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Falar com psicólogo pela internet é opção para os tímidos e viajantes

Orientação virtual ganhará novas regras no Brasil até o fim do ano. Cada pessoa terá
direito a 20 sessões; atendimento por telefone é proibido.

Para resolver problemas pessoais e ao mesmo tempo não precisar se expor na frente de uma
pessoa estranha, a auxiliar administrativo Cilene Lilli, de 25 anos, foi indicada pela irmã gêmea
a buscar um serviço de orientação psicológica pela internet.

Passadas seis sessões, feitas entre julho e agosto do ano passado, a paulistana melhorou e até
pensa em voltar a se consultar por meio de bate-papo.

“Achei muito interessante e não fiquei constrangida. Eu escrevia, mas podia ver o psicólogo por
vídeo do outro lado. Acredito que todo mundo precisa falar com alguém sobre a própria vida,
ter uma segunda opinião. Dessa forma, tive uma visão de fora sobre os meus problemas”,
aponta.

Cilene avalia que não teria os mesmos resultados se tivesse desabafado com uma amiga, pois
queria conselhos de um profissional. Além disso, ela não precisou sair de casa, gastar tempo,
dinheiro com transporte ou correr o risco de se atrasar. Por outro lado, presencialmente há a
linguagem corporal, que muitas vezes conta mais que a própria fala.

As regras para orientação psicológica pela web no Brasil estão para mudar: no fim de dezembro,
passarão de dez para 20 sessões permitidas por pessoa, independentemente do período de
tempo.

Isso porque o serviço por chat, e-mail, comunicador instantâneo, ferramenta de vídeo ou
webcam não deve ser feito como uma terapia contínua, mas um atendimento pontual para casos
de emergência, como o fim de um namoro, a morte de alguém, uma demissão ou dificuldades
profissionais e pessoais.

Também costumam se beneficiar pessoas tímidas ou com dificuldade de se expressar,


brasileiros que estejam em viagem ou morando fora do país e indivíduos que nunca fizeram uma
terapia tradicional, mas têm curiosidade de conhecer o processo.

“Quem vive no exterior muitas vezes se sente triste e precisa de alguém que fale a língua dele,
que o entenda. Mas em muitos países esse tratamento é feito por psiquiatras, com o uso de
medicamentos”, compara o secretário de orientação e ética do Conselho Federal de Psicologia
(CFP), Aluízio Lopes de Brito.

A consulta, porém, não pode ser oferecida por telefone ou em blogs, destaca Brito. “Por
telefone, não há como garantir que do outro lado haverá um psicólogo. Temos hoje 224 sites
cadastrados no conselho, e há um aumento da demanda em cerca de 20 pedidos por mês. Cada
endereço precisa estar hospedado em um lugar próprio para isso, ter um selo do CFP e o número
do conselho regional”, enumera.

O valor de cada sessão de 50 minutos gira em torno de R$ 40 a R$ 80. Se a pessoa só quiser


informações por e-mail, cada resposta custa de R$ 25 a R$ 30. Deve ser atendido um paciente
por vez, e as formas de pagamento variam entre os profissionais, mas em geral são por cartão de
crédito ou débito, depósito em conta ou boleto bancário.
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Psicólogos virtuais

A psicóloga Milene Rosenthal, do site Psicolink, coordena quase 40 psicólogos que atuam
virtualmente no Sudeste, Sul e Nordeste, das 8h às 22h, mas também atendem em consultório.

As mulheres são a maioria dos 280 pacientes cadastrados no site e também dos profissionais,
que seguem diferentes linhas, como terapia cognitiva, familiar e psicanálise.

"Quando você não dá a cara para bater, pode se abrir mais. Nas redes sociais, todo mundo se
expõe e compartilha problemas. O anonimato ou a não identificação faz com que algumas
pessoas se sintam mais desinibidas e se exponham mais. Por outro lado, ao vivo, há o contato
físico, as emoções, os trejeitos e as feições do paciente", cita.

A especialista acredita que esse tipo de acompanhamento deva ocorrer entre uma e duas vezes
por semana. A ideia é ser um primeiro atendimento, de suporte, e não substituir a terapia
presencial.

“Algumas pessoas não conhecem nem o básico, que é a diferença entre psicologia e psiquiatria.
Acham que psicólogo é para loucos e não sabem lidar com questões sexuais, drogas ou
relacionamentos”, ressalta.

Quem vive no exterior muitas vezes se sente triste e precisa de alguém que fale a língua dele,
que o entenda. Mas em muitos países esse tratamento é feito por psiquiatras, com o uso de
medicamentos". Aluizio Lopes de Brito, conselheiro do CFP

Milene conta que 90% dos pacientes preferem apenas escrever, sem ver o psicólogo, e muitas
vezes estão no local de trabalho ou em casa na hora da consulta. Entre as pessoas que não
devem fazer esse tipo de orientação estão menores de 18 anos sem autorização dos pais, quem
deseja se suicidar indivíduos com transtornos severos ou problemas psiquiátricos e aqueles que
não fala o português fluentemente.

A psicóloga avalia que a tendência futura no Brasil é regulamentar a terapia online, para um
acompanhamento mais aprofundado dos pacientes, que chegue a investigar o inconsciente da
mente.

“A baixa velocidade da internet para vídeo no país ainda é uma barreira, além de haver poucas
pesquisas para identificar características específicas da nossa cultura. Mas temos potencial, já
que o brasileiro passa muito tempo online e é o segundo no ranking de uso do Facebook, por
exemplo”. Afirma.

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