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RELATÓRIO

Disciplina: Estágio Básico I Semestre: 2022/01


Professor (a): Lisiane Thompson Flores Período: 5° período
Aluno: Erik Victor Cavalcante de Almeida Turma: A

O presente relatório é referente a simulação que foi realizada no dia


22/04/2022. Tendo uma duração de aproximadamente 15 minutos, a entrevista
inicial simulada foi conduzida por um aluno, assumindo o papel de estagiário de
psicologia, que deveria desenvolver um primeiro contato com um cliente. A
simulação ocorreu no laboratório do centro universitário FAMETRO.

Celso Chaves tem 21 anos, é formado em psicologia e está cursando uma


pós-graduação em fisioterapia. O cliente atualmente reside junto com sua mãe,
esposa e filha. Foi à terapia queixando-se de não estar conseguindo dormir e de
estar muito angustiado.

Em um primeiro momento, o cliente, que estava usando uma vestimenta


casual, foi direcionado até a porta da sala onde o aluno que ocupava o papel de
estagiário de psicologia o convidou para entrar. Ao entrar na sala o cliente foi
solicitado a se sentar. Ele então seguiu em direção a cadeira, não aparentando um
nível de ansiedade elevado. A entrevista logo foi iniciada com a apresentação do
profissional e com a coleta de algumas informações pessoais do cliente tais como
nome, idade e relações familiares. O cliente foi questionado se estudava e
respondeu que se formou em psicologia e que atualmente está fazendo uma pós-
graduação em fisioterapia, relatou que tem uma esposa, uma filha e que reside junto
com as duas e sua mãe. Em seguida o estagiário afirmou que iria começar com
perguntas iniciais e que posteriormente faria perguntas mais específicas.

Ao ser questionado sobre o que o fez ir buscar terapia, o cliente relatou que
não estava conseguindo dormir, além de estar se sentido muito angustiado desde
quando sua mãe sofreu um acidente vascular encefálico (AVE) e que, por conta das
limitações advindas do AVE, deve prestar cuidados a ela. Também informou que já
havia se sentido muito angustiado por volta dos 16 ou 17 anos de idade e que fez
um acompanhamento com psiquiatra que receitou algumas medicações. Após algum
tempo de uso das medicações, segundo relato de Celso, decidiu interromper o
tratamento medicamentoso por não se sentir bem, alegando também que sua
esposa o aconselhava a buscar ajuda espiritual; buscar Deus, no entanto, disse que
já havia buscado auxilio religioso durante sua vida o que não o fez se sentir melhor.
Seguidamente, o cliente pergunta o que o estagiário pensa sobre essa questão e o
profissional então responde que, caso o cliente tenha fé, ele pode se ajudar e que
não poderá fazer alguma coisa se ele não quiser “mudar isso”.

O estagiário então fez uma série de questionamentos a respeito de outras


atividades que o cliente realizava, sobre a ocupação profissional, além de perguntar
sobre sua relação familiar. O cliente relatou que estava trabalhando em uma
empresa, todavia disse que estava "quase fora", no entanto não poderia deixar o
emprego, pois isso resultaria na perda de sua renda o que faria com que ele não
tivesse mais condições de prover sustento para sua família e, após ser perguntado
se tinha amigos, afirmou não ter ninguém muito próximo. Foi respondido pelo cliente,
quanto a sua relação familiar, que sempre foi esteve muito próximo de sua mãe e
afirmou que não teve contato com seu pai desde muito cedo, contudo falou
brevemente sobre isso, não apresentando muitas informações a respeito do que
causou o distanciamento do pai, nem em que momento exatamente isso ocorreu.

O cliente relatava se sentir muito ansioso e que precisa assumir o "papel de


homem", porém disse que isso tudo era muito difícil, que tinha que cumprir com
muitas obrigações e isso o fazia sentir vontade de "jogar tudo pro ar", nesse
momento o cliente esfregou as mãos em seu rosto e depois as posicionou sobre a
mesa, curvando de forma acentuada seu corpo. O estagiário questionou se ele tinha
mais alguma coisa para dizer, então o cliente afirmou que já havia dito tudo e
perguntou para o estagiário se ele teria mais alguma questão para levantar. Em
seguida, o estagiário seguiu pontuando que seria bom que o cliente utilizasse de sua
fé ao seu favor e que continuasse com a terapia, se comprometendo com sua
melhora. A entrevista clínica inicial foi encerrada com o estagiário indicando que,
caso fosse do interesse do cliente, ele poderia agendar o retorno.

Durante a entrevista foi possível identificar um mecanismo de defesa, a


repressão. Segundo Roudinesco e Plon (1998, p. 659) “[...] a repressão é uma
operação psíquica que tende a suprimir conscientemente uma ideia ou um afeto cujo
conteúdo é desagradável”. Esse mecanismo de defesa foi identificado com base no
relato breve e sem muitos detalhes a respeito da relação do cliente com seu pai.
Além desse ponto, foi possível observar repetições ou uma sequência de relatos no
que se refere ao conteúdo associado a religião, sempre demonstrando que sua
esposa o impele a buscar ajuda espiritual em detrimento de outras possibilidades de
auxilio. Essa observação implica em um possível recalcamento, isto é, um
mecanismo que visa manter no inconsciente tudo aquilo ligado a pulsão, cuja sua
realização para obtenção do prazer resultaria num desiquilíbrio do funcionamento
psíquico, produzindo sofrimento (ROUDINESCO; PLON, 1998).

O cliente apresenta características de neurose de angústia que, segundo


Zimerman (1999, p. 198) “A neurose de angústia consiste em um transtorno clínico
que se manifesta por meio de uma angústia livre, quer sob uma forma permanente,
quer pelo surgimento em momentos de crise”. Fundamentando-se no relato do
cliente, nota-se a queixa de uma angústia que o fez ir buscar terapia e que
apresentou uma experiência similar por volta dos 16 ou 17 anos de idade. Apresenta
um medo de não dar conta de suas obrigações e de não estar assumindo o “papel
de homem”.

Celso apresentou uma postura mais retraído, uma voz com projeção limitada,
com um tom de voz baixo, demonstrando muitos gestos rígidos ao falar sobre as
responsabilidades. Além disso, em um dado momento, o cliente apresentou ideação
suicida durante a entrevista, ao relatar que sentia vontade de “jogar tudo pro ar”. O
cliente relatou ter dificuldade para dormir, evidenciando alteração do sono. Esse
conjunto de características estão associados aos transtornos de ansiedade descritos
no DSM-V (American Psychiatric Association, 2013), no entanto existe uma carência
de informações sobre a condição do que o cliente nomeou de “angústia”, isto é, não
há uma descrição clara sobre essa queixa levantada pelo cliente e não houve uma
solicitação por parte do estagiário para que fosse possível operacionalizar esse
termo.

Quanto a postura do estagiário no decorrer da entrevista, foi possível


observar uma pobreza de habilidades que o permitiriam conduzir a entrevista de
uma forma mais adequada, a falta da operacionalização supracitada reflete essa
questão. A entrevista teve um início satisfatório, com algumas perguntas fechadas
para coletar dados pessoais e seguindo para elaboração da pergunta propiciatória,
ou seja, a pergunta que visa levantar ou especificar a queixa inicial. Nesse primeiro
momento é possível notar um equívoco por parte do estagiário que não estimulou o
cliente a falar mais sobre sua queixa em um momento em que deveria dar mais
liberdade para que o cliente exponha suas questões de modo espontâneo, evitando
perguntas mais diretivas e, principalmente, perguntas sem objetivos claros.

Foi observado que não foi solicitado esclarecimentos, complementações ou


exemplos para que ficasse claro aquilo que estava sendo relatado e também para
incitar o cliente a expor com mais abertura sua queixa. Desse modo, o estagiário
não fez bom proveito das informações, deixando de lado muitos conteúdos que
poderiam trazer uma especificidade maior a medida em que a entrevista fosse
ocorrendo. Além disso, em determinado momento, ficou evidente uma questão que
poderia induzir o cliente. Ao relatar que sua esposa falava que ele deveria buscar
ajuda espiritual, o cliente questiona o estagiário e este responde de forma
inapropriada com um tom autoritário, isto é, não dando espaço para que o cliente
relatasse a sua percepção a respeito do tema levantado. Isso poderia ter sido
evitado devolvendo a questão para o cliente, desse modo, ele diria o que sente em
relação a temática e daria mais detalhes ao estagiário.

Ainda sobre formulação de perguntas e seu conteúdo, o estagiário fez várias


perguntas ao cliente (dando uma impressão de inquérito), sem objetivos e, por
muitas vezes, sem ao menos estar em contato com aquilo que foi apresentado pelo
cliente o que denota uma falta de habilidade empática.

As habilidades empáticas referem-se as práticas de maior abertura do


terapeuta frente as demandas, queixas ou colocações do cliente, estando
interessado, apresentando sinceridade, genuinidade e compreensão (SILVARES;
GONGORA, 1998). Sendo esta habilidade muito importante para o desenvolvimento
da entrevista e para o estabelecimento de um bom rapport, fica claro que o não
desenvolvimento dessa habilidade por parte do estagiário prejudicou muito o
andamento da entrevista.

Outro fator fundamental é o controle da entrevista que segundo Garret (1974


apud SILVARES; GONGORA, 1998) “[...] em qualquer circunstância, a direção da
entrevista cabe ao terapeuta”. Em muitos momentos, por estar aparentemente
inseguro, o estagiário perdeu o domínio da entrevista, se tornando passivo a alguns
questionamentos do cliente, parecendo que houve uma inversão de papéis. Isso
pode ser notado um momento em que o estagiário faz uma pergunta totalmente
vaga ao cliente, o que faz com que o cliente pergunte para o estagiário se ele
gostaria de fazer mais alguma pergunta (talvez demonstrando uma insatisfação
parente a quantidade excessiva de questionamentos). Houve também uma perda do
fluxo de interação entre os dois, justamente pela falta de atenção do estagiário para
as questões levantadas pelo cliente. Não teve manejo adequado das informações
(como já mencionado neste relatório) o que fez com que se perdesse a sequência
dos relatos do cliente.

O ponto principal que demonstra seguramente a falta de algumas habilidades


que já foram citadas no presente relatório (e.g., habilidades de perguntar, empáticas,
de controle) foi o encerramento precoce da entrevista. Esse movimento
impossibilitou, evidentemente, a coleta das informações e, principalmente, o
acolhimento e a escuta apropriadas. Não foi possível o estabelecimento de uma boa
relação cliente-terapeuta o que pode dificultar no retorno do mesmo; não foi possível
identificar a natureza do problema apresentado na queixa; teve uma iniciativa
precipitada de dar conselho ao cliente. Em resumo, existem muitas habilidades a
serem desenvolvidas, mas esse primeiro contato permitiu estabelecer uma linha de
base, isto é, um parâmetro que dê margem para se aprender tais habilidades.
REFERÊNCIAS

ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel, Dicionário de Psicanálise. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

SILVARES, Edwiges Ferreira de Mattos; GONGORA, M A N. Psicologia clínica


comportamental: a inserção da entrevista com adultos e crianças. [S.l: s.n.], 1998.

ZIMERMAN, D. Fundamentos Psicanalíticos. Porto Alegre: Artmed, 1999.

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