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Acadêmica da 10ª fase do Curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. E-mail:
yarinhah55@hotmail.com
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Professora e Orientadora do Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em
Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. E-mail: alessandra.scherer@hotmail.com.
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
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Erving Goffman em sua obra Estigma: Notas sobre manipulação da identidade deteriorada, traz o termo
estigma como um “atributo profundamente depreaciativo”.
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Alcoólatra era como se designava-se a pessoa que fazia uso abusivo de álcool, referindi-se ao dependente do
álcool como alguém que idolatra, e consequentemente “escolhe” o beber. O termo utilizado atualmente é
alcoolista tebdo como proposta retirar a responsabilizade do “problema” apenas da pessoa que faz o uso.
No texto da Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental,
quinze anos depois de Caracas, percorre-se, no final dos anos 70, sobre a crise nos modelos de
assistência focado nas internações em hospitais psiquiátricos, nesse contexto, emergia as
críticas protagonizadas pelos movimentos sociais que defendiam os diretos dos pacientes
psiquiátricos (BRASI, 2005). Nos escritos de tal documento traz uma definição permeada pela
complexidade em que acontece, apresentando Reforma Psiquiátrica como:
3 MÉTODO
A partir dos objetivos específicos desta pesquisa e por meio das entrevistas com
roteiro semi-estruturado foram elaboradas três categorias a fim de analisar as respostas dos
participantes. A partir das categorias foram criadas subcategorias de análise a posteriori. A
fim de dar mais clareza para a apresentação das informações e no intuito de preservar a
identidade dos participantes estes foram representados pelas seguintes siglas: P1, P2, U1, U2,
F1. Todos os participantes seguiram os critérios de inclusão para esta pesquisa. As
informações pertinentes aos participantes da pesquisa serão apresentadas no quadro a seguir:
Tempo de exp.
Participantes Profissão Idade Especialização
Profissional
Assistente
P2 36 1 ano Gestão estratégica de pessoas
social
Usuários do Capsad
Alcoolismo e
U2 Aposentado 48 Casado Aprox. 2 anos
depressão
Ensino
F1 Manicure 44 Casada Esposa, sobrinha
superior
A subcategoria doença foi criada a partir das falas apresentadas a seguir: “Mas pra
cair é bem fácil, [...] é a própria doença da pessoa mesmo, é uma doença, é considerada
uma doença. E a gente tem que se trata.” (U2). Esse dado revela uma manutenção da
percepção do uso abusivo do álcool como doença, trazendo um olhar reducionista do
fenômeno (CRPSP, 2011). Desse modo mesmo o CAPS-AD sendo caracterizado como um
serviço substitutivo dos hospitais psiquiátricos, ainda se prevalece a ideia de doença e o
tratamento objetivando a abstinência. Essa ideia provém de uma perspectiva biomédica que
não incluem as outras dimensões que também se fazem presente nessa relação, como aspectos
clínicos, socioculturais e históricos. (CFP, 2013) Outro participante também reforça esse
pensamento “É uma doença mesmo, então acho que tem que ser tratada como tal, [...] que
tem que ser levada bem a sério como se fosse mesmo uma pessoa doente, como é né.” (F1).
Além disso, percebe-se que essa manutenção da perspectiva de doente vai ao encontro dos
resultados também obtidos no estudo realizado num CAPS-AD de Recife sobre o modelo de
atenção a saúde mental. Tal estudo mostrou que esse pensamento se relaciona com o fato de
se identificar como alguém que desvia da conduta regida pelo social e que dessa forma
permanece no lugar de não se responsabilizar pelas condutas (MORAES, 2008), o que se
sugere uma concepção determinista frente ao uso/abuso como cita SCHNEIDER (2010).
Assim, conclui-se que as falas apontam para um olhar reducionista e determinista do
fenômeno do uso álcool, não levando em consideração as outras dimensões que compõe a
relação que cada indivíduo estabelece com o álcool.
A próxima subcategoria denomina-se perdas. Percebeu- se que as falas dos
participantes revelam sentimentos de perda atribuídos ao uso do álcool, o que pode ser
representado a seguir por U2, ao mencionar “Eu por exemplo dessa vez agora que eu
comecei a beber, [...] eu tava praticamente sendo expulso de casa, eu ia perder minha
família. [...] Se eu não pensasse direitinho. Perder tudo é isso aí. É a tua liberdade. É o teu
direito de ‘vim’ né, na sociedade. Fica marginalizado, fora dela.” (U2) Nesse sentido, essa
fala representa um sentimento de perda da sua família, da qual se assemelha com os
resultados trazidos Zanatta et al (2012), onde aponta que é a partir dessa percepção de perda
dos vínculos familiares que as pessoas geralmente procuram alguma ajuda para seu problema.
Contudo, ao trazer a questão do marginalizado, demonstra que as perdas vão além de
“apenas” vínculos familiares. Esse pensamento vai ao encontro do que fala Jodelet (2001),
quando aponta que a construção de uma identidade social, e em se tratando de um estereótipo
do uso do álcool, acontece a partir de uma interiorização de imagens negativas relacionadas a
um determinado problema. Nesse sentido, sugere-se que acontece uma marginalização não
apenas por parte da sociedade, mas uma marginalização do próprio indivíduo em relação a
como ele se percebe.
o que agente percebe é que quando ele tá em ambiente familiar com apoio ele
consegue ficar firme, né ficar fora do álcool, e o meu marido também é tanto
que ele já faz um bom tempo que ele não coloca mais nenhuma gota de
álcool na boca né. Então a pessoa se sente mais né apoiada (F1).
Penso que foi um coisa muito boa que começo ater. Ate então antes da.. ah
quanto tempo nos vivemos nesse problema, né não tínhamos nada de apoio. E
agora que a gente soube, faz o que uns três anos que a agente ficou sabendo.
E foi uma ajuda muito boa, uma novidade muito boa, uma coisa que veio pra
melhor, pra ajudar nas pessoas, né. (F1)
Não, eu acho muito importante. É porque, é.. é um lugar onde agente tem
apoio de todos os sentidos. Desde a parte medica ate, clinica, como na parte
de... de ...como é que se diz..? (pausa) ai que a gente ta fazendo ali agora...
grupos né. Então caps é uma coisa bem importante para mim. Eu parei de é...
quando eu comecei a me tratar aqui em 2013 né então isso foi um alicerce no
caso pra mim não.. pra mim não voltar né. [...] graças a deus. (U2)
Nesse sentido, parece que há uma mescla nas percepções em relação a assistência
prestada. Apresentando-se a dificuldade em relação aos objetivos do serviço do CAPS-AD e
inferindo a existência de dificuldades em relação à percepção dos participantes acerca dos
objetivos das práticas assistenciais prestadas no serviço.
Em relação aos pontos negativos referentes ao tratamento da dependência do
álcool foi construída a subcategoria adesão terapêutica como desafio, representada nas
respostas de dois participantes da pesquisa. Sendo que um deles fala “Um dos desafios é a
adesão ao tratamento. Pra todos os usuários do serviço. Mesmo que seja dependente de
outra droga.” (P1) Nesse sentido, aponta para a discussão em relação ao objetivo ao qual se
pretende alcançar com a assistência no CAPS-AD. Ao se referir à palavra adesão, nota-se que
o participante sugere que a assistência prestada tenha como ideal a lógica da abstinência do
álcool. Tal proposta se refere à perspectiva de redução de danos preconizada pela Política de
atenção integral aos usuários de álcool e outras drogas. Lembrando que essa proposta não
exclui a abstinência do álcool como algo a ser alcançado, mas não estabelece como única
meta de tratamento. Inclui intervenções que possibilitem a garantia da autonomia e dos
direitos humanos, de forma a excluir práticas punitivas e criminalizadoras (CFP, 2013).
Assim, os profissionais de saúde que trabalham nesse âmbito deveriam ter uma visão
ampliada do que é a perspectiva de redução de danos e que o termo ou a expressão adesão ao
tratamento não aponte apenas para uma visão biológica ou medicamentosa.
Contudo, apesar das aparentes dificuldades que se apresentam para o
entendimento de se conseguir trabalhar numa perspectiva que redução de danos, a fala do
participante P2 pode revelar que há tentativas de se seguir uma perspectiva de assistência
voltada para a necessidade de cada usuário no serviço (BRASIL, 2004). Nesse sentido, P2 diz
que “[...] responsabilizar pelo tratamento né, não precisa vir sempre. Ele vem na medida
que ele conseguir vir né, eu pelo menos não trabalho visando a abstinência do paciente.
Porque a gente sabe que nem sempre é possível no momento.” A partir disso, pode-se
perceber que apesar de concordar que abstinência não é o foco da assistência como o que
preconizam atividades terapêuticas na perspectiva da redução de danos, o participante não
parece se apropriar de práticas profissionais que visam tal objetivo no serviço.
5 Considerações finais
Essa pesquisa possibilitou compreender as percepções dos profissionais de saúde,
usuários e familiares de um CAPS-AD de acerca do tratamento da dependência do álcool.
Nesse sentido, foi possível perceber, a partir das entrevistas com os participantes os sentidos
que os mesmos atribuem acerca do uso do álcool, bem como percebem os as intervenções
realizadas no tratamento da dependência do álcool. A pesquisa também possibilitou aos
participantes apontarem pontos positivos e negativos acerca do tratamento da dependência do
álcool no CAPS-AD.
Pode-se perceber nos resultados desta pesquisa fatores que se assemelham as
dificuldades encontras em outras pesquisa realizadas nesses serviços substitutivos da Reforma
Psiquiátrica, voltados para pessoas dependentes de álcool e outras drogas, os CAPS-AD. Tais
dificuldades apontadas nesta pesquisa foram, dentre elas, a escassa articulação com a rede de
saúde e a adesão ao tratamento. Dentre os aspectos relacionados à adesão ao tratamento
demostrados a partir dos resultados estão à influência da cultura, a falta de participação
familiar.
Percebe-se que as formas de concepção frente à demanda da dependência do
álcool trazidas pelos profissionais da saúde, usuários e familiar demostram influenciam na
forma de assistência no caso dos familiares. Sendo que foi percebido a existência das
intervenções previstas para o CAPS-AD, como consultas interdisciplinares, grupo
terapêuticos para usuários e familiares. A participação do familiar foi apontada pelos
profissionais como escassa sendo que estes não participam dos grupos oferecidos. Em
detrimento disto demostrou a importância que a família apresenta uma possível recuperação
na dependência do álcool.
Os resultados demostraram que, mesmo quatorze anos após a Lei 10.216/2001
conhecida como a Lei da Reforma Psiquiátrica, os serviços substitutivos ainda estão num
processo de implementação do modelo assistencial. Do qual não resume a dependência do
álcool como única forma de tratamento à questão biomédica. Sugerindo que nesta pesquisa
ainda aparecem nos resultados as percepções do fenômeno como doença a ser tratada.
Sugere-se outras pesquisas nesse âmbito do qual possam ser utilizadas para
identificar os nós que impedem ou dificultam a implementação ideal do serviço. Juntamente
com interação dos serviços substitutivos com os demais dispositivos da rede básica de saúde.
O CAPS-AD é um serviço substitutivo dos hospitais psiquiátricos estabelecido pela Reforma
Psiquiátrica, portanto as lógicas e práticas assistenciais caminham a passos lentos para uma
atenção integral ao indivíduo, bem como para a sociedade em geral.
REFERÊNCIAS
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