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Este trabalho pretende apresentar a entrevista realizada com a Psicóloga
Marcely Quirino, coordenadora do Serviço de Psicologia Hospitalar do CHN,
Complexo Hospitalar de Niterói. A partir de seu relato, buscamos fazer reflexões e
conexões com o conteúdo abordado na disciplina Psicologia Hospitalar.
Transcrição da entrevista:
1. Poderia descrever sua formação e experiência, bem como áreas em
que atua no momento?
Sou graduada em Psicologia com especialização em TCC, Psicologia
Hospitalar e Psico-oncologia. Dentro desse nicho, faço treinamento em empresas,
orientação de alunos e sou coordenadora dos serviços psicológicos do Hospital
CHN. Trabalhamos, sobretudo, no suporte emocional de pacientes e familiares em
qualquer processo de adoecimento. O atendimento é focado nas questões da
hospitalização. Na parte analítica, estamos sempre avaliando nossa estrutura e
fluxos de atendimento, além de monitorar indicadores de qualidade desses
atendimentos.
Em que momento se sentiu “chamada” para trabalhar em um hospital?
Na verdade queria estagiar, não necessariamente nessa área, fiz um processo
e comecei a trabalhar num grande hospital. Ao longo dos atendimentos e tempo
de estudo, me apaixonei e me encontrei. Vi como um psicólogo é capaz de mudar
a história de um paciente, de uma equipe, de um hospital. Se o profissional sabe
quem ele é tecnicamente, tudo muda. É um trabalho que exige muita criatividade
para organizar as demandas, complexidades e dinâmicas de um hospital.
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Como a demanda do paciente chega até você e como é feita sua
intervenção junto a ele e/ou familiares?
Nós chegamos ao paciente através de parecer médico com uma demanda
específica, que também pode ser identificada por outros membros da equipe
multiprofissional, porém, o encaminhamento deve ser feito pelo médico. Damos
atendimento para os dois, família e paciente, pois alguns adoecem juntos, outros
vão se desconhecer nesse cuidado com o outro. Nosso suporte é principalmente
emocional, dar voz à dor deles, pois ninguém escolhe estar no hospital, naquela
situação, isso desorganiza a pessoa. O hospital pode despersonalizar o indivíduo,
que não se reconhece nesse lugar, pois é um lugar de fragilidade e muitas vezes
eles perdem a autonomia sobre a vida e suas escolhas. Muitas vezes suas
questões morais são confrontadas, sua estética é alterada, a vulnerabilidade de
depender do outro, tudo isso mexe com a pessoa. Nossa conduta está ligada a
técnica breve focal, isto é, tratar todos os casos com urgência, início, meio e fim.
Não estamos fazendo uma psicoterapia e o paciente não ficará ali para sempre,
por isso nada pode ser deixado para o dia seguinte. No caso infantil, por exemplo,
o foco são os pais porque as crianças são esponjas e vão absorver o estado
emocional deles.
Nossa atuação se dá de acordo com a demanda: pode ser feita
individualmente, a beira do leito com o paciente e ou familiares, também pode ser
feita em grupo. Temos o Grupo Acolher, feito junto às famílias dos pacientes do
CTI neuro e cardiológico. Temos o atendimento aos pais da UTI Neonatal, que é
feito em grupo, no local, no momento em que são dadas as notícias de evolução
dos bebês. Acompanhamos esse momento e realizamos o acolhimento.
Podemos atuar a partir do impacto de um diagnóstico, apoiar a adesão ao
tratamento, atuar junto a momentos de perdas, atendimento pós-óbito, sempre
com o acolhimento e orientação.
Como é composta a equipe multiprofissional que você interage? Quais
são os maiores desafios encontrados?
Temos nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos,
assistentes sociais, médicos, enfermeiros, técnicos e enfermagem, apoio, uma
equipe realmente diversa. Semanalmente é realizada uma reunião de equipe
chamada Round, para falar sobre os casos vigentes e escutar as diferentes visões
sobre eles. No nosso caso, dos psicólogos, incluímos na discussão como o
paciente e a família têm lidado com o impacto daquela doença. Após as falas,
traçamos planos terapêuticos. Importante dizer que nós temos voz para decidir
formas de conduta e desfecho dos casos. Por todos estarem com olhares atentos,
muitas vezes a demanda não vem apenas dos médicos, mas dos outros
profissionais. Ninguém trabalha sozinho e precisamos de todos para uma entrega
de excelência, o desafio está em encontrar pessoas qualificadas, que tenham boa
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comunicação e que consigam fazer pontes com diferentes equipes. No
desdobramento do plano terapêutico e condutas, mais equipes podem e
costumam ser envolvidas, como as apoio, limpeza, manutenção e até engenharia,
quando precisamos de ações junto a estrutura física.
O hospital tem um protocolo de risco de suicídio e quando acionado pode envolver
transferência do paciente para um leito mais próximo ao posto de enfermagem, o
que favorece melhor monitoramento, uso de talheres descartáveis, retirada da
tranca do banheiro, até possível transferência para uma Unidade Psiquiátrica
externa, conforme cada caso. Isso envolve grande parte da equipe. No hospital
não fazemos nada sozinho, você precisa da equipe para fazer um trabalho efetivo.
Precisa ter uma excelente comunicação, o que é o maior desafio em qualquer
instituição.
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COLOQUEI ABAIXO NOSSO TRABALHO DE VA 1, P/ FACILITAR, SE
QUISEREM PEGAR ALGUMA PARTE,
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importante, pois ele reflete nas relações entre profissionais, práticas e estrutura
das instituições na atualidade, mesmo que esteja em constante atualização
Segundo Chiattone, mais coerente na tentativa de significação da
psicologia no contexto hospitalar é o reconhecimento de uma pluralidade, não
recusando os procedimentos de fundação da própria psicologia, acrescido da
compreensão ampliada da realização histórica que essa nova área da psicologia
vem tomando para atingir, de forma mais compreensível, o sentido de suas
funções e de suas práticas sociais que atuam na área de saúde reconhecem seus
problemas e tentam superá-los, pois visam o crescimento e o fortalecimento da
especialidade. Outros tantos, distanciados da prática diária, preferem o caminho
da problematização, do digladio, sem buscar soluções viáveis. Outros, ainda,
tendem ao imobilismo, ao deparar-se com o descompasso entre os referenciais
teóricos e a realidade de trabalho. Então, ao tentar ordenar, significar esse novo
saber, é necessário reconhecer principalmente como psicólogos, que somente o
reconhecimento leva à compreensão.
Ele afirma que esse pode ser atingido em tentativas de pinçar nessa
diversidade sua lógica interna e objetiva, visando compreender, em sua essência,
a linha (ou linhas) que ofereça significação à psicologia no contexto hospitalar.
Talvez aí esteja uma das pistas para a minimização das lacunas teóricas que
prejudicam a tarefa do psicólogo hospitalar e para o fortalecimento de uma
identidade seguramente mais bem definida pela redimensão do conhecimento de
seus membros.
Dessa forma, a discussão do seu campo epistêmico e seus impasses,
denunciando a pluralidade inerente a ela mesma, que dificulta a tarefa de
significação da psicologia no contexto hospitalar, mostra-se fundamental, pois este
é um fator inter-relacionado a praticamente todos os principais problemas que a
área exibe atualmente: dicotomia entre teoria e prática, problemas na inserção
intraequipe, dificuldades de contextualização das tarefas, multiplicidade de
enfoques teóricos e ações distintas, necessidade de buscar conhecimentos em
outras áreas do saber, lacunas na formação profissional, isolamento profissional e
distanciamento da obtenção de uma identidade profissional.
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Ele aponta que assim, deve estar bem claro ao psicólogo hospitalar que a
fragmentação na psicologia enquanto ciência é real, persistente, amplamente
reconhecida pela literatura, dificilmente havendo possibilidades de unificação entre
as distintas vertentes.
Além disso, essa pluralidade dificulta a definição de uma identidade mais segura à
psicologia pela fragmentação de seu domínio de investigação, quer do ponto de
vista de seus métodos, quer de seu objeto, quer na delimitação de seu campo. É
possível reconhecer que, apesar de ela não ter ainda atingido seu estágio
paradigmático, mantém-se em estágio pré-paradigmático, onde o conhecimento
permanece especializado e cada grupo adere à sua própria orientação teórica e
metodológica.
A autora afirma que enquanto alguns psicólogos simplesmente negam a
existência dessa pluralidade, acreditando que a diversidade "vem de fora", não
atingindo a área, outros vêem esta diversidade através de um prisma subjetivo: "o
que acredito é Psicologia, o restante não é Psicologia”, e ainda outros,
reconhecem a adversidade e a consideram positiva pela possibilidade de, através
da crise, enriquecer e fortalecer os conceitos e leis. As duas últimas vertentes
parecem mais coerentes com uma proposta de significação da psicologia no
contexto hospitalar, reconhecendo na diversidade a possibilidade de definir
conteúdos mais claros à área.
Mas, como especificidade da própria psicologia, essa pluralidade epistemológica
atinge diretamente a psicologia no contexto hospitalar, que exibe as
conseqüências diretas dessa fragmentação nas dificuldades tanto no âmbito da
teoria como em sua práxis, desfavorecendo o crescimento da área.
Os psicólogos que atuam no hospital estão conferindo um caráter estéril à
especialidade, incrementando e mantendo o aparecimento de lacunas e impasses.
Isso se dá principalmente porque a fragmentação, em seu aspecto caótico,
dificulta a contextualização de um novo saber, define múltiplas demandas,
recursos técnicos variados, fragmentos tornam-se irreconhecíveis, incompatíveis
com as novas práticas, gerando graves dificuldades no reconhecimento da nova
área, desde seu objeto de estudo até dos profissionais que nela atuam.
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No texto a autora considera que as possíveis soluções para esse impasse
recaem sobre o reconhecimento, compreensão e redimensão dessa pluralidade.
Esse impasse pode ser minimizado através do compromisso entre a psicologia no
contexto hospitalar e a apreensão da realidade que escancara as dificuldades e as
vicissitudes. Assim, ao lançar-se nessa busca do saber, o psicólogo que atua no
hospital deve envolver-se em um processo de transformação, pois se utiliza de
saberes anteriores, ligando-os aos conteúdos adquiridos, e de reconstrução pela
possibilidade de reconstruir a realidade sob novos parâmetros, delimitando um
conhecimento dotado de sentido próprio, pessoal, paralelamente à adequada
avaliação epistemológica desse conhecimento é imprescindível tomar novos
sentidos: o da coexistência e enfrentamento entre teses opostas, o da divisão ou
pluralidade das posições em psicologia e o das divergências e contradições dos
conhecimentos na área.
Nessa dinâmica, a psicologia no contexto hospitalar deve ser compreendida
dialeticamente em seu movimento, crescimento, desenvolvimento e evolução,
sempre em uma tarefa ética, eliminando-se a prática do digladio, da exclusão, da
desqualificação de saberes como não científicos ou não psicológicos, inclusive
entre os profissionais que atuam na área. Ao buscar significar a psicologia no
contexto hospitalar, o psicólogo pode seguir duas vertentes reflexivas intimamente
interligadas: as vertentes psicológica e social, que em todo momento se
interpõem, e que serão discutidas separadamente somente por questões
didáticas.
Na vertente psicológica, a necessidade de demarcação de um caminho distingue-
se pela consideração da psicologia e da psicologia no contexto hospitalar, em seu
sentido mais amplo, pois o fenômeno do adoecer é infinito e inesgotável em suas
possibilidades e é nele que a psicologia no contexto hospitalar delimita seu objeto
científico. Dessa forma é que a psicologia determina o papel, o sentido e o
significado da psicologia no contexto hospitalar, partindo da premissa de que a
integração dos conhecimentos deve transformar-se em uma tendência a explicá-
los. Significar a psicologia no contexto hospitalar pressupõe o estabelecimento de
conexões entre vários fatos ou vários grupos de fatos, referindo uma série de
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fenômenos, definindo- se a causalidade desses em um mesmo domínio. Nesse
sentido, ao significar, ao generalizar, ao unificar fatos de diferentes domínios, a
psicologia no contexto hospitalar se vê obrigada a situar esses fenômenos no
contexto mais amplo da psicologia.
Essa tendência não atinge somente a psicologia no contexto hospitalar,
mas uma série de disciplinas emergentes em psicologia. A psicologia no contexto
hospitalar surgiu justamente em resposta às novas tendências que assinalavam a
necessidade de expansão do saber biopsicossocial na compreensão do fenômeno
doença, visando modificar as concepções habituais, cristalizadas pelo modelo
biomédico, pois a necessidade de propagação da influência do modelo
biopsicossocial a domínios contíguos definiu o surgimento da medicina
psicossomática, da medicina comportamental e da psicologia da saúde. Da
psicologia da saúde, ramificaram-se várias estratégias, psico-oncologia,
psicocardiologia, psiconeurologia, a própria psicologia hospitalar entre outras, e
nessa caminhada, mesmo fundamentadas na mesma idéia original, ampliaram seu
próprio intercampo de conhecimento.
A autora conclui que a partir do reconhecimento do modelo biopsicossocial,
a significação da psicologia hospitalar torna-se mais próxima de sua
contextualização teórico - cientifica e metodológica, fortalecendo-se, em
conseqüência, uma identidade mais definida e coerente com a psicologia em si e
com o contexto social e institucional onde está inserida – a instituição hospitalar.
Os autores Gastão Campos e Ana Domitti trazem reflexões sobre os
obstáculos atuais da gestão do trabalho em saúde. De forma abrangente,
podemos destacar:
Conclusão:
Compreendendo o Psicólogo na equipe de saúde como parte de uma
multidisciplinaridade e de uma equipe multiprofissional entendemos que ele deve
atuar junto aos profissionais implicados buscando efetivas trocas, buscando
construir e ser parte de ações recíprocas nas quais haja troca de esquemas
conceituais, instrumentos, técnicas e metodologia, ou seja, diálogo entre os
envolvidos, mesmo diante dos desafios apresentados, o que, certamente levará a
um maior enriquecimento e transformação.
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