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Unidade: Sobradinho

Disciplina: Estágio Supervisionado II

Atividade: Análise filme: “O mínimo para viver”

Discente: Ana Cláudia Frantz de Araújo

Filme: “O mínimo para viver”

De forma bem simplista, o filme chama atenção para questões importantes e


delicadas sobre os transtornos alimentares, que costumam não receber a devida
atenção ou serem tratadas com a seriedade que exige a gravidade do problema. O
filme retrata a realidade de Ellen, uma jovem de 20 anos que busca tratamento para
seu transtorno alimentar, a anorexia nervosa, obcecada por contagem de calorias,
exercícios físicos, Ellen acredita estar no controle de tudo. Na dinâmica familiar de
Ellen os seus pais são divorciados e sua mãe possui um relacionamento homoafetivo.
A protagonista mora com o pai, uma irmã e a madrasta, que faz vários comentários de
cunho negativo sobre sua aparência física. Ellen atinge um nível de magreza
extremamente preocupante, passa por diversos médicos e internações, mas, ainda
assim, o transtorno permanecia.
Após muita insistência da família, Ellen vai em uma consulta com um novo
terapeuta, o qual tem uma conversa muito franca e Ellen concorda com uma nova
internação. Chegando ao lugar onde ficará internada, Ellen conhece outras pessoas
que possuem distúrbios alimentares também e todos buscam vencer os desafios dia
após dia, com um passo de cada vez. Como parte do tratamento proposto os
pacientes que são acompanhados durante todo o dia, eles precisam seguir uma rotina,
se alimentar e participar de terapia familiar ou individual. Existe ainda a recompensa
com pontos objetivando a melhora e assim deixar a internação.
O filme retrata ainda que os transtornos alimentares não se restringirem a
indução de vômitos ou uso de diuréticos e laxantes. Na busca pelo controle do peso
Ellen pratica atividade física em excesso (inclusive causando lesões na coluna por
conta dos abdominais, mede o braço com os dedos de forma constante, faz uso de
cigarros para aliviar a fome, conta o número de calorias dos alimentos que está
ingerindo, na busca para manter o controle de seu peso. Ellen também demonstra não
se importar com a sua condição, além disso apresenta sintomas físicos típicos da
anorexia nervosa, como atrasos na menstruação, pelos pelo corpo e cansaço. Outro
ponto importante é que Ellen não possui vínculos com amigos ou relacionamentos
amorosos, apresenta dificuldades em interagir socialmente, com pouco repertório de
habilidades sociais.
A anorexia nervosa é um termo derivado do grego que significa “perda do
apetite”, ela possui três critérios essenciais: comportamento de inanição auto induzida,
ou seja, um estado de extremo enfraquecimento por falta de alimentos, até um grau
significativo; em segundo uma psicopatologia, que diz respeito a uma busca constante
e contínua por magreza ou medo doentio do ganho de peso e por último condiz com
uma sintomatologia fisiológica onde há presença de sintomas que são o resultado da
inanição. As pessoas anoréxicas buscam reduzir o peso, algumas através de uma
dieta drástica e outras através da compulsão alimentar seguida de comportamentos
purgativos regulares (Sadock et al., 2017).
Segundo Sadock et al. (2017) a etiologia da anorexia nervosa é multifatorial,
nela está inclusa fatores biológicos, fatores sociais e fatores psicológicos. Alguns
trabalhos indicam que existe uma predisposição genética para o desenvolvimento da
anorexia nervosa. O comportamento desses pacientes é peculiar quanto à comida,
assim é recomendado um plano de tratamento abrangente que envolve a
hospitalização, em alguns casos, e a terapia individual e familiar. Alguns casos
envolvem ainda a indicação de medicação.
Importante salientar o papel do contexto cultural que influencia tanto os
“valores” e “ideias” individuais ou subjetivas, que fazem para do desenvolvimento e
manutenção dos transtornos alimentares. Os sujeitos aprendem por modelos ou
regaras as formulações sociais, quando essas regras são criadas pelo próprio sujeito
são chamadas de autorregras. As regras consistem em estímulos verbais que
descrevem ou especificam contingências, ou seja, relações entre eventos ambientais
ou entre eventos ambientais e comportamentais (Nobre et al., 2010).
Na terapia comportamental a noção de comportamento se baseia às ações e
às respostas observáveis de uma pessoa, envolve modificar o comportamento de
pacientes para reduzir a disfunção e para melhorar a qualidade de vida.
Fundamentada na teoria de Skinner (condicionamento operante), inclui uma
metodologia, chamada de análise comportamental, para a seleção estratégica de
comportamentos a serem alterados através da modificação de antecedentes ou
consequências, ou fornecimento de instruções (Sadock et al., 2017).
Neste processo estão envolvidos o reforço que é um tipo de estímulo que
aumenta a probabilidade de um comportamento ocorrer, ele pode ser positivo, quando
aumenta a frequência de um comportamento e o negativo, quando aumenta a
frequência de um comportamento através da remoção de um estímulo aversivo. Tem-
se a punição que diminui a frequência de um comportamento ocorrer, esta também
pode ser positiva, quando a consequência diminui o comportamento ou negativa,
quando a diminuição do comportamento se dá pela remoção dos reforços positivos
(Cordioli e Jaeger, 2019).
A análise funcional do comportamento é uma ferramenta para o terapeuta na
prática clínica que implica na identificação das relações de dependência entre quatro
elementos: resposta do indivíduo, contexto (antecedentes), efeitos (consequentes) e
operações motivadoras. Ela auxilia na compreensão do caso e norteia toda a decisão
clínica (Leonardi et al., 2012).
Para o planejamento da intervenção é preciso considerar alguns elementos
suplementares para ampliação da avaliação funcional, considera-se assim o histórico
de desenvolvimento do comportamento através do levantamento de informações sobre
o desenvolvimento do problema; a história de vida do paciente não diretamente
relacionada a queixa; a análise molar do funcionamento do paciente, sendo este a
avaliação dos impactos que o comportamento causa no funcionamento global
(Leonardi et al., 2012).
Abaixo serão analisados alguns comportamentos de Ellen que estão
diretamente relacionados ou não ao seu transtorno alimentar, que também afetam seu
padrão de comportamento e podem auxiliar em uma intervenção terapêutica.

CONTEXTO (Antecedente) RESPOSTA EFEITO (Consequência)


 Privação de atenção Praticar Sensação de relaxamento,
 Relação conflituosa com a exercícios físicos prazer e bem-estar pela
mãe em excesso. prática de atividade física por
 Ausência do pai períodos prolongados.

 Autorregra: “se eu não


considero que estou
doente, logo não preciso de
tratamento”; “eu sou um
problema para todos”; “eu
tenho culpa de tudo isso”.
 Regra: “vou ficar obesa se Contar calorias Ingerir somente a quantidade
comer”. de calorias que considera
ideal para manutenção do
peso, controle.
 Autorregra: “Estou no Medir o braço Controle do ganho e perda
controle da situação, logo com os dedos, de peso.
nada acontecerá comigo” pesar-se
constantemente.
 Após refeições Tomar laxante e Retirar calorias ingeridas,
induzir vômito. sentir alívio diminuindo o
sentimento de culpa.
 Durante refeições Mastigar e expelir Não ingestão de calorias;
alimentos controle e manutenção do
calóricos peso. Sentir o gosto da
comida.
 Privação de alimentos Fumar Alívio da fome.

Após análise é possível identificar que alguns comportamentos de Ellen


apresentam a mesma função apesar de possuírem antecedentes diversos. Também é
possível verificar que algumas situações que ocorreram no decorrer de sua vida como
rompimento de vínculos com a mãe após o divórcio, a ausência do pai e além do
contexto cultural em que estava submetida (regra e autorregra) também contribuíram
para o desenvolvimento da anorexia nervosa.
Conclui-se, portanto, que os transtornos alimentares são definidos por padrões
de comportamento alimentares incomuns tendo origem multifatorial e causam danos à
saúde mental e física das pessoas. A cultura dos padrões de beleza, bem como
algumas atividades vocacionais contribuem para o desenvolvimento de transtornos
alimentares, que estão presentes em mais frequência em mulheres. É de suma
importância entender seus sintomas para realizar o diagnóstico, pois se torna difícil por
conta do sigilo dos comportamentos alimentares, resistência dos pacientes e por
algumas pessoas terem peso normal.
O tratamento para a maioria dos transtornos alimentares envolve a
psicoterapia, uma dieta adequada, quantidade normal de exercício físico e diminuição
de tentativas de livrar-se da comida. Algumas vezes se faz necessária a hospitalização
de pacientes em casos mais graves, com risco de morte. A psicoterapia também está
presente no auxílio de lidar, principalmente com os sintomas associados. É importante
lembrar que durante o tratamento de qualquer transtorno alimentar é essencial ter o
apoio da família para que o paciente entenda sua condição e colabore para cura.
Referências

Leonardi, J.L. et al. Avaliação funcional como ferramenta norteadora da prática clínica.
In: Borges, N.B. et al. (org.). Clínica analítico-comportamental: aspectos
teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed, 2012. Cap. 10, p. 105-109

Sadock, B.J. et al. Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e


Psiquiatria Clínica. Porto Alegre: Artmed, 2017.

Nobre, G.I.F. et al. “A Prefiro não Comer, a Começar e Não parar! ” Um Estudo de
Caso de Bulimia Nervosa. In: de-Farias, A.K.C.R, e colaboradores (org.). Análise
comportamental clínica [recurso eletrônico]: aspectos teóricos e estudos
de caso. Porto Alegre: Artmed, 2010. Cap. 16, p. 273-294

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