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COMO CITAR ESTE MATERIAL

SARDINHA, A. Como abordar a queixa sexual: um guia


para psicólogos, educadores e profissionais de saúde. 1. ed.
Rio de Janeiro, 2018. E-book. ISBN: 978-85-924268-2-8.
Disponível em: < >. Acesso em: dia/mês/ano.

Este e-book é um trabalho autoral de produção independente.


Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio
ou processo, inclusive quanto às características gráficas e/ou
editoriais, sem a devida citação da fonte.
A violação de direitos autorais constitui crime (Código
Penal, art. 184 e Lei nº 6.895 /1980) sujeitando – se à busca
e apreensão e indenizações diversas (Lei nº 9.610/98).”

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 6
SOBRE A AUTORA 9

OS PILARES DA SEXUALIDADE 12
ASPECTOS RELEVANTES PARA A QUEIXA SEXUAL 24
RESPOSTA SEXUAL 31
DISFUNÇÕES SEXUAIS 39
ANATOMIA E FUNCIONAMENTO SEXUAL FEMININO 48
ANATOMIA E FUNCIONAMENTO SEXUAL MASCULINO 58
A SEXUALIDADE NO SÉCULO XXI 64
MEDICAMENTOS E SEXUALIDADE 70
CONTRACEPÇÃO E SEXO SEGURO 75

REFERÊNCIAS 83

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

INTRODUÇÃO

Imagino que você já deve ter ouvido falar que “todo mundo
tem problemas sexuais”, não é mesmo? Entretanto, quantos
de nós, psicólogos, profissionais de saúde ou de educação,
tem formação específica e segurança sobre a forma mais
adequada de abordar a sexualidade dos nossos pacientes e
alunos, ou mesmo ajudá-los com as suas dificuldades se-
xuais? Foi exatamente assim que eu me senti no início da
minha prática clínica.

Hoje, depois de mais de 10 anos atuando como psicóloga e


supervisora clínica no campo da sexualidade, entendo que é
minha missão fazer chegar a um número cada vez maior de
profissionais informações de qualidade. Acredito que quan-
to mais profissionais tiverem acesso a conhecimentos sobre
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sexualidade, melhor será o cuidado e a orientação que eles


podem oferecer às pessoas em relação às questões da sexu-
alidade. Quem sabe assim, no futuro, menos gente tenha
“problemas sexuais”?

A Terapia Cognitiva Sexual é uma proposta de psicotera-


pia que reúne os elementos centrais das Terapias Cognitivo
Comportamentais com as mais recentes evidências científi-
cas no campo da sexualidade. Desde que nós apresentamos
a Terapia Cognitiva Sexual, a receptividade dos alunos, co-
legas e profissionais de diversas áreas foi muito positiva. De
lá para cá, já formamos muitos alunos em cursos presenciais
no Rio de Janeiro e fui convidada para dar palestras, cursos
e workshops em diferentes partes do Brasil. Entretanto, che-
gou um momento, em que eu percebi que a demanda pela
Terapia Cognitiva Sexual era maior do que a minha capaci-
dade de estar presente em todos esses lugares. Foi quando
surgiu a ideia de criar este livro e também o Curso Online
de Terapia Cognitiva Sexual.

Espero que, na medida em que este conteúdo vai estar dis-


ponível online, possamos fazer chegar informação de quali-
dade sobre sexualidade de norte a sul do Brasil. Além disso,
um diferencial deste material é que ele não visa só transmi-
tir um monte de informações. Na minha experiência como
professora e supervisora, descobri que meus alunos tinham
muitas dificuldades em lidar com a sexualidade das pesso-

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as. Por isso, nas próximas páginas, eu vou guiar você por
uma série de reflexões sobre a prática e a própria formação
profissional, com perguntas e exercícios práticos, que vão te
permitir compreender melhor de onde vem as suas dificul-
dades na abordagem da sexualidade e como superá-las.

Vamos embarcar juntos nessa jornada de conhecimento?

Aline Sardinha 8

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SOBRE A AUTORA

Aline Sardinha é psicóloga graduada pela Universidade do


Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Terapeuta Cognitivo
Comportamental certificada pela Federação Brasileira de
Terapias Cognitivas. É professora do Programa de Pós-Gra-
duação em Terapia Cognitivo Comportamental da Univer-
sidade Salgado de Oliveira (Universo, RJ) e atua também
em clínica particular como psicoterapeuta e supervisora.
Tem doutorado e mestrado em Saúde Mental pelo Labo-
ratório de Pânico e Respiração do Instituto de Psiquiatria
da UFRJ (IPUB/UFRJ) e especialização em psicoterapia de
família e casal (PUC-Rio). Tem experiência e interesse nas
áreas de Terapia Cognitivo-Comportamental, sexualidade e
terapia de casal. É ex-presidente da Associação de Terapias

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Cognitivas do Rio de Janeiro (ATC-Rio, www.atc-rio.org.


br, 2014-2016), e membro da Diretoria da Federação Brasi-
leira de Terapias Cognitivas (FBTC, gestões 2011-atual). É
membro do Grupo de Trabalho Pesquisa básica e aplicada
em uma perspectiva Cognitivo-Comportamental da Asso-
ciação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicolo-
gia (ANPEPP). Foi coordenadora e supervisora clínica do
Curso de Extensão de Qualificação e Treinamento Profis-
sional em Terapia Cognitivo Comportamental do Institu-
to de Psiquiatria da UFRJ (IPUB). Já ministrou aulas em
cursos de pós-graduação, preparatórios para concursos,
atualização e extensão e também palestras e workshops em
diversas partes do Brasil. Em 2007, foi pesquisadora visi-
tante no Center for Evolutionary Psychology, na University
of Califórnia, Santa Barbara (UCSB) na Califórnia, EUA. e
“Equipe de Neuropsicologia do Montreal Neurological Ins-
titute (McGill), em Montreal, Canadá. Em 2011 foi profes-
sora de Psicopatologia, Psicofarmacologia e Neurociência e
Comportamento do curso de graduação em Psicologia do
Uni-IBMR/Laureate. Em 2012, completou a formação em
Coaching pelo Centre for Coaching, Middlesex University,
Londres – Inglaterra. É autora do site Pílulas de Bem Es-
tar, de divulgação de conhecimento científico sobe psico-
logia, saúde e bem estar voltado para o público leigo (www.
pilulasdebemestar.com.br). Possui diversos capítulos de li-
vro e artigos publicados em revistas científicas brasileiras
e estrangeiras indexadas, outros trabalhos já aceitos para
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publicação, além de pesquisas apresentadas em congressos


nacionais e internacionais. Pelo ISI tem um índice-H de 5
e 69 citações e pelo SCOPUS 26 artigos, índice-H de 8 e
158 citações recebidas. É autora do livro Terapia Cognitiva
Sexual: uma proposta integrativa na psicoterapia da sexu-
alidade (2017) e do Baralho da Sexualidade: conversando
sobre sexo com adolescentes e adultos (2017).

Aline Sardinha é autora da Terapia Cognitiva Sexual, uma


psicoterapia de abordagem cognitivista e contextual espe-
cificamente voltada para o tratamento das questões sexu-
ais. Desde que a Terapia Cognitiva Sexual foi apresentada,
inúmeros alunos – entre psicólogos e outros profissionais
de saúde já foram formados em cursos presenciais na abor-
dagem ou são supervisionados diretamente pela Dra. Aline.
Agora, a formação em Terapia Cognitiva Sexual será possí-
vel também na modalidade à distância, através do recém-
-lançado Curso Online de Terapia Cognitiva Sexual.

Para saber mais ou entrar em contato, acesse o site:


www.alinesardinha.com

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CAPÍTULO 1

OS PILARES DA SEXUALIDADE

Ao receber uma pessoa com queixa sexual no consultório,


o profissional deve ter em mente questões muito diversas,
desde aspectos básicos ligados a anatomia e resposta sexual
fisiológica até conceitos mais complexos, como de que for-
ma as disfunções sexuais são entendidas atualmente e como
devem ser observadas do ponto de vista social e cultural.
Para começar a compreender esses pacientes, devemos co-
nhecer os pilares da sexualidade. A imagem a seguir mos-
tra os quatro pilares que dão base à sexualidade humana: o
sexo biológico, a identidade de gênero, o papel sexual e a
orientação sexual.

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Figura 1: Os pilares da sexualidade. (imagem: Dra Aline Sardinha)

O primeiro pilar é o sexo biológico e, durante muito tempo,


as diferenças biológicas entre homem e mulher foram utili-
zadas para definir a sexualidade e o gênero de uma pessoa.
Atualmente, no entanto, consideramos também aspectos
subjetivos, fundamentais na prática do profissional.

O segundo pilar é a identidade de gênero, que não está rela-


cionada apenas a aspectos biológicos, mas também a ques-
tões sociais, históricas e políticas. A identidade de gênero
tem a ver com como o indivíduo se identifica – por vezes,
uma pessoa pode ter anatomia feminina e se identificar
como homem, ou ser biologicamente masculino e se iden-

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tificar como mulher. Porém, a literatura científica não traz


respostas definitivas sobre as questões relacionadas ao gêne-
ro, sendo esse um aspecto muito discutido socialmente, mas
ainda com poucas respostas do ponto de vista da ciência.

Na prática, o gênero é hoje entendido como um grande es-


pectro, não sendo necessariamente binário – um indivíduo
pode se identificar como homem, como mulher ou como
nenhum dos dois. Ainda que essa noção cause estranheza
em algumas pessoas, ela é de extrema importância para en-
tendermos que o indivíduo pode não se identificar com seu
gênero biológico e, portanto, desempenhar um papel social
diferente do esperado. E aí estamos diante do terceiro pilar
da sexualidade: o papel sexual.

Esse papel está relacionado a questões cotidianas, como a


maneira de uma pessoa se portar ou vestir, os hobbies que
ela cultiva ou até mesmo os brinquedos de que gostava
quando criança. Embora já seja possível observar sinais de
flexibilização na cultura ocidental – por exemplo, mulheres
que atuam na gerência de empresas, meninos que brincam
de casinha, e assim por diante –, a sociedade ainda confun-
de papel de gênero e orientação sexual. Por vezes, pessoas
de um gênero que se identificam com atividades socialmen-
te relacionadas a outro gênero – como, por exemplo, uma
menina que gosta de jogar futebol – são erroneamente con-
sideradas homossexuais. No entanto, esse indivíduo apenas

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não apresenta comportamento em conformidade o que é


socialmente esperado de seu gênero.

É importante saber que não estar em conformidade com


o que é esperado de um gênero não diz nada sobre como
aquele indivíduo se identifica ou sobre sua orientação sexu-
al. Por vezes, a sociedade ou o próprio profissional presume
que o indivíduo tenha uma identidade ou orientação sexual
determinada por comportamentos que não condizem com
seu sexo biológico – essa conclusão precipitada é um dos
grandes erros que os profissionais cometem durante o aten-
dimento.

A orientação sexual é o quarto pilar sexual e considera por


que gênero o indivíduo se apaixona ou tem desejo erótico.
Essa orientação é fluida e pode se modificar dependendo da
situação. Embora a maioria das pessoas esteja acostumada
pensar na orientação sexual como uma condição binária –
homossexual ou heterossexual –, sabemos que ela, também,
pode se parecer mais com um espectro.

✓⃞■ VOCÊ SABIA?

Existe uma resolução normativa do Conselho Federal da


Psicologia que orienta a prática do psicólogo no que tange
ao atendimento relacionado a questões de orientação se-
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xual (acesse pelo link http://site.cfp.org.br/wp-content/uplo-


ads/1999/03/resolucao1999_1.pdf). A norma não proíbe os
psicólogos de atenderem pessoas que queiram reduzir o so-
frimento psíquico causado por sua orientação sexual, sejam
elas homo ou heterossexuais, e tampouco pretende proibir
as pessoas de buscarem atendimento psicológico.

De acordo com a regulamentação, “psicólogos devem atu-


ar segundo os princípios éticos da profissão, notadamente
aqueles que disciplinam a não discriminação e a promoção
e bem-estar das pessoas e da humanidade. No art. 2º do Có-
digo de Ética Profissional do Psicólogo, veda-se à categoria
praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracte-
rizem negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade ou opressão. Estão, sim, proibidos os psicólogos
de exercer qualquer ação que favoreça a patologização de
comportamentos ou práticas homoeróticas e adotar ação
coercitiva que tenda a orientar homossexuais para trata-
mentos não solicitados”. Além disso, “a norma aconselha
os profissionais da psicologia a não se pronunciarem e nem
participar de pronunciamentos públicos, nos meios de co-
municação de massa, de modo a reforçar os preconceitos
sociais existentes em relação aos homossexuais como por-
tadores de qualquer desordem psíquica.”

(Fonte: Conselho Regional de Psicologia de São Paulo - http://www.crpsp.org.br)

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A orientação sexual é um pilar que independe do sexo bio-


lógico, da identidade de gênero e do papel sexual que uma
pessoa tem na sociedade. Um indivíduo pode, por exem-
plo, ter nascido com um determinado sexo biológico, se
identificar com outro gênero e, ainda assim, sentir desejo
pelo sexo oposto. A sociedade ainda enfrenta dificuldades
para compreender essa fluidez da orientação sexual, mas os
profissionais precisam estar atentos a isso para dar suporte
aos pacientes. O desenvolvimento da sexualidade, mesmo
quando uma pessoa age conforme a sociedade espera, já é
complicado. Quando o comportamento de um indivíduo se
distancia daquilo que é esperado socialmente, tudo se torna
ainda mais complexo, e é nesse momento que o profissional
precisa compreender claramente as nuances da orientação
sexual e de gênero, de modo a poder ajudar seus pacientes
nesse processo de construção da própria identidade.

Os quatro pilares sexuais influenciam, juntos, o comporta-


mento sexual, que é como o indivíduo decide se comportar
em determinadas situações sexuais. Esse comportamento
não é rígido e pode se modificar, mas costuma ser estável.
Ele é o foco de abordagem durante a terapia cognitiva sexual.

Podemos pensar os pilares sexuais como a base de um ice-


berg. Eles não fazem parte das escolhas do indivíduo: não é
possível escolher seu par de cromossomos, com que gênero
você se identifica ou sua orientação sexual, e nem mesmo se

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suas preferências sobre o que fazer, o que vestir ou como se


comportar no dia a dia estão em conformidade com o que a
sociedade espera. Já o comportamento sexual, que é a ponta
do iceberg, tem a ver com escolha, pois o indivíduo é capaz
de decidir como quer se comportar. Nesse contexto, é muito
comum que os pacientes apresentem dúvidas sobre o que é
um comportamento normal e o que é um comportamento
patológico. Para determinar o que é normal ou patológico,
o profissional precisa levar em consideração uma série de
fatores – do contrário, tende a trazer suas próprias vivências
e crenças para orientar o paciente. Mas fique claro: não é
papel do profissional determinar o que é normal ou não,
agindo como a sociedade ou como os familiares que julgam
pacientes com comportamentos não esperados.

Uma boa metáfora para entender o conceito de normalida-


de é a distribuição gaussiana, utilizada pela estatística. Ela
mostra em gráfico que, numa distribuição normal, a maior
parte das pessoas tem um comportamento ou uma caracte-
rística próxima à média, sendo menos frequente encontrar
comportamentos que estão fora da média.

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Figura 2: Curva gaussiana. (imagem: Augusto R. Amaral/ CC-BY-SA)

Se uma pessoa chega ao consultório relatando que gosta,


por exemplo, de práticas sadomasoquistas, podemos iden-
tificar que, em média, esse não é um comportamento co-
mum. Porém, essa prática deve ser considerada patológica
e requer tratamento? Para responder questões como essa, o
profissional precisa conhecer a relação entre normalidade e
patologia. Comportamentos incomuns não são necessaria-
mente patológicos.

O profissional identifica como psicopatologia o fato de o


comportamento sexual atrapalhar o cotidiano de alguém
– por exemplo, se o sujeito só consegue fazer sexo em si-
tuações de sadomasoquismo, ou se o parceiro se incomo-
da com aquela prática. Se o próprio interesse nesse tipo de

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atividade impacta o cotidiano, já é possível discutir a ne-


cessidade de tratamento. Portanto, para avaliar se um com-
portamento sexual é patológico, é preciso considerar, entre
outros aspectos, o impacto que esse comportamento tem na
função sexual e na vida do indivíduo, e, principalmente, o
dano que pode causar a si e a terceiros – incluindo questões
como a pedofilia e o sexo com animais, que esbarram no
impacto causado a terceiros e na questão fundamental do
consentimento.

MATERIAL PSICOEDUCATIVO

• Pílula de bem estar Dra. Aline Sardinha: “Será que ele é?”
http://www.pilulasdebemestar.com.br/site/sexualidade_de-
tail.asp?cod_blog=90

• Documentário: “Precisamos falar com os homens”


https://www.youtube.com/watch?v=jyKxmACaS5Q

• IBGE explica: Informações estatísticas de gênero


https://www.youtube.com/watch?v=xMIiMNI6iGU

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REFLEXÕES PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Considerando o seu próprio sistema de crenças, dê uma


nota de 0 (totalmente anormal) a 10 (totalmente normal)
sobre o quanto você, como pessoa, considera normal cada
uma das situações abaixo:

– Um homem de 60 anos se relacionando com uma mulher


de 25 anos;

– Um homem de 50 anos se relacionando com uma menina


de 14 anos;

– Uma mulher de 60 anos se relacionando com um homem


de 25 anos;

– Uma mulher muito atraente casada com um homem mui-


to pouco atraente;

– Uma mulher obesa casada com um homem muito atraente;

– Duas mulheres fazendo sexo;

– Duas mulheres fazendo sexo com um homem;

– Dois homens fazendo sexo;

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– Dois homens apaixonados um pelo outro;

– Um relacionamento afetivo entre duas mulheres e um homem;

– Um relacionamento afetivo entre dois homens e uma mulher;

– Uma criança de 8 anos nascida biologicamente XX que se


entende como um menino;

– Uma pessoa adulta nascida biologicamente XY que se en-


tende como mulher e se submete a procedimentos estéticos
e cirúrgicos para alcançar a aparência mais feminina;

– Um fazendeiro que eventualmente faz sexo com uma ca-


bra de sua fazenda;

– Um homem que se excita e se masturba assistindo a víde-


os de crianças nuas;

– Um homem que nunca quer fazer sexo;

– Uma mulher que se masturba diariamente assistindo a


pornografia.

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● SAIBA MAIS
• Estudo recente mostrando evidências sobre a base genéti-
ca da homossexualidade masculina:
https://www.nature.com/articles/s41598-017-15736-4.pdf

• Texto em inglês acerca da normatização dos papéis de gê-


nero ao longo do desenvolvimento: http://www.slate.com/
articles/life/the_kids/2017/11/how_to_stop_sexism_and_
raise_a_son_who_respects_women.html

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CAPÍTULO 2

ASPECTOS RELEVANTES PARA A


QUEIXA SEXUAL

De que informações um profissional precisa para identificar


a melhor forma de tratamento para uma pessoa com queixa
sexual? Aspectos como o tempo de duração da queixa, in-
formações sobre sua origem – orgânica ou psicológica – e
fatores determinantes de sua etiologia são importantes para
guiar o profissional nesse processo.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,


conhecido como DSM-V (APA, 2013), identifica que, para
categorizar uma queixa sexual como disfunção, o problema
deve ocorrer há pelo menos seis meses. A queixa pode ser
primária, ou seja, estar presente na vida do indivíduo desde
sempre, ou ter sido adquirida após determinado evento –
nesse caso, é importante entender o contexto de aquisição.
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Além disso, é preciso identificar em que circunstâncias a


queixa ocorre – se, por exemplo, ela se dá em todas situa-
ções e com diferentes parceiros ou em momentos particula-
res e com um parceiro específico.

A queixa também pode ser classificada como de origem or-


gânica ou psicológica. Por exemplo, o vaginismo – contra-
ção involuntária dos músculos vaginais durante a penetra-
ção, causando dor no ato sexual – é uma disfunção causada
por um aspecto orgânico (a contração da musculatura),
mas também pode ser desencadeado por questões psico-
lógicas. O mesmo acontece com a disfunção erétil. Além
disso, qualquer condição ou disfunção gera repercussões
psicológicas e subjetivas que precisam ser encaradas pelo
terapeuta ou profissional de saúde.

Geralmente, as queixas dos pacientes são multifatoriais: é


pouco provável que uma queixa seja exclusivamente psico-
lógica ou orgânica. Por isso, é importante entender o que
gera queixa e identificar que equipe multidisciplinar deve
lidar com aquele caso. É também fundamental não encarar
o sintoma com algo produzido pelo sujeito: ainda que haja
aspectos subjetivos, o profissional não deve desqualificar ou
menosprezar a queixa.

Outro aspecto relevante a considerar é o grau de sofrimento


pessoal. O DSM-V coloca que, se uma disfunção não gera

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sofrimento, não precisa ser tratada. A assexualidade, por


exemplo, pode não causar dano ao sujeito e, se for assim,
não precisa ser tratada. Por outro lado, ela pode surgir como
dano em situações em que o parceiro demanda uma ativida-
de sexual e o sujeito sofre por não querer perdê-lo ou entrar
em conflito. Nesse caso, o dano é indireto, não ligado neces-
sariamente à sexualidade, mas à relação com o parceiro.

Ainda nesse contexto, o DSM-V inova quando trata a dis-


função sexual considerando a parceria, ou seja, os aspectos
do relacionamento que influenciam a sexualidade. No en-
tanto, traz a informação de que não é correto fazer diagnós-
tico de disfunção sexual em pessoas que tenham problemas
no relacionamento que influenciem a sexualidade – logo,
a questão de como usar a parceria para o tratamento ain-
da é pouco clara, ainda que seja um aspecto importante a
ser considerado. A questão da parceria vai além de consta-
tar se os parceiros estão felizes ou não na relação e aborda
também como a dinâmica sexual deles impacta a resposta
sexual de um ou outro indivíduo. Essa dinâmica trata, por
exemplo, da adequabilidade do estímulo, um aspecto que,
de acordo com o DSM-V, também deve ser considerado.

Ao receber uma pessoa que relata dificuldades em atingir o


orgasmo, o profissional deve considerar se o estímulo que o
paciente recebe é adequado, já que a resposta sexual não é
puramente biológica. Um princípio comportamental básico

Aline Sardinha 26

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é que, se o estímulo não é suficiente, a resposta esperada


não será atingida. Ainda que o DSM-V traga diversas orien-
tações sobre como lidar com a queixa de falta de resposta
sexual, esse manual ainda é heteronormativo e traz infor-
mações basicamente sobre relações por coito. Porém, o pro-
fissional também precisa considerar se o paciente que, por
exemplo, se queixa de não atingir o orgasmo por penetração
consegue ter prazer em outras situações, como a mastur-
bação. O DSM é limitado, também, em algumas situações
menos comuns, como a dor sexual que ocorre em homens
ou em situações que não o coito vaginal.

Por fim, ainda que o sexo biológico não determine a ex-


pressão da sexualidade de uma pessoa, o terapeuta ou pro-
fissional da saúde deve considerar fatores fisiológicos que
permeiam a queixa. Um aspecto relevante é saber como está
o equilíbrio hormonal do indivíduo, já que a queixa pode
ter relação com oscilações hormonais relacionadas a pós-
-parto, envelhecimento, menopausa, uso de medicamentos,
disfunções da musculatura do assoalho pélvico, problemas
urológicos ou ginecológicos etc. Nesse sentido, o trabalho
multidisciplinar é o que vai proporcionar melhores resul-
tados, já que permite que todos esses aspectos possam ser
examinados e abordados pelo profissional adequado.

Quando dizemos que o profissional deve considerar tudo


o que permeia a queixa de uma pessoa, queremos destacar

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que sua conduta muda de acordo com cada situação. por


exemplo, uma pessoa que se queixa por não ter vida sexual-
mente ativa geralmente relata o fato de não sentir o desejo
de ter uma vivência sexual com um parceiro, mas isso não
elimina a possibilidade de que tenha outras vivências, como
a masturbação ou mesmo pensamentos sexuais.

Figura 3. Fatores relacionados às queixas sexuais. (imagem: Dra. Aline Sardinha)

QUEIXA SEXUAL: O QUE INVESTIGAR?

Ao avaliar a queixa sexual, é importante termos uma visão


ampla do comportamento sexual, entendendo-o para além
do coito, podendo envolver masturbação, desejos, fantasias,

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fala, sonhos, práticas, atenção automática e voluntária a es-


tímulos sexuais no dia a dia etc. Além disso, precisamos in-
vestigar:

1. Cronologia da aquisição 4. Grau de sofrimento


Primária Nenhum
Secundária Leve
Moderado
Severo

2. Circunstâncias em que ocorre 5. Contexto


Situacional Passado
Generalizada Presente
Físico

3. Etiologia 6. Parceria
Orgânica Relacionamento
Psicológica Estimulação adequada
Mista

REFLEXÕES PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Uma das perguntas mais comuns das pessoas é se uma quei-


xa sexual é física ou psicológica. Que crenças você imagi-
na que permeiam a necessidade de distinguir entre essas
duas possibilidades etiológicas? Como isso impacta a visão

Aline Sardinha 29

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do problema e a adesão ao tratamento? Quando pensamos


em uma abordagem multidisciplinar da queixa sexual, em
que sentido a dicotomia biológico x psicológico se insere?
Como responder adequadamente a essa dúvida?

✓⃞■ VOCÊ SABIA?

Não podemos categorizar uma disfunção sexual se o estí-


mulo sexual necessário para que a resposta sexual ocorra
não estiver presente. Isso quer dizer, na prática, que:

• Um homem que imagina que precisa estar com o pênis


ereto mesmo antes de começar a ser estimulado pela parce-
ria pode não ter disfunção erétil.

• Uma mulher que não tem desejo sexual espontaneamente,


mas que responde sexualmente a carícias da parceria pode
não ter um problema de desejo.

• Uma mulher que não tem orgasmo durante a relação se-


xual e não tem o hábito de se masturbar pode não ter um
problema de orgasmo.

Aline Sardinha 30

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CAPÍTULO 3

RESPOSTA SEXUAL

Na década de 1960, os pesquisadores William Masters e Vir-


ginia Johnson (1966) realizaram uma série de experimentos
que dificilmente poderiam ser feitos hoje. Em seu laborató-
rio, eles mediram a resposta sexual de voluntários enquanto
esses tinham relação sexual ou se masturbavam. Os resulta-
dos foram surpreendentes e embasam muito do que se sabe
atualmente sobre como ocorre a resposta sexual humana. A
dupla de cientistas desenvolveu diversos conceitos sobre o
que é funcional ou não na sexualidade e sobre como as fases
da resposta sexual são categorizadas. Como se pode ver na
figura, o modelo de resposta sexual de Masters e Johnson
descreve quatro fases: excitação, platô, orgasmo e resolução.

Aline Sardinha 31

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Figura 4. Modelo de resposta sexual de Masters e Johnson.

(imagem: Wikimedia Commons)

A fase de excitação caracteriza o início do processo que leva


à resposta sexual e, conforme o estímulo continua, uma sé-
rie de mudanças fisiológicas ocorrem para preparar o corpo
para as fases seguintes. No caso das mulheres, nota-se au-
mento do fluxo sanguíneo na região genital, aumento da lu-
brificação vaginal, enrijecimento dos mamilos e maior sen-
sibilidade de algumas áreas erógenas. No homem, a marca

Aline Sardinha 32

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importante é a ereção, quando uma série de mecanismos


fisiológicos faz com que válvulas presentes no pênis permi-
tam que mais sangue flua até o órgão, concentrando-se nos
corpos cavernosos. Nesse momento, o pênis muda de for-
mato e torna-se rígido, sendo capaz de penetrar a vagina da
mulher. Além disso, os homens também sofrem modifica-
ção da musculatura do assoalho pélvico, sensibilidade dos
mamilos e maior sensibilidade em outras áreas do corpo.

Todas essas mudanças levam o corpo a se preparar para o


coito, que ocorre quando o indivíduo entra na fase chamada
platô, a qual dura até que seja atingido o orgasmo, momen-
to de clímax de todo o processo. No homem, o orgasmo
coincide com a ejaculação, que é a liberação do sêmen e
de outras substâncias que compõem o liquido seminal, de
função reprodutiva. O orgasmo também resulta em contra-
ções musculares e sensações de prazer, tanto para a mulher
quanto para o homem. Nas mulheres, além do prazer, há
uma série de contrações do assoalho pélvico, do útero e da
musculatura do canal vaginal, o que faz com que o sêmen se
movimente com mais agilidade.

O ciclo sexual termina com a fase de resolução, um mo-


mento de relaxamento em que não é possível começar o
processo novamente – período de latência entre o orgasmo
e um novo período de excitação. A duração dessa fase varia
entre as pessoas, sendo, em média, mais curta para as mu-

Aline Sardinha 33

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lheres do que para os homens.

Embora pioneiro, o modelo de Masters e Johnson não abor-


dou a fase que vem antes do sexo: o desejo. Na década de
1980, a psicanalista e sexóloga Helen Kaplan (1979) come-
çou a questionar o que motiva as pessoas a fazerem sexo e
propôs um novo modelo, complementar ao anterior, mas
com três fases: desejo, excitação e orgasmo. Kaplan trouxe
a ideia do desejo como algo que aumenta a partir da absti-
nência de sexo e que pode ser despertado pelos estímulos
sexuais. Seu modelo trouxe também a ideia de que o desejo
antecede a relação sexual, a qual persistiu por muito tempo.

Recentemente, outra pesquisadora, chamada Rosemary


Basson (2000), propôs um novo modelo de ciclo sexual co-
erente com os anteriores, mas revolucionário ao propor que
o desejo não precisa anteceder as demais fases e pode acon-
tecer e se misturar com os momentos de excitação e prazer
sexual. Basson propõe que, numa situação de neutralidade
e conforto emocional e sexual, um indivíduo que ainda não
está com desejo pode ser estimulado a experimentar uma
situação sexual – vale destacar a importância do confor-
to emocional, uma vez que, em situações de estresse, por
exemplo, o corpo do sujeito acaba por não conseguir cum-
prir funções fisiológicas básicas, como dormir, comer ou
mesmo ter desejo sexual.

Aline Sardinha 34

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Modelo trifásico de Modelo responsivo de


Kaplan (1979) Basson (2000)

Figura 4. Modelos de ciclo sexual de Kaplan e Basson (imagem: Dra. Aline Sardinha)

Enquanto Kaplan propôs que o desejo apareceria como con-


sequência da abstinência, Basson mostrou que o desejo não
precisa ser espontâneo e pode ser estimulado. Isso condiz
com o que se ouve nos consultórios: casais relatam ao pro-
fissional que, em situações simples do cotidiano, um par-
ceiro estimulou o outro e a relação sexual ocorreu. Muitos
pacientes relatam, também, que o desejo nem sempre surge
de forma espontânea no dia a dia, quando estão, por exem-
plo, dirigindo ou trabalhando. Há casais ainda que relatam
ter uma vida sexual mais ativa durante as férias – nesse caso,
o desejo espontâneo surge por estarem longe da situação de
estresse. Esse novo entendimento do desejo é um marco dos

Aline Sardinha 35

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anos 2000 e, ainda que no começo tenha sido muito utili-


zado para entender a libido feminina, o modelo de Basson
também pode ser usado para entender o desejo masculino.

REFLEXÕES PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Variações na expressão da sexualidade são transtornos psi-


quiátricos? Configuram, assim, doenças que requerem tra-
tamento? Por que essas condições estão listadas no Manual
de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Psiquiátricos
(DSM)? Como isso impacta a nossa prática clínica e a pes-
quisa em sexualidade?

● SAIBA MAIS
• Assexualidade é uma expressão da sexualidade em que a
pessoa não tem interesse na prática sexual. Ao contrário do
celibato, que é um comportamento escolhido, ou do trans-
torno do desejo sexual, que é uma patologia, a visão predo-
minante hoje é a de que a assexualidade é apenas uma expres-
são normal da sexualidade. Por muito tempo considerados
pessoas problemáticas, os assexuados lutam hoje para ser

Aline Sardinha 36

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reconhecidos como indivíduos normais, que não precisam


de tratamento médico ou psicológico. Muitas comunidades
e grupos de apoio foram criados para aumentar o senso de per-
tencimento desses indivíduos, como a Comunidade Assexual
(ver http://www.assexualidade.com.br/). Para aprofundar seus
estudos sobre este tema, sugerimos a leitura do artigo de re-
visão de Brotto e Yule, disponível no link https://link.springer.
com/article/10.1007%2Fs10508-016-0802-7 (acesso pago).

• Nem toda dor sexual é vaginismo! Uma condição que afeta


a sexualidade da mulher causando dor e que tem sido bas-
tante estudada nos últimos anos é a vulvodínia. Neste link,
você encontra informações simples que podem ser usadas
para informar seus pacientes sobre o problema: http://www.
sbed.org.br/lermais_materias.php?cd_materias=378&friur-
l=_-Vulvodinia-_. A terapia cognitivo-comportamental tem
sido usada com sucesso dentro de uma abordagem multi-
disciplinar no tratamento da vulvodínia, como podemos
ver no artigo de Dunkley e Brotto, disponível no link http://
onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jclp.22286/abstract
(acesso pago).

✓⃞■ VOCÊ SABIA?

• William Masters e Virgina Johnson foram um casal de pes-


quisadores, ele ginecologista e ela psicóloga, que revolucio-
Aline Sardinha 37

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naram o entendimento da sexualidade nos anos 1960. Em


seu laboratório, eles observaram e quantificaram a resposta
sexual de dezenas de indivíduos. A partir disso, elaboraram
uma teoria (usada até hoje) sobre o ciclo da resposta sexual,
composto pelas fases de excitação, platô, orgasmo e resolu-
ção. Os estudos de Masters e Johnson foram um divisor de
águas na ciência da sexualidade, ao desvendar a fisiologia
da resposta sexual e ao questionar muitas crenças errôneas
sobre o assunto entre os próprios cientistas. Para saber mais
sobre a vida e a obra desses autores, sugerimos uma biogra-
fia deles (traduzida para o português), e também uma série
de televisão, em inglês, com o mesmo título:

Maier, T. (2014). Masters of sex. Ed. Leya Casa da Palavra. 448p.

Masters e Johnson
(imagem: Domínio público)

Aline Sardinha 38

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CAPÍTULO 4

DISFUNÇÕES SEXUAIS

O DSM-V, lançado em 2013, traz um novo conceito de dis-


função sexual, definindo como um grupo heterogêneo de
transtornos que causam perturbação clinicamente signifi-
cativa na capacidade de o sujeito ter resposta sexual ou ex-
perimentar prazer sexual. Uma pessoa cujo comportamen-
to não se adequa ao que é esperado dentro do ciclo sexual
possui uma disfunção em uma ou mais das fases anterior-
mente discutidas, e isso tem um impacto no prazer que ele
sente em relação ao sexo.

Outra inovação do DSM-V foi pensar na disfunção sexual


de acordo com o gênero: pela primeira vez, foram descri-
tas as disfunções sexuais femininas e as disfunções sexuais
masculinas. As disfunções sexuais femininas já incorporam
Aline Sardinha 39

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o modelo proposto por Basson, enquanto as masculinas


ainda estão alinhadas com os modelos anteriores, de Mas-
ters e Johnson e de Kaplan.

As disfunções femininas podem ser categorizadas em três


domínios principais: dor sexual, domínio do interesse e da
excitação e domínio do orgasmo. A dor sexual pode ocor-
rer por uma série de motivos, podendo ter ou não relação
com o comportamento sexual – pode surgir como sintoma
de uma doença, por exemplo. Como já vimos, ela pode de-
correr da contração da musculatura vaginal, impedindo ou
dificultando a penetração. No DSM-V, vaginismo e dispa-
reunia são transtornos classificados em conjunto como dor
sexual. Além disso, qualquer dor na região genito-pélvica
resultante ou não de vaginismo e que esteja associada como
resultado ou complicador da penetração é categorizada
como dor sexual.

A proposta do DSM-V de classificar todos os transtornos


relacionados à dor numa mesma disfunção facilita o diag-
nóstico, já que, muitas vezes, é difícil saber se a dor é con-
sequência da contração muscular do vaginismo ou se o
vaginismo surge por conta da dor. Essa dor também pode
aparecer quando a mulher não se encontra suficientemente
confortável e sexualmente excitada e tenta realizar a pene-
tração. Como o corpo não está preparado para a penetra-
ção, não há lubrificação suficiente e a relação pode ser dolo-

Aline Sardinha 40

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rosa. Dor sexual, desejo e prazer estão intimamente ligados.

No segundo domínio, o interesse sexual surge junto com a


excitação. O fato de uma mulher não ter desejo espontâneo
não necessariamente significa que ela precisa de tratamen-
to, pois, caso ela responda ao ser estimulada sexualmente,
considera-se que não há disfunção. Embora o imaginário
popular entenda que o fato de uma mulher não ter desejo
espontâneo implica um transtorno ou disfunção, na prática
clínica entendemos que, se essa mulher for estimulada e a
excitação surgir, há um desejo predominantemente respon-
sivo e não espontâneo – uma condição bastante comum,
principalmente em mulheres em relacionamentos longos.

Por fim, o domínio do orgasmo está relacionado ao fato


de uma mulher experimentar ou deixar de experimentar
o clímax. Diversas situações precisam ser consideradas ao
se fazer um diagnóstico de transtorno do orgasmo, mas as
principais são que a mulher não tenha orgasmo na maior
parte das vezes em que busca por ele e que a ausência des-
sa resposta cause sofrimento significativo para ela e para o
parceiro ou parceira.

Aline Sardinha 41

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Figura 5. Disfunções sexuais femininas, segundo o DSM-V. (imagem: Dra. Aline Sardinha)

Uma disfunção sexual que o DSM-V destaca tanto para ho-


mens quanto para mulheres é a disfunção sexual induzida
por substância. Tal transtorno parece simples de tratar, já
que a substância responsável poderia ser retirada ou subs-
tituída, mas muitos pacientes utilizam medicamentos dos
quais não podem prescindir e que interferem na função
sexual, como, por exemplo, anticoncepcionais, antidepres-
sivos e anti-hipertensivos. Logo, é importante perguntar
aos pacientes se fazem uso de algum desses medicamentos.
Nem sempre é possível pedir que o médico retire ou troque
Aline Sardinha 42

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o medicamento, mas o profissional precisa considerar as al-


ternativas e práticas relacionadas à terapia cognitiva sexu-
al que podem melhorar a satisfação do paciente mesmo na
presença da substância em questão.

Em relação à sexualidade masculina, o manual estabelece


dois domínios relacionados à disfunção: o domínio do de-
sejo e da excitação e o domínio do orgasmo e da ejacula-
ção. Aqui, considera-se ainda o modelo trifásico anterior,
segundo o qual o desejo surgiria antes da relação. Caso isso
não ocorra da maneira esperada, o homem pode ser diag-
nosticado com Transtorno do Desejo Hipoativo Masculino.

De acordo com o DSM-V, o transtorno erétil pode ocorrer


tanto quando o homem não consegue ter a ereção, quanto
quando ele não consegue manter a ereção da forma e pelo
tempo que gostaria. Essa classificação é interessante por ser
subjetiva e depender do que o paciente espera da relação
sexual, mas pode ser complicada para o clínico, já que nem
sempre o fato de não conseguir manter uma ereção até a
parceira ter orgasmo, por exemplo, significa que o paciente
tem necessariamente um transtorno erétil.

A antiga ejaculação precoce, hoje chamada de ejaculação


prematura, consiste em o indivíduo ejacular em qualquer
tempo maior do que um minuto de penetração e antes do
que ele gostaria – aqui, o DSM-V também faz uso de uma

Aline Sardinha 43

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classificação subjetiva, que depende do que o paciente espe-


ra da relação sexual. É importante que o profissional saiba
como olhar para essa queixa. Ainda que a ejaculação pre-
matura seja uma disfunção significativa, é preciso saber em
que contexto a queixa surge, considerando, por exemplo,
o que o indivíduo espera, se essa expectativa é realista, há
quanto tempo a queixa persiste etc.

Outra queixa comum é a ejaculação retardada, ou seja, ho-


mens que não conseguem ou que levam um tempo muito
longo para ter a ejaculação com penetração. São homens
que podem ter ejaculação em outras situações, como a mas-
turbação, mas que levam mais tempo do que eles ou a par-
ceira gostariam para ter a ejaculação com penetração – uma
queixa semelhante ao transtorno do orgasmo feminino.

Ainda que seja relatada na literatura e na clínica, a dor sexu-


al masculina não é ainda categorizada no DSM-V.

Aline Sardinha 44

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Figura 6. Disfunções sexuais masculinas, segundo o DSM-V.

(imagem: Dra. Aline Sardinha)

✓⃞■ VOCÊ SABIA?

Além das disfunções sexuais, o DSM-V inclui outras con-


dições relacionadas à sexualidade, como as parafilias. A no-
vidade desta edição é que foi proposta a distinção entre o
comportamento sexual atípico e o comportamento decor-
rente de um transtorno, que é aquele que causa sofrimen-
to, ameaça física ou psicológica para si ou para o bem-estar

Aline Sardinha 45

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de outros indivíduos. De acordo com a nova classificação,


a maioria das pessoas com interesses sexuais atípicos não
tem um transtorno mental. Para o diagnóstico do transtor-
no parafílico, o DSM-V requer que a pessoa com interesses
sexuais atípicos:

• sinta angústia pessoal sobre o seu interesse sexual, não ape-


nas sofrimento resultante da desaprovação da sociedade; ou

• tenha desejo ou comportamento sexual que envolva o so-


frimento psicológico, lesões ou morte de outra(s) pessoa(s),
ou prática sexual que envolva pessoas que não querem ou
que sejam incapazes de dar o seu consentimento legal.

Este artigo, que está disponível gratuitamente online, traz as


principais categorias de parafilias consideradas atualmente:
http://files.bvs.br/upload/S/1413-9979/2014/v19n2/a4147.pdf

● SAIBA MAIS
No início dos anos 2000, foi realizado no Brasil um grande
estudo populacional sobre os hábitos e comportamentos se-
xuais do brasileiro. Este trabalho traz estatísticas e informa-
ções interessantes para o nosso uso clínico e também para

Aline Sardinha 46

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compreendermos como os brasileiros entendem as questões


mais atuais relacionadas à sexualidade. Os dados podem ser
encontrados no livro Estudo da vida sexual do brasileiro, de
C.H.N. Abdo (editora Bregantini, 2004).

Aline Sardinha 47

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CAPÍTULO 5

ANATOMIA E FUNCIONAMENTO
SEXUAL FEMININO

Quantas mulheres conhecem toda a anatomia externa de


sua genitália? Quantos homens conhecem anatomia da ge-
nitália feminina? Ainda que pareça um conhecimento bási-
co, muitas questões que chegam ao consultório esbarram na
falta de informações sobre a anatomia da genitália.

A genitália feminina começa pelos grandes lábios, que são


formados de tecidos conjuntivo e gorduroso e são respon-
sáveis por proteger a vulva. Na vulva, estão presentes os pe-
quenos lábios, formados por uma mucosa sensível que re-
veste também a parte interna da vagina. Essa mucosa segue
até a abertura do canal vaginal, onde ocorre a penetração
do pênis durante o coito vaginal. Logo acima, localiza-se
a uretra, região por onde sai a urina. Muitas mulheres não
Aline Sardinha 48

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conseguem distinguir bem a localização da uretra, mas essa


informação é importante, já que, por vezes, infecções urina-
rias podem estar relacionadas à relação sexual.

Figura 7: Anatomia externa da vagina, órgão reprodutor feminino.

(imagem: Domínio público)

Os pequenos lábios revestem também o capuz do clitóris,


que é facilmente identificável na junção desses lábios dentro
da vulva. O clitóris é uma área muito sensível, mais ainda
do que, por exemplo, o olho humano – é fácil comprovar
isso pelo toque. No entanto, pouca gente sabe que o clitó-
ris não é formado apenas por essa ponta na junção dos pe-

Aline Sardinha 49

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quenos lábios: trata-se de um grande órgão que se ramifica


internamente por toda a região da vulva e do canal vaginal.
Atualmente, sabe-se que o clitóris é composto por uma sé-
rie de estruturas nervosas e que tem bulbos que se enchem
de sangue. Durante a fase de excitação, esses bulbos ficam
eretos devido ao aumento do fluxo sanguíneo, de modo
semelhante ao que ocorre com o pênis. Isso permite uma
abertura mais confortável da entrada da vagina e compri-
me o clitóris, fazendo com que a estimulação tanto externa
quanto interna dessa região seja mais prazerosa.

É comum que pacientes acreditem que o órgão sexual fe-


minino seja a vagina, mas, na verdade, a vagina é o órgão
reprodutivo feminino. O verdadeiro órgão sexual da mu-
lher é o clitóris, que pode ser ativado tanto diretamente pela
parte externa (capuz do clitóris) quanto pela parte interna.
A maior parte dos livros de anatomia e de educação sexual
não detalha as informações sobre o clitóris e muitas mulhe-
res não tem uma relação íntima ou não conhecem bem esse
órgão. Logo, essas mulheres não entendem o clitóris como
órgão sexual, o que pode repercutir nas disfunções sexuais
– como o órgão feito para gerar prazer é pouco conhecido,
dificilmente a mulher terá a resposta sexual que poderia ou
gostaria de ter.

Aline Sardinha 50

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Figura 8: Anatomia do clitóris, o órgão sexual feminino. (imagem: Domínio público)

Pouca gente sabe que a vulva, apesar de ser menos visível


que o pênis, pode ser melhor explorada a partir de diferen-
tes técnicas. Informação é, portanto, o primeiro caminho
para tentar reduzir a insatisfação sexual.

Vale notar, também, que muitas práticas que são esperadas


do papel do gênero feminino podem ter impacto negativo
sobre a saúde da vulva, como alguns tipos de depilação que
deixam a área muito exposta e sujeita à ação de microrga-
nismos, ou o uso de sabonetes íntimos que, no intuito de

Aline Sardinha 51

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modificar o odor, mudam a flora bacteriana da região. Essas


práticas podem gerar infecções recorrentes, como a candi-
díase, e interferir na saúde sexual da mulher. Todas essas
questões devem ser consideradas pelo profissional ao rece-
ber no consultório uma mulher com queixa sexual.

Outro ponto importante a ser considerado quando se trata


da anatomia feminina é o ponto G. Ainda que haja muita
discussão sobre a sua importância para a satisfação sexual,
não há evidências científicas de que ele exista ou de que seja
anatomicamente distinto. Isso precisa ficar claro para que
a mulher não acredite que possui um problema ou se sinta
inadequada caso procure e não encontre o ponto G.

O ponto G foi descrito por alguns especialistas como um


tecido espesso localizado no interior da vagina, a aproxi-
madamente seis centímetros da entrada do canal vaginal.
Essa região é, de fato, altamente inervada por ser adjacente
ao clitóris e, por isso, é muito sensível, gerando prazer na
penetração. Aliás, é este o motivo pelo qual a extensão do
pênis não faz diferença para o prazer feminino: a área sen-
sível fica bem próxima à abertura do canal vaginal. Prova
disso é o fato de que, se uma mulher coloca um absorvente
íntimo no local adequado, perto do colo do útero, ele fica
imperceptível, já que essa região não é tão sensível quanto
a entrada do canal, onde o absorvente causaria incômodo.

Aline Sardinha 52

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No fim das contas, sabemos que o ponto G pode ser identi-


ficado como um tecido espesso em algumas mulheres, mas
não se trata, necessariamente, de um tecido especial para
sentir prazer. É possível que o estímulo dessa região gere
prazer por ela estar tão próxima ao clitóris e estimulá-lo in-
diretamente. Portanto, reafirmamos que o órgão específico
do prazer feminino é o clitóris, e mulheres que não sentem
prazer pelo estímulo vaginal não necessariamente apresen-
tam uma disfunção.

Por fim, o desejo tem uma relação especial com a anatomia


feminina, pois é ele que dispara a lubrificação imprescin-
dível para a penetração. No entanto, nem sempre a mulher
inicia uma relação sexual a partir do desejo: há diversas
motivações que podem influenciá-la, como a vontade de se
sentir mais próxima do parceiro, o fato de estar no dia fértil
e querer engravidar, ou o fato de ser uma profissional do
sexo e esse ser o seu trabalho. Na ausência da lubrificação
natural, é possível lubrificar a vagina artificialmente – uma
prática corrente desde a Idade Média, quando eram usados
lubrificantes à base de gordura vegetal ou animal.

É interessante notar que o comportamento sexual femini-


no, na história da humanidade, se deslocou do desejo por
uma questão de possibilidade anatômica – diferentemente
do que acontece com os homens, para quem a falta de ere-
ção impede a atividade sexual com penetração. Atualmente,

Aline Sardinha 53

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porém, com a valorização recente do desejo feminino e das


ideias de engajamento e motivação para estar numa rela-
ção sexual, é cada vez mais comum que mulheres surjam no
consultório com dúvidas sobre seu próprio desejo, questio-
nando se o seu comportamento é normal em relação ao que
a sociedade espera.

Ao profissional de saúde, cabe escutar a paciente e entender


o que permeia seu desejo. O fato de uma mulher ter difi-
culdade para chegar ao orgasmo, por exemplo, leva a uma
frustração que diminui sua motivação para fazer sexo, o que
não necessariamente diminui seu desejo sexual.

O orgasmo feminino, como dito anteriormente, está ligado


à estimulação do clitóris. Logo, é muito importante desmis-
tificar a ideia de que o orgasmo feminino precisa ser vagi-
nal. Em 1966, Masters e Johnson mostraram que o orgasmo
feminino é clitoriano. No entanto, toda a tradição judaico-
-cristã persiste na relação entre prazer feminino e penetra-
ção para que o homem tenha lugar na relação sexual.

Sigmund Freud (1905), em sua teoria, tentou abarcar o or-


gasmo vaginal como um amadurecimento da sexualidade
feminina, o que não tem nenhum embasamento fisiológico,
mas acabou se espalhando pelo imaginário popular. Assim,
muitas pacientes ainda chegam ao consultório relatando
não ter prazer sexual e, quando o profissional questiona se a

Aline Sardinha 54

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paciente tem orgasmo clitoriano, muitas não sabem nem a


localização do órgão. Persiste a crença de que a mulher de-
mora a atingir o orgasmo, enquanto o homem obtém a res-
posta sexual com mais facilidade – mas hoje sabemos que
isso ocorre porque, pela penetração, o estimulo ao clitóris
é indireto, enquanto o homem é diretamente estimulado.
Em termos fisiológicos, as mulheres chegam ao orgasmo na
mesma rapidez que os homens, bastando que a estimulação
seja adequada às suas necessidades.

Por fim, outro tema recorrente são os orgasmos múltiplos.


De fato, as mulheres podem atingir a resposta sexual mais
vezes num espaço de tempo mais curto que os homens.

Porém, isso não é verdadeiro para todas as mulheres e tem


a ver com a intensidade do orgasmo alcançado – caso uma
mulher tenha um orgasmo muito intenso, pode demorar
muito mais para atingir o seguinte, mas, se tiver pequenos
picos menos intensos, é mais fácil obter vários orgasmos.
Na escuta do paciente, é importante considerar o caráter
normativo que essas informações ganham, fazendo com
que muitas mulheres questionem sua normalidade por não
terem orgasmos múltiplos ou que vários homens questio-
nem sua função sexual caso sua parceira não tenha diversos
orgasmos.

Aline Sardinha 55

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

● SAIBA MAIS
• Documentário: “Clitóris – o prazer proibido”

https://www.youtube.com/watch?v=yYXKE1iCam8

• Documentário: “Le clitoris”

https://vimeo.com/222111805

• Ted Talk: Peggy Orenstein: “Crenças femininas sobre o


próprio prazer sexual”

https://www.ted.com/talks/peggy_orenstein_what_young_
women_believe_about_their_own_sexual_pleasure

MATERIAL PSICOEDUCATIVO

• Pílula de bem estar Dra. Aline Sardinha: “Ela precisa respirar”

http://www.pilulasdebemestar.com.br/site/corpo_detail.asp?-
cod_blog=92

• HEIMAN, J. R. & LOPICCOLO, J. (1992). Descobrindo o


prazer: uma proposta de crescimento sexual para a mulher.
2a. Ed. São Paulo: Summus. 267p.

Aline Sardinha 56

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

● SAIBA MAIS
Para aprofundar alguns dos conceitos trabalhados neste ca-
pítulo, sugerimos a leitura dos seguintes textos:

• Carvalho, A.C. & Sardinha, A. (2017). Terapia Cognitiva


Sexual: uma proposta integrativa na psicoterapia da sexu-
alidade. Rio de Janeiro: Cognitiva. Capítulo 4: sexualidade
feminina

• Artigo original sobre a anatomia do clitóris: https://www.


ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16145367

• HITE, S. (1985). O relatório Hite. 17ª Ed. São Paulo: DI-


FEL. 487p.

Aline Sardinha 57

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

CAPÍTULO 6

ANATOMIA E FUNCIONAMENTO
SEXUAL MASCULINO

O pênis masculino troca sangue com o corpo continuamen-


te. Porém, no momento da excitação, uma série de mecanis-
mos aumentam esse aporte e promovem a retenção de san-
gue na região, gerando a ereção. O sangue chega aos corpos
cavernosos do pênis, um tecido que funciona como uma
esponja e possui válvulas que se fecham para reter o sangue.
Ali, o sangue se concentra e fica retido, fazendo com que o
pênis fique ereto e rígido. É nesse mecanismo que os me-
dicamentos desenvolvidos para disfunção erétil vão atuar.
A ereção tende a se manter enquanto o estimulo erótico é
mantido, até que ocorra o clímax da ereção e do prazer, le-
vando ao orgasmo.

Aline Sardinha 58

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

Figura 9: Anatomia do aparelho sexual masculino (imagem: Domínio público)

A ereção não ocorre apenas pelo estímulo sexual e pode


acontecer de forma reflexa quando algo encosta no pênis ou
durante o sono, no fenômeno conhecido como tumescência
noturna. Embora a maioria das pessoas acredite que a ere-
ção é o ponto de partida da relação sexual, na verdade, é o
estímulo sexual o gerador da excitação, o que, por sua vez,
gera a ereção. Por isso, não há razões para acreditar que um
homem que ainda não apresenta ereção não está excitado
sexualmente.

Essa é uma questão que gera constrangimento em muitos


casais. Por isso, é importante entender de uma pessoa que
se queixa de problemas de ereção o que exatamente ele es-
pera que aconteça. O profissional deve informar o paciente
Aline Sardinha 59

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

sobre a fisiologia sexual masculina, mostrando como a ere-


ção acontece como parte da excitação e não como ponto
de partida para ela, da mesma maneira que a lubrificação
feminina.

Outro aspecto importante sobre a sexualidade masculina é


a ejaculação. A maioria das pessoas tem a ideia de que o
sexo é apenas coito vaginal e que esse precisa durar tem-
po suficiente para que ambos tenham orgasmo. Para isso, o
homem precisa manter a ereção e não chegar à ejaculação,
já que aí entrará em período refratário e terá de aguardar o
próximo período de ereção. Tudo isso causa grande pressão
para o homem, que precisa focar no controle ejaculatório.

Na juventude, os homens têm menor controle da ejacula-


ção, mas, com o tempo, aprendem a controlar toda a re-
lação sexual de forma a prolongar o tempo entre o início
da ereção e a ejaculação. O mesmo vale para as mulheres:
caso o estimulo ao clitóris seja muito intenso, elas podem
chegar ao orgasmo muito rápido. Essa queixa, no entanto, é
menos comum para as mulheres porque o sexo com pene-
tração gera estímulo indireto, sendo mais comum que elas,
na verdade, demorem a ter resposta sexual. Para os homens,
como o estímulo é diretamente feito na glande, parte mais
sensível do pênis, as chances de ter uma ejaculação antes do
desejado são maiores.

Aline Sardinha 60

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

É importante conscientizar os pacientes de que eles terão


que manobrar a situação para fazer com que a relação sexu-
al dure o quanto desejam. O indivíduo que tem ejaculação
prematura não necessariamente tem prazer com o orgasmo
que ocorre com a ejaculação, já que era algo que esse indiví-
duo não esperava naquele momento e gera frustração pelo
término precoce do ciclo sexual.

Muitos homens se queixam, por outro lado, da ejaculação


retardada. Isso acontece pela falsa expectativa de, por es-
tarem com o pênis ereto, eles estejam no ápice do desejo e
prontos para a relação sexual – da mesma forma que uma
mulher que usa lubrificante artificial não necessariamente
está fisiologicamente pronta para a relação. Fato é que al-
guns homens podem demorar a chegar ao orgasmo, e essa
informação isolada não é suficiente para diagnosticar uma
disfunção.

É comum, ainda, que os homens relatem que não gostam


de usar preservativo, com medo de perder a ereção por não
conseguirem se manter focados no estímulo erótico ou pela
redução da sensibilidade do pênis. Alguns deles, inclusive,
retiram a camisinha no momento da relação, sem consen-
timento de sua parceira – o que, obviamente, tem aspectos
éticos complicados, considerando a possibilidade de uma
gravidez indesejada ou mesmo da transmissão de uma do-
ença. Enfim, o incômodo de muitos homens em relação ao

Aline Sardinha 61

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

uso do preservativo não é novo, mas precisa ser vencido. Da


mesma forma que as mulheres podem aprender a atingir o
orgasmo com penetração vaginal (mesmo quando o método
mais fácil é a estimulação direta do clitóris), os homens tam-
bém podem adquirir a capacidade de chegar ao clímax usan-
do camisinha. O preservativo deve ser incorporado à prática
sexual de forma a favorecer o prazer, e não impedi-lo.

● SAIBA MAIS
Assista ao documentário "Meu primeiro Viagra" (em in-
glês, “Erectionman”), lançado em 2009 pelo diretor Mi-
chael Schaap. O trailer está disponível em: https://vimeo.
com/21229280.

MATERIAL PSICOEDUCATIVO

• Pílula de bem estar Dra. Aline Sardinha: “Quando ele falha”

http://www.pilulasdebemestar.com.br/site/sexualidade_de-
tail.asp?cod_blog=34

• Cartilha Sociedade Brasileira de Urologia: Guia de infor-


Aline Sardinha 62

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

mações sobre a saúde do homem

http://portaldaurologia.org.br/pdf/CARTILHA_UROLOGICA.pdf

● SAIBA MAIS
Para aprofundar os conceitos trabalhados acima, sugerimos
a leitura de:

Carvalho, A.C. & Sardinha, A. (2017). Terapia Cognitiva


Sexual: uma proposta integrativa na psicoterapia da sexu-
alidade. Rio de Janeiro: Cognitiva. Capítulo 5: sexualidade
masculina

Aline Sardinha 63

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CAPÍTULO 7

A SEXUALIDADE NO SÉCULO XXI

Ao longo da história, os papéis sexuais sempre tiveram um


código de conduta rígido e bem definido. Apesar de este co-
rolário de regras ir se alterando com o tempo e da aparente
liberdade que temos hoje, nossos pacientes ainda estão su-
jeitos a demandas e expectativas relacionadas ao papel se-
xual de cada gênero, que continuam igualmente exigentes.
Historicamente, os homens tiveram maior liberdade sexual
do que as mulheres. No entanto, essa liberdade sempre veio
acompanhada de responsabilidades. A sociedade sempre
permitiu, por exemplo, que os homens expressassem seu
desejo por relação sexual quando quisessem. No entanto,
hoje, a sociedade criou uma expectativa de que o desejo sexu-
al esteja sempre presente nos homens. Um homem que recu-

Aline Sardinha 64

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

sa o convite para uma relação sexual acaba sendo mal visto.

Atualmente, a ideia de performance sexual é muito presen-


te. Exige-se que os homens estejam sempre prontos, com
desejo, ereção e controle ejaculatório, o que não condiz com
a sua realidade fisiológica. Espera-se que o homem, inde-
pendentemente de como se sente, sempre responda a um
estimulo erótico com ereção, no entanto, para que a res-
posta sexual se dê, as condições emocional e fisiológica de-
vem ser de conforto, e toda a pressão pela resposta sexual e
performance traz, na verdade, um desconforto. Além disso,
observa-se um aumento da valorização do prazer femini-
no, sendo esse associado a uma habilidade masculina – em
outras palavras, se uma mulher não tem um orgasmo, as-
socia-se isso a uma incapacidade ou fracasso da parceria,
que “não sabe como dar prazer”. A mulher, ainda que tenha
mais liberdade para expressar seu desejo, continua sendo
colocada num lugar passivo, alguém cujas necessidades se-
xuais devem ser supridas pelo outro – o que coloca sobre
o homem as responsabilidades pelas fases do ciclo sexual
tanto da mulher quanto dele mesmo.

A maior liberdade sexual feminina também veio com uma


série de atribuições. Espera-se, por exemplo, que as mu-
lheres sintam desejo e obrigatoriamente tenham orgasmo
numa relação. Uma mulher sem orgasmo passa a se sentir
inadequada e, muitas vezes, procura os serviços de saúde

Aline Sardinha 65

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

e a psicologia. Mesmo reconhecendo que a busca por aju-


da profissional é importante, é preciso entender a motivação
que leva essa mulher ao consultório, já que algumas mulheres
buscam melhorar a própria performance sexual apenas para
manter uma relação ou para não frustrar a parceria, o que
pode não ser o suficiente para favorecer a resposta sexual.

Outro aspecto curioso é que, principalmente em casais


mais jovens, espera-se que a mulher expresse com clareza
seu desejo sexual para a parceria. No entanto, nem sempre
a mulher aprende sobre os próprios mecanismos de prazer.
Se, por um lado, os meninos, ainda na juventude, são esti-
mulados a descobrir seu corpo por meio da masturbação,
as meninas geralmente são julgadas negativamente caso o
façam. Poucas mulheres se sentem à vontade para expres-
sar seu desejo, enquanto, para os homens, isso é estimulado
desde cedo. O resultado é que, ainda que o parceiro espere
que a mulher fale sobre suas preferências, é preciso consi-
derar que as mulheres nem sempre sabem o que as leva ao
orgasmo ou mesmo o que motiva seu desejo.

Com o aumento da liberdade sexual feminina, gostar de


sexo, para as mulheres, deixou de ser algo proibido para
depois passar a ser um direito e, mais recentemente, uma
obrigação. Hoje, é exigido que elas gostem de sexo e tenham
desejo. Uma mulher que não gosta de fazer sexo com fre-
quência passa a ser vista como uma mulher que precisa de

Aline Sardinha 66

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ajuda por não ter uma resposta sexual adequada. Obvia-


mente, é preciso valorizar e buscar a necessidade de prazer
dessa mulher, mas sem deixar de considerar o estigma que
ela carrega no contexto social atual.

As meninas jovens também estão passando por uma mu-


dança: precisam ter relação sexual antes do casamento. Esse
padrão, que era iminentemente masculino, traz uma nova
pressão social para a mulher, pois se exige dela uma expe-
riência sexual. Embora a possibilidade do sexo antes do ca-
samento seja sinal de liberdade para muitas meninas, para
outras o fato de terem 20 anos e não terem ainda iniciado a
vida sexual as torna vulneráveis, levando a uma relação que
ocorre não a partir do desejo, mas por pressão social.

Portanto, hoje a sociedade migra, na questão sexual, de um


padrão proibitivo para um padrão permissivo, mas que com
ele traz atribuições e pressões tanto para o homem quanto
para a mulher. Isso leva ao aparecimento de mais pacien-
tes buscando o serviço de saúde para obter medicamentos
e tratamentos que estimulem a resposta sexual. Atualmente,
vemos uma grande procura por soluções terapêuticas para me-
lhorar a libido feminina, assim como os homens buscam o ser-
viço de saúde para obter medicamentos que favoreçam a ereção.

Aline Sardinha 67

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

MATERIAL PSICOEDUCATIVO

Pílula de bem estar Dra. Aline Sardinha: “Homem que é


homem”

http://www.pilulasdebemestar.com.br/site/sexualidade_de-
tail.asp?cod_blog=77

Pílula de bem estar Dra. Aline Sardinha: “O novo manual


do sexo”

http://www.pilulasdebemestar.com.br/site/sexualidade_de-
tail.asp?cod_blog=20

✓⃞■ VOCÊ SABIA?

O duplo-padrão sexual é definido como duplicidade no jul-


gamento, nas atitudes e nas normas face a várias práticas
sexuais, que se traduz em uma menor permissividade na
avaliação dos comportamentos e atitudes sexuais das mu-
lheres e em uma atitude mais permissiva, porém mais exi-
gente, em relação aos homens.

O conceito de duplo-padrão sexual foi primeiramente in-

Aline Sardinha 68

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

troduzido por Reiss (1960, 1967) visando descrever a mu-


dança no comportamento sexual pré-matrimonial das mu-
lheres. Atualmente, vemos uma migração gradual da visão
sobre a sexualidade feminina em direção ao padrão masculino,
na medida em que existe maior permissividade sobre a expres-
são da sexualidade feminina, que vem acompanhada também
de maior exigência de desempenho por parte das mulheres.

REFLEXÕES PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Como a mudança no padrão sexual impacta a queixa sexual


masculina e feminina que chega ao consultório? Que efeito
ela tem sobre o comportamento de buscar tratamento para
as dificuldades sexuais e como isso se reflete na demanda
clínica dos pacientes?

Como você imagina que o duplo padrão sexual a as novas


demandas sexuais impactam a sexualidade em relaciona-
mentos homoafetivos? Será que os indivíduos homossexu-
ais enfrentam as mesmas pressões que os pacientes hete-
rossexuais? Quais as exigências e expectativas que recaem
sobre o parceiro nessas situações?

Aline Sardinha 69

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CAPÍTULO 8

MEDICAMENTOS E SEXUALIDADE

Desde a década de 1990, os homens têm acesso a drogas que


estimulam a performance sexual. Boa parte delas tem efeito
rápido e eficaz, atuando geralmente no mecanismo de au-
mentar o fluxo sanguíneo para o pênis, numa manipulação
química da ereção. O exemplo mais famoso é o Viagra, que
surgiu como solução para a exigência social sofrida pelo ho-
mem de mostrar a ereção como símbolo de virilidade. Com
o surgimento da medicação, a disfunção erétil sofreu uma
mudança de perspectiva, sendo, então, normalizada, já que
havia uma medicação que solucionaria o problema.

Nos consultórios dos profissionais, o resultado dessa nor-


malização foi a chegada de pacientes preocupados porque,
mesmo fazendo uso de medicamento, não conseguiam atin-
Aline Sardinha 70

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gir a ereção. Isso ocorre porque a disfunção erétil envolve


não apenas aspectos químicos e fisiológicos, mas também
questões subjetivas e do contexto social. Muitos pacientes
utilizam a medicação como mecanismo de segurança – até
mesmo homens jovens que não precisam do remédio pas-
saram a utilizá-lo. Homens que fazem sexo com preserva-
tivo fazem uso do Viagra para conseguir uma ereção que
acreditam não ser possível atingir por conta da sensibili-
dade diminuída. De alguma maneira, a promessa da droga
que favorece a resposta erétil masculina passou a ser inte-
ressante para os homens e eles passaram a usá-la de forma
corriqueira, com uma resposta sexual condicionada ao me-
dicamento.

O problema no uso indiscriminado do Viagra ou outros si-


milares é que, em algum momento, os homens podem se tor-
nar dependentes da droga, só conseguindo a resposta sexual
a partir dela. Nesses casos, a terapia pode ajudar o paciente a
recuperar a resposta sexual sem precisar do remédio.

O medicamento torna-se perigoso quando o paciente passa


a associar a ereção apenas ao consumo da droga: na medida
em que há uma forma química de estimular a resposta se-
xual, as condições e contextos eróticos deixam de ser neces-
sários. No entanto, vale lembrar que a droga provoca a ere-
ção, mas não necessariamente o orgasmo, já que seu papel é
apenas aumentar o fluxo de sangue no pênis. A medicação

Aline Sardinha 71

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é, portanto, importante, mas deve ser utilizada como recur-


so dentro de uma abordagem crítica que leve em considera-
ção todos os aspectos que precisam estar presentes para que
a relação sexual ocorra.

Por fim, outro tratamento médico que merece atenção aqui


é a reposição hormonal, antes exclusiva das mulheres, mas
hoje disponibilizada também para os homens. Embora seja
útil para minimizar incômodos como a redução da lubri-
ficação vaginal após a menopausa, a reposição hormonal,
em qualquer dos sexos, não deve ser usada apenas para me-
lhorar o desejo sexual, até porque não se descobriu, ainda,
uma droga realmente eficiente para isso – uma limitação
que deve ser enxergada como oportunidade para descobrir
e dominar os mecanismos naturais de prazer.

Por fim, é preciso que o profissional esteja atento a medica-


mentos que possam causar efeitos colaterais na resposta do
prazer. Um exemplo é a pílula contraceptiva, que cria uma si-
tuação hormonal artificial no corpo feminino e pode resultar
na queda do desejo sexual. Algumas mulheres foram expos-
tas à pílula desde a primeira relação e nem conhecem como
funciona o seu desejo sexual sem o uso do medicamento.

Igualmente relevantes são os antidepressivos e outros psi-


cotrópicos, cujo uso é bastante comum entre pessoas que
frequentam os consultórios de psicologia. Boa parte dos an-

Aline Sardinha 72

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

ticonvulsivantes, antidepressivos e antipsicóticos tem efeito


sobre a libido, a ereção e o orgasmo. Da mesma forma, pa-
cientes que fazem uso de anti-hipertensivos e outras drogas
também podem sofrer efeitos na resposta sexual.

Portanto, é muito importante que o profissional considere


como é possível atuar no sentido de favorecer a satisfação
sexual, pensando em soluções e adaptações que permitam
ao paciente ter a resposta sexual mesmo durante o uso do
medicamento, que muitas vezes não pode ser trocado ou
suspenso. O profissional tem um papel de favorecimento da
qualidade de vida e precisa pensar o indivíduo de forma inte-
gral, trabalhando de forma eficaz numa equipe multidisciplinar.

● SAIBA MAIS
• Notícia sobre a liberação da pílula do desejo feminino
nos EUA: https://globoplay.globo.com/v/4403705/

• Reportagem sobre a pílula do desejo feminino:

http://epoca.globo.com/vida/noticia/2016/03/o-fracasso-do-a-
ddyi-o-viagra-feminino-e-manipulacao-do-feminismo.html

Aline Sardinha 73

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

• Reportagem sobre antidepressivos e desejo sexual:

http://vogue.globo.com/moda/moda-news/noticia/2014/02/
sexo-nao-obrigada-como-os-antidepressivos-estao-acaban-
do-com-libido.html

• Impacto dos contraceptivos orais na função sexual:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/27525531/?i=2&-
from=/28433366/related

• Doença cardiovascular e função sexual:

http://www.rbconline.org.br/artigo/impacto-da-terapia-far-
macologica-na-funcao-sexual/

• Artigo sobre efeitos colaterais dos psicofármacos na esfera sexual:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0101-60832006000300007&lang=pt

Aline Sardinha 74

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CAPÍTULO 9

CONTRACEPÇÃO E SEXO SEGURO

Muitas vezes, questões relacionadas a sexo seguro e à contra-


cepção aparecem no consultório do profissional. É preciso
trabalhar esse tema com os casais para que a contracepção e
o sexo seguro não sejam um fator interferente na busca pela
resposta sexual. O preservativo, como já comentado, é bem
conhecido pelos casais como um método necessário, mas
que às vezes tem um impacto negativo no desejo e no prazer
sexual. No entanto, é possível pensar em outros métodos
que possam facilitar a vida sexual do paciente.

A falta de informação sobre outros métodos leva a conse-


quências graves – notadamente, a resistência ao uso do pre-
servativo pode levar a consequências como o aumento dos
casos de Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.
Aline Sardinha 75

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

Essa é uma questão de saúde pública e um desafio para os


profissionais da área, especialmente porque a ocorrência
de doenças tem crescido em diversas populações, mesmo
aquelas que não costumam ser associadas a “grupos de ris-
co” pelo público leigo, como mulheres em relacionamento
estável e população idosa. Já entre os mais jovens, aumenta
a visão da Aids como um problema crônico, mas não fatal
como era visto nos anos 1980, o que, somado à exigência
de performance sexual, leva os jovens a rejeitarem o uso
do preservativo, ainda que saibam da sua importância. Em
consequência, além da Aids, outras doenças, como sífilis,
gonorreia e HPV, voltam a se espalhar.

Visando à prevenção, o profissional de saúde precisa mos-


trar ao paciente possibilidades alternativas, como a cami-
sinha feminina, e alertá-lo sobre práticas que, embora co-
muns e vistas como pouco perigosas, como o sexo oral sem
camisinha, podem ocasionar a transmissão de doenças.
Cabe ao profissional ajudar o paciente a negociar a prática
de sexo seguro sem prejudicar a resposta sexual.

■ CONTRACEPÇÃO NO CONSULTÓRIO

É fundamental que o profissional conheça os diferentes mé-


todos contraceptivos existentes além do preservativo e do
anticoncepcional hormonal. Considerando somente a con-
Aline Sardinha 76

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

tracepção, um método bastante eficaz é o diafragma, um


capuz de silicone colocado no colo do útero, de preferência
com o uso associado de um espermicida. Há também mé-
todos comportamentais, como o coito interrompido, que
pode ser combinado com o uso do diafragma.

Atualmente, podem ser utilizados também métodos que


permitem o monitoramento da fertilidade, que, combina-
dos com outros métodos de barreira, por exemplo, terão
boa eficácia e baixo ou nenhum efeito colateral. Porém,
os métodos mais comumente usados colocam no corpo
feminino grande carga de hormônio – é o caso da pílula
anticoncepcional, do dispositivo intrauterino, do anel hor-
monal, do adesivo hormonal e da pílula do dia seguinte.
Todos esses métodos são eficazes e trazem efeitos terapêu-
ticos importantes, mas também geram grande responsabi-
lidade para a mulher sobre a contracepção, além de efeitos
adversos como a queda da libido e o risco aumentado de
desenvolver problemas de saúde como trombose e acidente
vascular cerebral.

Existem ainda os métodos contraceptivos cirúrgicos, como


a vasectomia – corte nos canais que levam o sêmen até a saí-
da do pênis – e a laqueadura – corte nas trompas femininas,
impedindo que o óvulo chegue ao útero para ser fecundado
pelo espermatozoide. São métodos com baixa possibilidade
de reversão, mas úteis em relações estáveis nas quais o casal

Aline Sardinha 77

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

já tem e não deseja ter outros filhos. Por questões culturais,


no entanto, a vasectomia ainda não é muito utilizada, em-
bora seja considerada bastante segura e muito menos inva-
siva do que a laqueadura.

Em alguns casos, cirurgias e medicamentos abortivos são


utilizados como método contraceptivo, o que gera conse-
quências fisiológicas, emocionais, psicológicas e até legais
muito danosas. Infelizmente, quando se tem pouca infor-
mação sobre os métodos disponíveis e uma sobrecarga das
mulheres quanto à contracepção, esse acaba sendo o mé-
todo escolhido por mulheres que não receberam suporte
adequado.

Para o profissional, é importante as questões sociais, cul-


turais, religiosas e familiares que influenciam a escolha do
método contraceptivo. O setting em que o profissional vai
receber a queixa sexual deve ser um ambiente seguro e sau-
dável para que o casal possa negociar e refletir sobre os mé-
todos que vão utilizar.

PRINCIPAIS MÉTODOS CONTRACEPTIVOS

• Barreira: camisinha, diafragma

• Comportamentais: coito interrompido, coito não-vaginal,

Aline Sardinha 78

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

abstinência, monitoração da fertilidade, tabelinha

• Hormonais: pílula, anel, adesivo, DIU, pílula do dia seguinte

• Cirúrgicos: Vasectomia, laqueadura, aborto, DIU não-


-hormonal

MATERIAL PSICOEDUCATIVO

• Reportagem sobre o aumento das DSTs entre jovens bra-


sileiros: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39093771

• Pílula de bem estar Dra. Aline Sardinha: “Sem camisinha”

http://www.pilulasdebemestar.com.br/site/sexualidade_de-
tail.asp?cod_blog=88

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

● SAIBA MAIS
• Estatísticas atualizadas sobre Aids (Unaids):

https://unaids.org.br/estatisticas/

• Documento do Ministério da Saúde sobre anticoncep-


cionais orais:

http://www.ufrgs.br/boletimcimrs/2011%20-%20Uso%20ra-
cional%20de%20contraceptivos%20hormonais%20orais.pdf

• Posicionamento institucional da Sociedade Brasileira de


Pediatria e da Federação Brasileira de Ginecologia e Obste-
trícia sobre sexo seguro e contracepção para adolescentes:

http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=168

• Documento do Ministério da Saúde sobre planejamen-


to familiar e contracepção:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0102assistencia1.pdf

• Cartilha do Ministério da Saúde sobre contracepção e


sexo seguro:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/direitos_sexuais_
reprodutivos_metodos_anticoncepcionais.pdf

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

• Texto que traz uma reflexão interessante sobre os deter-


minantes socioculturais e o aborto:

http://azmina.com.br/2017/09/precisamos-falar-sobre-abor-
to-mas-nao-do-jeito-que-voce-esta-pensando/

REFLEXÕES PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

1. Pense sobre sua história pessoal e sexual. Como foram


tomadas as decisões relativas a contracepção e sexo seguro?
Quem foram suas principais influências? Quais os fatores
determinantes na escolha do método? Quais as consequên-
cias advindas do uso destes métodos? Refletir sobre a nossa
própria experiência nos permite entender alguns dos fato-
res socioculturais comuns aos nossos pacientes, bem como
a maneira como o processo de tomada de decisão acontece
nesse quesito. A partir dessa análise, o que você poderia uti-
lizar para melhor compreender a experiência dos seus pa-
cientes neste aspecto?

2. Como será que a presença de uma DST, como a Aids ou


outras, impacta a vida sexual dos casais em que um dos in-
divíduos está infectado? Quais as recomendações que de-
vemos ter em mente ao abordar a sexualidade desses ca-
sais? Que crenças precisam ser desmistificadas para que
os pacientes e seus parceiros possam ter uma vida sexual
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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

saudável e prazerosa para ambos? O texto a seguir traz


bons insights para iniciar essa reflexão: https://naoegayse.
com/2014/11/13/esqueca-tudo-o-que-voce-sabe-sobre-hiv/

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Como abordar a queixa sexual: um guia para psicólogos, educadores e profissionais de saúde

REFERÊNCIAS

American Psychiatry Association. (2013), Diagnostic and Statis-


tical Manual of Mental disorders - DSM-V. 5th.ed. Washington:
American Psychiatric Association.

Basson, R. (2000). The female sexual response: a different model. J


Sex Marital Ther., 26(1):51-65.

Basson, R. (2002). A Model of Women’ s Sexual Arousal, 1–10.

Freud, S. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.

Kaplan, H. S. (1979). Disorders of Sexual Desire. New York: Brun-


ner/Mazel.

Masters, W. H., & Johnson, V. E. (1966). Human Sexual Response.


Toronto, New York: Bantam Books.

Reiss, I. L. (1960). Premarital sexual standards in America. New


York: Free Press.

Reiss, I. L. (1967). The social context of premarital sexual permis-


siveness. New York: Holt, Rinehart and Winston.

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