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CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA

Daniela Andrade, Eliane Dutra, Fabrícia Queiroz, Joice Fernandes,

Julianna Alves, Juliana Oliveira, Raquel Moreira e Roberta Rodrigues

GRUPOS COM PACIENTES BULÍMICAS

RIO DE JANEIRO

2018
Os grupos com pacientes bulímicas são grupos homogêneos de tratamento
com pacientes psicossomáticos. Homogênio remete a um grupo que tem por
base o mesmo problema e objetivo (tratamento da bulimia), porém podem ser
compostos tanto por homens, quanto por mulheres. Estes grupos servem para
que, ao dividir suas experiências com outros participantes, haja um alívio de
tensão e um possa fortalecer o outro no processo da cura.

Nesse ambiente é fundamental a solidificação da confiança para criar um


vinculo e abertura para a interação e troca de experiências. Essa confiança não
é conquistada facilmente, segundo Julio de Melo Filho (2007), demora
aproximadamente 7 meses para o estreitamento desse vínculo.

A bulimia é, por vezes, confundida com a anorexia. Mas ela se diferencia na


ingestão exagerada e descontrolada de uma grande quantidade de alimentos.
Após o episódio de descontrole, há um forte sentimento de arrependimento e
culpa seguido de utilização de métodos compensatórios, como vômito forçado
ou ingestão de remédios. O acometido passa a ter déficits vitamínicos pela não
digestão do alimento, além do sangramento resultado de vômito constante.

No tratamento com esses grupos são trabalhados a relação de prazer X


sentimento e Narcisismo X negação. Pacientes acometidos de bulimia
possuem uma falha narcísica, onde tudo o que precisam é satisfazer a pulsão
do momento.

O prazer da ingestão do alimento, com um sentimento de satisfação do desejo,


seguido da culpa que o faz adquirir outro tipo de satisfação por impedir a
digestão do alimento, evitando assim, o ganho de peso. A dedicação para
chegar ao ideal de corpo perfeito, faz com que o mesmo negue a realidade
corporal em que se encontra.

A dinâmica dos grupos basea-se na associação livre, ou seja, no livre discurso,


nas palavras liberadas de forma aleatória, conforme o surgimento dos
pensamentos e emoções e do desejo da exposição de suas experiências. A
partir dessa livre demanda, surge também a interação livre, que consiste na
troca de discursos, opiniões, sentimentos, emoções e experiências.
Os grupos possuem três estruturas como base da dinâmica, mas também
como resultado dos encontros. Sua dinâmica possui um funcionamento circular
e constante: Proximidade, Persistência e Paciência. As interações do grupo
geram intimidade, empatia, amizade e trabalho em equipe.

A relação entre o grupo produz autoconhecimento e observação aos outros


participantes. Ao refletir sobre suas dificuldades e complexos, não só se coloca
no lugar de ser espelho para o outro, mas também tem o outro como espelho
(galeria de espelhos). Dessa forma, podem medir as experiências como
incentivo para não fazer como o outro participante ou até mesmo perceber que
o seu caso está fora de controle.

A intervenção psicológica almeja sensibilizar esses pacientes quanto à


necessidade do tratamento. O psicólogo tem como responsabilidade, como
sendo mediador e facilitador, promover a remoção das barreiras de
comunicação entre o grupo. Possuindo conhecimento cientifico, além do senso
comum, provoca confrontos e realiza interpretações sobre os casos
apresentados.

O trabalho do psicólogo então é reverter este comportamento vomitório ou de


ingestão de medicamentos, para um discurso reflexivo sobre o que levou a
cometer este ato. Tratando não somente dos resultados, mas também das
causas. Transformando-as em palavras vomitórias, ou seja, transformando em
palavras o que vem sido dito pelo corpo, através do inconsciente.

A palavra vomitória retrata como os episódios em que essas pacientes, depois


de um período de vazão do desejo de comer em grande quantidade, seguida
da culpa e indução do vômito podem ser mudados. No grupo de pacientes
bulimias a fala é o principal meio para reverter esses episódios, ou seja, leva-
las do vômito materializado para a fala verbalizada.

“A partir das semelhanças se gera a esperança e o aumento da confiança dos


indivíduos nas suas próprias capacidades.” ZUKERFELD
Caso Clínico:

Gregory, um agente teatral de 43 anos, foi avaliado em uma clínica para


transtornos alimentares. Embora tivesse perdido 26 quilos nos últimos cinco
meses, caindo de 113 para 87 quilos, com uma altura de 1,85m, ainda sentia
pavor de engordar.

Gregory começou a fazer dieta cinco meses atrás, quando sua esposa
chamou-o de “trambolho gordo” e insinuou que poderia estar pensando em
divórcio. Isto o deixou aterrorizado e colocou-o em um regime rígido de dieta:
uma omelete e cereais no café da manhã, no almoço salada e camarão ou
galinha no jantar. Seu objetivo inicial era perder aproximadamente 22 quilos.
Quando a dieta não resultou em uma perda suficientemente rápida de peso,
começou a enfiar o dedo na garganta para induzir o vômito após as refeições.

Gregory atualmente está “obcecado” com alimentos. Antes de ir a um


restaurante, preocupa-se com o que vai pedir. Ele fez um estudo do que come
em termos do que é mais fácil de purgar, e agora conhece todos os banheiros
nas áreas que frequenta. 

Ele não suporta sentir-se repleto após comer e preocupa-se com o fato da
barriga estar “gorda”. Três ou quatro vezes por semana, ele é incapaz de
resistir ao anseio por fazer “orgias” alimentares. Nesses momentos, sente que
seu consumo de alimentos está fora de controle, podendo devorar até três
hambúrgueres, duas porções de batatas fritas, um pote de sorvete e dois
pacotes de biscoitos. Ele sempre induz o vômito após comer dessa maneira.
Jamais usou laxantes, diuréticos ou pílulas para emagrecer.

Gregory também se preocupa em ser magro. Ele vem reduzindo


progressivamente seu objetivo inicial ao realizar dieta, primeiro para 86 quilos,
depois para 84 quilos. 

Começou a exercitar-se, caminhando pelo menos uma hora por dia e, mais
recentemente, fazendo halterofilismo várias vezes por semana. Ele acredita
que as mulheres agora olham para ele de modo diferente: quando estava
gordo, elas olhavam-no casualmente; agora, sua resposta é de “admiração”. 

Gregory sempre foi um pouco pesado, voltando-se para os alimentos em


momentos de estresse, porém jamais se preocupou com seu peso até ter sua
aparência criticada pela esposa. Agora, não consegue mais sentir prazer em
refeição alguma e sente que perdeu o controle desta área de sua vida, já que
não consegue parar de fazer dieta, embora a esposa tenha dito que ele está
muito magro. Portanto, ele recentemente consultou seu médico, que não
constatou problemas físicos e encaminhou-o para uma avaliação psiquiátrica. 

Discussão – O transtorno alimentar de Gregory iniciou-se, como


frequentemente ocorre, como uma tentativa razoável de perder algum peso.
Ele logo passou a preocupar-se com perder peso e continuou vendo seu corpo
como “gordo”, embora os outros não pensassem assim. Esta preocupação com
perder peso e imagem corporal distorcida sugere anorexia nervosa, mas este
diagnóstico não é feito, já que Gregory ainda não deixou seu peso cair abaixo
do mínimo normal para a sua altura. 

Os episódios de compulsão periódica de Gregory (consumo recorrente de uma


grande quantidade de alimentos com um sentimento de perda de controle), seu
comportamento compensatório inadequado e recorrente a fim de evitar o ganho
de peso (em seu caso, por autoindução de vômitos) e o envolvimento
excessivo com o peso e a forma corporal indicam o diagnóstico de bulimia
nervosa. Como geralmente ocorre na bulimia nervosa, o método predominante
para evitar o ganho de peso é o vômito; assim, o diagnóstico é adicionalmente
qualificado como tipo purgativo. 

Métodos menos comuns para evitar o ganho de peso são o uso diário de
laxantes ou diuréticos (também considerado como tipo purgativo), jejuns e
exercícios físicos excessivos. Este caso é raro, no sentido de que a bulimia
nervosa, assim como a anorexia nervosa, é bem mais comum em mulheres do
que em homens.
Referências:

FILHO, Julio de Mello. Grupo e Corpo, Psicoterapia com grupos de


pacientes somáticos. 2º edição. Casa do psicólogo. São Paulo, 2007.

Portal da Educação Tecnologia Educacional LTDA. São Paulo. Disponível


em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/psicologia/casos-
clinicos/18602> Acesso em: 25 de Outubro de 2018.

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