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E-BOOK

Dependência
alimentar: impacto
na abordagem
nutricional do
paciente com
excesso de peso
QUEM SOMOS
O PratiEnsino é uma empresa que Andrea Filgueiras é nutricionista,
foi criada com o objetivo de mestre e doutora em Nutrição
difundir os conhecimentos da área (UNIFESP), aprimorada em
da saúde em todo território transtornos alimentares (USP) e
nacional por meio da educação à especialista em crianças e
distância. Nossos cursos visam adolescentes (UNIFESP) com
qualificar os profissionais de saúde, experiência nos campos de pesquisa,
sempre com foco no docência e prática clínica.
aprimoramento da prática clínica e Desde que iniciei a vida acadêmica
difundir os conteúdos de saúde me dedico com muito afinco a
com a finalidade de promover a entender o comportamento
qualidade de vida nas pessoas. alimentar de crianças, adolescentes e
Portanto, para nós é muito adultos obesos. O fruto dessa
importante promover o dedicação são publicações em
diversas revistas científicas de
conhecimento científico mais atual significativo impacto no meio
e sua aplicação, assim mudamos a científico sobre manejo, tratamento e
vida das pessoas. comportamento da obesidade e da
dependência alimentar.
Idealizadora: Andreia Paralelo a trajetória acadêmica,
Nishiyamamoto. busco engajar mais profissionais da
Sou nutricionista clínica e saúde ao entendimento de
realizada com a minha escolha. Ao comportamentos alimentares não
criar o PratiEnsino desejo poder tradicionais, como na dependência
impactar a vida de muitas pessoas alimentar, além de aplicar meus
ao serem atendidas por conhecimentos no tratamento de
profissionais de saúde de pessoas que buscam o desenvolver o
excelência que formamos. comportamento alimentar saudável.
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

O termo dependência alimentar, ou de forma mais


polêmica ainda, vício alimentar refere-se a um
comportamento alimentar que envolve o consumo
excessivo de determinado alimento (1).
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

O conceito de dependência alimentar é baseado


em um conjunto de características (desejo intenso,
perda de controle, consumo excessivo, tolerância,
abstinência e angústia/disfunção), consideradas
vícios de substâncias (2) e tem sido usado na
comunidade científica há décadas (3,4,5).

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos


Mentais (DSM) da Associação Psiquiátrica Americana
utiliza as denominações “abuso” e “dependência” (6),
para classificação do uso de substâncias há décadas.

Na versão do DSM de 2013 houve substituição dessas


denominações, por um continuum de gravidade e
passou a classificar o comportamento como
“Transtorno por Uso de Substância”, definida como
“um padrão problemático de uso de qualquer
substância psicoativa, levando a comprometimento ou
sofrimento clinicamente significativos, manifestado
por meio de pelo menos dois de onze critérios
possíveis e que esteja ocorrendo durante um período
de 12 meses (Quadro 1) (7).
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

Critérios do DSM-5 para transtornos por uso de


substâncias

A. Um padrão problemático de uso de uma determinada


substância, levando um comprometimento ou sofrimento
clinicamente significativos, manifestado por pelo menos
dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período
de 12 meses:

1. A substância é frequentemente consumida em


maiores quantidades ou por um período mais longo
do que o pretendido.
2. Existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos
no sentido de reduzir ou controlar o uso de álcool.
3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para
obtenção da substância, na utilização da substância ou
na recuperação de seus efeitos.
4. Fissura ou forte desejo ou necessidade de usar a
substância.
5. Uso recorrente da substância, resultando no fracasso
de desempenhar papéis importantes no trabalho, na
escola ou em casa.
6. Uso continuado da substância, apesar de problemas
sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes
causados ou exacerbados por seus efeitos.
7. Importantes atividades sociais, profissionais ou
recreacionais são abandonadas ou reduzidas em
função do uso de substância.
Retirado de: Dependência, compulsão e impulsividade (7).
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

Critérios do DSM-5 para transtornos por uso de


substâncias

8.Uso recorrente da substância em situação nas quais


isso representa um perigo à integridade física.
9.O uso de substância é mantido apesar da consciência
de ter um problema físico ou psicológico persistente
ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado
pela substância.
10.Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes
aspectos:

a) Necessidade de quantidades progressivamente


maiores de álcool para alcançar intoxicação ou o efeito
desejado;
b) Efeito acentuadamente menor com o uso
continuado da mesma quantidade de substância.

11.Abstinência, manifestada por qualquer dos


seguintes aspectos:

a)Síndrome de abstinência característica da


substância (consultar os critérios para síndrome de
abstinência específicos para cada droga);
b) A substância (ou uma outra substância estritamente
relacionada) é consumida para aliviar ou evitar os
sintomas de abstinência.
Retirado de: Dependência, compulsão e impulsividade (7).
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

Atualmente a dependência alimentar é diagnosticada


com auxílio da escala desenvolvida por cientistas de
YALE em 2009 (8). O conteúdo da Escala de
Dependência Alimentar de Yale (YFAS – YALE Food
Addiction Scale) é composto por questões baseadas
nos critérios de dependência de substâncias do DSM e
escalas usadas para avaliar dependências
comportamentais em jogos, exercícios e sexo.

O instrumento já foi validado em diversos idiomas,


incluindo para as crianças brasileiras (9) e o estudo
sobre a dependência alimentar tem ganhado grande
visibilidade nos últimos anos, embora não seja um
tema recente tendo em vista que a primeira publicação
que associava um alimento a um comportamento
“típico” de dependência data de 1890.
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

Interesse pelo tema dependência alimentar

Decorre do aumento da prevalência global de


excesso de peso

Tentativa de explicar parte das consequências


graves e psicopatológicas da obesidade

MAS, dependência alimentar é considerada


distinta da obesidade (6,8,9).

A dependência alimentar é definida por padrões


de comportamento e experiências relacionadas
à alimentação, e não pelo status de peso (7).
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

Um ponto importante a ser discutido é o estigma


associado ao excesso de peso, leva a crer que os únicos
que sofrem de dependência alimentar são os obesos.
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

Recompensa é dada pela estimulação de centros


cerebrais ligadas a neuroanatomia do prazer.

Centros controlam três comportamentos distintos

Interligados do gostar, querer e aprender

Controlam as respostas neurais conscientes e


inconscientes

Trabalham em rede ativando neurotransmissores

Controlam os eventos e estados de prazer

Compõem o chamado circuito cerebral hedônico

A dependência alimentar se refere ao consumo de


determinados alimentos de forma impulsiva e
compulsiva por recompensa (9).
Sawaya, AL & Filgueiras, AR (2013)
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

Sabe-se que o uso das drogas e as recaídas envolvem


associações mnemônicas entre o ato de consumir a
droga, os ambientes propícios onde esse consumo se
dá e os efeitos da estimulação das drogas nos centros
cerebrais que controlam o “querer” e o “prazer”. Essas
associações são aprendidas e guardadas na memória, e
geram também reflexos condicionados (10). Por
exemplo, consumir um determinado alimento e
desejar consumi-lo outra vez ou lembrar-se do
alimento quando retorna ao local/ambiente/situação
em que foi consumido. Esse exemplo traz os
comportamentos tipicamente humanos.
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

O que caracteriza uma desproporcionalidade nesse


sistema de recompensa é o comportamento
subsequente a essa lembrança. Esse comportamento
pode ser “saudável” ou pode ser desproporcional como
o fato de comer mais quantidade do alimento e obter
menos prazer ao comê-lo - comportamento
característico da tolerância, e/ou continuar
consumindo o alimento mesmo que esteja sentindo
“desconforto físico” ou mental – prejuízo clínico, e/ou
desejar intensamente determinado alimento – fissura.
Dentre outras características já descritas nos critérios
de diagnósticos para dependência.
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

Porém, ainda há grande discussão na literatura sobre a


origem desse comportamento quando se trata de
alimento. Seria um alimento, um nutriente, uma
substância? Alguns autores apontam o açúcar como o
culpado, embora, como um todo, as evidências para o
vício do açúcar permaneçam pouco consistentes.
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

Único macronutriente não seria o responsável pela


alimentação inadequada, mas sim as combinações
de macronutrientes em alimentos palatáveis de alto
teor calórico que não ocorrem naturalmente

podem exercer um efeito supra fisiológico nos


circuitos de motivação do cérebro sendo suficiente
para modificar comportamentos consumatórios
subsequentes.
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

A disponibilidade intermitente de dietas com altos teores


de açúcar, gordura ou açúcar e gordura provocam
padrões compulsivos de alimentação e uma série de
sequelas sugestivas de vício: notavelmente, redução do
receptor de dopamina função, limiares de
autoestimulação aumentados e, no caso do açúcar,
comportamentos ansiosos que podem ser relacionados a
sintomas de abstinência.
DEPENDÊNCIA OU VÍCIO
ALIMENTAR?

Referências:

1-Filgueiras AR, Pires de Almeida VB, Koch Nogueira PC, Alvares


Domene SM, Eduardo da Silva C, Sesso R, Sawaya AL. Exploring the
consumption of ultra-processed foods and its association with food
addiction in overweight children. Appetite. 2019 Apr 1;135:137-145. doi:
10.1016/j.appet.2018.11.005. Epub 2018 Nov 12. PMID: 30439381.
2-Fletcher, PC, Kenny, PJ Food addiction: a valid concept?.
Neuropsychopharmacol 43, 2506–2513 (2018).
https://doi.org/10.1038/s41386-018-0203-9
3-Bruinsma K., Taren DL. Chocolate: Food or drug? Journal of the
American Dietetic Association, 99 (10) (1999), pp. 1249-1256,
10.3390/bs7030054
4-Burrows T., Meule A. “Food addiction”. What happens in childhood?
Appetite, 89 (2015), pp. 298-300, 10.1016/j.appet.2014.12.209
5-Meule A., Food cravings in food addiction: Exploring a potential cut-
off value of the food cravings questionnaire-trait-reduced Eating and
Weight Disorders (2017), pp. 1-5, 10.1007/s40519-017-0452-3
6-Alves, A. Dependência Química - Classificação e Diagnóstico (2015).
Retirado de:
http://www.clinicajorgejaber.com.br/curso/2015/mar_30.pdf
10/01/2020 às 12:25
7-Araújo, MR, Laranjeira R. Livro: Dependência, compulsão e
impulsividade (no prelo) 2ª edição Capítulo: 1 Editora: Rubio
8-Gearhardt AN., Corbin WR., Brownell KD., Preliminary validation of
the Yale Food Addiction Scale,Appetite, Volume 52, Issue 2, 2009, Pages
430-436, ISSN 0195-6663, https://doi.org/10.1016/j.appet.2008.12.003.
9-Filgueiras AR, Sesso RCC, Almeida VB, Nogueira PK, Silva CE, Sawaya
AL. Tradução, adaptação e validação preliminar da versão em
português do questionário Yale Food Addiction Scale para crianças de
baixa renda com excesso de peso. Adolesc Saude. 2019;16(4):46-59
Sawaya, AL & Filgueiras, AR (2013). "Abra a felicidade"? Implicações
para o vício alimentar. Estudos Avançados, 27(78), 53-70.
https://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000200005
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