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Texto

Justificativa:

A atividade foi motivada pelo período de isolamento de Freud. De acordo com o que foi
relatado no texto, “...Freud em sua auto-análise se conduziu por meios de sonhos, memórias
de sua infância e a associação livre. A auto-análise de Freud foi a base na qual toda a ciência
psicanalítica se desenvolveu.”

O texto foi desenvolvido sobre aspectos relacionados à infância, momento de grande


relevância para a construção da personalidade do indivíduo. É neste período que podem
ocorrer experiências com potencial de repercussão na vida adulta, através das diferentes
esferas do aparelho psíquico.

Título

Trauma da infância e transtornos alimentares

Parece haver um particular interesse psicanalítico pelo impacto do trauma da infância


no funcionamento psíquico. A psicanálise enfatiza os conflitos internos e as fantasias do
inconsciente, mas não ignora o impacto dos eventos externos sobre o desdobramento
psíquico. O trauma é definido de várias maneiras pelos psicanalistas, mas diferente daquelas
usadas na psiquiatria geral, em que o trauma é definido principalmente pelo impacto de
eventos ou experiências no mundo interior do indivíduo. Quando o trauma ocorre na primeira
infância, esse mundo interior é particularmente influenciado pela sobreposição do contexto do
desenvolvimento. Anna Freud apontou como sendo um "traumático" um evento externo que
sobrecarrega as defesas do paciente. Assim, o trauma estaria superando as funções de
organização, regulação e integração do ego, dentro do aparelho psíquico.
Os transtornos alimentares são identificados por um grupo de condições
heterogêneas, caracterizadas por uma ingestão de alimentos de forma alterada, que resulta
em um prejuízo psicológico ou dano para a saúde física. De acordo com a Associação
Americana de Psiquiatria, as principais condições clínicas são a anorexia nervosa, bulimia
nervosa, Transtorno de compulsão alimentar e Transtorno alimentar não especificado de outra
forma. Os transtornos alimentares seriam uma expressão de padrões individuais e
disfuncionais, apoiados por desregulação emocional e comportamental.
O trauma infantil está associado a um alto nível de desregulação emocional,
dissociação e problemas comportamentais. Ele possui este potencial estressante pois é mais
forte do que a resistência individual pode suportar. A dissociação pode ser vista como uma
estratégia regulatória fracassada, usada para lidar com emoções, que excedem as habilidades
de resistência de uma pessoa. A relação entre trauma psicológico e transtornos alimentares é
investigada, pois se observa uma taxa maior de história traumática em indivíduos com
transtornos alimentares, do que na população em geral, e muitas destas circunstâncias são
decorrentes da infância.
Os comportamentos típicos dos transtornos alimentares (por exemplo, restrição
alimentar severa ou compulsão alimentar) visam a fuga e evitação de emoções relacionadas ao
trauma, promovendo assim a manutenção do transtorno alimentar e dos sintomas
relacionados ao trauma. A associação entre outras experiências adversas graves (por exemplo,
abuso sexual ou emocional na infância) também tem justificativa. O abuso sexual infantil pode
ser um forte indicador do desenvolvimento de transtornos alimentares, como bulimia ou
sintomas de compulsão alimentar. Em outras palavras, a manutenção de comportamentos
alimentares atípicos pode ser a expressão de uma resposta relacionada a um trauma anterior.
Logo, os eventos traumáticos da infância e as dificuldades em regular as emoções podem ser
classificados como fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares. Neste
contexto, devemos ter a compreensão do papel desempenhados pelos traumas, como abuso
físico e emocional, e a função que eles podem desempenhar no desenvolvimento de um
transtorno alimentar. O abuso emocional, por exemplo, pode levar à baixa autoestima,
autocrítica e problemas com a imagem corporal. Os transtornos alimentares tornam-se um
mecanismo para manter o controle, quando a pessoa sente que não tem nenhum, e servem
como uma forma de evitar o trauma emocional de frente.
O trauma pode ser tão grave que realmente perturba o funcionamento do sistema
psíquico, a ponto de ser difícil ou impossível regular suas próprias emoções. Comportamentos
negativos, como compulsão alimentar ou anorexia, tornam-se mecanismos de enfrentamento
que impedem as vítimas de trauma de processar emoções difíceis. O abuso emocional assume
a forma de críticas, insultos ou ataques contínuos contra o caráter de uma criança. Com o
tempo, essas crianças internalizam a crítica, talvez até acreditando que seja verdade. Esse
abuso emocional e sua internalização tornam as crianças suscetíveis a transtornos alimentares
e comportamento disfuncional. Crianças que são abusadas emocionalmente têm a mesma
probabilidade de desenvolver transtornos alimentares quanto aquelas que sofrem abuso físico
ou sexual. 
O abuso emocional apresenta grandes fatores de risco para distúrbios alimentares
posteriores, criando baixa tolerância ao sofrimento, desenvolvimento emocional bloqueado e
problemas com inibição emocional. Pessoas que sofrem o impacto de repetidos insultos ou
críticas excessivas, ao longo do tempo, desenvolvem uma visão semelhante crítica de si
mesmas, o que leva a problemas com a imagem corporal que podem se manifestar como
anorexia, bulimia. A internalização do sofrimento e os bloqueios emocionais são um desafio no
campo psicanalítico, uma vez que cabe a este a investigação e o desdobramento do que está
implícito na situação disfuncional.
O transtorno alimentar pode ser um método possível para o indivíduo lidar com o
trauma de abuso emocional, físico ou sexual. Uma pessoa pode ter vários mecanismos
diferentes de bloqueio, que a impedem de enfrentar o trauma de sua experiência de
infância. O tratamento destes distúrbios alimentares é multifacetado devido aos fatores
complexos envolvidos e a história de traumas na infância. Uma pessoa pode não ser
simplesmente capaz de parar a compulsão alimentar ou outro comportamento alimentar
desordenado. Isso sugere que a recuperação de um transtorno alimentar requer intervenção
profissional, geralmente com equipe multidisciplinar.

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