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INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA

GABRIELA VIVIANE NABOZNY RIBEIRO

RELATÓRIO DA VISITA AO CAPS AD

PONTA GROSSA
2018
RELATÓRIO DA VISITA AO CAPS AD

A nossa conversa durante a visita ao CAPS AD se deu com a enfermeira coordenadora


da instituição, que se propôs a falar sobre o serviço, bem como nos apresentar à estrutura
física do local. O CAPS AD de Ponta Grossa funciona desde 2004 (logo que o Franco da
Rocha fechou) e é o serviço mais antigo de CAPS da cidade. Este serviço surge com a
função de diminuir os internamentos, proposta trazida através da Reforma Psiquiátrica, de
pessoas dependentes de álcool e drogas, bem como as que estão em sofrimento
psicológico grave. Entende-se que em alguns casos, há a necessidade de internamento, em
relação à desintoxicação e à surtos, mas que ele seja pontual e breve.
O objetivo central do CAPS é fazer a reabilitação psicossocial de pessoas que estão em
algum tipo de sofrimento, visto que é um serviço da atenção secundária da área psiquiátrica,
que não precisa necessariamente de um encaminhamento da atenção primária. Outra
característica é que o paciente que necessita de atendimento não precisa esperar em filas: o
CAPS é um serviço de “portas aberta”, ou seja, as pessoas podem ter acesso na hora que
quiserem, durante seu funcionamento que é em horário comercial, das 8h às 18h.
No primeiro atendimento, é realizada uma entrevista com a pessoa para saber quais são
as demandas, como é o uso de drogas e/ou álcool, quais são as necessidades, entre outras
coisas. Através desta entrevista, analisa-se a questão de encaminhamento médico ou
combinar os dias que a pessoa vai frequentar o serviço. Os dias de participação são
bastante flexíveis e podem ser decididos a partir dos dias em que a pessoa melhor se
adapta, visto que cada dia da semana se realiza uma atividade diferente, por exemplo, na
terça trabalha-se com a horta.
Um dos procedimentos realizados no CAPS AD é a confecção do Projeto Terapêutico
Singular (PTS), onde primeiramente busca-se entender a história de vida da pessoa e, no
decorrer do processo se estabelecem metas para sua vida pessoal, a fim de resgatar as
vontades e desejos do usuário do serviço. Neste projeto não se avaliam apenas metas
relacionadas ao uso de álcool e drogas, mas também para todos os contextos da vida. Uma
das questões trabalhadas dentro do serviço é de colocar no lugar da droga/álcool outro
prazer que faça sentido para a pessoa, como por exemplo o resgate de vínculos afetivos, o
que varia de pessoa para pessoa, por isso é um trabalho singular. Dentro do CAPS adota-se
uma política de redução de danos, onde não se exige a abstinência total, mas sim a
diminuição dos riscos relacionados ao álcool e as drogas, para desta forma poder reabilitar
as pessoas.
As atividades realizadas no serviço são em grupo, mas também acontecem
atendimentos individuais. Elas variam em oficinas de cinema, documentários, artesanato,
entre outras, com objetivos variados, como por exemplo, o trabalho com a coordenação
motora, poder de decisão, atenção, sendo que nas atividades mais informais e
descontraídas, surgem, com mais facilidade, discursos muito ricos que às vezes não são
falados diretamente aos profissionais, pois algumas pessoas falam apenas o que é
esperado, o que acham que é o ideal. Cada profissional pode realizar uma atividade
relacionada a sua área e tem a liberdade de escolher o tema, como por exemplo os
profissionais de enfermagem são responsáveis pela orientação, por fazer grupos
informativos para dar conhecimento às consequências do uso de álcool e drogas, os
psicólogos fazem grupos mais terapêuticos. São realizadas também atividades externas,
como passeios em praças, cinema, piqueniques, lanches, etc.
A equipe é formada por 23 funcionários, incluindo T.O, educador físico, 3 psicólogos,
psiquiatra, assistente social, técnico administrativo, técnico em enfermagem, zeladores e
estagiários. Com relação aos usuários, no final de setembro contavam com 315, porém este
número oscila bastante por questões de abandono do tratamento, mas geralmente são 50
pessoas por turno. No CAPS AD são atendidos apenas adultos, sendo que adolescentes e
crianças que venham a ter problemas relacionados ao uso de álcool e drogas, são atendidos
pelo CAPS I.
Com relação às demandas, a substância mais utilizada pelos usuários é o álcool e em
segundo lugar, o crack, sendo que as pessoas de mais idade fazem mais o uso de álcool e
os jovens, de crack. Dentro das dependências do serviço é feito o teste rápido para o
acompanhamento e mapeamento de doenças como HIV, hepatites e sífilis, como também é
dada uma maior visibilidade à tuberculose. Entretanto, diferente do que geralmente se
pensa, não é a maioria dos usuários que possuem essas comorbidades, na verdade é mais
comum apresentarem doenças psiquiátricas, como depressão, esquizofrenia e bipolaridade,
do que doenças físicas.
Com relação ao processo de alta, é realizado quando a pessoa atinge as metas que
foram estabelecidas, visando a melhora e não a cura em si. Desta forma, fica mais fácil fazer
o “desmame” do serviço, visto que alguns usuários ficam dependentes do CAPS. De
qualquer forma, a função deste serviço é ajudar a clarear, criar estratégias para trabalhar
com a questão do uso de drogas, do estabelecimento de metas, da questão do prazer e do
cumprimento do combinado que cada um estabelece consigo mesmo.
A estrutura física é uma casa alugada, ampla e muito antiga, pois é recomendado que
estes serviços sejam acolhedores e não tenham aspecto clínico como de um hospital. É
composta por horta, terreno amplo, recepção, refeitório, sala de equipe e enfermagem,
consultórios, sala administrativa e salas de oficina. São ofertadas 3 refeições diárias: café da
manhã, almoço (marmita) e café da tarde.
Todas as sextas-feiras de manhã, a equipe faz uma reunião para a discussão de casos.
Trabalha-se com a noção de mini-equipes, em que cada uma é responsável por um
território: Uvaranas 1 e 2; Esplanada, Nova Rússia e Centro e Oficinas e Santa Paula.
Algumas questões no discurso da coordenadora chamaram atenção, como por exemplo
não serem ofertados grupos específicos para cada tipo de substância utilizada pelos
usuários, como ainda está presente a noção de internamento forçado, visto que algumas
pessoas têm medo de ir até o CAPS pois pensam que poderão ser internadas em clínicas,
por isso se torna necessário fazer reunião com a família a fim de informar sobre o
funcionamento do serviço.
Também é muito interessante a relação que se estabelece entre equipe e usuários, uma
relação de respeito mútua. Os usuários protegem muito a equipe por se sentirem
respeitados, e a equipe por sua vez não trata os usuários nem como “coitadinhos”, nem
como marginais, apenas como cidadãos que estão em busca de ajuda. Nunca houve relato
de agressões contra algum funcionário por parte de um usuário do serviço, porém, entre
eles algumas vezes acontecem algumas situações entre eles, principalmente entre os
usuários de crack e os de álcool.
Outro fato importante de ser mencionado é que quem tem menos apoio social e vive me
contextos desfavoráveis, têm mais dificuldade para a reabilitação, sendo assim, são
extremamente necessárias as visitas nas residências dos usuários para que seja visto onde
estão as possibilidades de mudança e melhora para facilitar e ajudar na reabilitação
psicossocial de cada um.

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