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Prof.

Erika Costa Barreto


Terapeuta Cognitivo
TRANSTORNOS ALIMENTARES Comportamental
Mestre em Cognição e Linguagem
Mediadora de Conflitos
O SER HUMANO É O ÚNICO ANIMAL CAPAZ DE
MODIFICAR SEU PRÓPRIO CORPO ATRAVÉS DA
MENTE
COMO VOCÊ APRENDEU A COMER?
O QUE SUA FAMÍLIA COME?
O QUE COMEM AS PESSOAS COM
AS QUAIS VOCÊ CONVIVE?
QUAL É SUA HISTÓRIA ALIMENTAR?
Os transtornos alimentares são quadros caracterizados
por aspectos como o medo mórbido de engordar, redução
voluntária do consumo nutricional, ingestão maciça de
alimentos seguida de vômitos e uso abusivo de laxantes
e/ou diuréticos. São patologias graves e de prognóstico
reservado (American Psychiatric Association, 2003), que
trazem aos pacientes grandes prejuízos biopsicossociais e
elevados índices de letalidade.
Estudos mostram um aumento da incidência desses
transtornos nas últimas duas décadas, principalmente entre
adolescentes e adultos jovens do sexo feminino, com maior
incidência entre os 13 e 20 anos de idade (cerca de 1%
nessa população) (American Psychiatric Association). Além
disso, a prevalência de indivíduos que não preenchem
todos os critérios diagnósticos, mas que têm traços
anoréxicos, bulímicos ou distúrbios não especificados é
bem mais alta. São as chamadas síndromes parciais, e
estão presentes em 5% a 10% da população.
Estudos mostram um aumento da incidência desses transtornos nas
últimas duas décadas, principalmente entre adolescentes e adultos
jovens do sexo feminino, com maior incidência entre os 13 e 20
anos de idade (cerca de 1% nessa população) (American
Psychiatric Association). Além disso, a prevalência de indivíduos
que não preenchem todos os critérios diagnósticos, mas que têm
traços anoréxicos, bulímicos ou distúrbios não especificados é bem
mais alta. São as chamadas síndromes parciais, e estão presentes
em 5% a 10% da população.
A TCC é uma abordagem de intervenção semiestruturada, objetiva, que busca
identificar e corrigir as condições que favorecem o desenvolvimento e
manutenção das alterações cognitivas e comportamentais. Para este
referencial, o sistema de crenças de um indivíduo exerce papel determinante
em seus sentimentos e comportamentos.
Um dos principais representantes do modelo cognitivo-comportamental para
os transtornos alimentares é Fairburn (1991). Sua abordagem relaciona
pensamento, emoção e comportamento manifesto, e o tratamento tem como
objetivo fazer com que o paciente examine a validade de suas crenças no
presente e mude comportamentos disfuncionais. Os processos cognitivos mais
frequentes nestes quadros (abstração seletiva, supergeneralização,
magnificação, pensamento dicotômico, personalização e pensamento
supersticioso) são definidos e examinados cuidadosamente, a fim de modificar
os pensamentos e pressupostos automáticos.
Por exemplo, esses pacientes tendem a pensar em termos
incondicionais e extremos (pensamento dicotômico). Assim, adotam
regras dietéticas rígidas e inflexíveis, nas quais pequenos desvios
são percebidos como evidência de fracasso e autocontrole pobre
e podem ser seguidos de um abandono temporário do domínio
sobre a alimentação. Não é raro que eles pensem: "se não estou
completamente com o controle, isso significa que perdi todo o
controle, que está tudo perdido e que posso então me fartar". Em
geral, em vez de perceber que são as regras que estão
distorcidas e considerar outras situações em que demonstram bom
autocontrole, atribuem as falhas de autocontrole a deficiências
pessoais, reforçando, então, a baixa autoestima.
Essa panóplia de crenças é perpetuada por várias tendências
disfuncionais de raciocínio. Uma das tendências frequentemente
encontradas nos pacientes é a de atentar seletivamente para os
subsídios que confirmam suas crenças, ignorando ou distorcendo as
que se contrapõem a elas. Tal tendência é uma das responsáveis
pela manutenção do sistema de crenças, pois os dados que
poderiam questioná-las são desconsiderados. Esta situação pode
ser agravada pelo fato de que, à medida que o transtorno
alimentar se desenvolve, os pacientes podem se tornar
progressivamente isolados do convívio social.
Ademais, na TCC dos transtornos alimentares, as alterações na
cognição - que levam a sentimentos de angústia e resultam em
comportamentos disfuncionais - são consideradas essenciais para o
tratamento. A perda de peso pode ser vista como alívio para a
angústia e inquietação, e assim, obter uma tentativa de controle
sobre os outros e sobre si mesmo (White & Freeman, 2003). Outro
esquema central de raciocínio para o desenvolvimento e a
manutenção dessas enfermidades é o que inflige valor pessoal ao
peso e a forma corporal, ignorando outros parâmetros.
A magreza para esses pacientes está associada ao autocontrole,
competência e superioridade, tornando-se assim intrinsecamente
associada à autoestima. Inicialmente, o comportamento de fazer
dieta é aprovado pelas pessoas próximas e pela própria
sociedade. Posteriormente, a experiência de exercer controle
sobre o corpo e sobre a alimentação é positivamente reforçada
por um sentimento de conquista, de sucesso e de controle,
tornando-se um reforçador por si próprio.
Alguns padrões de pensamento negativo comuns na mente de
pessoas que estão buscando a perda de peso são os seguintes:
“Eu tentei no passado e não funcionou.”
“Perder peso é um processo difícil e tedioso.”
“Meu corpo nasceu deste jeito e eu nunca vou conseguir
emagrecer.”
“Eu sempre ganho peso mais rápido do que eu perco, é uma
batalha perdida.”
“Eu não gosto de mim mesmo (outros pensamentos de ódio ou
critica contra si mesmo).”
“Vai demorar muito para eu perder todo esse peso extra.”
Todos esses pensamentos estão em oposição a sua realidade
desejada de perder peso e ter um corpo mais magro. Você pode
perceber que todos esses pensamentos fazem você se sentir “mal”
quando pensa neles, isso é porque eles estão se “opondo” à força
de atração que foi gerada pelo seu desejo de manifestar uma
realidade na qual você tem um corpo mais magro e em forma.
Quando você acredita nesses pensamentos negativos você está,
inconscientemente, opondo-se à lei da atração instigada pelo seu
desejo de perda de peso. Se você deseja uma manifestação mais
rápida da sua realidade desejada, você precisa abandonar a
crença e o interesse nesses pensamentos negativos.
“Toda vez que a mente vier com esses padrões de
pensamentos negativos, não se permita ser puxado por
eles. Pode ser um pouco difícil resistir, no começo, ao
empurrão desses pensamentos negativos, mas em poucas
semanas você deve desenvolver consciência o bastante
para desviar o foco desses pensamentos. Uma vez que
você sabe que dar atenção a esses pensamentos negativos
impede você de alcançar a perda de peso, é muito mais
fácil parar de acreditar neles.”
“ A maravilha da comida é que ela não vai embora, não reage, nem tem uma
opinião própria. A dificuldade em lidar com pessoas é que elas fazem tudo isso. A
comida foi minha amante por 17 anos e não exigiu nada de mim. Isso era
exatamente o que eu queria” – Descobrindo o prazer além da comida
Preferimos perder peso a ficarmos perto de seres humanos. Preferimos cuidar de
nossos corpos a amarmos e sermos amados. É mais seguro: sabemos de onde a dor
vem, estamos no controle.
Qual a semelhança entre comer e amar?
“sinto que fui roubada. O meu maior sonho foi tirado de
mim. Eu realmente achei que perder peso mudaria a
minha vida, mas só o que mudou foi meu exterior. O
interior ainda é o mesmo. Minha mãe está morta e meu
pai batia em mim quando eu era criança. Ainda estou com
raiva e solitária e agora não tenho mais nem as dietas
para me motivar a seguir em frente. – Mulher que perdeu
35 kilos.
Compulsão é desespero ao nível emocional. As substâncias, pessoas ou atividades
pelas quais nos tornamos compulsivos são aquelas que acreditamos ser capazes de
acabar com o nosso desespero.
Nós não desejamos ser compulsivos. Isso acontece para conseguirmos sobreviver.
Para evitar enlouquecer. Que bom para nós.
O comportamento compulsivo, em essência, é a falta de amor-próprio, é a extensão
de uma crença de não sermos bons o suficiente.
Começamos a comer compulsivamente devido a razões que têm a ver com o tipo e a
quantidade de amor que temos ou não temos em nossas vidas. Quando não somos
amados, reconhecidos, compreendidos, tomamos medidas para nos adaptar às
situações. Diminuímos as nossas expectativas. Paramos de nos perguntar do que
precisamos. Paramos de mostrar o que nos machuca ou o que precisamos de consolo.
Paramos de esperar a satisfação e começamos a contar com nós mesmos, apenas
com nós mesmos para prover sustento, conforto e prazer, começamos a comer e
comer.
Compulsão é um estado de isolamento que inclui autocentrismo, invulnerabilidade,
baixa autoestima, imprevisibilidade e medo de que, ao enfrentar a dor, ela nos
destrua.
Os transtornos alimentares (TA) são multideterminados e resultam
da interação entre fatores:

biológicos
culturais
experiências pessoais.

A TCC ocupa-se da identificação e correção das condições que


favorecem o desenvolvimento e manutenção das alterações
cognitivas e comportamentais que caracterizam os casos clínicos.
ANOREXIA NERVOSA
As estratégias sugeridas para o tratamento da AN
objetivam a diminuição da restrição alimentar e da
frequência de atividade física, facilitando o aumento do
peso; a diminuição do distúrbio da imagem corporal; a
modificação do sistema disfuncional de crenças associadas
à aparência, peso e alimentação e o aumento da
autoestima.
DIETAS DE SITES PRÓ ANA
Dieta Bündchen almoço:-1 file de peixe médio/-1
1º dia manhã:-2 crema cracker/-café gelatina light
manhã:- café preto sem açúcar e
sem adoçante almoço:-1 ovo cozido ou jantar:-limonada a vontade
mexido(sem óleo e sem sal)
almoço:- água a vontade 6º dia:
jantar:-1 suco de beterraba(200
jantar:- limonada (200 ml) ml) manhã:-1/2 cream cracker/-café
2º dia 4º dia: almoço:-3 fatias de melão
manhã:-1/2 cream cracker light manhã:-1/2 cream cracker/-café jantar:-suco de melão(200 ml)
-café almoço:-1 maçã pequena/-1 7º dia:
gelatina light
almoço:-1bife grelhado de frango manhã:-1/2 cream cracker/-café
médio jantar:-suco de melão(200 ml)
almoço:-1 tangerina pequena/-1
jantar:-suco de beterraba com 5º dia: torrada
cenoura(200 ml)
manhã:-2 cream cracker/-café jantar:-limonada a vontade
3º dia:
REGRAS:
1-Pode beber:água,chá,café,coca light vontade
2-Repita a 1 semana para que consiga perder 14 kg ate 18 kg
3- permitido ginástica
4- substitua alimentos,se gosta de algo, coma
5- permitido pular refeições,ou substituí-las por água gelada ou coca-light
6-Poder fazer uso de laxantes
7-Os líquidos permitidos não podem conter adoçantes nem açúcar
8-Se pese todos os dias na mesmo hora com roupas leves,o melhor é sem
9-Caso sinta fome tomar os líquidos permitidos
10-Importante:Ande sempre com uma maçã pequena na bolsa, não coma de jeito nenhum,só em caso de
tonturas fortes quase desmaios
11-o melhor dia para se começar é domingo,nesse dia fique o maximo de tempo em casa
12-tenha sempre em mãos revistas de modelos magras,caso queira desistir da dieta,olhe para as fotos das
modelos
13-Se houver algum imprevisto que saia da dieta,no dia seguinte beba somente água e café, coma nenhum
outro alimento"
ANOREXIA INFANTIL
Anorexia infantil é um transtorno alimentar caracterizado pela recusa alimentar
seguida ou não de vômitos, em crianças até os 12 anos de idade. Ela pode
manifestar-se em crianças desde o primeiro ano de vida e tende a ser ainda mais
forte quando os pais insistem para que a criança coma.
Na maior parte das vezes, o que a criança quer é atenção e, ao consegui-la ao
rejeitar os alimentos, ela tende a rejeitá-los sempre, de modo a conseguir sempre
chamar a atenção.
Para tratar a anorexia infantil é necessário uma atuação conjunta do pediatra e do
psicólogo. O psicólogo será capaz de identificar a causa da anorexia e assim
direcionar o tratamento.
As causas da anorexia não são muito claras, mas envolve a parte emocional, comportamental
e física, como, por exemplo:
Crescimento dos dentes;
Doenças;
Irritabilidade;
Ansiedade;
Depressão;
Ingestão de medicamentos;
Má digestão;
Medo de provar algo novo;
Pressão da sociedade em ser magro.
Entre os 12 e os 24 meses é normal que a criança passe a comer bem menos do que comia
antes, sendo este um quadro normal chamado de anorexia fisiológica do segundo ano de
vida. E para evitar que este quadro se prolongue por mais tempo, é necessário que os pais
deixem a criança comer a quantidade de comida que ela quiser, na hora que ela quiser, não
tornando a hora das refeições um "filme de terror".
DIMINUIÇÃO DA RESTRIÇÃO ALIMENTAR
A história de privação alimentar de um indivíduo pode ser
significativa para o desenvolvimento de alterações
persistentes do padrão alimentar, determinando também
alterações de humor e cognição. A normalização da
alimentação inicia-se pela discussão dos fatores que
favorecem a manutenção da restrição dietética e por
orientações acerca de alimentação e regulação de peso.
O tratamento concentra-se no estabelecimento de horários
regulares para alimentação e na exposição gradual aos
alimentos e situações frequentemente evitadas.
DIMINUIÇÃO DA FREQÜÊNCIA DE ATIVIDADE
FÍSICA
A suspensão da rotina de exercícios físicos extenuantes é
gradualmente incentivada, em função do papel que
exerce na manutenção dos comportamentos disfuncionais
associados à AN. Assim, a paciente é orientada a
envolver-se em situações que possam competir com a
prática de exercícios, principalmente as atividades que
permitem o desenvolvimento de relações interpessoais.
ABORDAGEM DO DISTÚRBIO DA IMAGEM
CORPORAL
A TCC considera a abordagem do distúrbio de imagem
corporal central para o tratamento da AN. O conceito de
“imagem corporal” envolve três componentes:
1) a precisão da percepção do tamanho corporal;
2) o grau de ansiedade associada a aparência e
3) o comportamento de evitação de exposição corporal
Para diminuir a distorção da percepção corporal pode-se
solicitar à paciente que desenhe como percebe seu corpo,
olhando-se em um espelho. Em seguida, o terapeuta
desenha a silhueta real, para que a paciente possa
observar a discrepância entre os desenhos. Essa medida
pode reduzir a ansiedade associada à aparência e
facilitar a exposição corporal, que é organizada de
forma gradual, incentivando a paciente a usar roupas
justas e curtas. Para maior redução da ansiedade, a
paciente deve também modificar seu ideal de imagem
corporal, aprendendo a lidar melhor com eventuais
“imperfeições”.
MODIFICAÇÃO DO SISTEMA DE CRENÇAS
A TCC pressupõe que o sistema de crenças de um indivíduo exerce
importante papel no desenvolvimento de seus sentimentos e
comportamentos. Desta forma, as pacientes com TA apresentam
crenças distorcidas e disfuncionais acerca de peso, formato
corporal, alimentação e valor pessoal, que são significativas para
a manutenção dos TA. Uma das crenças distorcidas centrais para
os TA é a que equaciona valor pessoal ao peso e formato
corporal, ignorando ou não valorizando outros parâmetros. Para
pacientes com TA a magreza estaria associada à competência,
superioridade e sucesso, tornando-se assim intrinsecamente
associada à autoestima.
O sistema distorcido de crenças pode perpetuar-se em decorrência de
várias tendências disfuncionais de raciocínio. Uma das tendências
freqüentemente encontradas é a de atentar seletivamente para as
informações que confirmam suas crenças, ignorando ou distorcendo os dados
que poderiam questioná-las.
Para modificar o sistema de crenças a TCC utiliza diversas técnicas. Uma
delas consiste em ensinar a paciente a identificar pensamentos que possam
conter alguma distorção. Em seguida ela é incentivada a analisar todas as
evidências disponíveis que possam confirmar ou refutar o pensamento
distorcido, tornando-o mais funcional. Uma grande variedade de estratégias,
como as descritas para o tratamento da imagem corporal, pode ser utilizada
para facilitar a modificação das crenças. Por exemplo, o desenho da imagem
corporal e a exposição gradual do corpo permitem que a paciente modifique
suas crenças de que está gorda e de que será rejeitada em função disto.
ABORDAGEM DA AUTO-ESTIMA
A abordagem da autoestima envolve a redução das altas
expectativas de desempenho das pacientes com AN,
desenvolvendo padrões realistas de autoavaliação e
incentivando-as a focalizar-se em seus sucessos e
qualidades. É importante também desenvolver uma
avaliação multifacetada de valor pessoal, fazendo sua
autoestima apoiar-se em outros atributos além da
aparência.
Pacientes com AN apresentam frequentemente déficits de
habilidades sociais, tais como: dificuldades para expressar
pensamentos e sentimentos; iniciar, manter e encerrar
conversação; fazer e recusar pedidos; responder a
críticas; fazer e receber elogios e defender seus direitos.
O desenvolvimento dessas habilidades favorece a
modificação do comportamento da paciente nas relações
interpessoais, o desenvolvimento de crenças de auto-
eficácia e o aumento da autoestima.
AVALIAÇÃO DE EFICÁCIA
Em pacientes com AN, os programas de TCC têm resultado na
diminuição da restrição alimentar com melhora das escolhas
nutricionais e aumento de peso.14,16 Também tem sido relatada
redução de pensamentos disfuncionais acerca de peso e
alimentação, melhora do funcionamento sexual e do humor. A
manutenção dos resultados parece ser menor do que na BN. Para
aumentar a probabilidade de manutenção dos resultados devem
ser utilizadas técnicas para prevenção da recaída, que consistem
em paciente e terapeuta identificarem possíveis dificuldades
futuras e planejarem estratégias adequadas para lidar com elas.
BULIMIA NERVOSA
As técnicas utilizadas no tratamento da bulimia nervosa
(BN) objetivam a normalização do padrão alimentar e o
desenvolvimento de estratégias para controle de episódios
de compulsão alimentar (ECA) e dos comportamentos
compensatórios. A TCC aborda também a auto-estima, a
modificação da relação com a imagem corporal e a
modificação do sistema de crenças disfuncionais.
CONTROLE DOS EPISÓDIOS DE COMPULSÃO
ALIMENTAR E DA INDUÇÃO DE VÔMITO
Os ECA são favorecidos pela restrição alimentar e pelos
demais mecanismos compensatórios usados para controlar
o peso. Assim, a abordagem dos ECA inicia-se pela
disposição de informações acerca da relação entre
métodos compensatórios e a ocorrência dos episódios, das
complicações clínicas e psicoló- gicas associadas aos
comportamentos purgativos e de sua pouca eficiência na
redução do peso corporal.
A TCC ensina técnicas de autocontrole ao paciente para redução
de ansiedade, tristeza e outros sentimentos considerados
facilitadores de ECA e de indução de vômito. As estratégias
podem ser utilizadas alternativamente para inibir estes
comportamentos. O tratamento comportamental de exposição e
prevenção de resposta é eventualmente utilizado e consiste em
incentivar a paciente a expor-se gradualmente a diversas
condições que favorecem a ocorrência de ECA e a indução de
vômito. Por exemplo, a paciente deve ingerir alimentos que
usualmente desencadeiam ECA ou indução de vômito e é
incentivada a utilizar técnicas de autocontrole, previamente
treinadas para evitar tais comportamentos, inicialmente com a
ajuda do terapeuta.
ELIMINAÇÃO DO USO DE LAXANTES E
DIURÉTICOS
A eliminação do uso de laxantes e diuréticos é realizada
de forma gradual, uma vez que a alimentação tenha se
tornado mais regular. É importante evidenciar para a
paciente que o aumento de peso, que eventualmente
ocorre nesta fase, deve-se à retenção hídrica e não ao
aumento de gordura corporal.
MODIFICAÇÃO DO SISTEMA DE CRENÇAS
Para a TCC, entre os fatores que contribuem para a ocorrência de
ECA está o pensamento “tudo ou nada”, que consiste em pensar
em termos absolutos e extremos. Assim, pacientes com BN adotam
regras dietéticas inflexíveis e pequenos lapsos na dieta favorecem
o abandono total do controle sobre a alimentação. Em geral, em
vez de reavaliar a adequação da rigidez das regras dietéticas
utilizadas, avaliam os lapsos como resultantes de suas deficiências
pessoais, reforçando sua baixa autoestima. Na BN, a modificação
das crenças centrais, e dos pensamentos associados à alimentação,
aparência e valor pessoal é realizada nos mesmos moldes que na
AN.
AVALIAÇÃO DE EFICÁCIA
No tratamento da BN, a TCC tem sido apontada como uma
psicoterapia eficaz na remissão ou diminuição da frequência de
ECA dos comportamentos purgativos, da restrição alimentar e da
preocupação com peso e formato corporal. A terapia tem
auxiliado também na redução dos sintomas depressivos
associados, na melhora da autoestima e do funcionamento social.
A utilidade desta forma de intervenção tem sido enfatizada por
superar os resultados alcançados com o uso de medicação isolada
e pelo fato da associação de TCC à medicação aumentar a
eficácia do tratamento farmacológico. Foi observada também uma
boa manutenção dos resultados.
TRANSTORNO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
PERIÓDICA
O programa de TCC para o Transtorno da Compulsão Alimentar
Periódica (TCAP) foi desenvolvido a partir do modelo utilizado para a
BN, tendo sido necessárias algumas adaptações às diferenças entre
estas duas síndromes. Os objetivos terapêuticos no TCAP incluem o
desenvolvimento de estratégias para controle de ECA, a modificação
de hábitos alimentares, o desenvolvimento de estratégias para adesão
a exercício físico e a redução gradual do peso, quando há obesidade
associada. A TCC sugere, também para estes casos, a abordagem da
autoestima, a redução da ansiedade associada à aparência e a
modificação do sistema de crenças disfuncionais, realizada nos moldes
já descritos para AN e BN.
MODIFICAÇÃO DE HÁBITOS ALIMENTARES
Uma vez que uma dieta muito restritiva está contraindicada, a
redução de peso no TCAP é obtida através de modificações
graduais de hábitos alimentares. São fornecidas informações
sobre nutrição para ajudar a paciente a fazer escolhas
adequadas de alimentos, com flexibilidade para evitar o
pensamento “tudo ou nada”. São também implementadas
estratégias para controle de estímulos, que consistem na diminuição
da exposição da paciente às condições que facilitam alimentação
inadequada como, por exemplo, diminuir a exposição a alimentos
que devem ser ingeridos em baixa frequência.
AUMENTO DA ATIVIDADE FÍSICA
Estratégias para adesão à atividade física incluem o
estabelecimento de modalidades de exercício que sejam
reforçadoras. O programa de atividade física deve ser
flexível, podendo-se incluir uma combinação de exercícios
diferentes e, para alguns pacientes, a associação de
outras pessoas no programa. É importante também avaliar
situações que poderiam dificultar a execução do exercício
e planejar antecipadamente possíveis soluções.
ABORDAGEM DA AUTO-ESTIMA
No TCAP há grande atenção aos estereótipos sociais associados à
obesidade e excessiva atenção ao formato corporal,
acompanhada de sentimentos de vergonha e inferioridade. Alguns
pacientes foram ridicularizados em decorrência da obesidade e a
abordagem da autoestima deve abranger este aspecto, além dos
já descritos para os demais TA. Além disso, a paciente deve
manter expectativas realistas com relação à meta de peso,
modificando as crenças relacionadas a peso e formato corporal e
alcançando um equilíbrio entre auto-aceitação e mudança.
AVALIAÇÃO DE EFICÁCIA
A eficácia da TCC no TCAP foi menos estudada do que na BN.
Encontramos relatos de redução da frequência dos ECA, sem que
venha acompanhada de uma redução significativa do peso
corporal. A necessidade de associação de estratégias que sejam
dirigidas diretamente a redução do peso corporal já foi
ressaltada e sua utilização em geral obtém bons resultados a
curto-prazo, com dificuldades para manutenção a longo prazo. A
adição de medicamentos pode reduzir a frequência dos ECA e a
perda de peso no curto prazo. Assim, a combinação entre TCC e
medicamentos parece representar um campo promissor de
pesquisa.
CONCLUSÃO
Alguns autores sistematizaram as estratégias utilizadas pela TCC no
tratamento dos TA, desenvolvendo manuais padronizados que facilitam as
pesquisas de eficácia. Os estudos comparando TCC a outros tipos de terapia
evidenciam maior eficácia da TCC em relação à terapia de apoio e
resultados similares aos obtidos por terapia interpessoal. A TCC considera a
relação terapêutica fundamental para a obtenção da melhora dos TA. O
terapeuta mantém uma atitude empática em relação às dificuldades e
necessidades da paciente e apresenta a terapia como um trabalho em
equipe, no qual ambos terão uma participação ativa na detecção de causas
das dificuldades e na seleção das estratégias utilizadas no tratamento. O
tratamento dos TA é realizado em equipe multidisciplinar, sendo necessária a
associação de psicólogos a outros profissionais, tais como: nutricionistas,
médicos clínicos e psiquiatras. O envolvimento da família no tratamento pode
ajudar a criar uma estrutura de colaboração, facilitando mudanças.

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