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O judô, de acordo com Franchini (2008), foi criado no Japão por Jigoro Kano em
1882, com técnicas derivadas de várias artes marciais, especialmente de alguns estilos de ju-
jutsu praticados pelos samurais nos campos de batalha. Essas técnicas foram adaptadas para
que pudessem ser aplicadas sem colocar em risco a segurança de seus praticantes.
O termo judô consiste de duas palavras japonesas: ju (suave) e do (caminho), ou
seja, “caminho da suavidade”. Essa é uma luta de domínio, na qual o praticante tenta projetar
seu oponente e, quando no solo, imobilizá-lo ou fazê-lo desistir da luta através de
estrangulamentos ou chaves de braço (FRANCHINI, 2008).
Para compreender melhor quais são os cuidados envolvidos na preparação para o
judô (condicionamento físico, cuidados com a alimentação, lesões mais frequentes etc.) é
importante entender os principais aspectos da competição.
Na maioria das competições há o período das inscrições, o qual pode se estender
até o dia da pesagem, sendo que esta é realizada para fazer a distribuição dos atletas em
categorias. O judô é um esporte de luta cujas categorias são classificadas de acordo com a
idade e o peso do atleta. Isso se dá com o objetivo de equilibrar as disputas, minimizando as
diferenças não só de peso, mas também de força e velocidade entre os atletas (ARTIOLI,
FRANCHINI e LANCHA JUNIOR, 2006).
De acordo com a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) este esporte é dividido
nas seguintes categorias, como demonstrado nas tabelas abaixo, de acordo com a idade e o
peso dos atletas.
MASCULINO
Tem-se observado que a conduta de redução rápida de peso vem sendo utilizada
com alta frequência por atletas das categorias de base, incentivados tanto por colegas, quanto
pelos próprios pais, técnicos e educadores.
Sendo assim, este trabalho tem por objetivo identificar os métodos utilizados
pelos judocas para a redução de peso nos períodos competitivos, além de revisar as
consequências dessa prática. O presente estudo é de grande relevância visto a grande
frequência com que se observa a ocorrência deste problema entre os atletas de judô. Este
trabalho também é importante, pois mostra os efeitos prejudiciais à saúde e ao desempenho
dos atletas decorrentes dessa prática, a qual deve ser desencorajada.
Para a realização do presente estudo foram realizados levantamentos
bibliográficos nas bases de dados Bireme e Google, sendo selecionados apenas os artigos
encontrados em revistas científicas de classificação B2 da CAPES. Foram usadas as seguintes
palavras chaves: perda de peso, Judô; perda rápida de peso e judocas e competição. Os artigos
encontrados foram selecionados quanto à originalidade e relevância. Textos não indexados
nessas bases de dados também foram consultados quando citados por vários dos artigos
obtidos pela busca original e, se atendessem os critérios mencionados, foram incluídos.
2 MÉTODOS UTILIZADOS PARA PERDA RÁDIDA DE PESO
Como já foi dito, os transtornos alimentares são comuns em atletas que praticam
esportes como o Judô, onde o controle de peso corporal é de extrema importância no período
de competições. De acordo com Appolinário e Claudino (2000) o inicio da anorexia nervosa é
marcado por uma restrição dietética progressiva com a eliminação de alimentos considerados
“engordantes”, como os carboidratos.
Segundo esses autores a prática de exercícios físicos associada à restrição dietética
e/ou a episódios de vômitos auto induzidos e uso de laxativos e diuréticos pode levar a várias
complicações médicas em decorrência da desnutrição como: anemia, alterações endócrinas,
osteoporose e alterações hidroeletrolíticas (especialmente hipocalemia, que pode causar
arritmia cardíaca e morte súbita). Tal comportamento, quando realizado por atletas, acaba
causando problemas sérios no desempenho durante as competições.
Já a bulimia nervosa (episódios de compulsão alimentar) costuma surgir no
decorrer de uma dieta para emagrecer. Como os judocas realizam constantemente dietas para
o controle do peso (visando competir em categorias mais leves) os treinadores devem estar
sempre atentos para diagnosticar precocemente este tipo de transtorno alimentar. Outro fator
importante de ser considerado é a presença de sentimentos negativos (ansiedade, frustração
etc) nos períodos de competição, o que ajuda a piorar o quadro bulímico (APPOLINÁRIO e
CLAUDINO, 2000).
Para Fabrini et al. (2010) a indução de vômito observada nos transtornos
alimentares causa uma perda excessiva de minerais, fraqueza muscular e deterioração da
função neuromuscular, o que acarreta em perda significativa no desempenho do atleta durante
uma competição.
Segundo Oliveira et al. (2003) o ambiente esportivo pode ser um meio ampliador
de pressões socioculturais motivadas pelo ideal de corpo magro, o que gera um número cada
vez maior de atletas que se submetem a dietas inadequadas para o controle do peso corporal.
Isso tem causado, com relativa frequência, quadros de síndromes parciais de transtornos do
comportamento alimentar o que leva também ao aparecimento de sintomas psicológicos como
ansiedade, depressão, baixa autoestima, irritabilidade, intolerância a frustração e humor lábil,
trazendo consequências à vida social, afetiva e profissional dos atletas.
Sendo assim, fica claro que a indução de vômitos visando perder peso é uma
prática que traz sérias consequências à saúde dos atletas, levando à diminuição significativa
no desempenho competitivo dos mesmos, essa prática deve ser desencorajada, e caso
diagnosticada, deve ser tratada o mais rápido possível, prevenindo assim a instalação de um
transtorno alimentar propriamente dito.
Como vimos é muito comum atletas das modalidades de lutas optarem por mudar
de categoria devido a dois fatores: seu peso estar próximo do limite inferior, ou próximo do
superior de suas categorias. Os atletas que desejam mudar de categoria e manter ou melhorar
seus resultados têm algumas opções para realizarem essa mudança de forma segura e
planejada a fim de assegurar seu bem estar físico e mental.
Nesse tópico serão relacionados métodos seguros de perda de peso e incremento
das qualidades físicas inerentes ao Judô visando à manutenção da integridade física do atleta
para garantir a melhora de seu desempenho competitivo preservando a saúde do mesmo.
Para Franchini e Del Vecchio (2008) o trabalho de aumento da força relativa pode
ser benéfico para o desempenho dos atletas de Judô, o ganho de força pode ocorrer por meios
de dois mecanismos básicos: pelo aumento da ativação neural decorrente do maior
recrutamento das unidades motoras, da maior rapidez na frequência de ativação destas e do
aumento da sincronização das mesmas; e pelo aumento da área de secção transversal do
músculo (hipertrofia). No trabalho de hipertrofia deve-se levar em consideração o aumento da
massa muscular do atleta que pode ser indesejável caso ele se encontre no limite superior da
categoria de peso. Por outro lado, se o atleta estiver abaixo do limite superior da categoria ou
estiver considerando mudar para uma categoria superior o trabalho de hipertrofia pode ser um
meio eficiente para o aumento da massa muscular.
Segundo Foureaux, Pinto e Dâmaso (2006) o desenvolvimento de programas de
treinamento que maximizem o consumo excessivo de oxigênio após o exercício (EPOC) pode
ser um importante fator para a redução de peso corporal. Embora o custo energético do EPOC
em uma sessão de treinamento se mostre pequeno, seu efeito cumulativo poderá ter um
impacto positivo no controle do peso em atletas. Sendo assim, os autores recomendam
programas de treinamento com exercícios de maior intensidade, pois estes produzem elevação
mais prolongada no EPOC do que exercícios de intensidades menores, devido ao fato de
causarem maior estresse metabólico, sendo necessário maior dispêndio de energia para
retornar à condição de homeostase.
De acordo com Perón et al. (2009) no aspecto nutricional, a perda gradual de peso
é obtida por meio da diminuição da ingestão calórica, vinculada ao planejamento do
treinamento a fim de ajustar o peso e a composição corporal a longo prazo. Para os autores a
redução de 10% a 20% na ingestão calórica diária promove uma redução gradual no
percentual de gordura corporal sem induzir à fome ou à fadiga, como acontece em dietas com
baixo valor calórico e pobres em gordura. A diminuição da massa corporal é uma estratégia
aceitável quando planejada de forma adequada reduzindo a ingestão calórica de forma
gradativa, estocando energia e mantendo o organismo hidratado. Essa perda de peso não deve
ser maior do que 1 kg por semana para atletas de base e de no máximo 2,5 kg semanais para
atletas de elite.
Carvalho et al. (2003) completam ainda afirmando que a redução drástica da
gordura dietética pode não garantir a redução de gordura corporal e ocasionar perdas
musculares importantes por falta de nutrientes importantes na recuperação após o exercício
físico, como as vitaminas lipossolúveis e proteínas.
O esvaziamento gástrico também é uma estratégia de perda de peso que não
requer muito esforço e não prejudica o rendimento nem a saúde do atleta se for realizada
corretamente. Se o atleta esvaziar o estômago, e principalmente o intestino, dos alimentos que
ainda permanecem nessas estruturas ele poderá perder até 2,5 kg. Para que isso aconteça basta
ele se alimentar de frutas que são laxantes naturais (mamão, ameixa, laranja, abacate e
abacaxi) durante os dias que antecedem a pesagem (PAIVA, 2009).
Também é importante avaliar o desconforto gástrico que pode ocorrer caso o
atleta tenha se alimentado pouco tempo antes da competição. De acordo com Carvalho et al.
(2003) na impossibilidade de esperar por mais de três horas para a digestão, o desconforto
gástrico pode ser evitado com refeições pobres em fibras e ricas em carboidratos, os autores
sugerem escolher uma preparação com consistência leve ou líquida, ou seja, a refeição que
antecede o esforço físico deve ter quantidade de líquido suficiente para manter a hidratação,
deve ser pobre em gorduras e fibras para facilitar o esvaziamento gástrico e rica em
carboidratos para manter a glicemia e maximizar os estoques de glicogênio.
Artioli, Franchini e Lancha Junior. (2006) recomendam que as reduções não
sejam superiores a 20% do peso corporal e que ocorram de forma gradual (máximo de 1kg
por semana), sem restrição da ingestão de líquidos e/ou métodos que provoquem desidratação.
A porcentagem de carboidrato da dieta deve ser elevada durante o período de redução de peso
e após a pesagem, e antes do inicio das lutas, o consumo desse macronutriente deve ser
elevado.
De acordo com Carvalho et al. (2003) para garantir que o indivíduo inicie o
exercício bem hidratado, recomenda-se que ele beba cerca de 250 a 500 ml de água duas
horas antes do exercício. Durante o exercício recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros
15 minutos e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos. O volume a ser ingerido varia de
acordo com a taxa de sudorese, na faixa de 500 a 2.000 ml/hora. Após o exercício deve-se
continuar ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de água pela urina e
sudorese.
Devido aos benefícios questionáveis e aos potenciais riscos para a saúde trazidos
pelos procedimentos para redução rápida de peso, o Americam College of Sports Medicine
(1999) faz as seguintes recomendações: desestimular a utilização de roupas de borracha,
saunas secas ou a vapor, laxantes e diuréticos para perder peso; realizar pesagens diárias antes
e depois dos treinos e competições para saber se o peso perdido deve ser reposto através de
uma ingestão adequada de alimentos e líquidos; avaliar a composição corporal do atleta com
métodos validados para controlar adequadamente o percentual de gordura, o qual não deve ser
inferior a 5%; e ingestão calórica diária obtida através de uma dieta balanceada rica em
carboidratos, com baixo teor de gorduras e com uma quantidade adequada de proteínas, uma
vez que em combinação com o exercício, essa ingestão calórica contribuirá para uma redução
gradual de peso.
De acordo com Carvalho et al. (2003) é possível afirmar que o atleta que deseja
otimizar sua performance, antes de qualquer manipulação nutricional, precisa adotar um
comportamento alimentar adequado ao seu esforço, em termos de quantidade e variedade,
levando em consideração o que está estabelecido como alimentação saudável.
Segundo especialistas medidas para desencorajar as práticas de perda rápida de
peso nos períodos competitivos devem ser estudadas e implementadas como
comprometimento da saúde dos judocas.
Exemplos de medidas simples que as confederações, federações e demais
entidades reguladoras do esporte poderiam adotar são: 1) realizar a pesagem imediatamente
antes do inicio das lutas; 2) realizar programas de educação e conscientização para os
problemas que indiquem o estado de hidratação dos atletas como bio-impedância ou
osmolaridade da urina, o que pode ser conduzido na forma de sorteio, com punições aos
atletas que estejam excessivamente desidratados; 3) aumentar a quantidade de categorias de
peso; 4) obrigatoriedade da participação de um nutricionista no planejamento da perda de
massa corporal; e 5) estabelecimento do percentual mínimo de gordura em 5% (ARTIOLI.
FRANCHINI e LANCHA JUNIOR, 2006; ARTIOLI et al., 2007; FABRINI et al ., 2010).
Para o Americam College of Sports Medicine estas recomendações permitirão que
os lutadores se concentrem melhor na aquisição de habilidades técnicas, melhora da aptidão
física, preparação psicológica e nas interações sociais oferecidas pelo esporte.
5 RELATOS DE CASOS OCORIDOS NO JUDÔ NACIONAL E INTERNACIONAL
Nesse capítulo serão relatados casos de atletas que de alguma forma vieram a
contribuir com o desenvolvimento do Judô dando parâmetros de estudos que contribuíram
para o avanço desse esporte e da medicina esportiva.
Há três meses dos jogos Olímpicos de Atlanta 1996, os jornais noticiaram o caso
do judoca coreano Chug Se-hoon, de 22 anos de idade, que veio a óbito por realizar práticas
que levaram à perda rápida de peso. Este atleta estava cotado como possível medalhista de
ouro nesta Olimpíada, porém precisava perder 9 kg para se encaixar na categoria meio-leve
(60 a 66 kg).
Chug Se-hoon faleceu de ataque cardíaco decorrente da severa dieta a que estava
se submetendo concomitantemente aos treinos exaustivos, típicos de períodos que antecedem
competições tão importantes como uma Olimpíada.
Esse judoca foi o primeiro caso de doping no Judô brasileiro. Nos jogos Sul-
Americanos de 2002, João Derly foi pego no exame antidoping com resultado positivo para o
uso da substância Chlortalidone, um tipo de diurético.
O atleta teve sua medalha de ouro caçada pela Organização Desportiva Pan-
Americana (ODEPA), além de ser suspenso por seis meses.
Após cumprir a suspenção o judoca decidiu subir de categoria, desistindo dos
métodos de perda rápida de peso com o intuito de se manter em uma categoria na qual não
deveria se enquadrar. Depois dessa mudança para uma categoria mais pesada, o judoca teve
uma significativa melhora em seus resultados, comprovando mais uma vez que se preocupar
apenas em manter um baixo peso não é garantia de um bom resultado em competições.
Seus principais títulos foram: ouro em Nabul Tunísia 2000 na categoria ligeiro (60
a 66 kg); campeão mundial no Cairo Egito 2005 na categoria meio leve (60 a 66 kg); ouro nos
jogos Pan-americano do Rio de Janeiro 2007, na categoria meio leve (60 a 66 kg); campeão
mundial no Rio de Janeiro 2007, na categoria meio leve (60 a 66 kg).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ARTIOLI, G. G. et., al,. Magnitude e métodos de perda rápida de peso em judocas de elite.
Revista. Nutrição, Campinas, v. 20, m. 3, p. 307-315, 2007.
ARTIOLI, G. G. et., al,. Tempo de recuperação entre a pesagem e o início das lutas em
competições de Judô do Estado de São Paulo. Rev. Bras. Fís. Esporte, v. 25, n. 3, p. 371-76,
2011.
ARTIOLI, G. G.; FRANCHINI, E. ; LANCHA JUNIOR, A. H. Perda de peso em esportes de
combate de domínio: Revisão e recomendações aplicadas. Rev. Bras. Cineantropom.
Desempenho Hum., v. 8, n. 2, p. 92-101, 2006.
CAVALHO, T.; MARA, L. S. de, Hidratação e nutrição no esporte. Rev Bras Med Esporte,
v. 16, n. 2, p. 144-48, 2010.
CAVALHO, T. de et al. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.
Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementação alimentares e drogas: comprovação
de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Rev Bras Med Esporte, v. 9, n. 2, p. 1-
13, 2003.
COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO (COB). Disponível em: < www.cob.org.br>.
Acesso em: 20 de março de 2012.