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VA 2: Psicologia Hospitalar

Um olhar sobre a atuação do Psicólogo Hospitalar

em um hospital geral particular

Professor: Oswaldo Maia

Turma 511. Turno: Manhã.

Grupo:

Daniele Paes Leme

Fernanda Ralile de Moura Costa

Joel Martins Conceição

Marysol Barbosa Monteiro da Silva

Reny Jessika de Oliveira Pereira

Sayonara Garcia Machado Barbosa da Silva

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Este trabalho pretende apresentar a entrevista realizada com a Psicóloga
Marcely Quirino, coordenadora do Serviço de Psicologia Hospitalar do CHN,
Complexo Hospitalar de Niterói. A partir de seu relato, buscamos fazer reflexões e
conexões com o conteúdo abordado na disciplina Psicologia Hospitalar.

Marcely nos recebeu gentilmente, virtualmente, em seu horário de almoço,


compartilhou sobre sua rotina, estrutura e processos de trabalho como Psicóloga
Hospitalar, área na qual atua há 12 anos.

Ao iniciar, descreveu a grande estrutura do Hospital geral particular em que


atua, um complexo que conta com mais de 300 leitos, serviços diagnósticos,
emergência, internação clínica e cirúrgica, sendo um hospital quaternário, que
realiza transplantes de medula óssea, fígado, atendimentos de alta complexidade.
O hospital atende um público diverso desde neonatal ao paciente adulto.
Marcely destacou se tratar de um hospital certificado por normas internacionais de
qualidade, o que se reflete em sua prática profissional em politicas de
atendimento, fluxo de processos e indicadores de qualidade que são monitorados,
conforme esses padrões.

Transcrição da entrevista:
1. Poderia descrever sua formação e experiência, bem como áreas em
que atua no momento?
Sou graduada em Psicologia com especialização em TCC, Psicologia
Hospitalar e Psico-oncologia. Dentro desse nicho, faço treinamento em empresas,
orientação de alunos e sou coordenadora dos serviços psicológicos do Hospital
CHN. Trabalhamos, sobretudo, no suporte emocional de pacientes e familiares em
qualquer processo de adoecimento. O atendimento é focado nas questões da
hospitalização. Na parte analítica, estamos sempre avaliando nossa estrutura e
fluxos de atendimento, além de monitorar indicadores de qualidade desses
atendimentos.
 Em que momento se sentiu “chamada” para trabalhar em um hospital?
Na verdade queria estagiar, não necessariamente nessa área, fiz um processo
e comecei a trabalhar num grande hospital. Ao longo dos atendimentos e tempo
de estudo, me apaixonei e me encontrei. Vi como um psicólogo é capaz de mudar
a história de um paciente, de uma equipe, de um hospital. Se o profissional sabe
quem ele é tecnicamente, tudo muda. É um trabalho que exige muita criatividade
para organizar as demandas, complexidades e dinâmicas de um hospital.

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 Como a demanda do paciente chega até você e como é feita sua
intervenção junto a ele e/ou familiares?
Nós chegamos ao paciente através de parecer médico com uma demanda
específica, que também pode ser identificada por outros membros da equipe
multiprofissional, porém, o encaminhamento deve ser feito pelo médico. Damos
atendimento para os dois, família e paciente, pois alguns adoecem juntos, outros
vão se desconhecer nesse cuidado com o outro. Nosso suporte é principalmente
emocional, dar voz à dor deles, pois ninguém escolhe estar no hospital, naquela
situação, isso desorganiza a pessoa. O hospital pode despersonalizar o indivíduo,
que não se reconhece nesse lugar, pois é um lugar de fragilidade e muitas vezes
eles perdem a autonomia sobre a vida e suas escolhas. Muitas vezes suas
questões morais são confrontadas, sua estética é alterada, a vulnerabilidade de
depender do outro, tudo isso mexe com a pessoa. Nossa conduta está ligada a
técnica breve focal, isto é, tratar todos os casos com urgência, início, meio e fim.
Não estamos fazendo uma psicoterapia e o paciente não ficará ali para sempre,
por isso nada pode ser deixado para o dia seguinte. No caso infantil, por exemplo,
o foco são os pais porque as crianças são esponjas e vão absorver o estado
emocional deles.
Nossa atuação se dá de acordo com a demanda: pode ser feita
individualmente, a beira do leito com o paciente e ou familiares, também pode ser
feita em grupo. Temos o Grupo Acolher, feito junto às famílias dos pacientes do
CTI neuro e cardiológico. Temos o atendimento aos pais da UTI Neonatal, que é
feito em grupo, no local, no momento em que são dadas as notícias de evolução
dos bebês. Acompanhamos esse momento e realizamos o acolhimento.
Podemos atuar a partir do impacto de um diagnóstico, apoiar a adesão ao
tratamento, atuar junto a momentos de perdas, atendimento pós-óbito, sempre
com o acolhimento e orientação.
 Como é composta a equipe multiprofissional que você interage? Quais
são os maiores desafios encontrados?
Temos nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos,
assistentes sociais, médicos, enfermeiros, técnicos e enfermagem, apoio, uma
equipe realmente diversa. Semanalmente é realizada uma reunião de equipe
chamada Round, para falar sobre os casos vigentes e escutar as diferentes visões
sobre eles. No nosso caso, dos psicólogos, incluímos na discussão como o
paciente e a família têm lidado com o impacto daquela doença. Após as falas,
traçamos planos terapêuticos. Importante dizer que nós temos voz para decidir
formas de conduta e desfecho dos casos. Por todos estarem com olhares atentos,
muitas vezes a demanda não vem apenas dos médicos, mas dos outros
profissionais. Ninguém trabalha sozinho e precisamos de todos para uma entrega
de excelência, o desafio está em encontrar pessoas qualificadas, que tenham boa

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comunicação e que consigam fazer pontes com diferentes equipes. No
desdobramento do plano terapêutico e condutas, mais equipes podem e
costumam ser envolvidas, como as apoio, limpeza, manutenção e até engenharia,
quando precisamos de ações junto a estrutura física.
O hospital tem um protocolo de risco de suicídio e quando acionado pode envolver
transferência do paciente para um leito mais próximo ao posto de enfermagem, o
que favorece melhor monitoramento, uso de talheres descartáveis, retirada da
tranca do banheiro, até possível transferência para uma Unidade Psiquiátrica
externa, conforme cada caso. Isso envolve grande parte da equipe. No hospital
não fazemos nada sozinho, você precisa da equipe para fazer um trabalho efetivo.
Precisa ter uma excelente comunicação, o que é o maior desafio em qualquer
instituição.

 Qual foi a experiência mais marcante na carreira até agora?


Trabalhei durante toda a pandemia Covid 19, em sua fase mais crítica, com
certeza o momento mais desafiador, os pacientes não podiam ter acompanhantes
e receber visitas, muitos internaram e foram a óbito. Foi preciso reinventar nosso
trabalho, criamos novos processos, fluxos e alternativas para que os pacientes
pudessem se comunicar com seus familiares. Providenciamos um tablet e
fazíamos chamadas de vídeo para promover esse contato, que muitas vezes
foram suas despedidas.
São muitas histórias marcantes, teve uma família que sofreu um acidente de carro
e apenas um dos filhos ficou gravemente lesionado, pois tirou o cinto de
segurança para dormir. Chegou sem poder falar, andar, não havia grandes
expetativas para o seu quadro, mas a mãe ficou o tempo todo declarando a cura
dele. Olhando parecia impossível, mas aquela mãe foi incansável e fez tudo pelo
filho, que milagrosamente saiu perfeito do hospital. Esses dias a encontrei na rua,
ela disse que atualmente cuida de crianças e leva esperança para outras mães
que estão vivendo situações parecidas com a dela. Lembro também de um
menino com tumor cerebral avançado que ficou cego. Numa atividade do
cotidiano, peguei papeis coloridos e ele disse “tia, eu tô vendo!” e confirmou a cor.
Chamei os médicos, ele voltou a enxergar. Numa brincadeira de avaliação com
estímulo de cor foi percebido que identificava tons fortes. Ficou curado do câncer,
hoje nos visita ano a ano hospital e tem 50% da visão.
 É possível não se sensibilizar com as más notícias e tensões que este
ambiente hospitalar pode trazer?
Não é fácil, mas nós psicólogos aprendemos a dar um tempo, parar, beber
água, respirar, trocar e desabafar com alguém da equipe para conseguir chegar
bem ao próximo caso. Trabalhamos com plantão, temos um dia inteiro de trabalho,
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de histórias, então precisamos de algumas estratégias de autocuidado, além dos
parceiros com quem podemos dividir o peso.
 No hospital que você trabalha existe alguma ação ou programa
voltado para a saúde mental dos profissionais de saúde?
Existe uma iniciativa da empresa, um serviço terceirizado chamado Dasa
Cuida, que oferece suporte psicológico online e presencial com disponibilidade e
assistência 24 horas para os funcionários. Além de rodas de conversas
organizadas pelo RH e Medicina do Trabalho na SIPAT (Semana Interna de
Prevenção de Acidentes de Trabalho), Cine Pipoca, cadeira de massagem.
São diversas estratégias para que encontros de acolhimento aconteçam com
frequência. Tem também suporte de fisioterapia, orientação com profissionais do
direito para questões burocráticas da vida, nutricionista, uma vasta oferta.
 Quais orientações você daria para os formandos que querem trabalhar
nessa área?
Oriento que escutem bastante quem atua na área, foquem em correr atrás de
pessoas para conversar e começar a desenvolver senso crítico. A Psicologia
Hospitalar vai além de uma escolha profissional porque acredito que uma vida vale
mais que o mundo todo, uma vida vale mais que tudo, então se eu posso,
enquanto psicóloga, somar, agregar e transformar a vida de alguém através das
técnicas que estudei, sei que vale a pena. Você precisa buscar o seu lugar para
então se aprofundar, a questão salarial virá em consequência disso. Você
consegue viver bem da psicologia, não acredite no contrário disso, até porque
ninguém se forma para guardar o diploma debaixo do braço.
Convido vocês a participarem da nossa próxima Sessão Clínica de Psicologia do
CHN, que faz parte do Programa Acolher e acontecerá quinta- feira, dia 17/11, Dia
Mundial da Prematuridade, às 12h 30m, on line, pelo zoom, com o tema A Escuta
e o Cuidado aos Pais em uma UTI Neonatal.
O evento é produzido pelo EPIN, Centro de ensino, Pesquisa e Inovação do CHN.
O tema foi escolhido em atenção ao Novembro Roxo, mês da campanha de
conscientização sobre Prematuridade. Uma oportunidade para quem deseja
conhecer mais. A sessão é aberta a profissionais e estudantes da área de saúde.
Podem divulgar para a sua turma, será um prazer ter vocês conosco.

FALTA A REDAÇÃO QUE É ARTICULAÇÃO DO GRUPO ENTRE A


ENTREVISTA COM O CONTEÚDO VISTO EM SALA DE AULA (1 LAUDA)

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COLOQUEI ABAIXO NOSSO TRABALHO DE VA 1, P/ FACILITAR, SE
QUISEREM PEGAR ALGUMA PARTE,

A partir do texto A significação da Psicologia no contexto hospitalar, de Heloisa


Benevides Chiattone, em Psicologia da Saúde: Um novo significado para a prática
clínica. Propomos articular o tema com o conteúdo trabalhado nas aulas, junto aos
textos indicados, buscando uma reflexão e um olhar para o cenário atual e futuro
da Psicologia Hospitalar.
Para iniciar as discussões, faremos algumas correlações entre o capítulo 6 ,
O Nascimento do Hospital, do livro Microfísica do poder de Michel Foucault e o
livro Psicologia Hospitalar: A atuação do psicólogo em hospitais de Terezinha
Campos. Os autores fazem um percurso histórico do hospital e seu papel junto ao
doente.
A primeira grande mudança de paradigma é o surgimento do hospital como
unidade terapêutica de intervenção sobre a doença e o doente. Anteriormente, o
hospital não era um lugar de cura e sim um lugar de morrer, de prestar assistência
aos pobres e assegurar a salvação da alma, vale ressaltar que neste período, a
Igreja exercia sobre os hospitais grande influência. As instituições hospitalares
eram basicamente regidas pelas instituições religiosas, onde se via uma mistura
das funções de assistência, transformação espiritual e de exclusão dos
indesejáveis à sociedade, doentes, loucos, devassos, prostitutas, etc.
A novidade do século XVIII foi a constituição de uma medicina hospitalar
terapêutica, já que o saber médico anteriormente estava apartado do hospital.
Antes de entrarmos na Psicologia em si, buscamos entender esse percurso
do hospital, sua evolução até a atualidade, desde seu surgimento. Consideramos

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importante, pois ele reflete nas relações entre profissionais, práticas e estrutura
das instituições na atualidade, mesmo que esteja em constante atualização
Segundo Chiattone, mais coerente na tentativa de significação da
psicologia no contexto hospitalar é o reconhecimento de uma pluralidade, não
recusando os procedimentos de fundação da própria psicologia, acrescido da
compreensão ampliada da realização histórica que essa nova área da psicologia
vem tomando para atingir, de forma mais compreensível, o sentido de suas
funções e de suas práticas sociais que atuam na área de saúde reconhecem seus
problemas e tentam superá-los, pois visam o crescimento e o fortalecimento da
especialidade. Outros tantos, distanciados da prática diária, preferem o caminho
da problematização, do digladio, sem buscar soluções viáveis. Outros, ainda,
tendem ao imobilismo, ao deparar-se com o descompasso entre os referenciais
teóricos e a realidade de trabalho. Então, ao tentar ordenar, significar esse novo
saber, é necessário reconhecer principalmente como psicólogos, que somente o
reconhecimento leva à compreensão.
Ele afirma que esse pode ser atingido em tentativas de pinçar nessa
diversidade sua lógica interna e objetiva, visando compreender, em sua essência,
a linha (ou linhas) que ofereça significação à psicologia no contexto hospitalar.
Talvez aí esteja uma das pistas para a minimização das lacunas teóricas que
prejudicam a tarefa do psicólogo hospitalar e para o fortalecimento de uma
identidade seguramente mais bem definida pela redimensão do conhecimento de
seus membros.
Dessa forma, a discussão do seu campo epistêmico e seus impasses,
denunciando a pluralidade inerente a ela mesma, que dificulta a tarefa de
significação da psicologia no contexto hospitalar, mostra-se fundamental, pois este
é um fator inter-relacionado a praticamente todos os principais problemas que a
área exibe atualmente: dicotomia entre teoria e prática, problemas na inserção
intraequipe, dificuldades de contextualização das tarefas, multiplicidade de
enfoques teóricos e ações distintas, necessidade de buscar conhecimentos em
outras áreas do saber, lacunas na formação profissional, isolamento profissional e
distanciamento da obtenção de uma identidade profissional.

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Ele aponta que assim, deve estar bem claro ao psicólogo hospitalar que a
fragmentação na psicologia enquanto ciência é real, persistente, amplamente
reconhecida pela literatura, dificilmente havendo possibilidades de unificação entre
as distintas vertentes.
Além disso, essa pluralidade dificulta a definição de uma identidade mais segura à
psicologia pela fragmentação de seu domínio de investigação, quer do ponto de
vista de seus métodos, quer de seu objeto, quer na delimitação de seu campo. É
possível reconhecer que, apesar de ela não ter ainda atingido seu estágio
paradigmático, mantém-se em estágio pré-paradigmático, onde o conhecimento
permanece especializado e cada grupo adere à sua própria orientação teórica e
metodológica.
A autora afirma que enquanto alguns psicólogos simplesmente negam a
existência dessa pluralidade, acreditando que a diversidade "vem de fora", não
atingindo a área, outros vêem esta diversidade através de um prisma subjetivo: "o
que acredito é Psicologia, o restante não é Psicologia”, e ainda outros,
reconhecem a adversidade e a consideram positiva pela possibilidade de, através
da crise, enriquecer e fortalecer os conceitos e leis. As duas últimas vertentes
parecem mais coerentes com uma proposta de significação da psicologia no
contexto hospitalar, reconhecendo na diversidade a possibilidade de definir
conteúdos mais claros à área.
Mas, como especificidade da própria psicologia, essa pluralidade epistemológica
atinge diretamente a psicologia no contexto hospitalar, que exibe as
conseqüências diretas dessa fragmentação nas dificuldades tanto no âmbito da
teoria como em sua práxis, desfavorecendo o crescimento da área.
Os psicólogos que atuam no hospital estão conferindo um caráter estéril à
especialidade, incrementando e mantendo o aparecimento de lacunas e impasses.
Isso se dá principalmente porque a fragmentação, em seu aspecto caótico,
dificulta a contextualização de um novo saber, define múltiplas demandas,
recursos técnicos variados, fragmentos tornam-se irreconhecíveis, incompatíveis
com as novas práticas, gerando graves dificuldades no reconhecimento da nova
área, desde seu objeto de estudo até dos profissionais que nela atuam.

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No texto a autora considera que as possíveis soluções para esse impasse
recaem sobre o reconhecimento, compreensão e redimensão dessa pluralidade.
Esse impasse pode ser minimizado através do compromisso entre a psicologia no
contexto hospitalar e a apreensão da realidade que escancara as dificuldades e as
vicissitudes. Assim, ao lançar-se nessa busca do saber, o psicólogo que atua no
hospital deve envolver-se em um processo de transformação, pois se utiliza de
saberes anteriores, ligando-os aos conteúdos adquiridos, e de reconstrução pela
possibilidade de reconstruir a realidade sob novos parâmetros, delimitando um
conhecimento dotado de sentido próprio, pessoal, paralelamente à adequada
avaliação epistemológica desse conhecimento é imprescindível tomar novos
sentidos: o da coexistência e enfrentamento entre teses opostas, o da divisão ou
pluralidade das posições em psicologia e o das divergências e contradições dos
conhecimentos na área.
Nessa dinâmica, a psicologia no contexto hospitalar deve ser compreendida
dialeticamente em seu movimento, crescimento, desenvolvimento e evolução,
sempre em uma tarefa ética, eliminando-se a prática do digladio, da exclusão, da
desqualificação de saberes como não científicos ou não psicológicos, inclusive
entre os profissionais que atuam na área. Ao buscar significar a psicologia no
contexto hospitalar, o psicólogo pode seguir duas vertentes reflexivas intimamente
interligadas: as vertentes psicológica e social, que em todo momento se
interpõem, e que serão discutidas separadamente somente por questões
didáticas.
Na vertente psicológica, a necessidade de demarcação de um caminho distingue-
se pela consideração da psicologia e da psicologia no contexto hospitalar, em seu
sentido mais amplo, pois o fenômeno do adoecer é infinito e inesgotável em suas
possibilidades e é nele que a psicologia no contexto hospitalar delimita seu objeto
científico. Dessa forma é que a psicologia determina o papel, o sentido e o
significado da psicologia no contexto hospitalar, partindo da premissa de que a
integração dos conhecimentos deve transformar-se em uma tendência a explicá-
los. Significar a psicologia no contexto hospitalar pressupõe o estabelecimento de
conexões entre vários fatos ou vários grupos de fatos, referindo uma série de

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fenômenos, definindo- se a causalidade desses em um mesmo domínio. Nesse
sentido, ao significar, ao generalizar, ao unificar fatos de diferentes domínios, a
psicologia no contexto hospitalar se vê obrigada a situar esses fenômenos no
contexto mais amplo da psicologia.
Essa tendência não atinge somente a psicologia no contexto hospitalar,
mas uma série de disciplinas emergentes em psicologia. A psicologia no contexto
hospitalar surgiu justamente em resposta às novas tendências que assinalavam a
necessidade de expansão do saber biopsicossocial na compreensão do fenômeno
doença, visando modificar as concepções habituais, cristalizadas pelo modelo
biomédico, pois a necessidade de propagação da influência do modelo
biopsicossocial a domínios contíguos definiu o surgimento da medicina
psicossomática, da medicina comportamental e da psicologia da saúde. Da
psicologia da saúde, ramificaram-se várias estratégias, psico-oncologia,
psicocardiologia, psiconeurologia, a própria psicologia hospitalar entre outras, e
nessa caminhada, mesmo fundamentadas na mesma idéia original, ampliaram seu
próprio intercampo de conhecimento.
A autora conclui que a partir do reconhecimento do modelo biopsicossocial,
a significação da psicologia hospitalar torna-se mais próxima de sua
contextualização teórico - cientifica e metodológica, fortalecendo-se, em
conseqüência, uma identidade mais definida e coerente com a psicologia em si e
com o contexto social e institucional onde está inserida – a instituição hospitalar.
Os autores Gastão Campos e Ana Domitti trazem reflexões sobre os
obstáculos atuais da gestão do trabalho em saúde. De forma abrangente,
podemos destacar:

- Fragmentação dos processos decorrentes da especialização crescente em todas


as áreas de conhecimento.

- Falta de um sistema que produza o compartilhamento sincrônico e diacrônico de


responsabilidades com ações práticas alinhadas a projetos terapêuticos
específicos.

- Concentração do poder em diretores, médicos e especialistas como tradição,


muitas vezes sendo algo incontestável.

- Poucos serviços disponíveis organizados em sistemas de cogestão, com equipes


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e colegiados que tenham poder de deliberação interdepartamentais.

- Mentalidade que não prevê ou enxerga a necessidade da criação de espaços


coletivos.

- A concorrência que cristaliza as pessoas e departamentos em identidades


reativas, fechando-se em si e desconfiando do outro, dificultando assim uma
abertura interdisciplinar.

- Falta de cultura, entre gestores e equipes, sobre métodos dialéticos e interativos,


hiper valorizando a autonomia profissional.

- Predomínio da racionalidade biomédica nas intervenções.

Ao criticar os pontos falhos e modelo de gestão atual, o texto "Apoio Matricial e


Equipe de Referência: uma Metodologia para Gestão do Trabalho Interdisciplinar
em Saúde" sugere pensar uma organização como matriz. O emprego do nome
“matricial” indica a possibilidade de manter especialistas e equipe de referência
numa relação horizontal – ou pelo menos atenuar a verticalização – que atinja
vários departamentos e se liberte das clássicas diretrizes de hierarquização e
regionalização.

A equipe de referência é composta por um conjunto de profissionais


essenciais em conhecimento para a condução dos casos e problemas de saúde
de uma organização. Ainda que operando com diferentes modos de intervenção,
ela seria responsável por pensar e agir sobre um mesmo objeto. O apoiador
matricial é um especialista com perfil distinto do profissional de referência, mas
que pode agregar recursos e contribuir com o aumento da resolução dos
problemas de saúde. Que pretende oferecer tanto retaguarda assistencial quanto
suporte técnico-pedagógico, construindo um espaço de comunicação ativa e
compartilhamento de informações entre os grupos.

Apoio matricial e equipe de referência são (re)arranjos organizacionais com


objetivo de realizar uma clínica ampliada entre distintas especialidades e
profissões. Ninguém de modo isolado pode assegurar uma abordagem integral.
Esse novo funcionamento da equipe de referência pressupõe tomá-la como um
espaço dialógico coletivo onde se discute os casos e participa da vida da
organização. O apoio matricial implica nessa construção de um projeto terapêutico
integrado, com intervenções e avaliações conjuntas, permanecendo, contudo, o
caso sob cuidado da equipe de referência. Desta forma, começamos a usar a
interdisciplinaridade de forma eficaz na atenção ao indivíduo, sua família e a
comunidade.

Encontramos alguns possíveis caminhos de atuação em conjunto:


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Interconsulta: é uma ação de saúde inter profissional e interdisciplinar que
tem por objetivo integrar e promover a troca de saberes de diferentes atores que
atuam nós serviços, visando o aprimoramento da tarefa assistencial.

Consulta conjunta: reúne, na mesma cena, profissionais de diferentes


categorias, o paciente e ,se necessário, a família deste.

Conclusão:
Compreendendo o Psicólogo na equipe de saúde como parte de uma
multidisciplinaridade e de uma equipe multiprofissional entendemos que ele deve
atuar junto aos profissionais implicados buscando efetivas trocas, buscando
construir e ser parte de ações recíprocas nas quais haja troca de esquemas
conceituais, instrumentos, técnicas e metodologia, ou seja, diálogo entre os
envolvidos, mesmo diante dos desafios apresentados, o que, certamente levará a
um maior enriquecimento e transformação.

Há necessidade de uma inter relação entre os profissionais de forma a ver


o paciente como um todo, tendo uma atitude humanizada. É importante que o
psicólogo tenha consciência de seu papel no hospital, para que não se torne mais
um invasor do espaço do paciente e sim um aliado no processo de seu cuidado.
Poderá, porque não, ampliar seu olhar ao cuidado de si e da equipe, propondo a
discussão sobre o cuidado de quem cuida. Concluímos que a figura do psicólogo
no hospital é imprescindível e revela-se um universo com muito a ser explorado.

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