe.
BOOKS
Ela é pelo menos franca em enfrentar a extensão de seu envolvimento emo
cional na situação, o que ajuda a assegurar um manejo mais adequado do
problema.)
A terapeuta teve uma longa palestra com D .R ., a qual disse que
não pretendia ficar com Emest, a menos que seu comportamento melho
rasse. Disse que ele lhe falava de modo escandaloso — disse que recebia
para tomar conta dele e faria por merecer o dinheiro. Disse ainda que
ele cmpia na lareira e blasfemava. Reclamou contra os horríveis hábitos
que ele possuia e disse que não o manteria com ela a menos que melhorasse
rapidamente. A terapeuta tentou explicar sua reação — contou a D.R. que
GROUPS
Emest falara que ela era melhor cozinheira que sua mãe e rogou-lhe que
o mantivesse com ela para lhe dar tempo e compreensão*. D. R. disse
que atenderia a terapeuta. Quando a terapeuta reconheceu o sentimento de
que D.R. estava desapontada e desanimada pelo fato de Emest ter regre
330
dido, ela concordou e disse que era isto realmente que lhe “ tocava" roas,
uma vez que era uma coisa temporária, então não havia muita importância.
Quando a terapeuta ia saindo, D.R. expressou seu desejo de tentar nova
mente .
INDEX
(Aqui encontramos Emest tentando fazer outro uso neurótico de
seu mal físico. Mais uma vez, o reconhecimento da atitude básica, resolve
o problema superficial e habilita a criança a olhar para seu verdadeiro fim:
— a satisfação que ela ganhava por estes meios.)
T .: Você quer que eu fique preocupada com você, não é?
(Emest ri. As outras crianças estão totalmente alarmadas. A tera
peuta explica-lhes que Emest está somente brincando.)
E.: Eu não consegui amedrontar você, não é?
BOOKS
T .: Você queria me amendrontar, não queria?
E.: Você devia ter visto a minha mãe. Ela ficou apavorada. Eu
gritei: “ Oh! Oh, eu vou morrer!” e ela ficou morrendo de medo. Ele riu
com vontade. A terapeuta supôs que ele tinha usado disso algumas vezes
para vingar-se de sua mãe.
Emest continuava a tosar a roupa de cow.boy na escola. No recreio
ele girava como um louco e atirava em todo mundo. Sua agressão exauriu-
se gradualmente.
6 de DEZEMBRO
GROUPS
A terapeuta e uma amiga levaram Emest a uma loja natalina e a
uma exposição do Papai Noel. Ele parecia quase que completamente opri
mido pelo acontecimento.
Nos dias que se seguiram à visita à sua casa, Ernest esteve mal-humo
rado, agressivo, hostil e deprimido. Usou a roupa de cow-boy continua
mente. Batia os pés quando andava na sala. -Rabiscava seus papéis. Colo
riu tudo com borrões — ora pretos ora vermelhos. Passou a sua hora dè
INDEX
brincar jogando os blocos de armar dentro da caixa. Evitava as outras
crianças. Quando elas se aproximavam dele, empurrava-as para longe. A
terapeuta reconheceu, tanto quanto pôde, a maior parte de seus sentimen
tos. Não houve a mínima pressão para “ colocá-lo nos eixos” . Seus papéis
escolares foram aceitos como expressão de seus sentimentos. (* )
BOOKS
1 d e dezem bro — tom ou apenas um g ole; cuspiu-o todo.
2 d e dezem bro — bebeu m eia g a r r a fa ; cuspiu-a to d a .
GROUPS
9 e 10 de dezem bro — não fo i servido o leite. Ernest perguntou p o r ele e
disse que p re cisa va dele.
10 DE DEZEMBRO
332
recusava a maioria dela. Estava, emagrecendo. Seu comportamento na es
cola era petulante. Queixava-se de estar cansado. Quando ficou depois da
aula, sentou-se à mesa com a cabeça entre as mãos.
T .: Você está cansado.
(Nenhuma resposta. Silêncio. Subitamente pulou fora da mesá, foi
até a caixa de instrumentos musicais e pegou o tambor. Trouxe-o para a
mesa e tocou-o com toda a força que podia. Depois de uns dez minutos
assim, abandonou o tambor e começou a chorar.)
T .: Você está muito infeliz.
E. (concordando): Eu não me importo com o que me acontece.
Talvez eu morra. Espero que eü morra.
T .: Você está desanimado porque não tem sido capaz de comer.
INDEX
(E le chora mais forte do que nunca.) Vá em frente; chorè mesmo Ernest.
Logo você se sentirá melhor.
E. (finalmente olhando para a professora): Eu quero ir morar com
vocO.
T .: Você está chorando porque quer ir morar comigo. E você está
cansado e com fome. (A terapeuta oferece-lhe um doce. Ele come um peda
ço e imediatamente cospe-o. Põe-se novamente a chorar.) Quando você
está aborrecido, assim, não consegue comer nada. Então chora porque fica
muito amargurado.
BOOKS
(Ernest tem enfrentado muitos dos seus próprios problemas. Agora j
toma-se necessário encarar o problema criado pela terapeuta por suá ati- ;
tude protetora. Ela tem reconhecido os sentimentos da criança, mas pela I
primeira vez tenta evitar uma atitude que Ernest expressou. No momento
em que nos tornamos emocionalmente envolvidos comocliente, a agudeza
e o auxílio de nossas respostas tendem a de sair. Esteéum dos mais for
tes argumentos em prol de um relacionamento estritamente não-diretivo, no
qual as atitudes são meramente refletidas ao cliente e o conselheiro não 7
se toma envolvido. Neste exemplo, a tentativa da consslheira de atribuir I
333
de ser algo menos que uma mãe completa. Este reconhecimento tende a
dissolver o sentimento, mas o resíduo é claramente mostrado pelo fato-
do menino ter lançado o livro através da sala no final da estória.)
(Emest toma a mão da terapeuta e muito suavemente dá-lhe mor
didas.)
T .: Você gostaria de me arrancar pedaços. (Ele ri e beija a mão
da terapeuta.) Mas você acha que seria melhor a gente continuar sendo
amigos.
E .: Lê essa estória para mim.
(A terapeuta lê a estória para ele. Ele imita a voz do porquinho e
do lobo. No fim da estória, pega o livro e joga-o através da sala. Pega um
pedaço de giz e rabisca o quadro-negro. Quando o tempo termina, a tera
INDEX
peuta leva-o para casa.)
De 13 até 17 de dezembro Emest bebeu todo o leite na escola, sem
cuspir nada. Havia progressos em suas atitudes e comportamentos. Reco
meçou a fazer seus trabalhos e a brincar com as outras crianças.
Entraram as férias de Natal. Ernest não foi para casa e assim, de
3 a 7 de janeiro, ele teve dificuldade em tomar leite. Bebia somente a me
tade dele, mas retinha o que bebia; Comia doces e sorvetes sem cuspir.
7 DE JANEIRO
BOOKS
Emest ausentou-se durante a metade do dia. Estava novamente depri
mido. Disse: “Talvez eu morra." A terapeuta reconheceu seu sentimento
de depressão e infelicidade.
11DE JANEIRO
GROUPS
agora “sem as amígdalas, e falava rouco como quem está com crupe. ”
D.R. contou à terapeuta que, quando ele estava no hospital, ela tinha
levado para sua casa uma criança de um ano e nove meses, que estava
com um problema de alimentação, e que esse era outro caso de criança
abandonada.
17 DE JANEIRO
334
çou a tagarelar. Assentou-se no chão e disse.):
E. (para a terapeuta): D.R. arranjou um outro menininho enquan
to eu estava no hospital. Não é tão bebezinho assim. Isso não importa
muito.
(A vida continua a castigar essa criança, surpreendendo-a com todos
os tipos de abalos psicológicos, e ainda assim ela mostra uma espantosa
capacidade de assimilá-los no relacionamento terapêutico.)
T.: Você não se importa muito com isso.
E.: Não. Ele tem cabeça dágua. É todo ferido.
T .: Deve ser uma criancinha doente e bonita.
E.: Doente sim, bonita não.
INDEX
(Foi até a caixa de gravuras e escolheu algumas. Tirou todas as
gravuras de bebês que pôde encontrar e picou-as em pedacinhos.)
T .: Você não gosta de que D.R. tenha vim bebê. Você está com
ciúmes dele. (Emest volta-se repentinamente e encara a terapeuta. Rasga
as gravuras que sobraram, pega a mamadeira e asscnta.se com ela.) Você
gostaria de ser o único bebê.
E .: É errado ter ciúmes.
T .: Alguém te disse que é errado ter ciúmes, mas você sente ciúmes
desse bebê assim mesmo.
BOOKS
E .: É vim menininho chato e bobo. Talvez ele nem sobreviva.
(A conduta da conselheira, nesta situação de ciúmes, dificilmente
poderia ser melhor. Note-se que quando esclarece ambas as suas atitudes
contraditórias — que ele odeia o bebê, mas que se sente culpado disso _
ele é capaz de revelar inteiramente seus desejos assassinos.)
T.: Você não quer que D.R. fique com o bebê.
E.: Eu sou o bebê. (Desce da cadeira e põe-se a engatinhar.)
T .: Você gosta de fingir que é um bebê.
E.:
T .: GROUPS
Você vai comprar vim doce pra mim?
Você vai comê-lo? (Ele tinha cuspido o leite todo.)
E.: Eu provavelmente não vou ser capaz de engoli-lo.
T .: Você não acha que é capaz de engoli-lo, então porque quer comê-
lo?
E .: Se eu não comê-lo você comprará outra coisa para eu comer.
Você vai tentar me ajudar em tudo que pode.
("Se eu não comê-lo, você comprará outras coisas para eu comer*
— uma expressão extremamente significativa. Emést descobriu um novo
emprego de seus problemas físicos e o está usando para se apegar à
professora. Isso não teria sido parcialmente evitado, se a terapeuta tives-
335
sg sido menos protetora?
Desde que o problema surgiu, a terapeuta o conduziu bem, reconhe
cendo a necessidade do menino e usando o afeto dele para com ela para
conseguir um comportamento maduro — não um comportamento depen
dente e imaturo. Dessa data em diante, Emest não tinha dificuldades em
comer ou em reter o que comia. Talvez ele estivesse usando sua deficiência
física para se prender à mãe adotiva, médicos e enfermeiras, do mesmo
modo que ele usou para se prenderà terapeuta.)
T .: Você sabe que eu quero ajudar você, mas acha que pode conse
guir que eu dê coisas para você comer, justamente quando tem problemas
para enguli-las.
E. (concordando): Você vai fazer isto.
INDEX
T .: Você sabe que eu quero ajudar você,mas do modo como as
coisas estão eu só posso comprar coisas para comer se você comê-las real
mente .
E .: Só se eu não cuspir?
T .: Só se você não cuspir.
E .: Então eu vou comer tudo.
(Eles compraram um doce, ele o comeu e o reteve todo.)
BOOKS
E .: Você compra um sorvete pra mim? Eu
meu-o e reteve-o todo.)
20 DE JANEIRO
estou com vontade.(Co
Emest bebia todo o seu leite; tomava sorvetes; não cuspia nada.
Seu comportamento está definitivamente melhor. Ele começa a aceitar o
bebú.
GROUPS
E. (na sala de aula): Eu tenho um bebê para tomar conta em casa.
Ele está começando a aprender a sentar. (Em outra ocasião.): Eu sou um
grande ajudante de D.R. Eu ajudo ela com o bebê. Eu entendo isso. (Seus
sentimentos de gostar e de ajudar foram reconhecidos.)
INDEX
De 24 de fevereiro a 6 de março voltou à escola, carinhoso, amigo e
comendo regularmente.
28 DE FEVEREIRO
(Ernest recebeu uma carta de sua mãe e outra de sua irmã. Ele
ficou depois da aula, para ouvi-las.)‘
T. (lendo):
“Querido filhinho,
BOOKS
Escrevo-lhe estas linhas porque estive pensando em você; espero que
ésteja bem. Estivemos todos doentes por aqui desde que você foi embora.'
Vòvô e vovó tiveram gripe e quando eles melhoraram eu e as meninaS’
pegamos sarampo e ficamos muito doentes. (Ernest riu alegremente: “Tive
ram sarampo também” .) mas agora já estamos todos bem, Ernest. Gosta
mos multo dos presentes que nos mandou. Eram muito bonitos. Como
é que você está se alimentando? Está comendo direitinho? Como vão as
coisas? Seja um bom menino, respeite sempre sua professora. Mamãe
irá ver você assim que puder. Mamãe não pode ir tantas vezes quantas;
queria pois não tem dinheiro para a viagem, mas irá sempre que puder.
GROUPS
As meninas mandam dizer um “ alô” por elas, e gostariam muito de te ver,
Ernest. Ainda temos os porcos, as galinhas, a vaca e o cavalo prá você
quando vier para casa. Peça à sua professora que me escreya por você
assim que puder. Com amor da mamãe pro Ernest.
Com amor,
Mamãe.” . 1
E. (dando de ombros): Responderemos algum outro dia.
' T .: Você não quer responder a carta agora.
E.: Não.
T .: Aqui está outra carta. Esta ó de sua irmã.
337
E.: Eu não tenho irmã.
(Como Emest encontra segurança na sua família adotiva, rejeita a
sua própria família como uma fonte de segurança. Isto é provavelmente
um ajustamento realístico à sua situação, a menos que ele seja forçado a
retornar à sua casa.)
T .: Você não se lembra de sua irmã?
E.: Eu não tenho irmã. Mas leia a carta.
T. (lendo):
“Querido irmão,
escrevo para você esperando que você esteja bem. Eu estou bem.
Ernest, perdi duas semanas e três dias de aula por causa do sarampo.
INDEX
Flora Joan está doente agora.’*
E .: Quem é Flora Joan?
T .: Flora Joan é sua outra irmã.
E.: Eu não tenho nenhuma irmã. Eu tenho um irmão.
T .: Você pensa que o menino de D.R. é oseu único irmão.
E .: Eu não tenho nenhuma irmã. Leia o quemais ela fala.
T. (lendo): “Emest, eu espero que você esteja indo bem na escola.
BOOKS
Aqui está chovendo e venta muito. Mamãe passou mal esta noite. Vovô
e vovó te mandam lembranças e desejam -que você ssja um bom menino
e que obedeça à sua professora. Quantas namoradas você arranjou? Eu
tenho cinco namorados, e acho melhor terminar aqui.
de sua irm ã.”
E.: Ela não é minha irmã!
T .: Você não quer que ela seja sua irmã.
E.: Eu arranjei 37 namoradas.
T.:
E.:
T.
GROUPS
Você arranjou mais namoradas que ela.
Que mais ela disse?
(lendo): “Para Ernest com amor.”
E. (muito indiferente às cartas): O bebê está começando a andar
em volta do cercado. Ele não tem nenhuma ferida mais. D. R. disse que
eu sou um ótimo ajudante.
T .: Você prefere falar sobre seu bebê: ’
E .: Nós vamos responder as cartas algum outro dia. (Foi para casa.)
338
Foi para o hospital para sofrer dilatação da garganta, no dia 7 de março.
Houve complicações, devido a um novo anestésico, que resultou em uma fe
bre alta seguida de pneumonia. Sua vida esteve em perigo, sua temperatura
chegou até 40,5 graus, & foram usados balão de oxigênio e tratamento atra
vés de sulfa, no combate à doença que durou dez dias.
14 DE MARÇO
INDEX
vo, ele parecia um pouco amedrontado. Ela disse que achava que a dilata
ção da garganta desta vez tinha sido muito severa è que Emest estava um
pouco temeroso para comer, mas estava comendo. A sonda havia sido reti
rada há 9 semanas. ( * )
20 DE ABRIL
BOOKS
para ficar na escola depois da aula. Seus trabalhos escolares eram satisfa
tórios e seu comportamento completamente aceitável.
Um dia, em abril, quando a terapeuta fez uma visita à sua casa adoti
va ele trouxe muito orgulhosamente o bebê para que ela o visse e demons
trou genuína afeição por ele. D. R. disse que ele era "uma verdadeira aju
da para tomar conta da criança."
GROUPS
pessoa amiga levá-lo à clínica psicológica para o teste. Quando eles passa
ram perto de “seu velho hospital” ele perguntou se era possível irem lá ver
"sua velha casa” .
( * ) — Note-se com o a » conquistas têm sido rea is. A pesar da critica doença, s o fri-
m ento c fraqu eza, cie está ainda rea gin do de acordo com auas bases d e m atu rid ad e que
c ie gradatívom ente a d q u iriu .
339
Emest olhou-a. “Alguém está deitado na minha cama”, disse, imitando um
dos três ursinhos. Então, com voz bastante calma: “ Aqui está o lugar onde
vivi.”
INDEX
postal do leste que ela lhe tinha mandado e contou-lhe que tinha gasto os
50 centavos que ela lhe tinha dado. Ela perguntou-lhe quanto ele gostaria-
que ela lhe mandasse para ele gastar, da próxima vez.; Ele respondeu: “Eu
acho que uns 50 dólares comprariam tudo de que tenho necessidade.” Quan
do ela disse que não tinha tanto dinheiro assim, ele disse que, quando cres
cesse e tivesse um emprego, então ele lhe daria algum dinheiro.
BOOKS
terapeuta: “Vamos, agora."
GROUPS
tatas com molho de carne, espinafre, chocolate, sorvete e bolo. Comeu seu
lanche, mantendo uma palestra bastante madura com as duas sobre as coi
sas que tinha visto. Estava completamente calmo. No fim da refeição, ele
avaliou o preço da mesma e contou o dinheiro que a terapeuta pusera sobre
a mesa. Entregou o chapéu e o casaco à terapeuta. Sorriu. “Aqui”, disse.
“EU menininho. Me ajuda. Veste eles em mim.”
(* ) — Q uando algu ém relacion a-se terapeuticam cnte com çriança, frequentem ente
«urpreende-s© com o uso que ela .9 fa zem de situações p a ra expressar sim bolicam ente o
progrpsso que co n segu iram . Ernest» aqui, eslá obviam ente d izen d o adeus a seu passado
do in va lid ex. - >
34Q
"Às vezes você se comporta como uma criancinha” disse a terapeuta -
enquanto ajudava-o a vestir-se. Ele> deu de ombros e falou: “ à s vezes tam
bém eu gosto de ser grande. Como agora. Deixa eu pagar a conta.” Reco
lheu o dinheiro e pagou no caixa ao sair. Fora, ele disse muito seriamente
"Tive um grande dia hoje. Quando eu entrei para a escola, não podia fazer
isso. Não podia comer. Tinha até uma sonda no estômago. Isto era engra
çado. Gosto assim.” *
No caminho para sua casa ele parou numa loja para gastar os 25 cen
tavos que sua mãe adotiva havia lhe dado. Ele comprou um goma de mas
ca?.
INDEX
tem sido um membro normal das turmas da escola e tem mostrado não
mais necessitar de outros contatos individuais.
BOOKS
retornaria à sua própria casa. Já se relataram anteriormente os contatos
terapêuticos de Emest durante o verão.**
GROUPS
Ele não teve mais dificuldades em alimentar-se e fez progressos satisfatórios
em todas as fases de seu desenvolvimento.
(**) — V e ja & pâg. 167 o rela tó rio de suas sessões de lu dotera pia antes da dilato-,
çã o da garganta, e, & pág. 193 as sessões im ediatam ente posteriores a seu b reve p e riod o
d e h os p ita liza çã o.
341
Notícias de 2 anos após a terapia indicavam que Emest continuava a
progredir satisfatoriamente. Não são mais necessárias as dilatações na gar
ganta.
INDEX
fato de ambas as situações serem bastante semelhantes, ou seja, exigirem
aceitação e permissividade para garantirem à criança o máximo de liberda
de de expressão e de escolha. Esta descrição não se aplica à maioria das
professoras. Se as professoras forem muito autoritárias, haverá uma dife
renciação muito nítida entre as horas de aula e as de contato terapêutico.
Este arranjo às vezes pode ter sucesso, mas as dificuldades são muitas.
BOOKS
Como uma criança com defeito físico faz uso de sua deficiência? Er-
nest mostra-nos isso várias vezes. Usa seu defeito para continuar infantil, e
para desculpar suas falhas em crescer e em assumir responsabilidades. Usa-
o para captar simpatia e afeto; para manejar os outros e para assegurar o
seu próprio futuro. Vemos neste caso muitos dos tipos de uso psicológico
para os quais doentes crônicos projetarão seus defeitos. Vemos aqui tam
bém as origens de várias manifestações neuróticas, cortadas ainda em bo
tão pela inteligente psicoterapeuta. Com tratamento diferente, este meni
GROUPS
no estaria caminhando para ser um inválido permanente.
INDEX
na (transferência) são condições necessárias à terapia, embora o problema
da transferência deva ser resolvido antes que a terapia termine. A tera
pia não-diretiva afirma que tal dependência emocional, quer trazida por ati
vidades protetoras por parte da terapeuta, ou pelo fato desta chamar sobre .
si mesma a responsabilidade do paciente, é um impecilho à cura e que um I
insucesso tem lugar muito mais rapidamente, se durante todo o processo as \
necessidades de dependência do cliente são manejadas do mesmo modo
como o são suas outras necessidades e atitudes, tal como a total assistência, j
necessária para que o cliente possa conscientizar suas atitudes emocionais^/
BOOKS
O caso de Emest não concorda completamente com nenhum desse^
pontos de vista, mas fornece valioso material para discussões. Estes são al4
guns problemas que este caso origina. Outros certamente ocorrerão a cada\
leitor. Talvez a mais relevante contribuição deste caso seja a indicação dos\
resultados que podem ser obtidos, quando a atitude da terapeuta encerra
algo de calor, de completa aceitação de todas as atitudes de permissividade
e de confiança na capacidade do indivíduo em conseguir um ajustamento
uma vez que ele se pode tomar conscientemente aceitador de seu próprio
Intimo. -— '
GROUPS
343
INDEX
BOOKS
GROUPS
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
1.
2.
INDEX
P R IM E IR A P A R T E
Ludoterapia ...................................................................................
... 3
4:
5.
BOOKS
SEGUNDA PARTE
A LUDOTERAPIA NAOJDIRETIVA
SITUAÇÃO E PARTICIPANTES
55
59
6.
GROUPS
Um Participante Indireto: Os Pais(Ou Pais Adotivos) ---------- 63
T E R C E IR A P A R T E
OS PRINCÍPIOS DA LUDOTERAPIA
NÂO-DIRETIVA
INDEX
IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO
;1 Q U IN T A P A R T E
;<
I
(
(
BOOKS
ANOTAÇÕES SOBRE TERAPIAS
,
22.
GROUPS
Combinação da Terapia Individual e de Grupo ............................
23. Uma Professora-Terapeuta Ajuda uma CriançaDefeituosa.............
249
303
(
(
346
INDICE ESPECIFICO
DOS ASSUNTOS TRATADOS
INDEX
Aceitação, 18; e sentimento de culpa, 81; e contato inicial, 83; e terapia de
grupo, 84; e relacionamento entre pais e professores, 147; e professores, 154
Aconselhamento não-diretivo, como uma técnica, 23;
Administrador, Ver Diretor
Adolescente, em situação de sala de aula, 133,134
Adulto, e curiosidade infantil, 21; e tensões da criança, 117,118
Agressão física, e o princípio dos limites, 126
Ajustamento, 12
BOOKS
Aluno, o, contato terapêutico, 131
Ambiente, mudança no, 64,65
Ameaça, em terapia, 83
Anseio interior, 12,16
Ansiedade, exemplificado, 92
Aprovação, 81
Atenção, aumento, 108
Auto-conceito, e auto-realização, 13; conflito interior, 13; de professores, 153
Auto-afirmação, necessidade de, 42
GROUPS
Auto-direção, e permissividade, 86
Auto-estima, 99, 151, 152
Auto-expressão, e educação progressista, 133, 134
Auto-iniciativa, na situação de sala de aula, 138; orientação, 143
Auto-realização, 12, 151
Auto-respeito, 99
Avaliação, 109
Bloqueio, exemplificado, 82
Brinquedo livre, 159
Brinquedos, o papel dos, em ludoterapia, 20; sugestões, 52
Catarse, 137-138
Cliente, centrado no, 21
Cliente, o papel do, 23, 24
i Comportamento, tipos, 12; verbal, 122; destrutivo, 123,124: Ver também
Comportamento desajustado
1 Comportamento desajustado, tipos, 13; definidos, 19
( Concordância versus reflexão, 150
Condenação, 74
( Confiança, na terapia de grupo, 79; na estrutura terapêutica, 99
Conformismo e ajustamento, 99
Contatos, 92
( Contato individual, 98
...........Contatos terapêuticos, 98, 108
1 Contatos terapêuticos, e práticas educacionais, 132, 145
INDEX
Controle, o princípio do respeito, 124
Conselheiro, o papel do, 23,24
( Crescimento, descrição, 10; relacionado à mudança, 118
Criança, a, personalidade, 11,12; papel na ludoterapia, 15; atitude em rela-
( ção ao adulto, 60; e no relacionamento com o terapeuta, 68; papel na terapia
de grupo, 78,79; atitude em relação à permissividade, 86,87,112; e “ indicando
o caminho”, 112,113; sua personalidade, exame, 118; com relação às limita-
, ções, 123. Ver também, Criança-problema, Criança defeituosa.
Criança-defeituosa, 56
( Criança-problema, exemplos, 56,57
BOOKS
( Crítica, 84
Currículo escolar, e o indivíduo, 141,142.
i Decisão, da criança, 15; na situação pai-professor, 150
Desajustamento, explicação, 12; exemplos, 55,56
( Dinâmica, mudança em, 11,21,41
I Diretor, e aceitação do professor,153,154,155
Disciplina, em situação de sala de aula, 142
{ Educação progressista, avaliação, 131
Elogios, na sala de brinquedos, 74
1 Empatia, 118
(
1
GROUPS
Encorajamento, em ludoterapia não-diretiva, 88
Envolvimento emocional, em terapia não-diretiva,61
Equilíbrio, 99
Estabilidade emocional, 15
Estruturação, definição, 68
Estrutura terapêutica, 99
Experiência em grupo, exemplificado, 33 a 37
Flexibilidade, da personalidade, 11
' Frustrações, 117, 118
Independência, e permissividade, 86
‘ Indivíduo, o, necessidades psicológicas do, 10; papel na ludoterapia, 21.
“ Insight”, 88, 92, 97, 109; em situação de sala de aula, 133
348
Integração, e comportamento, 12
Interpretação, 21; explicação, 91, 92; exemplos, 100
Lei da “prontidão”, 117
Livre expressão, em terapia não-diretiva, 133
Limites, razões para, 21; tempo como elemento, 122; consistência dos, 124;
versus pressão, 125; em terapia de grupo, 126; e agressão física, 126, 127;
em situação de sala de aula, 133
Ludoterapia, explicação, 9; definição, 14, 15; papel da, 56
Materiais artísticos, seu uso em terapia, 138
Materiais sugeridos para ludoterapia, 52
Medos, exemplificado, 102
Mudança no comportamento, significado, 99; o papel do terapeuta, 118, 119
Normas sociais, 41, 42
INDEX
Organismo vivo, e personalidade, 10
Orientação não-diretiva, 111
Pais, os, e a criança desajustada, 63, 64; cooperação, 65; no relacionamento
com o professor, 147
Passividade, em terapia não-diretiva, 60; no aluno, 138
Participação e permissividade, 88
Permissividade, 14, 67; como estabelecer, 85, 85; absoluta, 87; no relacio
namento criança-terapeuta, 88; terapia de grupo, 89; atitude da criança
em relação à, 112; escola e professor, 133, 153, 154.
Personalidade, 10, 11, 12; da criança, 11, 118
BOOKS
Pressão, 108, 118; versus limites, 125; na situaçãodoaluno, 135; nasesco
las, 152, 153
Português, matéria escolar, seu valor em terapia, 133, 134, 135
Professor, frustrações, 131; relacionamento com o aluno, 132, 133, 143; o
princípio do reconhecimento, 138; na terapia, 142; símbolo de autoridade,
143; desajustamento, 151; como uma pessoa, 152; problemas, 153; aceita
ção, 154; terapia de grupo, 155.
Psicodrama, 53
“ Rapport”, o, exemplificado, 71; terapia de grupo, 78, 79;participação da
terapeuta, 119; na sala de aula, 132
Realidade, 124.
GROUPS
Reconhecimento, exemplificado, 75; versus interpretação, 91, 92; terapia de
grupo, 97
Reflexão, valor da, 137; no relacionamento pai-profesor, 147, 150.
Rejeição, 132
Reprovação, e ludoterapia, 88
Respeito, 102; na terapia de grupo, 108, 109; e controle da criança, 124
Responsabilidade, na criança, exemplificado, 71, 84, 86; e comportamento
destrutivo, 123
Respostas de comportamento, e hábitos, 11
Rogers, Cari R., 23
Sala de Ludoterapia, a, 15; descrição, 51; materiais, 123
349
Saúde mental, nas escolas, 131, 132; papel da professora, 132, 133; de pro
fessores, 151
Segurança, a sala de brinquedos como expressão de, 15; o princípio dos
limites, 124
Sentimentos (em geral) 88; reconhecimento e reflexão, 96 e 97; negativos,
123
Sentimentos de culpa, 37, 42, 81, 88; prevenção dos, 122, 123
Símbolo, 91; de autoridade, 143
Situação do aluno, 133
Status individual, 19, 20
Técnicas. Ver: Aconselhamento não-diretivo como uma técnica
Técnica de auxílio, 86
Tensões, em terapia de grupo, 78, 79, 88; adulto e criança, 118; experiência
INDEX
de crescimento, 124; numa situação de sala-de-aula, 135
Teorias sobre a estrutura da personalidae, 9, 10
Terapeuta, papel do, 9, 16, 53; requisitos no relacionamento não-diretivo, 59;
atitudes básicas no relacionamento não-diretivo, 59, 60; passividade, 60;
relacionamento com a criança, 68; papel na terapia de grupo, 78; como
“espelho”, 112
Terapeuta-professora, a, na situação de sala de aula, 133
Terapia — Ver: Terapia não-diretiva, Terapia individual. Terapia de grupo,
criança; Terapia simultânea
BOOKS
Terapia autodiretiva, 23
Terapia centrada na criança, 37
Terapia escolhida pela criança, 37
Terapia individual, 22, 23; aceitação em, 84.
Terapia na sala de aula, limitações, 142, 143
Terapia não-diretiva, 14, 20; princípios básicos, 67, 68; na situação de sala-
de-aula, 133
Terapia simultânea, 64
Verbalização, 193, 196
CASOS
350
Delbert, 97
Dick, 254-259
Dickie, 159-163.
Dibs, 21, 22
Edith, 179-181, 183
Edna, 186 191, 254-259, 261-264, 269-273, 277-301.
Ema, 5, 6, 7, 13, 14, 64, 249-301
Ernest, 138-141, 167-172, 193-202, 303-343
Herby, 17
Jack, 93 a 96, 141, 191, 192, 255, 258, 259
Jane, 185
Jean, 37, 41, 42, 43, 45, 81, 82, 83
Jean, quatro anos de idade, 174 a 179, 182, 183
Jerry, 102 a 108
INDEX
Jim, 126, 127
Jimmy, 132, 136
Joann, 166, 167, 182
Joe, 38 a 43, 141
Joey, 136
-Tolm, 135, 136
Johnny, 71 a 73
Lynn, 137, 138
Martha, 38 a 41, 43 a 45
Mike, 137
BOOKS
Oscar, 74 a 77
Philip, 191, 192, 255 a 257
Richard, 112, a 115, 191, 192
Robert, 147 a 150
Sarah, 186 a 191
Saul, 193 a 208
Sharon, 185, 254 a 258, 261 a 263, 269 a 273, 277 a 300
Shiela, 163, 164, 182
Shirley, 165
Shirley-Ann, 254 a 258, 261 a 263, 269 a 273, 277 a 300
Sylvia, 173, 174
Theda, 38, 41, 44 GROUPS
Timmy, 6, 7, 13, 14, 64, 193 a 227, 234 a 246
Tom, 3, 4, 7, 13, 14, 16 a 48, 63, 64
Tommy, 139, 140, 255 a 258
comprou uma aquarela para mim há duas semanas.”
T .: Você gosta de Robert e de D ...........
E. (concordando): “Eu quero ganhar um relógio de Mickey-Mouse
no Natal. Eu já sei ler vim pouquinho agora. Minha professora me dá sor
vete todo dia. Minha professora tem muitos brinquedos para a gente brin
car com eles. Passar o dia na escola é muito bom. Eu às vezes uso uma
roupa de cow-boy na escola. (Para a terapsuta.) Deus! Eu sinto falta de
minha mãe. Ela é magra como um lápis. Escreve: “Eu brinco na escola.
Eu usei uma máscara engraçada na véspera de Todos os Santos e uma roupa
de cow-boy. Eu pinto gravuras na escola. Eu me divirto na escola
quando trabalho e brinco. Nós estamos construindo uma casa de brincar.'
Eu bebo chocolate com leite na "escola. Eu como muito bem. Muito amor
para mamãe e minha família. Emest.”
INDEX
(Quando ele acabou de ditar esta estranha carta, pegou a mama
deira, retirou-lhe o bico e bebeu a água. Desta vez ele foi para casa sozi
nho. Era meio.dia. Não pediu sorvete nem doces. Estava muito feliz
quando foi embora.)
Sua mãe veio buscá-lo para o Dia de Ação de Graças. O fiscal provi
denciou de tal forma que o encontro se desse na escola. Emest estava
ansioso pela sua chegada. A terapeuta sabia que ela não chegaria antes
BOOKS
de duas e meia da tarde, e, então, para dissipar a ansiedade de Emest,
levou a classe para passear e mostrar-lhes alguns perus. Ele estava exci
tado e nervoso. Uma vez, após voltar para a escola, foi até o recipiente
arranjado para cuspir e surpreendeu o olhar da terapeuta nele. Afastou-se
e disse: “Não, eu não vou fazer isto. Eu não vou cuspir.” Realmente não
o fez. (A classe estava fazendo ensaios musicais da bandinha escolar,
que parece ser um ótimo modo de aliviar tensões.) Emest era um exce
lente tocador de tambor e jamais perdia o compasso. Eles tinham acabado
de executar uma peça quando o fiscal e sua mãe bateram à porta. Uma
das crianças atendeu-os, chamou a professora, que os fez entrar e trouxe
GROUPS
cadeiras para eles. A professora não chamou Emest; continuou a agir de
maneira não-diretiva, o que surpreendeu o fiscal e a mãe de Ernest. Ela
voltou ao piano e Ernest olhou o casal. Reconheceu o Sr. fiscal e concluiu
que a estranha deveria ser sua mãe. Acabou deixando de lado o tambor
e, caminhando até a mulher, cumprimentou-a com um aperto de mão e
disse: “Minha mãe, eu suponho?” Ela não o beijou; olhava-o completamen
te confusa. Ele permaneceu ao lado dela por alguns minutos e ela colocou
seu braço em tomo dele bastante cautelosa. Ele então voltou ao grupo.
326
logicamente treinado, provavelmente teria tirado das mãos da criança a difi
culdade da situação. Ela deixou a situação por sua conta, o que propiciou
resultados muito construtivos e dramáticos. O modo pelo qual Ernest
se saiu sd pode ser comparado com “Dr. Livingstone, eu suponho?” profe
rido por Stanley.)
Ernest foi para casa com sua mãe e ficou para o fim de semana.
De acordo com o que relatou, sua mãe ficou fora todo o sábado e ele foi
posto no ônibus por um vizinho, voltando sozinho à escola.
INDEX
Danem-se! Vê se eu me importo. (Chuta os pregos.) Eu não vou apanhá-los!
Eu quero que eles fiquem lá.
T .: Você está muito sentido. Você quer fazer as coisas com raiva.
Vá em frente. Aja desta maneira.
(O reconhecimento do sentimento é bom. As instruções como “vá
em frente!” são completamente desnecessárias e poderiam ser danosas se
continuadas. Tais sugestões podem encorajar a criança a revelar suas hos
tilidades mais rapidamente do que ela própria é capaz de assimilar.)
E.: Pregos! Amaldiçoados! Preguinhos! Mamãe e papai preguinhos!
BOOKS
(Senta-se no chão, passa a rimo nos pregos, pega um torto e joga-o para a
terapeuta. R i.) Olha este sem-vergonha! Sem-vergonha como eu nunca vi
igual.
T .: Você aprendeu umas novas palavras e quer exibi-las aqui.
(Belo controle dessa situação com um simples reconhecimento das
atitudes que a criança está expressando. Note-se ainda que a clarificação
satisfatória de uma atitude, numa atmosfera de aceitação, dissipa imedia
tamente a necessidade de expressão simbólica. O mesmo raciocínio se apli
ca para o fato de que, sendo aceita a catarse, isto é, a exteriorização de sen
GROUPS
timentos, altera-se o comportamento. Se o leitor voltar aos comentários da
página 308, verá como a mãe adotiva fazia uso de um comportamento seme
lhante de modo a fazê-lo piorar.
E.: D .R. teve um ataque. Ela fala que eu vou para o inferno.
Foram palavras perversas.
T .: D. R. fala que elas são palavras perversas, mas você ainda
gosta de usá-las.
E .: Sim. Minha mãe disse que D .R. não tinha nenhuma energia
comigo. Ela disse que D .R. ganha para tomar conta de mim. E que você
também ganha para tomar conta de mim. Que você só faz seu serviço.
Você vai tomar conta de mim.
327
L IB E R D A D E P A R A A P R E N D E R reune todos os pensa-
lentos de R ogers sôbre o processo d a aprendizagem em edu
cação .
R ogers afirm a que os estudantes aprendem realmente
divertem-se durante esta aprendizagem, quando o professor
<facilitador de aprendizagem ) fixa um ambiente que encoraje
_ sua participação responsável na seleção de metas e nas
'aneiras de alcançá-las.
M ostra com o três pessoas diferentes, trabalhando em
INDEX
w-ês níveis diferentes de ensino, descobriram m aneiras dife-
ntes de proporcionarem a seus alunos, liberdade p ara apren
der, e apresenta consequências interessantes dêstes esforços.
Descreve as atitudes em direção ás quais o "facilitad or"
v , aprendizagem deve crescer, a fim de ter sucesso e sugere
’"é to d o s práticos para desenvolver estas atitudes.
Apresenta, depois, algumas das suposições e convie
r e s sôbre as quais baseia todo o seu “approach", incluindo
BOOKS
• 'lia s teóricas sôbre o processo de aprendizagem . Parte daí
para atacar os problem as de valores e o significado de “liber-
L._de” no m undo m oderno.
Finalmente, êle descreve um plano prático p ara pro-
d” ^ir m udanças drásticas, mas auto-dirigidas, num sistema
educacional.
GROUPS
Colum bia U niversity) é membro permanente do “Center fo r
í idies of the P erso n ”, de L a Jola, Califórnia. Foi, anterior
mente, m em bro do “W estern Behavioral Sciences Institute”
e. j m em bro prem iado da “American Psychological Associa
te' n ” . Entre seus livros, destacam-se "O n Becoming a P erson ”
e “M an and the Sciences of M an ’’ .