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VII — INTERPRETAÇÃO

Como já foi dito anteriormente, as instruções do teste colocam o indivíduo numa situação
hipotética, fantasiada.

O entrevistador o convida a uma atividade lúdica, a penetrar em uma zona transacional que não
é uma realidade psíquica interna, porém tampouco é o mundo exterior; daí, temos o “como se”
do jogo. Pede-se que abandone sua identidade para se identificar com novos objetos e que
justifique suas escolhas.

De algum modo, cada escolha equivale a um sonho, ou fantasia diurna induzida. É uma
atividade regida pelo processo secundário, cuja origem é inconsciente e integra aspectos desse
sistema, vendo-se submetida aos mecanismos de condensação e deslocamento. Seu status é
assim similar ao do sonho, a piada ou ao ato falho.

Cada símbolo desiderativo tem um significado próprio universal e um individual, único para cada
pessoa. Este último
só pode ser compreendido através de racionalização e justificativas promovidas na segunda
parte das instruções: o porquê.

É nessa parte que se encontra a especificidade do símbolo escolhido, que deve ser interpretado
comparando-se o
significado universal do símbolo com o pessoal ou individual.

É esperado, também, que o sujeito expresse tanto nas respostas ou catexes positivas como nas
negativas uma resposta ou símbolo pertencentes a cada um dos 3 reinos: animal, vegetal

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e inanimado. Em cada escolha e em cada rejeição desiderativa, faz-se presente um complexo


processo de seleção inconsciente de vínculos e aspectos valorizados e rejeitados. Isso
acontece na procura, no mundo interno, de objetos da realidade, capazes de representá-los.
Buscam-se, assim (respostas nos 3 reinos), símbolos que contenham em si, seja por suas
características plásticas reais ou pelo sentido que adquiriu culturalmente, a identificação
projetiva de vínculos e funções selecionados.
A resposta desiderativa é, portanto, produto desse complexo processo interno e, nesse sentido,
quanto maior a possibilidade de diversidade de símbolos (3 reinos), mais rico o material a ser
avaliado.
A verbalização das escolhas ou catexes positivas vai nos fornecer informação sobre:
— fantasias inconscientes de defesas;
— pontos de fixação libidinal;
— identificação superegóicas etc.
As rejeições ou catexes negativas revelam:
— medos;
— ansiedades diante de impulsos (libidinais; agressivos)
— exigências do id etc.
Através da análise dos símbolos ou fantasias desiderativas (positivos e negativos), podemos
levantar:
— funcionamento dos mecanismos de defesa;
— identidade psicossexual;
— esquema corporal etc.

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Num protocolo, podemos ter, então, respostas adequadas ou não, nas diferentes catexes.
Quando temos respostas adequadas nas catexes positivas e negativas, podemos dizer que se
trata de uma estrutura que pode funcionar de forma adaptativa tanto em nível de defesas, como
de autoconhecimento de seus conflitos. Indicaria uma personalidade “normal” ou com
transtornos leves.

Quando as respostas positivas são adequadas e as negativas são fracassos ou confusas, isso
indicaria que o sujeito mantém as defesas de forma adaptada, mas na base de importante
dissociação que o impede de ter contato com seus aspectos conflitivos. Isso pode também estar
relacionado com a pouca capacidade de insght e escassa reflexão.

No caso de haver fracasso ou confusão nas respostas positivas e adequação nas negativas,
isso pode acontecer pelo aumento importante de ansiedade no início da prova, que o impeça de
organizar-se para dar as primeiras respostas. Se, em seguida, melhora, dando boas catexes
negativas, isso pode ter a ver com um bom rapport e com o “esquentamento” das positivas, que
permitiu efetuar uma aprendizagem e recuperar a instrumentalização das defesas perdidas no
primeiro momento, e assim pode reestruturar-se e responder num segundo momento.

Decorre disso tudo a importância de se obter o maior número de dados possíveis (verbais ou
comportamentais), na aplicação do teste. Ressalta-se, também, a necessidade de um bom
levantamento de informação sobre o sujeito (sua história familiar, situação de vida atual, motivo
de consulta, aparência, comportamento etc.), pois só assim podemos fazer uma

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interpretação que espelhe mais fidedignamente a estrutura e a dinâmica da pessoa.

A. REFERENCIAL TEÓRICO PARA INTERPRETAÇÃO

Antes de passarmos para a interpretação propriamente dita, creio ser necessária a retomada de
alguns poucos conceitos básicos sobre, a teoria psicanalítica, sobre a qual toda interpretação
está sustentada.

ESTRUTURA DE PERSONALIDADE

Para Freud, a personalidade é composta de 3 grandes sistemas: o id, o ego e o superego.


Embora cada um deles tenha suas próprias funções, propriedades componentes, princípios
operantes, dinamismos e mecanismos, atuam um sobre o outro tão estritamente que é difícil
detectar e destacar seus efeitos e determinar a contribuição de cada um para o comportamento
humano.
O comportamento é quase sempre resultado da interação desses 3 sistemas; raramente um
funciona com exclusão dos demais.
Para podermos avaliar a estrutura de personalidade, vamos primeiro compreender os sistemas
que a compõe.

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Id

—É o componente biológico da personalidade.

—Sistema original da personalidade; matriz de onde se diferenciam o ego e superego.

—Consiste em tudo o que é psicologicamente herdado e está presente desde o nascimento,


inclusive os instintos.

—Reservatório de energia física. Tem estreita relação com corpo físico e de onde retira sua
própria energia.

—Representa o mundo interno e a experiência subjetiva;

—Não tolera energias muito intensas e atua no sentido de descarregar tensão. Age sob o
princípio do prazer.

Para evitar a dor e obter prazer, dispõe de 2 processos:

1) Ação Reflexa — reação automática e inata (como piscar e espirrar). Geralmente, reduzem
imediatamente a tensão.

2) Processo Primário — tenta descarregar a tensão formando a imagem de um objetivo que


removerá a tensão. Ex.: Com “fome”, cria-se a imagem mental da comida que pode satisfazer
temporariamente a satisfação do desejo. Para Freud, o melhor exemplo disso são os sonhos,
que representam sempre a satisfação ou tentativa de satisfação de desejos.

Essas imagens mentais desejadas são a única realidade que o id conhece.

Dentro do desiderativo, obtemos os seguintes dados sobre o id:

— Impulsos de vida e morte e grau de angustia.


— Fusão ou desagregação dos impulsos libidinais e agressivos (qualidade e direção dos
agressivos ante ao mundo objetal

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ou o próprio ego) com relação aos pontos de fixação: oral, anal, uretal e fálico.
— Distribuição da libido.

Ego

— É o componente psicológico da personalidade.


— Existe porque a necessidade do organismo requer adequação para a realidade.
— Faz distinção entre as coisas da mente e as do mundo exterior.
— Obedece ao princípio da realidade — opera no processo secundário — e suspende
temporariamente o princípio do prazer, porque procura encontrar o objeto do prazer e, assim, a
tensão fica reduzida. Quer certificar-se de que a experiência é real ou falsa, isto é, tem
existência externa ou não.
— O processo secundário é o pensamento realista (formula um plano para a satisfação do
desejo e depois o testa com alguma ação para ver se funciona ou não). Teste de realidade.
— O ego é o executivo da personalidade — controla as ações, seleciona os aspectos do meio
aos quais reagirá e decide quais os instintos serão satisfeitos e de que modo.
— É o mediador entre id, superego e meio externo.
— É a parte organizada do id (existe para realizar o id e não frustá-lo. Não é independente
dele.
— Seu objetivo consiste em manter a vida do indivíduo e a reprodução da espécie.

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No desiderativo, analisaremos as seguintes características do ego:

Grau de estruturação do ego fraqueza x fortaleza. Possibilidade de ajustar-se às instruções —


relação com a realidade.
Pensamento — processos de pensamento e adequação de símbolos e simbolizados.
Possibilidade do ego de enfrentar frustração.
Mecanismos de defesas:
• tipo
• qualidade
• quantidade
• eficácia
—Afetividade.
—Identidade — identificação psicossexual — esquema corporal.

Superego

—É o componente social da personalidade.


—É o representante interno dos valores e ideais tradicionais da sociedade, transmitidos pelos
pais e reforçados pelos sistemas de recompensas e castigos impostos à criança.
—Arma moral da personalidade.
—Representa mais o Ideal do que o Real.
—Tende mais à perfeição do que ao prazer.
—Preocupação principal é decidir se é o certo ou errado para ser aceito pelos padrões morais
autorizados pelos agentes da sociedade.
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— Existem 2 mecanismos básicos de funcionamento do superego:


1) Consciência — é resultante das punições pelas quebras de normas. A consciência após
introjetada pune a
pessoa, fazendo-a sentir-se culpada.
2) Ideal de ego — é resultante da introjeção das ações merecedoras de aprovação ou
recompensa, fazendo
com que a pessoa se sinta orgulhosa.
— O superego é responsável pelo autocontrole (após a introjeção dos valores paternos).
— Funções principais do superego
a) Inibir os impulsos do id, particularmente ou de natureza sexual e agressiva (são os mais
condenados
pela sociedade).
b) Persuadir o ego a substituir os alvos realistas por alvos moralistas.
c) Lutar pela perfeição.
— O superego tende a opor-se tanto ao id quanto ao ego para fazer do mundo um reflexo de
sua imagem.
— Assemelha-se ao id pela irracionalidade e ao ego pelo controle dos instintos.
— O superego tenta bloquear permanentemente a satisfação do desejo (gratificação do
instinto).
No desiderativo, analisaremos os seguintes aspectos do superego:
— Ideal de ego.
— Consciência moral:

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• Idealizado x desvalorizado

• Fantasias de morte

• Características de defesa

DINÂMICA DE PERSONALIDADE

Freud considerava o ser humano como um sistema complexo de energia, o qual se origina da
alimentação (corpo físico) e é gasta nos processos de circulação, pensamento, memória,
respiração, exercício muscular e percepção.

Para ele, era válido falar em energia psíquica, e esta podia passar de um estado a outro sem
perdas no sistema cósmico total. Assim, a energia psíquica pode transformar-se em energia
física e vice-versa, O ponto de contato ou a ponte entre corpo e personalidade é o id com seus
instintos.

INSTINTO
É a representação psicológica inata de uma fonte somática de excitação. O instinto é a força
propulsora que leva a pessoa à ação. O aspecto físico dos instintos (excitação corpórea) foi
denominado de necessidade os aspectos mentais (representação psicológica), de desejos.

Os instintos tomados como um todo constituem a soma total de energia psíquica de que dispõe
a personalidade.

Todo instinto tem 4 componentes:

— Fonte — condição ou necessidade do corpo (constante na vida, mas pode ser alterada com
a maturidade).

— Alvo ou Finalidade — o que reduz a necessidade do corpo para obtenção da satisfação.

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— Objeto — é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade


original. Pode ser substituído por deslocamento.
— Pressão — é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazer ou gratificar o
instinto.
Os instintos humanos apenas iniciam a necessidade da ação; eles nem predeterminam a ação
particular, nem a forma como ela se completará. O número de soluções possíveis para um
indivíduo é uma soma de sua necessidade biológica inicial, o “desejo” mental (que pode ou não
ser consciente) e uma grande quantidade de idéias anteriores, hábitos e opções disponíveis.
Ftwd assume que o modelo mental e comportamental normal e saudável tem a finalidade de
reduzir a tensão a níveis previamente aceitáveis. Uma pessoa com uma necessidade
continuará buscando atividades que possam reduzir essa tensão original. O ciclo completo de
comportamento parte do repouso para a tensão-redução. As tensões são resolvidas pela volta
do corpo ao nível de equilíbrio que existia antes da necessidade de emergir.
Ao examinar um comportamento, um sonho, ou um evento mental, uma pessoa pode procurar
as pulsões psicofísicas subjacentes que são satisfeitas por essa atividade. O trabalho analítico
envolve a procura das causas dos pensamentos e comportamentos, de modo que se possa
lidar de forma mais adequada com uma necessidade que está sendo imperfeitamente satisfeita
por um pensamento ou comportamento particular.

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No entanto, vários pensamentos e comportamentos parecem não reduzir a tensão; de fato, eles
aparecem para criar tensão, pressão ou ansiedade. Esses comportamentos podem indicar o
bloqueio da expressão direta de um instinto.

Fnud procurou classificar os instintos em 2 grandes grupos:

• Instintos de vida — que servem à sobrevivência do indivíduo e à propagação da espécie. A


forma de energia pela qual os instintos de vida realizam sua tarefa de propagação da espécie é
a libido. O instinto de vida ao qual Ftad dispensou maior atenção é o sexual.
• Instintos de morte — ou instintos destrutivos ou energia agressiva.

Como os instintos contém toda a energia pela qual os 3 sistemas da personalidade realizam
seu trabalho, vejamos rapidamente os modos pelos quais id, ego e superego controlam e
utilizam a energia psíquica.

A dinâmica da personalidade consiste na maneira pela qual a energia psíquica é distribuída e


usada pelo id, ego e superego. Como o quantum de energia é limitado, existe competição
entre os 3 sistemas pela posse da quantidade de energia que está disponível.

Quando um dos sistemas torna-se mais forte, os outros 2 necessariamente se tornam mais
fracos. O ideal é um certo equilíbrio.

No início, o id absorve toda a energia utilizando-a para ação reflexa e para a satisfação de
desejos, por meio do processo primário, O investimento de energia em uma ação ou imagem

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que gratificará o instinto é chmado Escolha Objetal do Instinto ou Catexes do Objeto.

Catexes — processo pelo qual a energia libidinal disponível na psique é vinculada e ou invertida
na
representação mental de uma pessoa, idéia ou coisa.
C) ego não dispõe de fonte própria de energia e toma por empréstimo do id A passagem dessa
eiergia do id para a formação do ego é feita pelo mecanismo de identificação. A identificação
permite que o processo secundário substitua o processo primário. Assim, cada vez mais o ego
vai adquirindo energia que será usada no desenvolvimento de vários processos psicológicos,
tais como percepção, memória, julgamento, discriminação, abstração, generalização e
raciocínio.

Finalmente, o ego, como executivo da organização da personalidade, usa a energia para


efetuar uma integração dos 3 sistemas.

O mecanismo de identificação também responde pela energização do superego.


Em última análise, a dinâmica da personalidade consiste no jogo de forças impulsionadas, ou
investimentos, e de forças repressoras, ou contra-investimento. Todos os conflitos interiores da
personalidade resultam da oposição entre esses 2 conjuntos de forças.

A teoria psicanalítica está interessada em compreender onde a libido foi catexizada


inadequadamente (investimento errado). Uma vez liberada ou redirecionada esta mesma
energia, está então disponível para satisfazer outras necessidades habituais. A identificação e a
canalização da energia psíquica são uma questão importante na compreensão da
personalidade.

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O propósito prático da psicanálise é “na verdade fortalecer o ego, fazê-lo mais independente do
superego, ampliar seu campo de percepção e expandir sua organização, de maneira a poder
assenhorear-se de novas partes do id.

No desiderativo, podemos também obter indicadores que nos permitem formular hipóteses para
a compreensão da
integração e dinâmica da personalidade do sujeito.

Podemos levantar dados sobre:

CONFLITOS

1) Evolutivos (ligados a crises vitais: nascimento, adolescência, casamento, menopausa,


morte).

2) Acidentais (doenças, mudanças, separação, etc.) também chamado de conflitos externos.

3) Intrapsíquicos — internalizados, internos entre as instâncias.

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B. ROTEIRO DE INTERPRETAÇÃO

1 — AVALIAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DE EGO (Fraqueza e Fortaleza de Ego)


A — Adequação às Instruões

— Adequação das repostas


— Mecanismos de defesas instrumentais
1. Dissociação
2. Identificação Projetiva
3. Racionalização

B — Ansiedades
C — Tempo de Reação
D — Seqüência das Escolhas dos Reinos
E -. Análise dos Símbolos

II – AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA DE PERSONALIDADE

A — Características do Id
—Impulsos Temidos e Grau de Angústia
— Pontos de Fixação Predominante

B — Características do Ego

— Pensamento
a) Descrição
b) Adequação entre símbolo e simbolizado
c) Predomínio do processo secundário
d) Vocabulário e nível intelectual

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— Mecanismos de Defesa
a) Tipo de Defesa
b) Seqüência das Respostas
c) Predomínio
d) Rigidez x Plasticidade
—Afetividade (tipos de vínculos)
—Identidade
a) Características da identidade psicossexual

b) Esquema corporal

C — Características de Superego
— Identidade de Ego
— Consciência Moral
a) Idealizado x Desvalorizado
b) Fantasias de morte
c) Características da defesa

III — AVALIAÇÃO DA DINÂMICA DE PERSONALIDADE


— Conflitos

A — Evolutivos
B — Acidentais
C — Intrapsíquicos

IV — SÍNTESE E HIPÓTESE DIAGNÓSTICA

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C. CRITÉRIOS DE INTERPRETAÇÃO

Com base nos fundamentos teóricos descritos, surgiu o esquema de interpretação do teste
(vide esquema anterior),
que foi subdividido em 4 partes, a saber:
— Avaliação do Funcionamento do Ego;,
— Avaliação da Estrutura de Personalidade;
— Avaliação da Dinâmica de Personalidade;
— Síntese ou Hipótese Diagnóstica.
Acreditamos ser muito importante fornecer em detalhes os passos da sistematização da
interpretação. Para tanto, vamos seguir o esquema proposto anteriormente, procurando
esclarecer cada item detalhadamente.
Assim, a partir da primeira leitura do protocolo do teste (respostas do sujeito), já podemos ter
uma apreciação global
sobre o material.
Em primeiro lugar, prestaremos atenção no impacto causado pela instrução no examinando.
Dessa forma, estaremos analisando:

I — AVALIAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DE EGO


(Grau de estruturação do Ego, Fraqueza e Fortaleza do mesmo)

A — Adequação às Instruções
— Adequação das respostas — através da primeira leitura, podemos observar se houve ou não
adequação das
respostas. Se o protocolo é rico ou pobre, se existe ou

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não adequação de linguagem e escolha ou rejeições de símbolos, segundo a idade, nível


cultural, grau de instrução etc.
— Para que o sujeito possa responder às solicitações das instruções, deve poder instrumentar
as seguintes defesas: dissociação, identificação projetiva e racionalização. Chamamos essas
defesas de “instrumentais”, porque são operações mentais que deve efetuar o sujeito para
poder resolver as alternativas, estabelecidas pela instrução. Elas são independentes do
repertório de defesas próprias da personalidade de cada pessoa.

Mecanismos de Defesas Instrumentais

1. Dissociação — Expressa através da capacidade de discriminar entre fantasia e realidade,


reconhecendo que a instrução é um disparador para uma situação lúdica, não real, é um “como
se” simbólico. Isso implica, por um lado, aceitar a instrução como um jogo que sugere ao sujeito
que imagine temporariamente que não pode ser humano, podendo então aceitar as diferentes
possibilidades de re-identificação, a um nível simbólico. Se o sujeito pode fazer isso e escolher
símbolos e responder a todo o teste, significa que não sentiu a instrução como um ataque
concreto à integridade de seu ego e que pode vivenciar em nível simbólico. Isso implica uma
fortaleza de ego, pois indica flexibilidade e capacidade de adaptação, pois o ego pode
diferenciar entre a realidade concreta e uma experiência imaginativa simbólica.
Se é capaz de discriminar o que gostaria de ser do que rejeitaria ser, indica um ego
diferenciado externa ou

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internamente, pois é capaz de reconhecer situações que geram ansiedade, e revela recursos
necessários para controlá-las e resolvê-las.

— Indicadores de falha na Dissociação.


Nesse caso, o sujeito recebe a instrução como um ataque concreto ou à sua integridade, o que
implica não conseguir diferenciar entre o simbólico e o concreto.
Essa dificuldade pode manifestar-se em diferentes graus, desde um fracasso total a fracassos
parciais.

a) Fracasso total — não é capaz de responder ao teste. Não discrimina fantasia de realidade.

b) Fracassos parciais da dissociação entre realidade e fantasia:

— o mais sério dos fracassos é quando o sujeito não consegue responder às catexias positivas.
Isso pode ocorrer porque o sujeito não sabe como se defender daquilo que sente perigoso.

—o fracasso das negativas deve-se a um incremento do nível de angústia, atribuída, por um


lado, a sucessivas restrições que impõe a instrução e, por outro lado, a uma proximidade das
áreas de conflito.

—se o sujeito falha em todas as positivas e responde as negativas, pensamos que ao poder
tentar desprender-se dos aspectos que geram maior angústia ou tensão, aceita a proposta e
continua porque, ao diminuir a angústia, recobra a energia, que resulta na possibilidade de
utilizar aspectos do ego, podendo novamente, através dessa revitalização, diferenciar entre
realidade e fantasia.

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c) Respostas antropomórficas:

— nos adultos, nas escolhas de respostas antropomórficas ou representativas de símbolos


místicos ou religiosos (sereia, Deus etc.), em criança com personagens fantásticos (batman,
super-homem etc.), ou relacionadas com atividades profissionais (bombeiro, polícia, professor
etc.) ou respostas que confundem o ser com o fazer (julgar, comer etc.). Nesses casos, o
fracasso manifesta-se no não desapego dos aspectos humanos da identidade.
Em crianças, essa falha é menos patológica, uma vez que a fantasia faz parte da realidade
psíquica e o princípio de realidade não está totalmente operante. No caso de adultos, é
complexo explicar esse fenômeno. Ainda que aparentemente o sujeito tenha aceito o “como
se” da instrução, na realidade a resposta antropomórfica nos mostra que a instrução foi captada
de forma literal ou concreta e que, diante da sensação real de “morte”, faz uma regeneração do
impacto, sobrepondo a isso uma identificação com “objetos” que não deixam de ter qualidades
humanas.
d) Omissão de algum reino, seja nas positivas, seja nas negativas.
Esses fracassos parciais têm a ver diretamente com o reino omitido e com o significado que
este possui para o sujeito.
Ainda dentro do mecanismo de dissociação, podemos reconhecer falhas na dissociação através
da não-possibilidade de discriminar, dentro de cada símbolo

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e no total do teste, os aspectos valorizados e rejeitados em si.
e) Fracassos nos mecanismos de dissociação entre aspectos valorizados (+) e rejeitados (-).

1. Responder nas positivas com um símbolo de qualidade negativa ou escolher nas negativas
símbolos com qualidades positivas. Ex.:
1+ “não quero ser porco porque é sujo” (quando é perguntado o que gostaria de ser).
1- “queria ser rosa porque cheira bem”.
2. Escolher símbolos + com qualidades negativas e vice-versa. Ex.:
1+ “quero ser hiena porque come sujeira”.
1- “não quero ser pomba porque é símbolo da paz”.
3. Rejeitar nas negativas simbolos que verbalizam os aspectos positivos. Ex.:
1-“não quero ser porco porque é sujo, mas também quero ser porco porque sua carne é
gostosa e é útil para o homem”.
Escolher nas positivas símbolos nos quais o sujeito inclui na racionalização aspectos negativos.
Ex.:
1+ “Quero ser rosa, porque tem perfume, ainda que não gostaria, porque tem espinho”.
Esses casos relacionam-se com dificuldades de resolução da ambivalência.

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4. Escolher nas positivas o que se rejeita nas negativas.


A racionalização da positiva e negativa fala do mesmo tema conflitivo. Ex.:
1+ “Gostaria de ser cachorro porque a empregada cuida”.
2- “Não gostaria de ser cachorro porque depende e tem que obedecer ao dono”.
5. O fracasso pode originar-se também da distância marcada entre os símbolos valorizados (+)
e desvalorizados (-) — isto é índice de dissociação patológica (acentua a distância entre a
idealização do ego e o ego real). Ex.:
1+ “quero ser um passarinho porque é frágil”.
1- “não quero ser leão porque é extremamente forte”.

1+ “quero ser ferro porque é indestrutível”.


1- “não quero ser cristal porque se quebra fácil”.

2. Identificação Projetiva — É a capacidade que o sujeito tem de representar, através da


palavra, uma coisa, idéia ou sentimento. Escolhe um símbolo verbal e se identifica com ele.
Remete-se à utilização de representações verbais, característica do processo secundário de
pensamento; o poder recorrer ao repertório de representações verbais é um traço adaptativo
que implica a possibilidade de mediatizar a ação através do pensamento.
O sujeito se reconhece no teste, através da possibilidade que tem de dar uma resposta
simbólica.
— Indicadores do fracasso da Identificação Projetiva no Questionário Desiderativo.

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62 QUESTIONÁRIO DESIDERATIVO

a) Perda da distância entre o símbolo e o aspecto representado; a eleição deixa de ser um


símbolo e é concretamente o aspecto escolhido ou rejeitado de si mesmo. Ex,: “gostaria de ser
sêmem, porque fecunda o óvulo”.
Nessas respostas, há o que se chama de “equação simbólica”, em que por falha da repressão o
símbolo é equiparado ao que originaknente depertou a carga afetiva (que deveria ter ficado
reprimida). Como conseqüência, o símbolo confunde-se com o objeto originário e desperta no
sujeito a mesma carga afetiva dele.
Por haver falhado o mecanismo de repressão do aparelho psíquico, fica evidente um sério
fracasso do ego.
b) Fracasso da Identificação Projetiva em um único símbolo (da mais de uma resposta à mesma
catexis). Isso acontece quando se escolhe em uma catexis mais de um símbolo. Ex.:
1+ “quero ser cavalo (porque é útil), gato (porque é independente), coelho (porque é suave)”.
Nesses casos, a fragmentação da eleição através de diferentes símbolos nos fala de uma
necessidade maníaca de abranger tudo. Nenhum símbolo é suficientemente valioso para
representá-lo por si.
c) Escolha de símbolos desagregados (símbolos que não têm estrutura nem consistência).
Geralmente, o índice
é mais grave se for catexis +. Ex.:

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1+ “quero ser areia porque desliza pelos dedos.”


1+ “quero ser pó porque é leve.”
Os símbolos não apresentam linha demarcatória clara entre eu e não eu.
d) Símbolos adequadamente estruturados, porém estruturalmente frágeis. Existe um limite claro
entre si mesmo e a força; porém, a estrutura do objeto é frágil. Ex.:
1+ “gostaria de ser giz porque é útil e me usariam para ensinar”.
2+ “gostaria de ser vaso de cristal porque pode ver a transparência”.
Essas identificações falam de personalidade que mantém preservado o funcionamento e
adequação à realidade, sempre e quando não se vêem afetados por situações ou exigências
que as tirem do equilíbrio precário.
e) Perseveração de reino. Isto tem a ver com a rigidez da utilização do mecanismo de defesa. O
sujeito não tem flexibilidade de se desidentificar do reino e identificar em outro. Ex.:
1+ “gostaria de ser leão, porque é forte”.
2+ “gostaria de ser cavalo, porque é independente”.

3. Racionalização — Procedimento pelo qual o sujeito tenta dar uma explicação, um motivo, ou
causa coerente do ponto de vista lógico, ou aceitável do ponto de vista moral, para uma atitude,
ato, idéia ou sentimento, cujos motivos verdadeiros não percebe.

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Implica poder separar os aspectos afetivos que entraram na eleição do símbolo daqueles que
sustenta os aspectos racionais da lógica formal. Implica, portanto, adequar o pensamento à
realidade.

No desiderativo, a racionalização evidencia-se quando o sujeito justifica a razão de sua escolha


e pode fazê-lo dentro de uma lógica formal.
— Os Indicadores de falhas na racionalização são:

a) Falha na sustentação lógico-formal — O sujeito não consegue justificar a escolha


adequadamente. Ex.:

1+ “gostaria de ser vaca porque é alegre”.

1+ “gostaria de ser flor porque são úteis e práticas”.

A falha se dá, na logicidade do pensamento através do qual se percebe a fragilidade do critério


de realidade, que é primeira função egóica. Ex.: “gostaria de ser vaca porque é alegre”.

b) Super-reforçamento da justificativa — evidencia necessidade de reassegurar as qualidades,


reforçando— as com adjetivos. Na realidade, acaba por revelar o perigo da estruturação egóica
ou sua debilidade.
Ex.:

1+ “quero ser um canário porque mimam, cuidam, protegem, dão de comer”

c) Ausência de justificativa — incapacidade de poder refletir sobre sua própria conduta; nesse
caso, verbal. Evidencia fraqueza de ego, pois não consegue discriminar internamente por que
escolheu tal

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símbolo. Ex.: “gostaria de ser cachorro, porque sim”. “gostaria de ser rosa, porque eu gosto”.

B — Ansiedades

O principal problema da psique é encontrar maneiras de enfrentar a ansiedade. Esta é


provocada por um aumento inesperado ou imprevisto da tensão ou desprazer; pode
desenvolver-se em qualquer situação (real ou imaginária), quando há ameaça a alguma parte
do corpo ou a psique é muito grande para ser ignorada, dominada ou descarregada.

A capacidade da pessoa de dominar ou não ativamente a ansiedade surgida nas situações de


perigo constitui um dos indicadores de funcionamento da estrutura do ego.

O Questionário Desiderativo põe à prova a capacidade do sujeito de lidar com a ansiedade e


tolerar a frustração, uma vez que, em cada nova pergunta, o entrevistador parece querer ir mais
além e exige uma nova resposta. Pede-se, assim, que ele nos mostre como organiza seu ego
diante de situações novas, a fim de enfrentá-las.

As pessoas com mais saúde mental enfrentam ativamente as situações de perigo, por meios de
recursos do ego, tais como: compreensão intelectual, raciocínio lógico, mudança das
circunstâncias externas, contra-ataques agressivos; enfim, tentar dominar a situação ao invés
de fugir.
Já as pessoas mais predispostas a problemas emocionais (distúrbios neuróticos) são aquelas
incapazes de tolerar quantidades moderadas de ansiedade. Nesse caso, são forçadas a
reprimir ou negar todos os perigos externos ou internos, que são possíveis fontes de ansiedade,
e projetam os perigos

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internos no mundo exterior, tornando-o temido e arrumando um pretexto para fugir das
situações.
Indicadores:
a) Quando a tolerância a frustrações e tensão é excessivamente baixa — geralmente surgirá
mais ansiedade do que se pode tolerar e se ativam defesas e formações de sintomas.
b) Quando a tolerância a frustrações é alta — o equilíbrio é mantido e o sujeito se refaz com
mais facilidade.
No Questionário Desiderativo, é esperado que a quantidade de ansiedade diminua com o
decorrer da prova.
Certa ansiedade é esperada no início da tarefa. Ela, entretanto, não pode interferir na produção
das respostas. Se interfere, devemos avaliar a adequação ou não dos mecanismos de defesa
instrumentais.
Se a ansiedade for muito intensa, provavelmente mostra que a produção será prejudicada, com
falhas mais severas nos mecanismos,o que seria índice de uma personalidade menos
integrada.
A ausência total de ansiedade, ainda que não prejudique a produção em seus aspectos formais,
denotaria uma reação desajustada, pois é produto de uma intenção, dissociação, negação e
projeção da ansiedade.
Assim, podemos dizer que tanto a quantidade quanto a qualidade de ansiedade devem ser
levadas em conta. Podemos analisar isso não só através do comportamento não-verbal, de
comentários verbais, mas também do próprio conteúdo das respostas. Quanto mais capacidade
o sujeito apresentar para

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lidar com as diferentes situações e qualidades de ansiedade, mais flexibilidade e integração


revelará.

C — Tempo de Reação
E o intervalo de tempo que transcorre entre a formulação da instrução e o surgimento da
resposta do sujeito. Os comentários ou balbucios não são considerados como resposta, sendo
só registrado quando se faz escolha do símbolo.
Esse intervalo é o tempo que o sujeito leva entre receber o impacto da instrução, elaborar e
colocar em ação os processos internos necessários para resolvê-la. Assim, o tempo de reação
é um bom indicador para investigar aspectos do funcionamento do ego.
Os T.R. esperados oscilam entre 5 e 30 segundos; os maiores de 30 segundos são
considerados como longos e os
menores de 5 segundos, como curtos.
Os T.R. são, portanto, indicadores de vários fenômenos:
1) Quando são estáveis durante todo o teste, denota em adaptação do sujeito à prova e à tarefa
certa integração
egóica.
2) Desvios dos tempos esperados denunciam alguma dificuldade:
T.R. LONGO: acima da média (acima de 30”) — indica uma dificuldade do ego para
reorganizar-se. Pode indicar:
— abatimento, desesperança e depressão, que produz como resultado uma lentidão geral;
— extrema rigidez (obsessão) de ter que responder certo; leva muito tempo escolhendo;

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— esforço em sobrepor-se a uma habitual desordem do processo de pensamento


(personalidades mais
confusas).
T.R. CURTO: (abaixo de 5”) — tendência a reagir de forma imediata para evitar refletir e
colocar-se em contato com a angústia que gera a instrução (comu’m nos fóbicos,
personalidades impulsivas etc.).
Quando há variação do tempo durante o teste:
Pode-se pensar que seja mais fácil discriminar o que desagrada do que agrada. É necessário,
contudo, observar se há ou não discriminação nas respostas.

O ego dessas pessoas sabe como se defender, porém não é fácil, pois é muito conflitivo
estabelecer do que se defendem.

3) Quando o T.R. apresenta muita variação, aumentando e diminuindo abruptamente em uma


ou várias catexias: indica de uma situação de conflito interno do sujeito. Este pode ser
levantado na análise do símbolo (racionalização) e reino.
Obs.: Esses indicadores foram vastamente desenvojvidos por Ocampo e Areno, no capítulo
“Força e Fraqueza da Identidade no Teste Desiderativo, em Psicodiagnóstico.

D — Seqüências das Escolhas dos Remos


A seqüência esperada tem relação com a expectativa de uma personalidade saudável, na qual
predomine o instinto de conservação sobre os impulsos de morte na estrutura psíquica.

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A seqüência esperada é:
Nas positivas: 1+ Animal
2+ Vegetal
3+ Objeto
Nas negativas: 1- Objeto
2- Vegetal
3- Animal

contudo, esta ordem não mostrou ser de significancia.


Assim:
Nas catexias positivas, quando se dá a primeira instrução, é sempre esperado que o sujeito se
identifique primeiramente com um anjmal, por ser um ser vivo, conservando assim os impulsos
vitais ligados à autoconservação, ao instinto de agrupamento e os vínculos, tanto amorosos
quanto agressivos etc.
Essa seqüência tem relação com a expectativa de que uma personalidade sadia terá uma
estrutura psíquica em que haja o predomínio do instinto de vida sobre os de morte e que,
portanto, diante de um ataque ou contrariedade, o ego do sujeito possa resgatar os aspectos
mais vitais e, assim, preservar a integridade.
Em razão do que foi colocado nas positivas, seria esperado que a seqüência das catexias
negativas fosse exatamente o inverso, tal como postula Bernstein: 1- objeto; 2- vegetal; 3-
animal. Entretanto, a seqüência (nas negativas) não se mostra tão relevante, uma vez que, na
experiência clínica, observou-se que a escolha do que vai rejeitar em primeiro lugar depende do
que é mais conflitante para o sujeito, seus próprios impulsos rejeitados e sentidos como mais
ameaçadores.

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O desvio da seqüência esperada nas respostas positivas (quando, por exemplo, começam por
objeto ou vegetal) mostra uma estrutura menos saudável, pois, para enfrentar os perigos da
instrução, precisa desvitalizar-se e a apelar para uma atitude de maior passividade e
desafetivação.

E - Análise dos Símbolos


Neste item, fazemos a análise dos simbolos e seus significados, catexia por catexia, do ponto
de vista universal,
cultural e pessoal.
À medida que vamos fazendo a análise sucessiva das catexias, os conteúdos vão se
relacionando entre si,
enriquecendo e completando a interpretação do material.

II— AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA DE PERSONALIDADE

A — Características do id

— Impulsos Temidos e Grau de Ansiedade

Neste ponto, trataremos de estabelecer o quanto os impulsos de vida e morte estão presentes,
e a integração ou
desintegração dos impulsos libidinais.
Podemos fazer esse levantamento através da análise dos símbolos:
Impulsos Integrados
— Capacidade para responder com símbolos que integram aspectos vitais. Ex.:
2+ Gostaria de ser uma casa habitada
1+ Gostaria de ser um pássaro cantor

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1+ Gostaria de ser uma árvore frutífera
— Projeção no símbolo de aspectos libidinais e agressivos sintetizados e discriminados em seu
conteúdo. Ex.:
3+ Gostaria de ser leoa
1+ Gostaria de ser cadeira
— Afetos mais integrados e pertinentes quanto à intensidade e ao objeto em que está dirigido,
sem polarização. Isso é produto de mais repressão, mais sublimação, mais elaboração. Ex.:
1+ Gostaria de ser galo
2- Não gostaria de ser barata
Impulsos Desintegrados
— Marcada a distância entre símbolo ativo e passivo, bondosos e agressivos, limpos e sujos,
construtivos e
destrutivos. Ex.:
1+ Gostaria de ser elefante
2- Não gostaria de ser formiga
2+ Gostaria de ser pomba
3- Não gostaria de ser tubarão
— Projeções maciças com alto grau de intensidade nos impulsos (agressividade). Ex.:
1+ Gostaria de ser sol
3- Não gostaria de ser bomba atômica
— Afetos primitivos polarizados, pela intensa dissociação.

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Ou, também, através das racionalizações


Impulsos Integrados
— Maior quantidade de afetos positivos; há preservação do objeto e do eu. O objeto está
presente na
racionalização. Ex.:
1+ Gostaria de ser leoa, porque cuida muito bem de sua cria e de si mesma.
2- Não gostaria de ser aranha, porque as pessoas rejeitam e, em geral, são venenosas.
Impulsos Desagregados
— Ausência de objeto de vínculo. Afetos intensos,
polarizados com relação ao objeto. Ex.:
1+ Gostaria de ser pedra, para não sentir
3 - Não gostaria de ser baleia, porque todos os caçadores pescam e matam
— O objeto está presente, porém a resposta implica só a necessidade de si mesmo (libido
narcisista). Eventualmente, no impulso se volta contra o objeto ou a si mesmo (auto-agressão).
Ex.:
1+ Gostaria de ser livro, porque todos leriam e porque eles contêm a sabedoria
2 - Não gostaria de ser vidro de janela, porque todos olham através, porém ninguém se fixa nela

Assim, devemos nos deter na análise das catexias e de suas racionalizações para verificarmos:
nas catexias positivas — através da análise das defesas; do que a pessoa se defende
(impulso).
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e nas catexias negativas — onde realmente aparece o que é temido pelo ego e que a pessoa
quer se livrar. Aspectos não aceitos em si mesmo.

Pontos de Fixação Predominantes

Interessa avaliar os pontos de regressão possíveis e predominantes em que se manifestam os


impulsos. Cada símbolo tem um conteúdo. Em alguns, a qualidade do símbolo está expressa
em si mesmo (Ex.: porco, burro etc.). Em outros, a racionalização esclarece o significado pelo
qual o símbolo foi escolhido.

O conteúdo dos símbolos e as racionalizações hierarquizam (na escolha ou rejeição)


determinados aspectos de si mesmo e podem nos fornecer o ponto de fixação. Ex.:

Ponto de fixação oral

1+ Cachorro, porque cuidam, alimentam

2— Maçã, porque comem

Ponto de fixação anal

3+ Cachorro, porque é sempre bom e fiel


2— Revólver, porque destrói e mata

Ponto de fixação fálico

3+ Cachorro, porque é bonito

2- Roseira, porque podam

Num mesmo protocolo, as diferentes catexias podem referir-se a diferentes pontos de fixação. A
relação com relações objetais e mecanismos de defesa ajuda-nos a perceber quais os pontos
de fixação predominantes.

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B — Características do ego
— Pensamento

a) Descrição do tipo de pensamento — Avaliamos a clareza, confusão, esteriotipia,


perseveração, capacidade criativa ou se trata de símbolo-clichê.
b) Adequação entre símbolo e simbolizado (racionalização) — Verificamos a existência da
possibilidade de justificar de forma correta a escolha desiderativa. Essa adequação nos mostra
uma prova de realidade adequada. No exemplo:
“Gostaria de ser mosca porque é venenosa”, a eleição e sua justificativa nos remetem a um
pensamento arbitrário e subjetivo, sem possibilidade de contato com a realidade; portanto, é
índice de debilidade egóica.
c) Predomínio do Processo Secundário — Neste ponto, observamos se o grau de
desenvolvimento do ego se manifesta através dos conteúdos do símbolo. Analisamos o modo
como são formados e usados tais sImbolos. Perturbações severas na diferenciação entre algo e
objeto se refletem num funcionamento do processo primário de pensamento, no qual há uma
identidade de percepção e, portanto, ausência de discriminação entre símbolo e simbolizado.
Corresponde ao conceito de equação simbólica, modalidade própria de um pensamento
concreto, característico de quadros graves.
Quanto maior a discriminação e desenvolvimento do aparelho psíquico, maiores as
possibilidades de mediatizar os conteúdos inconscientes; haverá, então, maior distância entre
símbolo e simbolizado, e um funcionamento do processo secundário.

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No exemplo “não queria ser dinheiro porque é sujo”, quanto menor o desenvolvimento do
aparelho psíquico, menor a distância entre símbolo e simbolizado. Os conteúdos eleitos
aparecem com menos mascaramento, ou se confunde o símbolo com o simbolizado. Ex.: “Não
gostaria de ser merda”.
d) Vocabulário e Nível Intelectual — Neste item, são considerados a riqueza ou a pobreza da
expressão verbal, a adequação à idade, a influência do meio sociocultural, o aparecimento de
neologismo ou expressões peculiares. Correlacionando-o com outros testes — por exemplo,
Wechsler — teremos uma idéia sobre a possibilidade de utilizar ou não determinada capacidade
intelectual, e se está de acordo com o nível de eficiência. Se existe bloqueio ou diminuição do
rendimento ante a um estímulo mais ambíguo, menos estruturado e, portanto, mais ansiógeno.
A escolha de símbolos ricos e criativos, porém com uma racionalização pobre, geralmente
aparece em pacientes que, bem-dotados naturalmente, podem fazer um uso limitado de suas
potencialidades, por influência de mecanismos inibitórios ou repressivos.
Por outro lado, um símbolo intrinsecamente pouco criativo, porém com racionalização adequada
e original, mostra um pensamento com possibilidades de enfrentar a realidade de uma forma
pouco habitual, porém correta. Por ex.: “gostaria de ser rocha, porque pode transformar-se em
obra de arte pelo escultor.
Todos os indicadores assinalados no item Pensamento nos remetem a diferentes formas de
avaliar o princípio de
realidade, memória, concentração, abstração e síntese do ego.

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— Mecanismos de Defesa
a) Tipos de Defesa — Sob a ameaça de um evento que cause ansiedade, o ego vai tentar
diminuí-la de duas formas:
1) Lidando diretamente com a situação. Resolvendo problemas, superando obstáculos,
enfrentando ou fugindo de ameaças até tentar resolver o problema ou minimizá-lo.
2) Protegendo a personalidade, negando a própria situação. O modo pelo qual se dá essa
distorção é denominada de mecanismos de defesa. Estes possuem duas características:
— negam ou falsificam a realidade;
— operam inconscientemente de forma que a pessoa não tem consciência do que acontece.
Os principais mecanismos de defesa são:
Repressão — Afasta da consciência um evento, idéia ou percepção potencialmente
provocadores de ansiedade, impedindo, assim, qualquer solução possível. Ela nunca é
realizada de uma vez por todas, mas requer um constante consumo de energia para manter-se,
enquanto o reprimido faz pressão para encontrar uma saída.
Projeção — Mecanismo pelo qual a angústia neurótica ou moral é convertida para fora, para o
meio externo. A ameaça é tratada como se fosse externa. A pessoa lida com sentimentos reais,
porém não admite que a idéia ou comportamentos temidos são seus.

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Negação — É a tentativa de não aceitar a realidade de um fato que perturba o ego.

Racionalização — É o processo de achar motivos aceitáveis para pensamentos e ações


inaceitáveis. É um modo de aceitar a pressão do superego, disfarçar nossos motivos,
tornando-os moralmente aceitáveis.

Formação Reativa — Esse mecanismo substitui comportamentos e sentimentos que são


diametralmente opostos ao desejo real; é a inversão clara e, em geral, inconsciente do desejo.

Isolamento — É o modo de separar as partes da situação provocada de ansiedade, do resto


da psique. É o ato de dividir a situação de modo a restar pouca ou nenhuma reação emocional
ligada ao acontecimento.

Regressão — É o retomo a um nível de desenvolvimento anterior ou a um modo de expressão


mais simples e mais infantil. É um modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento
realista para comportamento e pensamentos que anteriormente reduziam ansiedade
(juntamente a pontos de fixação).

Fixação — Parada em um estágio de desenvolvimento, porque o estágio seguinte está


carregado de ansiedade.

Sedução — Valoriza a aparência externa para envolver o outro e não entrar em contato com os
sentimentos de exclusão.

No Questionário Desiderativo, toda verbalização ou comportamento do indivíduo expressa a


organização defensiva deste ante o “ataque” implícito da instrução.

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O sujeito através das catexias positivas explicita as fantasias inconscientes das defesas e
descreve simbolicamente
seu modo de evitar os perigos inerentes à ameaça fantasiada.
Porém, os mecanismos de defesa têm que ser analisados quanto sua adequação, de acordo
com a etapa evolutiva da pessoa. Cada fase de desenvolvimento caracteriza-se por aspectos
específicos do instinto, por aquisições psíquicas da estrutura do ego e também pela
especificidade do mecanismo de defesa. Assim, num protocolo infantil, devemos tomar cuidado
ao analisar os mecanismos de defesas predominantes, pois estes podem ser característicos de
sua fase evolutiva.
Obs.: Um estudo bastante pormenorizado sobre mecanismos de defesas e quadros
nosográficos foi desenvolvido
por Grassam e Schust e se encontra no livro de Ocampo.
b) Seqüência das Defesas — Vamos avaliar através das sucessivas escolhas se o sujeito
recorre a defesas mais organizadas ou se, pelo contrário, vai recorrer a defesas mais
regressivas.
Nas defesas mais adaptadas (organizadas), vemos um ego que pode reorganizar-se já no
aparecimento de defesas regressivas, um ego que aparentemente se mostra forte (por se
defender) para esconder certa vulnerabilidade.
Devemos sempre ter em mente que quanto mais adaptada a defesa, mais falará em uma
estruturação e fortaleza de ego.
c) Defesas Predominantes — É a forma como habitualmente uma pessoa irá manejar suas
ansiedades.
É importante detectar quais as defesas predominantes e se estas estão a serviço de uma
dissociação, integração e reparação.

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Deve-se sempre levar em conta a totalidade das respostas, tanto as (+) como (-).

d) Rigidez x Plasticidade das Defesas — Se levarmos em conta a da disponibilidade na


variedade das defesas em comparação com o uso excessivo ou rígido das defesas, teremos um
bom indicador de plasticidade e flexibilidade de ego.

Quando uma pessoa utiliza rigidamente uma defesa, podemos pensar em uma adaptação
precária à realidade e que, portanto, pode desestabilizar-se se a situação que enfrenta o
impede de usar um mecanismo. Perde também a possibilidade de viver experiências
emocionais íntimas e agradáveis.

Em contrapartida, quando a pessoa consegue dissociar adequadamente, mantendo uma boa


capacidade de compreensão intelectual, pode deixar de lado seus problemas e recorrer a
diferentes formas de defender-se. Mostra, assim, uma boa adaptação e flexibilidade.

Afetividade — Neste item,interessa observar em que medida as escolhas implicam um


compromisso afetivo. Se o outro está presente ou não e o tipo de vínculo fantasiado (simbiótico,
dependente, discriminado). Também através do comportamento durante o teste, e das
características dos simbolos escolhidos e racionalizações, podem-se obter dados sobre o modo
de controle dos afetos (rígido, espontâneo, impulsivo etc.). Ex.:
-1 “gostaria de ser uma estrela”. Esta escolha nos faz pensar em um tipo de vínculo de
distanciamento, que exclui o contato.

Identidade
a) Características da Identidade Psicossexual

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Os símbolos escolhidos ou rejeitados nos fornecem dados sobre as identificações do sujeito,


seu papel sexual, seu ideal de ego (o papel desejado) etc.
Esse tema ocupa papel central na identidade de um ser humano.
Foi pensando nesse aspecto específico que, em 1983, Graciela e eu realizamos uma pesquisa
com pré-adolescentes.
O objetivo primeiro foi verificar a existência de respostas características no Questionário
Desiderativo que diferenciassem meninos e meninas nos aspectos referentes à identificação
sexual.
Entretanto, o objetivo tomou uma dimensão bem mais ampla, pois, ao estudarmos os protocolos
qualitativamente, observamos que estes expressavam a dinâmica total desse período, ou seja,
não só a identidade sexual, mas também os conflitos e temores básicos dessa etapa de
desenvolvimento.
Esse estudo foi realizado seguindo o critério estatístico sistemático (um sujeito escolhido a cada
dez), formando uma amostra de 60 pré-adolescentes, entre 11 e 13 anos de idade, sendo 30
meninos e 30 meninas. Todos eles alunos de escola de classe média da cidade de São Paulo.
Aplicamos em todos o teste de figura humana, e foram selecionados para a amostra apenas
aqueles que desenharam em primeiro lugar a figura correspondente de seu próprio sexo.
Tendo em vista a análise das características de identidade psicossexual, descrevemos
resumidamente somente os resultados e conclusões referentes a esse tópico.

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Os resultados obtidos foram os seguintes nas catexias positivas:

a) Os meninos escolheram tanto símbolos masculinos quanto femininos:

Reino Vegetal: árvore grande 43%

flor 33%

Reino Animal:

pássaro 31%

Reino Inanimado: sem predominância

b) Nas meninas houve predomínio amplo de símbolos femininos:

Reino Vegetal: flor 59%

árvore frutífera 29%

Reino Animal:
passarinho 58%

Reino Inanimado: móveis 32%

Nas negativas, obtivemos os seguintes dados:

a) Nos meninos, houve predomínio de rejeições de símbolos masculinos, com destaque para a
angústia de castração.

b)Nas meninas, houve rejeições tanto de símbolos masculinos, como femininos e, a angústia
era proveniente de diversas fontes.

Concluímos que os meninos expressaram em suas respostas a vivência de transformação de


seu corpo. Observamos também (através das racionalizações) a aceitação de sua virilidade e a
importância que adquire o pênis nessa fase. Apesar da aceitação de sua virilidade, metade
deles aceitava e queria preservar os componentes

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femininos de sua personalidade (na literatura isso se refere à tentativa de não abandonar a
bissexualidade, impedindo de chegar a uma definição sexual), e valoriza os aspectos de crescer
e ser forte.
A angústia predominante nos meninos foi a de castração, com o medo de uma sexualidade
fálica, muitas vezes fantasiando destruir o outro no contato sexual.
As meninas, em sua maioria, aceitavam seus componentes femininos, identificando-se com a
figura materna. O aspecto estético foi bastante evidenciado para elas.
Valorizam aspectos de procriar e acolher os outros.
Revelaram atingir mais precocemente uma identificação sexual.
A angústia predominante nas meninas foi a persecutória com medo de ser destruída.
Através dessa e de outra pesquisa posterior (com adolescentes entre 16 e 19 anos), realizada
em 1985, pudemos comprovar não só a validade, mas principalmente a precisão da técnica em
detectar as características e problemáticas de cada período de vida.
b) Esquema corporal
Esquema corporal é a representação que fazemos mentalmente de nosso corpo.
Tanto no símbolo, como símbolo mais racionalização, podemos encontrar aspectos expressivos
da integridade, completude e adequação cronológica do esquema corporal do sujeito.

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Um indicador poderia ser o tamanho do símbolo escolhido ou rejeitado. Uma paciente obesa
disse:

1+ “Queria ser um beija-flor, porque é pequeno, leve e pode voar com liberdade, e se mexe com
liberdade”.
1- “Não queria ser elefante, porque é lento para se mexer e é muito grande, pouco ágil”

Nesse caso, onde há uma discrepância entre acatexias (+) e a (-). Vemos que existe uma
percepção real de seu esquema corporal que não é aceito e, portanto, rejeitado (= ser elefante).
Em contrapartida, apresenta uma idealização de como gostaria de ser (= beija-flor).

C — Características do superego

— Ideal de ego — Com respeito a esta formação intrapsíquica que serve de referência ao ego,
o desiderativo (através das catexias positivas, nas quais se projetam os aspectos idealizados do
objeto — aquilo que se deseja preservar) fornece elementos importantes sobre suas
características, acessibilidade, distância da realidade etc.

O ideal de ego nos informa sobre quais são os valores que cada sujeito privilegia e que, de
algum modo, dirige seu atuar. Pode enfatizar o poder, o estético, a utilidade, o intelectual etc.

Quando a idealização é extrema, o ideal é inacessível, determina o aparecimento no ego de um


sentimento de inferioridade (gostaria de ser Deus, super-homem etc.).

Ao contrário, quanto mais próximo da realidade, maiores possibilidades de adequação e


ausência de conflito.

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— Consciência moral — Também a capacidade de auto- observação e consciência moral


aparece projetada através da produção do teste e pode ser analisada a partir dos seguintes
indicadores:
a) Idealizado e Desvalorizado — Quanto mais precário é o superego, mais exigente e crítica
sua função censora. Pretende do ego um controle de seus impulsos libidinais e agressivos
diretamente proporcional ao tamanho dos mesmos. Assim, apareceram escolhas (+) com
características de bondade (anjos), e nas (—), o impulso temido (uma planta carnívora), um
diabo etc. Pelo contrário, quando as barreiras entre superego e ego são menos estreitas, as
distâncias se reduzem, e entre as catexias (+) e (-) existe certa harmonia.
No caso de uma estrutura anômala de superego, como acontece nos psicopatas, podem
aparecer como desvalorizados objetos que habitualmente seriam escolhidos nas catexias (+)
(“não seria cachorro, porque são mansos e domésticos”) e vice-versa. A presença nas catexias
(+) de símbolos com alto conteúdo sádico mostra uma quase nula estruturação dessa instância
e da internalização de imagens objetais extremamente hostis e irreais.
b) Fantasia de Morte — A bibliografia existente sobre o Questionário Desiderativo — e
especificamente o artigo sobre fantasias de morte no teste desiderativo de Ocampo — diz que a
instrução sugere ao sujeito que se aniquile imaginativamente como pessoa para

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pensar-se como outro ser não humano. Dizem as autoras de forma literal: “Implicitamente, para
realizar o teste, tem que se imaginar morto”. Discordamos nesse aspecto. Pensamos que, para
realizar o teste, o sujeito tem de poder julgar o que o sugerimos, como é baseado nesse critério
de interpretação, ou seja, colocar-se em um “corno se”. Dessa maneira, pode ou não mobilizar
fantasias de morte, como o demonstra a quantidade de protocolos em que as mesmas estão
ausentes e como o afirmam os autores do citado trabalho: “A maior parte dos casos responde
diretamente ao teste sem comentários sobre este, e sem alusão direta à morte”.

Quem responde “me matou” — “então não podia ser nada” — “então seria morte” — defronta-se
com a instrução como uma ausência ou diminuição da Consciência de Interpretação, não
podendo distinguir uma situação ou fantasiada ou real, tal como se no Rorschach um sujeito
verbalizasse na prancha V: “Este é um morcego que vem me atacar”.

O aparecimento de fantasias tanáticas no desiderativo, com maior ou menor grau de


simbolização, nos remete a características peculiares desse sujeito. Isso tem relação com o
manejo da agressão. Na função censora do superego, aparecem os sentimentos de culpa, o
que se relaciona, portanto, com a presença de núcleos melancólicos mais ou menos
patológicos.

c) Características das Defesas — A menção da morte pode aparecer no Questionário


Desiderativo através de

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escolhas que implicam a possibilidade de reparar o objeto e se livrar da culpa “gostaria de ser
vacina, para salvar gente”. Como formação reatia perante o temor de machucar — “não queria
ser uma arma para matar”
— os impulsos agressivos podem aparecer expressos tanto em termos oral, anal ou uretral.

Quando a culpa depressiva se torna persecutória, uma possibilidade é a negação maníaca,


através da identificação com objetos externos que vivem muitos anos (uma secóia), e o controle
e triunfo sobre o agressor temido (um tubarão, porque mata) ou a identificação com a morte
mesmo (não queria ser cadáver).

Através deste indicador, podemos deduzir a intervenção e o grau da influência primitiva do


superego frente a
pulsão agressiva, a possibilidade de experimentar culpa, e o grau de angústia frente ao mesmo.

O superego considera vedada a sexualidade e a agressão e, portanto, também através das


defesas do ego podem- se detectar suas proibições: “lírio porque é símbolo de pureza” ou “não
queria ser dinheiro porque vai de mão em mão” ou “revista de histórias porque olham e tocam”

III — AVALIAÇÃO DA DINÂMICA DE PERSONALIDADE

Conflitos:

A — Evolutivos — Estão ligados a determinadas fases (infância, puberdade, adolescência,


adulto jovem, adulto, velhice) e implicam tarefas vitais a serem resolvidas.

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— São comuns a todas as pessoas.
— Devem ser diferenciados dos conflitos pessoais.
— São transitórios e resolvidos satisfatoriamente.

B — Acidentais — São aqueles que:


— Apresentam uma grave interferência externa (ambiental) com certas necessidades ou
direitos do sujeito.
— Colocam para o sujeito exigências injustificadas.
Cada pessoa vai enfrentar as situações diversas de uma forma. Se o sujeito tem mais
condições internas, um ego mais bem estruturado, ele vai encontrar recursos internos para lidar
com essas situações adversas, ainda que por um período possa apresentar uma estrutura típica
de neurose, por exemplo; tudo tende a voltar ao normal tão logo a situação traumática seja
resolvida.
Nas pessoas cuja estrutura é mais instável, pode ocorrer a perda temporária do equilíbrio
interno. Nesse caso, a
interferência externa (terapia) se faz mais necessária que no outro.
C — Intrapsíquicos — São os conflitos que aparecem entre id, ego e superego ou entre
impulsos disfuncionais e suas representações incompatívei s (passividade-atividade,
feminilidade, masculinidade, ambivalência não resolvida etc.).
Os conflitos intrapsíquicos também são chamados de conflitos neuróticos. Com freqüência
aparece em conseqüência da continuação de um conflito de desenvolvimento que não foi
adequadamente resolvido no momento certo.
No teste, são os conteúdos dos simbolos que dão conta do tipo de conflito. O grau do conflito
está expresso na
quantidade de angústia e nas falhas das defesas.

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Ao longo da seqüência dos temas (concordantes ou discordantes entre as catexias (+) e (-), das
defesas predominantes, do conteúdo das escolhas positivas e negativas e dos pontos de
fixação, é que podemos avaliar os conflitos intrapsíquicos.
Exemplo: Se num protocolo, valoriza-se nas positivas:
— bondade;
— utilidade; e
— eficiência
E nas negativas, rejeita-se: — improdutividade;
— promiscuidade; e
— maldade explosiva os mecanismos de defesa mobilizados são: isolamento, formação reativa,
anulação.
O ponto de fixação predominante é o anal. Diríamos que o conflito responde a características
obsessivas. O superego cobra uma bondade excessiva, censurando aspectos agressivos e
sujos. O conflito seria entre id e superego.

IV — SÍNTESE E HIPÓTESE DIAGNÓSTICA

Uma vez concluído o processo de análise do material, podemos fazer a integração global dos
resultados obtidos e
buscar inferências, que surgem deles.
Devemos relacionar esses dados com o motivo de consulta, a história de vida e as observações
do sujeito.
Através da análise dos dados de estrutura e dinâmica interna da pessoa, pode-se estabelecer,
então, um diagnóstico, bem como um possível prognóstico.

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